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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO

Maria da Glória de Oliveira


Rebeca Gontijo

SOBRE A HISTÓRIA DA
HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA: UM
BREVE PANORAMA

OLIVEIRA​, ​Maria da Glória de


GONTIJO, Rebeca
SOBRE A HISTÓRIA DA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA:
UM BREVE PANORAMA
R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177 (472):13-37, jul./set. 2016

Rio de Janeiro
jul./set. 2016
13

I – ARTIGOS E ENSAIOS
ARTICLES AND ESSAYS

SOBRE A HISTÓRIA DA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA:


UM BREVE PANORAMA
ON THE HISTORY OF BRAZILIAN HISTORIOGRAPHY:
A BRIEF OVERVIEW
Maria da Glória de Oliveira1
e Rebeca Gontijo2

Resumo: Abstract:
Neste ensaio, propomos um balanço, mais pano- We propose in this essay to present an overview
râmico do que exaustivo, dos estudos de história rather than an in-depth analysis of the studies of
da historiografia no Brasil, de modo a destacar the history of historiography in Brazil in order
questões e temas mais frequentes, bem como to address some of the more frequent questions
possibilidades e perspectivas de investigação and topics related to it, as well as to focus on
que contribuíram para a configuração dessa the possibilities and research perspectives that
subárea de pesquisa. Na primeira parte da ex- contributed to the configuration of this research
posição, procuramos mapear a emergência de sub-area. First, we seek to map the emergence
uma reflexão historiográfica, que se evidencia of a historiographical reflection, evidenced by
com os trabalhos desenvolvidos até a década de the works developed up to the 1970s. We then
1970 e, na segunda, destacamos alguns modelos highlight some models of historiographical re-
de pesquisa historiográfica surgidos a partir da search that emerged from the 1980s onwards
década de 1980, que se constituíram em referên- and which have become landmark references
cias balizadoras para as pesquisas produzidas for the researches produced in the following
nas décadas seguintes. decades.
Palavras-chave: História da historiografia; his- Keywords: History of historiography; contem-
toriografia brasileira contemporânea; Teoria da porary Brazilian historiography; theory of his-
História. tory.

A história da historiografia brasileira renovou-se como campo de pes-


quisa fecundo, nos últimos quinze anos.3 Vinculados ao tema da escrita da
1 –1 Doutora em História Social/Universidade Federal do Rio de Janeiro; professora ad-
junta do Departamento de História e Relações Internacionais / Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro; bolsista de produtividade CNPq, nível 2.
2 –1 Doutora em História/Universidade Federal Fluminense; professora adjunta do De-
partamento de História e Relações Internacionais / Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro.
3 –1 É importante considerar que tal renovação vincula-se à criação de grupos e linhas de
pesquisa que contemplam a história da historiografia, sobretudo a partir dos anos 2000,
dentro de programas de pós-graduação como os da UFRGS e a UFOP e, o mais antigo, da

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Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo

história, é possível identificar um conjunto de estudos que, a despeito da


diversidade de objetos e recortes temporais, buscam ultrapassar o exercí-
cio de crítica da produção historiográfica, de longa tradição acadêmica,
marcado pela análise das obras dos historiadores sob a estrita perspecti-
va da construção progressiva e acumulativa do conhecimento científico,
mediante a identificação de tendências e diretrizes balizadoras no âmbito
da disciplina. Tampouco vislumbramos nesses trabalhos a preocupação,
cara a certas abordagens da sociologia do conhecimento, em identificar
“matrizes ideológicas” subjacentes ao discurso histórico ou em atribuir às
“determinações sociais” a chave explicativa decisiva para a sua produção.

A despeito da autonomia e especificidade de suas novas agendas


de investigação, seria duvidoso afirmar que, em sentido mais amplo, a
história da história seja um empreendimento absolutamente recente e,
para demonstrá-lo, não caberia aqui traçarmos uma genealogia do cam-
po.4 Desde que o saber histórico passou a ser percebido como dotado
de historicidade e condicionado pelas perspectivas espaço-temporais de
sua elaboração, a abordagem crítica das narrativas históricas precedentes
tornou-se tarefa constitutiva da prática historiográfica moderna. Assim, o
exercício crítico retrospectivo dirigido ao gênero histórico, grosso modo,
pode ser identificado como preceito apregoado nos tratados de ars histo-
ricae dos humanistas, adquirindo estatuto de princípio metodológico da
construção do conhecimento pela ciência histórica moderna.5

Sob tal perspectiva temporalizada, acentuou-se o caráter tanto cumu-


lativo quanto provisório e relativo da historiografia, em torno da qual
sempre convergiram as expectativas de uma representação fidedigna dos

PUC-Rio; bem como à organização de eventos como o Seminário Nacional de História da


Historiografia, com encontros realizados anualmente desde 2008; a criação, da Sociedade
Brasileira de Teoria e História da Historiografia (SBTHH), em 2009; e de revistas espe-
cializadas, como a História da Historiografia, criada em 2008.
4 –1 Neste sentido, ver: CARBONELL, Charles-Oliver. Pour une histoire de
l’historiographie. Storia della Storiografia 1, pp. 7-25 1982 e BLANKE, Horst W. Para
uma nova história da historiografia. In: MALERBA, Jurandir (org.). A história escrita:
teoria e história da historiografia. São Paulo: Editora Contexto, 2006, pp. 27-64.
5 –1 GRAFTON, Anthony. What was history? The Art of History in Early Modern Europe.
Londres: Cambridge University Press, 2007.

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Sobre a história da historiografia brasileira: um breve panorama

eventos passados. Entre meados do século XVIII e, notadamente, no


XIX, mais do que designar uma modalidade narrativa, a história passou
a definir uma nova episteme, constituindo-se em modo de ser do que é
evidente, ou seja, de tudo o que nos é dado à experiência. A nação emerge,
nesse momento, como categoria privilegiada por suas articulações com
uma noção de temporalidade histórica, compreendida como qualidade in-
trínseca e imanente da própria realidade.6

No Brasil, sobretudo a partir da independência, configura-se o pro-


cesso de disputa em torno do passado, evidenciado nos diversificados pro-
jetos para a nação recém-emancipada. Assim, o contexto das produções
letradas oitocentistas foi marcado pelo debate acerca da escrita de uma
história afinada aos desígnios do Estado monárquico imperial, quando
não se havia fixado ainda um modelo canônico para a sua elaboração. Por
conta disso, um dos desafios impostos aos pesquisadores da historiogra-
fia brasileira está, precisamente, no reconhecimento da dinâmica peculiar
desse contexto intelectual em que coexistiram tradições letradas e usos
de referenciais, modelos e concepções teóricas diversas, de um modo não
necessariamente excludente ou antagônico. Nesse caso, a historiografia,
entendida, em sentido mais amplo, como corpus de textos dados à leitura
de uma coletividade em seu próprio esforço de elaboração da experiên-
cia do tempo, apresenta-se como observatório privilegiado dos embates
intelectuais que prefiguraram respostas possíveis, e não obrigatoriamente
necessárias, para o problema da representação do passado.

Embora haja indícios de uma consciência historiográfica ao longo


do século XIX, a história da historiografia permaneceu como parte da
história da literatura até o início do século XX.7 E embora haja algumas
narrativas autônomas sobre essa história nas décadas de 1920 e 1930,
com as obras de Alcides Bezerra e Henri Hauser, sabemos que o esforço

6 –1 PALTI, Elías. La nación como problema: los historiadores y la “cuestión nacional”.


Buenos Aires: FCE, 2002, pp. 44-45.
7 –1 ARAÚJO, Valdei Lopes de. A experiência do tempo: conceitos e narrativas na forma-
ção nacional brasileira (1813-1845). São Paulo: Editora Hucitec, 2008.

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Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo

mais sistemático de estudo e escrita foi posto em prática por José Honório
Rodrigues entre os anos 1940 e 1970.8

Nas páginas seguintes, propomos um balanço, mais panorâmico do


que exaustivo, dos estudos de história da historiografia no Brasil, de modo
a destacar as questões e temas mais frequentes, bem como as possibilida-
des e perspectivas de investigação que contribuíram para a configuração
dessa subárea de pesquisa.9 Na primeira parte da exposição, procuramos
mapear a emergência de uma reflexão historiográfica, que se evidencia
com os trabalhos desenvolvidos até a década de 1970 e, na segunda, des-
tacamos alguns modelos de pesquisa historiográfica surgidos a partir da
década de 1980, que se constituirão em referências balizadoras para as
pesquisas produzidas nas décadas seguintes.

A EMERGÊNCIA DE UMA REFLEXÃO HISTORIOGRÁFICA


Em linhas gerais, identificam-se dois momentos específicos nos es-
tudos sobre historiografia brasileira no século XX: o período que vai do
fim dos anos 1940 até os anos 1960, quando as obras de José Honório
Rodrigues estabeleceram um modelo que se tornou referência obrigató-
ria nos cursos de graduação; e os anos 1970, quando outras propostas de
escrita dessa história entraram em cena.

José Honório Rodrigues destaca-se como o pesquisador que mais in-


vestiu no exame da produção historiográfica brasileira.10 A monumentali-
8 –1 BEZERRA, Alcides. Os historiadores do Brasil no século XIX. Rio de Janeiro: Ofi-
cinas Gráficas do Arquivo Nacional, 1927; HAUSER, Henri. Notes et réflexions sur le
travail historique au Brésil. Revue Historique, Paris, t. XXXI, jun-mars1937, pp. 89-90.
9 –1 Outros balanços semelhantes também se encontram em: GUIMARÃES, Lucia Maria
Paschoal. Sobre a história da historiografia brasileira como campo de estudos e reflexões.
In: NEVES, Lúcia M. Bastos Pereira et. al. Estudos de historiografia brasileira. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2011, pp.19-35 e ARAÚJO, Valdei Lopes de. O século XIX no
contexto da redemocratização brasileira: a escrita da história oitocentista, balanço e de-
safios. In: OLIVEIRA, Maria da Glória de e ARAÚJO, Valdei L. de. (org.) Disputas pelo
passado: história e historiadores no Império do Brasil. Ouro Preto/MG: Edufop/PPGHIS,
2012. (Edição Kindle)
10 – IGLÉSIAS, Francisco. José Honório Rodrigues e a historiografia brasileira. Estudos
Históricos, n. 1, 1988, pp. 55-78; GLEZER, Raquel. O saber e o fazer na obra de José
Honório Rodrigues. São Paulo: USP, tese de doutorado em História, 1976; MARQUES,

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Sobre a história da historiografia brasileira: um breve panorama

dade de seu projeto pode ser medida não apenas pelas intenções explícitas
de conjugar o exame da teoria e da historiografia brasileira, mas também
pela forma de divulgação de seus trabalhos para um público amplo, com-
posto por estudantes universitários de história e professores secundários,
por meio da importante coleção Brasiliana, dedicada à edição de estudos
nacionais e estrangeiros sobre o Brasil, com destaque para pesquisas his-
tóricas. Tal empreendimento teve participação efetiva no movimento de
“redescobrimento do Brasil” ocorrido ao longo dos anos 1930 e 1940.

Por meio desse projeto, José Honório expôs as linhas gerais para
a interpretação da história da história do e no Brasil, listando nomes e
obras, estabelecendo uma cronologia da produção historiográfica, tecen-
do relações entre essa produção e as teorias da história. Mas, além disso,
tal empreendimento possui uma clara função crítica. Seu alvo principal
é aquela historiografia que o autor considerava distante dos interesses
nacionais, incapaz de dar conta do processo de emancipação do país. Em
sua opinião, essa historiografia a ser ultrapassada só tinha olhos para a
história colonial, não sendo capaz de desenvolver seu oposto: uma histó-
ria nacional. A primeira, consitiria em uma escrita da história inspirada
por valores estrangeiros e compromissada com a difusão de ideologias
antinacionais. A segunda, que ainda não estaria plenamente desenvolvida,
representaria o pensamento genuinamente brasileiro. Segundo o autor, a
historiografia brasileira era “um espelho de sua própria história”, inega-
velmente integrada à sociedade de que era parte, por meio de um “nexo é
econômico e ideológico”.11

José Honório procurou desenvolver um exercício crítico que con-


siderava fundamental: o revisionismo. Este procedimento deveria ser
aplicado tanto aos fatos históricos quanto às ideias, ou melhor, às ideo-

Ana Luiza. José Honório Rodrigues: uma sistemática teórico-metodológica a serviço da


história do Brasil. Dissertação de Mestrado em História. Rio de Janeiro: PUC-Rio, , 2012;
FREIXO, André de Lemos. A arquitetura do novo: ciência e história da História do Brasil
em José Honório Rodrigues. Tese de Doutorado em História. Rio de Janeiro: UFRJ, 2012.
11 – RODRIGUES, José Honório. Teoria da história do Brasil: introdução metodológica.
5ª ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1978, p. 32.

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Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo

logias.12 É interessante notar que um dos significados do termo revisar é


“ver com atenção, examinar cuidadosamente”, fazendo correções. Outro
significado é “trazer à memória, relembrar, recordar”. O duplo viés, crí-
tico e memorialístico, ajuda a dimensionar o projeto de José Honório.
Nesse sentido, caberia ao historiador da historiografia denunciar a ideo-
logia subjacente à escrita da história e, ao mesmo tempo, estabelecer um
cânone por meio da catalogação de autores e obras consideradas mais
importantes, a partir dos quais seria possível estabelecer a cronologia
evolutiva da disciplina.

Além de analisar os referenciais teóricos presentes na historiografia


brasileira, apontar seus principais nomes e obras, destrinchar seus méto-
dos e traçar um panorama da pesquisa histórica em nosso país, apresen-
tando seus principais arquivos e fontes documentais, o que José Honório
parece visar é a construção de uma tradição historiográfica em meio a
qual, talvez, ele mesmo pudesse se inserir, não apenas como historiador
entre tantos outros, mas como aquele que organiza o legado, apontando
caminhos para futuras pesquisas. Supostamente, ao construir sua versão
da história da história, ele também reservou um lugar para si, pois, nas pa-
lavras de sua esposa, Leda Boechat Rodrigues, o historiador “tinha cons-
ciência do valor de sua obra e esperava, sem modéstia, figurar no futuro
entre os grandes da História e da Historiografia brasileiras”.13

O modelo de história da historiografia proposto por José Honório


perdurou por longo tempo, tornando-se referência obrigatória nos cursos
de História ao menos até a década de 1970, quando outros autores procu-
raram refletir sobre a história da historiografia, introduzindo novos ele-
mentos nessa história, mas sem abandonar totalmente a chave de leitura
consolidada pelo autor de Teoria da história no Brasil.

12 – RODRIGUES, José Honório. Vida e história. São Paulo: Perspectiva, 1986, p. 62.
13 – RODRIGUES apud MARQUES, Ana Luíza. José Honório Rodrigues: uma siste-
mática teórico-metodológica a serviço da História do Brasil. Rio de Janeiro: PUC/Pós-
-Graduação em História, 2000, p. 5 (nota 17). Dissertação de mestrado.

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Sobre a história da historiografia brasileira: um breve panorama

HISTORIOGRAFIA COMO HISTÓRIA DAS IDEOLOGIAS


Uma demanda por renovação nos estudos sobre historiografia brasi-
leira pode ser observada no I Seminário de Estudos Brasileiros, realizado
no IEB em 1971. O objetivo do encontro dividido em áreas era “conhe-
cer como os autores entenderam e escreveram a História do Brasil, seus
métodos e técnicas, procedimentos operacionais, suas fontes, falhas e la-
cunas, pontos positivos a serem retomados, pontos negativos a serem re-
tificados e, sobretudo, quais os seus modelos de explicação da história”.14

Além das discussões ocorridas no I Seminário de Estudos Brasi-


leiros, alguns autores se destacam no cenário da década de 1970 como
propositores de novas abordagens da historiografia como, por exemplo,
Carlos Guilherme Mota, com Ideologia da cultura brasileira, 1933-1974,
livro publicado pela primeira vez em 1977 e, desde então, acumulando
mais de oito edições. Recebido por Florestan Fernandes e Antonio Can-
dido como um “clássico”, a obra foi originalmente concebida como tese
de doutorado, defendida na USP em 1975, sendo apresentada pelo autor
como um ensaio que, em parte, era fruto de um “exercício de memória”.

De acordo com Guilherme Mota, não se tratava de uma história da


cultura brasileira, nem de uma história intelectual tradicional, preocupada
com o arrolamento sistemático dos principais pensadores com indicação
de suas respectivas influências. A proposta era apresentar uma história
da consciência social no Brasil, por meio de uma “história das ideolo-
gias”, feita a partir da crítica das interpretações a propósito da chamada
cultura brasileira. Em outras palavras, seu objetivo era compreender os
pressupostos ideológicos que fundamentavam as interpretações de cunho
histórico sobre a cultura brasileira.

O autor considerava importante conhecer as determinações sociais


das formas de pensamento estudadas, não sem antes estabelecer os mar-
cos da historiografia geral do Brasil. Tais marcos estão distribuídos em
“momentos decisivos”, a exemplo do que propusera Antonio Candido
14 – Anais do I Seminário de Estudos Brasileiros. São Paulo: IEB/USP, 1971, p. 8, volu-
me 1.

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Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo

para a história da literatura. Assim, haveria cinco momentos decisivos na


história da historiografia brasileira: 1) o momento do redescobrimento do
Brasil entre 1933 e 1937; 2) o momento em que os primeiros frutos da
universidade começaram a ser colhidos, entre 1948 e 1951; 3) o momento
da ampliação e revisão reformista, entre 1957 e 1964; 4) o momento das
revisões radicais, entre 1964 e 1969; e, 5), o momento dos impasses da
dependência, entre 1969 e 1974.15

Ainda nos anos 1970, dois livros se destacam por abordar a produção
historiográfica oitocentista na interseção com a história política e a ques-
tão nacional, ambos frutos de teses de doutoramento: O fardo do homem
branco: Southey, historiador do Brasil (1974), de Maria Odila Leite da
Silva Dias; e João Francisco Lisboa: jornalista e historiador (1977), de
Maria de Lourdes Mônaco Janotti.

Em O fardo do homem branco (1974), Maria Odila Leite da Silva


Dias analisa a obra History of Brazil (1810-1819), de Robert Southey,
procurando integrá-la à época e ao meio em que foi escrita. A autora visa
compreender o modo pelo qual os valores da política imperialista da In-
glaterra na primeira metade do século XIX nortearam aquela que é tida
como a primeira sistematização das fontes sobre a história colonial bra-
sileira que, por sua vez, fundamentou a primeira interpretação das possi-
bilidades do Brasil vir a ser uma nação independente, na época da sepa-
ração de Portugal. A obra de Southey é lida como uma visão de conjunto
sobre a história do Brasil, que o insere no contexto da Europa moderna a
fim de explicar a evolução e as peculiaridades da colonização portuguesa
na América.16 Para Dias, a obra de Southey é, “ao mesmo tempo uma

15 – MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo:


Editora Ática, 1977.
16 – O fardo do homem branco foi, originalmente, a tese de Dias, resultado do desdo-
bramento da pesquisa iniciada em seu mestrado, O Brasil na historiografia romântica
inglesa. Um estudo das afinidades de visão histórica: Robert Southey e Walter Scott. Mais
recentemente, a tese de doutorado de Flávia Varella discute a obra de Southey, realizando
a crítica à análise de Dias. Enquanto Dias situa Southey como precursor do Romantis-
mo inglês, fundamentalmente interessado no “reviver histórico”, Varella procura situá-lo
em meio a um contexto discursivo marcado pela pesquisa documental e pelo esforço de
monumentalização do passado. Ver: VARELLA, Flávia. Reunindo o passado: contextos

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Sobre a história da historiografia brasileira: um breve panorama

crítica à colonização de exploração comercial e uma análise do processo


de formação do Estado no interior de uma sociedade colonial”, sendo que
o “fardo do homem branco” seria a missão civilizadora, que implicava
o direito de destruir civilizações e culturas atrasadas, vistas como obstá-
culos ao progresso. Observa-se, portanto, a afinidade entre a “ideologia
imperialista” inglesa e a dos construtores do império do Brasil, por meio
da escrita da história.

Trata-se de um estudo do significado ideológico implícito na inter-


pretação de Southey sobre a colonização do Brasil, que considerava a
presença dos valores do autor na historiografia brasileira. Por conta dis-
so, Dias supõe que por meio de sua obra seja possível estudar muitos
dos preceitos dos intelectuais e estadistas brasileiros do século XIX, algo
que não almeja realizar. Nas palavras da autora, trata-se de um “estudo
das matrizes ideológicas da historiografia e da consciência nacional”, que
procura integrar a obra de Southey na ideologia de seu tempo e não es-
miuçar supostas “influências” ou acompanhar aquilo que define como “o
enraizamento dos valores europeizantes na historiografia brasileira”.

Em João Francisco Lisboa: jornalista e historiador, Maria de Lour-


des Monaco Janotti partiu da constatação de que a historiografia brasileira
vinha sendo abordada por dois tipos de estudo – as histórias da literatura
e os trabalhos com foco em obras e historiadores específicos –, caracteri-
zando-se por uma “completa assistematização processual”, o que dificul-
taria uma compreensão objetiva dessa historiografia. Tal tarefa consisti-
ria, a seu ver, em: identificar suas principais linhas evolutivas; localizar os
pressupostos metodológicos que orientaram seu estágio atual; conhecer
seu público em diferentes épocas, bem como os homens e pensamentos
que contribuíram para sua formação, etc.17

discursivos e linguagens historiográficas na History of Brazil, de Robert Southey. Porto


Alegre: UFRGS/Pós-Graduação em História, 2015.

17 – JANOTTI, Maria de Lourdes M. João Francisco Lisboa: jornalista e historiador.


São Paulo: Editora Ática, 1977.

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Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo

A autora constatava, então, que os estudos historiográficos brasilei-


ros necessitavam de uma metodologia que possibilitasse a compreensão
de sua “evolução e significado”. Em sua opinião, “a realidade da cultura
nacional exige estudos que concebam a Historiografia brasileira como
processo de elaboração da mentalidade de um povo”. A “validade” dos
estudos de historiografia envolveria um “julgamento” da obra de história
não como trabalho individual, mas como “resultado material e intelectual
de uma determinada sociedade”. Por conta disso, considerava que o estu-
do das “condições ambientais em que viveu o historiador” seria tão im-
portante quanto as citações bibliográficas contidas em sua obra. Em uma
referência a Benedetto Croce, nas palavras de Janotti, devia-se aspirar a
“uma história da historiografia com problemas historiográficos”.18

Observa-se, na proposta da autora, que a compreensão da historio-


grafia, como “elaboração de uma determinada cultura”, somente seria
possível desde que se afastasse da perspectiva tradicional da história das
ideias que buscava as reverberações de modelos culturais e filosóficos
europeus em solo brasileiro, o que equivaleria à procura inútil entre os
historiadores brasileiros de “um Ranke, um Guizot e um Mommsen na-
cionais…”. Em vez disso, a compreensão do significado cultural da his-
toriografia brasileira (tema que também ocupava as reflexões de Carlos
Guilherme Mota) só poderia ser atingida, em suas palavras: “mediante
seu enquadramento na evolução histórica do pensamento brasileiro, na
ordem social e política que a preside e na estrutura econômica que atua
sobre ela”. Desse modo, a autora recusa buscar no Brasil as réplicas ca-
boclas dos expoentes da historiografia europeia, optando por investigar o
“autêntico significado” das obras de nossos historiadores.

Além de Croce, em suas reflexões sobre a historiografia, Janotti tam-


bém se inspirava no trabalho de dois autores: João Cruz Costa, autor de,
entre outros livros, O desenvolvimento da filosofia no Brasil no século
XIX e a evolução histórica nacional, publicado em 1950; e Antonio Cân-
dido, com sua Formação da literatura brasileira, de 1959. O primeiro

18 – Idem, p. 10

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Sobre a história da historiografia brasileira: um breve panorama

fornecia-lhe a ideia de que haveria um estilo próprio de cada meio, estilo


condicionado pelas vicissitudes históricas dos povos, capaz de determinar
a “transformação dos sistemas que a inteligência constrói para explicar a
vida”. O segundo forneceria a noção de literatura como sistema de obras
interligadas por denominadores comuns, tais como a língua, os temas, as
imagens, etc. A literatura seria um aspecto orgânico da civilização, que
envolveria um conjunto de produtores literários, um conjunto de recepto-
res e um mecanismo transmissor. Para Janotti, a historiografia poderia ser
abordada com a mesma perspectiva proposta por Cândido para a história
da literatura, destacando-se a perfeita sincronia observada entre o desen-
volvimento social e a consciência historiográfica. Segundo a autora, a
vantagem dessa interpretação da historiografia como sistema seria “liber-
tar a matéria de uma rígida imposição cronológica”.19

Em 1976, Raquel Glezer defendeu sua tese de doutorado, intitulada


O saber e o fazer na obra de José Honório Rodrigues. Trabalho não foi
publicado, provavelmente obteve repercussão restrita naquele momento,
quando as teses ainda não eram acessíveis por meio digital. Contudo,
cabe retomá-lo aqui como exemplo de estudo sobre a história da historio-
grafia, que se ocupa do “estudo do processo de evolução do conhecimento
histórico”, compreendendo-o como um setor particular, distinto da filo-
sofia da história, da teoria da história e da metodologia da história. Nas
palavras da autora,

a história da história é a área de conhecimento que se dedica ao estudo


da produção histórica ou historiografia, da prática do historiador, vi-
sando permitir o conhecimento das teorias da história concretamente,
através de um arquivo – o ‘corpus’ das histórias possibilitando o es-
tudo do discurso do historiador e a separação entre o fazer e o saber.20

Glezer compreendia, então, que o estudo da produção histórica po-


deria ser feito por assunto, por período ou por autor e que cada uma des-
sas possibilidades mereceria tratamento diferente. No caso de sua tese, a
19 – Idem, p. 16.
20 – GLEZER, Raquel. O saber e o fazer na obra de José Honório Rodrigues. Tese de
Doutorado. São Paulo: USP, 1976, p. 7.

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Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo

opção foi estudar o discurso de um historiador, distinguindo o fazer e o


saber, de modo a compreender a evolução do conhecimento histórico a
partir de seu trabalho. A produção histórica, portanto, seria tratada como
um arquivo capaz de fornecer informações sobre como os historiadores
pensam. Ou ainda, como um procedimento analítico que deveria explici-
tar os “fatores ocultos” da interpretação histórica, considerando não ape-
nas os pensadores individuais, mas também a história das instituições,
órgãos de ensino, etc.21

De modo inovador em sua época, Glezer observava a necessidade de


um modelo de análise da historiografia próprio, capaz de considerar a es-
pecificidade do trabalho histórico, visto que seu objetivo era saber como
a obra de história se concretiza, identificando seus níveis de elaboração,
sem perder de vista seu vínculo com um dado momento histórico.

Entre os esforços de análise da produção historiográfica nacional,


outro autor que se destaca nesse contexto é José Roberto do Amaral Lapa,
com A história em questão: historiografia brasileira contemporânea, pu-
blicado em 1976. Lapa procurou definir a historiografia como um campo
de estudos ocupado com a história crítica dos processos de “registro da
realidade histórica”, incluindo aí a reflexão sobre esse próprio registro.
Em suas palavras, tal campo compreenderia “o circuito que vai do histo-
riador – como agente produtor – passando pelo processo de produção do
conhecimento histórico para chegar à sua transmissão e consumo, isto é, à
formação de uma memória, uma consciência e uma prática ideológica por
21 – Segundo Glezer, a proposta de tratar a produção histórica como um arquivo capaz
de fornecer um acervo documental foi apresentada por Herbert Butterfield no livro Man
on his past: the study of history of historical scholarship (1955). De acordo com a auto-
ra, para Butterfield, a história da produção histórica não deveria ter como foco central
o arrolamento de historiadores e obras, agrupados em escolas ou movimentos, mas o
historiador, a ser inserido na própria história. A historiografia pensada em meio ao desen-
volvimento dos estudos históricos condicionados pela própria história. Outra referência
destacada por Glezer é Dante Moreira Leite, cujo estudo O caráter nacional brasileiro
(1969) propõe uma “análise intuitiva” do conteúdo a ser comparada à análise quantitativa
das informações obtidas. E ainda, os estudos desenvolvidos pela crítica literária, sendo
que o modelo teórico utilizado é inspirado em Lucien Goldmann, Sociologia do romance
(1967), especialmente no capítulo “O método estruturalista genético na história da litera-
tura”.

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Sobre a história da historiografia brasileira: um breve panorama

parte dos agentes que reproduzem, promovem a circulação, assimilam e


interagem nesse conhecimento”.22

Segundo Lapa, uma das limitações da história da historiografia brasi-


leira estaria no “caráter repetitivo dos modelos analíticos, em relação aos
perfis e às obras mais significantes, e do arrolamento dos impedimentos à
maior operacionalidade do historiador”. Em outras palavras, o autor criti-
cava certo “pacto consensual” em torno de dois pontos: as obras mais im-
portantes e os fatores que criaram obstáculos ao trabalho do historiador.
Em seu tempo, considerava haver um movimento de ruptura dessa visão
unívoca, movimento esse observado em um momento em que a historio-
grafia era vista como marcadamente pobre, quantitativa e qualitativamen-
te, sendo objeto de poucos estudos. Segundo Lapa, a ampliação dos es-
tudos sobre a história da historiografia seria indicativa de uma tomada de
consciência de fundamental importância para a crítica ideológica em sua
época. Era, portanto, “necessário desengravidar a Historiografia brasilei-
ra de sua carga ideológica e justamente as avaliações ao nível ideológico
é que poderão oferecer esse discernimento. A ideologia seria aí objeto e
não motor do conhecimento histórico”.23

Em 1979, Nilo Odália propunha uma análise da historiografia bra-


sileira com base no conceito de “visão de mundo”, que permitia fazer
a relação entre a obra de um autor e sua época.24 Ao analisar a obra de
Francisco Adolfo de Varnhagen, Odália identifica três elementos básicos
em sua História Geral do Brasil (1854-1857): a nação, o Estado e o ho-
mem branco brasileiro. O objetivo era desvendar a ideologia que nortea-
va a elaboração da obra. Neste caso, o estudo da historiografia fornece-
ria subsídios para uma história das ideologias, sob uma chave de leitura
eminentemente política.25 O autor e seu contexto seriam compreendidos

22 – LAPA, José Roberto do Amaral. A História em questão. Historiografia brasileira


contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1974, pp.14-15.
23 – Idem, p. 194.
24 – ODÁLIA, Nilo (org.). Varnhagen. História. São Paulo: Ática, 1979. Coleção Gran-
des Cientistas Sociais n. 9. Observa-se em Odália, novamente, a inspiração nas reflexões
de Lucien Goldmann.
25 – GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Historiografia e cultura histórica: notas para

R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177 (472):13-38, jul./set. 2016 25


Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo

como parte da construção de uma ideologia política, ou ainda, como parte


de um processo social de dominação. Alguns anos mais tarde, em 1997,
com As formas do mesmo, Odália reafirma sua proposta de análise da his-
toriografia, desta vez focalizando, além de Varnhagen, Oliveira Vianna,
de modo a confirmar a tese anteriormente exposta: a de que a historio-
grafia produzida por ambos nada mais fez do que legitimar um processo
de dominação.26 Conforme argumenta Guimarães, Odália contribuiu para
a consolidação de uma forma peculiar de estudo da historiografia, que
consistia em interrogar os textos a partir de propósitos externos aos mes-
mos.27

O breve esforço de apresentar os modelos de história da historiogra-


fia produzidos entre os anos 1940 e 1970 permite tecer alguns comen-
tários acerca dos caminhos desse domínio de estudos entre nós. Como
primeira observação, destaca-se a presença de José Honório Rodrigues
nesse campo ao longo de, ao menos, três décadas, ainda que faltem es-
tudos mais sistemáticos acerca do alcance efetivo da sua recepção. Ine-
gavelmente, sua obra permaneceu, por longo tempo, como um tipo de
referência única, não apenas devido à proposta monumental de conjugar
teoria, metodologia e historiografia, mas pela divulgação no meio acadê-
mico por meio de publicações de ampla circulação.

O segundo comentário refere-se à permanência, pelo menos por três


décadas, da noção de ideologia como categoria-chave dos estudos sobre
a historiografia, o que pode ser compreendido levando em conta a expe-
riência vivida por esses intelectuais, pensadores da história, entre as dé-
cadas de 1950 e 1970, quando a temática da “questão nacional” retornou
à cena sob novo prisma, suscitando interpretações diversas e exigindo no-
vos instrumentos teóricos. A noção de ideologia permitia relacionar texto
e contexto, frequentemente a partir de uma relação de subordinação do
primeiro ao segundo, além de atender à necessidade de explicitar os pres-
um debate. Ágora – Revista de História e Geografia, EDUNISC, 1995, p. 42.
26 – ODÁLIA, Nilo. As formas do mesmo. Ensaios sobre o pensamento historiográfico de
Varnhagen e Oliveira Vianna. São Paulo: UNESP, 1997, p. 43.
27 – GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Historiografia e cultura histórica, op. cit., p.
43.

26 R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177 (472):13-38, jul./set. 2016


Sobre a história da historiografia brasileira: um breve panorama

supostos que orientavam as interpretações produzidas pelos intelectuais


em diferentes tempos, promovendo, sob certos aspectos, um movimento
de autocrítica e de explicitação de suas próprias orientações.

O terceiro comentário relaciona-se à observação da presença de An-


tonio Candido, cuja amplitude ainda é difícil de ser medida, como re-
ferência para pensar um novo rumo para o estudo da historiografia nos
anos 1970. Na década anterior, ao compreender a história da literatura
como uma história social, com uma proposta de método, Candido permi-
tia romper com a abordagem norteada pelo materialismo histórico, que
opunha estrutura e superestrura, considerando as manifestações culturais
(superestruturais) como reflexos da primeira. O autor forneceu novas
coordenadas para os estudos de história da cultura no Brasil, difundindo
e sofisticando noções como a de geração, influência e tema, que contri-
buiriam para a abordagem da literatura como um todo “orgânico”. Candi-
do afastou-se, assim, da perspectiva tradicional de uma história fundada
na perspectiva geracional e na sucessão cronológica direta de autores e
obras. Além disso, considerou o estudo da obra em um contexto histórico
sem perder de vista a noção do texto literário enquanto dotado de carac-
teres formais próprios.

Por fim, nos anos 1970, a emergência de uma preocupação em de-


senvolver a história da historiografia parece estar relacionada, ao menos
em parte, com uma transformação interna do campo dos estudos históri-
cos no Brasil. Como observou Amaral Lapa em 1977, naquele momento
era notório o crescimento do interesse dos historidores a respeito do de-
senvolvimento do próprio conhecimento que produziam, indicando certa
preocupação epistemológica.

HISTORIOGRAFIA, HISTÓRIA DAS IDEIAS E HISTÓRIA DAS


INSTITUIÇÕES
A partir dos anos 1980, identifica-se um conjunto de pesquisadores
que se dedicaram a pensar a historiografia a partir de referenciais oriun-
dos da história das ideias, produzindo estudos sobre autores, obras e ins-

R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177 (472):13-38, jul./set. 2016 27


Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo

tituições. É necessário considerar que esse contexto é marcado por uma


inflexão da historiografia brasileira, por efeito da expansão das pesquisas
realizadas no âmbito das pós-graduações, criadas na década anterior, e
das transformações no plano internacional, decorrentes, em larga medida,
da renovação da história política e da história intelectual, do giro lin-
guístico e da ascensão da história cultural. Categorias como ideologia
não necessariamente foram deixadas de lado, mas outras foram incluídas,
tornando o quadro conceitual mais complexo.

Chamamos a atenção, ainda que brevemente, para a obra de Arno


Wehling que, desde a década de 1970, realizava estudos sobre a historio-
grafia, compreendida enquanto história da história, com metodologia pró-
xima da história das ideias e da história da ciência. Nesse campo, o autor
notabilizou-se por uma série de estudos sobre o historicismo, reunidos no
livro A invenção da história: estudos sobre o historicismo (1994); além
de um alentado estudo sobre Francisco Adolfo de Varnhagen e Capistrano
de Abreu, parcialmente publicado.28

Em texto mais recente, o autor propõe verificar se é possível que a


história da historiografia funcione como laboratório de uma epistemolo-
gia histórica, cujo objetivo seria testar a aplicação de categorias e proce-
dimentos epistemológicos a um tipo específico de fontes, as obras histo-
riográficas, contribuindo, assim, para o “refinamento teórico da área”.29

28 – WEHLING, Arno. De Varnhagen a Capistrano: historicismo e cientificismo na cons-


trução do conhecimento histórico. Rio de Janeiro: UFRJ, 1992. Tese para professor titular
de Metodologia da História, 2 volumes; WEHLING, Arno. Estado, História e Memória:
Varnhagen e a construção da identidade nacional. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
Wehling compreende que o historicismo não é um problema estritamente historiográfico,
circunscrito ao domínio da epistemologia da história, mas se dedica ao estudo de sua
presença nesse campo, considerando-o fecundo para a história das ideias científicas e filo-
sóficas. O autor elege um conjunto de questões pertinentes ao historicismo e as examina a
partir do estudo de casos relativos a autores, tais como Varnhagen e Capistrano de Abreu,
e instituições, como o IHGB.
29 – WEHLING, Arno. Historiografia e epistemologia histórica. In: MALERBA, Jurandir
(org.). A história escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo: Contexto, 2006, p.
175.

28 R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177 (472):13-38, jul./set. 2016


Sobre a história da historiografia brasileira: um breve panorama

Na década final do século XX, entre os estudos que evidenciaram


a articulação fecunda entre historiografia, história política e história das
instituições, a tese de Lucia Maria Paschoal Guimarães, Debaixo da ime-
diata proteção de Sua Majestade Imperial: o Instituto Histórico e Geo-
gráfico Brasileiro (1838-1889), defendida em 1994, na Universidade de
São Paulo, sob orientação de Nanci Leonzo, não apenas contribuiu para a
ampliação da escassa bibliografia específica então disponível sobre aque-
la agremiação, como assinalou uma importante inflexão de análise dentro
dos estudos com foco nos lugares de produção do conhecimento histórico
no Brasil do Oitocentos. Com base no mapeamento do perfil sociopolítico
dos fundadores, alinhados ao projeto de consolidação do Estado Imperial,
e em detalhado levantamento do material publicado na Revista Trimen-
sal do IHGB, Lucia Guimarães introduziu a hipótese do descompasso
entre os discursos proferidos acerca da história e sua prática efetiva den-
tro da instituição, preponderantemente marcada pelo trabalho de fixação
de uma “memória nacional”.30 E, entre as evidências incontornáveis da
preocupação dos sócios do Instituto com o combate ao esquecimento, a
presença significativa de “biografias e necrológios” estampados nas pá-
ginas do periódico da institutição, servia para demarcar a centralidade do
problema da memória no processo de institucionalização da historiografia
brasileira no século XIX.31

HISTÓRIA DA HISTORIOGRAFIA, CULTURA HISTÓRICA E


MEMÓRIA DISCIPLINAR
A partir do final dos anos 1980 e ao longo da primeira década do
século XXI, observa-se o interesse por problemas relacionados à escrita e
à narrativa históricas, às práticas e lugares institucionais de investigação
30 – GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal. Debaixo da imediata proteção de Sua Ma-
jestade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). Revista do
IHGB, a. 156, n. 388, jul.-set. 1995, p. 457.
31 – O tema da memória permanecerá onipresente na pesquisa posterior da autora, apre-
sentada como tese de concurso para professor titular da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro/UERJ, na qual estende o recorte temporal da história do IHGB da queda do Impé-
rio até o governo Vargas. GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal. Da Escola Palatina ao
Silogeu: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1889-1938). Rio de Janeiro: Museu
da República, 2007.

R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177 (472):13-38, jul./set. 2016 29


Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo

em estudos que, de modo geral, mantêm os referenciais da história polí-


tica e da “questão nacional”, mas também despontam com outras preocu-
pações, por vezes relacionadas à cultura histórica, à experiência do tempo
e à recepção das obras historiográficas, assim como aos problemas de teo-
ria da história ou da história dos conceitos. O livro de Ricardo Benzaquen
de Araújo, Guerra e Paz: Casa-Grande & Senzala e a obra de Gilberto
Freyre nos anos 30 (1994) é exemplar nesse sentido. Cabe lembrar que,
o artigo do autor, “Ronda noturna: narrativa, crítica e verdade em Capis-
trano de Abreu”, foi publicado em 1988, no primeiro número da revista
Estudos Históricos, como parte do dossiê “Caminhos da historiografia”.

Neste mesmo dossiê, Manoel Luiz Salgado Guimarães despontava


com uma perspectiva de análise que se revelou profícua para os estudos
da historiografia nas suas articulações com a teoria da história e a história
política. O artigo “Nação e civilização nos trópicos: o Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacional” correspon-
dia à síntese de sua tese de doutorado, A escrita da história no século XIX.
Historiografia e nação no Brasil (1838-1857), defendida no ano anterior,
na Universidade Livre de Berlim, sob a orientação de Hagen Schulze.32
Naquele momento, Manoel Salgado situava a sua proposta de pesquisa na
convergência entre dois temas caros às ciências sociais, a historiografa e
a questão nacional e, nesse âmbito, reconhecia uma lacuna: com exceção
dos trabalhos de José Honório Rodrigues, havia poucos estudos sobre os
“primórdios” da escrita da história no Brasil e constituição do projeto
político de nação no século XIX.33 O recorte temporal da pesquisa estava
nos marcos de “origem da historiografia científica sistemática” entre nós,
a fundação do IHGB, em 1838, e a publicação do segundo volume da
História Geral do Brasil, de Francisco Adolfo de Varnhagen, em 1857.

Dez anos após a publicação de “Nação e civilização nos trópicos”,


Manoel Salgado apresenta aquelas que seriam as suas reflexões concei-

32 – A tese foi traduzida por Paulo Knauss e Ina de Mendonça, e publicada no Brasil
postumamente: GUIMARÃES, Manoel L. Salgado. Historiografia e nação no Bra-
sil:1838-1857. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
33 – Idem, p. 52.

30 R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177 (472):13-38, jul./set. 2016


Sobre a história da historiografia brasileira: um breve panorama

tuais mais sistemáticas acerca da historiografia, em dois artigos publica-


dos no final da década de 1990 e início dos anos 2000, nos quais apontava
caminhos possíveis para uma delimitação renovada das especificidades
dos estudos historiográficos.

Escrito no final do milênio, “Repensando os domínios de Clio: as


angústias e ansiedades de uma disciplina” assinala, em seu próprio títu-
lo, o diagnóstico geral de um período de “crise” no âmbito disciplinar,
mas que também se apresentava como oportunidade para os historiadores
repensarem o próprio campo e o exercício de seu ofício. No final dos
anos de 1990, quais seriam os caminhos possíveis para a renovação da
historiografia como subárea de pesquisa para além da sua função auxiliar,
diluída entre as práticas do ofício e limitada à “elaboração de catálogos
de autores e obras”?34

No artigo publicado no ano 2000, “Usos da história: refletindo so-


bre identidade e sentido”, a referência ao contexto das celebrações dos
500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil servia como mote para
o aprofundamento da análise das relações entre história e memória nos
processos de fabricação simbólica dos laços de identidade coletivos, tema
apenas esboçado no texto anterior.35

O que merece ser destacado no conjunto de interrogações então pro-


postas é a afirmação da historicidade da própria disciplina e dos entrela-
çamentos entre os projetos de escrita da história e a produção da memória
social e, sobretudo, os usos e sentidos políticos do conhecimento fabrica-
do pelos historiadores. O que Manoel Salgado identificava como “a tarefa
de quebrar o espelho” era imprescindível para a desnaturalização de certa
imagem da história-ciência que, tal como no mito narcísico, permanecera
seduzida e subjugada pela memória de seu triunfo disciplinar e potência
institucional.

34 – GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Repensando os domínios de Clio: as angústias


e ansiedades de uma disciplina. Revista Catarinense de História, n. 5, 1998, pp. 10-11.
35 – GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Usos da história: refletindo sobre identidade e
sentido. História em Revista. Pelotas/RS, v. 6, 2000, pp. 21-36.

R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177 (472):13-38, jul./set. 2016 31


Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo

A possibilidade de se delimitar algo como uma história da histo-


riografia sempre esteve diretamente vinculada ao trabalho de memória
e de construção de uma narrativa de identidade da disciplina, que envol-
veu também o silenciamento de tradições como a dos antiquários, bem
como a compreensão dos chamados “textos fundadores” como formas
de “disputas pelo passado” e da própria normatização de uma história
disciplinar no Brasil oitocentista. Por conseguinte, a renovação dos es-
tudos de história da historiografia, tal como o entendia Manoel Salgado,
pressupunha uma vigilância ao mesmo tempo epistemológica e ética, que
decorria do reconhecimento dessas disputas e interdições em torno dos
modos possíveis de representação do passado, materializados em uma
memória disciplinar.

Neste sentido, na proposta de ultrapassar a confecção de catálogos e


balanços bibliográficos que, tradicionalmente, se confundiram com os es-
tudos de historiografia, se era imprescindível a demarcação dos seus ob-
jetos, a formulação de problemas e de pautas renovadas de investigação,
igualmente se fazia necessário o trabalho de edição crítica e comentada
de textos como forma de se constituir um corpus de fontes possíveis de
pesquisa. Essa preocupação estava na base de um dos importantes proje-
tos de Manoel Salgado, que se concretizou postumamente com a publi-
cação do Livro de fontes de historiografia brasileira, composto por dis-
cursos, dissertações e memórias, originalmente publicados na revista do
IHGB, ao longo do século XIX, transcritos em sua ortografia e pontuação
originais e acrescidos de elucidativas notas do seu organizador.36

Já assinalada no artigo de 1998, a abordagem crítica dos “mitos de


fundação” da ciência histórica e de sua subsequente hegemonia, desde o
século XIX, entre as demais ciências sociais, consistiria no primeiro pas-

36 – GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Livro de fontes de historiografia brasileira.


Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010. Recentemente, dois projetos de edição comentada de fon-
tes para estudos de historiografia, afinados a essa proposta, foram publicados: VARELLA,
Flávia; OLIVEIRA, Maria da Glória de e GONTIJO, Rebeca (orgs.). História e historia-
dores no Brasil: da América Portuguesa ao Império do Brasil: c. 1730-1860. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2015 e NICOLAZZI, Fernando (org.) História e historiadores no Brasil: do
fim do Império ao alvorecer da República: c. 1870-1940. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015.

32 R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177 (472):13-38, jul./set. 2016


Sobre a história da historiografia brasileira: um breve panorama

so para dessacralizar certa memória construída em torno da disciplina. No


entanto, o que se formula de modo mais consistente nos textos de reflexão
teórica de Manoel Salgado é a constatação de que tal tarefa implicava
necessariamente a ampliação do escopo reflexivo para além do âmbito
das questões endógenas ao campo disciplinar, ou seja, uma história da
história não poderia deixar de ser pensada também como uma crítica da
cultura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
François Hartog identificou na emergência de uma consciência his-
toriográfica, desde o final dos anos 1980, o fenômeno mais amplo de crise
do regime moderno de historidade, caracterizada pelo presentismo (“um
presente onipresente”), que se faz acompanhar pela experiência de “um
futuro imprevisível” e de “um passado visitado e revisitado de forma
incesssante e compulsiva”.37 No âmbito da produção acadêmica, tais mu-
tações talvez nos permitam refletir sobre as relações que as pesquisas
atuais de história da historiografia mantêm com o que podemos identi-
ficar como uma “tradição” de estudos historiográficos, sobretudo aquela
que, no passado recente (entre os anos de 1970-80), consolidou certos
modelos de análise.38 Como foi destacado acima, em grande parte desses
estudos “precursores”, havia a explícita preocupação de retirar a histo-
riografia brasileira de um nicho originalmente ocupado nas histórias da
literatura nacional, para situá-la entre os objetos privilegiados de análise
dos historiadores, tomando-a como “documento” para a identificação das
linhas de “evolução” da história da disciplina.

Uma tarefa recomendável para aqueles que hoje pretendem pesquisar


no campo da história da historiografia talvez esteja justamente em uma
leitura cuidadosa desse repertório de trabalhos acumulados que, a despei-

37 – HARTOG, François. Prefácio. In: O século XIX e a história: o caso Fustel de Cou-
langes. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003, p. 2.
38 – Um balanço analítico cuidadoso dos trabalhos mais recentes na área, incluindo pes-
quisas realizadas desde o início dos anos 2000, ainda está por ser feito. Neste sentido, des-
tacamos o mapeamento inicial dessa produção em: ARAÚJO, O século XIX no contexto
da redemocratização brasileira, op. cit..

R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177 (472):13-38, jul./set. 2016 33


Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo

to de suas especificidades, constituíram modelos de história intelectual,


em sua grande parte, tributários da história das ideias e das ideologias,
cujas limitações nos saltam aos olhos na atualidade, lidos a distância, mas
também podem servir para ancorarmos sobre bases mais firmes a renova-
ção das agendas e das abordagens de pesquisa. Com efeito, os trabalhos
de história da historiografia que compõem algo próximo a um “cânone”
desse campo de estudos talvez mereçam ser mais bem avaliados, consi-
derando o que, na perspectiva hermenêutica de Hans-Georg Gadamer, se
entende por “horizonte móvel” da tradição, frente a qual talvez ganhásse-
mos mais com uma postura de reconhecimento e abertura e não apenas de
recusa e estranhamento. E isso abriria a possibilidade de revisitar traba-
lhos que despontaram há décadas atrás, como os de José Honório, Carlos
Guilherme Motta, Maria Odila da Silva Dias, Maria de Lourdes Janotti,
Nilo Odália e outros historiadores da historiografia do Brasil, adotando
o procedimento usual no trato com as fontes, o que implicaria interrogar
esses estudos por suas determinações específicas, mediante o esforço de
compreensão de seus diferentes horizontes de questões para, com isso,
livrá-los de expectativas infundadas de que eles nos ofereçam interpreta-
ções com prazo de validade atualizado.

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