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QUESTÕES INDICATIVAS PARA ACOMPANHAMENTO DA SIMULAÇÃO

a) Como qualificaria o ato através do qual o Instituto de Gestão Financeira e Carência de


Equipamentos do Ministério da Justiça vendeu à empresa pública de imobiliário “Estamos à
Venda” o EPL? Tenha presente, para enquadramento desta questão, inter alia, os artigos 77.º a
81.º, 85.º-A e 94.º do Decreto-Lei n.º 280/2007, de 7 de agosto (Regime Jurídico do Património
Imobiliário Público). BARBARA DE BRITO
O procedimento administrativo que gerou o negócio de compra e venda do
Estabelecimento Penitenciário de Lisboa, abreviadamente designado por EPL, encontra-se
condicionado por diversas irregularidades, e estas são única e exclusivamente imputáveis ao
Ministério da Finanças (MF), o que por sua vez torna o contrato inválido em detrimento de uma
invalidade derivada.
Contudo, primeiro pretendo frisar que o Instituto de Gestão Financeira e Carência de
Equipamentos do Ministério da Justiça (IGFCEMJ) [trata-se uma pessoa colectiva que tem como
objectivo prosseguir fins do Estado, mais precisamente as atribuições do Ministério da Justiça
(MJ)], foi forçado a tomar medidas face à situação na altura vivida no país (2006) e a fim de
reduzir o défice público o IGFCEMJ prosseguiu com a conduta que pensava válida e legal
a fim de não contribuir com o aumento da dívida pública.
Considerando que a actuação do MF não foi correcta, e daí resultarem ilegalidades
e inconstitucionalidades, nomeadamente uma autorização da alienação de um imóvel
que não cumpria os critérios necessários para a sua adjudicação (art.º 77 nº1 e 2 do
RJPIP), a avaliação efectuada por parte um dos seus Serviços centrais sem a devida
consideração do caso concreto e a actuação contrária ao fim visado, em que o objectivo
principal do MF foi ajudar uma empresa por si tutelada a arrecadar montantes à custa de
um outro Ministério, ao vez de promover a gestão racional dos recursos públicos, o
aumento da eficiência e equidade na sua obtenção e gestão (art.º 266 nº2 da CRP e art.º 9
do CPA).
Recordo que para haver lugar à alienação de património imobiliário público o
membro do Governo responsável pela área das finanças tem que autorizar a venda, isto
é, a entidade competente é o MF cf expresso no art.º 78 do Regime Jurídico do Património
Imobiliário Público (RJPIP), mas a interferência do MF não se limita nesta fase do
procedimento, incumbindo-lhe ainda outras responsabilidades, tais como avaliar o
imóvel, atribuir-lhe valor de mercado e ainda acompanhar as execuções da empresa
“Estamos à Venda”, art.º14 nº4 da última Lei Orgânica do Governo.
No nº1 do art.º 108 RJPIP verifica-se que quem tem competência para efectua a
avaliação do bem em causa é a Direcção-Geral do Tesouro e Finanças (Um dos serviços
centrais elencados da Administração Directa que se encontram sujeitos aos poderes de
direcção, superintendência e tutela por parte do Ministro das Finanças, art. 4 alínea e) da
lei orgânica do MF) e esta avaliação não se limita a contabilizar os metros quadros nem a
qualidade da caixilharia das janelas, competindo-lhe também averiguar se existem ou se
é previsível que venham a existir ónus ou encargos sobre o imóvel (art.º 110 nº2 do
RJPIP).
Pois bem, atendendo à particularidade do bem em causa, um estabelecimento
prisional, em que a transferência das instalações requer muita minuciosidade,
nomeadamente a deslocação dos reclusos, os meios de segurança atinentes, tanto para
proteger e garantir os direitos fundamentais dos presidiários como evitar fugas dos
mesmos, podendo essa fuga ter repercussões lesivas e dispendiosas na sociedade.
E tendo o MF perfeita noção que pavilhões “provisórios” com carácter vinculativo
(prática reiterada que mais parece ter convicção de obrigatoriedade, nomeadamente na
área da educação), não são uma alternativa exequível para este caso concreto, pois as
medidas adequadas para realojar os presidiários e toda a corporação, são dispendiosas
e prolongam-se no tempo. A Direcção-Geral do Tesouro e Finanças ao avaliar o imóvel
não poderia ter desconsiderado tais elementos no procedimento de decisão quanto à
atribuição do valor patrimonial, pois esta condicionante tem carácter de ónus, na medida
em que poderá afectar e condicionar a liberdade do novo proprietário, como se acabou
por verificar. Assim deveria ter comunicado ao titular da decisão de autorização os
condicionamentos por si verificados.
Tendo o IGFCEMJ agido de boa fé e pensando que prosseguia sempre nos termos
legais, acabou por alienar um imóvel que não se enquadrava no exposto do art.º 77 nº1
ou 2 do Regimento supra mencionado, e mais uma vez a actuação do MF não foi a mais
ortodoxa, pois autorizou a venda de um imóvel que não poderia ser adjudicado em
virtude de a sua alienação prejudicar a segurança da prossecução contínua de fins da
sua natureza.
Recordo que a venda do imóvel foi para uma empresa tutelada pelo MF (Estamos à
Venda), o que após a verificação da má conduta ao longo do procedimento por parte da
DGTF (volto a frisar, um serviço da Administração central do MF), ponho em causa não só
o interesse aqui visado como a violação de um dos princípios jurídico-administrativos,
nomeadamente o princípio da imparcialidade na vertente negativa, pois o MF
aproveitando-se da actuação urgente do IGFCEMJ, autorizou uma venda que não
cumpria os pressupostos legais e acabou por beneficiar a empresa “Estamos à Venda”
que como volto a repetir é por si tutelada.
Os ganhos que a empresa tem recebido a título de indemnização, 28 milhões até à
presente data, acabaram por ter uma aparência de renda e atendendo que desde 2006 o
mercado imobiliário ter sido fraco e o investimento em Portugal diminuto esta empresa foi
amealhado dinheiro extra até à finalização de um contrato de compra e venda com
terceiro por valores mais apelativos.
Lembro que a “Estamos à Venda” não vez este negócio de olhos fechados nem foi
enganada pois a execução das suas funções deve ser efectuada sob acompanhamento
do MF.
Aproveito ainda para fazer uma salva que a meu ver é muito importante e
demonstra o comportamento displicente e calculista do MF.
Carecendo qualquer acto, que implique o aumento de despesas ou diminuição de
receitas, de aprovação por parte do Ministro das Finanças, e não tendo este aprovado
quaisquer actos quanto à aquisição de imóveis ou aprovação de orçamentos para obras
de reabilitação de espaços do MJ até à data do negócio, como poderia o MJ num curto
espaço de tempo desocupar o espaço alienado?
O acto de compra e venda é nulo nos termos do art.º 283 nº1 do CCP, pois a má
conduta do MF, que teve como propósito um fim privado (ajudar uma empresa por si
tutelada), gerou uma nulidade, nos termos do art.º 161 nº2 alínea l) do CPA, e seguindo o
texto do art.º 284 nº2 do CCP “Os contratos são, todavia, nulos quando se verifique algum
dos fundamentos previstos no artigo 133.º do Código do Procedimento Administrativo …”
pelo que o procedimento necessário para a venda do imóvel encontra-se afectado por
uma nulidade em virtude de um acto procedimental.

b) O quantum indemnizatório pago pelo Instituto à Empresa Pública, decorrente do contrato


celebrado entre as mencionadas partes, deve ser tido como desproporcional? Se sim, em que
termos e em violação de qual/quais vertente/s do princípio da proporcionalidade? Poderá
também ser invocado o princípio da razoabilidade? BARBARA DE BRITO
Acolhendo a informação já mencionada na questão anterior, onde ficou claro a nulidade do
negócio em virtude do procedimento do mesmo se encontrar abraçado por diversas lacunas
jurídicas, que penso não valer a pena mencionar de novo, o quantum indemnizatório é no seu
todo excessivo uma vez que nem deveria haver lugar ao pagamento do mesmo.
Contudo até à data de hoje tem havido lugar a pagamentos por parte do MJ à empresa
“Estamos à Venda” e estes pagamentos têm sido desproporcionais em consequência da
violação do princípio da proporcionalidade nas suas três dimensões.
Nomeadamente quanto à adequação, pois e medida utilizada deve ser ajustada ao fim que
pretende visar, e sabendo nós que não há aqui qualquer prejuízo por parte da empresa tutelada
pelo MF, pois cf mencionado no parágrafo 11º da questão anterior, a não desocupação do
espaço não implica percas de dinheiro, e aproveito para fazer uma nota que me parece
relevante, não houve em tempo algum menção de um possíveis compradores neste período.
Quanto à dimensão da necessidade o que o ordenamento jurídico pretende garantir é que a
decisão/actuação tomada pela Administração (dentro de um leque de opções viáveis à luz do
direito) seja a menos prejudicial à outra parte, mas o que se verifica neste caso é um excesso
de protecção em que a empresa está a ser beneficiada, não só por auferir uma indemnização
como pelo seu montante elevado.
E por último, mas não menos importante é a violação do princípio da proporcionalidade na
dimensão do seu equilíbrio, em que o propósito é garantir que os custos por parte da
Administração não sejam manifestamente excessivos.
Assim, sabendo à partida que o negócio não é válido, que as causas de invalidade são
impotáveis ao MF, que por sua vez não só tutela a outra parte, como acompanhou a execução do
processo de venda, o pagamento da indemnização é um custo demasiado excessivo para a
administração.
Face aos argumentos acima mencionados, quanto à violação do princípio da proporcionalidade
nas suas várias dimensões, deve de imediato o MJ (entidade que está a pagar tal quantia) deixar
de pagar a indemnização anual e ser ainda ressarcido das mesmas em virtude de a nulidade de
um contrato implicar a restituição de tudo o que tiver sido prestado.
E sendo a venda nula, ou seja haver lugar à reposição da jurídica á data da celebração do
contrato, devem as situações subsequentes ser igualmente repostas.
c) O(s) ato(s) contido(s) no Despacho do Diretor-Geral dos Serviços Prisionais emitido em 20 de
abril de 2016 deve ser qualificado como ato administrativo, nos termos do Código do
Procedimento Administrativo? Tenha presente que, através desse Despacho, o Diretor-Geral:
Determina a imediata feitura de obras urgentes de reestruturação do EPL; “Anuncia” a futura
construção de novas instalações prisionais, no arquipélago das Berlengas, para daqui a 20
anos; “Publicita” o início de conversação com a empresa “Estamos à Venda” para a reversão
do negócio de venda do EPL. FRANCISCO VASCONCELOS
No despacho do director não há qualquer acto administrativo tal como se define
materialmente no art 148º CPA. No máximo temos um acto/formalidade de iniciativa oficiosa que
dá início ao procedimento (art 53º) e mesmo assim não parecem estar reunidos os elementos
necessários:
não temos indicação de que se tenha constituído um processo administrativo como indica o art
1º/2; São apenas declarações de interesse, logo não impugnáveis pelos Metralha.

Por partes:
· - a "determinação" tem aspecto de decisão final de um acto administrativo mas não temos
todo o procedimento necessário por trás para lá chegar (art. 127º);
· - o "anúncio" podia representar um acto administrativo com termo suspensivo (eficácia
diferida – art. 157º, b)) mas também não encontramos aqui mais nenhuma formalidade respeitada;
· - a "publicitação" é o caso que mais se aproxima do sugerido início oficioso do art. 53º mas
mesmo assim não temos indicação que se deu início ao procedimento, começando pelo facto de
o director não ser o órgão competente para a negociação indicada uma vez que não pertence ao
Instituo do Min da Justiça, não podendo por isso se assumir como responsável pela direcção do
procedimento como prevê o art. 55º/1 ou delegante do mesmo nos termos do arts. e 55º/2 e 44º e
seguintes. Não nos esqueçamos que as competências são inalienáveis como expressa o art. 36º.

Assim sendo, não podemos sequer qualificar o despacho ou os seus elementos como
actos inexistentes (artº. 155º/2 a contrario). São apenas não-actos e só os actos administrativos
podem ser impugnáveis (art. 184º/1 do CPA: “Os interessados têm o direito de: a) Impugnar os
actos administrativos…”).

d) Deveria ter sido realizada audiência prévia dos interessados em momento anterior à emissão
do Despacho? FRANCISCO VASCONCELOS
É verdade que a audiência prévia é um direito essencial do procedimento (art. 12º do
CPA) e um direito protegido constitucionalmente (art. 267º/5 da CRP), mas, para além de não se
aplicar por não estar em causa qualquer acto administrativo, podia ser dispensável por vários
motivos, todos indicados nas alíneas do art. 124º/1 do CPA:

a) decisão urgente - para as obras que corrigirão as “condições degradantes”


d) número de interessados muito elevado - todos os presos
f) decisão inteiramente favorável - melhorar condições dos presos

Não havia neste caso, então, que respeitar o direito à audiência prévia.
e) A fundamentação do Despacho decorre de um dever legal? O Despacho encontra-se
devidamente fundamentado? JOÃO FELGUEIRAS
O dever de fundamentação consiste na declaração explicita e expressa das razões que
justificam a prática de determinado ato jurídico, que deve realizada pelo seu autor.
Decorre de prerrogativa Constitucional (numa primeira abordagem justificativa) com base no
artº 268 nº3 sendo que tem o “peso” da lei fundamental como elemento argumentativo.
Contudo existem leis ordinárias para o desenvolvimento e concretização do
constitucionalmente consagrado, nomeadamente no código de procedimento administrativo.
Assim nos termos do artº 152 e seguintes estão consagradas as normas que exigem o
dever de fundamentação dos actos administrativos. Este dever de fundamentação prende-se
com diferentes necessidades, como sejam, importância que têm para a defesa do particular no
sentido de só conseguir hipotética impugnação de ato administrativo se conhecer os motivos da
decisão; o controlo da Administração no sentido de que a observância dos motivos da prática
aliada aos factores que contribuíram para a decisão permitem o controlo dos órgãos de
supervisão da administração; permite a pacificação das relações entre a administração e os
particulares uma vez que a aceitação das decisões tendem a ser melhor aceites se a
comunicação das razões que lhe deram origem forem apresentadas de forma clara coerente e
completa e ; a clarificação e prova dos factos sobre os quais assenta a decisão que se prende
com exigências de transparência de atuação da administração, princípio transversal à pratica da
administração publica.
Em aplicação ao caso concreto, cumpre dizer que pelo exposto a fundamentação do
despacho decorre de um dever legal previsto no artº152 uma vez que pelo exposto no nº1
segunda parte se trata de aumentar encargos sobre a própria administração publica e visam a
anulação/reversão do contrato com a empresa “estamos à venda” o que implica a alteração de
direitos ou interesses legalmente protegidos como o princípio da tutela de confiança, bem
como, a prossecução do princípio da dignidade da pessoa humana, direito basilar
constitucionalmente consagrado cujo o seu respeito é objectivo de cumprimento uma vez que
estão em causa a “falta de condições em que se encontram os reclusos” conforme exarado no
despacho.
Neste sentido, e conforme o explicitado normativamente no artº153 do CPA, tal
fundamentação foi cumpridora dos requisitos nele mencionados uma vez que foi exposta os
motivos de facto que levaram a tal decisão.

f) Ocorreu a violação do princípio da boa administração nas decisões públicas referentes à


alienação e reversão da alienação do EPL? JOÃO FELGUEIRAS
O princípio da boa administração nas decisões publicas é abarcado pelo princípio da
prossecução do interesse público, constitucionalmente consagrado, sendo que este princípio
nos remete para o subprincípio da eficiência (também assim identificado por muitos autores)
consagrado no artº81 alinea c) da CRP para aplicação no sector público empresarial. A
concretização deste princípio é feita nos termos do artº5 do CPA.
Neste sentido e aplicado ao caso concreto, o ministério da justiça, em respeito pelo
consagrado no art.º 5º do CPA tomou a decisão objetivamente de acordo com exposto no nº1 no
sentido de permitir a defesa do interesse publico, ou melhor, contribuir para tal, conforme o art.º
4.º do CPA como seja a redução do défice público, objectivo de interesse público. Contudo
verificou-se que a empresa “estamos à venda” ela sim não procedeu de acordo com os
pressupostos que baseiam o principio da boa administração pelo que, no sentido do total
respeito do mesmo, o ministério da justiça decide a tentativa de reversão do negócio.

g) Ocorreu a violação do princípio da justiça nas decisões públicas referentes à alienação e


reversão da alienação do EPL? JOSÉ MARQUES
O principio da jus ça encontra-se consagrado cons tucionalmente no art.º 266 da C.R.P., no qual refere
que os órgãos e agentes administra vos estão subordinados à Cons tuição e à lei e devem atuar no exercício
da suas funções, com respeito pelos princípios da igualdade, da proporcionalidade, da jus ça, da
imparcialidade e da boa-fé.
Também o art.º 8 do CPA refere quanto ao princípio da jus ça e da razoabilidade, a Administração
pública deve tratar de forma imparcial aqueles que com ela entrem em relação, e rejeitar as soluções
manifestamente desrazoáveis ou incompa veis com a ideia de Direito, nomeadamente em matéria de
interpretação das normas jurídicas e das valorações próprias do exercício da função administra va.
Analisando as condições em que foram feitos tanto os negócios de venda bem como de reversão do
negócio, podemos concluir que se tratou de um negócio no qual estaria subjacente o superior interesse dos
presidiários, na medida em que com a venda deste imóvel estaria eventualmente em causa, a mudança de
instalações dos presos, e eventualmente a construção de novas instalações dos serviços prisionais.

Não obstante esse critério, eventualmente o estado, e na sequência do arrecadamento de alguns


milhões de euros nos seus cofres, iria beneficiar com a redução do défice público, mas isso seria uma
consequência, do plano proposto para a recolocação dos presos.

O principio da jus ça, conforme nos esclarece o professor Freitas do Amaral é um princípio aglu nador
dos outros sub-princípios, nomeadamente o princípio da igualdade, da proporcionalidade e da boa fé,
princípios esses consignados no art.º 266 da cons tuição.

Não me parece que o Estado tenha agido de forma desigual, desproporcional ou de má fé, quando na
realidade o que o Estado pretendia era a venda de um imóvel, até porque se encontrava e vista a abertura de
um processo sucursal com vista à construção do Estabelecimento Prisional de Lisboa e Vale do Tejo, em
Almeirim, que deveria subs tuir o de Lisboa.

Analisado o caso sub judice, o Ins tuto de Gestão Financeira e Carência de Equipamento do Ministério
da Jus ça, agiu dentro dos parâmetros dos princípios fundamentais da administração pública, consagrado no
art.º 266.º da Cons tuição na medida em que o negócio jurídico da venda do imóvel E.P.L. esteve isento da
violação do princípio da jus ça, pois tratou-se de um negócio sem favorecimentos, bem como foi uma solução
razoável, atendendo aos interesses do estado e dos próprios presos.

h) Como qualificaria a relação estabelecida entre os serviços prisionais e os irmãos Metralha


durante o período de 2012 e 2016? É relevante apelar ao conceito de relação especial de
poder? JOSÉ MARQUES
Começando por referenciar o conceito de relação especial de poder, podemos afirmar
que são as esferas internas da Administração, consideradas como espaços de isenção jurídica,
que se caracterizam pela restrições e obrigações impostas aos particulares, que mantêm esse
tipo de vinculo com o Poder Público, em que nesse caso, entre outros exemplos se enquadram
os presidiários.
Segundo Harmut Maurer, as relações especiais de poder integram o “domínio interno da
Administração”, onde não há proteção dos direitos fundamentais, reserva de lei e proteção
jurisdicional, ou seja, as relações jurídicas realizadas nesse domínio estariam isentas de
juridicidade, em que se submeteriam não à lei, mas aos regulamentos administrativos, sem
carácter jurídico.
Prof. Paulo Otero, sobre o “domínio interno da Administração”, afirma que a definição da
organização interna da Administração Pública como um espaço de isenção jurídica decorre da
concepção liberal segundo a qual a Administração não poderia invadir a esfera dos particulares.
Criaram-se esferas diferentes, sendo que a organização interna da Administração não
afetaria, em hipótese alguma, direitos dos particulares, pelo que não haveria necessidade de
intervenção parlamentar nesse âmbito interno, que se viu livre de qualquer incidência jurídica.
Entre as “situações de grande dependência” verificadas nas relações especiais de
poder, temos as seguintes hipóteses: presos, estudantes de estabelecimentos públicos,
funcionários públicos e doentes de casas de saúde e hospitais públicos.
Há assim desta forma uma constatação de que as restrições aos direitos
fundamentais, nas relações internas da Administração, são usuais, ocupando o Estado
uma posição de superioridade face ao administrado.
Assim, nestes termos posso chegar à conclusão de que podemos apelar à relação
especial de poder, existente entre os Serviços Prisionais e os irmãos Metralha, na medida
em que os presos estão em relação de inferioridade com o Estado. É ao Estado que cabe
o melhoramento das condições dos presidiários, uma vez que os presos se encontram
numa posição que não lhes permite um auto melhoramento das suas condições de
habitabilidade, alimentação entre outros factores.

i) Estão reunidos os pressupostos da responsabilidade civil extracontratual do Estado e das


demais entidades públicas, permitindo que os irmãos Metralha sejam ressarcidos? LARA
GOUVEIA

A gestão pública exprime o exercício da função administrativa, que se encontram


submetidas à aplicação de regras de direito administrativo e por isso, são submetidas a um
regime de responsabilidade civil extracontratual próprio de direito administrativo.
O Legislador dispõe de um poder de conformação que lhe permite isentar os servidores
públicos de qualquer responsabilidade em situações de mera negligencia artº7nº1 RREEP
22ºCRP, responsabilidade é exclusiva da entidade pública.
Quando o titular de órgão, funcionário ou agente tenha actuado com dolo ou culpa grave,
embora a responsabilidade seja solidária, se a entidade responder perante o lesado, o seu
direito de regresso sobre o autor material da conduta lesiva tem por objecto o reembolso total
da quantia em que ela tenha sido condenada perante o lesado. Compete ao titular do órgão,
funcionário ou agente que tenha sido o autor material do facto ilícito implicado que se torne
integralmente responsável pelos danos decorrentes da lesão. A responsabilidade solidária da
entidade pública tem apenas em vista assegurar a solvabilidade da divida.
As entidades públicas serão civilmente responsáveis, em forma solidária com os seus
titulares de órgãos, funcionários ou agentes, mas apenas, naturalmente, no pressuposto de que
haja responsabilidade da parte destes.
Ao Ministério da Justiça cabe-lhe o dever de zelo, de fiscalização. Foi violado o artº 9 da
lei 67/2007 na medida em que não foi respeitado o principio da igualdade na repartição de
encargos. Pressionados pelo Ministério das Finanças , que afirmava ser um negócio urgente e
considerado adequado, em que adiar a sua venda constituiria uma diminuição do valor do bem
(uma vez que se encontrava em degradação). Houve uma decisão de venda por parte do
Ministério das Finanças que não cabia ao Ministério da justiça decidir. A nós cabe-nos a gestão
do sistema-judicial, não das decisões económicas do país para diminuir o défice, estas não
abrangem a nossa competência. Logo não se verifica o pressuposto do funcionamento anormal
do serviço, presente no artº 7nº4 da lei 67/2007.
A decisão do Ministério das Finanças fez o Estado perder o Direito sobre um bem.
O despacho do director geral não é acto nenhum (tem vários vícios formais) sendo
apenas uma declaração de intenções, logo não é impugnável, por isso também não tem de ser
respeitado o procedimento, não havendo lugar à audiência prévia. Não se verifica uma
inobservancia dos deveres objectivos de
cuidado. De qualquer modo, a actuação do director geral não é movida de culpa, nem
mesmo culpa leve, não podendo também ser aplicável o principio da imputação direta às
entidade publicas, artº 7nº1 lei 67/2007
Em causa estava um interesse legalmente protegido do estado que era o de diminuir o
défice. Bem sabemos que por vezes a lesão dos princípios de outrem pode não resultar da
específica violação de normas ou princípios constitucionais legais ou regulamentares ou de
regras técnicas devidamente formalizadas, logo uma vez mais também não podemos alegar
estar violado os direitos ou interesses legalmente protegidos, artº9nº2 lei 67/2007.
Alem disso no regime da responsabilidade do estado o artº 4 indica que os lesados
deviam ter actuado na altura devida, ou seja quando estavam presos, os irmãos metralhas agora
não têm legitimidade para exigir responsabilidades apenas visam querer prejudicar os actuais
presidiarios de verem as suas condições melhoradas.

j) Que entidade deve ser demandada pelos irmãos Metralha tendo em vista a satisfação da
pretensão indemnizatória? LARA GOUVEIA
Veja-se, a entidade a ser demandada pelos irmãos metralha, nunca poderá ser o Ministério da
Justiça visto esta venda não ser do seu domínio de actuação e o mesmo não poder ser
responsabilizado visto não se reunirem os pré-supostos da responsabilidade civil
extracontratual da Administração publica.
Já foi visto por nós que o director geral não pode ser responsabilizado visto não se tratar de um
acto administrativo mas antes uma declaração de intenções.
Visto isto torna-se claro que a entidade a ser responsabilizada terá que ser o Ministério das
Finanças. O erro de não ter agido com cautela, pelo dano que causaram a empresa “Estamos à
venda”, de ter agido sobre risco artº11nº1, artº7nº1.
A ter em conta ainda que o acto do Ministério da Justiça trata-se de um acto nulo que não
produz efeitos, logo não pode o mesmo ser revogado unilateralmente.
O art. 284 nº3 do CCP remete ao regime do Código Civil e os efeitos da nulidade do artº 289
indicam que deve ser feita a restituição de tudo que seja possível.
k) Configurando a hipótese de o Diretor-Geral dos Serviços Prisionais avançarem mesmo para a
anunciada “reversão” do negócio com a empresa “Estamos à Venda”, fazendo-o sem o
consentimento desta, como qualificaria, em especial, este ato? Quais os seus requisitos de
validade? Estarão cumpridos? FÁBIO MATEUS
Esta Situação configura o poder da Administração Pública (AP) resolver os contratos por acto
unilateral.

Uma vez tomada a decisão de resolução unilateral por parte da AP, a resolução do contrato pode
operar de duas maneiras segundo os artigos 334º e 335º do Código dos Contratos Públicos
(CCP), designadamente a resolução com base no interesse público ou a resolução por alteração
anormal e imprevisível de circunstâncias.

À partida o contrato de compra e venda é nulo nos termos do art.o 161/nº2 alínea l) do CPA, uma
vez que o procedimento necessário para a venda de um imóvel do domínio privado do Estado
ou Instituto público encontrase desfasado face ao estatuído no Regime Jurídico do Património
Imobiliário Público.

O MJ pode na sua alegação, e se não se conseguir provar a questão da nulidade, fundamentar


que é em nome do Interesse Público, nomeadamente a segurança pública e risco de fuga dos
reclusos (que à data eram menos do que actualmente) e que ainda é do Interesse Público que
não se faça mais dívida para a construção de uma nova prisão para que se efective a
recolocação dos reclusos, de acordo com o artigo 334º do CCP.

A segunda hipótese de anulação do contrato é por via de uma alteração anormal e imprevisível
de circunstâncias, em que se terá que provar, conforme o artigo 312/a) do CCP por remissão
legal do artigo 335/nº1 do mesmo código, que houve de facto essa alteração anormal e
imprevisível, o que de facto se pode dar como provada uma vez que a subida do número de
reclusos era imprevisível à data de celebração do contrato.

Mas ficam por provar ainda dois dos requisitos, nomeadamente que a alteração não esteja
coberta pelos riscos próprios do contrato e ainda que a manutenção do vinculo afecta
gravemente o Princípio da Boa-Fé.

l) A “reversão do negócio”, dando por “terminado” o contrato celebrado entre as partes, pode
ser realizada unilateralmente pelo Estado, sem o ressarcimento da empresa “Estamos à
Venda”? FÁBIO MATEUS

Como decorre do artigo 334º do CCP, em caso de resolução unilateral com base no Interesse
Público, o MJ terá sempre que pagar um indeminização, nos termos contantes do nº 2 do
referido artigo, o que abrange quer os danos emergentes e os lucros cessantes.

Nos termos do artigo 335/n2, sendo a resolução unilateral por alteração anormal e imprevisível
de circunstâncias, o MJ só é obrigado a pagar indemnização ao co-contraente se a alteração das
circunstâncias seja imputável a algum acto praticado pelo MJ fora da relação contratual. O que
de facto não aconteceu, uma vez que o aumento do número de reclusos não é consequência
directa de um acto praticado pelo MJ.

m) A “reversão do negócio” viola o princípio da boa-fé, na vertente da tutela da confiança, no


que respeita à posição jurídica da empresa “Estamos à Venda”? BARBARA DE BRITO
Como já foi referida na primeira questão, o contrato de compra e venda é inválido pois o
procedimento que conduziu a efectivação deste negócio encontra-se carregado de invalidades,
logo, se alguém poderá e com toda a legitimidade invocar o desrespeito ao principio da boa-fé,
não será a empresa “Estamos à Venda”, mas sim o IGFCE e o MJ, pois o negócio é nulo em
virtude de uma nulidade de um acto do procedimento deste negócio, como já referido na
questão primeira, nomeadamente nos termos dos artigos 283 nº1 e 284 nº1 do CCP juntamente
com o artigo 161 nº2 alínea e) do CPA que originou a nulidade do acto de autorização.
Lembro que este princípio consta na nossa constituição, art.º 266 nº2, logo a sua violação implica
uma inconstitucionalidade, mas para melhor compreensão deste princípio jurídico-administrativo
à que ler o art. 10 do CPA, e como se poderá constatar, ambas as partes devem relacionar-se
segundos os critérios de boa-fé.

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