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O livro possui seis capítulos que procuram esclarecer a batalha travada entre as
correntes ideológicas da época pelo imaginário popular republicano. No primeiro capítulo, o
autor introduz o leitor na discussão sobre a idealização da república e descreve
resumidamente as três correntes ideológicas que disputavam o imaginário popular
republicano; o segundo capítulo trata do mito de origem, uma batalha pela versão oficial dos
fatos ocorridos na proclamação da república; no terceiro capítulo ele expõe a idealização em
torno de Tiradentes e discute o que favoreceu essa figura como herói nacional; já no quarto
capítulo, ele discute acerca da visualização da república na forma de mulher, de influência
francesa, e porque esse símbolo não foi aceito no Brasil; o quinto capítulo vai discutir sobre a
batalha em torno da bandeira e do hino; e no sexto, e último, capítulo, ele faz uma rápida
análise da manipulação do imaginário republicano feita pelos positivistas ortodoxos.
Aqui, ele descreve resumidamente as idéias das três correntes ideológicas, já citadas,
que disputavam a definição do novo regime. No liberalismo, podemos destacar a presença dos
proprietários rurais e dos federalistas, eles idealizavam a república pelo modelo americano e
adotavam a definição individualista do pacto social. O jacobinismo era composto por
pequenos proprietários, profissionais liberais, jornalistas, estudantes, pessoas que o regime
imperial limitava as oportunidades de trabalho. Buscavam liberdade, igualdade e participação.
Os positivistas eram o grupo mais ativo, e tinham boa aceitação em camadas médias urbanas e
setores militares. Buscavam a separação entre Igreja e Estado, e defendiam ideais de
progresso e ditadura. Acreditavam que o progresso viria pela ditadura, pela ação do Estado. E
propunham incorporar o proletariado à sociedade moderna. Nesse capítulo, Carvalho também
fala sobre os conceitos de cidadania e estadania.
No segundo capítulo, “As proclamações da República”, o autor vai analisar a luta que
havia pelo estabelecimento do mito de origem, uma tentativa de se construir uma versão
oficial dos fatos ocorridos no 15 de novembro, e ele lembra que nessa luta estava acoplado o
conflito pela definição do novo regime. A luta é pela delimitação do papel de Deodoro,
Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva e Floriano Peixoto (embora no livro José Murilo de
Carvalho só enfoque os três primeiros). Deodoro é o proclamador, e para os deodoristas a
proclamação foi o ato final da Questão Militar. Já Benjamin Constant é lembrado como o
fundador, a cabeça pensante, o teórico, e é considerado o responsável pelo 15 de novembro ter
ido além de uma quartelada . E Quintino Bocaiúva foi considerado de grande importância por
ser o representante dos propagandistas civis, pois era o chefe do Partido Republicano
Brasileiro. José Murilo de Carvalho conclui o capítulo afirmando que “o mito de origem ficou
inconcluso, assim como inconclusa ficara a República.” (pág. 54)
Mas há aí uma certa diferença, enquanto que na França a alegoria feminina foi aceita
pela população, no Brasil ela foi rejeitada. Jornais oposicionistas passaram a ridicularizar o
símbolo, por meio de charges. Rejeitada por dois lados: pelo significado, pois a República
andava longe dos sonhos dos idealizadores; e pelo significante, visto que a mulher civil não
existia nem na realidade nem na representação artística. “A alegoria (feminina) se dissolvia na
falta de uma comunidade de imaginação. Ou se fragmentava em sentidos contraditórios e
invertidos” (pág. 96).
José Murilo de Carvalho conclui o livro afirmando que os esforços para a criação de
um imaginário republicano falharam. As correntes ideológicas da época foram incapazes de
criá-lo. Mesmo nos aspectos em que tiveram sucesso, isso era devido ao peso da tradição, seja
imperial ou religiosa. O maior obstáculo foi a ausência de envolvimento do povo na
implantação do novo regime, fazendo com que a simbologia republicana caísse no vazio.
Uma grande conquista da historiografia brasileira, esse livro deve ser considerado de
leitura obrigatória a quem tiver interesse sobre como se deu a aceitação do povo pelo novo
regime. Pode-se dizer que esse livro foi excelentemente bem-sucedido, não apenas pela bela
explanação que é feita acerca das correntes ideológicas da época, mas também por abranger
um público amplo, provavelmente por sua linguagem clara e objetiva.