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Introduzindo o livro, o autor nos revela uma briga de bar entre trabalhadores do
porto, resultando no assassinato de um deles pelo que parece ser uma disputa amorosa.
Os personagens dessa história são Zé Galego, Paschoal e Júlia. Através da análise desse
cenário, Sidney Chalhoub nos mostra as diferentes versões produzidas sobre o conflito,
aqui se utiliza do processo crime referente ao caso e notícias dos jornais Correio da
Manhã e Jornal do Commercio. Nesse contexto de versões contraditórias, o autor
procura nos mostrar o quão complexo é esse estudo. Porém, é justamente através da
exposição dessas dificuldades que Chalhoub tenta nos mostrar que embora difícil,
árduo, o trabalho do historiador não é impossível. O autor mostra um caminho por onde
o pesquisador possa se enveredar, que seria ultrapassando essas contradições,
analisando as incoerências, buscar compreender a constituição das diferentes versões, e
daí tirar-lhes também a repetição das relações entre as diferentes versões. Chalhoub
mostra as dificuldades contidas na tarefa de analisar processos crimes, mas também
lembra o cuidado que devemos ter, e que há possibilidades de se estudar uma época
desse modo.
E na parte que fecha este capítulo, o autor foca sobre o relacionamento entre
homens e mulheres em si mesmo, tentando organizar algumas de suas regras de
funcionamento e identificar alguns de seus elementos de tensão. Chalhoub relembra
aqui três aspectos fundamentais da vida dessa classe trabalhadora que poderiam
determinar o seu ato de amar: a necessidade da existência de fortes laços de
solidariedade entre parentes, compadres e amigos, que resultaria na interferência de
outros indivíduos nos problemas de relacionamento do casal; o fato da mulher pobre ter
trabalho remunerado, o que lhe garantia certa independência em relação ao homem; o
grande desequilíbrio numérico entre os sexos, visto que naquela época havia mais
homens que mulheres, o que tornava o ato de amar competitivo. Aqui percebemos que o
tipo de relacionamento que é desencadeado na classe trabalhadora é diferente dos
estereótipos dominantes da relação homem-mulher, e embora todos esses fatos
indiquem até uma menos durabilidade e instabilidade nessas relações, ao possibilitarem
uma relação mais equilibrada, dão espaço a um relacionamento mais significativo no
sentido de afeto, com presença de amor e carinho. Chalhoub afirma que devido às
condições de vida dessas pessoas, os seus modos de pensar e agir os levavam a praticar
uma relação homem-mulher que tendia a uma bipolarização. E fala também que as
crises amorosas em geral resultavam da não aceitação por parte do homem da conduta
independente da mulher, que, aliás, surgiu de acordo com suas dificuldades de
sobrevivência.
O livro de Chalhoub é ideal tanto para quem quer saber sobre como foi a vida
social da classe trabalhadora no período da Primeira República, como para quem deseja
analisar processos crimes, visto que Chalhoub explica como o fez, expondo dificuldades
encontradas e apontando caminhos para atravessar. E também inspira novos estudos,
visto que é muito informativo e o autor deixa linhas a serem trabalhadas.