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1.1.1. Princípios expressos no art. 37, “caput”, CF: LIMPE (são os princípios expressos nesse artigo).
a) Legalidade:
Em direito administrativo não se aplica o princípio da não contradição à lei (vinculação negativa ou negative bidung). Esse
raciocínio se aplica ao particular. O particular pode fazer tudo, menos o que a lei proibir (tudo que não está legalmente
proibido, está legalmente permitido).
No direito administrativo, vigora o princípio da subordinação à lei. Para que haja atuação administrativa, deve haver
permissivo legal. O administrador público só pode atuar quando a lei permitir (positive bidung ou vinculação positiva).
b) Impessoalidade:
Não discriminação. Quando o administrador público atua, ele não discrimina quem será a pessoa atingida pelo ato (nem
para beneficiar nem para prejudicar). Não interessa a pessoa que será atingida pelo ato (a pessoa que o ato vai atingir não
é relevante).
A doutrina moderna vem trazendo outro enfoque para este princípio: a impessoalidade também deve ser enxergada sob a
ótica do agente público. Quando o agente público atua, não é a pessoa do agente público que está atuando, mas sim o
Estado atuando por meio desse agente. A atuação do agente público deve ser imputada ao Estado. Isso é o que nós
aprendemos como Teoria do Órgão ou Teoria da Imputação Volitiva.
Ex: Art. 37, §1º, CF (veda a pessoalização de obras, serviços e programas de governo).
c) Moralidade:
É honestidade, é boa-fé de conduta, é lealdade no trato com as instituições públicas. Ideia de não corrupção no trato com
a atividade pública. É o que se chama de moralidade jurídica, que não se confunde com a moral social.
Exemplo: administrador público flagrado fazendo sexo na repartição = isso fere a moral social (que também é protegida
pela lei), mas não há, no caso, ofensa direta ao princípio da moralidade jurídica, que está associada à probidade
administrativa, ao não desvio de verbas.
d) Publicidade:
É a transparência da atividade do Estado.
As normas-princípios não são absolutas. Sempre que houver conflito entre elas, haverá ponderação. A publicidade, assim,
também não é um princípio absoluto. Existem atos sigilosos no direito administrativo. Isso ocorre quando o sigilo é
necessário à proteção da intimidade, da honra ou da vida privada, quando necessário a relevante interesse coletivo ou aos
imperativos da segurança nacional. Nessas situações, desde que devidamente justificada (de forma prévia), admite-se a
prática de atos sigilosos.
Publicidade não se confunde com publicação. Existem várias formas de a administração fazer a publicidade de seus atos.
A publicação em diário oficial é uma das espécies de publicidade, mas não é a única (não são sinônimos).
Pontos que justificam essa publicidade:
- viabilizar o controle da atuação administrativa. Por meio da publicidade, a sociedade consegue controlar a atuação
da administração pública.
- a publicidade é requisito de eficácia dos atos administrativos. O ato administrativo pode ser perfeito e válido, mas,
para que ele seja eficaz, quando ele se dirige à sociedade, ele tem que ser publicizado.
CESPE (ProcuradorBH): Ao princípio da publicidade corresponde, na esfera do direito subjetivo dos administrados, o
direito de petição aos órgãos da administração pública.
e) Eficiência:
Não é um princípio expresso originário da CF. Este princípio foi inserido expressamente no art. 37, CF pela EC nº 19/98
(Reforma Administrativa).
Eficiência é a busca por resultados positivos. Atuação eficiente é aquela que consegue obter bons resultados com o mínimo
de gastos possível. É um princípio que norteia toda a atuação administrativa, sendo princípio de aplicabilidade imediata.
A Administração deve pautar todas as suas condutas pela busca de resultados positivos. A própria CF concretiza o princípio
da eficiência (exemplo: a EC nº 19/98 inseriu, no art. 41, CF, exigência de 3 anos de exercício e de avaliação especial de
desempenho para que o servidor público adquira estabilidade, que nada mais é do que uma avaliação de eficiência; também
há avaliação periódica de desempenho).
1.1.2. Princípio expresso na CF (mas não no art. 37)
a) Contraditório e Ampla defesa. Serão respeitados o contraditório e a ampla defesa nos processos judiciais e
administrativos. É o direito de saber o que acontece no processo e também o direito de se manifestar. Abarcam o direito à
defesa prévia, à defesa técnica e ao duplo grau de julgamento.
Cuidado: embora a Lei 9784 diga que “salvo por lei específica, não haverá exigência de caução para a interposição de
recurso administrativo” esse entendimento está superado, já que não pode, em nenhuma hipótese, haver caução para
recorrer (vide Súmula Vinculante n° 21).
a) Razoabilidade e Proporcionalidade:
No direito constitucional, alguns doutrinadores defendem que a razoabilidade é um princípio constitucional expresso,
porque seria o devido processo legal substancial. Isso não é aceito no direito administrativo. A razoabilidade é o princípio
básico, sendo a proporcionalidade inerente a ele.
Segundo a razoabilidade, a administração tem que atuar dentro de padrões médios aceitos pela coletividade. A
razoabilidade é uma das formas de controle da discricionariedade administrativa. A discricionariedade deve pautar-se pela
razoabilidade.
A proporcionalidade é a adequação, proporção entre fins e meios. O motivo que deu ensejo à prática do ato deve ser
proporcional ao ato em si. A proporcionalidade é muito aplicada quando se trata de aplicação de penalidade (a pena
aplicada deve ser proporcional à infração que deu ensejo aquela pena).
A razoabilidade e a proporcionalidade devem ser analisadas todas as vezes que a lei não regulamenta o ato administrativo
com critérios objetivos; todas as vezes que a lei permite que o agente público, em cada caso concreto, faça uma
interpretação e uma análise da melhor forma de atuação.
b) Continuidade:
O princípio da continuidade está expresso no art. 6º, §1º, Lei 8987/95. A atuação administrativa como um todo não pode
parar, deve ser contínua, ininterrupta.
PERGUNTA: O servidor público de greve pode ser computado para fins de remuneração?
RESPOSTA: Não. A ideia de remuneração é contraprestacional. O STF entende que a administração DEVE fazer o
desconto dos dias não trabalhados, pois a greve é uma hipótese de suspensão do contrato do trabalho. No entanto, é possível
que, ao invés do desconto, a administração exija a compensação pelos dias não trabalhados. Caso faça o desconto, contudo,
não pode realizá-lo de uma única vez.
Fundamentos:
-Princípio da legalidade.
-Princípio da indisponibilidade do interesse público.
-Vedação ao enriquecimento ilícito.
Exceção: havendo ato ilícito da administração, que desencadeou a greve, não ocorrerá o desconto.
ATENÇÃO! O direito de sindicalização (de servidores civis) é norma de eficácia plena, porém o direito de greve é de
eficácia limitada.
PODERES ADMINISTRATIVOS
1. PODERES ADMINISTRATIVOS
O direito administrativo limita a atuação da administração pública. Sempre que a administração tiver um poder para atuar,
será um poder-dever. A atuação administrativa não é uma faculdade do administrador.
Os poderes-deveres da administração são instrumentais, porque a administração pública não tem poder pelo simples poder.
Ela tem poder enquanto instrumentos necessários à busca pelo interesse público. Os poderes públicos são instrumentos
dados à administração para que ela consiga atingir suas finalidades. Se o administrador extrapola esse caráter de
instrumentalidade do poder, ocorre o abuso de poder.
O abuso de poder é exercer o poder pelo simples poder. A expressão abuso de poder (gênero) é ampla, abrangendo duas
espécies:
• Excesso de poder (espécie): vício de competência. Ocorre sempre que o administrador pratica o ato extrapolando
sua competência legal.
• Desvio de poder (espécie): vício de finalidade. Ocorre quando o agente pratica o ato buscando atingir fim diverso
do previsto na lei para aquele ato. Desvio de poder ou de finalidade.
Esses poderes podem se manifestar de forma discricionária ou vinculada. A discricionariedade e vinculação não são
poderes em sim, mas sim formas de exercer o poder. Toda atuação administrativa é vinculada à lei, mesmo quando se trate
de ato discricionário. O que vai dizer se a atuação será discricionária ou vinculada é a própria lei que prevê a prática do
ato.
Exemplo: a lei prevê que se o sujeito faltar mais de 30 dias consecutivos, ele será demitido. O critério aqui é objetivo, não
deixando a lei margem de escolha para o administrador. Trata-se de um ato vinculado (a lei definiu objetivamente a forma
de atuação do administrador). No ato vinculado, não há margem de escolha, estando o critério objetivamente previsto em
lei. O ato vinculado é um ato objetivamente definido em lei.
Na atuação discricionária, a lei prevê a prática do ato administrativo, mas a própria lei confere ao agente público uma
margem de escolha. A própria lei permite que o agente público atue de uma ou de outra forma, dependendo da situação.
Exemplo: a lei estabelece que, se a administração quiser vender um imóvel que adquiriu por meio de decisão judicial, ela
pode fazer por meio de concorrência ou leilão (isso é discricionariedade). Discricionariedade não é arbitrariedade. A
escolha se dá dentro das margens estabelecidas pela lei. A discricionariedade ou mérito é justamente essa margem de
escolha conferida pela lei. Esse mérito será analisado com base em critérios de oportunidade e de conveniência (que serão
analisados em cada caso concreto).
A lei, muitas vezes, define os critérios de escolha por meio de conceitos jurídicos indeterminados. JSCF tem
entendimento de que os conceitos jurídicos indeterminados não são discricionariedade, mas sim mera interpretação (diante
de conceitos indeterminados, cabe ao administrador apenas interpretar). Esses conceitos indeterminados trazem uma
margem de discricionariedade.
O controle judicial sobre os atos administrativos não pode efetivar a substituição do mérito do administrador público pelo
mérito do juiz. O poder discricionário é um poder administrativo e não jurisdicional. O Poder Judiciário não pode controlar
o mérito em si do ato discricionário, pois, se assim agisse, estaria administrando e não julgando.
ATENÇÃO! Se a prova disser que não existe controle judicial de atos discricionários, está errado. O que não há é controle
judicial do mérito administrativo dos atos discricionários. O Judiciário pode controlar os limites do mérito do ato
administrativo, pois quem traça esses limites é a lei (tratando-se de controle de legalidade sobre o ato). Diante de um
conceito jurídico indeterminado, o administrador público tem que fazer sua margem de escolha dentro de padrões
razoáveis. Dessa forma, a razoabilidade vai ser o limite do mérito administrativo quando estivermos tratando de
conceitos jurídicos indeterminados. Exemplo: a Lei 8.112 diz que a suspensão de um servidor público pode ser aplicada
por até 90 dias. O servidor foi suspenso por 80 dias e procurou o judiciário, que disse que 80 era muito, diminuindo para
60 dias = isso não pode acontecer! Segundo caso: o sujeito foi suspenso por 100 dias e procurou o judiciário, que baixou
para 90 dias = isso também não pode acontecer! Quando ele baixa para 90 dias, ele está dosando a pena e dosar a pena não
é possível pelo judiciário. A única coisa que o Judiciário pode fazer é dizer que 100 dias extrapola os limites da lei,
anulando o ato. Se a administração quiser que faça outro ato.
No que tange aos aspectos de legalidade, o Judiciário tem amplo poder de controle sobre atos discricionários.
a) Poder Normativo:
O Poder Normativo é o poder que a administração pública tem para a edição de normas gerais e abstratas expedidas dentro
dos limites da lei. Poder normativo não é o poder de legislar. É o poder de estabelecer normas/atos administrativos
normativos inferiores à lei, obedientes à lei, que decorrem da lei, que facilitam a execução da lei. Esse poder se manifesta
por meio de vários atos.
Os regulamentos ou decretos (decreto é a forma pela qual o regulamento se instrumentaliza; o regulamento é o ato) são
atos normativos privativos do chefe do poder executivo (presidente, governador e prefeito). Outras autoridades públicas
expedem outros atos. O poder regulamentar é privativo do chefe do executivo.
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
1. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
Alguns serviços o Estado presta diretamente, por meio dos entes federativos (União, Estados, DF e Municípios) = prestação
centralizada do serviço. Ocorre que o Estado tem que ser eficiente e, pelo menos na teoria, quando mais especializado
você é na execução de uma atividade, maior será sua eficiência.
Na busca dessa eficiência, o Estado algumas vezes transfere a prestação de alguns serviços para uma outra pessoa jurídica
= descentralização. A descentralização pode ser feita a particulares (mediante contrato de concessão ou de permissão) ou
para entidades da administração indireta (autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia
mista).
Mesmo quando o Estado presta o serviço diretamente (sem transferir sua execução a ninguém), a prestação tem que ser
eficiente. Então, o Estado irá se especializar internamente. Criam-se órgãos especializados e distribui-se internamente a
competência entre esses órgãos. Essa especialização interna feita entre órgãos de uma mesma pessoa jurídica é chamada
de desconcentração. A desconcentração pode acontecer tanto na administração direta quanto na indireta.
Os órgãos públicos não têm personalidade jurídica. Eles não são titulares de direitos e obrigações, não têm pessoal próprio
nem patrimônio, não têm responsabilidade por seus atos. O órgão nada mais é do que parte integrante de uma pessoa
jurídica responsável. Os órgãos são centros especializados de competência.
Teoria do órgão ou teoria da imputação volitiva é aplicada no direito brasileiro dizendo que a vontade do agente público e
do órgão se confundem com a vontade do Estado. As teorias anteriores não vingaram: teoria da representação (dizia que
o agente público seria um representante do estado tal como um representante de incapazes); teoria do mandato (dizia que
o agente público era mandatário – relação contratual de mandato).
Cuidado: não se deve colocar a prefeitura (que é um órgão) no polo passivo de uma ação, mas sim o município.
Embora nenhum órgão tenha personalidade jurídica, alguns órgãos públicos gozam de capacidade processual ativa, desde
que isso lhe tenha sido atribuído por lei. Quando a lei atribui, os órgãos autônomos e os independentes podem ter
capacidade processual ativa (os órgãos independentes e os autônomos, se a lei assim atribuir, podem ter capacidade
processual). Ex: A LACP prevê que o MP tem capacidade processual para ajuizar ação civil pública.
OBS: além desses órgãos, cuja capacidade processual foi conferida por lei, a jurisprudência reconhece capacidade
judiciária à Câmara Municipal, para que realize a defesa dos seus interesses institucionais.
1.3. AUTARQUIA:
A autarquia desempenha atividade típica de estado. Tem personalidade jurídica de direito público (tem regime de fazenda
pública). Todas as prerrogativas e limitações que aprendemos para as entidades da administração direta aplicam-se para a
autarquia.
Tem imunidade tributária (art. 150, §2°, CF) – imunidade recíproca.
Goza dos privilégios processuais da fazenda pública: prazos dilatados em juízo (no novo CPC, os prazos são em
dobro para qualquer manifestação).
Submete-se à remessa necessária (Súmula n° 620, STF = SUPERADA).
Utilizam a execução fiscal (nos moldes da Lei 6.830).
Os bens das autarquias são bens públicos.
A autarquia paga seus débitos por meio de precatório (art. 100, CF), tendo fila própria de precatórios.
Sua responsabilidade civil é objetiva (art. 37, §6°, CF).
O regime de seu pessoal é o regime jurídico único, que foi restaurado pelo STF, desde 2005. No âmbito federal,
o regime único é estatutário (aplicação da Lei 8.112).
Decreto 20.910, art. 1° define que as ações contra a fazenda pública prescrevem em 5 anos (essa prescrição
quinquenal também se aplica às autarquias).
Além do controle finalístico, sofrem controle pelo tribunal de contas e pela sociedade (mandado de segurança,
habeas data).
Seus atos são atos administrativos (com prerrogativas, atributos e tudo mais).
Seus contratos são contratos administrativos (cláusulas exorbitantes, licitação).
Espécies de autarquias:
1.3.1. AUTARQUIAS DE CONTROLE (OU AUTARQUIAS CORPORATIVAS/AUTARQUIAS
PROFISSIONAIS)
São os conselhos profissionais, salvo a OAB. ADI 1717 afastou a aplicação da Lei 9649. Elas atuam no exercício do poder
de polícia e gozam de parafiscalidade (cobram contribuições dos seus associados que têm natureza tributária). Não têm o
poder de criar tributos, mas sim de os cobrar. Exercem o poder de polícia, inclusive, esse atributo foi o fundamento para
o STF considerar que se tratam de autarquias.
1.3.2. AUTARQUIAS EM REGIME ESPECIAL
Tradicionalmente, são as universidades públicas. Elas gozam de autonomia pedagógica (diz respeito à metodologia de
ensino aplicada), que se manifesta principalmente pela forma diferenciada de escolha dos seus dirigentes, que são
indicados pelos próprios membros da universidade (eles não são livremente nomeados e exonerados por um ente da
administração direta). O corpo docente e o corpo discente é que escolhem/indicam o dirigente da universidade. Depois
dessa escolha, o dirigente será nomeado pelo MEC. Esses dirigentes cumprem mandato certo (o que dá maior liberdade à
universidade). Essa garantia de mandato faz com que os dirigentes tenham mais liberdade e garante às universidades uma
maior independência em relação ao ministério supervisor.
1.3.3. AGÊNCIAS REGULADORAS
São também autarquias em regime especial as agências reguladoras. Elas têm maior liberdade e autonomia. São autarquias
em regime especial criadas para normatizar, regular e fiscalizar a prestação de serviços de interesse público pelos
particulares.
Seus diferenciais são:
Poder normativo no exercício de sua atividade (poder de estabelecer normas gerais e abstratas dentro dos limites
da lei) – resolução é o ato normativo das agências reguladoras (os atos normativos das agências reguladoras
atingem/obrigam o prestador do serviço público, nunca o usuário);
Teoria da Captura: é quando a agência reguladora passa a editar normas que beneficiam mais as empresas reguladas do
que o usuário.
Segundo a doutrina, a Teoria da Captura trata da hipótese de quebra de independência e autonomia das agências
reguladoras, quando estas passam a favorecer os entes regulados, que são economicamente mais fortes. Em outras palavras,
os entes regulados capturam as agências reguladoras no intuito de proteger seus interesses.
José dos Santos Carvalho Filho afirma que a Teoria da Captura tem o objetivo de evitar uma “vinculação promíscua entre
a agência, de um lado, e o governo instituidor ou os entes regulados, de outro, com flagrante comprometimento da
independência pública” (Manual de direito administrativo. Atlas, 2012, p. 485.)
Essa captura pode ocorrer de duas formas: pelo próprio setor público, quando há influência política de agentes públicos
na atividade reguladora, retirando sua independência; ou pelo setor privado, quando as empresas que prestam os serviços
regulados interferem direta ou indiretamente na atividade regulatória.
Seus dirigentes são escolhidos pelo presidente da república com a aprovação do Senado Federal (Lei 9.986/2000
– lei geral das agências reguladoras no âmbito federal) – no âmbito estadual, por simetria, o dirigente é escolhido
pelo governador com a aprovação da assembleia;
O seu dirigente cumpre mandato certo (o prazo de mandato fixo é definido na lei de cada agência), não podendo
ser exonerado “ad nutum” (dentro do prazo do mandato, o dirigente só perde o cargo mediante processo
administrativo em que se assegure a ampla defesa ou mediante renúncia);
Depois que o dirigente sai do cargo, a lei estabelece que ele irá cumprir um período de quarentena (esse prazo
varia; na Lei 9.986, a quarentena é de 4 meses) – durante a quarentena, o ex-dirigente fica sujeito a impedimento
de prestar serviço em qualquer empresa regulada pela agência que ele dirigia; durante esse período, ele não presta
mais serviço à agência, mas continua vinculado a ela, recebendo, inclusive, remuneração integral do cargo de
dirigente.
A Lei 9.986/2000 diz que o regime de pessoal das agências reguladoras no âmbito da União é celetista, mas isso não é
possível (isso porque no âmbito federal o regime único é o estatutário – segundo a Lei 8.112).
1.3.4. AGÊNCIAS EXECUTIVAS
Não confundir agência reguladora com agência executiva. A agência executiva não é uma autarquia em regime especial.
A agência executiva é uma autarquia comum, criada por lei específica como autarquia comum.
A agência executiva é uma autarquia comum que está ineficiente e, em razão dessa ineficiência, é chamada pelo ente da
administração direta e celebra com ele um contrato de gestão.
Essa autarquia comum não está conseguindo cumprir as metas básicas de eficiência e por isso celebra com o ministério
supervisor contrato de gestão. Por meio desse contrato de gestão, permite-se que seja expedido um decreto qualificando
ela como agência executiva (não depende de lei para ganhar essa qualificação de agência executiva). Ao celebrar esse
contrato de gestão, a agência ganha mais orçamento (mais autonomia administrativa e financeira).
Ela também ganha um privilégio na licitação (a dispensa em razão do valor para ela é dobrada; tem dispensa até 20% do
valor do convite).
A contrapartida é que ela tem que cumprir um plano estratégico de reestruturação para que ela volte a ser eficiente.
A qualificação de agência executiva dura enquanto durar o contrato de gestão (quando acabar o contrato, será expedido
um decreto fazendo com que ela deixe de receber a qualificação de agência executiva, voltando a ser autarquia comum).
Não há regime especial.
Críticas à criação das agências executivas:
A administração pública não precisa celebrar um contrato para exigir eficiência; ao dar uma contrapartida para
ela ser eficiente, eu estaria premiando uma autarquia ineficiente;
A autonomia das autarquias é dada por lei, não cabendo, assim, a um contrato de gestão ampliar o que foi
concedido por lei (o instrumento jurídico não é hábil).
Art. 37, §8º, CF: prevê a possibilidade de celebração de contrato de gestão entre entidades públicas. Qualificação de
agência executiva está regulamentada no art. 51, Lei 9.649. Lembrar que não há subordinação entre a agência executiva e
o ministério com o qual ela celebrou o contrato de gestão.
JURISPRUDÊNCIA1: o entendimento do STF consolidou-se no sentido de que a ECT (Correios), embora seja empresa
pública submete-se ao regime das pessoas jurídicas de direito público, inclusive quanto aos benefícios fiscais e processuais!
Ao que parece o STF está evoluindo para entender que qualquer empresa pública que não atue em regime de
concorrência e não vise o lucro possui as mesmas prerrogativas da Fazenda Pública. Recentemente esse entendimento
foi aplicado, inclusive, para uma SEM:
As sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e de natureza não
concorrencial submetem-se ao regime de precatório. O caso concreto no qual o STF decidiu isso envolvia uma sociedade
de economia mista prestadora de serviços de abastecimento de água e saneamento que prestava serviço público primário
e em regime de exclusividade. O STF entendeu que a atuação desta sociedade de economia mista correspondia à própria
atuação do Estado, já que ela não tinha objetivo de lucro e o capital social era majoritariamente estatal. Logo, diante disso,
o STF reconheceu que ela teria direito ao processamento da execução por meio de precatório. STF. 2ª Turma. RE 852302
AgR/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/12/2015 (Info 812).
JURISPRUDÊNCIA2:
É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestadoras de serviço público próprio do Estado
e de natureza não concorrencial.
STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).
1-A.2.ENTIDADES DE APOIO
São entidades, normalmente criadas pelos próprios servidores, que atuam ao lado de hospitais e universidades públicas. A
expressão “entidades de apoio” é ampla, podendo ser uma fundação de apoio, uma associação de apoio ou uma cooperativa
de apoio. Aqui, não há necessidade de lei para sua criação. Essas entidades celebram com o poder público um convênio,
sendo esse o seu vínculo jurídico com a administração pública. Por meio desse convênio, a entidade de privada se qualifica
como entidade de apoio.
A entidade de apoio pode receber destinação de verba orçamentária, cessão de bens públicos, cessão de servidores públicos.
Em razão disso, também se submetem ao controle do Tribunal de Contas. Para celebração de seus contratos, devem realizar
procedimento licitatório simplificado.
1-A.3.ORGANIZAÇÕES SOCIAIS (OS)
Lei 9.637/98. Também são criadas por particulares, independentemente de lei específica autorizando sua criação. Não têm
fins lucrativos. Atuam na prestação de serviços públicos não exclusivos de Estado. Elas não podem atuar como
delegatárias ou concessionárias. Ela presta serviços de utilidade pública sem fins lucrativos.
Essas entidades celebram com o poder público contrato de gestão. É o contrato de gestão que faz com que a entidade se
qualifique como entidade social. Embora seja chamado de contrato, tem natureza/estrutura de convênio (num contrato, as
vontades são divergentes; enquanto, num convênio, as vontades são convergentes).
Essa entidade vai receber orçamento público, tendo, inclusive, uma rubrica orçamentária em seu nome (ela não é
simplesmente recebedora de verba orçamentária, contando com dotação orçamentária específica). Pode contar com cessão
de servidores públicos e também de bens públicos.
Além do controle do ente público que celebrou o contrato de gestão, a OS também se sujeita ao controle do Tribunal de
Contas.
As OS não precisam licitar (art. 24, XXIV, Lei 8.666/93 dispensa a licitação para os contratos celebrados pelas
organizações sociais).
Elas têm um Conselho de Administração composto por servidores públicos (esse conselho permite a participação de
particulares, mas deve contar com a participação de agentes públicos).
Em algumas situações, a lei dispensa o chamamento público e permite a celebração do termo de colaboração ou do termo
de fomento sem que haja esse chamamento. Vejamos:
• inexigibilidade do chamamento (basta comprovar a inviabilidade de competição);
• dispensa do chamamento público (em casos de urgência decorrente de paralisação ou iminência de paralisação de
atividades de relevante interesse público – nas mesmas condições da vencedora do chamamento público anterior; em casos
de guerra ou grave perturbação da ordem pública – somente os termos nas áreas de assistência social, de saúde ou de
educação; quando houver necessidade de proteção a pessoas ameaçadas ou em situação que possa comprometer a sua
segurança; atividades voltadas ou vinculadas a serviços de educação, saúde e assistência social, desde que executadas por
organizações da sociedade civil previamente credenciadas pelo órgão gestor da respectiva política).
Os contratos firmados entre as organizações da sociedade civil e terceiros devem respeitar um procedimento seletivo
simplificado via internet (tem que licitar, mas seguindo um procedimento simplificado).
Sujeita-se ao controle do Tribunal de Contas e também deverá prestar contas ao ente da administração pública que celebrou
com ela o termo de colaboração ou de fomento.
A prestação de contas é dividida em dois pontos:
1) é feito um relatório de execução do objeto (elaborado pela OSC, assinado pelo seu representante legal, contendo as
atividades desenvolvidas para o cumprimento do objeto e o comparativo de metas propostas com os resultados alcançados);
2) terá ainda de apresentar um relatório de execução financeira (assinado pelo seu representante legal e o contador
responsável, com a descrição das despesas e receitas efetivamente realizadas).
Após a execução do objeto, ela terá 150 dias para apresentar o relatório.
Se a entidade não cumprir as regras do termo de colaboração ou de fomento, ficará sujeita a algumas penalidades da Lei
13.019/2014:
a) advertência;
b) suspensão temporária da participação em chamamento público e impedimento de celebrar termos de fomento, termos
de colaboração e contratos com órgãos e entidades da esfera de governo da administração pública sancionadora, por prazo
não superior a 2 anos;
c) declaração de inidoneidade para participar de chamamento público ou celebrar termos de fomento ou termos de
colaboração com qualquer ente da administração pública por até 2 anos (só pode ser aplicada pelo ministro de estado (no
âmbito federal); pelo secretário estadual ou municipal (nos respectivos âmbitos).
1. CONCEITO
A responsabilidade civil do Estado significa o DEVER de reparação dos danos causados pela conduta estatal,
COMISSIVA ou OMISSIVA.
2. RESPONSABILIDADE CIVIL E SACRIFÍCIO DE DIREITOS
É tradicional a distinção entre a responsabilidade civil por danos causados pela atuação estatal e o sacrifício de direitos
promovido pelo Poder Público. Enquanto a responsabilidade civil do Estado pressupõe violação a direitos,
normalmente mediante conduta contrária ao ordenamento jurídico (ex.: indenização por erro médico ocorrido em hospital
público), gerando o dever de ressarcimento dos prejuízos causados, o sacrifício de direitos envolve situações em que a
própria ordem jurídica confere ao Estado a prerrogativa de restringir ou suprimir direitos patrimoniais de terceiros,
mediante o devido processo legal e o pagamento de indenização (ex.: desapropriação).
Na responsabilidade civil, a lesão aos direitos de terceiros é efeito reflexo da atuação estatal, LÍCITA ou ILÍCITA. Por
outro lado, o sacrifício de direitos compreende atuação estatal, autorizada pelo ordenamento, que tem por objetivo
principal (direto) restringir ou extinguir direitos de terceiros, mediante pagamento de indenização.
3. EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Hoje não há dúvidas de que o Estado responde por seus atos, e esta regra vem consagrada pelo art. 37 § 6° da CF, trazendo
a responsabilidade civil OBJETIVA do Estado.
Ocorre que até chegarmos a tal regra, passamos por uma evolução e a ideia perpassa pela total irresponsabilidade do
Estado e chegamos à responsabilização.
A responsabilidade civil do Estado passa por 3 períodos de evolução:
A 1ª fase é a fase da IRRESPONSABILIDADE DO ESTADO, ou seja, o Estado, na atuação dos seus agentes, mesmo
que ocasionasse danos a terceiros, não responderia por estes. Esta 1ª fase vigorou no período dos Estados absolutistas
europeus.
O que significava? Em tal época, não tínhamos uma proteção do indivíduo, podendo o Estado fazer o que bem entendesse.
O que se reconhecia era a atuação soberana e ilimitada do Estado, inexistindo parâmetros, freios. Então era muito comum
a confusão entre o Estado e a figura do monarca, pois este personificava o próprio Estado e era uma figura de Deus na
terra.
Como o monarca era um representante de Deus, pensando que Deus não erra, o monarca não erra, e como o monarca era
o Estado, o Estado não erra.
Em tal época encontramos duas frases que marcam o período e encontramos em vários manuais: “the king can do no
worng” e “c’etat c'est moi”.
Sai de cena o Estado absolutista e entra em cena o Estado de direito, onde temos a fixação de parâmetros para a atuação
do Estado, que deve respeitar a lei, surgindo a ideia de legalidade.
Tudo isso dá ensejo a uma limitação do Estado e com parâmetros é possível identificar atuações ilícitas, de modo que se
o Estado descumpre a lei, ele atua de forma irregular, admitindo-se uma responsabilidade do poder público.
Surgiu uma RESPONSABILIDADE SUBJETIVA, nos moldes do direito civil, ou seja, a vítima deveria comprovar a
culpa para responsabilizar o Estado. Por isso alguns autores chamam de teorias civilistas.
Segundo os ensinamentos de Rafael Oliveira, nesse 2° momento tivemos, de acordo com a doutrina, duas etapas
distintas, dentro deste momento da responsabilidade subjetiva.
A doutrina afirma que temos uma 1ª subetapa que dividia os atos de IMPÉRIO, dos atos de GESTÃO. Aqui se afirmava
que o Estado poderia ser responsabilizado subjetivamente, mas tão-somente pelos atos de gestão, de modo que pelos
atos de império permanecia a característica da irresponsabilidade.
Neste ponto ainda tínhamos a ideia da irresponsabilidade.
Os atos de império seriam os atos de autoridade, como os atos de polícia.
Para os atos de gestão a vítima deveria comprovar a culpa do agente público.
De início cabia à vítima provar que se tratava de ato de gestão. Como 2° passo ela deveria identificar o agente e comprovar
a sua culpa. Tínhamos uma culpa individualizada, pois era necessário identificar o agente causador do dano. Isso
desencadeava, na prática, a irresponsabilidade, pois era muito difícil à vítima realizar tal prova. Olhem o esquema do
Ricardo Alexandre:
Em decorrência de tal dificuldade, ampliando direitos e a proteção dos indivíduos, chegamos a uma segunda subetapa,
que se liga à RESPONSABILIDADE SUBJETIVA.
Segundo Matheus Carvalho o fundamento aqui é a intenção do agente público. Para que se possa admitir a incidência
desta teoria, necessita-se da comprovação de alguns elementos: a conduta do Estado; o dano; o nexo de causalidade e o
elemento subjetivo, qual seja, a CULPA ou o DOLO do agente. Esses elementos são indispensáveis para a caracterização
da responsabilidade, pois, quando não observados, podem gerar a exclusão desta responsabilidade.
O autor supra, fala, ainda que, como muitas vezes, era quase impossível para a vítima provar a culpa do agente e, para
uma maior proteção dos administrados, houve uma evolução doutrinária para a Teoria da Culpa do Serviço ou CULPA
ANÔNIMA, também chamada de falta de serviço – criada pelo conselho de Estado do direito francês.
Consoante Rafael Oliveira, para a noção da culpa anônima, o indivíduo não precisava mais identificar o agente que foi
efetivamente responsável pelo dano. Basta que o indivíduo comprove que o serviço estatal foi prestado de forma
equivocada.
A culpa, em vez de ser individualizada na pessoa de um servidor, será diluída entre toda a Administração. Isso facilitava
a reparação do dano e a vida da vítima.
Como isso ocorreria? De acordo com a doutrina, 3 fatos caracterizavam a culpa anônima: AUSÊNCIA do serviço;
serviço DEFEITUOSO; serviço TARDIO ou INTEMPESTIVO.
O que se percebe é que o serviço não foi adequadamente prestado e, causando dano, deve o Estado responder, ainda que
não se identifique o servidor responsável pela causação.
Diógenes Gasparini citava o ex. dos bombeiros. Imagine que um prédio esteja pegando fogo. Acionado o corpo de
bombeiros não vai ao local, o prédio é destruído pelo fogo. Há responsabilidade civil do Estado, por ausência do serviço
– culpa anônima.
No mesmo caso, acionado o corpo de bombeiros chega ao local em tempo recorde, mas ao acionar a mangueira ela está
furada e não contém o prédio, que é destruído pelo fogo. Há responsabilidade civil do Estado, por serviço defeituoso.
Ainda hoje há uma polêmica em relação à OMISSÃO administrativa e a responsabilidade do Estado. Para alguns
autores, como Celso Antônio Bandeira de Melo, é subjetiva, e isso pode desencadear a incidência da noção da culpa
anônima. Abordaremos isso mais adiante.
Para fechar a evolução histórica, na tendência de facilitar a reparação, chegamos a um terceiro e último momento, que é
o atual. É a regra hoje consagrada na CF: a RESPONSABILIDADE OBJETIVA. Diz-se objetiva porque se retira da
discussão o elemento culpa, o elemento subjetivo.
Tradicionalmente a responsabilidade era subjetiva, devendo a vítima comprovar a conduta, o dano, o nexo causal e a
culpa, individual ou anônima.
Com a regra da responsabilidade objetiva, SAI o elemento subjetivo, com isso não se discute culpa. Basta que a vítima
comprove conduta, dano e nexo causal.
Art. 37. § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.
O principal fundamento para a responsabilidade objetiva, é a TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO. Para doutrina
majoritária, ao mencionar a teoria do risco administrativo, pretende distingui-la da teoria do risco integral.
Nem todos fazem essa distinção. No direito civil, o prof. Caio Mario defendia, ao tratar da responsabilidade do Estado, a
teoria do risco integral. Cada um usava a nomenclatura, com sentido diverso.
Mas a doutrina majoritária fundamenta a responsabilidade objetiva na teoria do risco administrativo. A distinção está na
possibilidade ou não de defesa do Estado. De acordo com a teoria do risco administrativo o Estado pode se defender.
Quando o Estado exerce uma atividade, ele assume o risco, aqui é o risco administrativo. Quem exerce uma atividade de
risco responde pelos danos causados por essa responsabilidade. Ocorre que esta responsabilidade não é absoluta, podendo
o Estado se defender, alegando as causas excludentes do nexo causal, rompendo-o.
ATENÇÃO!! Então, na modalidade OBJETIVA, por RISCO ADMINISTRATIVO, o Estado PODE alegar
EXCLUDENTES DE NEXO CAUSAL, que, por conseguinte, AFASTA O DEVER DE INDENIZAR, como: culpa
EXCLUSIVA da vítima, caso fortuito ou força maior!
Devo lembrar! A culpa CONCORRENTE da vítima NÃO AFASTA o dever de indenizar, mas tão somente pode
ocasionar a diminuição do valor a ser reparado (atenuante).
Numa ação indenizatória, a vítima precisa provar CONDUTA, DANO e NEXO CAUSAL.
Na teoria do risco administrativo admite-se causa excludente do nexo causal. Ao contrário, na teoria do risco integral,
o Estado assume integralmente, de modo que se há um risco assumido pelo Estado, não importam as razoes fáticas, o
Estado não terá defesa perante a vítima.
OBS.: hoje o STJ tem alguns precedentes adotando a TEORIA DO RISCO INTEGRAL no que se refere ao DANO
AMBIENTAL. Em direito administrativo, os autores, em regra, não adotam essa teoria. José dos Santos Carvalho Filho
usa a expressão ‘monstruosidade jurídica’ para descrever a teoria do risco integral, pois o Estado responderia por um dano
que ele não causou.
Fechando os fundamentos, temos que a teoria do risco administrativo é o principal fundamento para a responsabilidade
objetiva, mas há um 2° fundamento, o da TEORIA DA REPARTIÇÃO DOS ENCARGOS SOCIAIS (José dos Santos
Carvalho Filho).
A ideia de responsabilidade objetiva visa uma compensação social. O Estado, na sua atuação, que tem um risco potencial,
irá causar danos a terceiros. Eventualmente, com a atuação do Estado, em uma situação que a coletividade se beneficie
por conta de um indivíduo, aquela terá que compensar pelo que recebeu.
Numa hipótese em que um dano é causado a um dado indivíduo e a sociedade se beneficia, a ideia é a de que a sociedade
deve compensar o dano sofrido por aquele indivíduo. Os ônus e os bônus devem ser proporcionais.
Como a coletividade compensa esse indivíduo? Com a responsabilidade do Estado. Na prática, quem paga a
indenização, em última análise, é a sociedade, que compensa aquele indivíduo que sofreu um dano.
Para alguns autores justificaria a própria possibilidade da responsabilidade do Estado por ATO LÍCITO. Ou seja, mesmo
nos casos em que o Estado edita atos lícitos, poderíamos falar em responsabilidade quando houvesse um dano, uma
restrição desproporcional a um direito do indivíduo. Pela quebra na isonomia, a sociedade deve ser reequilibrada com
ônus e bônus.
É importante lembrar, portanto, desta Teoria da repartição dos encargos sociais.
4. RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL E CONTRATUAL
A responsabilidade civil do Estado pode derivar de danos causados no âmbito de relações jurídicas CONTRATUAIS (ou
negociais) ou EXTRACONTRATUAIS.
Na responsabilidade civil contratual, o dever de ressarcimento pressupõe a existência de vínculo negocial especial válido
e a inexecução contratual pelo Estado. Por outro lado, a responsabilidade civil extracontratual relaciona-se com os danos
causados por atuações estatais voltadas aos cidadãos em geral.
A responsabilidade civil OBJETIVA do Estado e das pessoas jurídicas prestadoras de serviços públicos, prevista no art.
37, § 6.º, da CRFB, é de índole EXTRACONTRATUAL, uma vez que a referida norma menciona danos causados a
“terceiros”, ou seja, pessoas que não possuem vínculo específico com o causador do dano. Dessa forma, a regra não se
aplica aos danos causados às pessoas que possuem vínculo jurídico especial, contratual (ex.: empresas contratadas pelo
Estado) ou institucional (ex.: servidores públicos estatutários), com a Administração Pública.
Por essa razão, o STF afastou a aplicação da referida norma constitucional no caso envolvendo furto de automóvel
em estacionamento fechado, mantido pelo Município, tendo em vista o descumprimento das cláusulas do contrato
de depósito (STF, 1. Turma, RE 255.731/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 26.11.1999).
É oportuno mencionar, todavia, que, em outras situações envolvendo relações contratuais, a Suprema Corte aplicou o
art. 37, § 6.º, da CRFB, tal como ocorreu, por exemplo, na consagração da responsabilidade civil objetiva das
concessionárias de serviços públicos pelos danos causados aos usuários do serviço público de transporte (STF, Tribunal
Pleno, RE 591.874/MS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ e-237 18.12.2009, Informativos de Jurisprudência do STF
n. 557 e 563).
5.RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA: ATO LÍCITO E ILÍCITO
Em regra, a responsabilidade civil está relacionada à violação de um dever jurídico, motivo pelo qual o ato ilícito é a
fonte geradora da responsabilidade. Vale dizer: a violação de um dever jurídico preexistente acarreta o dever jurídico
sucessivo de reparação (responsabilidade). Todavia, o ordenamento jurídico prevê a responsabilidade por atos lícitos em
situações excepcionais, tal como ocorre, por exemplo, no art. 188, II, c/c os arts. 929 e 930 do CC.
Em relação à responsabilidade civil do Estado, a regra é a sua configuração na hipótese de atos ilícitos. A doutrina,
contudo, tem admitido a responsabilidade civil do Estado por ato LÍCITO em duas situações:
a) expressa previsão legal (ex.: responsabilidade da União por danos provocados por atentados terroristas contra
aeronaves de matrícula brasileira, na forma da Lei 10.744/2003); e
b) sacrifício desproporcional ao particular (ex.: ato jurídico que determina o fechamento permanente de rua para tráfego
de veículos, inviabilizando a continuidade de atividades econômicas prestadas por proprietários de postos de gasolina ou
de estacionamento de veículos).
Cite-se como exemplo julgado recente e IMPORTANTE constante do INFO 738 DO STF. O Supremo entendeu que o
Estado deve indenizar prejuízo causado a empresa privada, concessionária de serviço público, pela implementação de
política econômica (POLÍTICA DE PREÇOS TABELADOS PELO ESTADO – intervenção indireta do Estado na
Economia por DIREÇÃO). Em razão do congelamento de preços determinado por lei (“Plano Cruzado”), o Estado impôs
à empresa prejuízo financeiro, uma vez que a VARIG teve congeladas as suas tarifas enquanto os seus custos aumentaram,
alterando bruscamente o equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão celebrado com a União.
Foram DOIS os fundamentos do Supremo Tribunal Federal. Em primeiro lugar, o Tribunal constatou que MESMO O
ATO LÍCITO DO ESTADO GERA RESPONSABILIDADE OBJETIVA e mesmo os atos legislativos, se geraram
“prejuízos específicos, expressos e demonstrados” ensejam a reparação do dano ao particular. Isso porque – lembrem-se
– o Brasil adotou a teoria da responsabilidade objetiva com base no risco administrativo (basta a configuração do dano
e a verificação do nexo de causalidade entre aquele e a ação estatal para se impor o dever do Estado de indenizar).
O segundo fundamento foi a obrigatoriedade de o Estado manter o equilíbrio econômico financeiro dos contratos
administrativos (no caso, havia cláusula contratual que estipularia a correspondência entre as tarifas a serem aplicadas e
os fatores de custo da atividade objeto do contrato de concessão). O STF destacou que a manutenção do equilíbrio
econômico e financeiro do negócio administrativo tem como fonte o art. 37, XXI, da CF (“mantidas as condições efetivas
da proposta”) e decorre do princípio da segurança jurídica.
Leia com atenção o seguinte trecho do Informativo n. 738:
“A Ministra Cármen Lúcia ponderou que os atos que comporiam o “Plano Cruzado” — conquanto NÃO tivessem se
afastado do princípio da legalidade, porque plenamente justificados por imperioso interesse do Estado e da sociedade
brasileira — teriam provocado diretamente danos à recorrida. Esclareceu que a empresa nada poderia providenciar
contra o que lhe fora determinado, pois jungida às regras da concessão de serviço público. Repisou que NÃO se estaria
a discutir a legalidade da decisão política. Salientou que, no entanto, os atos administrativos, mesmo os legislativos,
submeter-seiam, em um Estado de Direito, aos ditames constitucionais. Assim, inconteste que o Estado deveria ser
responsabilizado pela prática de ATOS LÍCITOS quando deles decorressem prejuízos específicos, expressos e
demonstrados. Na condição de concessionária, não poderia a companhia esquivar-se dos danos, uma vez que não deteria
liberdade para atuar conforme sua conveniência. Destacou que a comprovação dos prejuízos ocorrera nas instâncias
próprias de exame do acervo fático-probatório. Por fim, considerou irretocável a decisão recorrida, fundada na teoria
da responsabilidade do Estado por ato lícito”. RE 571969/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.3.2014. (RE-571969)
No campo da responsabilidade objetiva do Estado, a ilicitude desloca-se da conduta estatal para o resultado (dano
antijurídico). Independentemente da conduta do agente (lícita ou ilícita), a responsabilidade do Estado restará configurada
quando comprovado o dano ilícito, anormal, desproporcional, causado à vítima. Portanto, ainda que a conduta estatal
seja lícita, restará caracterizada a responsabilidade do Estado quando demonstrada a ilicitude do dano.
OBS.: Esquematizando
Responsabilidade por ato ilício: decorre do princípio da LEGALIDADE;
Responsabilidade por ato LÍCITO: decorre do princípio da ISONOMIA.
6. PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
6.1. CONDUTA
A conduta administrativa (fato administrativo) é o primeiro elemento necessário à responsabilização estatal. O Estado
somente pode ser responsabilizado pela ATUAÇÃO ou OMISSÃO de seus agentes públicos. É preciso, portanto,
demonstrar que o dano tem relação direta com o exercício da função pública ou a omissão relevante dos agentes
públicos.
Conforme assinalado anteriormente, não apenas a conduta administrativa ilícita, mas também a conduta lícita causadora
de danos desproporcionais, acarreta a responsabilidade do Estado.
6.2. DANO
O segundo elemento fundamental para responsabilização do Estado é a comprovação do dano que pode ser definido
como lesão a determinado bem jurídico da vítima. O dano pode ser dividido em duas categorias:
a) material ou patrimonial: lesão ao patrimônio da vítima, avaliado pecuniariamente. O dano material, por sua vez,
divide-se em duas espécies:
a.1) dano emergente: representa a diminuição efetiva e imediata do patrimônio da vítima (ex.: dano suportado pela
destruição do veículo e custos médicos);
a.2) lucro cessante: é a diminuição potencial do patrimônio (ex.: na hipótese de o veículo destruído ser como táxi, o
lesado deixará de receber o ganho normalmente esperado com sua atividade profissional);
b) moral ou extrapatrimonial: lesão aos bens personalíssimos, tais como a honra, a imagem e a reputação do lesado.
IMPORTANTE!! As indenizações por danos materiais e morais, oriundos do mesmo fato, são passíveis de cumulação
(Súmula 37 do STJ). Enquanto o dano material deve ser devidamente comprovado pela vítima, o dano moral existe
in re ipsa, ou seja, decorre do ato lesivo.
Da mesma forma, é admitida a cumulação das indenizações por danos estéticos e morais desde que os valores possam ser
apurados e quantificados de maneira autônoma (Súmula 387 do STJ).
O dano moral pode ser suportado não apenas por pessoas físicas, mas também por pessoas jurídicas, tendo em vista,
neste último caso, a lesão à sua honra OBJETIVA, como nome e imagem, por exemplo (Súmula 227 do STJ). Ao
contrário da honra subjetiva, que tem relação com aquilo que cada ser humano pensa sobre si próprio, a honra objetiva
está ligada à reputação da pessoa, física ou jurídica, perante a sociedade.
A jurisprudência do STJ tem afirmado a inconstitucionalidade da tarifação legal da indenização por danos morais, que
deve ser fixada em cada caso concreto levando-se em consideração a efetiva extensão do dano suportado pela vítima,
tendo em vista o disposto no art. 5.º, V e X, da CRFB. Nesse sentido, a Súmula 281 do STJ dispõe: “A indenização por
dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa”.
Candidato discorra sobre a TEORIA DO DUPLO EFEITO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
É importante frisar que um mesmo ato pode ensejar um dano anormal a alguns administrados e não a outros. Exemplo:
uma rua desativada (fechada) que passa na frente de um posto de gasolina, neste caso, causou-se um dano anormal ao
posto que pode ensejar uma indenização. Mas em reação aos moradores vizinhos não há que falar genericamente em
indenização, a não ser que também comprovem um dano anormal.
“Tal situação em que o mesmo ato gera o dever de indenizar determinada pessoa, mas não enseja a reparação em relação
a outras é o que a doutrina denominou TEORIA DO DUPLO EFEITO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS: o mesmo ato
administrativo pode vir a causar um dano específico/anormal para determinada pessoa e para outra não causar dano
passível de indenização. Ou seja, é o mesmo ato causando efeitos diversos em pessoas diversas e não se pode embasar um
pedido de indenização no fato de outrem ter sido indenizado, ainda que pelo mesmo ato. ” (MATHEUS CARVALHO)
Obs: o STF reapreciou a matéria e confirmou, por 6 x 5, que apenas o ressarcimento decorrente dos ATOS DOLOSOS
DE IMPROBIDADE SÃO IMPRESCRITÍVEIS.
• Ações de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil: estão sujeitas à prescrição (são
prescritíveis) (RE 669069/MG).
Tudo bem. Entendi que as ações propostas pelo Estado buscando o ressarcimento ao erário decorrente de ilícito civil
são prescritíveis. A pergunta que surge em seguida é: qual o prazo prescricional?
Este é um debate que ainda vai se acirrar bastante. Por enquanto, temos duas correntes:
· 3 anos, com base no art. 206, § 3º, V, do CC (prescreve em três anos a pretensão de reparação civil);
· 5 anos, aplicando-se, com base no princípio da isonomia, o prazo trazido pelo Decreto 20.910/32. Este dispositivo
prevê que o prazo prescricional para ações propostas contra a Fazenda Pública é de cinco anos. Logo, o mesmo prazo
deveria ser aplicado para as ações ajuizadas pela Fazenda Pública.
Prazo de 3 anos: acórdão mantido pelo STF
No julgamento acima explicado, o Tribunal de origem adotou a 1ª corrente (prazo de 3 anos) e o STF manteve a decisão.
Vale ressaltar, no entanto, que o objeto do recurso extraordinário não era esse, de forma que a questão ainda se encontra
em aberto na Corte. Penso que não é possível afirmar ainda que se trata da posição do STF. No entanto, como foi trazido
no Informativo, poderá ser cobrado nas provas. Fique atento com o enunciado da questão ("segundo o STF" ou "segundo
o STJ").
Prazo de 5 anos: posição pacífica do STJ
(...) 4. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a prescrição contra a Fazenda Pública é quinquenal,
mesmo em ações indenizatórias, uma vez que é regida pelo Decreto 20.910/32, norma especial que prevalece sobre lei
geral. (...)
5. O STJ tem entendimento jurisprudencial no sentido de que o prazo prescricional da Fazenda Pública deve ser o mesmo
prazo previsto no Decreto 20.910/32, em razão do princípio da isonomia. (…) (STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp
768.400/DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 03/11/2015)
12. DENUNCIAÇÃO DA LIDE
Rafael Oliveira destaca que há polêmica quanto ao cabimento de denunciação a lide pelo Estado, ou seja, se o Estado pode
denunciar da lide o servidor público, nos casos de ressarcimento? O servidor, por lei, é o responsável pelos danos causados
a terceiros. Art. 70, III, NCPC.
Há três entendimentos:
A 1ª corrente é a tese do STJ, que entende que a denunciação da lide seria uma FACULDADE DO ESTADO, e não um
dever/direito. Por ser faculdade e não um direito subjetivo, o juiz da causa pode negar a denunciação, fazendo as
ponderações do caso concreto. Ademais, ao indeferir a denunciação, nada impede que o Estado interponha posterior
ação regressiva contra o agente. O problema dessa interpretação, é que na prática o STJ abre espaço para que cada tribunal
tenha seu próprio entendimento. Isso gera insegurança jurídica e a desequilíbrio no tratamento federativo. (STJ, 1. Seção,
AgRg nos EREsp 136.614/SP Rel. Min. Castro Meira, DJ 09.08.2004)
A 2ª corrente é a tese defendida pelo professor Yussef Said Cahal, e pela professora Di Pietro. Para eles, a denunciação
pode ocorrer dependendo da hipótese surgida. Há uma diferenciação: na situação em que a vítima aciona o Estado e
não identifica/individualiza o agente público causador do dano, o Estado não pode denunciar a lide, pois a ação está
fundamentada na responsabilização civil do Estado. Não cabe esta denunciação, pois estaríamos inserindo na ação a
discussão da culpa, ainda que indiretamente, havendo um retardamento quanto ao ressarcimento da vítima, frustrando o
art. 37 § 6°. Por outro lado, quando a vítima individualiza o servidor e traz o elemento culpa na própria demanda, o Estado
poderia denunciar da lide, pois o Estado não estaria prolongando a discussão, considerando que a própria vítima iniciou a
discussão da culpa.
Tem prevalecido, no entanto, a 3ª corrente defendida por José dos Santos Carvalho Filho (dentre outros autores), e
NÃO SE ADMITE A DENUNCIAÇÃO À LIDE (para provas no RJ: Súmula 50 do TJRJ, que expressamente proíbe a
denunciação da lide nas ações propostas em face do Estado). O argumento principal é de que essa denunciação da lide
violaria o art. 37 § 6° da CF, porque a intenção deste artigo (interpretação teleológica) é facilitar o ressarcimento
à vítima, retirando dos seus ombros o ônus da culpa. A denunciação da lide, ao trazer a discussão da culpa na ação
intentada pelo particular, frustraria o objetivo do art. 37 § 6° da CF. Nesse sentido: José dos Santos Carvalho Filho, Celso
Antônio Bandeira de Mello, Diogo de Figueiredo Moreira Neto e TJRJ.
De fato, no mérito da ação de reparação civil em face do Estado, a princípio, discutir-se-ão apenas os elementos conduta
do agente, dano causado a um particular e nexo causal (responsabilidade objetiva). Sendo assim, nesta ação, não se
discutirão elementos subjetivos (dolo e culpa), os quais são irrelevantes e desnecessários ao eventual ressarcimento do
particular.
Se assim o fosse, acrescentar esses elementos no mérito da ação ensejaria uma ampliação do conjunto probatório,
retardando o feito e prejudicando a vítima, além de se discutir a culpa como um fato novo, vedado em caso de denunciação
à lide.
Cite-se, todavia, que Leonardo Carneiro da Cunha e Maria Sylvia Di Pietro entendem, com razão, que é possível a
denunciação à lide de servidor em ação indenizatória proposta contra o Estado, quando, desde a petição inicial, o autor
invoque como causa de pedir o mesmo fundamento da litisdenunciação: a culpa dos agentes estatais. Não haveria, nesse
caso, indevida ampliação cognitiva, já que a resolução da demanda principal (particular x Estado) e da litisdenunciação
(Estado x agente público) exigiria as provas dos mesmos elementos.
Assim, por exemplo, em casos de omissão estatal causadora de dano, que redunda, via de regra, em responsabilidade
subjetiva do Estado, seria possível a denunciação à lide, pois haveria que se provar a culpa dos servidores responsáveis,
desde a demanda entre particular e Estado. Ou seja, a culpa seria um elemento presente já na causa de pedir da petição
inicial, não sendo novidade na denunciação à lide.
Igualmente, seria possível a litisdenunciação nos casos em que a conduta estatal narrada, por si só, revelasse dolo ou culpa
dos agentes públicos, tal como ocorre com a prática de tortura por policiais: a prova do fato satisfaz a prova da culpa.
Logo, também nessa hipótese, não haveria ampliação da cognição judicial a obstar ou retardar o direito perseguido pelo
autor, devendo-se garantir, por isso, o direito de o Estado denunciar o agente público culpado pelo ilícito.
IMPORTANTE! Matheus Carvalho destaca que: Não foram proferidas decisões recentes acerca do tema e que a doutrina
mantém o posicionamento de que a denunciação à lide não é admitida, o que dificulta o candidato que está respondendo
a provas objetivas de concursos. Nesse caso, orienta-se ao aluno que leia atentamente a questão que, normalmente, requer
a resposta com base no entendimento doutrinário ou jurisprudencial.
Resumindo! Doutrina majoritaríssima não admite a denunciação da lide, mas para o STJ, é uma faculdade do Estado.
ATENÇÃO! DISTINGUISHIG COM RELAÇÃO AO ENTENDIMENTO DO STJ (SEGUNDO COACHING PGE)
É firme a jurisprudência do STJ no sentido de que não é admissível a denunciação da lide embasada no art. 125, II, do
CPC "quando introduzir fundamento novo à causa, estranho ao processo principal, apto a provocar uma lide paralela, a
exigir ampla dilação probatória, o que tumultuaria a lide originária, indo de encontro aos princípios da celeridade e
economia processuais, que essa modalidade de intervenção de terceiros busca atender" (STJ. 4ª Turma. REsp 701.868-
PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/2/2014). (NÃO É O QUE VIMOS ACIMA)
A Corte possui vários outros julgados no mesmo sentido: "o instituto previsto no art. 70, III, do CPC [correspondente ao
art. 125, II, do NCPC] se torna inviável quando enseja a introdução de discussão paralela à causa originária, porquanto
iria de encontro aos princípios da celeridade e da economia processuais, especialmente diante da ausência de prejuízo
irreparável ao recorrente, que poderá exercer seu direito em ação autônoma" (STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp
262.285/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/03/2013).
Portanto, em relação à denunciação de servidores à lide nos casos de responsabilização do Estado, fixe o entendimento
majoritário para as provas: é incabível, em razão de a responsabilidade do Estado ser objetiva, e a dos servidores,
em ação de regresso, ser subjetiva. Haveria, nesse caso, ampliação da cognição, ou seja, o processo ganharia,
indevidamente, um elemento novo, que tenderia a retardar a prestação jurisdicional, em desfavor do particular
lesado por ato ilícito estatal.
Todavia, o debate não finda por aí.
Com efeito, Leonardo Carneiro da Cunha e Maria Sylvia Di Pietro entendem, com razão, que é possível a denunciação
à lide de servidor em ação indenizatória proposta contra o Estado, quando, desde a petição inicial, o autor invoque
como causa de pedir o mesmo fundamento da litisdenunciação: a culpa dos agentes estatais. Não haveria, nesse caso,
indevida ampliação cognitiva, já que a resolução da demanda principal (particular x Estado) e da litisdenunciação (Estado
x agente público) exigiria as provas dos mesmos elementos.
Assim, por exemplo, em casos de omissão estatal causadora de dano, que redunda, via de regra, em responsabilidade
subjetiva do Estado, seria possível a denunciação à lide, pois haveria que se provar a culpa dos servidores responsáveis,
desde a demanda entre particular e Estado. Ou seja, a culpa seria um elemento presente já na causa de pedir da petição
inicial, não sendo novidade na denunciação à lide.
Igualmente, seria possível a litisdenunciação nos casos em que a conduta estatal narrada, por si só, revelasse dolo ou
culpa dos agentes públicos, tal como ocorre com a prática de tortura por policiais: a prova do fato satisfaz a prova da
culpa. Logo, também nessa hipótese, não haveria ampliação da cognição judicial a obstar ou retardar o direito perseguido
pelo autor, devendo-se garantir, por isso, o direito de o Estado denunciar o agente público culpado pelo ilícito.
Nesses casos, verifica-se um distinguishing em relação à conhecida jurisprudência do STJ que inadmite a litisdenunciação.
É dizer: os fundamentos de que se vale o STJ para não aceitar a intervenção nos casos de ações indenizatórias propostas
contra o Estado NÃO se aplicam: 1) quando a causa de pedir da demanda originária for responsabilidade subjetiva
do Estado; e 2) quando, ainda que a demanda se estribe em responsabilidade objetiva, a prova da culpa do agente
estatal seja satisfeita com a prova do fato.
Uma última observação: em provas práticas, mesmo que o caso cuide de hipótese de não cabimento da litisdenunciação,
recomenda-se abrir um tópico de poucas linhas defendendo a intervenção. Isso porque, em peças de defesa, exige-se
postura do candidato como advogado público, que deve defender o ente federado, mesmo à base de teses minoritárias. Na
PGE/PI, por exemplo, o CESPE exigiu que os candidatos defendessem a aplicação do prazo em quadrúplo para
contestação de ação popular, o que contraria pacífica jurisprudência do STJ.
LICITAÇÃO
1. CONCEITO E FINALIDADES
Preconiza o art. 37, XXI, CF/88 XXI:
Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante
processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
Assim, ao contrário dos particulares, que dispõem de ampla liberdade quando pretendem adquirir, alienar, locar bens, contratar
a execução de obras e serviços, o Poder Público, para fazê-lo, necessita adotar um procedimento preliminar rigorosamente
determinado e preestabelecido na conformidade da lei. Tal procedimento denomina-se licitação.
A licitação estriba-se na ideia de competição e visa atender ao princípio da impessoalidade (art. 37, caput, da CF/88). O autor
sustenta que o referido baluarte, avalizado pelo princípio da igualdade, impõe a necessidade de licitação em qualquer
circunstância que se destine a investir terceiros no desfrute de situação jurídica especial a que mais de um poderia aspirar.
Os termos do art. 3º da Lei 8.666/93 estabelecem os objetivos do procedimento:
A licitação destina-se a garantir a observância do (1) princípio constitucional da isonomia, (2) a seleção da proposta mais
vantajosa para a administração e a (3) promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em
estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da
publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes
são correlatos.
São, pois, finalidades da licitação: (1) concretizar o princípio constitucional da isonomia; (2) concretizar o princípio da
eficiência e economicidade, por meio da seleção da proposta mais vantajosa à Administração; (3) promover o desenvolvimento
sustentável.
O QUE SE ENTENDE POR FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO?
De acordo com o professor Rafael Carvalho: "Por esta teoria, o instituto na licitação não se presta, tão somente, para que a
Administração realize a contratação de bens e serviços a um menor custo; o referido instituto tem espectro mais abrangente,
servindo como instrumento para o atendimento de finalidades públicas outras, consagradas constitucionalmente".
Vale ressaltar que o STF já se manifestou sobre o tema na ADI 1923. Vejamos:
As dispensas de licitação instituídas no art. 24, XXIV, da Lei nº 8.666/93 e no art. 12, §3º, da Lei nº 9.637/98 têm a finalidade
que a doutrina contemporânea denomina de função regulatória da licitação, através da qual a licitação passa a ser também vista
como mecanismo de indução de determinadas práticas sociais benéficas, fomentando a atuação de organizações sociais
que já ostentem, à época da contratação, o título de qualificação, e que por isso sejam reconhecidamente colaboradoras do
Poder Público no desempenho dos deveres constitucionais no campo dos serviços sociais.
2. LEGISLAÇÃO E COMPETÊNCIA SOBRE LICITAÇÃO:
A competência para legislar sobre licitações e contratos incumbe aos quatro entes políticos: União, Estados, DF e Município.
A União é competente para legislar sobre normas gerais de licitação, sendo franqueada aos demais entes a possibilidade de
legislarem sobre aspectos específicos.
O que seriam normas gerais de licitação?
Bandeira de Mello enumera três hipóteses em que as normas de licitação ostentam cariz genérico. São elas:
a) Preceitos que estabelecem os princípios, os fundamentos, as diretrizes e os critérios básicos para as ulteriores leis
específicas;
b) Preceitos que podem ser aplicados uniformemente em todo o território nacional, por se adscreverem a aspectos
nacionalmente indiferenciados.
c) Preceitos de proteção ao interesse público, que somente poderiam ser, por razões técnicas ou geográficas, editados pelo ente
central.
Fora dessa seara, os entes locais estão autorizados a legislar sobre licitações e contratos da melhor forma que atenda às suas
peculiaridades. Nesse sentido, decidiu o STF que “lei municipal pode proibir que os agentes políticos do município (e seus
parentes) mantenham contrato com o Poder Público municipal”. Afirmou a Corte que a norma municipal objetada teria sido
“editada com base no art. 30, II, da CF e estaria de acordo com os princípios da impessoalidade e da moralidade administrativa,
bem como teria a função de prevenir eventuais lesões ao interesse público e ao patrimônio do município, sem restringir a
competição entre os licitantes” (STF. 2ª Turma. RE 423560/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 29/05/2012).
3. PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO:
O art. 3º da Lei n.º 8.666/93 enumera os seguintes princípios da licitação:
a) Legalidade: repercute na exigência de adstrição do procedimento aos termos da lei, franqueando direito subjetivo a todos os
participantes e demais interessados à fiel observância dos trâmites legais;
b) Impessoalidade: veda a adoção de favoritismos ou perseguições;
c) Moralidade: impõe o dever de agir conforme os padrões de ética;
d) Igualdade: decorre na impossibilidade de se estabelecer regras tendentes a restringir ou frustrar o caráter competitivo da
licitação;
e) Publicidade: determina o dever de transparência, em prol não apenas dos participantes, mas de toda a coletividade;
f) Probidade administrativa: desdobramento da moralidade, mas cujo desrespeito redunda em ato de improbidade a ser atacado
por ação própria;
g) Vinculação ao instrumento convocatório: necessidade de a Administração respeitar as “regras do jogo”, estabelecidas no
edital ou carta-convite;
h) Julgamento objetivo: impede que a licitação seja decidida sob o influxo de subjetivismos, impressões ou propósitos pessoais
ou sentimentos dos membros da comissão julgadora.
ATENÇÃO – APLICAÇÃO POSITIVA DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE: O princípio da igualdade consagrado na Lei
Geral de Licitações, mas de matriz constitucional, não apenas veda a adoção de práticas desarrazoadamente discriminatórias,
como também impõe medidas destinadas a recompor materialmente um estado de desigualdade congênito.
Assim, não fere, mas, bem ao revés, concretiza o princípio da igualdade as regras da Lei n.º 8.666/93 que estabelecem
determinadas situações jurídicas de vantagem a empresas brasileiras ou de porte econômico apequenado (ME e EPP).
4. QUEM ESTÁ OBRIGADO A LICITAR:
Por força do art. 37, caput e inciso XXI, da Constituição Federal, estão obrigadas à licitação pública tanto as pessoas de Direito
Público de capacidade política quanto às entidades de suas Administrações indiretas, isto é: autarquias, empresas públicas,
sociedades de economia mista e fundações governamentais.
A EC n.º 19/98 alterou a redação do art. 22, XXVII, da CF/88, fazendo nele constar o seguinte comando:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas,
autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as
empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III.
Por sua vez, a norma inserta no sobredito art. 173, §º, III, da CF/88 está expressa nos seguintes termos:
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será
permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em
lei.
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que
explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre:
III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da administração pública.
O dispositivo constitucional sobredito foi regulamentado através da Lei n. 13.303/2016, que foi além, traçando um estatuto
aplicável não só às empresas estatais exploradoras de atividade econômica, como também aquelas que explorem atividade
econômica sob monopólio da União ou prestem serviço público.
Anteriormente à sua edição, entendia-se no âmbito doutrinário que, em razão do art. 173, § 1º, III, da CF/88 referir-se
expressamente apenas às empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividade econômica em sentido
estrito, as estatais prestadoras de serviços públicos seriam regidas pela Lei n.º 8.666/93, ao passo que as exploradoras de
atividade econômica seriam guiadas pela lei referida no art. 22, XXVII, editada em conformidade com o art. 173, § 1º, III.
No entanto, conforme já abordado, a lei que trata sobre o estatuto jurídico das empresas estatais, além de regular aquelas que
exercem atividade econômica em sentido estrito, estabelece a sua aplicação cogente também às estatais que prestam serviços
públicos. Ante tal previsão, a discussão doutrinária perde importância, ao menos por ora.
Ainda antes da edição da referida lei, na visão do autor, as estatais devem licitar, independentemente de serem prestadoras
de serviço público ou exploradoras de atividade econômica. Isso porque, a par da dicção do art. 173, §1º, II, cujo teor lhes
insere na seara privada de mercado, a CF/88, em vários outros dispositivos, determina o dever de licitar a TODOS os integrantes
da Administração (art. 5, LXXIII; art. 14, §9º; art. 49, IX; art. 52; art. 53; art. 54; e art. 71). Todavia, importa pontuar que a
licitação não pode se erguer como óbice à própria atividade negocial desenvolvida pela estatal, pois do contrário sua
criação e finalidades restariam desafiadas. O dever de licitar, portanto, deve ser abalizado no contexto concorrencial, a fim
de que as atividades empreendidas pelas empresas do Estado sejam efetivas e expeditas, satisfazendo, assim, as exigências do
mercado econômico.
Alguns autores, na linha de Celso Antônio Bandeira de Mello, advertem que o dever de licitar das sociedades de economia
mista e empresas públicas exploradoras de atividade econômica se adstringiria aos bens e serviços vinculados às atividades-
meio, dispensando-as, pois, da sujeição ao procedimento licitatório apenas para aquisição de bens e serviços relacionados
às suas atividades-fim.
Como se vê da redação do art. 28, § 3º, da Lei n.º 13.303/2016, este entendimento doutrinário foi encampado pelo legislador,
que dispensou as empresas públicas e sociedades de economia mista de realizar procedimento licitatório para a
comercialização, prestação ou execução, de forma direta, de produtos, serviços ou obras especificamente relacionados
com seus respectivos objetos sociais. Dessa forma, o posicionamento firmado no âmbito da doutrina passa a ser amparado
legalmente.
Em relação aos Serviços Sociais Autônomos, impera consignar que o TCU, no Acórdão n.º 1.337/2003, alterou o
entendimento anterior, passando a compreender que esses entes privados não se subordinam de forma estrita aos termos da Lei
n.º 8.666/93, podendo possuir regulamentos próprios, que, contudo, devem ser compatíveis com a lei.
Da mesma forma, as OSCIP’s, em regra, não precisam se submeter ao regime licitatório para a realização de suas contratações
ordinárias. Contudo, quando firmam termo de parceria, submetem-se ao regulamento próprio para contratação com empregos
de recursos públicos, devendo observar os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade
e eficiência.
As Organizações Sociais (OS’s), na mesma toada, não estão sujeitas à rigidez da Lei Geral de Licitações. O art. 17 da Lei
Federal n.º 9.637/98, todavia, impõe o dever de a organização publicar, em até noventa dias, contados da assinatura do contrato
de gestão, regulamento próprio, contendo os procedimentos que adotará para a contratação de obras, serviços e compras, com
recursos provenientes do Poder Público.
5. OS PRESSUPOSTOS DA LICITAÇÃO:
A realização de qualquer licitação depende da ocorrência de certos pressupostos, catalogados em três espécies:
a) Pressuposto lógico: a existência de pluralidade de objetos e de ofertantes. Se o objeto for singular ou se o fornecedor for
exclusivo, não será possível a competição. A singularidade apresenta-se sob três formas: 1) singular em sentido absoluto: é o
bem de que só exista uma unidade; 2) singular em razão de evento externo: ainda que haja várias unidades, uma apenas se
destaca por conta de elementos a ela exteriores, como, por exemplo, um prédio cuja localização lhe particulariza; 3) singular
em razão da natureza íntima do objeto: é o bem de natureza artística, técnica ou científica, caracterizada pelo estilo ou cunho
pessoal do autor, como, por exemplo, um projeto de arquitetura.
b) Pressuposto jurídico: a utilidade da licitação como meio para se galgar determinado resultado, concernente ao interesse
público. Quando nem mesmo em tese a licitação não possa cumprir tal função, seria descabido realizá-la. Embora fosse
logicamente possível, seria ilógico fazê-lo em face do interesse jurídico público a que se tem que atender. Exemplifica tal
hipótese a desnecessidade de licitar em casos de calamidade pública e urgência.
c) Pressuposto fático: a existência de interessados em disputar o certame, sob pena de restar deserta a licitação.
6. LICITAÇÃO DISPENSÁVEL (CASOS ESPECIAIS):
Embora a realização de contratos pela Administração Pública exija, em regra, a obediência ao certame licitatório (princípio da
obrigatoriedade), o legislador, autorizado pela ressalva contida no art. 37, XXI, da CF/88, estabeleceu hipóteses de adjudicação
direta do objeto contratual pretendido. Faltaria à hipótese algum dos pressupostos mencionados por Celso Antônio Bandeira
de Mello.
No caso da dispensa, em regra, a competição é possível, sendo, contudo, desnecessária por entender o legislador que o
procedimento seria inconveniente. Sendo assim, nos casos enumerados no art. 24 da Lei n.º 8.666/93, terá o gestor a
discricionariedade para realizar ou não a licitação.
1. Licitação dispensável pelo valor e restrição ao fracionamento do objeto contratual:
Segundo o art. 24, I e II, é dispensável para contratação de obras e serviços de engenharia de valor limitado a R$ 15.000,00
(10% do teto da modalidade convite – art. 23, I, “a”), bem como de outros serviços e compras cuja importância não exceda R$
8.000,00 00 (10% do teto da modalidade convite – art. 23, II, “a”).
Na esteira de Lucas Rocha Furtado, alerta-se para IMPOSSIBILIDADE de se fracionar ou desmembrar partes de obra,
compra ou serviço, afim de que o valor possa ser enquadrado dentro dos limites de dispensa. Não que seja absolutamente
vedado o fracionamento, ex vi do art. 23, §1º, da Lei n.º 8.666/93. O que se proíbe é o fracionamento com intuito de enquadrar
possíveis partes do objeto do futuro contrato dentro de valores que legitimassem a dispensa de licitação ou a adoção de
modalidade de licitação menos rigorosa.
Impõe-se consignar, ainda, que os percentuais acima deduzidos são dobrados, passando a 20% dos valores da modalidade
convite, caso os contratantes sejam consórcios públicos, sociedade de economia mista, empresas públicas ou fundações e
autarquias, qualificadas como Agências Executivas (art. 24, §1º).
2. Emergência ou calamidade pública: o problema da emergência “fabricada”:
O art. 24, IV, da Lei n.º 8.666/93 estatui a possibilidade de dispensa de licitação nos casos de emergência ou de calamidade
pública, quando caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança
ou a saúde da coletividade. A autorização para dispensa, contudo, é condicionada à contratação do que seja estritamente
necessário ao atendimento da situação emergencial, limitando-se o prazo para conclusão da parcela contratada a 180 dias
consecutivos, ininterruptos e improrrogáveis.
A emergência, de que trata o art. 24, IV, da Lei n.º 8.666/93, instaura, portanto, uma situação grave, que obriga a Administração
à adjudicação direta do objeto contratual tendente a evitar ou mitigar os riscos provocados pelo dano iminente e suas eventuais
consequências.
Tal emergência associa-se, via de regra, a um evento inesperado, inusitado, imprevisível, ou até mesmo previsível, mas de
gravidade excepcional, para o qual a Administração não se planejou, nem contribuiu por meio de uma conduta comissiva ou
omissiva. Nestes casos, está-se diante da chamada emergência real, cuja causa remonta a fatores de ordem objetiva.
Contudo, a emergência também pode decorrer de um planejamento deficiente, de falta de diligência, inércia, ou incúria ou má
administração. São os casos da chamada emergência ficta ou fabricada, cuja causa diz com fatores subjetivos.
A autorização para dispensa de licitação de que trata o art. 24, IV, entretanto, NÃO leva em consideração a causa da
emergência, mas sim a falta de tempo para seguir o procedimento normal e rotineiro de solução da crise, a fim de afastar
o risco de dano iminente e efetivo ou amenizar suas consequências nocivas.
É sabido que o entendimento tradicional do TCU não admitia a contratação emergencial em casos de emergência ficta ou
fabricada.
Contudo, atualmente predomina, tanto no âmbito do TCU como do STJ, a posição da doutrina majoritária. Portanto, em suma,
para que seja dispensável a licitação com fundamento no artigo 24, inciso IV, da Lei nº 8.666/1993, NÃO se afigura necessária
a demonstração de que a emergência não decorreu de fatores de ordem subjetiva, relacionados à falta de planejamento
adequado, de desídia, de incúria ou de má gestão por parte do gestor público.
Basta, pois, que seja atestada a existência de uma situação de crise emergencial, tendente a colocar em risco a saúde e a
segurança coletividade, demandando, assim, uma reação expedita da Administração no sentido de dissipar o perigo real ou de
minorar as suas consequências.
Em ambos os casos – emergência real ou “fabricada” -, contudo, é de rigor que a contratação direta cumpra os seguintes
requisitos, enumerados pelo TCU:
a) existência de fundado risco de dano iminente, efetivo e gravoso;
b) demonstração de que a contratação é o meio adequado para afastar este perigo concreto;
c) insuficiência de tempo para observar o procedimento normal e rotineiro de solução da crise (por exemplo, abertura de
licitação) e consequente necessidade de atuação imediata e urgente da Administração;
d) limitação do objeto do contrato às obras, aos bens e aos serviços estritamente necessários à eliminação do perigo concreto;
e
e) limitação da duração do contrato ao período suficiente para a observância do procedimento normal e rotineiro de solução da
crise (por exemplo, até o encerramento da licitação), não podendo ultrapassar cento e oitenta dias a contar do surgimento da
situação emergencial.
3. Licitação deserta
Verifica-se a hipótese de licitação deserta (art. 24, V, da Lei n.º 8.666/93) quando não acudirem interessados ao certame, sendo
a repetição do procedimento desvantajosa em relação à contratação direta, que deverá, caso seja levada a cabo, obedecer todas
as condições preestabelecidas no instrumento convocatório anterior.
Impõe-se mencionar que, no âmbito da advocacia pública federal, há Orientação Normativa da AGU no sentido de que essa
situação de dispensa de licitação não pode ser utilizada nas situações em que o certame deserto tenha sido instaurado na
modalidade convite.
Entretanto, o ponto que merece, de fato, destaque refere-se à possibilidade ou impossibilidade de se adjudicar diretamente o
objeto contratado, com base no art. 24, V, em casos de serviços contínuos.
Seria possível prorrogar, com esteio no art. 57, II, a prestação de um serviço contínuo, contratado inicialmente em razão
de a licitação primitiva ter restado deserta?
Não há dispositivo legal que vede tal expediente. Uma vez firmado um contrato de serviço contínuo, mesmo que através de
dispensa de licitação, o regramento de seus prazos deve respeitar as normas que lhes são próprias, admitindo-se prorrogações
para tais contratos, com fulcro no art. 57, II.
Importa pontuar, todavia, que a prorrogação de um serviço contínuo sempre envolve um juízo de “vantajosidade” para
Administração Pública. Dessa forma, embora não haja impedimento legal para a prorrogação de contrato inicialmente
formalizado com base no art. 24, V, deve ela ser precedida de justificativa formal que destaque o custo-benefício positivo da
continuação da avença, bem como a impossibilidade de novo certame ser realizado, sem que dele decorra prejuízos à
Administração.
4. Contratação de órgão da Administração:
Dispõe o art. 24, VIII, que é dispensável a licitação para aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens
produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração Pública e que tenha sido criado para esse
fim específico em data anterior à vigência da Lei n.º 8.666/93, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado
no mercado.
Portanto, respeitados os requisitos e limites do dispositivo acima mencionados, quando o Estado pretende bem ou serviço
disponível em seu seio organizacional, é difícil compreender que os busque externamente àquilo que está a seu alcance e que
pode obter sem o necessário e dispendioso certame licitatório.
A pessoa jurídica de público interno, contudo, NÃO pode valer-se da autorização legal encartada no inciso VIII do art.
24 para contratar estatais exploradoras de atividade econômica. É que esses entes da Administração indireta estão inseridos
em um meio concorrencial privado, não podendo ser a eles disponibilizados benefícios não extensíveis às demais empresas
integrantes do mercado.
5. Contratação de remanescente de obra, serviço ou fornecimento:
Conforme disciplina o art. 24, XI, é dispensável a licitação para contratação de remanescente de obra, serviço ou fornecimento,
em consequência de rescisão contratual, atendendo-se, para tanto, à ordem de classificação da licitação anterior e às
condições oferecidas pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido.
É certo que os demais licitantes imediatamente classificados abaixo do licitante vencedor não são obrigados a aceitar dar
continuidade à execução do contrato. Mas se aceitarem, não lhes é dado barganhar alterações nas condições já fixadas na avença
anteriormente encetada com o primeiro classificado do certame.
É muito importante asseverar que essa hipótese de contratação direta se refere à situação em que já tenha ocorrido o início
da execução do objeto. Na circunstância em que houve vencedor no procedimento licitatório, porém este não assinou o
contrato, não aceitou ou retirou o termo equivalente, NÃO é possível a adjudicação direta, sob o fundamento da
contratação de remanescente. Nesse caso, a Administração poderá convocar os licitantes remanescentes, na forma do art. 64,
§2º, para fazê-lo no lugar do vencedor.
E mais: ainda que tenha sido iniciada a execução do objeto sem cobertura contratual, NÃO pode o gestor público
utilizar-se do comando encartado no art. 24, XI, pois a incidência desse dispositivo exige o início da execução FORMAL
do contrato pelo licitante vencedor (FCC, PGE/RN, 3ª fase, 2015).
7 . LICITAÇÃO INEXIGÍVEL:
Diferentemente da dispensa, em que a competição é possível, na inexigibilidade, a competição é inviável, tornando inócuo
o procedimento licitatório, cuja razão de ser é, justamente, fomentar a disputa entre os interessados, a fim de angariar a melhor
proposta. Em outras palavras, a utilização da licitação, nesses casos, não cumpriria com o interesse público, sendo, bem ao
revés, mero formalismo prejudicial à economicidade administrativa e à celeridade na satisfação de necessidades públicas.
Faltaria, pois, o pressuposto jurídico mencionado por Celso Antônio Bandeira de Mello.
Cumpre salientar que a relação dos casos de inexigibilidade, ao contrário dos casos de dispensa, não é exaustiva. O que
os incisos I a III do art. 25 estabelecem é, simplesmente, uma prévia e já resoluta indicação de hipóteses nas quais a competição
seria inviável, sem, contudo, excluir outras situações não catalogadas, mas igualmente possíveis.
1. Aquisição com fornecedor exclusivo:
Dispõe o art. 25, I, da Lei n.º 8.666/93 que é inexigível a licitação para aquisição de materiais, equipamentos ou gêneros que
só possam ser fornecidos por fornecedor exclusivo. O dispositivo disciplina, ainda, a vedação à preferência por marcas e a
necessidade de comprovação da exclusividade, por meio de certidão fornecidas pelas autoridades competentes.
José dos Santos Carvalho Filho aduz que a exclusividade pode ser absoluta ou relativa, sendo certo que ambas autorizam a
contratação direta. A primeira refere-se à existência de um único fornecedor no país, ao passo que a segunda diz com a
exclusividade na praça onde deva ocorrer a aquisição do bem. Seria viável, por exemplo, que um Município pequeno, onde
exista apenas um posto de combustível, adquirisse gasolina para os carros oficiais em outras cidades, a pretexto de satisfazer o
princípio da obrigatoriedade da licitação? Óbvio que não.
Por sua vez, com relação à noção de “praça”, Diógenes Gasparini esclarece:
É mister distinguir a noção de praça quando se trata de produção de bem da praça comercial. Esta é aferível em função do
vulto do contrato. Se a licitação for do tipo convite, considerar-se-á a exclusividade da localidade da futura contratação; se
for tomada de preços, levar-se-á em consideração a exclusividade no registro cadastral; se for concorrência, exclusivo é o
que for único no país.
No que tange à escolha de marcas, conforme já assentado, ela deve ser evitada, em razão de tolher o caráter competitivo da
licitação e, consequentemente, a consecução da melhor proposta para Administração. Tal assertiva, no entanto, não pode ser
interpretada de forma incondicional ou absoluta, pois, em situações excepcionais, o objeto pretendido pela Administração
depende impreterivelmente da escolha de uma marca. Portanto, em situações específicas, a vedação contida no inciso I do art.
25 não constitui óbice a escolha de marcas, mediante adjudicação direta por exclusividade do fornecedor.
2. Serviços técnicos, de natureza singular a serem prestados por empresas ou profissionais especializados:
Assevera o art. 25, II, da Lei n.º 8.666/93 que a licitação é inexigível para contratação dos serviços técnicos enumerados no art.
13 da mesma lei, desde que possuam natureza singular e devam ser executados por profissionais de notória especialização. A
norma estabelece, contudo, a impossibilidade de contratação, com base nesse inciso, de serviços de publicidade e divulgação.
Assim, a inexigibilidade ora descrita pressupõe a presença CUMULATIVA dos seguintes requisitos:
(i) Tratar-se de serviço técnico, constante do art. 13 da Lei n.º 8.666/93;
(ii) Referir-se a profissional ou empresa de notória especialização;
(iii) Restar caracterizada a natureza singular do serviço a ser prestado.
É importante anotar que a “notória especialização” exigida é conceito relativo, pois pode variar de acordo com a localidade da
prestação contratual. Assim, determinado profissional pode deter atributos ou específica formação que lhe franqueie status de
notório especialista em uma pequena cidade ou região, embora seu trabalho e reputação sejam inteiramente desconhecidos na
capital ou no país. Essa relatividade deve ser respeitada e apurada no caso concreto.
O objeto singular, por sua vez, caracteriza-se por guardar certo grau de complexidade maior do que o normal. Celso Antônio
Bandeira de Mello aduz que um serviço deve ser havido como singular quando nele tem de interferir, como requisito de
satisfatório atendimento da necessidade administrativa, um componente criativo de seu autor, envolvendo o estilo, o traço,
a engenhosidade, a especial habilidade, a contribuição intelectual ou a argúcia de quem o executa.
O referido inciso não justifica, portanto, a contratação de serviços rotineiros, como o patrocínio de causas jurídicas de
massa ou multitudinárias, cujo grau de dificuldade não extrapole os esforços cotidianos de um causídico de capacidade
intelectual mediana. A singularidade imposta pelo art. 25 restringe a hipótese a serviços específicos, delimitados e
extraordinários, que requeiram expertise não verificada nos quadros da Administração.
Nesse ponto, impera mencionar que os assessoramentos jurídicos, naturais à advocacia pública, e o patrocínio ou defesa habitual
das diversas causas jurídicas propostas em favor ou contra os entes administrativos caracterizam-se como atividades próprias
da carreira funcional, para cujo o ingresso é necessária a prévia aprovação em concurso público, na forma do art. 37, II, da
CF/88.
3. Profissional do setor artístico:
A seu turno, o inciso III do art. 25 preconiza ser inexigível a licitação para contratação de profissional do setor artístico, desde
que seja consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública. A inviabilidade de competição, nessa hipótese, decorre
da impossibilidade de se realizar uma aferição minimamente objetiva do conteúdo a ser contratado, dada a subjetividade natural
ao gosto pelas artes.
4. Credenciamento:
Conforme já registrado, a licitação é inexigível quando houver inviabilidade de competição, sendo as três hipóteses referidas
no art. 25 da Lei n.º 8.666/93 meramente exemplificativas, pois o legislador não teria como prever todas as situações em que a
competição seria impossível.
Nesse contexto, o instituto jurídico denominado “credenciamento” é uma hipótese de inexigibilidade de licitação, em razão da
inviabilidade de competição pela necessidade da contratação de todos (leia-se, o maior número possível de interessados). Ou
seja, se a Administração pretende mediante chamamento público contratar todos, entre eles não haverá competição, bastando
que cumpram as exigências legais e contratuais. É o que demonstra Jorge Ulisses Jacoby Fernandes:
“Se a Administração convoca todos os profissionais de determinado setor, dispondo-se a contratar todos os que tiverem
interesse e que satisfaçam os requisitos estabelecidos, fixando ela própria o valor que se dispõe a pagar, os possíveis licitantes
não competirão, no estrito sentido da palavra, inviabilizando a competição, uma vez que a todos foi assegurada a contratação.
É a figura do ‘credenciamento’, que o Tribunal de Contas da União vem recomendando para a contratação de serviços
médicos, jurídicos e de treinamento.”
O sistema de credenciamento traz muitas vantagens para a Administração, desburocratizando suas ações pela diminuição do
número de processos licitatórios e pelo melhor uso dos recursos disponíveis. Nesse sentido, as lições de Sônia Y. K. Tanaka:
“A vantagem do referido sistema é justamente essa: após a avaliação de toda a documentação encaminhada pelos interessados,
estes restarão credenciados junto à Administração Pública, que poderá, a qualquer momento e independentemente de qualquer
outro procedimento, contratá-los para a prestação dos serviços que se fizerem necessários, observadas as condições
estabelecidas no instrumento convocatório, inclusive o preço.”
O exemplo mais comum de “credenciamento” é a contratação de hospitais privados para prestação de serviços ao SUS. A
Administração torna público o instrumento convocatório, pretendendo contratar o maior número de hospitais interessados que
aceitem as condições contratuais e cumpram as exigências legais.
Uma analogia didática seria a relação LICITAÇÃO X CONCURSO PÚBLICO – CREDENCIAMENTO X EXAME DA OAB.
Na primeira, há viabilidade e necessidade de competição, em razão de o número de vagas ser limitado; na segunda, não há
competição, bastando que os candidatos cumpram os requisitos exigidos no edital.
8. JUSTIFICAÇÃO DE DISPENSAS E INEXIGIBILIDADES:
Mesmo nas hipóteses de adjudicação direta do objeto contratual, a Administração Pública deve obediência aos princípios do
Direito Administrativo, notadamente o da moralidade e o da publicidade. Nesse contexto, o art. 26 da Lei n.º 8.666/93 exige
expressamente a obediência “condicionantes de eficácia” e a certos “elementos de instrução”.
a) Condicionantes de eficácia: as dispensas (excluindo as de pequeno valor) e as inexigibilidades devem ser justificadas
e comunicadas, dentro do prazo de 3 (três) dias, à autoridade superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial no
prazo de 5 (cinco) dias.
b) Elementos de instrução: o parágrafo único do art. 26 reclama, em processos de contratação direta, os seguintes
requisitos: (i) caracterização da situação emergencial ou calamitosa (quando for o caso); (ii) razão da escolha do fornecedor ou
executante; (iii) justificativa do preço; (iv) documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens serão alocados
(quando for o caso).
Destacam-se as exigências de apresentação da razão da escolha do fornecedor ou executante e a justificativa de preços,
cabíveis em todas as hipóteses de dispensa e inexigibilidade. A caracterização da situação emergencial e a aprovação dos
projetos de pesquisa serão necessárias apenas nas respectivas hipóteses.
Reitere-se, ainda, que o comando encartado no caput do art. 26 exclui as hipóteses dos incisos I e II do art. 24, que tratam da
dispensa para contratação de objeto de “pequeno valor”, da obediência aos condicionantes de eficácia.
9. MODALIDADES DE LICITAÇÃO
Nos termos do art. 22 da Lei n.º 8.666/93, são modalidades de licitação: (i) a concorrência; (ii) a tomada de preços; (iii) o
convite; (iv) o concurso; (v) e o leilão. Celso Antônio Bandeira de Mello adverte, ainda, que a Lei n.º 10.520/2002 estabeleceu
uma sexta modalidade de licitação (o “pregão”), mas que, por razões didáticas, será abordada em material próprio.
1. Concorrência:
É a modalidade licitatória genérica destinada a transações de maior vulto, precedida de ampla publicidade, à qual podem afluir
quaisquer interessados que preencham as condições estabelecidas.
Dispõe o art. 23 que será obrigatória a utilização da concorrência para obras e serviços de engenharia cujo valor seja superior
a R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), bem como para compras e outros serviços cuja importância esteja acima
de R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais).
Todavia, embora a concorrência tenha vocação para contratos de maior expressão econômica, em algumas hipóteses, será ela
OBRIGATÓRIA, independentemente do valor a ser contratado. São estas as hipóteses:
(i) Na compra de bens imóveis;
(ii) Nas alienações de bens imóveis para as quais não haja adotado a modalidade leilão;
(iii) Nas concessões de direito real de uso;
(iv) Nas licitações internacionais, via de regra;
(v) Nos contratos de empreitada integral;
(vi) Nas concessões de obra ou serviço público;
(vii) Para efetuar-se o registro de preços.
ATENÇÃO – Licitações de “alta complexidade técnica”, de “grande vulto” e de “imenso vulto”:
Nos termos do art. 30, §9º, da Lei Geral de Licitações, entende-se por “licitação de alta complexidade técnica” aquela cujo
objeto envolva “alta especialização, como fator de extrema relevância para garantir a execução do objeto a ser contratado”, ou
para garantir que não haja risco de comprometimento da “continuidade da prestação de serviços públicos essenciais”.
Por sua vez, as licitações de “grande vulto” são aquelas em que, na forma do art. 6, V, da Lei n.º 8.666/93, os valores estimados
para o objeto contratual excedam em 25 vezes o limite a partir do qual é exigida a modalidade concorrência para obras e
serviços de engenharia (25 x 1,5mi = R$ 37,5 mi).
Em ambas as situações – licitações de “alta complexidade técnica” e de “grande vulto” – a Administração poderá exigir dos
licitantes a metodologia da execução, que será, para fins de aceitação ou recusa, avaliada ANTES da análise dos preços (art.
30, §8º).
Por fim as licitações de “imenso vulto” são aquelas em que o valor estimado do objeto da licitação ou de um conjunto de
licitações “sucessivas ou simultâneas” exceda em 100 vezes o limite previsto para obrigatoriedade de concorrência para obras
e serviços de engenharia (100 x 1,5mi = R$ 150 mi). Nessa espécie de licitação, o procedimento será iniciado, obrigatoriamente,
por uma AUDIÊNCIA PÚBLICA concedida pela autoridade responsável, com antecedência mínima de 15 dias úteis da data
prevista para publicação do edital e divulgada pelos mesmos meios previstos para licitação (art. 39).
2. Tomada de preços:
A tomada de preços, por sua vez, destina-se a transações de vulto médio, da qual participam pessoas previamente inscritas em
cadastro administrativo, bem aqueles que preencham as condições exigidas para o cadastramento até o terceiro dia anterior à
data fixada para o recebimento das propostas.
Dispõe o art. 23 que será utilizada a tomada de preços para obras e serviços de engenharia cujo valor esteja compreendido entre
R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) e R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), bem como para compras e
outros serviços cuja importância esteja alocada entre R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) e R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta
mil reais). Ressalta-se, contudo, que nas hipóteses em que é possível a tomada de preços, é facultada a utilização da
concorrência.
Quanto aos não cadastrados que pretendam afluir ao certame, na esteira de Marçal Justen Filho, importa pontuar que o prazo
de três dias se refere à apresentação da documentação necessária ao cadastramento, não podendo ser eles prejudicados pela
eventual demora da Administração no processamento do cadastro.
Caso seja indeferido o cadastro e, consequentemente, a participação no procedimento licitatório, poderá o pretenso licitante
interpor recurso administrativo, que terá efeito suspensivo, eis que o referido indeferimento equivalerá a uma inabilitação (art.
109, §2º)
3. Convite:
O convite é a modalidade licitatória cabível perante relações que envolvam os valores mais baixos, na qual Administração
convoca pelo menos três pessoas que operam no ramo pertinente ao objeto, cadastrados ou não, e afixa em local próprio cópia
do instrumento convocatório, estendendo o mesmo convite aos cadastrados na área de atuação referente ao futuro ajuste, para
que, caso queiram, manifestem interesse até 24 horas antes da apresentação das propostas.
Celso Antônio Bandeira de Mello entende que, mesmo os não cadastrados, simetricamente ao disposto em relação à tomada de
preços, terão direito a disputar o convite se, tomando conhecimento dele, requerem o cadastramento no prazo de três dias antes
do recebimento das propostas.
Dispõe o art. 23 que será utilizado o convite para obras e serviços de engenharia cujo valor não supere R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais), bem como para compras e outros serviços cuja importância se limite a R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).
Ressalta-se, contudo, que nas hipóteses em que é possível o convite, é facultada a utilização de tomada de preços ou
concorrência.
Mesmo que não se atinja o número mínimo de três licitantes, por limitações de mercado ou desinteresse dos convidados, o
certame poderá ser realizado, desde que tais circunstâncias sejam justificadas no processo; caso contrário haveria invalidade e
o convite teria que ser repetido (art. 22, §7º)
Por outro lado, se existirem na praça mais de três interessados, a cada novo convite realizado para o objeto idêntico ou
assemelhado deverá ser convidado pelo menos mais um, enquanto não existirem convidados cadastrados não convocados nas
últimas licitações (art. 22, §6º).
4. Concurso:
É a modalidade prevista na legislação para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante prêmios ou
remuneração aos vencedores, conforme critérios apresentados pelo edital, que deve ser publicado na imprensa oficial com
antecedência mínima de 45 dias.
ATENÇÃO – Duas regras muito cobradas sobre a modalidade concurso:
O julgamento do concurso é realizado por comissão especial integrada por pessoas de reputação ilibada e reconhecido
conhecimento da matéria, sejam ou NÃO servidores públicos (art. 51, §5º)
Os tipos de licitação – “menor preço”, “melhor técnica”, “técnica e preço” ou “maior lance ou oferta” – NÃO se aplicam ao
concurso, na forma do art. 45, §1º, da Lei n.º 8.666/93.
5Leilão:
É a modalidade licitatória utilizável para venda de bens moveis inservíveis para a Administração ou legalmente apreendidos
ou adquiridos por força de execução judicial. O leilão serve ainda para venda de bens imóveis cuja aquisição haja derivado de
procedimento judicial ou dação em pagamento, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao da avaliação.
A utilização do leilão é restrita aos casos em que o valor isolado ou global de avaliação deles NÃO exceder o limite fixado
para compras por tomada de preços (art. 17, §6º).
Quadro comparativo:
10. ETAPAS INTERNA E EXTERNA DA LICITAÇÃO:
As licitações possuem uma etapa interna e uma externa. A primeira é aquela em que a promotora do certame, em seu recinto,
pratica todos os atos condicionais à sua abertura, antes, pois, de implementar a convocação dos interessados. A segunda, por
sua vez, deflagra-se com a publicação do edital ou do convite, momento em que se tornam conhecidas as condições de
participação e disputa; nesse instante, irrompe-se a oportunidade de relacionamento entre a Administração e os que se propõem
a afluir ao certame.
Na fase interna da licitação, avultam dois temas: o dos requisitos para instaurá-la e o das vedações. A etapa externa, por outro
lado, compõe-se das chamadas “fases da licitação”, que serão abordadas, pela relevância, no tópico XI.
1. Requisitos para instauração das licitações:
É necessária a observância dos seguintes requisitos, para ser instaurado o procedimento licitatório destinado à contratação de:
a) Obras ou serviços:
(i) Projeto básico, isto é, o conjunto de elementos definidores do objeto suficientes para a estimativa de seu custo final e
prazo de execução;
(ii) Orçamento que detalhe a composição dos custos unitários;
(iii) Recursos orçamentários previstos, para assegurar o pagamento das obrigações a serem saldadas no exercício;
(iv) Quando for o caso, estar o produto da obra nas metas do Plano Plurianual.
b) Compras:
(i) Adequada caracterização do objeto;
(ii) Indicação de recursos orçamentários, para acobertar a obrigação.
A previsão orçamentária de que trata o inciso III do § 2º do art. 7º da Lei de Licitações NÃO disponibilidade financeira.
Na linha de Joel de Menezes Niebuhr, o dispositivo exige apenas que se disponha dos recursos no exercício financeiro
correspondente ao contrato, isto é, que haja previsão dos recursos na respectiva lei orçamentária. Cumpre insistir —
porque deveras frequente é a confusão — que a Administração não precisa dispor, à época da licitação, do montante
necessário para arcar com o contrato; ela precisa apenas indicar que há previsões no orçamento para realizar os
pagamentos futuros (STJ. 2ª Turma. REsp 1.141.021-SP, rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/08/2012);
Atentar para o fato de que a Lei n.º 8.666/93 não exige como requisito para instauração do procedimento licitatório a
prévia aprovação do PROJETO EXECUTIVO, pois este pode ser desenvolvido concomitantemente com a execução das
obras e serviços (Art. 7º, §1º). A doutrina, inclusive, critica bastante essa previsão legal, pois, segundo sustenta, a prévia
aprovação também do projeto executivo, como requisito para deflagração do certame, tornaria o procedimento mais
seguro e previsível.
2. Vedações nas licitações:
a) Quanto ao OBJETO, é vedado:
(i) Incluir nele a obtenção de recursos financeiros para sua execução, salvo no caso de empreendimentos a serem
executados e explorados no regime de concessão, que obedecerá a legislação específica (art. 7º, §3º).
(ii) Incluir nele o fornecimento de materiais sem previsão de quantitativos ou que não correspondam às previsões do
projeto básico ou executivo (art. 7º, §4º).
(iii) Incluir nele bens e serviços sem similaridade, ou indicar marcas ou características e especificações exclusivas, salvo
quando tecnicamente justificável fazê-lo (art. 7º, §5º).
b) Quanto aos pretensos LICITANTES, é vedado participar do certame:
(i) Membro da comissão de licitação, assim como o servidor do órgão ou entidade responsável pela licitação ou
contratante de seu objeto;
(ii) Os que estiverem impedidos, em decorrência de sanções administrativas;
(iii) O autor do projeto básico ou executivo, seja pessoa física ou jurídica;
(iv) A empresa, ainda que em consórcio, da qual o autor do projeto seja dirigente, gerente, responsável técnico,
subcontratado ou detentor de mais de 5% do capital com direito a voto ou controlador.
A violação das vedações importa nulidade do certame e responsabilização de quem lhe tenha dado causa (art. 7º, §6º);
A vedação à participação direta ou indireta do autor dos projetos básico e executivo não obsta a que a licitação inclua
em seu objeto a elaboração do projeto EXECUTIVO como encargo do licitante.
11. FASES EXTERNAS DA LICITAÇÃO:
Conforme acima anunciado, o procedimento licitatório divide-se em duas etapas: a interna e a externa. Na interna, importam
dois temas: requisitos para instauração das licitações e vedações nas licitações. Na externa, por sua vez, estudam-se as fases
propriamente ditas do certame. São elas:
Ato pelo qual são convocados os interessados e estabelecidas as condições que irão
1. Edital: reger a licitação;
2. Habilitação: Ato pelo qual são admitidos os proponentes aptos;
3. Julgamento: Ato pelo qual são ordenadas as propostas admitidas;
4. Homologação: Ato pelo qual se confirma a regularidade do desenvolvimento do procedimento anterior;
5. Adjudicação: Ato pelo qual é selecionado o proponente que haja apresentado a proposta havida como
satisfatória.
Obs. 1: Na modalidade convite inexiste a fase de habilitação, ante o pequeno vulto do bem ou serviço do certame.
Esta é presumida. A própria entidade licitadora convoca, por escrito, três fornecedores que de antemão repute
habilitados.
Obs. 2: Na modalidade concorrência a habilitação realiza-se no bojo de uma dada licitação específica para ela. Na
tomada de preços a habilitação decorre do registro cadastral, sendo, por isso, inespecífica para uma ou outra
licitação, mesmo que seja solicitada por ocasião de determinado certame e em vista dele.
Obs. 3: É possível que o objeto pretendido pela Administração seja adjudicado por mais de um licitante. Isso
ocorrerá nos casos em que seja justificável a divisão da execução de uma obra, de vulto notável, em diversos lotes
licitados em uma só concorrência. A referida possibilidade também poderá acontecer na compra de bens de natureza
divisível e desde que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo (art. 23, §7º). Tais práticas tendem a ampliar a
competitividade e potencializar a eficiência e rapidez porventura necessárias.
Obs. 4: É pressuposto da habilitação a regularidade fiscal. Todavia, segundo Bandeira de Mello, a exigência de débitos
fiscais só pode ser inabilitante se o montante deles puder comprometer a “garantia do cumprimento das
obrigações” que possam resultar da eventual avença. Isso porque, nos termos do art. 37, XXI, da CF/88, as exigências
de qualificação dos pretensos licitantes devem se limitar à garantia do cumprimento das obrigações a serem satisfeitas
no futuro contrato. Desse modo, a regularidade fiscal não pode irromper o limite do estritamente necessário ao
cumprimento dessas relações jurídicas. Ressalva-se desse raciocínio, contudo, os débitos com a Seguridade Social, que,
mesmo mínimos, justificam a inabilitação do participante, eis que para eles há comando constitucional específico (art.
195, §3º).
Obs. 5: A qualificação técnica é um dos elementos para habilitação do licitante. Quanto a esse particular, embora o art.
30, II e §1º, I, da Lei n.º 8.666/93 refira-se apenas à capacidade técnica profissional, exigindo das pessoas que irão
assumir a execução contratual experiência em serviço similar, o STJ, na esteira de Marçal Justen Filho, assentou que,
além disso, o edital poderá exigir também que a própria empresa já tenha atuado em serviço similar. Cuida-se da
chamada qualificação técnica operacional, que se soma à qualificação técnica profissional, para fins de habilitação
(informativo 533).
Obs. 6: Nos consórcios, para efeitos de qualificação técnica, é ADMITIDO o somatório dos quantitativos de cada
empresa, ao passo que, para fins de qualificação-econômico-financeira, é ADMITIDO o somatório dos valores de cada
qual, porém na proporção da respectiva participação.
Obs. 7: Nos termos do art. 32, §1º, da Lei n.º 8.666/93, a exigência dos documentos comprobatórios de habilitação
pode ser dispensada, total ou parcialmente, no leilão, concurso, convite e no fornecimento de bens para pronta entrega.
Obs. 8: Se à licitação comparecer apenas um interessado, deve-se apurar normalmente sua habilitação. Se habilitado, sua
proposta será examinada tal como ocorreria se outros disputantes existissem. Não há óbice algum a que lhe seja
adjudicado o objeto da licitação, em sendo regular a sua proposta, pelo fato de inexistirem outros interessados. O
mesmo ocorrerá se vários comparecerem, mas apenas um for habilitado.
Obs. 9: É possível que um licitante já habilitado sofra, em momento posterior, mutações detrimentosas em sua
capacitação. É dizer: fato superveniente à habilitação pode alterar a capacidade do licitante, eliminando-a em
quaisquer de seus aspectos ou reduzindo-a a níveis inferiores ao exigido. É o que ocorre, por exemplo, com a
decretação de falência posterior à fase de habilitação.
Obs. 10: O instituto da LICITAÇÃO FRUSTRADA ocorre quando todas as propostas colhidas no procedimento restem
desclassificadas, em razão de estarem em desconformidade com o edital. Nessa situação, nos termos do art. 48, §3º,
poderá a Administração fixar o prazo de oito dias, ou três dias no caso de convite, para que os respectivos autores
apresentem outras, escoimadas dos vícios anteriormente verificados (CUIDADO! Não confundir com LICITAÇÃO
DESERTA, sendo esta a que não comparecem interessados).
Obs. 11: A jurisprudência tem perfilhado o entendimento segundo o qual a adjudicação da licitação NÃO confere
direito subjetivo do primeiro classificado à assinatura do contrato. O instituto franqueia apenas o direito a que o
primeiro classificado seja contratado, caso a Administração leve a cabo seu intento em relação ao objeto pretendido.
Obs. 12: Segundo o TCU, nos serviços de natureza divisível, a adjudicação deve se operar por item, e não por preço
global. Isso significa, por exemplo, que em licitações para contratação de serviços terceirizados de “limpeza, vigilância
e portaria”, ainda que seja realizado apenas um procedimento licitatório, o julgamento deve ser feito item por item. Esse
entendimento parte da premissa segundo a qual a excelência em determinado segmento a ser prestado não redunda,
necessariamente, na qualidade do outro serviço. Não seria vantajoso para Administração, por exemplo, contratar uma
empresa que melhor fornecesse limpeza, mas que tivesse desempenho desastroso na segurança. Essa concepção
potencializa, a um só tempo, a competitividade da licitação e a eficiência no serviço público (FCC, PGE/RO, 2ª fase,
2011).
Obs. 13: As leis de licitações editadas após a Lei n.º 8.666/93, em geral, adotaram a inversão das fases de habilitação e
julgamento, classificando-se primeiro as propostas, para só então proceder-se à análise dos documentos de capacitação.
Tal inversão tem por escopo acelerar o procedimento, porquanto não será necessária a análise dos documentos de todos
os licitantes, mas apenas do licitante vencedor, analisando-se, em ordem, os dos demais apenas se os melhores colocados
restarem inabilitados. A referida inversão de fases é uma tendência legislativa que pretende não repetir o vício de
morosidade da Lei n.º 8.666/93. São exemplos de leis que adotam a inversão de fases (julgamento -> habilitação): Lei
n.º 8.987/95 (Lei Geral de Concessões), Lei n.º 10.520/02 (Pregão), Lei n.º 11.079/04 (PPPs), Lei n.º 12.462/11 (RDC).
Contudo, CUIDADO: nas leis de serviços públicos – Lei n.º 8.987/95 e Lei n.º 11.079/04 – a inversão de fases é uma
FACULDADE DO ADMINISTRADOR.
12. TIPOS DE LICITAÇÃO:
Inicialmente, cumpre alertar que, vez por outra, cobram-se em concursos públicos questões confundindo os TIPOS de licitação
com as MODALIDADES de licitação. Portanto, adverte-se, de logo, que concorrência, tomada de preço, convite, concurso e
leilão NÃO são tipos de licitação, mas sim modalidades. Da mesma forma, “menor preço”, “melhor técnica”, “técnica e preço”
e “melhor lance” NÃO são modalidades de licitação, mas sim tipos.
O termo “tipos”, de fato, é confuso, razão pela qual Celso Antônio Bandeira de Mello, tecendo críticas a ele, afirma ser mais
adequado falar-se em “critérios de julgamento” da licitação.
Proposta que resulta da média ponderada das notas atribuídas aos fatores técnica e preço,
valorados na conformidade dos critérios editalícios;
3. Técnica e preço:
4. Maior lance ou oferta: Proposta ofertada em alienação de bens ou concessão de direito real de uso, sendo
vencedora a mais volumosa.
Obs. 1: Celso Antônio Bandeira de Mello adverte que nem sempre o preço nominalmente mais baixo é o “menor preço”.
Segundo o autor, devem ser considerados rendimentos e condições de pagamento, por serem estes critérios relevantes na
definição objetiva da melhor aquisição;
Obs. 2: O critério “melhor técnica”, embora o nome indique o contrário, também leva em conta o preço das ofertas, em um
segundo momento de negociação. Assim, por exemplo, se nenhum dos autores das propostas tecnicamente melhor alocadas
aquiescer em reduzir o preço, terminará por ser escolhida a de menor preço, conquanto tecnicamente inferior a todas as demais.
Obs. 3: A regra geral é a do julgamento pelo “menor preço”, visto que tanto a licitação de “melhor técnica” quanto a de “técnica
e preço” só tem cabimento em três hipóteses: (i) para serviços de natureza predominantemente intelectual (art. 46); (ii) para
contratação de bens e serviços de informática (art. 45, §4)º; (iii) excepcionalmente, para fornecimento de bens e execução de
obra ou prestação de serviço de grande vulto majoritariamente dependentes de tecnologia sofisticada e domínio restrito (art. 46,
§3º).
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
6.2 REVISÃO
A revisão refere-se aos fatos SUPERVENIENTES e IMPREVISÍVEIS (ex.: caso fortuito e força maior) ou PREVISÍVEIS,
MAS DE CONSEQUÊNCIAS INCALCULÁVEIS (ex.: alteração unilateral do contrato) que desequilibram a equação
econômica do contrato (arts. 58, § 2.º, 65, II, “d” e §§ 5.º e 6.º, da Lei 8.666/1993).
Em virtude da impossibilidade de se prever a amplitude do desequilíbrio, constatado o fato superveniente, as partes
formalizarão a revisão do contrato para restaurar o equilíbrio perdido.
Discute-se a possibilidade de revisão dos contratos administrativos no caso em que os salários dos empregados da contratada
foram alterados por acordo ou convenção coletiva de trabalho. O STJ NÃO tem admitido a revisão dos contratos nessa
hipótese, pois o dissídio coletivo não é fato imprevisível. Nesse caso, as variações dos salários decorrentes do dissídio estão
inseridas no reajuste anual pactuado pelas partes (STJ, 2ª Turma, REsp 650.613/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ
23.11.2007, p. 454).
Entendi que o reajuste depende de previsão contratual, mas e a revisão, também deve constar do edital licitatório?
NÃO. A revisão representa um DIREITO DO CONTRATADO e um DEVER do Estado que deve ser observado
INDEPENDENTEMENTE DE PREVISÃO CONTRATUAL sempre na hipótese em que for constatado o desequilíbrio
do ajuste em decorrência de fato imprevisível ou previsível, mas de consequência incalculável.
Da mesma forma, a revisão, ao contrário do reajuste, não incide apenas em relação às cláusulas econômicas ou de preço,
mas, também, em relação às cláusulas regulamentares (ex.: revisão para prorrogar o prazo de execução do contrato).
Em suma, as características da revisão são:
a) decorre diretamente da lei (incide independentemente de previsão contratual);
b) incide sobre qualquer cláusula contratual (cláusulas regulamentares ou econômicas);
c) refere-se aos fatos imprevisíveis ou previsíveis, mas de consequências incalculáveis;
d) “restaura” o equilíbrio econômico-financeiro do contrato; e
e) não depende de periodicidade mínima.
6.3 ATUALIZAÇÃO FINANCEIRA
A atualização monetária, assim como o reajuste, tem o objetivo de preservar o valor do contrato em razão da inflação. De
acordo com o art. 40, XIV, “c”, da Lei 8.666/1993, a atualização financeira dos valores contratados incide “desde a data
final do período de adimplemento de cada parcela até a data do efetivo pagamento”.
6.4 REPACTUAÇÃO
A repactuação de preços consiste na adequação do valor da contratação aos novos preços praticados no mercado, mediante
efetiva comprovação da variação dos custos de cada insumo do serviço prestado (variação esta que poderá ser inferior àquela
em índices gerais de preços).
As partes podem estipular a repactuação nos contratos de terceirização de serviços contínuos, que somente poderá ser
efetivada após o período de meses, e deverá considerar a variação de custos devidamente comprovada pela parte
contratada.
IMPORTANTE!! Ao contrário do reajuste, em que as partes estipulam o índice que reajustará automaticamente o valor do
contrato, a repactuação é implementada mediante a DEMONSTRAÇÃO ANALÍTICA DA VARIAÇÃO DOS
COMPONENTES DOS CUSTOS DO CONTRATO.
COMENTÁRIOS: No período em que dura um contrato administrativo, existe a possibilidade de que se rompa o equilíbrio
econômico-financeiro que existia na época em que o ajuste foi celebrado, que deve ser restaurado, por força do disposto no
art. 37, XXI, da Constituição Federal.
Quando tal ruptura ocorre por força maior, caso fortuito, fato do príncipe, qualquer fato imprevisível ou previsível de efeitos
incalculáveis, o meio legal para restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro é a REVISÃO, disciplinada pelo artigo
65, inciso II, alínea “d” da Lei nº 8.666/1993.
Se a ruptura é causada pela variação corriqueira de preços ou custos, o restabelecimento do equilíbrio dá-se por meio do
REAJUSTE.
O REAJUSTE, por sua vez, pode ser divido em duas categorias: REAJUSTE EM SENTIDO ESTRITO e
REPACTUAÇÃO. O REAJUSTE EM SENTIDO ESTRITO consiste na aplicação automática de índices gerais, específicos
ou setoriais que refletem as elevações inflacionárias ou as reduções deflacionárias, tais como IGP-M, IPCA-E, etc. A
REPACTUAÇÃO de preços consiste na adequação do valor da contratação aos novos preços praticados no mercado, mediante
efetiva comprovação da variação dos custos de cada insumo do serviço prestado (variação esta que poderá ser inferior àquela
retratada em índices gerais de preços).
O REAJUSTE EM SENTIDO ESTRITO encontra previsão no art. 40, XI, da Lei 8.666/93, que dispõe que o edital da
licitação deverá conter “critério de reajuste, que deverá retratar a variação efetiva do custo de produção, admitida a adoção
de índices específicos ou setoriais, desde a data prevista para apresentação da proposta, ou do orçamento a que essa proposta
se referir, até a data do adimplemento de cada parcela”.
A REPACTUAÇÃO, embora não encontre previsão legal explícita, pode ser inferida do reconhecimento do inciso XI do art.
40 da Lei 8.666/93 de que o reajuste deverá retratar a variação efetiva do custo de produção e da menção, contida no § 8º do
art. 65, à variação do valor contratual para fazer face ao reajuste de preços previsto no próprio contrato.
De acordo com o artigo 5º do Decreto nº 2.271/1997, a REPACTUAÇÃO de preços possui aplicação limitada a contratos de
prestação de serviço contínuo. A Instrução Normativa nº 02/2008 do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão limita
ainda mais a aplicação da REPACTUAÇÃO de preços, uma vez que o artigo 37 a restringe a contratos de prestação de serviços
contínuos com dedicação exclusiva de mão de obra.
Assim, consoante a ON 23 da AGU, em se tratando de serviço contínuo, deve ser observado se há ou não dedicação exclusiva
de mão de obra. Se sim, pode-se falar em REPACTUAÇÃO. Se não, em REAJUSTE EM SENTIDO ESTRITO.
Ocorre dedicação exclusiva de mão de obra, por sua vez, quando os empregados do prestador de um serviço contínuo,
encarregados da execução de tal serviço, não o fazem para mais de um tomador, mas unicamente para o órgão ou entidade da
Administração Pública contratante.
7. DURAÇÃO DOS CONTRATOS
É tradicional a distinção entre contratos por prazo certo e contratos por escopo (ou objeto). Nos contratos por prazo certo, o
prazo contratual é fundamental para o cumprimento das obrigações contratadas. O contratado cumprirá as suas obrigações até
o final do prazo estabelecido no ajuste (ex.: na contratação de serviços de limpeza, a contratada deverá limpar a repartição
pública durante a vigência do prazo contratual). Considera-se extinto o contrato com o advento do termo final.
Por outro lado, nos contratos por escopo, o ajuste será cumprido, independentemente do prazo, com o cumprimento do objeto
contratual (ex.: no contrato para construção de determinado prédio público, o ajuste considera-se adimplido com a finalização
da construção, independentemente do tempo necessário). Os contratos somente se encerram com a entrega do objeto
contratado.
Regra geral da duração: vigência do crédito orçamentário
Os contratos administrativos possuem, necessariamente, prazo determinado (art. 57, § 3.º, da Lei 8.666/1993).
A duração dos contratos administrativos deve ficar adstrita à vigência dos respectivos créditos orçamentários (art. 57 da
Lei 8.666/1993 e art. 167, I e II, da CF). O intuito do legislador é admitir a contratação apenas nas hipóteses em que a
Administração tenha recursos necessários para pagar o contratado, garantindo-se, destarte, responsabilidade e planejamento
com os gastos públicos. Portanto, se créditos orçamentários estão previstos na lei orçamentária anual (art. 165, III, da
CF), os contratos possuem, em regra, prazo de até um ano, não podendo ultrapassar o exercício financeiro.
EXCEÇÕES: contratos com prazo superior à vigência do orçamento (art. 57 da Lei 8.666/1993 e na legislação especial):
Projetos previstos no Plano Plurianual
A primeira exceção à regra do prazo anual dos contratos refere-se aos projetos cujos produtos estejam contemplados nas
metas estabelecidas no PLANO PLURIANUAL, que poderão ser prorrogados se houver interesse da Administração e desde
que isso tenha sido previsto no ato convocatório (art. 57, I, da Lei 8.666/1993). Ex.: construção de um grande hospital ou
de uma rodovia.
Essa primeira exceção é justificada pelo planejamento em relação ao objeto que será contratado, pois a Lei do Plano Plurianual
ultrapassa o limite anual da lei orçamentária. Não obstante o prazo de quatro anos do Plano Plurianual, o art. 57, I, da Lei não
estabeleceu, no caso, limite máximo para duração desses contratos. Ademais, se houver previsão no instrumento convocatório,
a Administração poderá prorrogar o prazo inicial do contrato.
Serviços contínuos
A segunda exceção à anualidade dos contratos diz respeito à prestação de serviços executados de forma CONTÍNUA, que
poderão ter a sua duração prorrogada por iguais e sucessivos períodos visando à obtenção de preços e condições mais vantajosas
para a administração, limitada a 60 meses (art. 57, II, da Lei 8.666/1993). Admite-se, ainda, que, ao final do quinto ano, o
prazo contratual seja prorrogado, em caráter excepcional, por MAIS 12 MESES, totalizando seis anos, desde que haja
justificava e autorização da autoridade superior (art. 57, § 4.º, da Lei 8.666/1993). Ex.: serviços de limpeza, de conservação,
de vigilância, de manutenção.
Em razão da necessidade permanente do serviço (continuidade do atendimento do interesse público), é razoável admitir
a contratação por prazo superior a um ano, em vez de realização de licitações e contratações anuais, o que geraria custos
desnecessários ao Erário (princípio da economicidade). Na hipótese, a Administração já poderia estipular, desde logo, prazo
superior a um ano, mas NUNCA superior a cinco anos, devendo justificar a respectiva decisão.
ATENÇÃO!! É possível a prorrogação do prazo contratual “por iguais e sucessivos períodos”, na forma do art. 57, II, da Lei.
A prorrogação, no caso, depende de previsão no instrumento convocatório e no contrato, bem como deve ser
demonstrada a sua vantagem pela Administração.
Há controvérsia doutrinária sobre o prazo da prorrogação. Prevalece que o prazo da prorrogação NÃO PRECISA
CORRESPONDER AO PRAZO INICIAL DE VIGÊNCIA DO CONTRATO. A prorrogação pode ser efetivada por prazo
INFERIOR ou SUPERIOR ao inicialmente previsto, respeitado o limite máximo de 60 meses. Nesse sentido: Marçal
Justen Filho. Adotar essa para a AGU e procuradorias, sob pena de engessamento da Administração Pública.
Aluguel de equipamentos e utilização de programas de informática
A terceira exceção ao prazo anual relaciona-se com os contratos de aluguel de equipamentos e utilização de programas de
informática, cuja duração pode ser de até 48 meses (art. 57, IV, da Lei 8.666/1993). Ex.: aluguel de computadores.
Contratações previstas nos incisos IX, XIX, XXVIII e XXXI do art. 24 da Lei 8.666/1993
A quarta exceção ao prazo anual engloba as contratações diretas previstas nos incisos IX, XIX, XXVIII e XXXI do art. 24 da
Lei 8.666/1993, que poderão ter vigência por até 120 meses (dez anos), caso haja interesse da administração (art.
57, V, da Lei 8.666/1993).
Outras exceções ao prazo anual dos contratos
Os CONTRATOS PRIVADOS da Administração Pública, por exemplo, podem ter duração superior a um ano, tendo em
vista que o art. 62, § 3.º, I, da Lei 8.666/1993 determina a aplicação dos arts. 55 e 58 a 61 da referida Lei aos contratos regidos,
predominantemente, por normas de direito privado, silenciando em relação ao art. 57 que dispõe sobre a regra do prazo anual.
Ex.: inaplicabilidade da regra anual aos contratos de locação de imóveis.
De acordo com o TCU: “Os prazos estabelecidos no art. 57 da Lei 8.666/1993 NÃO se aplicam aos contratos de locação,
por força do que dispõe o art. 62, § 3.º, inciso I, da mesma lei” (TCU, Plenário, Acórdão 170/05, Rel. Min. Ubiratan
Aguiar, DOU 10.03.2005).
Da mesma forma, o art. 62, § 3.º, II, da Lei 8.666/1993 não impõe a aplicação da regra do prazo anual aos contratos em que a
Administração figure como parte usuária de serviço público. Ex.: contrato de fornecimento de energia elétrica ao Poder
Público.
IMPORTANTE!!
Por fim, é importante ressaltar que a regra do prazo anual dos contratos aplica-se exclusivamente aos casos em que a
Administração tenha a obrigação de pagar o contratado com recursos orçamentários (art. 57 da Lei 8.666/1993). Em
consequência, a regra do prazo anual é inaplicável às contratações que NÃO dependem de recursos orçamentários, bem
como às hipóteses ressalvadas por leis específicas. Ex.: concessão de serviço público (Lei 8.987/1995), pois a remuneração
do concessionário é efetivada, em regra, por meio de tarifa; concessão de serviço público especial – PPPs (art. 5.º, I, da
Lei 11.079/2004).
8. PRORROGAÇÃO DOS CONTRATOS
A regra é a licitação e a exceção é a prorrogação dos contratos. A continuidade da relação contratual, efetivada por meio da
alteração do prazo inicial de vigência, evita a realização de nova licitação para celebração de novo contrato. Portanto, a
prorrogação somente será válida se respeitar as exigências legais.
A prorrogação dos contratos administrativos deve cumprir os seguintes requisitos: (i) justificativa por escrito; (ii) autorização
da autoridade competente para celebração do contrato; (iii) manutenção das demais cláusulas do contrato; (iv) necessidade de
manutenção de equilíbrio econômico-financeiro do contrato; e (v) a prorrogação somente pode ocorrer nos casos expressamente
previstos na Lei. Não se devem admitir, portanto, as prorrogações automáticas ou tácitas.
A prorrogação é consensual (não pode ser imposta pela Administração) e pode ser feita por prazo inferior, igual ou superior
ao prazo inicialmente pactuado. (Entendimento da AGU e TCU)
O art. 57, § 1.º, da Lei 8.666/1993 estabelece as hipóteses de prorrogação relacionadas às situações imprevisíveis ou imputáveis
à Administração Pública, sem culpa, portanto, do contratado (ex.: alteração do projeto ou especificações, pela Administração;
superveniência de fato excepcional ou imprevisível, estranho à vontade das partes, que altere fundamentalmente as condições
de execução do contrato etc.).
Nos casos elencados no art. 57, incisos I (projetos previstos no Plano Plurianual), II (serviços contínuos), IV (aluguel de
equipamentos e utilização de programas de informática) e V (hipóteses previstas nos incisos IX, XIX, XXVIII e XXXI do art.
24), a prorrogação depende de PREVISÃO NO EDITAL e no CONTRATO. Por outro lado, nos casos dispostos no § 1.º do
art. 57 da Lei 8.666/1993 (culpa da Administração ou evento extraordinário), a prorrogação não precisa constar do instrumento
convocatório, pois a sua observância é imposta pela Lei com o objetivo de atender às circunstâncias excepcionais (sem culpa
do contratado) que retardaram o cumprimento do objeto contratual.
Ressalte-se, no entanto, que o TCU tem exigido que toda e qualquer prorrogação contratual observe, no mínimo, as
seguintes exigências:
a) existência de previsão para prorrogação no edital e no contrato;
b) objeto e escopo do contrato inalterados pela prorrogação;
c) interesse da Administração e do contratado declarados expressamente;
d) vantagem da prorrogação devidamente justificada nos autos do processo administrativo;
e) manutenção das condições de habilitação pelo contratado; e
f) preço contratado compatível com o mercado fornecedor do objeto contratado.
TCU, Súmula n. 191 – Torna-se, em princípio, indispensável a fixação dos limites de vigência dos contratos administrativos,
de forma que o tempo não comprometa as condições originais da avença, NÃO havendo, entretanto, obstáculo jurídico à
devolução de prazo, quando a Administração mesma concorre, em virtude da própria natureza do avençado, para
interrupção da sua execução pelo contratante.
COMENTÁRIO: Segundo o art. 55, IV, da Lei 8666/93, o estabelecimento de marcos de início da vigência é cláusula
necessária a todos contratos administrativos. Assim, seja por razões de ordem orçamentário-financeira, seja por necessidade de
delimitação temporal da execução do objeto contratado, não se coaduna com o regime público a que se submetem os contratos
administrativos, a estipulação de prazos indeterminados.
Contudo, não raro ocorre que o prazo originalmente avençado não é suficiente para execução integral do objeto, exigindo
prorrogação. São diversas as razões que ensejam tal situação, às vezes causadas pela própria Administração – como, por
exemplo, a demora na desapropriação do imóvel em que a obra será executada -, outras, que independem da vontade das partes
do contratado – como na hipótese do caso fortuito ou da força maior. Nessas hipóteses, a fim de permitir a integral execução
do objeto contratado, a própria legislação permite a prorrogação da vigência contratual, a exemplo do art. 57, §1º, da Lei
8.666/93.
9. INEXECUÇÃO CONTRATUAL
9.1 INEXECUÇÃO CULPOSA
A inexecução culposa é aquela atribuída à culpa (ou dolo) de uma das partes contratantes.
Na hipótese de inexecução contratual imputada ao inadimplemento do particular, a Administração aplicará as sanções
previstas no art. 87 da Lei 8.666/1993 e, se for o caso, rescindirá unilateralmente o contrato, respeitados, em qualquer caso, os
princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório e da proporcionalidade.
Se a culpa for da Administração (“fato da Administração”), a inexecução acarreta a REVISÃO das cláusulas do contrato
(prorrogação do prazo contratual, revisão dos valores devidos etc.), com o intuito de preservar o princípio constitucional do
equilíbrio econômico-financeiro do contrato, ou a rescisão do ajuste com a indenização do contratado.
9.1.1 EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO (EXCEPTIO NON ADIMPLETI CONTRACTUS)
Questão que sempre despertou polêmica refere-se à possibilidade de o contratado suscitar a exceção de contrato não cumprido
a fim de paralisar o cumprimento de suas obrigações contratuais, enquanto a Administração estiver inadimplente.
Embora haja doutrina clássica que refute a possibilidade, nesse sentido Hely Lopes Meirelles, prevalece que é possível sim.
A doutrina moderna admite a POSSIBILIDADE da exceptio non adimpleti contractus nos contratos administrativos. Esse é o
entendimento majoritário na atualidade, especialmente pela previsão expressa no art. 78, XIV e XV, da Lei 8.666/1993.
Nesse sentido: José dos Santos Carvalho Filho, Celso Antônio Bandeira de Mello, Maria Sylvia Zanella Di Pietro.
Segundo Rafael Oliveira, os argumentos podem ser assim sintetizados: (i) princípio da legalidade: atualmente, a legislação
prevê a exceptio no art. 78, XIV e XV, da Lei 8.666/1993; (ii) princípio da supremacia do interesse público: esse princípio,
que vem sendo relativizado por grande parte da doutrina, não pode significar um escudo protetor para ilícitos (contratuais e
extracontratuais) administrativos; e (iii) princípio da continuidade do serviço público: nem todos os contratos administrativos
têm por objeto a prestação de serviço público. Todavia, a exceptio não poderá ser invocada, em princípio, nos contratos que
efetivamente envolvam serviços públicos ou atividades essenciais à coletividade.
Por outro lado, nos contratos de concessão de serviço público, o princípio da continuidade realmente será, em regra, um
obstáculo à “exceção de contrato não cumprido”. Dessa forma, o parágrafo único do art. 39 da Lei 8.987/1995 dispõe que “os
serviços prestados pela concessionária não poderão ser interrompidos ou paralisados, até a decisão judicial transitada em
julgado”.
Conforme já ressaltado anteriormente, ainda que a regra seja a impossibilidade de exceptio non adimpleti contractus nos
contratos de concessão, deve ser admitida a sua incidência em situações excepcionais, quando alguns direitos fundamentais da
concessionária (e a própria existência da empresa) estiverem ameaçados. Todavia, nessas hipóteses excepcionais, a suspensão
das obrigações da concessionária depende de decisão judicial liminar, tendo em vista o princípio da inafastabilidade do controle
judicial (art. 5.º, XXXV da CF).
Particularidades: a comissão é composta por, no mínimo, três membros (assim como na Lei 8.666/93), mas os membros da
comissão devem ser majoritariamente servidores públicos efetivos. A Lei diz ainda que é possível contratar mais de uma
empresa para o mesmo objeto do contrato (o objeto poderá ser dividido para que cada uma das empresas contratadas execute
parte desse objeto, garantindo, dessa forma, maior celeridade).
OBS: A Lei 12.462 expressamente permite a indicação de marca. A indicação de marca poderá ser feita em três hipóteses
(possibilidades de justificativa para a indicação de marca):
Padronização do objeto: para atender à exigência de padrão.
Única capaz de atender ao objeto do contrato: também será possível a indicação de marca quando ela for a única capaz
de atender ao objeto do contrato.
Identificação do objeto (ou similar): também poderá ser feita a indicação de marca quando for necessária à
identificação do objeto. Ele diz: marca tal ou similar (ou de igual qualidade). Nesse caso, a marca está sendo utilizada apenas
para auxiliar na identificação do objeto. Aqui não temos uma escolha de marca.
No RDC, publica-se o edital em diário oficial e no site do órgão licitante (na Lei 8.666/93, a publicação é feita no diário oficial
e em jornal de grande circulação). Se for contratação de até R$ 80.000,00, no caso de bens, ou de até R$ 150.000,00, no caso
de obras, não haverá necessidade de publicação no diário oficial, mas apenas no site do órgão responsável pela licitação.
Depois de publicado o edital, já marca a data para abrir as propostas (a proposta é aberta antes da documentação; as fases são
invertidas – primeiro classificam as propostas para depois habilitar), respeitados prazos de intervalo mínimos diferentes a
depender do tipo de licitação adotado no RDC. Os tipos de licitação aqui são diferentes.
Os tipos de licitação na modalidade do RDC podem ser: menor preço ou maior desconto; técnica e preço; conteúdo artístico;
maior oferta e maior retorno econômico.
Em caso de aquisição de bens, o intervalo mínimo entre a publicação do edital e a realização do evento será de 5 dias úteis, se
for licitação do tipo menor preço ou maior desconto (aqui é um tipo só), e será de 10 dias úteis, nos outros casos.
Se for uma licitação para a prestação de um serviço ou para a execução de obra, a Lei estabelece intervalo mínimo de 15 dias
úteis, se for licitação do tipo menor preço ou maior desconto, e 30 dias úteis, nos outros casos.
Ressalvas: em se tratando de uma contratação do tipo maior oferta, o intervalo mínimo será de 10 dias úteis; no caso dos tipos
técnica e preço ou conteúdo artístico, o intervalo mínimo será sempre de 30 dias úteis.
Vejamos a ordem das fases no RDC: edital – classificação das propostas – habilitação – fase recursal – encerramento. A Lei
diz que o edital pode determinar a inversão de fases (habilitando primeiro e depois classificando, como ocorre na 8.666).
Durante o prazo de intervalo mínimo, qualquer pessoa pode impugnar o edital e os prazos de impugnação variam não com base
em quem está impugnando, mas sim com base no objeto do contrato. A Lei diz que depois que se publica o edital e marca a
data para classificar as propostas qualquer cidadão poderá impugnar o edital, se for para a aquisição de bens, até o 2º dia útil
anterior à data marcada para a abertura das propostas, e, se for para a realização de obras, até o 5º dia útil anterior à data
marcada para a abertura das propostas. Na Lei 8.666/93 esse prazo muda de acordo com quem irá impugnar o edital, mas, no
RDC, ele varia de acordo com o objeto a ser contratado.
O julgamento das propostas será feito de acordo com critérios objetivos previstos no edital.
A Lei 12.462 estabelece critérios sucessivos de desempate (é preciso respeitar a ordem, só sendo possível passar para o segundo
critério se o primeiro não tiver resolvido o problema). Vejamos quais são os critérios sucessivos de desempate:
a) Disputa final: abre-se prazo para que tragam novas propostas lacradas (não ocorrem lances verbais).
b) Avaliação de desempenho contratual prévio: será avaliado o desempenho contratual prévio da empresa com a
administração pública. Serão analisados os contratos anteriores da empresa com a administração pública para ver como ela se
saiu.
c) Critérios da Lei 8.666/93: analisa bens produzidos no Brasil, bens produzidos por empresa brasileira e, se ainda
persistir o empate, bens produzidos por empresa que investe em tecnologia ou pesquisa no Brasil. Por fim, empresas que
empregam portador de deficiência e reabilitado da previdência social.
d) Sorteio: seria o último critério de desempate.
Depois da classificação, teremos a fase de habilitação, que seguirá os moldes do art. 27, Lei 8.666/93. Finalizada a habilitação
do licitante vencedor, passa-se à fase recursal (o prazo para recurso será de 5 dias úteis contados da lavratura da decisão final
da habilitação). No RDC temos uma fase recursal única, não havendo recurso entre as fases do procedimento no RDC. Após,
encaminha para autoridade para encerramento (a autoridade máxima do órgão é responsável por essa atividade, que será a
homologação e a adjudicação de uma vez só).
Não há novas hipóteses de dispensa ou de inexigibilidade de licitação, sendo seguidas as da Lei 8.666/93. Os contratos
administrativos firmados com base no RDC também seguem as regras da Lei 8.666/93.
Atenção: existem três pontos para tomarmos cuidado (particularidades). Vejamos:
• Contratação integrada: a administração elabora um anteprojeto com planilha orçamentária e já segue para que tudo
seja feito de uma vez só (projeto básico, projeto de execução e obra). Essa contratação integrada é possível no RDC.
• A penalidade de suspensão de contratar pode ser aplicada por até 5 anos (na Lei 8.666/93 esse prazo podia ser de até
dois anos).
• Os contratos de prestação de serviços continuados celebrados em decorrência de licitações no RDC, que sejam
vinculados aos eventos esportivos, podem ser prorrogados por períodos iguais e sucessivos até a data de extinção da Autoridade
Pública Olímpica (agosto de 2017)
BENS PÚBLICOS
1. BENS PÚBLICOS
a) Bens de uso comum do povo: são os bens que existem para uso comum da coletividade, para o uso geral. Exemplos:
praias, ruas, praças. Sua finalidade pública é serem utilizados pela sociedade em geral. Sua utilização normal/ordinária/comum
é livre, não necessitando do consentimento do estado.
b) Bens de uso especial: são os bens que o estado utiliza com uma destinação específica. Sua finalidade pública é
específica. Não são de utilização pública em geral. Exemplo: repartição pública, carro oficial. Esses bens de uso especial podem
ser de uso direto ou de uso indireto. São de uso direto os que compõem a máquina da administração pública. São bens de uso
especial indireto aqueles bens que o estado não usa diretamente, mas ele conserva uma finalidade específica de serem utilizados
pela sociedade (exemplo: as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios; terra pública utilizada para a conservação do meio
ambiente).
c) Bens dominicais: para a doutrina moderna também podem ser chamados de bens dominiais. São os bens públicos que
não têm finalidade pública atrelada a eles. Não têm destinação de interesse público. Exemplo: terras devolutas de um estado.
Os bens que têm destinação pública (sejam de uso comum ou de uso especial) são chamados de bens afetados. Já os bens que
não têm destinação pública são chamados de desafetados/desatrelados. Isso não é absoluto. O bem que não tem destinação
pública pode passar a ter (afetação) e o bem que tem finalidade pública pode passar a não ter mais (desafetação). Afetar o bem
é dar destinação pública ao bem que não tinha. Desafetar o bem é retirar a destinação pública que o bem tinha.
A afetação se pode dar pelo simples uso (a simples utilização do bem no interesse público já afeta ele). Também se pode dar
por meio de ato administrativo ou de lei (esse ato ou essa lei dirá a finalidade do bem). A desafetação, por seu turno, não pode
ocorrer pelo simples desuso. A desafetação ocorre por meio de lei ou de ato administrativo específico. E desafetação é sempre
formal. A doutrina moderna defende que os bens de uso especial podem ser desafetados também por fatos da natureza.
Licitação.
Nos casos de utilização anormal de bens públicos, é preciso autorização do estado. Essa utilização anormal de bens públicos e
chamada de utilização especial de bens (não é o bem que é de uso especial, mas a utilização do bem de uso comum do povo é
que será especial). Exemplo: pessoa que quer casar na praia. Nesses casos, o particular necessariamente depende de um
consentimento do estado que se pode dar ou por meio de:
• Autorização de uso de bem público: é um ato administrativo unilateral, discricionário e precário, por meio do qual se
permite ao particular fazer a utilização especial de um determinado bem público. É discricionário porque para conceder a
autorização a administração tem uma margem de escolha de oportunidade e de conveniência. É um ato precário porque pode
ser desfeito a qualquer tempo sem ensejar direito à indenização do particular. Não gera direito adquirido. Sempre vai ser feito
para uma utilização especial, anormal, privativa, diferenciada sobre um bem público. É feita no interesse do particular (interesse
eminentemente privado). Exemplo: casamento na praia.
• Permissão de uso de bem público: é um ato administrativo discricionário e precário por meio do qual o particular vai
poder utilizar um bem público de maneira anormal, privativa. É feita também no interesse público (interessa também ao estado
a utilização daquele bem pelo particular). Exemplo: feira de artesanato na calçada, banca de revista na calçada. Embora seja
um ato e não um contrato, deve ser precedida por licitação.
OBS: se for feita com prazo determinado, relativiza a precariedade.
• Concessão de uso de bem público: tem natureza contratual. Trata-se de um contrato administrativo. Normalmente é
feito quando o particular vai investir um pouco mais na utilização do bem, razão pela qual precisa de uma garantia. Exemplo:
restaurante em uma universidade pública. O contrato é uma garantia para o particular. Caso o contrato seja rompido antes do
prazo, caberá indenização.
Se o bem público for um bem dominical, é possível que esse bem seja utilizado pelo particular sem a necessidade de um título
jurídico de direito público. É possível que o estado permita a utilização por particulares de bens não afetados por meio de um
título jurídico de direito privado. Exemplo: locação, arrendamento, enfiteuse, concessão de direito real de uso, concessão de
uso. Isso só é possível se os bens forem de domínio privado do estado (bens que o estado possui, mas que não estão atrelados
a nenhuma finalidade pública). Esses contratos serão de direito privado.
PROCESSO ADMINISTRATIVO
1. PROCESSO ADMINISTRATIVO
1.1.INTRODUÇÃO
O processo é uma série concatenada de atos. Trabalharemos aqui com a Lei Geral do Processo Administrativo (Lei 9.784/99).
Essa Lei se auto intitula como subsidiária. A subsidiariedade dela decorre do fato de que ela é uma lei genérica, sendo aplicada
integralmente, porém, aos procedimentos que não tenham regulamentação por lei específica. Não iremos diferenciar processo
de procedimento.
o Finalidade da intimação;
Respeitados todos os aspectos processuais relativos à suspeição e impedimento dos membros da Comissão Processante previstos pelas Leis 8.112/90 e 9.784/99,
não há qualquer impedimento ou prejuízo material na convocação dos mesmos servidores que anteriormente tenham integrado Comissão Processante, cujo
relatório conclusivo foi posteriormente anulado (por cerceamento de defesa), para comporem a segunda Comissão de Inquérito.
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/8/2016 (Info 834).
STJ. 1ª Seção. MS 16.192/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/04/2013.
Aquele que esteja litigando (seja na esfera administrativa ou judicial) com o particular interessado no processo;
Aquele que tenha interesse direto ou indireto na solução da causa (tem a ver com a matéria).
A suspeição gera ao agente público uma margem de discricionariedade, porque sua definição se baseia em conceitos
indeterminados. A lei diz que é suspeito de proferir decisão no processo quem tenha amizade íntima ou inimizade notória com
o particular interessado.
Uma vez proferido o julgamento, o processo se sujeita a recurso e a pedido de revisão. O recurso e a revisão são as formas de
impugnação administrativa do julgamento. A Lei estabelece que o recurso deve ser interposto no prazo de 10 dias contados da
publicação do ato, salvo lei específica (no processo administrativo disciplinar, por exemplo, o prazo para recurso é de trinta
dias, havendo, inclusive, pedido de reconsideração autônomo em relação ao recurso = tem 30 dias para fazer o pedido de
reconsideração e, se a autoridade não reconsiderar, terá mais 30 dias para recorrer). O recurso deve ser interposto perante a
própria autoridade que proferiu a decisão (essa autoridade poderá reanalisar o processo).
Dentro do prazo de 5 dias, essa autoridade ou se retratará ou encaminhará o recurso para a autoridade superior.
A decisão do recurso poderá reformar a decisão recorrida para piorar a situação do recorrente (em sede de recurso administrativo
não há a vedação da “reformatio in pejus” – isso em função do princípio da autotutela).
Mesmo passado o prazo para interpor recursos, a lei permite a interposição de pedido de revisão. A revisão não tem prazo,
podendo ser feita a qualquer tempo, sendo um novo processo administrativo. A revisão depende necessariamente da alegação
de fatos novos pelo particular interessado (fatos que a autoridade não conhecia). A lei expressamente define que a decisão da
revisão não pode reformar para piorar a decisão (na revisão, é vedada a “reformatio in pejus”).
Servidor já punido em PAD não pode ser punido novamente ou ter sua pena agravada posteriormente pelo mesmo fato, ainda que constatados vícios no
primeiro PAD.
STJ. 3ª Seção. MS 10.950-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/5/2012 (não divulgado em Info).
No processo administrativo, os prazos são contados segundo o CPC/73 (contam-se todos os dias úteis ou não úteis, sendo
excluído o dia do início e incluído o dia do final; se o início ou o fim do prazo se der em dia não útil, prorroga-se para o dia
útil subsequente).
I. INTRODUÇÃO:
Nos termos do art. 5º, XXII, XXIII, XXIV e XXV, CF/88:
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
Portanto, o Brasil, na linha dos demais Estados contemporâneos, garante o direito de propriedade em sua Constituição,
condicionando-o, todavia, ao seu exercício conforme a função social.
Assim, a função social da propriedade autoriza o Estado a intervir na propriedade privada sempre que seja necessário adequar
o seu uso ao interesse público. Esse poder de intervenção se instrumentaliza por meio de limitações e servidões administrativas,
requisição administrativa, tombamento e desapropriação.
II. LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS
São restrições gerais e abstratas emanadas do poder de polícia do Estado, que atingem o caráter absoluto da propriedade,
tolhendo o poder de uso, gozo e disposição de um número indeterminado de propriedades particulares.
As limitações administrativas encerram uma relação de direito pessoal, materializada em obrigações de conduta, sendo as
obrigações negativas (ou de não fazer) mais comuns. Ex.: obrigação de não construir edifício até determinada altura.
ATENÇÃO: Direito à indenização por limitação administrativa: regra e exceção:
O proprietário deve ser indenizado por conta das limitações administrativas que incidam sobre sua propriedade?
Em regra, não. Na generalidade dos casos, a limitação administrativa é gratuita. No entanto, excepcionalmente, a jurisprudência
reconhece o direito à indenização quando a limitação administrativa reduzir o valor econômico do bem. Essa é a jurisprudência
do STJ.
Qual é o prazo prescricional para que o proprietário busque essa indenização?
5 anos, nos termos do Decreto-Lei nº 3.365/1941. Segundo decidiu o STJ, os danos eventualmente causados pela limitação
administrativa devem ser objeto de ação de direito pessoal, cujo prazo prescricional é de cinco anos, e não de direito real, que
seria o caso da desapropriação indireta.
Vale ressaltar, ainda, que o proprietário não terá direito à indenização se adquiriu o bem APÓS a limitação administrativa já
ter sido imposta, pois já tinha ciência dessa circunstância e o preço pago já levou em consideração essa limitação.
III. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA OU PÚBLICA
As servidões administrativas são restrições estatais específicas que atingem parcial e concretamente o direito de propriedade,
incidindo sobre o caráter exclusivo de propriedades determinadas.
Tem natureza de direito real, pois, na servidão administrativa, estabelece-se uma relação entre coisas: a serviente e a
dominante. Coisa serviente é a propriedade privada que possui o encargo real de suportar a servidão; a dominante, por sua vez,
é o serviço público concreto ou um bem afetado a uma utilidade pública.
A servidão consiste em uma obrigação de tolerar ou de deixar fazer, a qual, porque imposta a propriedades determinadas, pode
gerar o dever de indenizar, desde que o ônus imposto tenha causado algum dano. Essa indenização, contudo, não pode elevar-
se até o montante do valor da propriedade, pois que sobre esta não foi imposta supressão, mas mera restrição.
Há que se ressaltar, por oportuno, que o valor da indenização deve compreender os juros moratórios e compensatórios, assim
como a correção monetária, os honorários de advogado e as despesas judiciais, se for o caso.
Por fim, impõe-se aduzir que a servidão, a depender da origem, pode ser legal, convencional ou judicial.
ATENÇÃO: Quadro comparativo entre limitação e servidão administrativa:
Obs. 1: A diferença entre a restrição sobre o caráter absoluto e exclusivo da propriedade está em que, na primeira,
minoram-se os poderes de uso, gozo ou fruição do proprietário sobre a sua propriedade; na segunda, ele é obrigado a
suportar que outrem também usufrua de sua propriedade.
Dica do Coach: o dever de indenizar, em um e outro caso, segue a linha de raciocínio construída pela teoria da
responsabilidade civil do Estado por ato lícito. Ambos os institutos – limitação e servidão – são atos lícitos levados a cabo
pelo Estado em prol de um interesse coletivo. Ainda como premissa, mencione-se, que a responsabilidade civil do Estado
por ato lícito exige que o dano suportado pelo particular seja anormal e específico. Logo, em conclusão, apenas a servidão
administrativa rende ensejo ao dever reparatório, pois a limitação administrativa é dirigida aos particulares genericamente
considerados.
Funda-se na necessidade normal de realização de obras ou Funda-se em situação de perigo público iminente ou
exercício de atividades de interesse público; urgência;
Gera o dever de indenizar, se houver dano. Gera o dever de indenizar, se houver dano.
VI. TOMBAMENTO
Trata-se de restrição estatal na propriedade privada, que se destina especificamente à proteção do patrimônio histórico e
artístico nacional, assim considerado o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de
interesse público.
Depende o tombamento de procedimento administrativo prévio, necessário para se aferir o valor histórico e artístico do bem,
assegurado ao proprietário o direito de ampla defesa, para, caso queira, contestar o valor referido. Ao final, não havendo
contestação ou sendo ela improcedente, o bem será inscrito no livro chamado “Livro do Tombo”.
O tombamento pode gerar direito à indenização, a depender da maneira que afete a propriedade. Se, por exemplo, gerar
desvalorização do bem, ele enseja o direito à indenização.
Impõe-se consignar, por fim, que é possível o destombamento, sendo esse entendido como ato de cancelamento do
tombamento, motivado pelo desaparecimento dos motivos que levaram o bem à inscrição no Livro do Tombo.
MODALIDADES DE TOMBAMENTO
Obs. 1: A doutrina diverge sobre a possibilidade de tombamento de bens da União pelos Estados e Municípios, e dos Estados
pelos Municípios. É pacífica apenas a possibilidade de tombamento de bens dos entes menores pelos maiores. O tema será
retomado abaixo;
Obs. 2: Para todos os efeitos, o tombamento provisório se equiparará ao definitivo.
ATENÇÃO: Responsabilidade pela conservação do imóvel tombado:
Comentários: Dizer o Direito
Por meio do tombamento, são impostas algumas obrigações de fazer e de não fazer ao proprietário do bem tombado. Uma das
obrigações de fazer (também chamadas de obrigações positivas) do proprietário do bem tombado é que ele terá que fazer todas
as obras que forem necessárias para a conservação da coisa (art. 19 do Decreto-lei nº 25/37).
Se o proprietário da coisa tombada não dispuser de recursos para proceder às obras de conservação e reparação necessárias, ele
deverá comunicar essa circunstância ao órgão competente que decretou o tombamento para arcar com as despesas necessárias
à sua conservação. Em outras palavras, a responsabilidade de reparar e conservar o imóvel tombado é, em princípio, do
proprietário. Tal responsabilidade somente é elidida quando ficar demonstrado que o proprietário não dispõe de recurso para
proceder à reparação.
Em resumo:
A responsabilidade de reparar e conservar o imóvel tombado é do proprietário, salvo quando demonstrado que ele não
dispõe de recurso para proceder à reparação.
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 176.140-BA, rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/10/2012.
ATENÇÃO: Intervenções do Estado em propriedade pública: “hierarquia federativa” e (in) constitucionalidade do art.
2°, §2°, do Decreto-Lei 3.365/41:
Respeitando-se as exigências constitucionais e legais, maiores dúvidas não surgem quanto à intervenção do Estado na
propriedade privada. Ocorre que entes públicos também podem titularizar a propriedade de bens móveis e imóveis. Seria
possível, então, algum ente político intervir na propriedade de outro? O Município pode tombar bens estaduais e federais? O
Estado pode instituir servidão administrativa sobre bem federal? Ou apenas é possível o tombamento de bens públicos
pertencentes aos entes menores pelos entes maiores?
Conforme anunciado acima, nos termos do art. 5° do Decreto-lei 25/1937 (Organiza a proteção do patrimônio histórico e
artístico nacional), é possível se tombar bens públicos.
Rafael Oliveira de Rezende apresenta a divergência doutrinária sobre a possibilidade de entes menores inscreverem bens de
entes maiores no “Livro do Tombo”.
A primeira corrente, sustentada por José dos Santos Carvalho Filho, aduz que não seria possível o tombamento, por exemplo,
de bens federais e estaduais por Municípios, eis que se aplicaria por analogia o disposto no art. 2°, §2°, do Decreto Lei 3.365/41
que impede essa via “de baixo para cima” em relação à desapropriação, baseando-se na lógica da supremacia de interesse:
primeiro o nacional (União), depois o regional (Estados) e, só então, o local (Municípios).
De forma contrária, uma segunda corrente afirma a possibilidade do tombamento entre entes federados indistintamente, seja
de “baixo para cima” ou de “cima para baixo”. Para tanto, defende que a previsão constante no art. 2°, §2°, do Decreto-Lei
3.365/41 possui constitucionalidade duvidosa ao criar uma hierarquia entre os entes federados. Sustenta, ademais, que a norma
é especificamente relacionada à desapropriação, devendo, por isso, ser interpretada restritivamente, e não ampliativamente.
Aduz, ainda, que o exercício de uma ponderação de interesses entre as normas constitucionais em conflito (princípio federativo
e proteção do patrimônio cultural) aponta que a permissão ao tombamento de “mão dupla” é a posição que melhor salvaguarda
os valores constitucionalmente tutelados. No sentido da segunda corrente, já decidiu o STJ:
ADMINISTRATIVO – TOMBAMENTO – COMPETÊNCIA MUNICIPAL.
1. A Constituição Federal de 88 outorga a todas as pessoas jurídicas de Direito Público a competência para o tombamento
de bens de valor histórico e artístico nacional. 2. Tombar significa preservar, acautelar, preservar, sem que importe o ato em
transferência da propriedade, como ocorre na desapropriação. 3. O Município, por competência constitucional comum – art.
23, III –, deve proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos. 4. Como o tombamento não implica em transferência da propriedade,
inexiste a limitação constante no art. 1º, § 2º, do DL 3.365/1941, que proíbe o Município de desapropriar bem do Estado. 5.
Recurso improvido. (RMS 18.952/RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/04/2005, DJ
30/05/2005, p. 266)
Em relação à servidão administrativa, José dos Santos Carvalho Filho defende o mesmo raciocínio empreendido quanto ao
tombamento. Segundo o autor, à semelhança do que ocorre com a desapropriação, é de se aplicar as servidões administrativas
o princípio da “hierarquia federativa”: não pode um município instituir servidão sobre imóveis estaduais ou federais, nem
pode o Estado fazê-lo em relação aos bens da União. Segue aduzindo que a recíproca não é verdadeira, já que a União está
habilitada a fazê-lo em relação aos bens estaduais e municipais, e o Estado, em relação aos bens do Município. Nesse caso,
adverte o autor que é necessária autorização legislativa, conforme exige o art. 2, §2º, do Decreto-Lei n.º 3.365/41. Essa posição
parece ser majoritária na doutrina, sendo adotada pelo CESPE.
Em resumo:
(i) A doutrina majoritária defende, com base no art. 2º, §2º, do Decreto-Lei n.º 3.365/41, o princípio da “hierarquia
federativa”, sendo, por isso, vedado aos entes menores intervirem na propriedade dos entes maiores. Posição considerada pelo
CESPE na PGE/PI 2014 e que deve ser seguida, via de regra;
(ii) O STJ já entendeu, em 2005, que é possível a instituição de tombamento de bem estadual por Município. Essa posição
somente deve ser adotada se a questão vier “blindada”, ou seja, se perquirir especificamente o posicionamento do STJ em
relação ao tombamento de bens estaduais por municípios.
ATENÇÃO! O CESPE COBROU NA PROVA DA PGM BH O ENTENDIMENTO DO STJ, MAS DEIXOU CLARO
QUANDO PEDIU: “SEGUNDO O STJ”!
VII. DESAPROPRIAÇÃO
A desapropriação é a forma mais drástica de intervenção estatal na propriedade, que afeta o próprio caráter perpétuo e
irrevogável do direito de propriedade. Por meio dela, o poder público toma o domínio da propriedade de seu titular para o fim
de vinculá-la a algum interesse público, consistente em necessidade ou utilidade pública, bem ainda em interesse social.
Nesse sentido, dispõe o art. 5º, XXIV, da CF/88:
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
A ressalva constante do final do dispositivo deve-se à circunstância de que a própria Constituição Federal autoriza a
desapropriação mediante o pagamento de indenização em títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo
Senado Federal, no caso de área urbana não edificada, subutilizada ou não utilizada, como instrumento de política urbana (art.
182, §4º, III), de pagamento em títulos da dívida agrária, no caso de reforma agrária, por interesse social (art. 184).
A Constituição, no art. 243, uma modalidade especial de desapropriação, denominada expropriação, que NÃO gera direito a
qualquer indenização ao proprietário. Essa desapropriação recai sobre glebas de terras de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou, a partir da EC 81/2014, exploração de trabalho escravo. As terras
expropriadas por esses motivos terão destinação específica: reforma agrária ou programas de habitação popular.
1. LEGISLAÇÃO:
Obs.: o DL 3.365/41 deve ser lido e revisado muitas vezes! Bem curto e bastante cobrado. Portanto, o custo-benefício dessa
leitura é altíssimo.
3. OBJETO:
Todos os bens podem ser desapropriados, incluindo:
a) Coisas corpóreas (móveis ou imóveis);
b) Coisas incorpóreas, como direitos (menos os personalíssimos, que são inexpropriáveis), as ações, patentes, fundos de
comércio, nome de empresa e etc.;
c) Bens públicos ou privados.
Quanto ao espaço aéreo e ao subsolo, a regra é a não desapropriação. Todavia, consoante a norma contida no §1º do art. 2º do
DL 3.365/41, a desapropriação do espaço aéreo ou do subsolo é cabível excepcionalmente, quando de sua utilização resultar
prejuízo patrimonial do proprietário do solo.
Conforme anunciado em tópico antecedente, o art. 2, §2º, do DL 3.365/41 consagra a possibilidade de bens públicos serem
desapropriados, desde que o ente expropriante esteja “acima” do ente expropriado em uma escala de “hierarquia federativa”.
Assim, desde que haja autorização legislativa, a União pode desapropriar bens dos Estados e Municípios; e os Estados, os
bens dos Municípios. O inverso, contudo, não é possível.
Ressalte-se, contudo, que o §3º do art. 2º franqueia, em tom de exceção, a possibilidade de desapropriação bens incorpóreos,
como ações, cotas e direitos representativos de capital de instituições controladas e fiscalizadas pelo Governo Federal, desde
que haja prévia autorização, por decreto, do Presidente da República. Atenção: os bens não são federais, mas estão
simplesmente sob a custódia e fiscalização do Governo Federal.
4. PROCEDIMENTO:
A desapropriação é um procedimento que se realiza em duas fases:
Justa e prévia indenização em Títulos da dívida pública de emissão Prévia e justa indenização em títulos da
dinheiro. previamente aprovada pelo Senado dívida agrária, com cláusula de
Federal, com prazo de resgate de até DEZ preservação do valor real, resgatáveis no
anos, em parcelas anuais, iguais e prazo de até VINTE anos, a partir do
sucessivas, assegurados o valor real da segundo ano de sua emissão.
indenização e os juros legais.
Obs. 1: No caso de desapropriação para fins de reforma agrária, dispõe o §1º do art. 184 da CF/88, que as benfeitorias úteis e
necessárias serão indenizadas em dinheiro.
MUITA ATENÇÃO: Jurisprudência sobre os acessórios da indenização:
Os acessórios que devem compor o valor da indenização são esclarecidos pelas seguintes súmulas do STF e STJ:
CORREÇÃO MONETÁRIA:
Súmula 561 do STF: Em desapropriação, é devida a correção monetária até a data do efetivo pagamento da
indenização, devendo proceder-se à atualização do cálculo, ainda que por mais de uma vez.
Súmula 67 do STJ: Na desapropriação, cabe a atualização monetária, ainda que por mais de uma vez, independente
do decurso de prazo superior a um ano entre o cálculo e o efetivo pagamento da indenização.
JUROS:
Súmula 164 do STF: No processo de desapropriação, são devidos juros compensatórios desde a antecipada imissão de
posse, ordenada pelo juiz, por motivo de urgência.
Súmula 113 do STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem a partir da imissão na posse,
calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.
Súmula 114 do STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidem a partir da ocupação, calculados
sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.
Súmula 69 do STJ: Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse
e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.
Súmula 102 do STJ: A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, nas ações expropriatórias, não
constitui anatocismo vedado em lei.
Súmula 12 do STJ: Em desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e moratórios.
Súmula 618 do STF: Na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos juros compensatórios é de 12% (doze por cento)
ao ano.
Obs. 1: A súmula permanece válida, mas atenção para o período de 11/06/1997 até 13/09/2001. Nesse período vigorou a MP
1.577, que reduziu os juros para 6% ao ano. O STF, em cautelar, declarou a inconstitucionalidade dessa medida provisória.
Obs. 2: NÃO CONFUNDIR! A taxa dos juros MORATÓRIOS é de 6% ao ano. A dos COMPENSATÓRIOS, conforme visto
acima, é de 12% ano, obedecendo o período de vigência da MP sobredita.
Súmula 416 do STF: Pela demora no pagamento do preço da desapropriação não cabe indenização complementar além
dos juros.
Súmula 56 do STJ: Na desapropriação para instituir servidão administrativa são devidos os juros compensatórios pela
limitação de uso da propriedade.
Registre-se, por fim, que a Súmula 70 do STJ, segundo a qual “os juros moratórios, na desapropriação direta ou indireta,
contam-se desde o trânsito em julgado da sentença”, restou superada com a promulgação do art. 100, §1º, da CF/88, que com
a EC/62 passou a ser o §5º do mesmo artigo. Segundo a referida norma, os juros moratórios são devidos contra o Poder Público
apenas a partir de 1º de janeiro seguinte ao exercício financeiro em que o pagamento deveria ter sido efetuado (e não a partir
do trânsito em julgado, como preconizava a súmula). A Súmula Vinculante 17 ratifica esse entendimento: “Durante o período
previsto no parágrafo 1º [5º] do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam
pagos”. O art. 15-B do DL regulamentou a matéria no plano infraconstitucional.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Súmula 378 do STF: Na indenização por desapropriação incluem-se honorários do advogado do expropriado.
Súmula 617 do STF: A base de cálculo dos honorários de advogado em desapropriação é a diferença entre a oferta e
a indenização, corrigidas ambas monetariamente.
Súmula 141 do STJ: Os honorários de advogado em desapropriação direta são calculados sobre a diferença entre a
indenização e a oferta, corrigidas monetariamente.
Súmula 131 do STJ: Nas ações de desapropriação incluem-se no cálculo da verba advocatícia as parcelas relativas aos
juros compensatórios e moratórios, devidamente corrigidas.
ATENÇÃO: Quadro-resumo sobre juros compensatórios e moratórios na desapropriação:
Ação indenizatória tem natureza real; Ação indenizatória tem natureza pessoal;
Obs.: As normas ambientais que restrinjam o direito de propriedade caracterizam limitação administrativa.
Para as provas de concurso público, recomenda-se levar em consideração a posição de Celso Antônio Bandeira de Mello, pois
esta é abonada pelo STF e STJ: natureza real e prazo decenal de prescrição.
ATENÇÃO: Tredestinação lícita e teoria dos motivos determinantes:
A doutrina pontua que a tredestinação lícita é exceção à nulidade do ato administrativo, por desrespeito aos motivos
determinantes. Isso porque, em relação aos atos administrativos em geral, há nulidade, caso seja desviada a finalidade, ainda
que mantido o interesse público.
No caso da tredestinação lícita, contudo, se houver desvio de finalidade, mas restar mantido o interesse público, a
desapropriação não será nula, não assistindo, por isso, direito de retrocessão ao exproprietário.
CUIDADO! Em relação ao direito de retrocesso e tredestinação lícita, há uma especialidade no DL 3.365/41 que merece relevo:
§ 3º Ao imóvel desapropriado para implantação de parcelamento popular, destinado às classes de menor renda, NÃO se dará
outra utilização nem haverá retrocessão.
Nesse caso particular, portanto, não haverá discricionariedade do Administrador, para decidir como satisfazer o interesse
público.
ATENÇÃO: Tredestinação, adestinação e desdestinação:
Já se pontuou que a tredestinação ocorre quando o bem objeto da desapropriação é afetado à finalidade diversa daquela
constante do ato expropriatório, podendo ser permanecer o interesse público (tredestinação lícita), ou não (tredestinação ilícita).
Apenas nesse último caso será franqueado o direito de retrocessão ao ex-proprietário. Todavia, e se não for dada destinação
alguma ao bem? Teria o exproprietário o direito de exigi-lo de volta? A partir de quando restaria configurado o desinteresse
do Poder Público no bem?
A omissão ou inércia estatal, neste particular, recebe o nome de ADESTINAÇÃO. Rafael Rezende Oliveira apresenta a
divergência doutrinária sobre os questionamentos suscitados:
(i) Primeira posição (majoritária): a mera omissão do Estado não configura tredestinação e não gera direito à
retrocessão. Em razão da ausência de prazo legal para destinação pública do bem desapropriado, apenas por meio de ato
concreto e comissivo, que deixe clara a intenção de não utilizar o bem na satisfação do interesse público, será possível falar
em tredestinação. Nesse sentido: José dos Santos Carvalho Filho, Celso Antônio Bandeira de Mello, Maria Sylvia Zanella Di
Pietro, José Carlos de Moraes Salles. Esse entendimento deve ser assinalado como correto em provas objetivas;
(ii) Segunda posição: apesar de não haver prazo estipulado, em regra, na legislação para que o Poder Público conceda
destinação pública ao bem desapropriado, seria possível a aplicação analógica do prazo de caducidade do decreto
expropriatório. De acordo com esse raciocínio, na desapropriação por utilidade pública ou necessidade pública, o prazo seria
de cinco anos (art. 10 do Decreto-lei 3.365/1941). Caso a omissão permaneça, ao final do prazo de cinco anos estaria
configurada a tredestinação, nascendo o direito à retrocessão. Nesse sentido: Miguel Seabra Fagundes. O autor, Rafael Oliveira,
adere a essa corrente.
Celso Antônio Bandeira de Mello, por outro lado, aduz a seguinte questão: se o bem expropriado foi inicialmente aplicado a
uma finalidade pública, mas, tempos depois, foi dela desligado, persiste ou não o direito de o ex-proprietário reivindicá-lo?
A essa supressão da afetação do bem desapropriado dá-se o nome de DESDESTINAÇÃO. Na hipótese, o bem desapropriado
é inicialmente afetado ao interesse público, mas, posteriormente, ocorre a desafetação (ex.: bem desapropriado é utilizado como
escola pública que vem a ser desativada).
Sustenta a doutrina majoritária que, em casos de desdestinação, NÃO assiste direito de retrocessão ao ex-proprietário, pois
o bem chegou a ser utilizado na satisfação do interesse público. Bandeira de Mello ensina que o bem não precisa ficar
perpetuamente vinculado à destinação constante da declaração do ato expropriatório.
8. DESAPROPRIAÇÃO POR ZONA:
Segundo o art. 4º do DL 3.365/41,
Art. 4º A desapropriação poderá abranger a área contígua necessária ao desenvolvimento da obra a que se destina, e as zonas
que se valorizarem extraordinariamente, em consequência da realização do serviço. Em qualquer caso, a declaração de
utilidade pública deverá compreendê-las, mencionando-se quais as indispensáveis à continuação da obra e as que se destinam
à revenda.
O dispositivo citado consagra, pois, a desapropriação por zona ou extensiva, que se caracteriza por abranger:
(i) Área contígua necessária ao desenvolvimento da obra a que a desapropriação se destina. Nesse caso, a
desapropriação por zona possibilita a continuidade ou complementação da obra pública já iniciada no local;
(ii) As zonas que se valorizarem extraordinariamente, em consequência da realização do serviço. Nesse caso, a
desapropriação por zona possibilita a venda das áreas ou zona excedentes que se valorizaram em consequência da realização
da obra ou do serviço público.
SERVIÇOS PÚBLICOS
1. SERVIÇOS PÚBLICOS
1.1.CONCEITO
A noção (o conceito) de serviço público vem sofrendo alterações em decorrência da nova doutrina acerca da matéria. Ao longo
do tempo, temos uma evolução do conceito de serviço público que vem restringindo, limitando essa conceituação. A ideia hoje
é que serviço público é muito menos abrangente do que no início do direito administrativo.
As escolas tradicionais, como a escola do serviço público francesa, diziam que toda vez que o estado atuasse na busca do
interesse público seria serviço público, mas isso não é verdade, pois o estado executa uma série de outras atividades além da
prestação de serviço público.
Hoje, a doutrina costuma dizer que para que uma determinada atividade seja considerada serviço público necessariamente
devem estar presentes três elementos de conceituação:
a) Substrato material: é a ideia de que o serviço público é uma utilidade ou comodidade material prestada à sociedade
de forma contínua. Não tem início, meio e fim, pois é prestado de forma contínua.
b) Trato formal: o serviço público tem que ser prestado sob o regime de direito público e não sob o privado. Esse regime
público se aplica mesmo quando o serviço público é prestado por particulares em razão de delegação. Ainda que parcialmente
público, o regime de direito público se aplica à prestação do serviço.
c) Elemento subjetivo: é a ideia de que o serviço público tem que ser prestado pelo estado, de forma direta ou indireta.
O estado é responsável por promover a prestação do serviço público.
Os serviços públicos estão definidos em lei e na CF. Os serviços públicos não são estanques, podendo sofrer alterações ao
longo dos tempos (prestações que até então não eram serviços públicos podem passar a ser; e outras que eram serviços públicos,
podem deixar de ser).
O serviço público não se confunde com a obra pública. Muitas vezes, a obra é indispensável à prestação de um serviço, mas
não se confunde com ele, porque a obra não é uma comodidade prestada de forma contínua, tendo começo, meio e fim.
Serviço público também não se confunde com o exercício do poder de polícia do estado. Quando o estado exerce o seu poder
de polícia, ele não está prestando um serviço (oferecendo uma comodidade), mas está sim limitando, restringindo direitos,
impondo uma obrigação ao particular.
A prestação de serviço público também não se confunde com a exploração de atividade econômica pelo estado. Quando o
estado explora atividade econômica, ele faz isso sob o regime de direito privado e não de direito público.
1.2.PRINCÍPIOS
A matéria de serviços públicos está inicialmente regulada pela Lei 8.987/95 (mas não é a única a tratar da matéria, sendo apenas
a lei básica).
Vejamos os princípios básicos específicos para os serviços públicos que estão regulados nessa Lei:
a) Dever de prestação do Estado: o Estado tem o dever de promover a prestação do serviço público (a prestação pode ser
direta ou indireta).
b) Universalidade (ou Generalidade): o serviço público deve ser prestado a maior quantidade de pessoas possível. A
medida do possível, o serviço público deve ser prestado a todos. Não se pode limitar a prestação do serviço a determinadas
camadas da população. O serviço deve ser direcionado a generalidade de pessoas.
c) Modicidade das tarifas: o serviço público deve ser prestado com tarifas módicas, as mais baixas possíveis. São
admitidas as fontes alternativas de receitas previstas nos contratos de concessão, de modo a garantir que as tarifas sejam
cobradas de forma mais módica. Exemplo: propaganda no fundo do ônibus.
d) Cortesia: é educação, urbanidade na prestação do serviço.
e) Adaptabilidade (ou Atualização): diz respeito às técnicas de prestação do serviço. O Estado deve se atualizar, para
prestar o serviço com as técnicas mais modernas possíveis. Decorre da presunção de que quando mais moderna for a técnica
de prestação, mais eficiente será o serviço.
f) Isonomia: lembrar das ações afirmativas (como o sistema de cotas para negros nas universidades públicas) como forma
de garantir a isonomia material na prestação de serviços.
g) Continuidade: está expresso na Lei 8.987/95 e implícito na CF (segundo a doutrina majoritária). É a ideia de que o
serviço público deve ser prestado de forma contínua, ininterrupta. Existem exceções: o direito de greve, pois o servidor público
tem direito de greve nos termos da lei; temos também a exceção do contrato não cumprido (art. 78, XV, Lei 8.666/95 – estado
inadimplente por mais de 90 dias); ocupação temporária e reversão.
O art. 6º, §3º, Lei 8.987/95 estabelece limitações ao princípio da continuidade (casos em que não há violação do princípio da
continuidade) – vejamos:
Razões de ordem técnica;
Inadimplemento do usuário,
Desde que haja uma situação de urgência ou que se avise antes. Esse artigo já diz que essa interrupção tem que resguardar os
interesses da coletividade. Assim, chegamos à conclusão de que a interrupção por inadimplemento não será admitida se causar
um prejuízo à coletividade maior que a manutenção do serviço.
1.3.CLASSIFICAÇÃO
a) Quanto à fruição do serviço:
• Serviço geral (serviço uti universi): é prestado a todos e usufruído por todos simultaneamente. O Estado não tem como
saber quanto cada um utiliza individualmente desse serviço. Exemplos: segurança pública, iluminação pública. Esses serviços
são custeados pela receita geral do Estado (receita decorrente dos impostos). É um serviço público indivisível.
• Serviço singular/individual (uti singuli): é o serviço que é prestado a todos (generalidade), mas que a administração
consegue mensurar a utilização individual (é possível saber quanto cada pessoa utiliza desse serviço). Exemplo: energia
elétrica. Pode ser cobrado mediante taxa ou tarifa, que sejam proporcionais ao serviço público usufruído.
b) Quanto à prestação do serviço:
• Serviço público exclusivo indelegável: art. 21, X, CF. É o serviço que tem que ser prestado pelo Estado diretamente,
não podendo ser delegado a particulares. Exemplos: serviço postal, correio aéreo nacional, segurança pública, administração
tributária.
• Serviços de delegação obrigatória: o Estado tem o dever de prestar diretamente, mas ele não pode prestar sozinho (ele
não pode ter monopólio na prestação desses serviços). Exemplos: serviços de televisão e rádio (radiodifusão sonora e
radiodifusão de sons e imagens).
• Serviço exclusivo com possibilidade de delegação: art. 175, CF. Aqui, segue-se a regra de que o serviço público pode
ser prestado diretamente pelo Estado ou indiretamente, por meio de concessão ou permissão. O serviço público tem a
possibilidade de delegação a particulares. Exemplos: energia elétrica, telefonia, transporte público.
• Serviço público não exclusivo: é aquele que o estado tem o dever de prestar diretamente e o particular tem o poder de
prestar independentemente de delegação. Exemplos: saúde, educação, previdência. Quando o particular presta esse serviço não
é o Estado que o está prestando indiretamente (o particular está prestando por sua conta e risco, por iniciativa própria). A única
coisa que o particular precisa é de uma autorização, por se tratar de uma atividade fiscalizada pelo Estado (essa autorização
decorre do exercício do poder de polícia e não de autorização de serviço público).
Quando o particular presta esse serviço, ele não estará prestando um serviço público, por faltar o elemento subjetivo do conceito
de serviço público, qual seja a prestação direta ou indireta pelo Estado. Por isso, quando um serviço público não exclusivo é
prestado por um particular, nós dizemos que estamos diante de um serviço de relevância pública ou serviço de interesse público
ou de utilidade pública, não sendo serviços públicos propriamente ditos (serviço público impróprio).
A descentralização na prestação do serviço (transferência na prestação do serviço a uma outra pessoa jurídica) pode ser feita
mediante outorga ou delegação. Na outorga, o Estado transfere a uma outra pessoa jurídica a titularidade e a prestação do
serviço. Na delegação, o Estado se mantém na titularidade do serviço, transferindo a outra pessoa jurídica apenas o poder de
prestar (executar) o serviço.
Para a doutrina majoritária, a outorga só pode ser feita a pessoas jurídicas de direito público (só é permitido transferir a
titularidade de um serviço público a uma pessoa de direito público, que passará a executar o serviço como sua titular). A outorga
é sempre feita por meio de lei (a lei que cria uma autarquia ou uma fundação pública de direito público transfere para elas a
titularidade de um serviço).
A delegação da prestação de um serviço pode ser feita a qualquer outra entidade de direito privado (a empresas públicas,
sociedades de economia mista, fundações públicas de direito privado ou, até mesmo, a particulares). As empresas estatais e as
fundações públicas de direito privado recebem a delegação por meio de lei, enquanto os particulares a recebem por meio de
contrato. Assim, a delegação pode ser legal ou contratual.
Há entendimento minoritário que entende que a delegação é feita a particulares, enquanto a outorga é feita a qualquer entidade
da administração indireta, mas prevalece o entendimento que a delegação é feita a pessoas de direito privado, enquanto a
outorga é feita a pessoas de direito público.
Outorga e delegação estão fora de moda. Hoje, quando falamos de outorga, a doutrina fala em descentralização por serviço;
quando falamos de delegação, a doutrina fala em descentralização por colaboração.
1.6.CONSÓRCIOS PÚBLICOS
A Lei 11.107/05 criou outra forma de prestação de serviços públicos, que é a prestação feita por meio de consórcios públicos.
Os consórcios públicos buscam uma maior eficiência na prestação dos serviços públicos. No consórcio público, não há
delegação de serviço público. O serviço é prestado pelo consórcio, que não é um delegatário. O consócio não tem natureza
jurídica de contrato, mas sim de convênio. Os contratos envolvem vontades divergentes, enquanto os convênios as vontades
são convergentes. O consórcio público é uma gestão associada de pessoas de direito público (de entes federativos). Aqui não
se busca o lucro, mas sim o interesse público.
O consórcio público tem personalidade jurídica própria, não se confundindo com nenhum dos entes formadores do consórcio.
Essa nova pessoa jurídica pode ser criada ou com personalidade jurídica de direito privado ou com personalidade jurídica de
direito público.
Se for criada com personalidade jurídica de direito privado, aplicam-se a ela as regras de direito privado (regras do direito
civil), sendo ela uma associação privada.
Se for criada com personalidade jurídica de direito público, ela receberá o nome de associação pública e integrará a
administração indireta de cada um dos entes formadores do consórcio. Essa associação pública nada mais é do que uma
entidade autárquica.
Quando os entes federativos se juntam, eles não celebram o consórcio ainda, mas apenas o protocolo de intenções (que é a
intenção de cada um dos entes federativos em formar o consórcio). Esse protocolo de intenções será encaminhado para cada
um dos legislativos para ser ratificado por lei. Depois que esse protocolo de intenções é ratificado por leis de cada um dos
entes federativos envolvidos é que será formado o consórcio. As leis que ratificam o protocolo de intenções criam o consórcio
público (assim, essa autarquia é criada por todas essas leis específicas). Entende-se que o consórcio já se forma com a
publicação da lei do 2º ente consorciado.
No momento em que é celebrado o protocolo de intenções, os entes que irão compor o consórcio público firmam o contrato de
rateio, por meio do qual se definem com quanto cada ente consorciado vai participar para a formação e manutenção do
consórcio (é estabelecido quanto de orçamento cada ente consorciado vai disponibilizar para formar e manter o consórcio
público).
A Lei estabelece que a União e o município só podem participar de um mesmo consórcio se o estado que esse município integra
também estiver participando.
Sendo uma entidade autárquica, aplica-se ao consórcio público todos os ônus e prerrogativas da fazenda pública.
Quando o consórcio público decide celebrar contratos, ele tem que licitar, seja ele de direito público ou privado.
Peculiaridade: os valores das modalidades licitatórias mudam quando quem estiver realizando o procedimento licitatório for
um consórcio.
-Se o contrato tiver sendo celebrado por um consórcio formado por até três entes federativos, os valores das modalidades
licitatórias serão duplicados.
-Se o contrato estiver sendo celebrado por um consórcio com mais de três entes federativos, os valores das modalidades
licitatórias serão triplicados.
O contrato celebrado entre consórcio público e qualquer entidade da administração direta ou indireta de um dos entes
consorciados recebe o nome de contrato de programa. Assim, contrato de programa é o contrato firmado entre o consórcio
público e qualquer entidade da administração direta ou indireta de um ente consorciado. Esse contrato de programa não precisa
de licitação (art. 24, XXVI, Lei 8.666/93 dispensa a licitação para a celebração de contratos de programa). Chama-se contrato
de programa porque ele deve estar previamente programado no momento da celebração do consórcio.
ATOS ADMINISTRATIVOS
ATOS ADMINISTRATIVOS são espécies do gênero “atos jurídicos”, porque são manifestações humanas, voluntárias,
unilaterais e destinadas diretamente à produção de efeitos jurídicos. O que os peculiariza no âmbito do gênero “atos jurídicos”
é o fato de serem manifestações ou declarações da administração pública, agindo nesta qualidade, ou de particulares investidos
em funções públicas, que estejam exercendo prerrogativas públicas. O fato de serem praticados no exercício de atribuições
públicas faz com que sejam os atos administrativos submetidos a regime de direito público.
Definição de VP e MA: ato administrativo é a manifestação ou declaração da administração pública, nesta qualidade, ou de
particulares no exercício de prerrogativas públicas, que tenha por fim imediato a produção de efeitos jurídicos determinados,
em conformidade com o interesse público e sob regime predominante de direito público.
Embora os atos administrativos sejam os atos típicos do P. Executivo no exercício de suas funções próprias, não se deve
esquecer que o P. Judiciário e Legislativo também editam atos administrativos, principalmente relacionados ao exercício de
suas atividades de gestão interna, como os relativos à contração de pessoa, à aquisição de material etc.
Segundo Rafael Oliveira: Outra característica que podemos extrair do conceito de ato administrativo é o fato de ele ser a
manifestação unilateral de vontade da Administração Pública ou de seus delegatários, nesta condição. Com isso temos que
o ato administrativo não é privativo da Administração formal, ou seja, também os delegatários, nesta condição, também
podem editar atos administrativos.
Já vimos que a delegação pode ser feita por lei (Administração Indireta) ou por negócio jurídico (concessão e permissão de
serviço público): ambos estão abrangidos aqui, de modo que também podemos ter um ato materialmente administrativo editado
fora da Administração Pública formal, que é o ato praticado por uma concessionária de serviço público. Mas atenção, aqui
não é qualquer ato, pois a concessionária é uma empresa que presta serviço público que não deixa de ser uma pessoa privada,
de modo que para que o ato se enquadre como ato administrativo, é preciso que o mesmo seja praticado em decorrência da
condição de concessionária de serviços públicos.
O mesmo pensamento vale para quando pensamos às pessoas da Administração Indireta, pois aqui temos pessoas privadas e
pessoas públicas. Com relação às pessoas privadas, como a empresa pública: tal se submete ao mesmo regime das sociedades
empresárias, eis que exercem atividades econômicas. Com isso, temos que, em regra, os atos praticados pelas estatais
econômicas são privados, na forma do art. 173 da Constituição. Ocorre que nem sempre os atos são privados, pois tais se
submetem à regra do concurso público e até da licitação, que são regras de direito público.
Aqui o prof. cita a S. 333 do STJ, onde se pacificou a tese quanto ao cabimento do Mandado de Segurança contra atos de
estatais praticados em licitação. Como a licitação é um procedimento administrativo que engloba a prática de atos
administrativos, cabe o controle, via Mandado de Segurança. A súmula menciona apenas as licitações, mas devemos trazer o
raciocínio também para a noção do concurso público e outras situações que envolvam atos administrativos.
Com isso devemos ter em mente que o que importa para fins de aferição da existência de ato administrativo não é natureza
pública ou privada da pessoa. O importante para a classificação como ato administrativo é a atividade desenvolvida.
Outras definições relevantes:
A doutrina costuma utilizar a expressão “ATOS DA ADMINISTRAÇÃO” para se referir aos atos que a administração pública
pratica quando está despida de prerrogativas públicas, quando está atuando em igualdade jurídica com os particulares,
o que decorre, por exemplo, quando ela atua como agente econômico. Os “atos da administração” são regidos
predominantemente pelo direito privado.
Obs. Pode ocorrer de a expressão “atos da administração” ser utilizada genericamente, ou de forma ampla, para aludir a
qualquer ato praticado pela administração pública, sejam ou não “atos administrativos”. A rigor, somente quando os autores
contrapõem “atos administrativos” a “atos da administração” é que se pode ter certeza de que a segunda expressão foi
empregada especificamente para designar os atos da administração pública regidas predominantemente pelo direito privado.
Di Pietro3 cita ainda o FATO DA ADMINISTRAÇÃO, que também é um evento concreto, mas este não traria nenhuma
repercussão para o mundo do direito. Determinados fatos ocorridos no âmbito da Administração Pública e que não repercutem
no âmbito do Direito Administrativo. Se o servidor derramar um copo de café em cima da toalha da mesa do refeitório do
órgão que trabalha, por exemplo, estaremos diante de um fato, um acontecimento. A princípio, esse fato não produz qualquer
efeito no âmbito do Direito Administrativo, pois é suficiente que o servidor limpe a toalha, lave o copo e tudo está resolvido.
Eis o fato da Administração.
De outro lado, se o café estava muito quente e “derrete” a toalha da mesa, avaliada em R$ 100,00 (cem reais), esse mesmo
fato irá produzir efeitos no âmbito do Direito Administrativo, pois o servidor estará obrigado a restituir aos cofres públicos o
prejuízo causado. Nesse caso, não teremos um simples fato da Administração, mas sim um fato administrativo.
São FATOS ADMINISTRATIVOS qualquer REALIZAÇÃO MATERIAL decorrente do exercício da função administrativa
(“atos materiais”). Ex. uma estrada construída pela administração.
É também fato administrativo o silêncio (omissão) da administração que produza efeitos jurídicos. Assim, quando ocorre a
decadência do direito de a administração anular um ato administrativo, a inércia, da qual resultou a decadência (efeito jurídico),
é um fato administrativo, uma omissão da administração que produziu efeitos jurídicos.
Rafael Oliveira (2015): SILÊNCIO ADMINISTRATIVO
A manifestação unilateral de vontade da Administração Pública normalmente é materializada de forma expressa, por meio de
atos administrativos.
Discute-se, no entanto, a viabilidade de o silêncio administrativo (omissão administrativa ou “não ato”) configurar forma
legítima de manifestação de vontade administrativa. A omissão, no caso, NÃO É UM ATO ADMINISTRATIVO, pois inexiste
manifestação formal da vontade da Administração, razão pela qual deve ser configurada como FATO ADMINISTRATIVO.
No direito civil, o silêncio do particular representa, normalmente, consentimento tácito (art. 111 do Código Civil). Ao revés,
no Direito Administrativo, o silêncio não configura, em regra, consentimento estatal. Vale dizer: o silêncio administrativo
não representa a manifestação de vontade da Administração.
Constatada a omissão ilegítima da Administração, que não se manifesta no prazo legalmente fixado ou durante prazo razoável
de tempo, o interessado deve pleitear na via administrativa (ex.: direito de petição) ou judicial (ex.: ação mandamental) a
manifestação expressa da vontade estatal. É vedado, todavia, ao Judiciário expedir o ato administrativo, substituindo-se
à Administração omissa, tendo em vista o princípio da separação de poderes. O magistrado deve exigir que a Administração
Pública manifeste a sua vontade (positiva: consentimento ou negativa: denegatória), dentro do prazo fixado na decisão judicial,
sob pena de sanções (ex.: multa diária).
CONTUDO, excepcionalmente, o silêncio representará a manifestação de vontade administrativa QUANDO HOUVER
PREVISÃO LEGAL EXPRESSA nesse sentido (ex.: art. 26, § 3.º, da Lei 9.478/1997). Nesses casos, o silêncio importará
concordância ou não com determinada pretensão do administrado.
São, ainda, fatos administrativos quaisquer atuações da administração que produzem efeitos jurídicos, mas que NÃO tenham
por finalidade a produção desses efeitos jurídicos. São atuações que não correspondem a uma manifestação de vontade da
administração. Ex. a colisão entre um veículo oficial da administração pública dirigido por um agente público, nesta qualidade,
e um veículo particular.
Há, por fim, autores que consideram fatos administrativos eventos da natureza, não decorrentes de manifestação ou
declaração humana, que produzam efeitos no âmbito do direito administrativo, a exemplo da morte de um servidor público.
Os fatos administrativos NÃO estão sujeitos à teoria geral dos atos administrativos. Suas principais características são:
(a) não têm como finalidade a produção de efeitos jurídicos (embora possam deles eventualmente decorrer efeitos jurídicos);
(b) não há manifestação ou declaração de vontade da administração; (c) não faz sentido falar em “presunção de legitimidade”;
(d) não se pode cogitar revogação ou anulação de fato administrativo; (e) não faz sentido falar em fatos administrativos
discricionários ou vinculados.
Já os ATOS POLÍTICOS OU DE GOVERNO são os atos da administração pública em sentido amplo, não sujeitos à
teoria geral dos atos administrativos, praticados em obediência direta à CF (ex. iniciativa de lei, sanção ou veto).
Atenção!!! Além de atos administrativos e atos de governo, o Estado pratica atos legislativos e atos judiciais (ou
jurisdicionais), que correspondem às funções típicas dos Poderes Legislativo e Judiciário, respectivamente, não sujeitos,
tampouco, à teoria geral dos atos administrativo.
2. CLASSIFICAÇÕES
I. INTRODUÇÃO:
No Estado de Direito, sob a égide do princípio da legalidade, a Administração Pública sujeita-se a múltiplos controles, para
evitar que se desgarre de seus objetivos, que desatenda as balizas legais e que ofenda interesses públicos ou privados.
Assim, são concebidos diversos mecanismos para mantê-la dentro das trilhas cujos lindes deve obediência. Nessa toada, o
controle da Administração deve ser exercido tanto por ela própria, como pelos outros Poderes igualmente habilitados pela
Constituição Federal para tal fim. O controle da Administração Pública é, pois, o poder de exame, de vigilância e correção que
a própria Administração Pública direta e indireta dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
desempenha internamente sobre a sua atuação ou que os Poderes Legislativo e Judiciário exercem, externamente, sobre a
atividade administrativa.
Conquanto a atividade de controle seja atividade estatal, atribuída, portanto, aos três Poderes, o cidadão-administrado exerce
papel fundamental na sua realização, na medida em que pode provocá-lo por meio dos instrumentos previstos no sistema
jurídica, a exemplo da ação popular e do direito de petição.
II. ESPÉCIES:
A doutrina tem se valido de diversos critérios para identificar as várias espécies de controle da Administração Pública, levando
em conta a sua origem, o momento de sua realização, o aspecto a ser controlado da atividade administrativa e à extensão ou
amplitude do controle.
Obs. 1: O controle de mérito, como regra, somente pode ser exercido pelo próprio Poder que editou o ato. Ocorre que, segundo Dirley da Cunha Jr, a Constituição
habilitou o Legislativo, em algumas hipóteses excepcionais, a proceder a esse tipo de controle, tal como sucede com a possibilidade de o CN fiscalizar e controlar
os atos do Poder Executivo, incluídos os da Administração indireta (art. 49, X). Como se verá adiante, a sindicabilidade do mérito administrativo pelo Judiciário,
atualmente, tem ganhado novos ares, não se limitado este Poder a aferir cegamente a regularidade formal do ato.
Obs. 2: O controle hierárquico, ou autotutela, NÃO depende de previsão legal específica, pois é inerente à própria organização administrativa e ao poder
hierárquico. Por sua vez, o controle finalístico, ou tutela administrativa, depende de lei específica que o estabeleça, determine os meios de controle, as autoridades
responsáveis pela sua realização, bem como as suas finalidades. Quanto a este último, Bandeira de Mello adverte que seria excepcionalmente possível o seu
exercício em situações desamparadas por lei especial, desde que a situação fosse notadamente grave, configurando o que o autor nomeia de descalabro
administrativo.
Obs. 3: O controle finalístico, ou tutela administrativa, para Dirley da Cunha Jr, é espécie de controle externo, pois o ato não seria controlado propriamente pela
entidade que o editou. Todavia, para Celso Antônio Bandeira de Mello, a hipótese cuida de controle interno, pois que exercida dentro da estrutura de um mesmo
Poder. Segundo este autor, as entidades da Administração indireta sofreriam duplo controle interno: aquele efetuado pelos próprios órgãos que lhe compõem a
intimidade e aqueloutro exercido pela Administração direta.
É denúncia de irregularidade É o meio do qual se vale o É pedido de reexame do ato ou É pedido de reexame do ato ou É pedido de reexame
apresentada perante a própria cidadão em defesa de direitos, decisão dirigido à própria decisão dirigido à autoridade formulado por servidor
Administração Pública ou junto visando o seu reconhecimento autoridade que os praticou. superior àquela que os público, visando
a órgãos de controle, como o MP ou a correção de ilegalidades praticou. modificar decisão que lhe
ou o TC. contra eles perpetradas. aplicou penalidade
Pode ser: disciplinar, sob o
Próprio: dirigido à autoridade fundamento de fatos
superior dentro do mesmo novos suscetíveis de
órgão em que o ato foi comprovar a sua
praticado; inocência.
1. Impróprio: dirigido à
autoridade superior, mas que
compõe os quadros de outro
órgão.
Obs.: O recurso hierárquico próprio NÃO depende de previsão legal, decorrendo do poder hierárquico. Relaciona-se, portanto, ao controle hierárquico ou autotutela,
no que toca à amplitude do controle. A seu turno, o recurso hierárquico impróprio DEPENDE de previsão expressa e específica de lei. A doutrina convencionou
chamá-lo de impróprio porque não decorre propriamente de uma hierarquia, já que dirigido à autoridade de outra estrutura administrativa. No que tange à amplitude
ou extensão do controle, relaciona-se ao controle finalístico ou tutela administrativa.
a) Sustação de atos e contratos do Executivo (arts. 49, V e Compete ao CN sustar atos normativos do Poder Executivo que
71, XI): exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação
normativa. Cabe-lhe, também, sustar os contratos padecentes
de ilegalidade, a pedido do Tribunal de Contas;
d) Autorizações ou aprovações do Congresso necessárias Exemplifica a hipótese a autorização para o PR declarar guerra
para atos concretos do Executivo (art. 49, I, II, XII, XIII, ou celebrar a paz;
XVI e XVII):
e) Poderes controladores privativos do Senado (art. 52): Exemplifica a hipótese a aprovação, mediante voto secreto,
após arguição pública (sabatina), da escolha de magistrados,
nos casos estabelecido na Constituição, e dos Ministros do TCU
indicados pelo PR.
Obs. 1: O Tribunal de Contas, em um primeiro momento, NÃO pode sustar diretamente contratos administrativos, pois tal
missão é afeta ao CN, que deve exercê-la de forma direta, solicitando ao Executivo a realização das medidas cabíveis. Se, no
entanto, o CN ou o Executivo não cumprirem o que seja de rigor, descerra-se a possibilidade de o TC decidir a respeito (art. 71,
§§ 1º e 2º). A Corte de Contas pode sustar imediata e diretamente APENAS atos administrativos, depois de assinar prazo para
que o órgão controlado sane a irregularidade e este não o faça, na forma do art. 71, IX e X, CF/88 (CESPE, PGEPI, 2014, 2ª
fase).
Obs. 2: Em relação à escolha dos Ministros do TCU, recomenda-se tomar cuidado! Isso porque esse cargo é o único sobre o qual
o CN tem atribuição constitucional para interferir: pode escolher dois terços dos membros (art. 49, XIII e art. 73, §2º, II). Perceba
que o CN não apenas analisa a escolha do PR, sendo dele mesmo a própria escolha. O PR, por sua vez, tem a atribuição de
escolher o terço restante (art. 73, §2º, I). Sobre essa escolha do PR, o Senado Federal deliberará, sabatinando o escolhido (art.
52, III, “b”). Então, atente para a distinção de atribuições do CN e do SF.
2. Controle pelo Tribunal de Contas (arts. 70 e 71):
O Tribunal de Contas é órgão auxiliar do Poder Legislativo. Não é, portanto, órgão jurisdicional, pois a tomada de contas que
lhe incumbe é atividade administrativa.
A competência dos Tribunais de Contas, na forma do art. 71 da CF, pode ser esquematizada em três grandes blocos: a)
fiscalização em sentido estrito; b) apreciação de legalidade; c) atuação concreta em face de ilegalidades ou irregularidades.
a) Fiscalização em sentido estrito:
Julgamento dos administradores de Realização de auditorias no âmbito dos 3 Prestação de informações a respeito dos
dinheiro público (inciso II), à exceção dos Poderes, por iniciativa própria, do CN ou resultados obtidos nas auditorias ao
Chefes do Poder Executivo, que tem de CPI (inciso IV). órgão solicitante (inciso VII).
apenas apreciadas suas contas pelo TC
(inciso I);
Para fins de registro, o TC deve apreciar a legalidade dos atos de Para fins de registro, o TC deve apreciar a legalidade dos atos
admissão de pessoal, na administração direta e indireta, de concessão inicial de aposentadorias, reformas e pensões,
EXCETUADAS as nomeações para cargos de provimento em EXCETUADAS melhorias que não alterem o fundamento do
comissão, já que estes são de livre nomeação e exoneração (“ad ato concessório.
nutum”).
Em caso ilegalidade despesa Se verificada ilegalidade, o A inobservância dos prazos O TC tem competência para
ou irregularidade de contas, TC tem competência para assinados pelos órgãos e representar ao Poder
o TC tem competência para assinar prazo para que o entidades competentes competente sobre
aplicar cominações, dentre órgão ou entidade adote as descerra a competência para o irregularidades ou abusos
elas multa proporcional ao providências necessárias ao TC sustar diretamente o ato apurados (XI).
dano, cuja eficácia será de exato cumprimento da lei. administrativo ilegal. Em
título executivo caso de contrato, a
extrajudicial (VIII). competência direta para
sustação é do CN.
O TC decidirá a respeito
apenas se o CN não agir ou se
as providências por ele
determinadas não forem
cumpridas pelo órgão ou
entidade controlado (§§ 1º e
2º).
V. CONTROLE JURISDICIONAL E SINDICABILIDADE DO MÉRITO ADMINISTARATIVO
No Brasil, vigora o sistema de jurisdição única ou sistema inglês de controle judicial, que se contrapõe ao sistema do
contencioso administrativo ou sistema francês da dualidade de jurisdição.
Nesse sentido, preconiza o art. 5º, XXXV, da CF/88: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito”. Assiste, pois, exclusivamente ao Poder Judiciário decidir com força de definitividade toda e qualquer contenda sobre
a adequada aplicação do Direito, sejam quais forem os litigantes ou a índole da relação jurídica controvertida.
O Poder Judiciário está habilitado a controlar, no caso concreto, a legitimidade dos comportamentos da Administração Pública,
anulando suas condutas ilegítimas, compelindo-a àquelas que seriam obrigatórias e condenando-a a indenizar os lesados,
quando for o caso.
Celso Antônio Bandeira de Mello adverte que se deve reconhecer proteção judicial ao cidadão-administrado toda vez que:
(i) A ruptura da legalidade lhe cause um agravo pessoal do qual estaria livre se fosse mantida íntegra a ordem jurídica; ou
(ii) Seja-lhe subtraída uma vantagem a que desfrutaria ou faria jus a disputá-la se não houvesse ruptura da legalidade.
Em relação à extensão do controle judicial, deve-se pontuar que ele abrange a legalidade (leis) e a legitimidade (princípios) dos
atos da Administração Pública, sejam eles atos gerais ou individuais, unilaterais ou bilaterais, vinculados ou discricionários.
CUIDADO: Isso não significa, contudo, que o Poder Judiciário tem competência para controlar o mérito dos atos da
Administração Pública, imiscuindo-se nas funções do administrador. Em outras palavras, o Judiciário não pode examinar o
mérito dos atos da Administração, a partir de considerações sobre a sua oportunidade ou conveniência, mas sim relativamente
à sua conformação com os princípios constitucionais, notadamente com os princípios da razoabilidade, proporcionalidade,
eficiência e moralidade. Sob essa perspectiva, a sindicabilidade do mérito administrativo não mais se limita aos aspectos estritos
da legalidade. É, pois, mais ampla e tem por parâmetro todos os princípios constitucionais, além do princípio da legalidade
estrita (TRT/8ª Região, Juiz do Trabalho, 2013, prova oral).
Novamente, reitere-se o alerta acima destacado, para que a ideia seja absorvida com cautela:
(i) Posição tradicional do STF, STJ e doutrina: o Poder Judiciário não pode controlar o mérito administrativo, pois, se assim
o fizesse, imiscuir-se-ia em função típica do administrador, afrontando o princípio da separação de poderes. Esse entendimento
deve ser assinalado em fases objetivas.
(ii) Doutrina moderna e sinais de overruling no STJ: o Poder Judiciário, de fato, não pode substituir a vontade do
administrador, considerando o mérito administrativo sob as perspectivas da conveniência e oportunidade. Porém, em nome do
princípio da constitucionalidade, pode, sim, cotejá-lo em face dos ditames constitucionais, tais como o da moralidade,
eficiência, razoabilidade e proporcionalidade. O controle não seria, portanto, simplesmente de legalidade, mas também de
legitimidade ou juridicidade.
Dentre as medidas judiciais intentáveis para a correção da conduta administrativa ilegal ou ilegítima, a par das provenientes do
Direito Privado, como a reintegração de posse ou as ações ordinárias de indenização, existem algumas específicas para enfrentar
atos ou omissões de “autoridade pública”. São elas o habeas corpus, o mandado de segurança, individual ou coletivo, o habeas
data, o mandado de injunção, a ação popular, a ação civil pública, comum e por improbidade administrativa, e a ADI (por
questões didáticas e pelo relevo da matéria, essas ações serão trabalhadas em material separado).
ATENÇÃO: Controle judicial de ato político:
Atos políticos (ou de governo) não são atos administrativos, pois decorrentes do exercício de funções políticas ou de governo.
Conforme reiterado entendimento do STF, esses atos, em razão da ampla liberdade política com que são editados, não se
submetem ao controle judicial.
Em sentido diverso, Celso Antônio Bandeira de Mello e Dirley da Cunha Jr posicionam-se no sentido de que o ato político
deve se submeter, sim, ao controle judicial, quando vier a ferir princípio constitucional. Segundo o último autor, não é
admissível que um ato, qualquer que seja a sua natureza e origem, fique imune ao princípio da constitucionalidade, que impõe
conformidade material e formal de todos os atos do poder público à Constituição.
Sobre a celeuma, vale suscitar a controvérsia sobre a sindicabilidade do veto político em controle abstrato de
constitucionalidade, notadamente pelas vias da ADPF.
A possibilidade de se objetar em ADPF o veto presidencial não está pacificada no STF. Na ADPF 1, nos termos do voto do
Ministro Néri da Silveira, restou assentada a impossibilidade, sob o fundamento de que o ato cuidaria de exercício de poder
político, não se inserindo na expressão “ato de poder público”. De outro modo, na ADPF 45, o Ministro Celso de Mello
considerou a ADPF instrumento idôneo a sindicar veto presidencial tendente a lesar preceitos fundamentais. Gilmar Mendes,
em consonância com o quanto consignado na ADPF 45, entende que o veto pode ser objeto de ADPF.
Em resumo, para concursos públicos, é importante considerar:
(i) Posição tradicional do STF: não é possível controle judicial de ato político, em razão da ampla liberdade conferida pela
Constituição, para que o governante defina os rumos do país. Esse entendimento deve ser assinalado em fases objetivas.
(ii) Doutrina moderna e sinais de overruling no STF: o ato político também deve sofrer controle judicial, pois o princípio da
constitucionalidade igualmente lhe alcança. Não pode um ato do poder público, simplesmente porque rotulado de “político”,
reinar absoluto, quando fira princípio constitucional. Nesse sentido, sinalizou o STF na ADPF 45.
ATENÇÃO: Controle judicial do silêncio administrativo:
Para o Direito Administrativo, o silêncio é um nada jurídico, salvo se a lei estabelecer algum efeito. Na linha da conceituação
de Bandeira de Mello, não se pode identificar qualquer declaração no silêncio da Administração Pública. O que se verifica é a
inércia do Estado ou mutismo estatal. Todavia, por se tratar de evento relevante ao Direito, conforma um fato jurídico
administrativo.
O Poder Judiciário, no silêncio do administrador, pode exercer controle sobre essa ausência de ato (omissão), entretanto, NÃO
pode substituir a vontade do administrador, ou seja, não pode dar a resposta que caberia ao administrador. Por exemplo, em
caso de a Administração não se posicionar sobre pedido de autorização para construir, o Poder Judiciário deve fixar um prazo
para que ela cesse o estado de silêncio com uma resposta ao administrado, sob pena de multa. Não pode, portanto, satisfazer
materialmente o interesse pretendido, oferecendo ao particular a própria autorização, para cuja concessão são necessárias
ponderações sobre o mérito administrativo.
Contudo, Celso Antônio Bandeira de Mello, de forma minoritária, defende a seguinte distinção:
(i) Silêncio sobre ato VINCULADO: o próprio magistrado chamado a apreciar a questão poderá, suprindo a omissão
administrativa, avaliar se o particular reúne os elementos autorizadores da solução pleiteada, deferindo ou não diretamente o
quanto solicitado. José dos Santos Carvalho Filho e Diógenes Gasparini não concordam com tal entendimento, aduzindo que,
em face da separação de poderes, só poderia o magistrado determinar ao administrador o cumprimento de atuação comissiva
(facere), proferindo decisão de caráter mandamental. Esse último entendimento deve ser assinalado em provas objetivas, pois
consonante com a jurisprudência do STF (MS 24.167-RJ, j. 05.10.2006, rel. Min. Joaquim Barbosa, Plenário).
(ii) Silêncio sobre ato DISCRICIONÁRIO: apenas seria possível ao magistrado impor prazo para que a Administração, sob
pena de cominação diária de multa, oferte a decisão pretendida ou, caso a lei atribua efeito denegatório ao silêncio, motive
aquela denegação ficta.
Questão discursiva comentada:
1. (Estudando Direito) Os Tribunais de Contas possuem importantes atribuições no controle externo da Administração Pública,
muitas das quais dispostas nos arts. 71 e seguintes da CRFB. Tendo em vista as previsões constitucionais e a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal sobre o tema, responda às seguintes questões:
a) Os Tribunais de Contas podem exercer controle sobre editais de licitação?
b) Os Tribunais de Contas possuem competência para sustar contratos administrativos?
c) Os Tribunais de Contas podem anular acordos extrajudiciais firmados pela Administração Pública?
d) Os Tribunais de Contas podem decretar a indisponibilidade de bens?
e) Os Tribunais de Contas podem quebrar sigilo bancário?
f) Os Tribunais de Contas podem exercer controle de constitucionalidade?
Comentários:
a) Os Tribunais de Contas podem exercer controle sobre editais de licitação?
SIM. O STF, no RE n. 547063/RJ, admitiu que os Tribunais de Contas exercessem controle sobre edital de licitação, com uma
RESSALVA: considerou INCONSTITUCIONAL e ilegal a exigência genérica de prévia remessa de TODAS as minutas
dos editais.
Em outras palavras, não é possível estabelecer o dever genérico de envio de todas as minutas de editais de licitação e de
contratos ao Tribunal de Contas, tendo em vista o princípio da separação de poderes. O envio deve ser solicitado pelo Tribunal
em cada caso concreto.
Sobre o tema, o art. 113 da Lei 8.666/1993 vem reforçar a ideia de que os Tribunais de Contas podem fazer o controle das
licitações e contratos da Administração. Diz o § 2º que os Tribunais de Contas poderão solicitar, até o dia útil imediatamente
anterior à data de recebimento das propostas, cópia do edital de licitação, “obrigando-se os órgãos ou entidades da
Administração interessada à adoção de medidas corretivas pertinentes que, em função desse exame, lhes forem determinadas”.
Assim, não há dúvidas de que a Lei autoriza que o Tribunal de Contas competente realize o controle dos editais de licitação
quanto à sua legalidade, legitimidade e economicidade. Sendo o processo licitatório uma série ordenada de atos, qualquer um
deles pode ser apreciado e, eventualmente, sustado pela Corte de Contas, já que a própria CF lhe confere essa competência.
b) Os Tribunais de Contas possuem competência para sustar contratos administrativos?
Polêmica ainda maior gira em torno do art. 71, §§1º e 2º, da CF, que trata da sustação dos CONTRATOS celebrados pela
Administração.
Muito se discute na doutrina sobre a possibilidade de sustação de contratos administrativos pela Corte de Contas, uma vez que
o art. 71, §1º, da CF, dispõe, expressamente, caber ao Congresso Nacional o ato de sustação do contrato irregular. Por outro
lado, o §2º, em seguida, prevê que se tais medidas de sustação não forem adotadas pelo Legislativo no prazo de noventa dias,
o Tribunal de Contas “decidirá a respeito”.
Existem dois entendimentos em relação ao significado da expressão “decidirá a respeito”:
(i) Primeira posição: o Tribunal de Contas não pode sustar contratos administrativos, prerrogativa reconhecida
constitucionalmente ao Congresso, mas apenas rejeitar as contas por irregularidade naquela determinada despesa contratual.
Nesse sentido: Luís Roberto Barroso, Marcos Juruena Villela Souto.
(ii) Segunda posição: o Tribunal de Contas pode sustar contratos administrativos. Nesse sentido: Egon Bockmann Moreira,
Jessé Torres Pereira Junior, Marianna Montebello Willeman, Jorge Ulisses Jacoby Fernandes.
A primeira corrente sustenta a impossibilidade de o TC sustar os contratos com base, sobretudo, no princípio da separação de
poderes, afirmando que o TC não poderia substituir o Congresso Nacional nessa tarefa. Caso o fizesse, estaria invadindo a
independência dos Poderes, pois o Tribunal de Contas não pode se sobrepor ao juízo do Executivo e nem do Legislativo, visto
ser um órgão auxiliar deste último Poder, que é o responsável pelo controle externo.
De outro lado, a segunda corrente afirma a competência do Tribunal de Contas para sustar contrato administrativo, no caso de
haver transcorrido o prazo de noventa dias sem deliberação do Congresso Nacional, com base no reconhecimento da
importância, pelo texto constitucional, da Corte de Contas, que não se subordina hierarquicamente ao Poder Legislativo, e
necessita de instrumentos aptos a tornar efetiva a sua atuação.
ATENÇÃO!!
Mesmo para os adeptos da segunda corrente, a competência para sustar o contrato administrativo somente será reestabelecida
em favor do Tribunal de Contas (art. 71, §2º, da CF) se o prazo constitucional de noventa dias tiver transcorrido in albis, isto
é, deve ter havido omissão do órgão Legislativo.
Se, porventura, o Poder Legislativo não tiver sustado o contrato, por entender que não padece dos vícios apontados pelo
Tribunal de Contas, a competência para sustar NÃO será devolvida ao TC.
Assim, a segunda corrente entende que o Tribunal de Contas pode sustar contratos irregulares do Poder Executivo, mas essa
sustação não é automática (primária, imediata), devendo ser observado o seguinte rito (art. 71, IX e §§ 1.º e 2.º, da CRFB e art.
45, §§ 2.º e 3.º, da Lei 8.443/1992):
1º) Verificada a irregularidade em determinado contrato, o Tribunal de Contas assinará prazo para que o responsável adote as
providências necessárias ao exato cumprimento da lei;
2º) Caso permaneça a irregularidade, o Tribunal comunicará o fato à Casa Legislativa respectiva para sustação do contrato,
que, por sua vez, solicitará imediatamente a adoção das medidas cabíveis ao Poder Executivo; e
3º) Se a Casa Legislativa ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, permanecerem inertes, o Tribunal de Contas sustará
os contratos (art. 71, X e §§ 1.º e 2.º, da CRFB).
ATENÇÃO!!
Ainda que a doutrina divirja sobre a possibilidade de sustação do contrato administrativo segundo o STF, os Tribunais de
Contas têm competência para determinar à autoridade administrativa que promova a ANULAÇÃO do contrato administrativo.
c) Os Tribunais de Contas podem anular acordos extrajudiciais firmados pela Administração Pública?
DEPENDE. O tema foi recentemente noticiado em Informativo do STF e certamente será cobrado em concursos de 2015.
De acordo com o STF, se o acordo ainda NÃO foi homologado judicialmente, o Tribunal de Contas pode sim determinar a
anulação do termo extrajudicial. Porém, se já houve homologação judicial do acordo, falece competência para que o Tribunal
de Contas determine a sua anulação.
d) Os Tribunais de Contas podem decretar a indisponibilidade de bens?
SIM. Tal prerrogativa foi conferida pelo art. 44, § 2º da Lei n.º 8.443/92 (Lei Orgânica do TCU).
De acordo com o STF, em julgado noticiado no recente Informativo nº 779, tal prerrogativa é CONSTITUCIONAL, ao permitir,
de forma excepcional, a concessão de medidas cautelares necessárias à neutralização imediata de situações que possam causar
lesão ao interesse público, ou para garantir a utilidade prática do processo que tramita no Tribunal de Contas. Destaque-se que
tal prerrogativa pode se dar inclusive sem audiência da parte contrária, o que, de acordo com o STF, não violaria o devido
processo legal nem qualquer outra garantia constitucional, como o contraditório ou a ampla defesa.
O Colegiado asseverou que não haveria que se falar em ilegalidade ou abuso de poder em relação à atuação do TCU, que, ao
determinar a indisponibilidade dos bens, teria agido em consonância com suas atribuições constitucionais, com as disposições
legais e com a jurisprudência do STF. Com efeito, o ato impugnado estaria inserido no campo das atribuições constitucionais
de controle externo exercido por aquela corte de contas (CF, art. 71). MS 33092/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 24.3.2015. (MS-
33092)
Importante mencionar que o STF já admitia o poder geral de cautela aos Tribunais de Contas, reconhecendo a competência
implícita dos Tribunais de Contas para expedirem medidas cautelares, com vistas a prevenir lesão ao erário e garantir a
efetividade de suas decisões.
e) Os Tribunais de Contas podem quebrar sigilo bancário?
O STF, em julgado noticiado no Informativo nº 662, entendeu que NÃO.
f) Os Tribunais de Contas podem exercer controle de constitucionalidade?
De acordo com a jurisprudência clássica do STF, SIM, desde que a suscitada inconstitucionalidade seja prejudicial ao exercício
das funções de controle do Tribunal de Contas (Súmula 347 STF).
No entanto, importante mencionar que, no mandado de segurança 25.888-MC/DF, o Min. Gilmar Ferreira Mendes aduziu tese
no sentido de que esta antiga Súmula do STF estaria superada diante do atual modelo de controle de constitucionalidade:
“Não me impressiona o teor da Súmula 347 desta Corte, segundo o qual 'o Tribunal de Contas, no exercício de suas
atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público'. A referida regra sumular foi aprovada
na Sessão Plenária de 13-12-63, num contexto constitucional totalmente diferente do atual. Até o advento da Emenda
Constitucional 16, de 1965, que introduziu em nosso sistema o controle abstrato de normas, admitia-se como legítima a recusa,
por parte de órgãos não jurisdicionais, à aplicação da lei considerada inconstitucional”.
Assim, uma 2ª corrente, capitaneada pelo ilustre constitucionalista, passou a defender a impossibilidade de controle de
constitucionalidade pelas Cortes de Contas.
Não obstante, para concursos públicos, recomenda-se ainda adotar a 1º corrente, consubstanciada na Súmula 347 do STF,
segundo a qual os TCs podem sim exercer controle INCIDENTAL de constitucionalidade, quando a norma inquinada for
prejudicial ao exercício de suas atribuições. O fundamento é a já mencionada teoria dos poderes implícitos, por meio da qual
sustenta-se que os TCs, no exercício de suas funções de controle externo, muitas vezes se veem diante de normas flagrantemente
inconstitucionais, que dificultam o adequado controle da juridicidade e da economicidade das despesas públicas.
AGENTES PÚBLICOS
1. AGENTES PÚBLICOS
o Motivo de corte de gastos com pessoal (Art. 169, CF): a Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece o percentual
máximo que cada ente federativo pode gastar com pessoal (a União pode gastar, no máximo, 50%; os estados e municípios
podem gastar, no máximo 60% do que ganham com pessoal).
Exoneração por limite de gastos com pessoal
Se o ente federativo extrapola o limite estabelecido por lei, ele terá de exonerar. Essas exonerações devem respeitar uma
gradação constitucional:
1) cortar, pelo menos, 20% dos cargos em comissão;
2) servidores não estáveis (todos eles, se for preciso);
3) servidores estáveis.
O servidor estável exonerado por corte de gastos tem garantias que os outros não têm:
direito à indenização que corresponde a uma remuneração sua para cada ano de serviço público prestado;
garantia de que o seu cargo será extinto, não podendo ser criado outro igual ou similar, durante um período de 4 anos.
Demissão
Exoneração é diferente de demissão. A diferença está na finalidade. Tanto na exoneração quanto na demissão, o servidor perde
o cargo. A diferença é que a demissão é a perda do cargo em caráter punitivo (ele é punido/sancionado com a pena de demissão),
e a exoneração não é penalidade, não tendo finalidade punitiva.
Estágio probatório
Estágio probatório: segundo a Lei 8.112, o estágio probatório seria de 24 meses, mas a CF fala que a estabilidade só se adquire
depois de três anos. O entendimento do STJ e do STF é de que o prazo do estágio probatório é o prazo para adquirir a
estabilidade, consequentemente, se a CF mudou o prazo de aquisição da estabilidade de dois para três anos, o prazo de estágio
probatório passa a ser de três anos, independentemente do que a lei diga sobre isso.
Vitaliciedade
Alguns agentes públicos de determinadas carreiras adquirem mais do que a estabilidade; eles adquirem a vitaliciedade. O agente
vitalício só pode perder o cargo mediante sentença judicial transitada em julgado.
A vitaliciedade só poderá ser adquirida pelos membros da magistratura, do MP e dos tribunais de contas. Para aqueles que se
submeteram a concurso público, a CF prevê a possibilidade de aquisição de vitaliciedade após dois anos de efetivo exercício
do cargo público da carreira. Já para aqueles que ingressaram mediante indicação política, a vitaliciedade é adquirida
imediatamente com a entrada em exercício.
Em importante julgado, no ano de 2011, o STF decidiu que quando o candidato é aprovado dentro do número de vagas
estipulado no Edital e da validade do concurso público, ele terá direito à nomeação (RE 598.099). Trata-se da aplicação do
princípio da confiança, que faz surgir o direito subjetivo à nomeação.
Todavia, ainda assim, é possível que a Administração Pública deixe de contratar. Hipótese excepcionalíssima, que, a partir da
inversão do ônus da prova, a Administração Pública deverá provar: superveniência, imprevisibilidade, gravidade e necessidade.
Só preenchendo todos esses requisitos, é que poderá furtar-se da obrigação de contratação daquele que fora aprovado dentro
do número de vagas e que requereu dentro da validade do concurso.
O provimento do cargo dá-se com a nomeação, mas a investidura no cargo se dá com a posse (a pessoa só se torna servidora
quando toma posse).
Em âmbito federal, a Lei 8.112/90 confere um prazo de 30 dias para tomar posse (pode tomar antes, sendo esse o prazo
máximo). A posse pode ser feita mediante procuração específica. Depois de tomar posse, ele deve, no prazo máximo de 15
dias, entrar em exercício nas funções do cargo (o exercício é personalíssimo).
O provimento derivado, por seu turno, decorre de um provimento originário anterior naquela carreira. Ele só pode ter
provimento derivado se ele já havia ingressado naquela carreira originariamente. Não existe nenhuma forma de provimento
derivado que permita ao servidor sair de uma carreira para outra carreira sem concurso público. O provimento derivado só pode
ocorrer na mesma carreira que ele já havia ingressado originariamente (Súmula n° 685, STF).
Hipóteses de provimento derivado:
Promoção: é o que se chama de provimento derivado vertical. É sempre feita alternadamente por antiguidade e por
merecimento. Não há mudança de carreira.
Readaptação: ocorre quando o servidor sofre uma limitação na capacidade física ou mental que gera a necessidade
de ele assumir um novo cargo na mesma carreira que tenha funções compatíveis com a limitação que ele sofreu. O servidor
readaptado tem a garantia de equivalência de vencimentos (a readaptação não pode ensejar uma alteração remuneratória para
ele). A readaptação não é nem promoção nem regressão de regime, por isso ele tem essa garantia de equivalência de
vencimentos. O servidor readaptado também tem a garantia de que será readaptado mesmo que não haja cargo compatível vago
(ele ficará como excedente até que surja um cargo vago compatível com o dele).
Reversão: é a volta ao cargo público do servidor que estava aposentado (em inatividade). Exemplo: retorno do servidor
que estava aposentado por invalidez. A Lei 8.112/90 prevê também a reversão na aposentadoria voluntária, desde que sejam
atendidos os seguintes requisitos:
o A pedido do servidor;
o Haja interesse da administração;
o Esteja aposentado, no máximo, há 5 anos;
o Tinha que ser estável quando a aposentadoria ocorreu;
o Tem que haver cargo vago.
1.4. VACÂNCIA
É possível acumular provento de aposentadoria com remuneração da atividade no serviço público? A princípio não é possível,
mas há exceções (admite-se essa acumulação, desde que os cargos sejam):
• acumuláveis na atividade; ou
• provento de aposentadoria com remuneração de cargo em comissão; ou
• provento de aposentadoria com subsídio de detentores de cargo eletivo (aqui não é só o cargo de vereador).
No âmbito federal, a Lei estabelece que, se o sujeito acumula cargos ilicitamente e a administração descobre essa situação, a
administração dará a ele um prazo de 10 dias para que faça a opção. Se ele fizer a opção dentro do prazo, considera-se que ele
estava de boa-fé (é como se ele estivesse pedindo exoneração de um dos cargos). Se ele não optar, será instaurado um processo
administrativo sumário (não é um PAD propriamente dito, mas sim um procedimento regulamentado na própria Lei 8.112/90).
Processo sumário: instaura-se o processo com a designação da comissão, que será composta por dois servidores públicos
estáveis; abre-se prazo de 5 dias para apresentar defesa (a Lei diz que, se ele fizer a opção até o último dia do prazo de defesa,
considera-se que ele estava de boa-fé); se a opção não for feita, segue-se para julgamento; se, ao final do julgamento, for
verificada a acumulação ilegal de cargos, ele será demitido de todos os cargos que ele estava acumulando ilicitamente.
Em todos os casos, mesmo afastado, ele continua contribuindo para o regime próprio, como se estivesse em atividade. Em
casos de afastamento, esse tempo conta para todos os efeitos, salvo para promoção por merecimento.
1.7.REGIME PREVIDENCIÁRIO
No Brasil, nós temos dois regimes obrigatórios de previdência: o RGPS (artigos 201 e 202, CF) e o RPPS (art. 40, CF).
O regime próprio aplica-se somente aos detentores de cargos públicos efetivos (não é qualquer estatutário, mas apenas os
detentores de cargos efetivos estão vinculados ao regime próprio). Para que o detentor de cargo efetivo esteja vinculado a um
regime próprio de previdência social, necessariamente, o ente federativo ao qual ele está vinculado tem que ter criado um
regime próprio. Não havendo regime próprio, eles seguirão o regime geral.
EC n. 20/98 e EC n° 41/03 são as chamadas reformas previdenciárias. Cuidado com a leitura da Lei 8.112/90 em relação aos
artigos que falam do regime previdenciário, pois são dispositivos superados pelas emendas mencionadas.
O regime de previdência dos servidores tem duas características básicas:
Solidariedade: você contribui não necessariamente para a sua aposentadoria; você não contribui exatamente aquilo
que você vai receber de volta; as pessoas contribuem para a manutenção do sistema.
Contributividade: mesmo sem haver correspondência lógica, só estará vinculado ao regime de previdência aquele que
contribuir. Agora não se fala mais em tempo de serviço, mas sim de tempo de contribuição. O que importa para a aposentadoria
é o tempo de contribuição, tanto é que a CF veda o que se chama de contagem fictícia de tempo de contribuição (o que existe
é o tempo que ele efetivamente contribuiu). Quando a EC n° 20/98 foi publicada, determinou que tudo que o sujeito havia
acumulado a título de tempo de serviço será automaticamente convertido em tempo de contribuição.
A CF permite o que se chama de contagem recíproca de tempo de contribuição (todo o tempo de contribuição que ele tiver em
qualquer regime, ele poderá aproveitar para fins de aposentadoria no regime próprio) – os regimes se compensarão.
A CF, porém, veda a contagem simultânea de tempo de contribuição (não será possível aproveitar o tempo em que se contribuiu
ao mesmo tempo para dois regimes em um regime só; talvez seja possível, a depender do tempo de contribuição para cada
regime, que a pessoa se aposente pelos dois regimes).
Dentro do serviço público, temos hoje três espécies de aposentadoria:
a) Aposentadoria por Invalidez: desde que demonstrada por meio de laudo médico oficial, ela ocorre diante da invalidez
permanente do sujeito para a prestação do serviço público. A aposentadoria por invalidez se dá com proventos proporcionais
ao tempo de contribuição, mas há exceções.
A CF diz que a aposentadoria por invalidez se dará com proventos integrais (pouco importando o tempo de contribuição) em
três hipóteses:
• quando a invalidez for decorrente de acidente em serviço;
• se a invalidez decorrer de moléstia profissional;
• se a invalidez decorrer de uma doença grave contagiosa ou incurável na forma da lei (o artigo 186, §1º, Lei 8.112/90 estabelece
quais as doenças consideradas graves contagiosas ou incuráveis que dão o direito à aposentadoria com proventos integrais – o
STJ disse que esse rol é exemplificativo, mas o STF, entendendo que a decisão do STJ era equivocada, em 2014, proferiu
decisão em sentido contrário por unanimidade – então, hoje, o STF estabeleceu que o rol de doenças graves estabelecido em
lei é taxativo).
Fazendo interpretação teleológica, o STJ entende que, se a doença grave advém mesmo depois de a pessoa já estar aposentada
por invalidez com proventos proporcionais, a pessoa terá direito à conversão em aposentadoria com proventos integrais.
b) Aposentadoria Compulsória: em 2015, houve a publicação de EC que alterou a idade para 75 anos. No caso dos membros
de Tribunais Superiores e dos Tribunais de Contas a norma é de eficácia plena. Quanto aos demais agentes públicos, a norma
depende de regulamentação por Lei Complementar. A LC já foi publicada.
A aposentadoria compulsória ocorre no dia do aniversário. O ato de aposentadoria é meramente declaratório.
c) Aposentadoria Voluntária: pode ser integral ou proporcional, a depender dos requisitos cumpridos. Seja com proventos
proporcionais ou integrais, para que a pessoa se aposente voluntariamente, terá que ter:
• 10 anos de serviço público, sendo que os últimos 5 têm que ser no cargo em que ele está se aposentando.
Além disso, se a aposentadoria voluntária for integral, ele tem que ter:
• se homem, 60 anos de idade e 35 de contribuição;
• se mulher, 55 anos de idade e 30 de contribuição.
Se a pessoa preencher todos os requisitos para a aposentadoria voluntária integral e, mesmo assim, optar por ainda não se
aposentar, terá direito ao abono de permanência (recebido mensalmente até que se aposente); o valor do abono de permanência
é coincidente com o valor da contribuição previdenciária, mas não é correto dizer que a pessoa deixou de contribuir, pois ele
continua contribuindo.
A CF regulamenta um benefício (aposentadoria com proventos integrais com cinco anos a menos na idade e na
contribuição – essa regra não vale para a aposentadoria proporcional) para as pessoas que exercem a função de magistério, mas
para ter direito a esse benefício, devem ser preenchidos os seguintes requisitos:
• todo o tempo de contribuição em atividade ligada ao magistério do ensino infantil, fundamental ou médio (não precisa ser em
sala de aula – súmula 726, STF superada);
• se homem, 55 anos de idade e 30 anos de contribuição;
• se mulher, 50 anos de idade e 25 de contribuição.
No caso de aposentadoria por idade com proventos proporcionais, além de ter 10 anos de serviço público, sendo os
últimos 5 anos no cargo em que ele está se aposentando, a pessoa deve ainda preencher os seguintes requisitos:
• se homem, 65 anos de idade;
• se mulher, 60 anos de idade (o tempo de contribuição aqui não é relevante, pois ele será utilizado no cálculo do valor do
provento).
Aposentadoria especial
A concessão de aposentadorias não pode criar critérios diferenciados de aposentadoria. Entretanto, Lei Complementar pode
criar critérios especiais para:
-Portadores de deficiência.
-Atividades de risco
-Prejudicial à saúde. (SV 33 – Essa aposentadoria especial não é autoaplicável, mas se aplicam as regras do RGPS para
aposentadoria especial, até que venha LC regulamentando essa aposentadoria especial. Há uma discussão no sentido de se
estender esse entendimento para os portadores de deficiência. Não há como estender para as atividades de risco, pois não há
paralelo para essa aposentadoria especial no RGPS).
Emenda Constitucional n. 41/2003
A CF estabelece alíquota única de contribuição de 11% sobre o valor total da remuneração. A princípio, não havia teto de
aposentadoria no âmbito do RPPS. Vieram então as alterações da EC n° 41/03.
A partir dessa emenda, os servidores inativos passaram a contribuir (criou-se a contribuição do inativo – inativo abrange
aposentados e pensionistas). Se o inativo ganhar até o teto do regime geral, ele não contribui; se ele ganhar acima do teto do
regime geral, só contribuirá sobre o que ultrapassar esse teto.
Se o inativo sofrer de doença incapacitante, ele só contribui sobre o que ultrapassar o dobro do teto do RGPS.
Outra mudança foi a determinação da aplicação do teto do regime geral aos servidores do regime próprio, mas esse teto somente
será aplicado depois que for criado um regime complementar público de previdência (norma de eficácia limitada) – quando
esse regime complementar público foi criado, o servidor vai ficar sujeito ao teto do regime geral, mas terá a opção de
complementar o provento de sua aposentadoria contribuindo para o regime complementar público de previdência. No âmbito
federal, no final de 2012, foi editada a Lei 12.618/2012 que criou a FUNPRESP que é o regime complementar de previdência
pública no âmbito federal, sendo regulamentada em março de 2013 (o regime complementar não retroage; assim, todos aqueles
que ingressaram antes de março de 2013, podem se manter no regime anterior – sem teto – sendo isso uma opção; quem
ingressar depois dessa data, não terá opção, somente podendo contribuir até o teto do regime geral, mas também poderá
complementar esses valores contribuindo para o regime complementar de previdência pública). Os entes estaduais e municipais
precisam criar os seus próprios regimes de previdência complementar para que o teto do regime geral se aplique aos seus
servidores (enquanto não forem criados, o teto do regime geral não poderá ser aplicado aos servidores daquele ente federativo).
A EC n° 41/03 ainda extinguiu as garantias de integralidade e de paridade. O servidor tinha uma garantia de que o valor de seu
provento quando se aposentasse seria o valor de sua última remuneração no serviço público. Agora, os proventos de
aposentadoria do regime próprio são calculados de forma exatamente igual à do cálculo dos proventos do regime geral (média
aritmética dos 80% maiores salários de contribuição da vida do sujeito). A paridade era uma garantia de igualdade do inativo
com o servidor da ativa (sempre que o servidor em atividade de carreira igual a sua tivesse um aumento, ele teria o mesmo
aumento, no mesmo índice, na mesma proporção). Art. 40, §8º, CF: garante apenas ao servidor inativo uma revisão geral anual
dos proventos para manter o poder de compra. Quem se aposentou antes de 2003, mantém paridade e integralidade. Quem
ingressou no serviço público antes de 2003, se cumprir alguns requisitos, poderá manter a integralidade e a paridade. Quem
ingressou depois de 2003, não tem mais direito à paridade e à integralidade.
MP 664/2014: alteração no regime de pensão dos servidores públicos. A forma de cálculo da pensão não foi alterada, pois esse
cálculo está definido na própria CF. Desde a EC n° 41/2003, o cálculo da pensão é feito da seguinte forma:
•Pensão = valor da remuneração/provento até o teto do RGPS + 70% do restante (do que ultrapassar o teto do RGPS). Exemplo:
suponha que o teto do RGPS é de cinco mil e que o agente ganhava dez mil = 5000 + 70% 5000 = a pensão gerada será de oito
mil e quinhentos.
O sujeito condenado por crime doloso contra a vida do segurado não fará jus à pensão deixada por ele.
Hoje, não há mais a divisão da pensão por grupos, mas sim por cabeça, por dependentes. Hoje, a pensão é paga a seis espécies
de dependentes sem divisão deles em grupos. A pensão será dividida igualmente quando houver mais de um dependente. Os
dependentes são:
1) O cônjuge
2) O divorciado ou separado judicialmente que esteja recebendo alimentos
3) Companheiro
4) Filhos até 21 anos ou inválidos enquanto durar a invalidez
5) Pai/mãe, desde que sejam dependentes do sujeito (precisam comprovar a dependência econômica)
6) Irmão até 21 anos ou inválido (enquanto durar a invalidez), desde que comprove dependência econômica.
Hoje, a Lei 8.112/90 não regulamenta mais a pensão para o menor sob guarda.
Se o sujeito tiver dependente dos números 1 a 4, eventuais dependentes dos números 5 ou 6 serão excluídos. Os dependentes
do número 5 excluem os do número 6. Assim, para que o irmão até 21 anos ou inválido receba a pensão, além de demonstrar
a dependência econômica, terá também de demonstrar que não há nenhum dos beneficiários dos números anteriores.
Regras:
a) Havendo dependentes que não se excluam, o valor da pensão é dividido igualmente entre eles.
b) O valor que sobrar quando algum dependente deixar de ser beneficiado com a pensão será acrescido aos demais
dependentes da pensão.
c) Quem foi excluído no momento da abertura da pensão legitimamente não volta mais como beneficiário dela, mesmo
que os demais dependentes venham a “desaparecer”.
Hoje, o sujeito que for casado por até dois anos não receberá pensão (assim, o cônjuge/companheiro só receberá pensão se
estiver casado/união estável há, pelo menos, dois anos. Ressalvas (mesmo se não estiver casado/união estável há dois anos, ele
receberá pensão):
Se a morte do agente decorrer de um acidente ocorrido depois do casamento;
Se o cônjuge/companheiro for declarado incapaz para qualquer atividade remunerada, sendo que essa incapacidade
surgiu após o casamento e antes da morte do agente.
A pensão paga ao cônjuge é provisória em algumas situações (o tempo de pensão varia de acordo com a expectativa de
sobrevida do cônjuge sobrevivente). Se ele tiver uma expectativa de sobrevida menor que 35 anos, ele receberá pensão vitalícia
(tabelinha no art. 217, §3º, I, Lei 8.112/90).
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
1. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
1.1.INTRODUÇÃO
O conceito de probidade gira em torno do conceito de moralidade, sendo uma atuação moral, honesta, de boa-fé, de não
corrupção no trato com a coisa pública. A expressão improbidade, modernamente, é muito mais ampla que a expressão
moralidade. A improbidade administrativa traz algumas situações que vão além das hipóteses de violação do princípio da
moralidade (a violação do princípio da moralidade é apenas uma das hipóteses de improbidade previstas em lei).
O art. 37, §4º, CF estabeleceu que a lei sancionará os atos de improbidade com: a perda da função pública, a suspensão dos
direitos políticos, indisponibilidade de bens e ressarcimento ao erário. Em 1992, para regulamentar esse parágrafo, foi editada
a Lei 8.429/92.
A Lei n.º 8.429/92 pode ser aplicada a fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor?
NÃO. É pacífico o entendimento do STJ no sentido de que a Lei n.º 8.429/92 não pode ser aplicada retroativamente para
alcançar fatos anteriores a sua vigência, ainda que ocorridos após a edição da Constituição Federal de 1988 (REsp 1129121/GO,
Rel. p/ Acórdão Min. Castro Meira, julgado em 03/05/2012).
1.2.ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE
Existem três argumentos doutrinários (já afastados, mas caiu em prova os argumentos para os afastar) que apontam para a
inconstitucionalidade da LIA:
o Inconstitucionalidade formal: afastada pelo STF. Violação ao princípio da bicameralismo. O projeto surgiu na CD e,
depois, foi encaminhado ao SF. No SF, ele sofreu emendas, formando um substitutivo do projeto de lei originário. Ao voltar
para a CD, lá essas emendas não foram acatadas, tendo o projeto praticamente voltado à redação originária. Daí, foi
encaminhado para sanção. O STF disse que o substitutivo apresentado no SF, por não ser um novo projeto de lei, não precisaria
voltar ao SF caso não fosse acatado.
o Inconstitucionalidade material: não analisada pelo STF. A LIA seria inconstitucional por prever sanções não
estabelecidas na CF. A doutrina majoritária, porém, defende que o rol da CF não é taxativo, tendo a CF pretendido apenas
estabelecer um rol mínimo de sanções, que necessariamente deveriam constar na lei que regulamentasse o tema.
o Inconstitucionalidade material: não analisada pelo STF. A CF estabelece competência legislativa concorrente editar
normas acerca das sanções a serem aplicadas aos seus servidores públicos. Assim, defendiam que a LIA seria inconstitucional
por estabelecer sanções aplicáveis no âmbito dos estado e municípios (só poderia ser aplicada à União, sendo lei federal e não
nacional). Ocorre que a LIA não é uma lei que prevê sanções administrativas aos servidores, regulamentando sim sanções de
natureza civil a todos aqueles que pratiquem atos de improbidade, servidores ou não. Dessa forma, a LIA é uma lei nacional e
não meramente federal.
STJ, 2ª Turma, REsp 11271182 (28/09/2010): Sejam considerados agentes comuns, sejam considerados agentes políticos, a
Lei n. 8.429/92 é plenamente incidente em face de magistrados por atos alegadamente ímprobos que tenham sido cometidos
em razão do exercício de seu mister legal.
STJ, 2ª Turma, REsp 118417 (19/08/2010): Por exercerem atividade delegada do Poder Público, mantendo com ele vínculo
contratual, os notários e registradores são sujeitos ativos em potencial dos atos de improbidade administrativa.
STF, Plenário, Rcl 2138 (13/06/2007): A LIA não se aplica aos agentes políticos, para os quais a Constituição Federal instituiu
regime especial de julgamento por crimes de responsabilidade (disciplinados pela Lei 1079/1950).
STF, 2ª Turma, AgR no RE 579799 (02/12/2008): Conforme dispõe o art. 105, I, ‘a’, da CR/88, Desembargadores cometem
crime de responsabilidade – sendo julgados no STJ -, e não ato de improbidade administrativa, não se aplicando, pois, a eles.
1.4.2. SUJEITO PASSIVO DO ATO DE IMPROBIDADE
É quem a lei pretende proteger; é quem pode sofrer um ato de improbidade. É sujeito passivo do ato de improbidade, a princípio,
qualquer entidade da administração pública direta e da indireta; as entidades privadas que recebam dinheiro público para a
formação do capital e para custeio em geral (se o dinheiro público concorre com mais de 50% do capital da entidade, a LIA
aplica-se integralmente, equiparando-se essa entidade privada, para fins de improbidade, a uma entidade da administração
pública; se o dinheiro público concorrer com menos de 50% do capital ou se ela somente receber incentivo
fiscal/creditício, a LIA somente será aplicada no que tange às sanções patrimoniais e no limite do dinheiro público).
1.5.ESPÉCIES DE ATO DE IMPROBIDADE
São atos de improbidade:
Os que geram o enriquecimento ilícito do agente (art. 9º, LIA);
Os atos que causam dano ao erário (art. 10, LIA);
Os atos que atentam contra princípios da administração (art. 11, LIA).
Os atos decorrentes de concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário
____________
OBS: A LC 157/2016 alterou a Lei nº 8.429/92 e criou uma quarta espécie de ato de improbidade administrativa. Veja o novo
artigo que foi inserido na Lei de Improbidade:
Seção II-A
Dos Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício
Financeiro ou Tributário
Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa qualquer ação ou omissão para conceder, aplicar ou
manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei
Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela LC 157/2016)
O art. 8ºA da LC 116/2003 prevê a alíquota MÍNIMA do ISS que os Municípios (DF) poderão cobrar:
Art. 8º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza é de 2% (dois por cento).
Desse modo, nenhum Município poderá instituir alíquota de ISSQN inferior a 2%.
Ação ou omissão
Vale ressaltar que o art. 10-A afirma que configura ato de improbidade administrativa a ação ou omissão. Imagine o seguinte
exemplo: determinado Município está concedendo isenção fiscal de ISS em contrariedade ao art. 8ºA da LC 116/2003. São
realizadas novas eleições municipais e assume um novo Prefeito. Caso este não tome providências para fazer cessar esta
isenção, responderá por ato de improbidade administrativa por conta de sua omissão.
Prazo de adaptação
A LC 157/2016 determinou que os Municípios/DF terão o prazo de 1 ano para revogar os dispositivos que contrariem o disposto
no caput e no § 1º do art. 8º-A acima transcritos.
Assim, o caput e o § 1º do art. 8ºA da LC 116/2003, apesar de já estarem em vigor, ainda não estão produzindo efeitos. Somente
produzirão efeitos a partir de 30/12/2017.
_______________
A configuração do ato de improbidade independe de efetivo dano (patrimonial) ao erário, salvo na hipótese do art. 10 (lesão
ao erário).
A configuração do dano ao erário também independe da rejeição de contas pelo tribunal de contas.
Os incisos dos artigos mencionados são meramente exemplificativos. Assim, os atos de improbidade não precisam da expressa
disposição em um dos incisos dos artigos 9º, 10, 10-A e 11, LIA.
STJ, 2ª Turma, REsp 1014161 (17/09/2010): É punível a tentativa de improbidade administrativa nos casos em que as condutas
não se realizam por motivos alheios ao agente, haja vista a ocorrência a de ofensa aos princípios da Administração Pública.a
LIA.
No caso do art. 10, LIA (atos que causam dano ao erário), a Lei expressamente fala em atos dolosos ou culposos. Entendimento
jurisprudencial: os atos de improbidade dos artigos 9º, 10-A e 11, LIA só podem ser punidos a título de dolo.
Atos que causam dano ao erário (art. 10, LIA) Punidos a título de DOLO ou CULPA.
1.6.SANÇÕES
A gravidade das sanções vai aumentando conforme aumenta a gravidade do ato de improbidade. Vejamos as sanções previstas
na LIA:
Art. 9º, LIA Art. 10, LIA Art. 10-A, LIA Art. 11, LIA
Suspensão dos direitos políticos Suspensão dos direitos políticos Suspensão dos direitos Suspensão dos direitos políticos
de 8 a 10 anos. de 5 a 8 anos. políticos de 5 a 8 anos. de 3 a 5 anos.
Se o sujeito cometeu uma infração que, ao mesmo tempo, gera enriquecimento ilícito, causa dano ao erário e atenta contra
princípio da administração, ele sempre irá sofrer as sanções referentes à infração mais grave.
Para cada ato de improbidade, a Lei estabeleceu seis sanções, que poderão ser aplicadas isoladamente ou cumulativamente,
segundo o livre convencimento motivado do juiz (havendo qualquer espécie de dano ao erário, o juiz não pode deixar de
determinar o ressarcimento ao erário, mas as outras sanções ele pode deixar de aplicar). O juiz poderá aplicar as sanções mesmo
que elas não tenham sido requeridas expressamente na petição inicial.
Segundo entendimento jurisprudencial, o agente condenado por improbidade administrativa perderá a função que estiver
exercendo no momento da aplicação da pena e não a função da qual ele se valeu para praticar o ato de improbidade.
Se a decisão não disser nada acerca do prazo de suspensão dos direitos políticos, aplica-se o menor prazo fixado na lei para o
ato de improbidade em questão.
No caso de ato de improbidade que importe em violação a princípio da administração, se o agente público não tem remuneração,
com base no princípio da adequação punitiva, a multa poderá ser de até 100x o salário mínimo.
STJ, 2ª Turma, REsp 892818 (11/11/2008): O princípio da insignificância não se aplica à LIA.
o Cautelar de afastamento preventivo ou provisório do servidor: é uma medida cautelar que visa a resguardar a instrução
processual. Esse afastamento ocorrerá sem prejuízo à remuneração (se ocorrer o afastamento, será com remuneração integral).
Não há previsão de prazo para esse afastamento, devendo ele durar o tempo necessário.
Todas essas medidas cautelares podem ser ou ações cautelares preparatórias ou medidas cautelares incidentais no bojo da ação
de improbidade. Se a medida for requerida em uma ação cautelar preparatória, o autor da ação tem 30 dias contados da
efetivação da medida para propor a ação principal (se ele não propuser a ação principal dentro desse prazo, a cautelar efetivada
cairá). ATENÇÃO! No CPC não há mais cautelares preparatória. Todavia, essa alteração não atinge o processo na LIA.
STJ, 2ª Turma, REsp 842428 (24/04/2007): Não infringe o princípio da congruência a decisão judicial que enquadra o ato de
improbidade em dispositivo diverso do indicado na inicial, eis que deve a defesa ater-se aos fatos e não à capitulação legal.
LEI ANTICORRUPÇÃO
1. LEI ANTICORRUPÇÃO
É uma lei que prevê a responsabilidade de pessoas jurídicas. A LIA sanciona apenas as pessoas físicas (agentes públicos e
terceiros). Assim a Lei 12.846/2013 veio para responsabilizar administrativa e civilmente as pessoas jurídicas por atos contra
a administração. Não há aplicação de sanções penais por essa lei.
Sua intenção é agregar no combate à corrupção. Não substitui as eventuais sanções já existentes. Assim, as sanções aplicáveis
nessa lei são independentes das sanções aplicáveis às pessoas físicas. Não afasta as penalidades aplicáveis pela 8.429 e pela
8.666/93.
No caso de fusão e incorporação, as sanções são aplicáveis à PJ sucessora.
No caso de sociedades controladas ou coligadas, haverá a responsabilidade solidária.
São atos lesivos:
1-Dar ou prometer vantagem a agente;
A lei não diferencia se foi exigido pelo agente ou se a PJ apresentou espontaneamente.
2-Patrocinar ilícito administrativo;
3-Ocultar beneficiários de ato ilícito;
4-Fraudes nas licitações e contratos;
5-Dificultar investigação administrativa das agências reguladoras ou sistema financeiro.
A responsabilidade das pessoas jurídicas é de natureza objetiva (independe de dolo ou culpa).
As sanções são aplicadas mesmo que não haja dano patrimonial ao erário.
Os atos lesivos são os mesmos para a responsabilidade administrativa ou civil. O que vai diferenciar é o procedimento
(administrativo ou judicial) e as sanções.
Sanções:
1-Multa: de 0,1% a 20% do faturamento bruto ou R$6.000,00 a R$60.000.000,00.
É o administrador que, no caso concreto, vai determinar a intensidade da sanção. É possível que a multa seja aplicada em
percentual sobre o faturamento bruto ou em valor fixo. Deve respeitar a proporcionalidade.
OBS: não se confunde nem afasta o ressarcimento ao erário, se houver dano.
2-Publicação extraordinária da sanção.
Visa atingir a credibilidade da PJ.
Essas são as duas únicas penalidades que podem ser aplicadas administrativamente.
Essas penas devem respeitar o princípio da proporcionalidade.
As penalidades administrativas serão aplicadas mediante processo administrativo. Que segue:
1-Instauração: pela autoridade máxima do órgão.
É possível a delegação.
No âmbito da União e dentro do Poder Executivo Federal, a CGU terá competência concorrente com a autoridade máxima.
2-Comissão.
Deve ser composta por 2 servidores estáveis (não basta que sejam efetivos).
3-Instrução probatória.
São admissíveis todos os meios de prova lícitos. A instrução probatória vem antes do prazo para a defesa.
A PJ terá 30 dias para defesa.
4-Relatório e julgamento
O relatório é conclusivo e não vinculante.
O prazo máximo do processo administrativo é de 180 dias. Esse prazo, contudo, é impróprio.
É possível a desconsideração da personalidade jurídica, caso a PJ esteja sendo usada como escudo.
OBS: é possível afastar ou minimizar as sanções mediante o ACORDO DE LENIÊNCIA.
É possível firmar mesmo no âmbito do processo administrativo, desde que respeitados os seguintes requisitos:
Deve ser feito com a primeira PJ a se manifestar interessada. Não é possível firmar acordo de leniência com mais
de uma PJ envolvida.
Deve cessar totalmente o seu envolvimento com o fato.
Cooperar, às suas expensas, com investigação até o final.
Ocorre por meio de ação judicial, a ser ajuizada pelo MP ou pela PJ lesada. Há independência entre as instâncias administrativa
e civil.
Sanções:
Perda de bens
Suspensão temporária das atividades
Dissolução compulsória da PJ.
Proibição de receber incentivos fiscais e creditícios de 1 a 5 anos. Essa é a única sanção civil que pode ser afastada
pelo acordo de leniência.