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HISTÓRIAS DE TERROR DA
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Plínio o Jovem, 9
A casa mal-assombrada, 13
Petrônio, 21,
O Lobisomem, 23
As vampiras, 29
A matrona de Éfeso, 33
Plutarco, 41
O fantasma de Dámon, 43
O espírito de Cleonice, 49
NOTA DOS EDITORES
9
Caio Plínio Cecílio Segundo (61 ou 62
– 114 d. C.), chamado Plínio o Jovem, foi um
célebre orador, escritor, jurista e político
romano.
A casa mal assombrada consta da
Carta de Plínio a Sura (Livro VII, carta
XXVII). Muitos estudiosos consideram-na
uma das primeiras histórias de fantasmas,
uma narrativa pioneira em que releva o
componente sobrenatural. Pode o leitor
verificar que, ao longo dos séculos, e mesmo
na atualidade, tem-se explorado, nas
histórias de fantasmas, os elementos centrais
da narrativa do vetusto autor romano: uma
casa mal-assombrada; uma alma penada
arrastando correntes; moradores que,
aterrorizados, buscam liberar-se da entidade
alienando a casa mal-assombrada a preço
vil; um novo morador que, empregando
fórmulas ou meios rituais, busca a liberação
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do ente fantasmagórico. O título que
conferimos à narrativa parece ser o entre nós
consagrado (Cf. Massaud Moisés, “A criação
literária – Prosa I”, 23ª. edição, p. 33).
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A CASA MAL-ASSOMBRADA
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intensificada pelo medo, causava a morte,
pois, malgrado o espectro não aparecesse
durante o dia, a sua memória ficava
impressa nos olhos e, assim, o terror se
prolongava além das próprias causas.
Portanto, a casa ficou deserta, condenada à
solidão, completamente abandonada, à
mercê do espectro terrível. Apesar disso, a
casa foi exposta à venda ou locação,
esperando-se que alguém, que não soubesse
da terrível maldição, se dispusesse a adquiri-
la ou alugá-la.
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noite, já na casa instalado, ordenou que lhe
preparassem o leito no cômodo da frente.
Pediu suas tábuas de escrita, um estilete e
luz, determinando que os demais se
retirassem aos fundos da vivenda.
Concentrou, pois, o seu ânimo, olhos e mãos
no exercício da escrita, para que sua mente
não desse azo a ruídos imaginários ou medos
absurdos.
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O espectro estava ali, de pé. Com um
dedo, fazia um sinal, chamando-o. O filósofo,
de sua vez, acenava para que o fantasma
esperasse um pouco, retomando o trabalho
com suas tábuas e estilete. Mas o espectro
insistia, fazendo soar as correntes para
atrair-lhe a atenção. O filósofo voltou a
cabeça para a aparição, que continuava a
chamá-lo com um dedo. Então, tomando a
lamparina, prontamente a seguiu.
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No dia seguinte, procurou os
magistrados, deles obtendo a licença para
escavar o lugar. Encontraram-se ossos,
ainda enredados em correntes. A carne,
apodrecida pelo efeito do tempo e da terra,
havia sido consumida, expondo os ossos
jungidos aos seus grilhões. Reunidos
cuidadosamente os ossos, foram eles
enterrados em cerimônia pública. Depois
disto, a casa ficou finalmente livre do
fantasma, uma vez que os seus restos
mortais foram sepultados convenientemente
Nota:
(1) Atenodoro de Tarso (74 a.C – 7 d.C), filósofo
estoico grego.
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PETRÔNIO
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Caio (ou Tito) Petrônio Árbitro,
escritor e político romano, autor do famoso
romance Satíricon, era contemporâneo de
Nero e, acusado de traição, cometeu suicídio,
antecipando-se à ira do imperador.
A primeira das narrativas abaixo, O
lobisomem é, certamente, a primeira história
de horror a abordar a licantropia. Muitos de
seus elementos se repetem até hoje: noite de
luar; a transformação que se segue a rituais
macabros em ambiente funesto; o retorno à
forma humana após um grave ferimento. Já
a segunda, As vampiras, talvez seja a
primeira história protagonizada por vampiros
da literatura ocidental.
A conhecida narrativa A matrona de
Éfeso constitui uma anedota em que o
macabro funde-se ao humor, ao passo em
que urde uma crítica mordaz à hipocrisia.
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As histórias constantes deste livro são
episódios narrados por personagens no
Satíricon.
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O LOBISOMEM
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costuma dizer, é na adversidade que se
conhecem os amigos.
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pôs a urinar em torno das roupas e se
transformou num lobo.
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A minha amada ficou surpresa com a
minha chegada àquelas horas, dizendo:
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A partir de então, preferia ver-me morto
a comer um naco de pão em sua companhia.
Cada um pense o que lhe aprouver: se eu
estiver mentindo, que a ira dos nossos
Numes Tutelares (2) caia sobre mim.
Notas:
(1) Antiga moeda romana de cobre, de pouco valor.
(2) Espírito que, acreditavam os antigos,
acompanhavam as pessoas para inspirá-las ou
protegê-las. Assemelhavam-se aos nossos anjos da
guarda.
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AS VAMPIRAS
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vampiras, bem aqui (e que o céu proteja onde
toco!).
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Acreditem no que lhes digo:
há mulheres noturnas mais sábias do que
nós. Notívagas, transtornam tudo em sua
volta. E quanto ao nosso gigante, jamais
recobrou a cor natural, e delirando, louco,
morreu poucos dias depois.
Nota:
(1) Entidades vampíricas que, conforme crença
popular romana,furtavam as crianças adormecidas
para chupar-lhes o sangue. Ovídio, nos “Fastos”,
narra um episódio em que as estriges atacam o
garoto Proco (vide tradução de Castilho, tomo 3,
1862, p. 106 e 107).
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A MATRONA DE ÉFESO
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Todos choravam, dando quase como
morta essa mulher que dava exemplo sem
igual, consumindo-se há cinco dias sem
provar bocado. Uma serva muito fiel a
acompanhava e compartilhava seu pranto, e
renovava a chama da lamparina, que
iluminava o sepulcro, quando começava a se
apagar. Na cidade, não se falava outra coisa
senão esta abnegação, e homens de toda
condição social a davam como exemplo único
de castidade e amor conjugal.
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tumbas e viu os lamentos de alguém que
chorava. Levado pela natural curiosidade
humana, quis saber quem estava ali e o que
fazia. Desceu à tumba e, descobrindo uma
mulher de extraordinária beleza, ficou
paralisado de medo, crendo estar frente a um
fantasma ou a uma aparição. Mas quando
viu o cadáver estendido e as lágrimas da
mulher, de faces arranhadas por unhas, a
sua impressão foi desvanecendo. Deu-se
conta de que estava diante de uma viúva que
não achava consolo.
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–– A morte –– disse –– é o fim de tudo o
que vive: o sepulcro é a íntima morada de
todos.
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–– De que te servirá tudo isso? –– lhe
dizia. –– Que ganhas com deixar-te morrer de
fome ou enterrada, entregando tua alma
antes que o destino te peça? Os despojos dos
mortos não pedem semelhantes loucuras.
Volta à vida. Deixa de lado teu erro de
mulher e goza, enquanto possível for, da luz
do céu. O mesmo cadáver que está ali tem
que bastar para que vejas o belo da vida. Por
que não escutas os conselhos de um amigo
que te convida a comer algo e não te deixar
morrer?
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seu primeiro êxito, investiu contra a sua
virtude com argumentos semelhantes.
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O soldado, encantado pela beleza da
mulher e pelo mistério desse amor, comprava
o melhor que seu bolso permitia e, ao cair a
noite, levava ao túmulo. Porém, um dos
parentes dos ladrões, tendo notado a falta de
vigilância noturna, descravou o cadáver de
um dos seus e o sepultou. O soldado, ao
descobrir, no outro dia, uma cruz sem o
morto, temeroso do suplício que o aguardava,
contou o ocorrido para a viúva.
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– Que os deuses me livrem de chorar a
morte dos dois homens que mais amei! Antes
crucificar o morto que deixar morrer o vivo.
Nota:
(1) Monumento funerário subterrâneo.
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PLUTARCO
(c. 46 d.C – c. 120 d. C.)
41
Lúcio Méstrio Plutarco, filósofo e escritor
grego, tinha cidadania romana. Deixou obras
notáveis, a exemplo de Vidas Paralelas, de
cujos excertos foram tiradas as narrativas O
fantasma de Dámon e O espírito de Cleonice
(Címon, nº 1 e nº 11, respectivamente).
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O FANTASMA DE DÁMON
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jovens de sua idade, malgrado fossem estes
tão indóceis e violentos quanto ele.
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Certa noite, tisnaram os rostos com
fuligem e, tendo bebido abundantemente, ao
amanhecer atacaram o militar romano, que
no momento realizava um sacrifício religioso
na praça. Mataram-no e aos que com ele se
encontravam. Depois, fugiram da cidade.
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consigo suas tropas. E, detendo a marcha,
pôs-se a investigar tais fatos, que eram
recentes, e considerou que a cidade não
tivera culpa alguma no incidente, decidindo,
ao contrário, que ela havia sido, igualmente,
ultrajada. Então, recolhendo a tropa, levou-a
embora.
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relatam os nossos pais, lacraram-se as
portas da sauna, interditando-a. Mas ainda
hoje os espectros aparecem aos habitantes
das cercanias, que ali discernem visões e
vozes amedrontadores. Os seus descendentes
–– alguns ainda hoje existem na Fórcida, na
proximidade da cidade de Estíris –– são
alcunhadas de enfeitiçados, por ter-se
Dámon tisnado de fuligem quando este se
lançou contra o capitão da coorte romana.
Notas:
(1) Cidade grega, terra natal de Plutarco.
(2) Lúcio Licínio Lúculo (c. 118 a.C. — 56 a.C.),
general e político romano.
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O ESPÍRITO DE CLEONICE
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inimigo, lançou mão da espada, derrubando
donzela.
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que o general estivesse em Esparta. Dava o
espírito a entender, conforme se acredita,
que o fantasma estaria a anunciar-lhe,
veladamente, a morte que haveria de ter. É o
que escrevem diversos historiadores.
Notas:
(1) Pausânias (? — 470 a.C.), estadista e general
espartano, sobrinho do rei Leônidas, liderou forças
helênicas na Batalha de Plateias, derrotando os
persas. Posteriormente, foi condenado à morte em
Esparta.
(2) Címon (c. 510 a.C. — 449 a.C.), estadista e
general ateniense.
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Edições Arabesco
Salvador-BA
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