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DIREITOS DOS IDOSOS

Tutela Jurídica do Idoso no Brasil


organizador
Antônio Carlos Efing

DIREITOS DOS IDOSOS


Tutela Jurídica do Idoso no Brasil

Colaboradores
Antonio Bazilio Floriani Neto Karoline Strapasson
Antônio Carlos Efing Lucas Zucoli Yamamoto
Cinthia O. A. Freitas Mariane Natal
Daniel Laufer Melissa Folmann
Fernanda Mara Gibran Bauer Samantha Ribas Teixeira
Isabelle Milla Tambara Silvio Alexandre Fazolli
EDITORA LTDA.
© Todos os direitos reservados

Rua Jaguaribe, 571


CEP 01224-001
São Paulo, SP – Brasil
Fone (11) 2167-1101
www.ltr.com.br

Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: LINOTEC


Projeto de Capa: DANILO REBELLO
Impressão: COMETA GRÁFICA E EDITORA

Setembro, 2014

Versão impressa - LTr 5145.9 - ISBN 978-85-361-3099-6


Versão digital - LTr 8398.5 - ISBN 978-85-361-3124-5

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Direitos dos idosos : tutela jurídica do idoso no Brasil / organizador


Antônio Carlos Efing - São Paulo : LTr, 2014.

Vários colaboradores.

Bibliografia.

1. Idosos - Leis e legislação - Brasil 2. Idosos - Política governamental - Brasil


I. Efing, Antônio Carlos.

14-09185 CDU-342.723-053.9(81)

Índice para catálogo sistemático:


1. Brasil : Idosos : Proteção legal : Direito público
342.723-053.9(81)
Agradecemos a todos os colaboradores que contribuíram na elaboração
desta obra e, em especial, a Profa. Fernanda Mara Gibran Bauer, ao Mestrando
Guilherme Misugi e ao Acadêmico Filipe Tomasi Keppen Sequeira, que auxiliaram
na organização final dos textos. Também expressamos nossa gratidão à LTr Editora que
viabilizou a publicação desta obra de notória relevância social.

O Organizador
Sobre os Autores

Antonio Bazilio Floriani Neto – Mestrando da PUCPR, advogado especialista em direito previdenciário, membro da comissão
de direito previdenciário da OAB/PR.
Antônio Carlos Efing – Mestre e doutor pela PUCSP, professor titular da PUCPR, onde leciona na graduação, especializações,
metrado e doutorado, professor da escola da magistratura do estado do Paraná, membro do instituto dos advogados do Paraná,
advogado militante em Curitiba.
Cinthia O. A. Freitas – Doutora em informática pela pontifícia universidade católica do Paraná (PUCPR). Professora titular
da PUCPR para os cursos de ciência da computação e direito (módulo temático: perícias e laudos técnicos). Professora per-
manente dos programas de pós-graduação em direito (PPGD) e em informática (PPGIA) da mesma instituição.
Daniel Laufer – Professor de direito penal na PUCPR, mestre em direito pela PUCPR, doutorando em direito penal pela PUC-
-SP, advogado criminalista, membro da comissão de advogados criminalistas da OAB-PR (gestão 2010/2012 e atual), vice-
-presidente do instituto brasileiro de direito penal econômico e membro da associação internacional de direito penal (AIDP).
Fernanda Mara Gibran Bauer – Mestre em direito econômico e socioambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Pa-
raná, professora na faculdades da indústria, advogada.
Isabelle Milla Tambara – Graduada em direito pela Unicuritiba (2011). Advogada. Pós-graduada em master of laws, llm em
direito empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (2012). Mestranda em direito econômico e socioambiental pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná. Membro da comissão de direito econômico da ordem dos advogados do Brasil, subseção
do Paraná.
Karoline Strapasson – Mestranda em Direito Econômico e Socioambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná,
bolsista pela Fundação Araucária. Pesquisadora do Núcleo de Investigações Constitucionais (NINC) da Universidade Federal
do Paraná.
Lucas Zucoli Yamamoto – advogado, graduado em direito e especializado em direito previdenciário pela faculdade de direito
Curitiba, aluno do mestrado da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, orientado pelo prof. Antônio Carlos Efing.
Mariane Natal – Mestranda em Direito Econômico e Socioambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná; gradua-
da em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2011); Advogada.
Melissa Folmann – Advogada, diretora científica do IBDP – Instituto brasileiro de direito previdenciário, membro do conselho
deliberativo da OABPREV/PR, conselheira da OAB/PR, presidente da comissão de direito previdenciário da OAB/PR, membro
da comissão de direito tributário da OAB/PR, professora da graduação da PUCPR e da pós-graduação da PUCPR, professora
da ESMAFE (escola da magistratura federal do Paraná), membro do conselho científico de tributação da associação comercial
do Paraná, cocoordenadora da pós-graduação da PUCPR em direito previdenciário e processo previdenciário aplicado, mestre
em direito pela PUCPR, diretora editorial da Juruá editora, autora de diversas obras e artigos.
Samantha Ribas Teixeira – Mestranda em Direito Econômico e Socioambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Pa-
raná. Pesquisadora do Grupo de Estudos Meio Ambiente: sociedades tradicionais e sociedade hegemônica. Bolsista CAPES.
Silvio Alexandre Fazolli – Doutorando em direito econômico e socioambiental pela PUC/PR (linha de pesquisa sociedades
e direito); mestre em tutela dos direitos transindividuais pela Universidade Estadual de Maringá – UEM; professor efetivo
da mesma instituição e docente junto à Pontifícia Universidade Católica do Paraná/campus Maringá; advogado militante em
Maringá/Pr.
Apresentação

A realidade que envolve a velhice merece o devido enfrentamento, inclusive na área do Direito.
Parecem-nos insuficientes os estudos que analisam as regras do Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741/2003), isto porque a
tutela dos idosos (mesmo estando concentrada no EI) acha-se disseminada pelo ordenamento jurídico nacional.
Por outro lado a tutela dos idosos mostra-se multidisciplinar, envolvendo questões civis, de consumo, previdenciária,
penais etc.
Os colaboradores na realização deste estudo foram: Mariane Natal que tratou da evolução histórica dos direitos dos ido-
sos; Karoline Strapasson, que tratou da hipervulnerabilidade dos idosos na sociedade de consumo; Cinthia O. A. Freitas, que
tratou dos idosos e as tecnologias de informação e comunicação (imigrantes digitais); Melissa Folmann e Antonio Bazilio Flo-
riani Neto, que trataram dos direitos previdenciários e assistenciais dos idosos no Brasil (análise e perspectiva), Lucas Zucoli
Yamamoto tratou dos idosos e a previdência privada no Brasil, Isabelle Milla Tambara tratou da tutela dos idosos frente aos
planos privados de assistência de saúde; Antônio Carlos Efing e Fernanda Mara Gibran Bauer que enfrentaram o tema sobre
o Conselho Nacional de Direitos do Idoso; Silvio Alexandre Fazolli que tratou das políticas públicas e prioridade processual
dos cidadãos idosos; Daniel Laufer que tratou da análise jurídico-penal da tutela aos idosos e Samantha Ribas Teixeira que
tratou do papel da educação continuada para a sustentabilidade e qualidade de vida dos idosos.
O desafio deste estudo constitui-se na organização de pesquisa que desenvolva diversos aspectos da tutela jurídica do ido-
so no Brasil, e na constituição de um Direito dos Idosos. Não se pretende inaugurar novo e determinado ramo do direito, mas
demonstrar que a proteção dos idosos merece a devida atenção do ordenamento jurídico, da sociedade e dos agentes públicos.
Já é chegado o momento dos brasileiros revisarem criticamente esta realidade, pois de pouco valerá conhecer a tutela
jurídica dos idosos, sem que tal tutela seja efetiva e permita uma existência digna na velhice.
Melhor seria que a legislação não tivesse que se preocupar com a proteção dos idosos e que o respeito aos idosos fosse na-
turalmente exercido pela sociedade. Ocorre que numa sociedade cada vez mais competitiva, tecnológica, voltada ao consumo,
despersonalizada e desumanizada, a tutela dos idosos é medida imperativa para o resguardo da dignidade humana. Assim, ao
menos pela imposição das regras jurídicas espera-se uma mínima proteção dos idosos no Brasil.
Sumário

Prefácio................................................................................................................................................................. 15

Introdução.......................................................................................................................................................... 17

Capítulo 1 – Evolução Histórica dos Direitos dos Idosos............................................................ 19


Mariane Natal
1. Breve histórico dos direitos dos idosos no âmbito internacional............................................................... 19
2. Os direitos dos idosos no Brasil.................................................................................................................. 20
3. O estatuto do idoso..................................................................................................................................... 23
4. O conceito de Idoso para efeitos legais....................................................................................................... 24
Capítulo 2 – A Hipervulnerabilidade dos Idosos na Sociedade de Consumo........................ 27
Karoline Strapasson
1. Características da sociedade de consumo................................................................................................... 27
2. O princípio da vulnerabilidade e a hipervulnerabilidade........................................................................... 28
2.1. A vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo.......................................................... 28
2.2. A hipervulnerabilidade do consumidor idoso................................................................................. 29
3. A proteção contratual do código de defesa do consumidor e do estatuto do idoso................................... 30
3.1. Princípios norteadores das relações de consumo em todas as fases do contrato............................ 30
3.2. A proteção aos direitos da personalidade do consumidor idoso..................................................... 31
3.3. Proteção pré-contratual................................................................................................................... 32
3.4. Proteção contratual......................................................................................................................... 33
3.5. Proteção pós-contratual.............................................................................................................................. 33
Capítulo 3 – Os Idosos e as Tecnologias de Informação e Comunicação: Imigrantes
Digitais........................................................................................................................................ 35
Cinthia O. A. Freitas
1. Considerações iniciais a respeito dos idosos em relação à tecnologia........................................................ 35
2. Nascidos ou imigrados?.............................................................................................................................. 36
3. A terceira idade e a Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC)....................................................... 38
3.1. Alguns dados estatísticos sobre a terceira idade.............................................................................. 38
3.2. As TICs e a qualidade de vida......................................................................................................... 39
4. Vantagens e desafios................................................................................................................................... 39
Capítulo 4 – Os Direitos Previdenciários e Assistenciais dos Idosos no Brasil: Análise
e Perspectivas.......................................................................................................................... 43
Antonio Bazilio Floriani Neto
Melissa Folmann
1. Considerações iniciais sobre os direitos previdenciários e a tutela do idoso............................................. 43
2. Seguridade social brasileira........................................................................................................................ 44
3. Idosos no Brasil – proteção social............................................................................................................... 46
4. Benefícios previdenciários e assistenciais aos idosos.................................................................................. 47
4.1. Benefícios previdenciários............................................................................................................... 47
4.2. Benefícios assistenciais.................................................................................................................... 49
5. Perspectivas do idoso no sistema de seguridade social brasileiro.............................................................. 54
Capítulo 5 – Os Idosos e a Previdência Privada no Brasil.............................................................. 55
Lucas Zucoli Yamamoto
1. Desafios da velhice e da previdência privada............................................................................................. 55
2. Legislação do idoso e da previdência privada............................................................................................. 57
3. Características básicas da previdência privada brasileira........................................................................... 59
3.1. Espécies de instituições................................................................................................................... 59
3.2. Contrato de previdência privada..................................................................................................... 59
3.3. Planos de benefício previstos na Lei Complementar n. 109/2001.................................................. 59
3.4. Planos de benefício criados pelo mercado...................................................................................... 60
3.4.1. Fundo gerador de benefício livre (FGB).......................................................................... 60
3.4.2. Plano gerador de benefício livre (PGBL).......................................................................... 61
3.4.3. Vida gerador de benefício livre (VGBL)............................................................................ 62
4. Proteção legal do participante.................................................................................................................... 62
4.1. Aplicação do código de defesa do consumidor............................................................................... 62
4.1.1. Aplicação do CDC às entidades abertas........................................................................... 63
4.1.2. Aplicação do CDC às entidades fechadas......................................................................... 64
4.2. Direitos previstos no CDC.............................................................................................................. 66
4.2.1. Vinculação à oferta........................................................................................................... 67
4.2.2. Da proteção contratual..................................................................................................... 67
4.2.3. Cláusulas abusivas............................................................................................................ 67
4.2.4. Possibilidade de restituição de contribuições pagas......................................................... 67
4.3. Direitos previstos na Lei n. 109/2001............................................................................................. 68
4.3.1. Autopatrocínio.................................................................................................................. 68
4.3.2. Benefício proporcional diferido........................................................................................ 69
4.3.3. Portabilidade..................................................................................................................... 69
4.3.4. Resgate.............................................................................................................................. 69
5. A tutela do idoso e a previdência privada................................................................................................... 69
Capítulo 6 – Saúde Privada: a Tutela do Idoso Frente aos Planos Privados de Assis-
tência à Saúde......................................................................................................................... 71
Isabelle Milla Tambara
1. Premissas a respeito da tutela do idoso em relação aos planos privados.................................................... 71
2. Considerações sobre a saúde do idoso....................................................................................................... 72
3. Ponderando a vulnerabilidade do consumidor idoso................................................................................. 73
4. A saúde privada no brasil........................................................................................................................... 74
5. Proteções legislativas.................................................................................................................................. 74
6. A tutela do idoso no campo da saúde privada............................................................................................ 78
Capítulo 7 – Análise Jurídica Sobre o Conselho Nacional de Direitos do Idoso (CNDI).... 79
Antônio Carlos Efing
Fernanda Mara Gibran Bauer
1. Considerações iniciais................................................................................................................................ 79
2. Políticas públicas e seu importante papel para a efetividade do disposto na Constituição da República
Federativa do Brasil.................................................................................................................................... 79

12    Direitos dos Idosos - Tutela Jurídica do Idoso no Brasil


3. Análise jurídica do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI)...................................................... 82
4. A efetivação das políticas públicas e o impacto para o desenvolvimento do Brasil.................................... 83
Capítulo 8 – Políticas Públicas e Prioridade Processual dos Cidadãos Idosos................. 87
Silvio Alexandre Fazolli
1. Considerações iniciais sobre políticas públicas.......................................................................................... 87
2. Políticas públicas........................................................................................................................................ 88
2.1. Concepção e abrangência do tema.................................................................................................. 88
2.2. Agentes realizadores........................................................................................................................ 88
2.3. Políticas públicas para promoção da “melhor idade”..................................................................... 89
3. Hipervulnerabilidade do idoso................................................................................................................... 91
4. Do acesso à justiça...................................................................................................................................... 92
4.1. Prioridade processual dos cidadãos consumidores idosos.............................................................. 93
4.2. Mecanismos informais de acesso à justiça e prioridade procedimental dos idosos........................ 96
5. Garantindo o efetivo acesso à justiça pelos idosos..................................................................................... 96
Capítulo 9 – Análise Jurídico-Penal da Tutela dos Idosos............................................................ 97
Daniel Laufer
1. Considerações iniciais................................................................................................................................ 97
2. A legislação penal brasileira e sua relação com a figura da pessoa idosa como vítima de crimes.............. 99
3. A legislação penal brasileira e sua relação com a figura da pessoa idosa como autora de crimes.............. 113
4. Aspectos processuais penais relevantes em relação aos idosos................................................................... 116
Capítulo 10 – O Papel da Educação Continuada para a Sustentabilidade e Qualidade
de Vida dos Idosos................................................................................................................. 119
Samantha Ribas Teixeira
1. Considerações iniciais................................................................................................................................ 119
2. A terceira idade, sua inserção na realidade social pós-moderna: da sociedade de consumo à crise socio-
ambiental.................................................................................................................................................... 120
2.1. Análise das características sociais e o idoso.................................................................................... 120
2.2. Sociedade de hiperconsumo e a crise socioambiental..................................................................... 121
2.3. A população idosa como geração “importada” e sua inserção na atual cultura do hiperconsumo
e crise socioambiental..................................................................................................................... 123
3. A educação continuada dos idosos para o exercício do consumo consciente a fim de atingir a sustenta-
bilidade....................................................................................................................................................... 125
3.1. A sustentabilidade como finalidade da atuação socioambientalmente responsável dos idosos...... 125
3.2. A educação dos idosos para o exercício do consumo e do pós-consumo socioambientalmente
responsável...................................................................................................................................... 126
3.3. O imperativo da educação: inserção do cidadão idoso................................................................... 127
Conclusões Finais............................................................................................................................................. 129

Referências.......................................................................................................................................................... 133

  13
Sumário 
Prefácio

Torna-se idoso ao completar 60 anos? Envelhecer é uma tragédia ou um privilégio? A velhice rouba cidadania?
O Brasil, historicamente país jovem, se vê constituído, em algumas regiões, por mais de 10% de pessoas com mais de
60 anos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera velho, todo país que tem mais de 8% da população com 60
anos ou mais.
Na cultura pós moderna, do consumismo e do descartável, a velhice vem sendo avaliada como improdutiva, logo des-
prezível. O avanço na idade cronológica, independente da capacidade funcional, tem direcionado os indivíduos à exclusão
profissional, social e também familiar. Sugar da vida tudo que ela pode dar implica em experimentar todas as suas fases. A ve-
lhice é última delas e para que possa ser usufruída em toda sua plenitude, se faz necessário a mudança de alguns paradigmas.
Profissionais competentes, após dezenas de anos de capacitação, titulação e experiência, estão sendo afastados de suas
funções, de forma compulsória. A sabedoria e o conhecimento acumulado é descartado de forma cruel. Sábios intelectuais
são presenteados, anos após anos, com chinelos e pijamas, estimulando-os permanecerem isolados.
Em 1995 o Brasil era o décimo sexto país do mundo, em número de idosos e em 2025 será o sexto. Esta drástica transi-
ção demográfica brasileira vem ocorrendo em alta velocidade, quando comparada àquela ocorrida nos países europeus. Em
contrapartida, não se assiste a mesma velocidade na mudança da escala de valores, no que se refere ao status dos cidadãos
idosos, perante a sociedade geral.
Apesar das grandes discrepâncias entre as regiões que compõem o Brasil, segundo os critérios da OMS, o Brasil não é
mais um país jovem.
Mais brasileiros estão vivendo mais, ano a ano e isto é um grande bônus. Porém, nem sempre estão vivendo bem. O acúmu-
lo de doenças crônico-degenerativas está determinando velhices frágeis, com alto grau de dependência e comprometimento da
autonomia. Esta realidade vem roubando a capacidade para o exercício da cidadania.
Como fruto das características do processo de envelhecimento, os cidadãos de idade avançada apresentam-se com incrível
diversidade. Alguns estão viajando, frequentando academias de ginástica, consumindo nos shoppings e ambientes culturais,
enquanto outros estão passivos na cama, utilizando fralda e recebendo alimentação por vias alternativas, sem a mínima in-
teratividade. Estas realidades distintas, entre pessoas da mesma faixa etária, ilustram a importância de se diferenciar a idade
cronológica – anos de vida, da idade biológica – e também diferenciar a senescência, eugeria ou envelhecimento primário, da
senilidade, patogeria ou envelhecimento secundário.
O processo de envelhecimento humano tem início impreciso, é progressivo, irreversível, altera a capacidade funcional do
organismo e é inerente à vida. Porém, ocorre em velocidade e intensidade assimétrica entre as partes que compõem o corpo e
entre indivíduos da mesma idade. Acontece de forma variada, na dependência de vários fatores, determinando vários modelos
de velhices.
A complexidade do processo do envelhecimento faz da Geriatria e Gerontologia ciências multidisciplinares e multipro-
fissionais, por excelência. Os idosos necessitam ser assistidos por equipe de profissionais de várias áreas do conhecimento,
com abordagem transdisciplinar, diante da vulnerabilidade que acompanha, em graus variados, as pessoas que envelhecem.
Reconhecer as necessidades específicas e de que forma se pode apoiar estes indivíduos, faz parte da assistência integral, im-
prescindível para este grupo etário.
É na idade avançada que se percebe com maior facilidade, que o ser humano alberga inúmeras dimensões, simultanea-
mente. É preciso valorizar cada uma destas dimensões, para que se possa vislumbrar a plenitude da vida humana. Desta forma,
as dimensões: biológica, psíquica, social, espiritual, cultural, econômica, jurídica, política, previdenciária, moral, ética, etc.
devem ser valorizadas, sem que as pessoas sejam segmentadas, isto é de forma transdisciplinar, valorizando a pessoa em toda
sua integralidade.
Os textos deste livro abordam questões fundamentais para que o brasileiro possa exercer a cidadania, independente de
quão avançada seja sua idade cronológica. De forma clara, densa e responsável, os autores expõem as particularidades jurídi-
cas relacionadas às pessoas envelhecidas.
São inúmeras as situações em que o profissional do direito pode interferir positivamente na atenção aos idosos. A in-
segurança, a sensação de fragilidade, entre tantas outras peculiaridades, a princípio não biológicas, impactam na saúde e
consequentemente comprometem a qualidade da velhice. O acesso a estas informações sistematizadas, instrumentaliza os
interessados para que possam opinar, orientar e até encaminhar soluções, facilitando, direta ou indiretamente, a manutenção
ou reconquista da funcionalidade do idoso enquanto cidadão.
Questões relativas ao gerenciamento do patrimônio, matrimônio, herança, interdição, curatela, etc. estão cada vez mais
presentes, nas sociedades que envelhecem. A prevalência destas situações exige clareza nos direitos e deveres de cada cidadão,
da sociedade e do estado.
Os brasileiros agora têm este compêndio, que dá apoio fundamental às questões jurídicas relativas aos idosos. Este livro
disponibiliza importantes informações que fazem com que o bônus do aumento da longevidade tenha menos ônus.
Advogar a favor dos idosos e principalmente dos muito idosos, indivíduos com 80 anos e mais, é viabilizar uma sociedade
mais coerente e justa. É permitir que a velhice tenha o respeito e o suporte que merece.

José Mário Tupiná Machado


Médico pela PUC/PR; especialista em Geriatria e Gerontologia pela Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia; doutorado em Gerontologia Biomédica pela PUC/RS; professor Adjunto
e chefe da Disciplina de Geriatria da PUC/PR; chefe do Serviço de Geriatria e Coordenador do
Programa de Residência Médica em Geriatria da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba.
e-mail: tupina.machado@pucpr.br
tupina@tupinasaude.com.br

16    Direitos dos Idosos - Tutela Jurídica do Idoso no Brasil


Introdução

Os dados estatísticos mais atualizados apontam para a realidade de que a população brasileira está envelhecendo. Possi-
velmente este envelhecimento seja resultado direto dos avanços tecnológicos percebidos pela medicina e ciências afins, bem
como pela melhoria da qualidade de vida dos brasileiros em geral.
Mesmo com todo o esforço das políticas públicas de combate das desigualdades sociais, percebe-se que a sociedade bra-
sileira ainda enfrenta muitas dificuldades (inclusive culturais) nos temas que dizem respeito à terceira idade, ou à velhice e
até mesmo o tratamento terminológico revela esta dificuldade.
Pode-se efetivamente dizer que a velhice é a “melhor idade”? Justamente no momento da vida em que as pessoas possuem
mais necessidades, com a perda da plena capacidade de trabalho, decréscimo de renda (especialmente daquelas que precisam
sobreviver somente com a renda concedida pela previdência pública), saúde debilitada e perda natural das capacidades e per-
cepções (visão, audição, locomoção etc.) os idosos no Brasil passam a contar com algum tratamento jurídico diferenciado? A
sociedade e o Estado dispensam tratamento compatível com esta realidade?
Para responder a estas e outras questões inquietantes, lançou-se o desafio de realizar o presente estudo que pretende,
sob o olhar da tutela jurídica dos idosos no Brasil, não restrita somente ao Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741/2003), desvelar a
realidade nacional e proporcionar aos estudiosos e interessados nos temas desta área, um referencial dos Direitos dos Idosos e
um instrumento de autodefesa destas pessoas que merecem não somente o respeito da sociedade e as preocupações dos entes
públicos, mas devem ser alvo de proteção legal e políticas públicas que protejam e assegurem o bem estar das pessoas idosas
em reconhecimento à sua dignidade humana (valor constitucional maior).
Para tanto, inicialmente o estudo analisa a evolução histórica dos direitos dos idosos (no âmbito internacional e nacio-
nal), o conceito legal e os vigentes direitos dos idosos. Em seguida, trata-se da proteção do idoso na sociedade de consumo
(sua vulnerabilidade e hipervulnerabilidade) inclusive no campo obrigacional, verificada em todas as fases da formação do
vínculo contratual.
Também é dedicada atenção especial ao idoso frente à realidade tecnológica (informação e comunicação), avaliando-se as
vantagens e desvantagens desta integração.
Os direitos previdenciários e assistenciais públicos, a previdência privada, a saúde privada e as políticas públicas voltadas
aos idosos, bem como a sua prioridade processual, também foram estudados.
Da mesma forma, recebeu atenção especial a análise jurídico-penal do idoso (considerando tanto o idoso vítima como au-
tor de delitos) e a educação continuada como importante instrumento para a sustentabilidade e qualidade de vida dos idosos.
Desta forma, sem a pretensão de esgotar o tema, o presente trabalho que contou com a prestigiosa colaboração de diversos
profissionais envolvidos com os temas abordados, lança luzes para uma crítica análise da realidade jurídica nacional, revelan-
do que sempre são necessárias e oportunas novas pesquisas na área do Direito que cumpram o desafio de construção de uma
sociedade livre, justa e solidária, voltada às pessoas e que reconheça o imperativo de tutelar a dignidade humana.
Capítulo 1

Evolução Histórica dos


Direitos dos Idosos
Mariane Natal

1. Breve histórico dos direitos dos Artigo XXV


idosos no âmbito internacional 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz
de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive
Ao tratar dos direitos das pessoas idosas é importante alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os ser-
ressaltar a ocorrência de alguns acontecimentos históricos viços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de
internacionais que contribuíram para a evolução desta tutela desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos
jurídica. de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão pro- seu controle.(2)
clamada em 26 de agosto de 1789 foi documento de extrema
relevância na consagração dos direitos fundamentais, em es- Em 1982, em Viena, aconteceu a Primeira Assembleia
pecial dos direitos à dignidade da pessoa humana e da igual- Mundial sobre o Envelhecimento, resultando no primeiro
dade, os quais são inerentes a todo e qualquer ser humano, documento internacional específico sobre o assunto, o deno-
inclusive aos idosos. minado Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimen-
Destaca-se o disposto no artigo 1º que, ao versar acerca to, transformado na Resolução 37/51 de 03 de dezembro de
da igualdade, declara que: “os homens nascem e permanecem 1982. Tal documento, serviu de base para o estabelecimento
livres e iguais em direitos e as distinções sociais só podem se dos seguintes princípios das Nações Unidas em favor das pes-
basear na utilidade comum”.(1) soas idosas: a independência, a participação, os cuidados, a
A referida Declaração serviu de base para a promulgação autorrealização e a dignidade, vinculando os governos à sua
da Declaração Universal dos Direitos Humanos promulgada adoção.(3)
pela Organização das Nações Unidas em 1948, a qual já pre- Posteriormente, no ano de 1992, foi aprovada pela As-
via o amparo à velhice, ao determinar em seu artigo 25 que: sembleia Geral da Organização das Nações Unidas a Procla-

(1) ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Disponível em: <http://www.direi-
toshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-à-criação-da-Sociedade-das-Nações-até-1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-
-do-cidadao-1>. Acesso em: 25 mai. 2013.
(2) ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Disponível em:<http://unicrio.org.br/
img/DeclU_D_HumanosVersoInternet.pdf>. p. 11. Acesso em: 25 mai. 2013.
(3) RULLI NETO, Antonio. Proteção legal do idoso no Brasil: universalização da cidadania. São Paulo: Fiuza Editores, 2003. p. 99-100.

Capítulo 1 - Evolução Histórica dos Direitos dos Idosos    19


mação sobre o Envelhecimento(4), a qual diante do aumento te contribuição igual da União, do empregador e do emprega-
da população idosa mundial reconheceu a necessidade de do, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos
medidas para à promoção dos direitos dos idosos. de acidentes do trabalho ou de morte.(6)
Já em 2002, em Madrid ocorreu a Segunda Assembleia Na Constituição de 1937, outorgada por Getúlio Vargas,
Mundial das Nações Unidas sobre o Envelhecimento, da qual marcada por traços autoritários e um Estado arbitrário, pre-
originou a Declaração Política e o Plano de Ação Internacio- valeceu à deficiência na tutela jurídica do idoso, uma vez que
nal sobre o Envelhecimento de Madrid que tratam da promo- apenas estipulou-se a instituição de “seguros de velhice” em
ção dos direitos das pessoas idosas e seu bem-estar, determi- seu art. 137, alínea “m”.
naram o comprometimento dos Estados na implementação Em 1946 foi promulgada a quinta Constituição brasi-
de políticas públicas destinadas à sua consecução.(5) leira, a qual continha algumas características humanitárias,
Assim, nota-se que a preocupação com a proteção efetiva porém, no tocante ao idoso limitou-se a abordar somente
do idoso não é algo recente, persistindo ainda na atualidade. a questão da previdência social no art. 157, inciso XVI, tal
como previsto na Carta Magna de 1934, não trazendo nenhu-
2. Os direitos dos idosos no brasil ma inovação neste contexto, conforme se observa:
XVI – previdência, mediante contribuição da União, do em-
A consolidação de uma tutela jurídica do idoso no Brasil pregador e do empregado, em favor da maternidade e contra as
ocorreu a passos lentos. Inicialmente a Constituição Imperial consequências da doença, da velhice, da invalidez e da morte.(7)
outorgada em 1824, caracterizada por um regime monárqui-
co e pensamento liberal, não estabeleceu previsão quanto A Constituição de 1967 emergiu de um período de várias
aos direitos das pessoas idosas, deixando estas à mercê do crises e, assim como a anterior, restringiu-se em seu art. 158,
esquecimento. inciso XVI, unicamente ao aspecto previdenciário da pessoa
idosa, permanecendo, portanto, inalterável quanto ao trata-
A Constituição brasileira de 1891, que implantou a for-
mento de outros aspectos do tema.
ma de governo republicano, embora tenha inserido um con-
junto de direitos não previstos na Constituição anterior, re- Sendo assim, nota-se até este momento histórico, a exis-
conheceu em seu art. 72 § 2º a igualdade de todos perante a tência apenas de previsões relativas aos direitos trabalhistas
lei. Contudo, foi também omissa no que se refere aos direitos e previdenciários.
dos idosos, prevendo tão somente a aposentaria por invalidez Verifica-se diante desse contexto histórico a omissão
do funcionário público em seu art. 75 e a aposentadoria por constitucional no que se refere aos direitos e garantias fun-
tempo de serviço para os magistrados no art. 6º das Disposi- damentais das pessoas idosas, sujeitando-as a verdadeira ex-
ções Transitórias. clusão, repercutindo também na ausência de tratamento no
A terceira Constituição promulgada em 1934 dotada de plano infraconstitucional.
caráter democrático e social, com o intuito de estabelecer a Somente em 11 de dezembro de 1974 foi aprovada a Lei
igualdade e vedar discriminações impôs em seu art. 121, § 1º, n. 6.179, a qual impôs o amparo previdenciário para os maio-
alínea “a”, a proibição de diferença salarial por motivo de ida- res de setenta anos de idade e para os inválidos com incapa-
de. O referido texto constitucional foi o primeiro a tratar do cidade definitiva para o labor, prevendo que:
idoso ao fixar em seu art. 121, § 1º, alínea “h”, a previdência
Art. 1º Os maiores de 70 (setenta) anos de idade e os inválidos,
social do trabalhador em benefício da velhice, dispondo da
definitivamente incapacitados para o trabalho, que, num ou
seguinte forma: noutro caso, não exerçam atividade remunerada, não aufiram
§ 1º A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, rendimento, sob qualquer forma, superior ao valor da renda
mensal fixada no artigo 2º, não sejam mantidos por pessoa de
além de outros que colimem melhorar as condições do traba-
quem dependam obrigatoriamente e não tenham outro meio
lhador:
de prover ao próprio sustento, passam a ser amparados pela
[...] Previdência Social, urbana ou rural (...).(8)
h) assistência médica e sanitária ao trabalhador à gestante, as-
segurado a esta descanso, antes e depois do parto, sem prejuízo Entretanto, foi somente com o advento da Constituição
do salário e do emprego, e instituição de previdência, median- Federal de 1988, chamada pelo então Presidente da Assem-

(4) ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Proclamação sobre o Envelhecimento, 1992. Disponível em: <http://www.onu.org.br/a-onu-em-
acao/a-onu-em-acao/a-onu-e-as-pessoas-idosas/>. Acesso em: 25 mai. 2013.
(5) ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Nações Unidas: principais resultados da Conferência sobre o envelhecimento. Disponível em:
<http://www.un.org/en/development/devagenda/ageing.shtml>. Acesso em: 26 mai. 2013.
(6) BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitui-
cao/constitui%C3%A7ao34.htm>. Acesso em: 20 mai. 2013 – grifamos.
(7) Idem.
(8) BRASIL. Lei n.. 6.179, de 11 de dezembro de 1974. Disponível em: <http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1974/6179.htm>.
Acesso em: 20 mai. 2013.

20    Direitos dos Idosos - Tutela Jurídica do Idoso no Brasil


bleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, de “Consti- tanto, aponta no sentido de assegurar a cidadania, que
tuição Cidadã”, que ocorreu a efetivação jurídica dos direitos é uma decorrência da garantia da dignidade da pessoa
dos idosos. Ressalta-se que o atual texto constitucional cons- humana, durante toda a sua vida.”(11)
titui um marco jurídico no que diz respeito à proteção dos
direitos e garantias fundamentais. Prossegue o autor afirmando que: “(...)somente serão
assegurados os direitos fundamentais aos idosos na medida
Neste sentido, Flávia Piovesan afirma:
em que aos seres que envelhecem seja garantido, durante a
O texto de 1988 inova, ao alargar a dimensão dos di- existência, o direito à dignidade.”(12)
reitos e garantias, incluindo no catálogo de direitos fun- Ademais, a Constituição Federal de 1988 considera
damentais não apenas os direitos civis e políticos, mas como um dos pilares do Estado Democrático de Direito à
também os direitos sociais (ver capítulo II do título II da igualdade, vedando discriminações em razão da idade ou/e
Carta de 1988). Trata-se da primeira Constituição brasi- outros fatores.
leira a integrar, na declaração de direitos, os direitos so- Desta feita, o art. 3º estabelece os objetivos fundamentais
ciais, tendo em vista que nas Constituições anteriores as da República:
normas relativas a estes direitos encontram-se dispersas
Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Fe-
no âmbito da ordem econômica e social, não constando
derativa do Brasil:
do título dedicado aos direitos e garantias.(9)
I- construir uma sociedade livre, justa e solidária;
A Constituição vigente consagra o Estado Democrático II-(...)
de Direito também denominado de Estado de Bem-Estar So- III- erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desi-
cial, adotando como fundamentos a cidadania e a dignidade gualdades sociais e regionais;
da pessoa humana, conforme preceitua o art. 1º: IV- promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discrimina-
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, ção (grifos nossos).(13)
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
Não obstante, o art. 5º determina que “todos são iguais
fundamentos:
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”(14), garan-
I – a soberania;
tindo, portanto, a qualquer pessoa, à igualdade de direitos.
II – a cidadania;
Assim, com o intuito de efetivar uma igualdade plena
III – a dignidade da pessoa humana; tornou-se necessário no ordenamento jurídico o estabeleci-
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; mento de tratamento diferenciado a grupos que se encon-
V – o pluralismo político (grifos nossos).(10) tram em posição desigual em relação aos demais.
Nestes termos, é importante destacar os ensinamentos de
Dessa forma, subtrai-se do mencionado dispositivo o
Renata Malta Vilas-Bôas:
comprometimento do Estado em conceder a todos os indiví-
duos, abrangendo os idosos, condições para uma vida digna. Para se atingir a tão almejada igualdade, nada mais
Destaca-se neste aspecto o posicionamento de Paulo Roberto preciso do que tratar igualmente aqueles que são iguais
Barbosa Ramos: e, de forma desigual, aqueles que são desiguais; de ma-
neira que, naqueles aspectos em que estão desigualados,
A afirmação de que a República Federativa do Bra-
possam adquirir a igualdade respeitando-se as suas par-
sil fundamenta-se na cidadania e na dignidade da pessoa
ticularidades.(15)
humana orienta toda a atuação do Estado e da sociedade
civil em direção à efetivação desses fundamentos, dimi- Sob este viés, o texto constitucional editou dispositivos
nuindo, com isso, o espaço de abrangência da concepção específicos para tutela da criança, do adolescente e do idoso
de que as pessoas, na medida em que envelhecem, per- em razão de sua vulnerabilidade. Maria Celina Bodin de Mo-
dem seus direitos. Esse dispositivo constitucional, por- raes destaca:

(9) PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o direito constitucional internacional. São Paulo: Max Limonad, 1996. p. 61-62.
(10) BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 20 mai. 2013.
(11) RAMOS, Paulo Roberto Barbosa. Direito à velhice: A proteção Constitucional da Pessoa Idosa. In: WOLKMER, Antonio Carlos; e
LEITE, José Rubens Morato (organizadores). Os “novos” direitos no Brasil: natureza e perspectivas: uma visão básica das novas conflituosidades
jurídicas. São Paulo: Saraiva 2003. p. 131-150.
(12) Ibidem, p. 149.
(13) BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 20 mai. 2013.
(14) Idem.
(15) VILAS-BÔAS, Renata Malta. Ações Afirmativas e o princípio da igualdade. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2003. p. 22.

Capítulo 1 - Evolução Histórica dos Direitos dos Idosos     21


Neste ambiente, de um renovado humanismo, a sua condição de vida, bem como garantir a sua dignidade
vulnerabilidade humana será tutelada, prioritariamen- na velhice.
te, onde quer que ela se manifeste. De modo que terão Por fim, a Constituição Federal de 1988 concede um
precedência os direitos e as prerrogativas de determina- amparo específico às pessoas idosas nos artigos 229 e 230,
dos grupos considerados, de uma maneira ou de outra, atribuindo ao Estado, à família e também à sociedade deveres
frágeis e que estão a exigir, por conseguinte, a especial de assistência e proteção ao preceituar que:
proteção da lei. Nestes casos estão as crianças, os adoles-
centes, os idosos (...).(16) Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos
menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar
Portanto, visualiza-se a essencialidade de um amparo os pais na velhice, carência ou enfermidade.
especial às pessoas idosas de maneira a eliminar os precon- Art.230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de
ceitos e discriminações existentes na sociedade e conceder- amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na
-lhes um tratamento digno, possibilitando o acesso aos bens comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garan-
básicos da vida. tindo-lhes o direito à vida.
Dessa forma, observa-se que o Texto Constitucional no § 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados pre-
capítulo II referente aos direitos sociais, visando a assegurar o ferencialmente em seus lares.
direito ao trabalho e a igualdade de salário aos idosos, impõe, § 2º aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratui-
no art. 7º, inciso XXX, a proibição de discriminação na admis- dade dos transportes coletivos urbanos.(19)
são do emprego e de diferença salarial em razão da faixa etária. Assim sendo, verifica-se que o texto constitucional vi-
No tocante aos direitos políticos, considerando as espe- gente reconhece aos idosos sua fragilidade e a necessidade
cificidades das pessoas idosas, o art. 14, § 1º, inciso II, alínea de uma efetiva concretização dos seus direitos fundamentais,
“b” torna facultativo o voto para os maiores de 70 anos. principalmente do direito à igualdade e à dignidade.
Em relação ao direito à previdência social o art. 201, inci- Alexandre de Moraes ao se referir à dignidade da pessoa
so I, do texto constitucional prevê, mediante contribuição, a humana salienta:
cobertura às pessoas de idade avançada, assegurando no § 7º,
inciso II a aposentadoria por idade. A dignidade é um valor espiritual e moral inerente
Além disso, a Carta Magna de 1988 em seu art. 203 ga- à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeter-
rante a prestação de assistência social a todos os indivíduos minação consciente e responsável da própria vida e que
necessitados, adotando como um dos seus propósitos a pro- traz consigo a pretensão ao respeito por parte das de-
teção à velhice. mais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável
que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que,
Observa-se que a assistência social independe de contri- somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações
buição, pois segundo Roberto Mendes de Freitas Junior tra- ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem
ta-se de instituto destinado a acolher os cidadãos que estejam em menosprezar a necessária estima que merecem todas as
estado de miserabilidade, concedendo-lhes o mínimo necessário pessoas enquanto seres humanos.(20)
à sua sobrevivência.(17) Em seguida, o inciso V do referido ar-
tigo 203, da CF-88 assegura ao idoso necessitado o direito Contudo, diante do cenário de exclusão social vivencia-
ao recebimento de um salário mínimo nos seguintes termos: do pelos idosos, embora a Constituição de 1988 tenha reco-
nhecido os seus direitos fundamentais, ela é por si só insufi-
Art. 203 – A assistência social será prestada a quem dela
necessitar,independentemente de contribuição à seguridade
ciente para sua plena efetivação.
social, e tem por objetivo: Neste sentido, Antonio Rulli Neto afirma:
(...)
A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu texto,
V – a garantia de um salário mínimo de beneficio mensal à
expressamente, direitos e garantias fundamentais, mas,
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não
possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la pro-
apesar disso, há a necessidade de vontade política para
vida por sua família, conforme dispuser a lei.(18) o implemento da norma – direcionamento das políticas
públicas para a proteção do ser humano, sempre que não
Desse modo, busca-se a atender as necessidades vitais for autoaplicável o dispositivo constitucional ou no caso
básicas do idoso a fim de lhe propiciar uma melhora na de depender de implementação de políticas públicas.(21)

(16) MORAES, Maria Celina de Bodin. O conceito de dignidade humana: substrato axiológico e conteúdo normativo. In: Constituição, Di-
reitos Fundamentais e Direito Privado. Ingo Wolfgang Sarlet (org.). Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p. 116.
(17) FREITAS JUNIOR, Roberto Mendes de. Direitos e garantias do idoso: doutrina, jurisprudência e legislação. São Paulo: Atlas, 2011. p. 108.
(18) BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 20 mai. 2013.
(19) Idem.
(20) MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2001, p. 48. Grifamos
(21) RULLI NETO, Antonio. Op. cit., p. 58.

22    Direitos dos Idosos - Tutela Jurídica do Idoso no Brasil

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