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Roudinesco (1998) pontua que após a morte de Lacan, Maud junto com seu
marido Octave e Patrick Guyomard criou o Centro de Formação e de Pesquisas
Psicanalíticas (CFRP) que, em 1994 acabou se dividindo em dois grupos por conta de
conflitos internos, um conhecido como espaço analítico e o outro como Sociedade
Psicanalista Freudiana.
Mannoni em sua visão e seu manejo adota várias teorias e valida muitas coisas
trazidas por autores como Lacan, Freud, Winnicott, Dolto, Klein, seu esposo, Octaveo
Mannoni, entre outros. Levando em consideração esses e outros autores, traça seu manejo
e seu olhar clinico.
Porém, recusa
Percebe-se que Maud tem como enfoque do seu manejo a validação do sujeito e
de sua linguagem, afirmando que é impossível isolar o fenômeno da loucura do problema
da linguagem (linguagem essa atravessada pelos efeitos da verdade). O que o psicótico
diz, remete a ele, mesmo que o mesmo não reconheça (podendo até recusar uma fala dele
como lhe pertencendo).
Ela nos ensina que o psicanalista, ao realizar uma prática institucional, deve
estar atento aos perigos de reproduzir essa violência promovida em nome de
uma ordem adaptativa. Esta convocação social, que parte das demandas
institucionais, distancia o analista das dimensões da verdade e o do saber por
que se enlaçam o trabalho do psicanalista, independentemente de onde ele
ocorra. A partir disso, nos caberia a busca pela possibilidade de dialogar com
diferentes contextos e discursos sem perdermos nossas referencias éticas e sem
ceder às exigências reprodutoras de um poder socialmente alienante,
disfarçada de ética dos cuidados. O que também poderia ocorrer no que diz
respeito ao lugar ocupado pelo analista na clínica com crianças.
Em seu livro “A criança retardada e a mãe” (1988), Mannoni diz respeito a relação
da criança nomeada como “retardada” e seu meio familiar. Em um tópico “Receber as
mensagens dos pais” (p.63) onde se questiona se o psicanalista deve ou não receber as
mensagens dos pais, ela afirma que “se negligenciamos a demanda dos pais,
especialmente no caso dos débeis e dos psicóticos, comprometemos, no plano técnico, a
verdadeira marcha do tratamento, que ficará sempre a um nível superficial, artificial, diria
eu. ” (p.63). Receber a mensagem dos pais não é o mesmo que fazer a psicoterapia deles
e que em casos graves pode acontecer uma possibilidade de verbalizar a culpabilidade do
pai ou mãe angustiados, diante da criança.
Em seu manejo, o que nos chamou a atenção é a validade e o olhar que Mannoni
dá aos seus pacientes e as pessoas que são tidas como invalidas ou inuteis pela sociedade.
Sem moderar a sensibilidade, conseguiu de forma viável seu lugar na psicanalise e seu
reconhecimento frente a autores renomados.
Casos clínicos
Um dos casos apresentados por Mannoni em seu livro “A criança, sua “doença” e
os outros” (1980), é o de Paulo (p.131 a 136). Nós apresentamos a seguir:
A mãe traz culpa por engravidar em sua idade, e é a irmã mais velha de Paulo e
alguns estranhos que cuidam do mesmo. Mannoni em um trecho de seu livro pontua que
a criança não planejada é tratada com um excesso de cuidado ou uma falta dele. A mãe
se fixa aos apelos de Paulo, que se torna um objeto de cuidado intensivo e a casa gira em
torno das exigências de suas exigências.
Paulo não tolera a ausência materna, mas, quando a mãe se encontra presente
recusa tudo que vem dela, e o pai evita qualquer intervenção. Quando Paulo tinha 18
meses de idade se dirigiu ao psiquiatra por conta de crises convulsivas e o médico disse
para a mãe que ela seria destruída caso não dominasse Paulo. “A criança reagiu por uma
ereção com masturbação” (Mannoni, 1980, p.132) e o pediatra ao ser consultado, disse a
mãe (com a criança presente) em que consistiam a ereção e sua dor, e o médico verbalizou,
afim de diminuir a angustia da mãe que aquela dor lhe causava medo, e Paulo reteve essa
explicação. O menino acordava todas as noites em ereção e ao verbalizar para a mãe que
estava doente conseguia voltar a dormir. Por três meses Paulo se encontrou em um abrigo
de crianças, onde reencontrou o sono, mas perdeu a palavra. Com dois anos e meio ele
reencontrou a família e voltou a falar, mas não dormia e recusava alimentos. Diante da
angustia da possibilidade de retornar ao abrigo Paulo teve laringite ruidosa e seu estado
piorou bruscamente, o médico verbalizou que era preciso hospitaliza-lo e o pai se opôs,
recorrendo a consulta psicanalítica.
Nas duas primeiras entrevistas apenas a mãe compareceu. E o depoimento da mãe
gira em torno do pai da criança, dizendo que Paulo é ligado ao pai, mas quase não o vê.
A mãe acabava por excluir Paulo de sua vida familiar, cristalizando sua ansiedade em
torno do perigo imaginário de perder sua autoridade. Paulo reage reivindicando algo que
sempre o deixa insatisfeito, exigindo coisas que não pode ser totalmente satisfeita. Paulo
se encontra em uma ausência de intervenção paterna e não-integração ao ritmo de vida da
casa, o que agravam os efeitos de uma situação dual. As regras impostas pela mãe são
recebidas como arbitrárias, sendo travada uma luta entre mãe e filho onde nem um nem
o outro quer ceder. Na medida que a mãe vai tomando consciência da situação em que se
encontra, envolvendo uma desordem, ela percebe que participa não somente da ausência
de situação triangular, mas ainda a importância da parasitagem nos veículos que a
prendem ao filho. “Paulo não pode perder a mãe, porque a mãe (para se defender de um
desejo de abandono) não pode perder Paulo. ” (p.133).
A relação dos dois é simbiótica, não a divisória entre eles, e tudo se passa como
se ainda estivesse em época de amamentação, onde um vive em “sugar” o outro, não
obtendo desejos próprios. Mannoni afirma que sua intervenção “atinge a interdição de
uma “parasitagem”; visa a emergência do tabu antropofágico e introduz ao mesmo tempo
uma referência terceira” (p. 133). Segundo ela, sua forma de intervenção pode ser
discutível, pois acaba assumindo o aspecto de conselho, porém, dentro disso acaba por
retomar as próprias palavras da mãe, e cita dois concelhos:
1.º) Liberdade total para a criança, enquanto essa liberdade não perturba os
outros (direito de não dormir, não comer, não lavar-se sob a condição de que
um ritmo de vida a parte não seja criando em função dos caprichos da criança).
2.º) Se Paulo chama de noite, peço que seja o pai que se levante para dizer-lhe
“Faça o que você quiser mas me deixe dormir em paz com minha mulher,
temos necessidade de dormir. (p.133)
Segundo Mannoni (1980) tais conselhos agiram como uma interpretação analítica,
que devolveu a mãe defesas ligadas a sua própria culpabilidade edípicas. Mannoni afirma
que as perturbações de Paulo desapareceram dentro de dois dias e sua mãe visitou Maud
em casa. A mãe verbalizou que o menino, ao receber a intercessão do pai, perguntou a ele
“quem é sua mulher¿” e o pai respondeu dizendo que era a sua mãe, então Paulo
respondeu “Esta é a minha mulher”.
Uma nova crive de laringite ruidosa trouxe novamente as perturbações antigas e
Mannoni aceitou ver Paulo. Segundo ela a aparência de Paulo era de uma criança
pequena, magra com grandes olhos negros e afirma que Paulo é muito precoce. E, em
uma linguagem mais elaborada Maud começa a fazer uma espécie de levantamento para
a mãe de perturbações somáticas de Paulo, acentuando a situação entre ele e a mãe.
Segundo Mannoni, a criança deixa os joelhos da mãe e a olha fascinada, começando um
monologo da qual Mannoni diz não compreender.
“ - Eu gostaria muito, digo-lhe, de falar tudo isso com o papai. – Ah, não –
responde a criança, é Paulo o grande chefe. ” (p. 134), Mannoni responde que
papai é o grande chefe e mamãe e Paulo são governados por papai e Paulo diz
que “mamãe gentil, Paulo o chefe da mamãe” (p.134).
Dez dias depois, na sessão seguinte, Paulo leva a Mannoni uma carta do pai. Paulo
foi colocado em uma creche e repete diante da mãe que Paulo é o grande chefe e não
precisa que o pai dirija e Mannoni diz que percebe aquilo como um jogo. A mãe traz um
pouco do abandono de Paulo ao nascer, dizendo que o mesmo ficava com suas filhas e as
empregadas e Paulo acrescenta ““não dormir não é gentil”” (p. 134) e Mannoni o
responde ““não é mau não dormir, não é fácil” (p.134) ””. Mannoni diz que Paulo sustenta
um discurso novamente, animado, e Maud não compreende, mas registra. Entraram em
um acordo em que não é necessário que Maud reveja a família, a menos que o pai não
decida de outro modo.
Mannoni interpreta que a doença foi utilizada por Paulo “como um sinal destinado
a suscitar, para além dos cuidados reais, o desejo materno” (p.134), diz também que Paulo
acabará por exigir da mãe que o satisfaça, mas ao mesmo tempo se sentia despossuído
como indivíduo. Paulo, dentro de sua relação com a mãe era tanto o Paulo chefe quanto
o Paulo doente, e essa relação se estruturou através de sua dor, “de modo narcísico”
(p.134). Paulo, quando ia à noite no quarto de sua mãe com ereção não oferecia a ela o
pênis ereto, mas o que faz mal, pois introjetou o que o médico lhe disse, sobre o “medo”,
valorizando não o pênis, mas o que poderia fazer com ele para chamar a atenção da mãe,
“em resposta ao que, no lugar de sua carência, estava pronto a fazer-lhe eco” (p. 135).
Esse comportamento regressivo era resultado da angustia da castração e Mannoni, ao
incluir o pai em seu discurso ajudou Paulo a superar a possibilidade de edipificação.
Paulo se encontrava preso numa palavra materna, que não deixava lugar para
terceiros, como o pai. O pai, que não era tido como referência, permanecia na
impossibilidade de se situar frente ao objeto de seu desejo. “O que Paulo reclamava era
outra coisa como tal, quer dizer, o interdito. Não podia ele engajar-se na dialética da
castração, se a mãe não estivesse marcada nisso. ” (p.135). Mannoni também discorre
sobre a fala do médico quando disse que Paulo destruiria a mãe se a mãe não o destruísse
antes, a convidando a “fixar sua relação a criança num plano narcísico. ” (p.135). A
intervenção da palavra de Mannoni, de um pai que possuía e que era chefe da mãe,
permitiu a Paulo o acesso a linguagem através da castração da mãe, e também da criança
“situar-se através da dialética do desejo. ” (p.136).