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Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião - PPGCR


Curso de Doutorado em Ciências da Religião
Disciplina: Campo religioso brasileiro, cultura e sociedade Cultura,
rito e inculturação: para uma hermenêutica das normas rituais católicas
Professora: Gilbraz de Souza Aragão
Aluno: João Elton de Jesus
Data: 23/03/2019

CULTURA, RITO E INCULTURAÇÃO

No processo constante de construção da história, muitos povos, culturas e religiões


foram se formando nessa busca constante do homem de se fazer-se e de vivenciar a aventura
humana e espiritual que é a vida. Nesse peregrinar, a religião surge como um arcabouço que dá
sentido e orienta o viver humano a partir de pressupostos sagrados, que trazem suas explicações
e também esperanças para os desafios e as benesses do viver terreno. Obviamente, por ser um
produto de homens e mulheres, inseridos em espaços, contextos e tempos determinados, as
religiões vão sendo construídas e institucionalizadas por meio de símbolos, ensinamentos,
mitos, ritos e interditos que nascem e ocorrem dentro daquilo que chamamos de cultura.
Conforme afirma Palomera em seu artigo “Liturgia, religiosidade popular e culturas”,
cultura é um “conjunto de expressões simbólicas (modo de vida e de trabalho, festas, artes,
celebrações, formação …) que caracterizam a forma de ser, de agir, de sentir e de valorizar de
um o povo”1. O cristianismo nasceu dentro de uma cultura e no decorrer dos anos, com a
interação com outras culturas, foi tomando a forma especificas para o tempo e os contextos em
que foi se inserindo. No entanto, é ingênuo afirmar que esse processo se deu (e se dá, pois é
constante) de uma maneira pacífica e respeitosa. Em muitos momentos, a transmissão da
“sabedoria” ou tradição cristã se deu a duras penas (e muitas vidas), por meio de atos
colonizadores e violentos onde o outro era ignorado e a força dos vencedores e dominadores
era imposta aos dominados e derrotados.
No decorrer dessa práxis evangelizadora a Igreja foi refletindo a sua forma de pensar e
muitos teólogos, teologias e documentos surgiram para que pudéssemos desenvolver aquilo que
chamamos de inculturação, reinterpretação e transformação de algo não cristão dentro dos ritos
e compreensão cristã, e/ou de aculturação, introdução ou modificação de um rito ou uma

1
PALOMERA, L. Liturgia, religiosidade popular e culturas. Theologica Latinoamericana. Enciclopedia Digital.
Disponível em: http://theologicalatinoamericana.com/?p=1312&fbclid=IwAR0Bk5nMc80g1vk7M-
7giTbYldWT1Cs8xzSM8nnhbl42xZ7cKhGeIpvFSZM. Acesso em: 30.mar.2019
2

compreensão para melhor inserção e compreensão de outra culturas sobre os ensinamentos


cristãos. Ainda hoje tudo é muito polêmico pois questiona-se o critério ou os limites nessa
interação. A essa pergunta, Aragão coloca que no contexto cristão, a condição básica para um
processo de inculturação religiosa, “é reconhecer a necessária separação e a mútua influência
entre fé e cultura e, ao mesmo tempo, admitir que o cristianismo não possui outra identidade
senão o Espírito de Jesus Cristo e o sinal do amor fraterno moldado sobre o amor de Cristo, a
ponto de se morrer pelos outros”2.
Assim, tendo como pressuposto o respeito às culturas e o norte pautado na pessoa de
Jesus Cristo, com seus valores e ensinamentos de defesa e luta pela vida. pautada pelo amor,
muitos missionários, buscaram um processo de evangelização onde tanto povo e sua cultura
quanto os princípios cristãos pudessem ser salvaguardados formando assim uma “simbiose” de
amor, cuidado e fraternidade. Nesse sentido, o padre canadense Jacques Trudel conseguiu, com
a ajuda da comunidade de fé, tal “casamento” teologal e cultural. Diante do desafio de vivenciar
e apresentar o evangelho para pessoas da periferia do Recife, caracterizados em sua maioria por
pessoas negras, com fortes influencias das religiões afro-brasileiras, maioria de trabalhadores
e ávidos por uma liturgia mais viva, padre Jaime, como é conhecido, incentivou a comunidade
a unir os conhecimentos teológicos e a tradição daquele povo e o resultado foi a inclusão da
dança dentro do rito litúrgico da celebração eucarística. Segundo esse padre Jesuíta “O primeiro
motivo que eu tinha era favorecer a participação do povo conforme a cultura das pessoas que
se celebra. O segundo motivo é a resgate da cultura negra (...) a dignidade da cultura negra e
autoestima das pessoas negras”3
Conforme podemos observar nos vídeos “Dança Litúrgica na Mustardinha”4 há um
grande exemplo de união entre cultura, rito e religião. A dança aparece como um recurso de
evangelização, não no sentido instrumental, mas como forma e parte do rito da missa no sentido
de ajudar a comunicar o que está se celebrando. Preparada pelos próprios paroquianos, as
coreografias estão relacionadas com a parte da missa em que são apresentadas; o movimento, a
música bem apresentada e a boa realização da coreografia, previamente ensaiada, mostram a

2
ARAGÃO, Gilbraz. Inculturação da fé cristã na religiosidade popular. Vida Pastoral. Ed. Março-abril de 2013
– ano 54 – número 289. São Paulo: Paulus. P. 16. Disponível em: https://www.vidapastoral.com.br/wp-
content/uploads/2013/02/mar%C3%A7o-abril-de-
2013.pdf?fbclid=IwAR1aGZHowNerFNyf5K7Wf1Jj2DMyNZXwXRF7GH7Lnd1WdjdArFHSLv0Dn1Q.
Acesso em: 30.mar.2019
3
SOUZA, Angélica. Dança, um culto sagrado. Video. Disponível em: https://youtu.be/fuNcIDPUI8w. Acesso
em: 30.mar.2019
4
SOUZA, Angélica. Dança Litúrgica da Mustardinha. Video. Disponível em: https://youtu.be/Kvvlw0yULWc.
Acesso em: 30.mar.2019
3

abertura da Igreja para o público jovem, falando a sua língua e abrindo portas para o seu
protagonismo. A comunidade de uma forma geral, se une à dança e à música não somente de
uma forma mecânica. Essa liturgia, essa simbologia, dá a ela sentido, pois fala a sua linguagem,
comunica ao coração e toca o seu agir e a sua ação. Todos se envolvem nessa celebração,
atualizando a missão salvífica e redentora de Cristo na sua realidade, por meio de seus signos e
sentidos próprios, como em Pentecostes, onde todos se entendiam e compreendiam a linguagem
do amor.
O interessante disso, além da execução da dança propriamente, é o envolvimento de
toda a comunidade, o engajamento para a realização dos serviços litúrgicos onde todos tem a
sua importância e participação. A Igreja torna-se espaço de acolhida e de encontro, de reflexão
e de relação com o sagrado dando, de fato, sentido a existência dessas pessoas, muitas vezes
tão sofridas e desgastadas pelas injustiças e desigualdades humanas. Fazendo aquilo que dá
sentido, essas pessoas ganham dignidade; assumem o seu protagonismo em algo que para elas
tem valor, como é o ato litúrgico; de modo que é impossível dizer que “assistem” à missa,
expressão muito utilizada no passado, mas passam a viver, a sentir na pele, no corpo, na alma,
nos sentidos o Cristo que é celebrado e, principalmente, a vida, em toda as suas dimensões.
Infelizmente em função de inseguranças e falta de sensibilidade, iniciativas como essas
sofrem muitas resistências por parte daqueles que estão presos à normas e não conseguem dar
sentido pleno a elas. Contudo, há iniciativas, como as do próprio Papa Francisco e tantos outros,
principalmente aqueles que se identificam com uma teologia mais libertadora, que muito
contribuem para que possamos sair da zona de conforto e avançar para aguas mais profundas e
nelas encontrar novos caminhos que favoreçam a maior relação conosco mesmos, com o outro,
com a cultura e sociedade e com o Absoluto.
Para mim que atuo com juventude, ver o exemplo de Jaime e aprofundar sobre o
entendimento do rito, do mito e da simbologia para a experiência de fé, faz me questionar o que
poderia ser feito para que a celebração litúrgica tenha sentido aos jovens inseridos no mundo
tecnológico, midiático, onde a imagem e a velocidade da informação apoiados pela
interatividade e conectividade. Em outro vídeo foi possível ver uma “missa” ao som da música
eletrônica, sabemos que algumas denominações cristãs utilizam a “cenografia” do surf para
conquistar seguidores juvenis e há toda uma dimensão gospel, tanto católica quanto protestante,
principalmente de linha neopentecostal, em que os “cultos” ou os “grupos de oração”, ou
mesmo as “missas de cura e libertação” são tomados por música, relações, camisetas, bonés e
pregações adaptadas para esse público, contudo, e aqueles jovens que não estão inseridos nesse
4

mundo religioso, não costumam ter imagens de santos ou não “curtem” as melodias da música
religiosa, quais simbologias ou recursos poderiam ser utilizados para ajudar esses a se
conectarem com o sagrado e também, na religião formal, encontrarem alguma inspiração para
a sua vida espiritual? Enfim, com novos horizontes, surgem novas perguntas e novos desafios.
Que possamos, portanto, avançar nessa reflexão sobre inculturação e uso dos símbolos, dos
ritos e dos mitos nessa incrível aventura do ser religioso.

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