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TEMA DA SEMANA
2 Savana 22-03-2019
Ciclone IDAI
C
omo se Zeus, o pai dos soas nas zonas baixas das pro-
deuses da mitologia víncias de Sofala e Manica, que
grega, se tivesse incom- inundaram e alagaram residências
patibilizado com a cida- de forma muito rápida. Em Ma-
de da Beira. Os seus habitantes, tarara, no posto administrativo de
na noite de quinta para sexta- Dombe, distrito de Sussundenga,
-feira da semana passada, foram sobreviventes das enchentes dos
sujeitos ao mais tenebroso dos caudais do rio Lucite, na sequên-
terrores, com os ventos e chuvas cia das inundações provocadas
trazidos pelo ciclone Idai a dei- pela passagem do ciclone Idai, re-
xar a cidade sem eira nem beira. latam o drama de ter sobrevivido
Como se uma bomba atómica ti- à fome, sede, cansaço e sono por
vesse sido lançada sobre a capital cima das árvores durante três dias.
de Sofala, o local por onde passou A água invadiu várias aldeias do
“o olho” do ciclone de nível qua- posto administrativo de forma
tro. A mesma classificação maldi- repentina, nas primeiras horas de
ta do Katrina, que assolou Nova sábado, tendo muitos dos residen-
Orleães, nos Estados Unidos, em tes recorrido a árvores para esca-
2005. par à velocidade das águas, que
chegou a atingir quase três metros
Em relatos impressionantes, vá- de altura, em zonas nunca antes
rios sobreviventes do ciclone Idai, inundadas.
que atingiu as províncias de So- “Eu estava a cozinhar e de repente
fala e Manica na semana passada, vi água a chegar em minha casa.
contam como foi possível escapar Larguei as panelas, fugi seguran-
das rajadas ciclónicas numa casa do os meus três filhos e subimos
sem tecto e com zincos a voarem na árvore”, contou ao SAVANA,
População do Búzi no campo de futebol a assistir à sua própria desgraça, referência de um comovido repórter de televisão Albertina Samuel, acrescentando
por todo lado ou de ter permane-
cido três dias por cima duma ár- cidade postos de transformação “Isso é luto, estamos mal”, disse O Idai, na sua progressão para que viveu três dias de agonia na
vore, com frio, fome e desafiando (PT) de electricidade, postes de uma outra moradora da Munha- o interior, diminuiu a força dos árvore, até as águas baixarem.
serpentes que também fugiam das transporte de corrente, semáforos, va, Sebastiana George, quando ventos, mas provocou chuvas di- “Na árvore à minha frente, na
inundações, num evento que po- placas publicitárias, interrom- contabilizava duas mortes na sua luvianas, sobretudo no Zimba- casa vizinha, havia também pes-
derá ser o maior desastre huma- pendo a circulação em quase 80 vizinhança – uma criança atingi- bwe, na zona de Mutare, por onde soas. Quatro pessoas (um idoso
nitário da história do país, depois por cento da cidade de cimento da por uma parede desabada e um passam os rios Púnguè e o Buzi. e três crianças) caíram na água (e
do ciclone Elina, no ano 2000, (Macúti, Baixa, Ponta-Gêa e Ma- adulto atingido por um zinco – Entre sexta e sábado, em 24 horas, foram arrastadas). Eles “soneca-
ter devastado todo o Sul e parte quinino) e toda a rede comercial, próximo a maternidade local. o Zimbabwe registou uma carga ram” durante a noite e caíram na
do Centro de Moçambique, com incluindo a superfície comercial “Vamos fazer como, como vamos pluviométrica de 600 mm, muitas água”, precisou Albertina Samuel,
especial incidência em Gaza, pro- Shoprite e o restaurante Miramar aguentar mesmo!”, lamentou Ju- vezes o somatório de todas as des- num relato semelhante ao de
vocando cerca de 700 mortos e que sofreram danos estruturais liana Muago, quando levava a cargas nos primeiros três meses Frank Mamboza, que sobreviveu
desaparecidos. nos edifícios. filha, ferida por um zinco, para do ano. às enchentes.
O ciclone Idai, que se formou No estádio municipal da Mu- o hospital, descrevendo uma si- Foram estas chuvas que transfor- Silva Manuel, outro sobrevivente,
junto à costa moçambicana, no nhava, inaugurado ano passado, tuação “desoladora” no bairro da maram os rios em Moçambique disse que tentou desafiar a água
oceano índico, entrou para o con- desabou a pala sobre as bancadas, Vaz, enquanto apontava com a em verdadeiros mares, como se para salvar alguns parentes que se
tinente a 15 de Março, cerca das assim como vários armazéns na mão para acima da cintura, para Neptuno, outro deus da mitologia tinham deslocado para casas vi-
19horas, exactamente no bairro zona industrial perderam as co- ilustrar o nível das águas, que ar- grega, tivesse decidido comandar zinhas, mas não conseguiu evitar
da Ponta-Gêa, na cidade da Bei- berturas, molhando e danificando rastaram roupas e utensílios do- as punições sobre as populações o pior para aqueles que estavam
ra, pulverizando literalmente tudo vários produtos, como arroz, tri- mésticos. de Manica e Sofala. distantes.
o que lhe foi fazendo frente. Por go e outros cereais importados e Apesar da violência dos ventos, o “A água estava com uma corrente
volta das 21horas e 30 minutos, a que deviam ser distribuídos pela número de vítimas mortais é rela- Sobreviver na árvore que não vale a pena”, disse Silva
Beira era uma cidade isolada do região centro e para os países afri- tivamente baixo, com centenas de E enquanto o vento soprava do Manuel, acrescentando que re-
resto do mundo, sem comunica- canos do interior (interland), que feridos ligeiros atingidos por cha- mar para o continente, as águas correu a uma canoa, feita de cas-
ções nem energia eléctrica. não são abastecidos desde a pas- pas, barrotes e os blocos das casas das chuvas, no sentido contrário, cas de árvores, mas uma casa
A cidade da Beira já estava deserta sagem do ciclone pela Beira. que desmoronaram. surpreenderam milhares de pes- que vinha arrastada pela água
desde o início da tarde de quinta- “A chuva vinha caindo desde as
-feira, 15, e duas horas depois dos 15 horas de quinta-feira, e está-
ventos, com uma velocidade esti- vamos precavidos para evitar o
mada entre 180 e 220 quilómetros pior, mas quando chegou o vento,
por hora, terem atingido o pico, levou o tecto e deixou em luto o
faltou electricidade na cidade e bairro”, disse ao SAVANA Ana
as comunicações foram cortadas Flávia, uma moradora da Mu-
completamente. nhava, um bairro densamente po-
Pela manhã, o drama com os ras- voado e largamente flagelado pelo
tos do ciclone era difícil de des- ciclone. O bairro de casas de ma-
crever, com árvores centenárias terial precário é agora um monte
rendidas aos ventos, na rua da de destroços envolto em água e
catedral, vários edifícios coloniais lama, com o cheiro pestilento das
sem tecto, incluindo o hospital latrinas a sobrepor-se a todos os
central da Beira, a escola secun- outros odores.
dária da Ponta-Gêa e o emblemá- Em relato semelhante ao de ou-
tico Pavilhão dos Desportos. O tros moradores, Flávia, disse que,
aeroporto perdeu quase todos os já numa casa descoberta, assistia
seus hangares, danificando aviões “chapas de zinco voando por to-
e helicópteros, só reabrindo ao dos os lados” e o maior medo “era
tráfego na manhã de domingo. ser atingida por zincos que voa-
Também caíram no centro da vam bairro adentro”. O ciclone IDAI provocou um verdadeiro drama humanitário
TEMA DA SEMANA
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acabou atingindo-o, tendo-o “Encontrámos muitas pessoas nas continua interrompida desde do- Os cortes foram originados por acumulação das águas, do lado
lançado para água. árvores. O total que nós consegui- mingo, estando já a provocar uma inundações, com correntes de do monte que agrega a principal
“Tive que nadar até encontrar mos resgatar das árvores soma 634 aguda escassez de combustível, águas atravessando a estrada plataforma de antenas de comu-
uma árvore, e esperei por um tem- pessoas. As operações ocorreram trigo e outros produtos básicos no sempre da esquerda para a direi- nicação da região centro de Mo-
po, mas a água continuava a subir. em Chitausse, nas margens do interior, como a cidade de Chi- ta – para quem faz o percurso no çambique, terá provocado um
Temendo pela vida das crianças, rio Búzi, Mapande, Tusseni Ngo- moio. sentido Chimoio-Beira – o que deslizamento de terra, criando
que tinha deixado em casa, desci ma e Saguta Choma. As pessoas A N6 sofreu um corte no pico do sugere que o empreiteiro chinês, um rio de lama que destruiu re-
da árvore e nadei de novo”, con- foram abrigadas em três centros, ciclone, na zona de Nhamatanda, não terá feito pontões suficientes sidências precárias numa aldeia
tou, adiantando que não conse- em Matara, Choma e Mapande”, mas três outros cortes ao longo da para em pico de cheia deixar pas- próxima.
guiu salvar alguns parentes. En- disse António Bemba. estrada, que devia ser inaugurada sar a água ao longo do aterro e por Um morador contou que se ou-
tretanto, vaticinou que a água que A fonte disse que o grupo de ope- este ano, já se tinham registado baixo da estrada. A EN6 sofreu viu uma espécie de explosão no
terá inundado a região, pode ter ração conseguiu “identificar 11 em Mafambisse, Chiluvo (Sofala) quatro cortes na zona de Nha- monte Chiluvo e se formou um
sido de uma descarga de uma bar- corpos, até hoje (quarta-feira), e Metuchira, no posto administra- mantanda. rio de lama que desceu rápido em
ragem no Zimbabwe. fora aqueles que não identifica- tivo de Inchope, em Manica. Na área de monte Chiluvo, a direcção às habitações, além de ter
mos e existem muitos, em relação
Mais de 100 mortos a estes que nós identificámos, pos-
Os moradores de Matarara con- so estimar em cento e tal corpos”.
tam que dezenas de corpos foram As autoridades de Manica calcu-
avistados depois que as águas lam que 114 mil pessoas estavam
baixaram desde segunda-feira, a sitiadas nos distritos de Sussun-
maioria não reconhecidos, porque denga e Mossurize, na província
vinham arrastados pelas águas de de Manica.
outros pontos. Teme-se que parte Apesar de previsões catastróficas,
dos cadáveres a boiar nas águas incluindo de agências humanitá-
tenha vindo do Zimbabwe onde rias internacionais, as águas co-
as enxurradas foram muito rápi- meçaram a baixar na quarta-feira,
das e avassaladoras. não tendo sido necessário abrir as
Oficialmente, o Governo de Ma- comportas da barragem de Chi-
nica registou 19 mortos, suposta- camba sobre o rio Revué, um dos
mente de pessoas que caíram de principais afluentes do rio Búzi.
árvores e foram arrastados por O número global de mortos, em-
água naquela região. bora conservador, é colocado, até
Contudo, António Bemba, res- ao fecho da edição, nos 300.
ponsável da operação do resgate
do SENSAP, na região de Mata- Cortes na N6
rara, assegurou ao SAVANA que Enquanto trabalhos de buscas
o número de mortos ascendem ainda prosseguem, a comunicação
aos 100, a maioria ainda não havia rodoviária entre Manica e Sofala,
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sido identificada. e os países africanos do interior,
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4 Savana 22-03-2019
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O
corte de estrada pode explicou Carlos Zambo, um professor “As proporções deste desastre estão a de eventuais requisições civis de bens e dades sanitárias e 507 salas de aulas.
estar a criar défice na desabrigado pelo ciclone na cidade de aumentar a cada minuto e a Save the equipamentos. Dados divulgados pelo A Organização Meteorológica
resposta pela assistência Chimoio. Children está gravemente preocupada Conselho de Ministros na terça-feira Mundial (OMM) admite que o ci-
às vitimas, estando mui- A assistência humanitária está a fazer- com as crianças e as suas famílias ain- indicavam a morte de 202 pessoas, dos clone Idai possa ser um dos piores
tos a enfrentar fome nos centros -se por via aérea e há equipas de socor- da em risco à medida que as águas das quais 141 na província de Sofala. Há desastres climáticos no hemisfério
de acomodação onde estão aloja- ro internacionais já a operar no terre- enchentes continuam a subir”, explicou um total de 1.385 feridos. Igualmente, sul, a confirmar-se o número de víti-
dos. no como a força aérea sul-africana e Machiel Pouw, responsável pela Save ficaram destruídas 23 mil casas, 30 uni- mas da catástrofe.
A assistência humanitária ainda a marinha de guerra indiana. Ambas the Children em Moçambique.
não chegou a milhares de pessoas as equipas têm sido fundamentais no Esta sexta-feira são esperadas várias
afectadas pelo ciclone Idai no resgate da população na vila do Búzi, equipas multidisciplinares de Portugal,
centro de Moçambique e vários completamente cercada pelas águas. A despachadas para a Beira a bordo de
camiões de ajuda da ONU, estão maior preocupação neste momento é o dois aviões cargueiros C-130.
sem acesso às zonas com maior resgate de cem mil pessoas no distrito O Conselho de Ministros reuniu-se
número de necessitados devido de Búzi. terça-feira na Beira, tendo sido declara-
aos cortes de estradas e desaba- Os aviões que têm sobrevoado Búzi da a “Situação de emergência nacional”,
mento de pontes. mostram uma área com 48 km da lar- uma medida extrema que permite ao
Por ser uma região politicamente gura completamente submersa. As governo e às instituições subordina-
favorável a oposição, os afectados imagens obtidas apontam que a vila das accionar mecanismos rápidos no
acusam as autoridades de os estar de Búzi, onde se estima residirem 2500 plano da migração e emissão de vistos
a marginalizar nos apoios. crianças, possa estar submersa em 24 para pessoal humanitário internacio-
“As pessoas estão a tentar a sua horas. Mas as últimas informações da- nal, desembaraço alfandegário de bens
maneira para conseguir comida” vam conta que tal não iria acontecer. e equipamentos de auxílio, para além Força Aérea sul-africana está em peso no resgate
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TEMA DA SEMANA
Savana 22-03-2019 5
SOCIEDADE
6 Savana 22-03-2019
André Thomashausen:
A
40 dias de complemen- inteiro, tomaram a decisão de de-
tar 24 anos de existência, mandar à Liga.
a Liga Moçambicana “Os senhores João Nhampossa e
dos Direitos Humanos Arquimedes Varimelo foram dis-
(LDH) está à beira de ver o seu pensados para continuar os seus es-
percurso interrompido de forma tudos, com salários pagos, na tota-
inglória. lidade, pela Liga, o senhor Bitone,
mesmo como colaborador da Liga,
Nesta terça-feira, 19, a Nona Sec- dirigia uma organização, dentro da
ção Laboral do Tribunal Judicial Universidade Eduardo Mondlane,
da Cidade de Maputo (TJCM), que seguia os mesmos objectivos
presidida pela juíza Cleonisse de da Liga, até os doadores eram os
Jesus Salvado Bispo, determinou a mesmos. Isso, sob ponto de vista
venda, em hasta pública, do patri- ético é censurável. Fui questionada
mónio da LDH. A licitação irá de- pelos doadores, mas naquele meu
correr no próximo dia 10 de Abril. espírito de ajuda, não coloquei en-
Na sua exposição, o TJCM refere traves nisso. Hoje, como agrade-
que correm éditos fazendo saber cimento, respondem-me com este
que, no dia 10 de Abril de 2019, tipo de acções. Nada me resta, se
pelas 10 horas, na sala de sessões não dizer obrigado”, desabafou.
da Nona Secção Laboral, será Sobre as acusações da nova direc-
posto em praça, pela primeira vez, ção, segundo as quais, está a obs-
para ser vendido em hasta pública, truir o processo da venda do novo
ao maior laço oferecido acima de edifício, Mabota referiu que nunca
11.236.800,00, o imóvel penho- esteve à favor da venda do patri-
rado na execução a correr nos ter- mónio da Liga, porque foi adquiri-
mos dos autos de acção emergente do para garantir a sustentabilidade
do contrato de trabalho número da organização.
Contudo, diz que nunca obstruiu a
123/2015, movida pelos exequen-
venda do edifício que hoje funcio-
tes Luís Bitone Nahe, Arquime-
Por decisão do tribunal, o edifício que albergava a antiga sede da LDH vai à venda no proximo dia 10 de Abril na como sede da organização, por-
des Varimelo, Salvador Nkamate e
que não tem poderes para tal.
João Nhampossa, contra o executa- de oito meses sem a devida expli- Todo o dinheiro que entra nas con- É frustrante conviver com O que aconteceu, segundo Mabota,
do Liga Moçambicana dos Direi- cação. tas da Liga, continuou, é imedia- estas realidades é que foi notificada pelo doador, a
tos Humanos. Segundo o jurista, foram quatro tamente sacado pelos bancos para Alice Mabota, antiga presidente da Diakonia, para testemunhar se es-
O imóvel em alusão localiza-se colaboradores que intentaram a satisfazer os direitos dos credores LDH, diz que fica magoada cada tava a par da venda do imóvel ao
na Avenida Maguiguana, número acção, mas a mesma abrange oito em resposta às várias decisões judi- vez que vê a organização mergulha que se recusou e manifestou a sua
2219, r/c, cidade de Maputo. Du- trabalhadores e o valor de inde- ciárias tomadas contra a Liga. neste tipo de polémicas. oposição à liquidação do mesmo.
rante muitos anos, o imóvel aco- minização deverá ser de 1.125 mil Vendo-se num beco sem saída, a Sublinha que criou a Liga com “Os meus colegas estão enfureci-
lheu a sede da organização. meticais por cada pessoa. equipa que substituiu Alice Mabo- muito sacrifício e a todo o custo dos, porque testemunhei contra a
O edifício foi arrendado a terceiros, Ao SAVANA, Paulo Nhancale, ta chegou a conclusão de que devia procurou potenciar a organização venda do imóvel. Eu Alice nunca
funcionando actualmente como presidente da Comissão Interi- vender o edifício novo a fim de sal- de património que pudesse garan- intentei nenhuma acção. O doador,
pensão e como fonte de receitas na da LDH, referiu que a decisão dar as dívidas e libertar a Liga da tir a sua existência, mas que, infe- na qualidade do dono edifício, é
para a organização. constituiu um verdadeiro golpe justiça. que recorreu ao tribunal”, disse.
lizmente, um grupo de ganancio-
A anterior direcção da Liga, que visto que, internamente, se estava “Infelizmente, quando nos pre- Segundo a defensora de direitos
sos e mercenários está a levar tudo
tinha como presidente Alice Ma- a trabalhar no sentido de resolução parávamos para vender o edifício, humanos, o desejo de vender o
abaixo.
bota, deixou o edifício em 2014, da situação. recebemos um ofício do tribunal a imóvel não é actual. Em 2014, os
“É uma dor de alma saber que o
quando passou para um novo imó- Segundo Nhancale, quando a sua embargar a venda, sob a alegação colegas foram pedir-lhe para ven-
vel oferecido pela Diakonia, no equipa assumiu a direcção da Liga, imóvel que a Liga adquiriu com
de que o imóvel não era comple- der a casa onde funciona a sede da
quadro do Programa AGIR, finan- em Outubro de 2017, encontrou muito sacrifício está a ser vendi-
tamente propriedade da Liga. Re- LDH.
ciado pela Suécia. uma organização totalmente mo- do para responder às ganâncias
corremos da decisão e ganhámos Alice Mabota diz que não aceitou,
Sabe o SAVANA que a penhora ribunda, com enormes dívidas em de pessoas que a própria Liga aju-
a causa”, assinala o presidente da porque não é uma casa qualquer,
do património da Liga deriva de salários e outras despesas de fun- dou a crescer como profissionais
comissão interina da LDH. Mes- mas um edifício doado em honra
um conjunto de acções judiciais cionamento, como água e luz, na mo assim, o doador e a anterior e como homens. São jovens que
e reconhecimento do que a Liga
intentadas por trabalhadores que ordem de 78 milhões de meticais. presidente recorreram da decisão chegaram à Liga totalmente anó-
fazia em prol dos cidadãos.
exigem o pagamento de oito meses “Quando assumimos a direcção, da venda e o processo está parado. nimos, sem nenhuma experiência e
“Vender significa que estou a trair
de salários não liquidados. até o edifício sede da Liga estava “Portanto, foram essas incertezas hoje tornaram-se referências. Isso
aquilo que foram os objectivos da
No total, a LDH deve cerca de penhorado. Negociámos com as que fizeram com que parte dos tra- doe-me. Nunca vou perdoá-los e
doação da casa. Não é a Liga que
1.300 mil dólares, o equivalente partes e conseguimos um meio- balhadores avançasse com as suas a história vai chamar a consciência
-termo, incluindo o nosso edifício comprou para se dizer que estamos
a 78 milhões de meticais aos seus acções judiciárias e dessa forma deles”, lamentou. em crise e podemos vender. Na al-
principal. Hoje, quem olha para a De acordo com Mabota, não se
credores, maioritariamente traba- forçar a venda do nosso patrimó- tura, eu disse que não sou capaz,
Liga pode pensar que nada está a percebe que pessoas que entraram
lhadores, num total de 194. nio. É muito triste”, lamentou. vamos falar de tudo, menos vender
ser feito, mas conseguimos salvar
Porém, a acção em causa foi in- na Liga para defender uma causa esta casa”, refere, acrescentando
parte do património”, vangloriou-
tentada por quatro antigos tra- tomaram a decisão de demandar à que os seus colegas entenderam o
-se.
balhadores, nomeadamente: Luís organização, simplesmente porque seu finca-pé como arrogância, falta
Sobre a venda do edifício da antiga
Bitone Nahe, actual presidente da sede, Nhancale referiu que a von- estava a passar por dificuldades fi- de respeito e desprezo.
Comissão Nacional dos Direitos tade da sua equipa era de não se nanceiras. Sublinha que foi daí que começou
Humanos, Arquimedes Varimelo, chegar aos extremos. Conta a activista que a Liga tinha toda a campanha contra si, api-
Salvador Nkamate e João Nham- Porém, algumas forças estranhas mais de 100 colaboradores que mentada com acusações de que
possa advogados e professores uni- obstruíram todos os esforços. com a crise da organização ficaram quer dirigir sozinha a LDH e que
versitários. Nhancale disse que, no processo de sem salários. era tempo de sair do poder, porque
O grupo reclama o pagamento de restruturação da LDH, a sua di- Porém, o grosso desse grupo com- estava há muito tempo.
nove milhões de meticais referen- recção contactou alguns doadores preendeu a situação, porque acre- Recordar que o imponente edifício
tes a oito meses de salário não pa- que se predispuseram a retomar ditava que as dificuldades seriam onde funciona a sede da LDH, na
gos em 2014. o financiamento à organização, superadas. Av. 24 de Julho em Maputo, foi
Contactado pelo SAVANA, Sal- mas não conseguiram canalizar Estranhamente, um grupo de pes- adquirido com fundos da Agência
vador Nkamate referiu que a acção os fundos, porque todas as contas soas que estavam na Liga a tempo Sueca de Desenvolvimento Inter-
judicial deriva da falta de paga- da organização estão na alçada da parcial, visto que também eram nacional (ASDI), numa operação
mento de salários por um período justiça. Alice Mabota docentes universitários a tempo intermediada pela Diakonia.
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Savana 22-03-2019 9
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10 Savana 22-03-2019
Frelimo autoritária
Por Armando Nhantumbo
D
esde as primeiras eleições Autoritarismo eleitoral nos seus próprios termos, resultou em
que, “de forma brilhante”, a Marc De Tollenaere enquadra Mo- instituições eleitorais reféns da com-
Frelimo convenceu a opo- çambique no chamado regime autori- petição entre a Frelimo e a Renamo,
sição, a sociedade civil e a tário eleitoral, no qual as eleições ser- não se desenvolvendo como árbitro
comunidade internacional de que vem, principalmente, para perpetuar o independente da concorrência políti-
a reforma eleitoral era uma procura domínio do partido no poder. ca”, aponta.
constante da democratização do sis- Trata-se de regimes definidos como “De forma brilhante, a Frelimo con-
tema político. Mas, na realidade, o aqueles que estabelecem eleições plu- venceu a oposição, a sociedade civil
objectivo essencial era manter o con- rais como percurso oficial para o po- e a comunidade internacional de que
trolo do poder, garantir a dominação der e não estabelecem a competição a reforma eleitoral era uma procu-
e manter a oposição no jogo. A cons- eleitoral como único jogo aceitável. ra constante da democratização do
tatação está na última edição (2018) Regimes que, “ao mesmo tempo que sistema político. Na realidade, tinha
dos “Desafios para Moçambique”, como função essencial manter o con-
instituem o jogo eleitoral (a disputa
uma publicação anual do Instituto trolo, garantir a dominação, manter
por votos), introduzem dois meta-
de Estudos Sociais e Económicos no jogo a oposição”, anota.
jogos: o jogo da manipulação auto-
As eleições não têm constituído os alicerces de uma maior democratização, têm Significa que as eleições reforçam
(IESE). ritária, no qual os partidos no poder
antes sido para a contínua dominação da Frelimo a posição do partido dominante, a
procuram controlar os resultados da
de 2009, os doadores chegaram até a Frelimo adquire uma aura de inven-
No artigo intitulado “uma economia para o autor, já se tornou padrão em competição eleitoral, e o jogo da re-
cibilidade e muitos cidadãos sentem
política da reforma eleitoral em Mo- Moçambique, “ignorando o facto de condicionar a continuação do apoio forma institucional, em que os parti- que é inútil votar porque, de qualquer
çambique”, assinado pelo académico a fraude repetida pôr em causa a cre- orçamental a um compromisso por dos da oposição procuram desmante- forma, já se sabe quem é o vencedor.
Marc De Tollenaere, membro funda- dibilidade das eleições. parte do governo de realização de lar as restrições não democráticas que “Um quarto de século de reforma
dor do IESE, o autor defende que as “A questão central não é o impacto uma reforma eleitoral. prejudicam a sua luta pelos votos”. eleitoral contribuiu para (…) o au-
eleições não têm constituído os ali- que a fraude e a má conduta têm tido Facto é que, apesar das reformas qua- O regime autoritário é ainda descrito toritarismo eleitoral. As eleições não
cerces de uma maior democratização nos resultados, mas sim o efeito ad- se permanentes e do “bom aconse- como trágico e brilhante ao mesmo têm constituído os alicerces de uma
no país. Pelo contrário, elas têm sido verso que tiveram sobre o empenha- lhamento” repetido por observadores tempo. Trágico porque os autocratas maior democratização, têm antes
apenas o alicerce da contínua domi- mento dos cidadãos nos processos e especialistas eleitorais, alguns dos usam os instrumentos da democracia sido o alicerce da contínua domina-
nação pela Frelimo das esferas políti- eleitorais”, rebate. problemas nunca foram resolvidos. O para sustentar o seu regime e brilhan- ção pela Frelimo das esferas política e
ca e económica. exemplo é o processo de apuramento, te porque as elites e os eleitores do económica”, conclui.
O autor começa por lembrar a cé- Renamo apanhada em que continua a ser excepcionalmente partido da oposição acabam por de- Mas as eleições também têm servido
lebre reacção de Mobutu Sese Seko armadilha longo. Mas também os procedimen- sempenhar um papel activo na manu- para resolver a competição entre as
à derrota de Kenneth Kaunda, nas Com efeito, assinala o artigo, de tos de apelação e contestação que, na tenção do equilíbrio. elites dentro da Frelimo, em eleições
primeiras eleições multipartidárias cada vez, a conclusão era de que, na prática, não funcionam. E ainda a “O facto de a Frelimo ter conseguido internas que, ironicamente, também
na Zâmbia, em 1991, quando o dita- sua maioria, os problemas eleitorais impunidade que prevalece nos órgãos liderar a transição democrática desde são ensombradas por denúncias de
dor congolês questionou “como é que poderiam se resolver melhorando a de administração eleitoral, que são a sua fase inicial, manter-se na lide- fraudes no apuramento e compra de
uma pessoa pode perder umas elei- legislação. politizados, em vez de serem neutros. rança e manter a Renamo bloqueada votos.
ções que ela própria organiza”. E nas duas primeiras rondas de re-
Depois refere que a reforma elei- forma eleitoral (1997 e 2001-2003),
toral tem sido uma característica a Frelimo engajou-se num processo
permanente na política moçambi-
cana, desde a introdução das elei-
consensual no qual o resultado deve-
ria ser negociado e acordado com a Os dois “se” de que depende o futuro da Frelimo
ções multipartidárias em 1994, com Renamo.
o pressuposto de que as sucessivas Mas aí, a Renamo foi apanhada pela Para o estudioso, se a Frelimo puder mas eleitorais que fizeram das insti- número suficiente de cidadãos de
reformas consolidariam a democra- Frelimo numa “armadilha de mino- manter o actual sistema eleitoral e tuições eleitorais mexicanas das mais que podem contar com o partido no
ria”, na qual, de negociação em ne- puder manter o seu apoio eleitoral, robustas e avançadas do mundo”, poder para melhorar o seu nível de
cia moçambicana, que tornariam as
gociação, as partes acabavam por as- nada lhe poderá correr mal num fu- compara. vida”, conclui.
eleições transparentes, livres e justas,
sentar num acordo que assegurava a turo previsível. O segundo “se” é mais difícil. De Trata-se de um novo desafio para a
que seriam essenciais para pacificar a Mas isso são duas vezes “se”. O pri- acordo com o artigo, já há poucas
continuação de um firme controlo da Frelimo, pelo menos na era multi-
concorrência política e que as eleições meiro “se” tem que ver com o contro- dúvidas de que o eleitorado da Fre-
Frelimo das deliberações dos órgãos partidária, e que pode ser muito mais
dariam a todos os cidadãos moçam- lo do sistema eleitoral. limo já não está imbuído de convic-
da administração eleitoral a todos difícil de controlar do que a adminis-
bicanos uma voz e uma representação Refere que, até agora, a Frelimo foi ções ideológicas. tração das eleições.
significativas no processo político. os níveis, mesmo que a maioria dos
forçada a aceitar modificações no Diz que foi construída uma vasta “A economia política da reforma
membros da Comissão Nacional de
Especialista em processos eleitorais, sistema eleitoral de que não teria rede clientilista que rende até três eleitoral é benigna para o partido no
Eleições (CNE) fosse indicada pela
Marc De Tollenaere anota que, em- tomado a iniciativa (por exemplo, milhões de eleitores, mas apesar dos poder, mas a economia política do
chamada sociedade civil.
bora tenham sido aprovados novos representantes partidários a todos grandes esforços em campanhas, to- seu clientelismo pode revelar-se di-
“Os procedimentos vagos de selec- os níveis do STAE), em algumas tal controlo dos recursos do Estado
“pacotes eleitorais”, antes de todos ferente. A ausência de rivais no aces-
ção e nomeação permitiram efecti- eleições municipais teve de aceitar a e intimidação mais ou menos dissi-
os ciclos eleitorais (1997-98, 2003, so aos recursos do Estado significa
vamente a dominação por parte do derrota (em 1999 escapou por pou- mulada ou aberta, o partido no poder
2007-08 e 2013), as eleições conti- que não são necessárias fraudes que
nuam a ser uma fonte de conflito e a partido no poder”, refere. co), e defronta-se novamente com não consegue mais de três milhões alterem os resultados nem repressão
maioria dos potenciais eleitores virou desafios, por exemplo, em relação à de votos. violenta para manter o domínio. No
as costas às eleições desde 2004.
Ponto de viragem eleição de governadores provinciais. “O clientelismo revelou-se uma base
entanto, uma redução repentina e
Mas houve um significativo ponto Para Marc De Tollenaere, estes as- fiável para dominar as eleições, mas
Para ele, as eleições não se torna- considerável de recursos pode forçar
de viragem na relação entre as partes, pectos mostram, pelo menos, que é também um calcanhar de Aquiles.
ram os alicerces da democracia em o partido no poder a voltar a essas
quando a Frelimo decidiu aprovar manter o controlo sobre o sistema São imprevisíveis os efeitos de uma
Moçambique. Nem mais. Desde o medidas mais radicais”, ironiza.
um novo pacote eleitoral com a sua eleitoral nunca é infinito. Tem de erosão da capacidade de sustentar a
momento de transição do monopar- E porque “é improvável um proble-
própria maioria. ser, activamente, preservado e requer rede clientilista existente”, anota.
tidarismo para o multipartidarismo, a ma ser resolvido por aqueles que o
“Estimulada por um forte desempe- uma vigilância e uma intervenção E porque a perda de acesso aos re-
Frelimo construiu um equilíbrio de criaram”, o autor entende que a re-
nho eleitoral em 2004 (e pelo enfra- constantes. cursos do Estado é uma das causas
poder na governação que penderia e forma eleitoral que aprofunda a de-
quecimento da Renamo), a Frelimo Quando decorre o debate sobre o fundamentais para a perda de poder
continua a pender a seu favor. novo pacote legislativo, o académico pelos partidos dominantes, o arti- mocracia, provavelmente não surgirá
cessou, em 2007, as negociações que de negociações entre a Frelimo e a
Aponta para as várias irregularidades vinha mantendo há um ano e apro- lembra que os limites legais já foram go lembra que, em Moçambique,
e voltarão a ser violados, mas só em a ajuda externa diminuiu, a carga Renamo, como nos têm feito crer
que sempre ensombraram as eleições vou, unilateralmente, um novo pa-
parte e com uma subtileza que ga- da dívida é elevada e comprime o nos últimos anos.
moçambicanas, desde enchimento cote de legislação eleitoral”, lembra
ranta reconhecimento internacional orçamento do Estado, várias em- Afirma mesmo que a reforma eleito-
de urnas, problemas com cadernos o artigo.
e legitimidade. presas estatais passam por crises de ral não alterará a natureza do auto-
eleitorais, exclusão das assembleias Sublinha que esta viragem veio alte-
“Tal como fez relativamente aos liquidez, as notações de crédito estão ritarismo competitivo em Moçambi-
de voto do apuramento, falsificação rar a natureza das relações entre os que, tanto dentro da Frelimo como
desafios anteriores, a Frelimo asse- baixas, limitando o acesso ao crédito
de folhas de resultados, anulação de dois partidos, podendo ser conside- relativamente à oposição.
gurar-se-á de que não serão introdu- comercial.
votos válidos até a exclusão de can- rada o início de um período em que “Este autoritarismo poderá mu-
zidas alterações ao sistema eleitoral Mais ainda, os funcionários públi-
didaturas. a linguagem e as posições se foram, dar devido a uma crise de sucessão
que possam complicar os resultados cos perderam privilégios, o conflito
Dá o exemplo das três últimas elei- gradualmente, tornando mais radi- das eleições”, avança, deixando claro armado interno absorveu recursos, dentro do partido no poder que leve
ções, referindo que, apesar de ter sido cais de ambos os lados. que, mesmo com o novo pacote le- o custo de vida aumentou e a quali- a uma deserção significativa e/ou
claramente documentada a ocor- “A Renamo perdeu os seus direitos gislativo, “a essência do sistema será dade e quantidade dos serviços estão devido a uma crise de recursos que
rência de fraude, a legitimidade da de co-parceiro relativamente à de- preservada”. sob maior pressão do que antes. reduza os meios necessários para
Frelimo para governar não foi funda- mocracia moçambicana”, destaca. “O PRI perdeu o seu domínio no “Em suma, há menos recursos para sustentar o clientelismo político de
mentalmente posta em causa, pois “o Ainda assim, a reforma eleitoral México, entre outras coisas, porque manter os clientes satisfeitos e uma fracção suficientemente grande
nível de irregularidades não afectaria continuou a fazer parte da agenda foi forçado a concordar com refor- torna-se mais difícil convencer um do eleitorado”, refere.
o resultado final”, uma narrativa que, política, tanto é que, após as eleições
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Savana 22-03-2019 11
NO CENTRO DO FURACÃO
12 Savana 22-03-2019 Savana 22-03-2019 17
N
uma tarde quente, em Ju- já vinha negociando com a empresa, gas através do fundo de contingên-
Os problemas de Moçambique
lho de 2014, o Presidente tendo chegado mesmo a assinar um cia do Presidente”.
Goodluck Jonathan ligou memorando de entendimento. Este desentendimento com os mi-
e pediu para que me jun- litares foi muito difícil para mim e
tasse imediatamente a ele para uma para o meu pessoal, e eu não queria
Boko Haram
A
reunião com um dos seus principais que a marinha reavivasse este ar-
conselheiros, o Chefe do Estado A agitação e os fortes argumentos
gumento de que o Ministério das verdadeira dimensão do que acaba- De acordo com a proposta, benfeitores sedeadas saber sobre as modalidades a serem seguidas
Maior da Marinha, e dois repre- do chefe do Estado Maior da Mari- mos por poupar ao governo, com a re- no Médio Oriente, disponibilizariam entre 2 e
Finanças não estava a prestar a de- para verificar se um determinado objectivo tinha
sentantes de uma empresa de cons- nha fizeram-me lembrar de um in- jeição da proposta da Privinvest, viria 3 biliões de dólares em donativos à Nigéria para
vida atenção aos militares. Foi nesta sido alcançado ou não, assim como da taxa de
trução naval do Médio Oriente. cidente anterior com o exército, em a tornar-se ainda mais clara depois de o financiamento de projectos, desde que fossem
perspectiva que eu disse ao chefe juro a ser aplicada caso o donativo seja converti-
Quando cheguei, 15 minutos mais relação à guerra contra o Boko Ha- eu sair do governo, quando tomei conhecimen- satisfeitas algumas condições.
do Estado Maior da Marinha que do em empréstimo. Ele respondeu que a taxa de
tarde, a reunião já tinha começado, ram, o grupo terrorista que tem es- to dos problemas que Moçambique enfrenta em O dinheiro tinha que ser aplicado em projec-
tado a devastar a região do nordeste falaria com o presidente sobre o as- juro era negociável, mas que seria concessional.
e o Presidente pediu ao seu con- relação aos 850 milhões de dólares da dívida da tos previamente acordados entre as duas partes,
da Nigéria. Nessa altura, o Ministé- sunto, e trabalharia com o meu pes- Ao fim do encontro, fiquei com a impressão de
selheiro para que me explicasse a Ematum, contraída na mesma relação que nos com resultados específicos. Estes seriam avalia-
rio das Finanças era visto como não soal na elaboração de uma proposta que isto era uma fraude de 3 biliões de dólares,
essência da proposta que estava a estava a ser proposta, por mais ninguém que a dos ao longo de um determinado período, e o
estando suficientemente a apoiar os viável para a solução do problema. própria Privinvest. Sabe-se que o empréstimo, dinheiro seria disponibilizado em tranches. Se que envolveria o país numa grande dívida devida
ser analisada. Estava habituada a
esforços dos militares. Seria difícil, e O presidente, na sua qualidade de que de forma significativa aumentou a dívida o país conseguisse obter todos os resultados, a uma entidade dúbia, e com prolongados e dis-
ser chamada de emergência ao ga-
até perigoso, se a marinha adoptasse comandante-em-chefe das Forças externa de Moçambique, não teve a aprovação o dinheiro continuaria como donativo, mas se pendiosos processos judiciais. Portanto, recusei a
binete do Presidente para assuntos
a mesma linha de pensamento. Armadas, reconheceu que o chefe do Parlamento. Quando a informação chegou houvesse falhas, seria convertido em emprésti- oferta, o que deixou desiludido o meu interlocu-
importantes. O Presidente tinha
A partir dos princípios de 2014 que do Estado Maior da Marinha tinha ao Fundo Monetário Internacional causou mo a ser amortizado a uma determinada taxa tor e os seus parceiros e colaboradores nigeria-
uma boa prática de saber quando
o nível de destruição causada pelo razão, mas sublinhou que tínhamos mais dificuldades económicas à Moçambique. de juro. Os benfeitores contratariam consulto- nos. Expliquei isto ao presidente, que me disse
solicitar um apoio ou reforço adi-
cional. Nessas ocasiões, eu escu- Boko Haram começou a aumen- que encontrar uma solução que não Posso imaginar a mesma situação para a Nigé- res para avaliar se os objectivos estavam a ser que não se sentia confortável com a proposta,
tar, e os nigerianos não estavam criasse dificuldades para o país, com ria, se tivéssemos aceite a proposta da Privin- alcançados. Parecia tudo muito bonito para ser e que apoiava completamente a minha posição.
tava-o atentamente para absorver Jonathan Goodluck era o presidente da Nigéria quando a Privinvest tentou vender o Projecto Segurança Costeira
satisfeitos com a aparente lentidão dívidas como a Privinvest estava a vest. Ao assumirmos uma posição firme contra verdade. O meu senso comum dizia-me que não Os dois episódios foram apenas alguns de vá-
cuidadosa e rapidamente quer as
dos militares em conter a situação. propor. a proposta, que nos colocaria sob o risco de en- se disponibilizam biliões de dólares dessa forma. rios projectos e propostas financeiras apresen-
questões materiais, quer a atmosfe- surpreendidos e irritados. Pareciam co pode ser levada à sério? Pedi aos elevada para justificar que o gover-
Quando pressionados a explicar as Convidei a equipa do departamento furecer importantes parceiros, salvamos o país Para além disso, havia uma armadilha: como ga- tadas ao presidente e outros membros do go-
ra do encontro, porque, regra geral, estar convencidos de que estavam investidores para que apresentassem no contraísse tal empréstimo em
suas acções, as forças armadas di- das parcerias público-privadas do do que se tornaria num grande embaraço e uma rantir a isenção e objectividade dos consultores
estavam envolvidas várias somas no gabinete presidencial para finali- o seu plano de negócio, e disseram termos comerciais. Para além disso, verno. Os dois destacam-se pelo seu tamanho,
insustentável situação fiscal. responsáveis pela avaliação do desempenho dos
de dinheiro ou problemas compli- zar o negócio, não para responder a que não tinham – pelo menos, não deveríamos, de facto, obter aprova- ziam que o seu orçamento era fraco, Ministério das Finanças, chefiada o tempo, dedicação e seriedade com que foram
projectos? Se houvesse discordância sobre se um
cados. De acordo com o Chefe do perguntas incómodas, colocadas por naquele momento. Manifestei as ção da Assembleia Nacional. o que colocava o Ministério das Fi- pelo Dr. George Nwangwu, para seguidos pelos seus promotores. A maior parte
A benevolência oriental objectivo foi ou não alcançado, quem faria a ar-
Estado Maior da Marinha, o seu alguém com quem até então ainda minhas reservas ao presidente e Desde o perdão da dívida junto do nanças no centro do debate. O meu uma chuva de ideias comigo, e pro- das propostas eram mais modestas, mas sempre
Esta não foi a única proposta de que tivemos bitragem? Quando pedi um documento a deta-
sector via-se confrontado com um não se tinham encontrado. O Chefe informei que a referida garantia Clube de Paris que consegui obter pessoal não queria que o Ministério pusemos um investimento conjunto contavam com o apoio de alguns sectores no
de resgatar o país. Em Abril de 2013, eu esta- lhar o plano, o jovem explicou que o responsável
enorme desafio relacionado com o do Estado Maior da Marinha disse equivaleria ao governo contrair uma em 2005, durante a governação do fosse acusado de não estar a apoiar entre a marinha e a Privinvest nos va de viagem fora do país, quando o presidente pelo fundo poderia visitar a Nigéria para se en- governo ou outros dirigentes políticos. Rejeitar
seu equipamento que estava obso- que este arranjo não acarretaria cus- dívida, o que para tal tinha que ter Presidente Olusegun Obasanjo, que as nossas forças de segurança, numa moldes de uma SPV. A entidade Jonathan ligou a convidar-me para um encontro contrar comigo. constantemente estes esquemas era constrange-
leto. Isso tornava difícil a realização tos ao governo. A empresa estava a aprovação da Assembleia Nacio- permitiu à Nigéria libertar-se de altura em que era preciso proteger iria se encarregar da reabilitação do com um consórcio de empresários nigerianos e Cerca de um mês depois, um homem branco, dor e significava ter que acumular inimigos que
das suas funções de patrulhamento preparada para investir um total de nal. Teríamos de incluir o projecto uma massiva dívida de 30 biliões vidas humanas e bens. Na altura, fiz estaleiro, da reparação e restauração estrangeiros. Um dos promotores era um ho- mais velho e com sotaque britânico, encontrou- entendiam que os seus bolsos estavam a ser de-
e protecção das águas territoriais do 2 biliões de dólares no negócio. no nosso sistema de análise sobre de dólares, a dívida externa do país uma abordagem sobre a situação do de velhas embarcações e construção mem da África do Norte que pareceu ter acesso -se comigo em Abuja. Disse-me que o Fundo sapossados. Mas independentemente de quem
país. O estaleiro naval não estava Nesse momento, apercebi-me de a sustentabilidade da dívida, como tem vindo a ser gerida com muita orçamento militar. O jornal Van- de outras novas. O estaleiro repre- a importantes líderes mundiais. O presidente tinha a sua sede na Holanda e que recebia as ficou desiludido, recusar dívidas de cerca de 5
devidamente equipado para levar que havia uma armadilha, e que forma de testar a capacidade do país cautela. No meu regresso ao gover- guard, na sua edição de 24 de Maio sentaria a participação do governo. queria que eu avaliasse se a proposta era algo que suas subvenções a partir de membros da família biliões de dólares, que teriam de certeza endivi-
a cabo operações de manutenção e tinha sido por isso que o presiden- de absorver e amortizar mais em- no, como Ministra das Finanças em de 2014, captou a essência da mi- A Privinvest iria contribuir com a Nigéria poderia abraçar. real saudita, que punham de lado parte da sua dado ainda mais o país tornou-se num motivo
reparação da frota naval. te me mandara chamar. Já estava préstimos, particularmente se estes Agosto de 2011, continuei a traba- nha explicação num artigo em que pelo menos 200 milhões de dólares, No dia seguinte, encontrei-me com um dos pro- riqueza para ajudar países em desenvolvimento, de orgulho para toda a equipa do Ministério das
preocupada com a ideia de ter que tivessem que ser em termos comer- lhar com o Departamento de Con- a jornalista Emma Ujah referia-se a e a SPV iria contrair os emprés- motores, um jovem nigeriano que disse que o especialmente em África, na prossecução das
Finanças.
A proposta de negócio apresentada garantir um número suficiente de ciais. O Presidente disse, imediata- trolo da Dívida, com a finalidade de uma afirmação “atribuída aos mili- timos necessários em seu próprio grupo já tinha discutido o assunto com o presi- suas responsabilidades religiosas de ajudar os
pelo grupo de Abu Dhabi consistia mente, que dadas as questões que eu manter uma cuidadosa gestão da tares de que eles não estavam a ser dente e alguns dos seus conselheiros, e que tam- menos afortunados. Apresentou-me um docu-
embarcações para reparação ou fa- nome. O governo federal ajudaria
em que o governo concessionasse havia levantado a proposta carecia dívida externa. Optamos principal- adequadamente financiados para bém já havia se encontrado como o meu vice- mento que detalhava a proposta precisamente *Antiga Ministra das Finanças da Nigéria. Ex-
brico para permitir que a empresa em garantir que todas as entidades
o estaleiro, que depois seria reabi- de mais trabalho, e que por isso os mente por empréstimos concessio- fazer face à insegurança provocada -ministro, o Dr. Yerima Ngama. Todos tinham nos mesmos moldes em que ela me tinha sido tractos do seu livro intitulado Face to face with
recuperasse o seu investimento. E marítimas fizessem uso das novas
litado e reequipado para uso como investidores e a Marinha deveriam nais de instituições multilaterais e pelo Boko Haram”, e citava-me a manifestado o seu apoio em relação à proposta. descrita anteriormente. Mais uma vez procurei Corruption (De caras com a Corrupção)
agora tínhamos este investimento infraestruturas para as suas neces-
base para a construção, reparação e trabalhar comigo e com o Ministé- da China. Um empréstimo comer- responder que “a administração Jo-
de 2 biliões de dólares. O Chefe do sidades. A nova empresa iria tam-
manutenção de embarcações. Parti- rio das Finanças para resolver todas cial de 2 biliões de dólares iria au- nathan colocava prioridade sobre a
Estado Maior da Marinha virou-se bém tentar vender os seus serviços a
cularmente, um dos principais equi- as questões pendentes. Se a propos- mentar o saldo da nossa dívida ex- segurança (do país), especialmente
para os dois jovens empresários, pe- outras empresas do ramo, incluindo
pamentos da marinha da Nigéria, o ta se mostrasse viável, poderíamos terna de 8,82 biliões de dólares (até numa altura em que a nação esta-
dindo-lhes respostas e explicações nos países vizinhos.
NNS Aradu, que tanto precisava de voltar a falar com ele. Dezembro de 2013) por uma mar- va em guerra contra os terroristas.
para as minhas inquietações. Rejeição da proposta da
reparação poderia ser reequipado e Eu conseguia ver que os represen- gem de 23 por cento. Pareceu-me Como tal, quase um quarto de todo Privinvest
modernizado no estaleiro, em vez tantes da Privinvest não estavam sa- claro que o proposto investimento o orçamento de 2014 tinha sido Convidamos a Privinvest para dis-
desse trabalho ser feito no estran- Privinvest tisfeitos, e que não estavam à espera não fazia sentido, e que teríamos alocado ao sector da segurança, o
Eles explicaram que a empresa, um cussões nessa base, e os seus repre-
geiro. Tudo o que era necessário, deste tipo de encontro. O conselhei- de apresentar as nossas conclusões que inclui os militares, a polícia e
grande e bem conhecido consórcio sentantes de uma maneira geral
de acordo com o Chefe do Estado ro presidencial tinha um semblante na próxima reunião. Não podíamos outras instituições de segurança no
de construções navais conhecida concordaram com as nossas propos-
Maior da Marinha, era que o sector de quem estaria a dizer, “eu já tinha entalar o país nesse tipo de dívida! país”. Para além disso, Ujah citava-
pelo nome de Privinvest, estava pre- tas, mas insistiram que o Ministé-
garantisse um fornecimento ade- dito”, como que a pensar, “basta en- Dias depois, o chefe do Estado -me a dizer que estávamos “a traba-
parada para modernizar o estaleiro e rio das Finanças deveria assinar um
quado de embarcações para a repa- volver esta mulher, isto não vai fun- Maior da Marinha veio ter comigo, lhar em estreita colaboração com o
montar uma infraestrutura moder- acordo com uma garantia de execu-
ração durante o período de vigência cionar”. O chefe do Estado Maior e eu expliquei-lhe as implicações sector da defesa. Acabo de falar com
na de construção de novas embarca- o chefe do Estado Maior General e ção que assegurasse que o governo
do memorando de entendimento da Marinha parecia estar surpreen- financeiras do projecto, assim como
ções. Para este fim, iriam contactar outros. Temos que apoiar muito os federal continuaria a garantir os
com a empresa e/ou garantir a aqui- dido, mas procurou ser construtivo, o facto de que não podíamos envol-
um sindicato bancário que poderia nossos homens e mulheres em uni- empréstimos da SPV no valor de 1,8
sição de novas embarcações a serem garantindo ao presidente que conti- ver o país nestas rígidas obrigações
construídas no estaleiro em número conceder 2 biliões de dólares em nuariam a trabalhar comigo e com a financeiras. Ele estava triste e disse forme, porque eles estão a pôr em biliões de dólares. Mais uma vez re-
suficiente que permitisse que a em- empréstimos a serem contraídos em minha equipa. Os representantes da que a marinha estava à beira de não risco as suas vidas para o nosso bem cusei essa proposta, mesmo sabendo
presa recuperasse o seu investimen- nome da empresa, mas com garan- Privinvest disseram que tinham que ser capaz de cumprir com as suas e estão envolvidos numa tarefa di- que tal seria a contragosto de algu-
to numa margem de rentabilidade tias do governo nigeriano. partir, mas que voltariam a Abuja obrigações devido ao estado delapi- fícil – a guerra contra o terrorismo mas pessoas. Foi assim que termina-
razoável. Finalmente, o negócio estava em dentro de semanas para prosseguir dado do seu equipamento. Como é – o que nunca tivemos antes, por- mos o mandato sem termos fechado
Quando perguntei qual seria a cima da mesa. O governo teria que com as discussões. que eles poderiam combater o rou- tanto queremos apoia-los nessa luta. o negócio, que é a forma como eu
magnitude deste investimento, garantir o empréstimo, as fontes de De volta ao meu gabinete, consul- bo de petróleo, patrulhar as águas Penso que o orçamento da defesa é entendia que a proposta deveria ter-
como é que seria feito, de onde vi- receitas suficientes para permitir a tei membros da minha equipa para territoriais contra a pirataria, e de- tratado de forma expedita. Já dis- minar. Havíamos trabalhado muito
riam os recursos, que tipo de fontes sua amortização, e uma margem colher as suas sensibilidades. Todos sempenhar um papel positivo na ponibilizamos o dinheiro que eles para demonstrar à marinha a nossa
de receitas seriam necessárias para de sobra para os investidores. Nes- concordaram que a minha avaliação luta contra o terrorismo sem equi- precisam para este ano (...) Todos vontade de encontrar uma solução
garantir a recuperação do inves- ses termos, quem é que não gosta- estava correcta: teríamos de conta- pamento adequado? Ele defendeu os seus salários e outras despesas são viável. Ao mesmo tempo, tínhamos
timento, e qual seria a duração do ria de investir na Nigéria? Como é bilizar a garantia como um emprés- que algo devia ser feito para se con- pagas tempestivamente. Há outras conseguido evitar o que constituía
contrato, os representantes da com- que uma proposta de investimento timo, e em função disso avaliar se seguir trabalhar com a Privinvest, necessidades de fundos adicionais, e uma proposta financeira muito ar-
panhia - dois jovens - mostraram-se que remete ao governo todo o ris- era uma prioridade suficientemente dado que há meses que a marinha às vezes estas necessidades são pa- riscada para o governo.
Savana 22-03-2019 13
EVENTOS
EVENTOS
0DSXWRGH0DUoRGH$12;;9,1o 1315
F
balcão, que representa a nova
imagem, dinâmica e totalmen- bique é membro do Grupo
oi reaberta, na semana Maputo, a agência bancária agências desta entidade ban-
te orientada para o cliente, está ABSA, com presença em 12
passada, no posto ad- do Barclays Bank, facto que cária.
a fazer uma aposta clara no países do continente africano e
ministrativo de Ressa-
marca um passo importante desenvolvimento do comércio mais de 42.000 colaboradores.
no Garcia, no distrito
naquilo que tem sido a re- A agência foi totalmente re- formal na história de Res- Conta com uma rede de 44
da Moamba, na província de formulação de toda a rede de novada com o pressuposto de sano Garcia, demonstrando balcões a nível nacional. (C.C)
O
Ministério da Agri- Estamos perante uma situação tivo último produzir e disseminar lheita, que será realizado através pós-colheita.
cultura e Segurança em que, em Moçambique, não se tecnologias melhoradas de gestão de uma consultoria estimada num Moçambique conta com o apoio
Alimentar realizou na vive necessariamente uma situa- pós-colheita, destacando-se, para valor de 6 milhões de meticais. A da Cooperação Austríaca para o
passada sexta-feira, um ção de fome por falta de alimen- o efeito, o silo metálico. consultoria terá uma duração de
Desenvolvimento na realização
seminário cujo objectivo era re- tos, mas pela gestão ineficiente da Por sua vez, o Ministério da três a quatro meses, significan-
flectir e debater sobre as vias a se- produção”, frisou. Agricultura e Segurança Ali- do que, antes do final do ano de do estudo e do plano que será
rem tomadas em torno da gestão De acordo com Matiquite, “en- mentar pretende desenvolver um 2019, Moçambique terá um ins- implementado em âmbito nacio-
pós-colheita no país. quanto não for adequada as prá- plano de acção de gestão pós-co- trumento orientador na área de nal.
ticas da gestão pós-colheita, não
Segundo a directora nacional de será possível atingir o objectivo
Extensão Agrária, Guilhermina de acabar com a fome, os agri-
Matiquite, após o processo pro- cultores irão produzir e mesmo
dutivo, uma parte desta produção assim haverá problemas de dispo-
é perdida devido as causas que nibilidade de alimentos. É preciso
se relacionam ao processo de co- que este assunto seja debatido e
lheita, incluindo limpeza da pro- sejam encontradas soluções para
dução, tratamento, conservação e garantir disponibilidade e apro-
processamento de modo a garan- veitamento total do que o produ-
tir disponibilidade para o consu- tor colhe na sua parcela de pro-
mo ou mesmo para a venda. dução”.
“O que acontece em Moçambi- Matiquite fez notar que para a
que é que acabamos tendo perdas redução das perdas pós-colheita,
que chegam a ser mais de 30% do existem alguns projectos específi-
volume total da produção colhi- cos como o projecto de Gestão de
da, significando que se Moçam- Pós-colheita implementado pelo
bique produz mais de 3 toneladas consórcio FANRPAN, HELVE-
de milho por ano, mais de 30% TAS e AGRIDEA, a operar nas
desta produção é perdida devido províncias de Cabo Delgado e
a práticas inadequadas de gestão Nampula.
pós-colheita. Estes projectos, tem como objec-
UGC gradua
145 técnicos médios
A
União Geral de Coope- um certo número de requisitos,
rativas (UGC), através facto que deve constituir bastan-
da sua Escola Técni- te orgulho, mas realça que não é
ca Padre Prosperino o fim da caminhada, pois agora
Gallipoli, graduou, na semana inicia a nova etapa que deve ser
passada, em Maputo, cerca de guiada com responsabilidade e
145 técnicos médios nas diversas desafios acrescidos.
áreas lecionadas pela instituição. Domingos fez recordar aos gra-
duados que o seu sucesso vai de-
Foram graduados 44 técnicos pender em grande medida dos
médios em Contabilidade e Au- resultados que obtiverem e da
ditoria, 73 técnicos médios em postura que forem a manter nas
Aduaneiro e Comércio Exterior, comunidades onde irão desen-
21 técnicos médios em Gestão volver as suas actividades.
Empresarial e Bancária e 7 téc- Entretanto, ciente dos constran-
nicos médios em Gestão de Re- gimentos existentes no mercado
cursos Humanos. de trabalho, o director apela que
Segundo o director executivo os mesmos optem em criar os
da UGC, Fernandes Domingos, seus próprios empregos, quando
esta graduação demonstra clara- possível, de maneira a reduzir os
mente que os graduados reúnem índices de desemprego no país.
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Savana 22-03-2019
EVENTOS
Anúncio de Vaga
O Fundo das Nações Unidas para População - UNFPA, é uma agên- DQRVGHH[SHULrQFLDQRWUDEDOKRFRPLQVWLWXLo}HVJRYHUQDPHQWDLVRU-
cia internacional de desenvolvimento que trabalha em prol de um ganização de desenvolvimento bilateral / multilateral e / ou ONU;
mundo onde cada gravidez é desejada, cada parto é seguro e o po- )RUWHVKDELOLGDGHVGHDQiOLVHTXDQWLWDWLYDGHGDGRV([FHOHQWHVFRQKH-
tencial de cada jovem é realizado. O UNFPA solícita candidaturas cimentos em construção de parcerias, coordenação de doadores e ges-
GH FLGDGmRV PRoDPELFDQRV TXDOLÀFDGRV H H[SHULHQWHV SDUD DV VH- WmRUHODWyULRVEDVHDGRVHPUHVXOWDGRV([FHOHQWHFRPXQLFDomRRUDOH
guintes vagas: escrita em inglês e português.
3URÀFLrQFLDQDVPDLVUHFHQWHVDSOLFDo}HVGHVRIWZDUHGHHVFULWyULRLQ-
Posto # e título: Posto nº 21962, Gestor do cluindo aquelas usadas para processamento de dados do Censo; Ca-
Projecto - Censo pacidade de tecnologias de informação para se familiarizar com o sis-
Tipo de contrato: Fixed Term Appointment, NOC WHPD(53SRUH[HPSOR3HRSOH6RIW6$3RXRXWURVLVWHPDLQWHJUDGR
Local de Trabalho: Maputo baseado na web.
Duração: 12 Meses
Prazo de Candidatura: Submissão de candidaturas Para mais informações relacionadas com os termos de referência, os
até 29 de Março de 2019 interessados podem tê-las através do link acima mencionado.
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OPINIÃO
18 Savana 22-03-2019
Cartoon
EDITORIAL
A impotência do homem
perante a natureza
A
natureza encontra sempre uma forma de nos fazer lembrar
que ela não precisa de nós, que nós é que precisamos dela.
E por vezes fá-lo da forma mais violenta, para que a men-
sagem nunca se perca.
E o ciclone Idai, que na semana passada se abateu sobre o centro de
Moçambique, foi a forma mais eloquente dessa lembrança, com um
nível de devastação nunca visto na nossa história moderna. Calcula-
-se que seja o maior desastre natural até aqui registado no hemisfério
sul. A cidade da Beira, o segundo maior centro urbano do país, ficou
completamente obliterada, e todo o vale circundante, compreenden-
do as bacias dos rios Púnguè, Revué e Búzi, transformou-se num
grande oceano. A Estrada Nacional Número Seis, principal via de
acesso ao mar para os países e regiões do interior, e ainda numa
fase avançada de reconstrução, num investimento de 600 milhões
de dólares, ficou submersa e cortada em quatro pontos. A econo-
mia da região ficou praticamente paralisada. Numa contagem ainda
S
nestas condições climáticas o seu habitat natural. Há pessoas que ofro de hiperidrose. Transpiro formada no seu própria caricatura - de- conflitos que se sucedem à ascensão de
ainda são dadas como desparecidas, sem contacto com os familiares. como um cão, não importa a pressiva e deprimida. uma consciência individualista num
Sem energia eléctrica, equipamentos vitais nos hospitais deixaram temperatura ambiente. Basta Há oito anos, entrevistei no Bulhão corpo social de mentalidade colectivis-
de funcionar. Todos perderam os poucos haveres que tinham. Terão qualquer estria de ansiedade (shooping que me dizem ter vindo ta – em Moçambique há um compor-
que começar tudo do zero, se é que haverá, algum dia, um novo ou um incómodo, mesmo por identifi- abaixo) uma mulher vítima da vio- tamento humano de referencial pré-
ponto de partida. car, e transformo-me no Incomati. Há lência doméstica. Veio ao meu encon- -sísmico, que tende às polarizações, aos
Moçambique está de luto. O esforço de reconstrução é ainda incal- uns dias que se me abriram os diques. tro uma mulher radiosa, um clone da atritos entre a lei, os costumes e os ho-
culável, e qualquer tentativa de comparação com o desastre natural Mudo três vezes de roupa ao dia. Não actriz Romy Schneider. Terminava o mens; o qual é propício aos condimen-
cessa. Sei do que é. É da cicatriz aberta mestrado em Física, absoluta raridade tos da Tragédia. A puta da inclemência
que em 2000 se abateu sobre a região sul do país é um exercício em
na Beira. Contrariando o Prof. Pan- em Moçambique. Mas estava visivel- e da frequência das calamidades ajuda.
futilidade.
gloss do Cândido do Voltaire, este não é mente perturbada e era absolutamente Mas, face a tanta inclemência, merda
Infelizmente, há gente importante, influente e poderosa neste mun- o melhor dos mundos possíveis. um mistério que ela voluntariamente se para a literatura - há momentos em
do, que ainda acredita que as mudanças climáticas são uma farsa. sujeitasse - o que a levava a entalar o que apenas o silêncio é digno. Há mo-
A localização geográfica de Moçambique, na chamada Zona de Nem consigo imaginar: todos os aces- seu pé na cadeira em que se sentava? mentos em que o excesso só ulcera e é
Convergência Tropical, torna o país vulnerável a estas calamidades, sos à cidade cortados, inundações (a re- Afinal, era o clima da cidade. Aquela, penalizador vivermos num país sempre
caracterizadas, nesta época do ano, por chuvas de curta duração mas cepção do China Town é submarina); foi a primeira de muitas entrevistas. Ao aquém da catarse.
intensas, acompanhadas de ventos fortes, neste caso atingindo a in- centenárias figueiras da índia arranca- fim de oito dias de entrevistas, inquie- Que dizer a quem perdeu o telhado,
crível velocidade de perto de 200 quilómetros por hora. É mais do das como se fossem caniços; no aero- tei-me: pode uma cidade sobreviver à marido, dois filhos, ou viu a avó levan-
que o suficiente para derrubar qualquer espécie de obstáculo que se porto, dentro de um hangar, os aviões depressão que causa nas suas mulhe- tar voo quando lhe faltavam dois pas-
coloque no seu caminho; como um míssil invisível. dedicaram-se às cambalhotas; a igreja res mais bonitas, à irracionalidade de sos para se refugiar em casa?
do Macuti tombada; as fábricas de torná-las infelizes? Um mau sintoma,
E é aqui onde se revelam as fragilidades de um país que no meio de Que dizer quando uma cidade inteira
pantanas; os postes eléctricos dobrados o clima social da cidade era pantanoso.
tantas outras dificuldades, terá, nos próximos anos, de empreender foi estripada, estuprada, fustigada poro
como palitos; milhares de edificações Há quatro anos passei lá dez dias sem
um esforço titânico para se refazer desta calamidade. Se eventos a poro por uma maquinação natural e
carecas, sem cobertura; ficou igual- conseguir trabalhar devidamente, de-
naturais extremos se tornam inevitáveis, há o outro lado da história, tudo retrocede quando à partida já era
mente ao léu a ala da cirurgia do Hos- vido aos ininterruptos cortes de luz.
que tem a ver com a forma violenta como o ser humano lida com tão difícil?
pital da Beira, literalmente, entra-se Imaginei o que seria seis meses naque-
Que cidade se levanta depois de uma
o meio ambiente. A ocupação desordenada de espaços, a constru- nas urgências como num atalho para le regime - para além do desgaste dos
injustiça cósmica tão flagrante?
ção em zonas impróprias para habitação, a passividade das autori- o céu; cem mortos contabilizados e materiais, a improdutividade. Outro
A esta hora, no porto de Maputo os jo-
dades perante o fenómeno, a impiedosa delapidação dos recursos mil desaparecidos; centenas de pessoas mau sintoma.
vens solidarizam-se e recolhem dona-
florestais, a ausência de valas de drenagem são alguns dos elementos penduradas nas árvores, à espera de um O ano passado fui lá lançar um livro
anjo-helicóptero; a cidade sem luz, sem com o Mbate Pedro. O ambiente cul- tivos para a Beira. É a Sociedade Civil
que contribuem para que não seja possível mitigar os efeitos destes que se mobiliza – essa mesma que, em
água, sem caixas bancárias, metade dos tural era o de uma aldeia, desacostuma-
fenómenos. Isto, para além da inadequada preparação que se revela nome de interesses corporativos, nunca
hotéis arrombados; o riso cínico das pi- da. Numa cidade que já foi borbulhante
na tomada de medidas de prevenção, como por exemplo, evacuando é respeitada.
lhagens, etc., etc; podendo o pior ainda de cultura, de onde provém metade dos
as pessoas dos lugares vulneráveis. sobrevir, com mais inundações. escritores deste país. Desacostumara- Do que a Beira necessita, além de mui-
A impreparação das autoridades para o que era previsível é visível Nem consigo imaginar: diz a Cruz -se, vivia para as vitualhas, a ebriedade, ta solidariedade, é de visão e projecto e
em todo o lado. As primeiras equipas de mergulhadores que se fize- Vermelha que 80% da cidade da Beira uma por outra visita ao casino china. É de um sinal de grandeza dos líderes po-
ram aos locais atingidos para resgatar pessoas vieram do estrangeiro. está destruída, todos os arredores estão nada, para uma cidade àquela escala. líticos, que os mesmos encontrem nesta
De onde também veio a maior parte dos helicópteros actualmente debaixo de água. Uma cidade não pode ser só infra- cicatriz uma necessidade de redenção.
envolvidos nas operações de resgate. A informação sobre a movi- Dirão os “profetas”: foi um castigo de -estruturas e transacções económicas Não é só o património imobiliário ou
Deus. Não, absolutamente, não. Os ho- – não é isso que lhe dá um cariz, uma as infra-estruturas que é preciso res-
mentação e natureza violenta do ciclone era sabida vários dias antes,
mens, que estavam avisados, é que não personalidade. Uma cidade sem um gatar; a Beira precisa de um projecto
mas as autoridades limitaram-se a emitir alertas, sem qualquer tipo
fizeram o suficiente. Ou, talvez, tenha património intangível forte perde o di- que lhe seja uma alma. É preciso agora
de acção de evacuação preventiva nas zonas de risco. E na ausência
sido um erro criar Deus e depois dar- reito ao nome. exigir o impossível, uma mentalidade
de meios para lidar com a catástrofe que se avizinhava, ninguém se nova e a festa de pertencermos.
-lhe livre arbítrio. Seja qual for a tutela, Digo aos alunos que Moçambique reú-
lembrou de fazer pedidos antecipados de apoio por parte da comu- o resultado é este sofrimento e a evi- ne as condições propícias ao desenvol- Mudo outra vez de t-shirt, numa ex-
nidade internacional. dência: neste rincão, a natureza persiste vimento da Tragédia como género lite- sudação sem remédio. Coço a cabeça
São algumas das questões com que teremos de nos confrontar nos em fazer gato-sapato dos homens e das rário. Por causa das clivagens sociais, da imaginando como de helicóptero a
próximos dias, à medida que nos formos preparando para a próxima calamidades destino. especial gramática que liga existentes cidade há-de parecer bombardeada. A
acção da natureza. A Beira é, diga-se, há muito uma ci- e ancestrais, do modo como aqui se minha testa goteja. Estudo para esta-
dade ensimesmada, triste; estava trans- vivencia o presente e a História, e dos lactite.
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A
bdelaziz Bouteflika está no sável por mais de 60% das receitas A guerra contra os colonos france- no dos EUA, pelas suas posições cava as relações internas, tornava
poder há duas décadas, mas orçamentais e representa quase a to- ses apenas terminou em 1962, após relativamente à situação no Médio mais agitadas as águas das relações
há sete anos que aqueles que talidade das exportações. um longo período de resistência e de Oriente. internacionais, em particular com a
o elegeram quatro vezes pre- Muitas das empresas exportadoras golpes e contra-golpes, em que Bou- Também na Argélia, a sua figura en- França, procurando novos aliados,
sidente da Argélia quase não o veem, de gás e petróleo são controladas por teflika foi sempre uma figura revolu- volveu-se cedo em polémicas, tendo sobretudo na África subsariana, onde
havendo quem suspeite que ele é um figuras que frequentam a Mouradia, cionária relevante - apesar das suas sido processado por alegadamente estabeleceu ligações com grupos re-
fantoche político. o palácio presidencial de Argel, e que origens modestas, todos lhe reconhe- ter roubado dinheiro das embaixadas, beldes no norte do Mali.
Aos 82 anos e com dois ataques car- foram construindo uma poderosa ciam forte autoridade. entre 1965 e 1979, e condenado pelo Em 2005, foi internado num hospital
díacos no boletim médico, a 10 de teia de interesse à volta da figura tu- Poucos dias depois de Abdelaziz Tribunal de Auditores Financeiros. em França, com problemas gástricos
Fevereiro, Bouteflika anunciou que telar de Bouteflika. Bouteflika ter nascido, em 02 de Após a morte do presidente Bou- e a sua situação de saúde foi-se com-
se recandidataria a um quinto man- Os críticos do regime chamavam a Março de 1937, os pais levaram-no médienne, em 1978, Bouteflika teve plicando ao longo dos anos seguintes.
dato presidencial, apesar de quase já esse grupo “le pouvoir” (“o poder”) – até ao xeque de Zawiya, para pedir a dificuldade em afirmar politicamente Com uma saúde mais frágil, Boute-
ninguém o ver, “ao vivo”, há sete anos. uma espécie de colectivo opaco que bênção para o bebé. as suas ambições de poder e foi rele- flika indicou para primeiro-ministro
Nas cerimónias públicas, a presença toma as decisões em nome do presi- O xeque recitou um verso do Corão gado para segundo plano, tendo feito Abdelaziz Belkadem, em 2006, para
de Bouteflika tem sido substituída dente. e disse: “Esta criança terá um grande parte discreta da oposição a suces- garantir a sua influência de poder,
por um quadro com a sua fotografia, Com o agravamento da situação destino”. sivos governos, antes da guerra civil com este a anunciar uma reforma,
a que chamam “moldura”. de saúde do presidente, em 2013, a que assolou o país e que durou de muito contestada, que permitia ao
A “moldura” tem-se passeado por ‘entourage’ que se formara à volta Ujda 1992 até 1999. presidente mandatos ilimitados.
inúmeros pavilhões, salas de aula, de Bouteflika começou a mostrar A família, de posses modestas, vivia Durante a guerra-civil, Bouteflika Com esta medida, Bouteflika con-
edifícios autárquicos e estádios, re- fraturas, com numerosos conflitos em Ujda, uma cidade do nordeste de reassumiu protagonismo e, em 1994, correu e ganhou um terceiro manda-
presentando um presidente que se internos no governo e no palácio Marrocos, a 12 quilómetros da fron- após o assassínio de Mohamed Bou- to, em 2009, debaixo de uma escalada
tornou uma figura pessoalmente in- presidencial. teira com a Argélia, historicamente diaf, recusou assumir o lugar de pre- de protestos, alguns dos quais inicia-
visível, mas politicamente imbatível. Em 2015, com o afastamento de território de vários conflitos pela sua sidente, alegando que o exército não dos por jornalistas (em 2010), que se
Nas eleições de 2014, meses depois Mohamed Mediène, o líder dos ser- posse, tendo sido a única cidade de lhe dava os poderes necessários para queixavam de problemas de liberda-
de um AVC que o levou para um viços de inteligência e uma das figu- Marrocos que esteve sob o domínio exercer o cargo. de de imprensa.
quarto de hospital, Abdelaziz Bou- ras mais próximas do presidente, per- do Império Otomano. No lugar ficou Liamine Zéroual, que, Em 2013, Bouteflika sofreu um AVC
teflika conseguiu ser eleito com 81% cebeu-se que alguma coisa de muito Mas as origens familiares de Boute- em 1999, sem explicação aparente, e quase desapareceu da cena pública,
dos votos, sem fazer um único dis- relevante tinha mudado no círculo de flika eram argelinas e, apesar de ter interrompeu o seu mandato presi- o que não o impediu de ser reeleito
curso de campanha e quase sem apa- Bouteflika, sem se saber exactamente feito a sua formação académica e re- dencial e convocou eleições anteci- para um quarto mandato, em 2014,
recer publicamente. com que influência e conhecimento ligiosa em Ujda, aos 19 anos juntou- padas, que foram vencidas, com 74% apesar do boicote de vários partidos
Os opositores começaram a desen- do próprio líder. -se à Frente de Libertação da Nacio- dos votos, pelo candidato indepen- da oposição.
volver uma “teoria da conspiração”, Bouteflika sempre deu muito relevo nal (FLN) da Argélia e, em 1960, já dente Bouteflika. Uma das raras aparições aconteceu
segundo a qual Bouteflika é um fan- à questão das ligações de confiança e liderava o movimento no sul do país, Os adversários queixaram-se de falta em 2017, em imagens transmitidas
toche que serve os interesses de uma de fidelidade. contra as forças colonialistas. de transparência e Bouteflika, com pela estação televisiva estatal de uma
clique que se organizou à sua volta, Ele próprio, nunca largou a mão ao Com a independência, Bouteflika as- a sua legitimidade condicionada, foi reunião de gabinete, em que anun-
com inúmeros e inconfessáveis inte- presidente Houari Boumédienne, até sumiu cargos governamentais e che- obrigado a uma série de reformas po- ciou medidas económicas restritivas,
resses económicos e empresariais. à sua morte, em 1978, de quem foi gou ao lugar de presidente das As- líticas, que referendou, para assegurar como a diminuição das importações,
A Argélia possui a quinta maior ministro dos Negócios Estrangeiros sembleia Geral das Nações Unidas, um mandato estável. para fazer frente à débil situação fi-
reserva mundial de gás natural e o ao longo dos primeiros anos da inde- em 1974, onde foi frequentes vezes A sua primeira preocupação foi re- nanceira da Argélia, provocada pela
sector dos hidrocarbonetos é respon- pendência da Argélia. alvo de críticas por parte do gover- tirar a Argélia do isolamento inter- baixa do preço do petróleo.
nacional, com várias acções de diplo- A partir desse momento, Bouteflika
macia e a intensificação de relações passou a ser “a moldura”, a fotografia
2K6DQWD,QTXLVLomRDFHQGHDVFKDPDV com vários países africanos, nomea-
damente, com Marrocos.
que o representava, mas sem aparecer.
Contudo, em Fevereiro passado
Em 2004, foi eleito para um segundo anunciou a sua candidatura a um
Por João Carlos Barradas mandato, com 85% dos votos, com quinto mandato, provocando uma
O
o reconhecimento de observadores escalada de contestação nas ruas de
australiano, assombrado pe- o racista branco que massacrou nove Barrès, em tiradas contra a emigração internacionais, que lhe permitiram várias cidades argelinas, com as pró-
las grandes batalhas entre negros na Igreja de Charleston, na muçulmana da África e do Magreb uma maior legitimidade e aumento prias forças de segurança a mostra-
hostes cristãs e muçulmanas, Carolina do Sul, em Junho de 2015. manobrada por “elites mundialistas”. de poder, sobretudo à custa de con- rem solidariedade com os manifes-
ergue-se em defesa do mun- Breivik, pretensa vítima da “tirania Os Templários, a tradição e mitologia trolo estatal da produção energética e tantes.
do branco em vias de ser submergido islâmica e multiculturalista”, tentou das armas na cruzada contra muçul- do sistema mediático. Perante o agravar da situação, em 11
pelas hordas de Alá e sacrifica-se em fazer do tribunal uma plataforma de manos, perpassam, sem surpresa, nas Neste segundo mandato, procurou de Março, o presidente Bouteflika,
pose heroica na litania divulgada an- propaganda, mas falhou no confronto fantasmagorias do australiano e o ainda a pacificação e a reconciliação regressado de mais um tratamento
tes de atacar as mesquitas de Chris- entre o delírio ideológico e a evidên- ricochete de atentados de terroristas de grupos desavindos, dando amnis- numa clínica suíça, renunciou a pro-
tchurch. cia do massacre. em nome de Alá será tão inevitável tia a todos aqueles que tinham estado curar um quinto mandato, explican-
“A minha identidade é europeia e, O réu, testemunhas de defesa e acu- quanto a exige a jihad, a reconquista envolvidos em assassínios durante a do que ficará no cargo até que o seu
mais importante, o meu sangue é eu- sação, psiquiatras, advogados e procu- de Al Andalus, a instauração do Ca- guerra-civil, o que lhe permitiu anos sucessor seja eleito, sem determinar
ropeu”, proclama Brenton Tarrant e, radores fizeram-se ouvir durante 43 lifado. de maior estabilidade. uma data para esse acto eleitoral.
com esta insana declaração, o terroris- dias no tribunal de Oslo. Mas ao mesmo tempo que pacifi- (Lusa)
ta australiano exige honra e respeito No final de Agosto de 2012 Breivik Madre Inquisição
no vetusto, camaleónico e omnipre- foi condenado a cumprir pena de pri- Dos antípodas a Tomar são omnipre-
sente universo racista. são até máximo de 21 anos. sentes estes maniqueísmos ideológi-
À imagem de Anders Breivik, o as- O julgamento do terrorista que ma- cos totalitários e as tradições alimen-
sassino de Christchurch exarou ma- tara 77 pessoas em Oslo e na ilha de tam-se das suas terras sagradas.
nifesto contra a ameaça apocalíptica Otøya a 22 de Julho de 2011 realizou- Pregador do autoritarismo corpora- Email: diariodeumsociologo@gmail.com
muçulmana e tal como o norueguês -se em estrita legalidade e poderá ser- tivo monárquico, católico e racista Portal: https://oficinadesociologia.blogspot.com
pretende aproveitar-se do tribunal vir de exemplo para a justiça neoze- impenitente, António Sardinha é 624
para exaltação e exemplo na cruzada landesa. presença constante desde as primeiras
pela defesa do “homem branco”. Homogeneidade da nação, pureza de décadas do século XX nesse mundo
O australiano, assombrado pelas
grandes batalhas entre hostes cristãs
e muçulmanas, ergue-se em defesa do
sangue, grandeza da raça - é trilogia
do racismo branco ainda que sirva
qualquer xenofobia e, por isso, é pa-
de desvario que se soletra em portu-
guês.
Os poemas em que o ideólogo do in- 6REUHYLROrQFLD
A
mundo branco em vias de ser submer- tente igualmente na Coreia do Norte, tegralismo lusitano dizia verter “meu
gido pelas hordas de Alá e sacrifica-se um dos destinos das errâncias do ter- ódio de cristão, de português” contra violência parece ser evidente. Mas há um problema: e se a
em pose heroica na litania divulgada rorista australiano. judeus, mouros, ciganos, são respiga- violência não for violenta, mas podendo a este nível ser até
dos sem que se lhes dê atenção, até mais violenta do que a violência violenta? E se a violência não
antes de atacar as mesquitas de Chris- O australiano revolta-se contra “a
um dia... violenta for a causa da violência violenta?
tchurch. grande mudança” em que multidões As tiradas do homem de Monforte
O inspirador norueguês dizia ser o muçulmanas ocuparão o mundo que Acontece que temos da violência, por um lado, uma concepção ime-
andam por aí nos tugúrios e palacetes
redentor de uma nova Ordem do o branco criou, paranoia muito acen- diata, instantânea, visível, quer dizer uma concepção não processual,
dos sicários da extrema-direita:
Templo, elite capaz de suportar o in- tuada em grupos racistas brancos de daquela processualidade que, agindo por acumulação progressiva de
“São moiros e ciganos
suportável, como advogara Heinrich extrema-direita da Austrália. quem governa. causas e de contextos, explode um dia. Por outro lado, temos uma
Himmler para os seus SS. “Le Grand Remplacement” é, contu- Nunca será bastante a pena eterna pr’a concepção que objectivamente exclui que as coisas estáveis e pacíficas
Tarrant, por seu turno, admite que do, expressão retomada recentemente quem desfez possam ser violentas ou dar origem à violência.
penará na prisão para, quiçá um dia, do jargão racista gaulês pelo publicis- a raça com torpeza! Quer dizer, a nossa concepção é a do ruído, da explosão, a daqueles
ser galardoado com o Nobel da Paz e ta francês de extrema-direita Renaud Oh Santa Inquisição, acende as chamas! momentos veementes que escamoteiam as condições violentas não vio-
vale-se do cativeiro de Nelson Man- Camus. E no fulgor terrível lentas que, por acumulação progressiva, geram a repentinidade da vio-
dela para suas quimeras. Assim se transmuta, passado um sé- que derramas, lência violenta que parece, afinal, não radicar nessas condições.
De facto, é um igual de Dylann Roof, culo, o anti-semitismo de Maurice Vem acudir à Pátria Portuguesa!”
OPINIÃO
20 Savana 22-03-2019
&RPRWHQWHLVDOYDU0XDPPDU*DGGDÀ
Por Jacinto Veloso*
E
m Abril de 2011, o presidente Jacob Negócios Estrangeiros do CN’T, devia ter temente encontrada com o envolvimento Sul como parte da SADC e como membro
Zuma, através de um dos seus colabo- lugar em Madrid. Contudo, por razões de se- dos africanos, evitando, dentro do possível, a do Conselho de Segurança das Nações Uni-
radores mais próximos, soube que eu gurança, no dia 4 de Maio de 2011 o encon- interferência dos países ocidentais. das é muito importante e concluiu: “Nes-
tinha relações directas com o repre- tro foi fixado para o dia seguinte, 5 de Maio, Por outro lado, informei também que a Áfri- te momento, queremos que todas as forças
sentante, em Madrid, do Conselho Nacional não em Madrid, mas em Roma. ca do Sul estava disponível para receber Ga- activas se concentrem para tirar Gaddafi do
de Transição (CNT), o movimento de opo- Partimos no primeiro voo de Madrid para ddafi e a sua família, num exílio humanitário país”. Consideravam que Gaddafi fora do
sição ao regime do coronel Muammar Ga- Roma, eu, o notário Omar e um homem de e sem actividade política. país ficava politicamente neutralizado. Na
ddafi, na Líbia. negócios espanhol que pediu para não ser O Dr. Issawi agradeceu a mensagem do pre- despedida, insistiram que não são “rebeldes”,
Este meu contacto derivou de velhas amiza- identificado publicamente. sidente Zuma, disse que tinha boas referên- são “freedom fighters”, que pretendem esta-
des na África do Norte e de contactos com O encontro teve lugar num hotel 5 estrelas cias sobre a minha pessoa e até me convidava belecer um Governo democrático e relações
homens de negócios espanhóis. de Roma, altamente guardado por várias para, de algum modo, ser assessor no CNT, internacionais saudáveis.
Naquela altura, Já estava em curso, na Líbia, viaturas, homens fardados e armados, no antes e depois de tomar o poder. Afirmou O relatório do encontro foi transmitido de
uma guerra de pequena intensidade, movida exterior, e um grande número de agentes de que todo o apoio para a paz é bem-vindo e imediato ao presidente Jacob Zuma.
por forças de oposição ao regime ditatorial segurança à civil, visivelmente armados de que a guerra tem de acabar o mais rapida- A 8 de Maio do mesmo ano, Zuma confir-
do coronel Gaddafi. pistola e com telecomunicações no interior mente possível. mou que podia receber Gaddafi e a sua fa-
O presidente Zuma mandou informar-me do hotel. Quanto ao coronel Gaddafi, afirmou que mília na África do Sul. Um (jacto executivo)
que estava envolvido, como chefe de Estado Enquanto esperávamos, tivemos ocasião de não tinha condições nem queria negociar di- estava permanentemente de prevenção num
africano, nas negociações de paz na Líbia e verificar no detalhe o poderoso dispositivo rectamente com ele e que até seria bom que país da região, para expressamente o trans-
pensava que, para estabelecer a paz, era ne- de segurança montado pelo Governo italia- ele abandonasse o país. portar para a África do Sul.
cessário convencer o CNT a ser mais flexível no. Pediu para o presidente Zuma confirmar A 11 de Maio, o CNT deu o seu acordo final
e a deixar Gaddafi sair da Líbia, pois, segun- O nosso encontro aconteceu Já por volta das se podia receber Gaddafi e a sua família na para facilitar a saída de Gaddafi, o que foi
do as informações em sua posse, o CNT não 16h00 e teve a duração de uma hora e dez África do Sul. Se fosse possível, Gaddafi transmitido a Pretória no mesmo dia.
queria Gaddafi fora do país, para evitar uma minutos. devia deixar a Líbia antes de 16 de Maio, Sabemos que Gaddafi acabou por recusar a
oposição desestabilizadora do futuro Gover- Quem estava presente? data em que o Tribunal Internacional iria proposta de Jacob Zuma de o retirar em se-
no democrático. O Dr. Issawi Ali, ministro dos Negócios Es- condenar Gaddafi por crimes contra a Hu- gurança da Líbia. Gaddaffi não quis sair.
E porquê mandou ele informar-me sobre trangeiros do CNT; manidade e emitir o consequente mandato No dia 16 de Março de 2011, o Tribunal
essa situação? O arquitecto Fathi, assessor e intérprete do de captura. Internacional emitiu o mandato de busca e
Esclareceu-me que era necessário salvar a ministro; O Dr. Issawi esclareceu, de seguida, que o captura contra Gaddafi.
vida de Gaddafi (e sua família) e que a África Omar, o representante do CNT em Madrid; CNT pode ter sido considerado inflexível Do que sabemos, o CNT continuou as suas
do Sul se propunha recebê-lo no seu territó- Eu próprio e o homem de negócios espanhol. pela missão dos Chefes de Estado da UA, acções para recuperar 3 000 milhões de dóla-
rio. Pediu para eu contactar o CNT e tentar Feitas as apresentações, o Dr. Issawi deu-me pois o CNT recusou a proposta de um “ces- res colocados por Gaddafi no exterior, como
convencê-lo de que a África do Sul podia re- a palavra para apresentar o assunto que mo- sar-fogo imediato e sem condições” porque nos havia afirmado Issawi Ali.
ceber Gaddafi e garantir que ele não iria ter tivou a nossa deslocação a Roma. isso não era de todo aceitável “sem resolver Como se sabe, o coronel Gaddafi foi assas-
actividade política em território sul-africano. Informei que estava ali a pedido do presiden- primeiro o destino de Gaddafi”. sinado a 20 de Outubro de 2011, em Sirte,
Era um objectivo humanitário. Salvar a vida te Zuma e informei que a missão dos Chefes Por fim, como orientado pelo presidente sua terra natal, onde nasceu a 7 de Junho de
de Gaddafi. de Estado da União Africana (UA) a Trípoli Zuma, coloquei a questão de saber se o CNT 1942.
Após obter autorização do Presidente da e Bengazi tinha conseguido convencer Ga- aceitaria uma comissão de alto nível da UA Quando encontro o presidente Zuma, ele
República de Moçambique e após fazer os ddafi a negociar com os chamados “rebeldes”. que dialogasse com Gaddafi e com o CNT sempre lamenta que Gaddafi não tenha acei-
necessários contactos em Madrid, parti, nos Por outro lado, o presidente Zuma, que esta- em separado, para finalmente se encontrar tado sair da Líbia para se exilar na África
finais de Abril de 2011, para Espanha, onde va naquele momento na China no quadro da uma saída por todos aceitável e estabelecer a do Sul, recordando o nosso trabalho, que foi
tive vários encontros com o representante, reunião dos países do BRICS (Brasil, Rússia tão desejada paz. feito em vão. Uma missão humanitária que
em Madrid, do CNT, o senhor Omar, pro- Índia, China e Africa do Sul), pedia mais O Dr. Issawi aceitou a proposta dizendo que pretendia contribuir para a paz na Líbia.
vavelmente um nome de código, ex-notário flexibilidade ao CNT nas negociações para tinha todo o interesse no envolvimento di-
no Estado líbio. estabilizar o país. Emiti também a opinião, recto da UA, que, aliás, terá sempre de estar *Extractos do livro do autor, intitulado, “A Ca-
Ficou acordado que o encontro com o Dr. a pedido de Zuma, de que era aconselhável presente, qualquer que seja a solução final. minho da Paz Definitiva – O Iceberg, o Interes-
Issawi Ah, conhecido como o ministro dos que a solução para a paz fosse predominan- Sublinhou que o envolvimento da África do se Nacional e a Segurança do Estado”
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M
esmo com o aviso prévio não pontos críticos e menos críticos, de comuni- centenas, o que é lamentável. O mundo não realidade económica de Moçambique à
foi possível minimizar os im- cação com familiares, de localização deste ou ficou alheio ao problema. O Papa lamentou a luz da problemática das dívidas ocultas
pactos fortemente negativos daquele familiar, juntam-se questões básicas situação, olhando para a dimensão do even- em ano de eleições. Mas, julgamos que
do ciclone IDAI. A região como não ter o que comer, o que vestir, não to não só em Moçambique, mas também no a comunidade internacional saberá sepa-
centro do País, com maior incidência para ter o necessário apoio que, pelo tamanho da Zimbabwe e no Malawi. Tanto a partir de rar o trigo do joio. A região centro do
as províncias de Sofala e Manica, ao ser aflição, parece tardar ou ser ignorado; não ter vários pontos de Moçambique como inter- País necessita de vários apoios para se
devastada pelo referido ciclone, deixou como enterrar os mortos. Enquanto isso, uns nacionalmente a preocupação em ajudar, em reerguer uma vez normalizada a situação
a nu que a aposta e o comprometimento e outros vão tendo a sorte de ser resgatados, solidarizar-se com as vítimas deste evento calamitosa mais mediatizada. Como os
para com o desenvolvimento é crucial para alimentados e acomodados. natural, tem sido uma realidade ainda que a eventos da Natureza são recorrentes e
qualquer País, incluindo Moçambique, Os bairros mais pobres da cidade da Beira, inacessibilidade constitua um obstáculo no
podem voltar a surpreender pela negati-
para minimizar as fraquezas do ser hu- mais extensos que o centro, bairros frágeis a terreno. O movimento interno e externo de
va a mesma região ou uma outra de Mo-
mano diante de eventos naturais severos. avaliar pelo tipo de material usado nas cons- ajuda, pelo crescente ímpeto, inspira cada
çambique concordamos ser necessário
O ciclone deixou a segunda cidade mais truções, certamente que não podiam resistir vez mais fé, mais esperança, em alcançar dias
importante de Moçambique praticamen- a um evento desta envergadura com ventos melhores. Esta possibilidade, por sua vez, adequar o tipo de habitações, em parti-
te irreconhecível. Falou-se mesmo de uma a rondar os mais de 200 Km/hora e chuvas a leva-nos a crer numa rápida capacidade de cular, bem como as obras públicas, no ge-
cidade da Beira afectada em 90%. Só 10% inundarem tudo quanto é canto. Bairros po- resiliência económica, social e cultural das ral, àquilo que é a possibilidade de maior
supostamente resistiu. As imagens trans- bres que são o rosto do subdesenvolvimento regiões atingidas, com maior destaque para a resistência a este tipo de fenómenos.
mitem tristeza generalizada, são um claro e, por isso, sem um mínimo de robustez ou cidade da Beira pela sua importância central No entanto, a concretização sustentável
indicador de regressão no bem-estar so- de materialidade necessária para resistir a e irradiadora de desenvolvimento. desta possibilidade implica, sem dúvida,
cial, cultural, económico. Aos problemas este tipo de devastação criada pela natureza. A possibilidade de resiliência económica, so- desenvolvimento, ou seja, o abandono da
de fornecimento de energia eléctrica, de Em pouco tempo o número de óbitos subiu cial e cultural não é uma miragem. Esta ca- prática de mão estendida. Seja como for,
cuidados de saúde, de acessibilidade aos de perto de uma centena para mais de duas pacidade, porém, pode vir a ser afectada pela é preciso seguir em frente.
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Savana 22-03-2019 21
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(VWDPRVDUHQRYDUDVHOHFomR
Por Paulo Mubalo
O
presidente da Federação tica, mas Moçambique deu o que O objectivo é ganhar e para conse-
Moçambicana de Patina- tinha a dar, demonstrou, mais uma guirmos isso temos de estar organi-
gem, Nicolau Manjate, vez, a sua qualidade e perícia no zados e faremos isso.
sustenta que o nosso país hóquei em patins. Portanto, eu re- Há a percepção de que o hóquei é
está num processo de renovação da conheço a entrega dos atletas e dou um dos parentes mais pobres do
sua selecção, razão pela qual não se os meus dou-lhes parabéns. Mes- governo...
pode exigir resultados imediatos, mo esses miúdos, que se estrearam -Esta entrevista tem em vista fa-
porque este processo leva o seu contra o Egipto, fizeram um bom zer-se a avaliação da prestação de
tempo. Mesmo assim garante que, trabalho, marcaram golos e contri- Moçambique no africano, e quanto
contrariamente à última prestação buíram para a vitória de 12 a 2 . ao que afirma é sua percepção. Nós
no africano de Angola, em que fi- A selecção começou a treinar com
trabalhamos em conjunto, pensa-
cou em segundo lugar, no mundial a dupla Pimentel/ Tivane e só de-
mos em conjunto e enfrentamos os
do grupo “B”, a realizar-se em Bar- pois é que contou com a prestação
desafios em conjunto. Aliás, todos
celona, o país voltará ao grupo de do técnico português Pedro Nunes.
elite. A seguir, os excertos relevan- Esta forma de trabalhar é eficaz? estamos empenhados no desenvol-
tes da entrevista. - Esta maneira de trabalhar não é vimento da modalidade. Suportar
Moçambique caiu para o grupo no eficaz. Mas -como disse - a pro- uma modalidade não é fácil. A ní-
recém terminado campeonato afri- Nicolau Manjate, presidente da FMP gramação deste africano foi feita vel do mundo , a Inglaterra já faltou
cano. O que falhou? em cima do joelho, e nas próximas a um campeonato, a Argentina já
apanhou-nos de surpresa, porque que, no lugar de ser corporizado por chegou ao mundial com dificulda-
-No desporto existe o momento de participações teremos que nos pre-
em princípio estávamos a nos orga- 16 países, como era anteriormente,
pico e o hóquei não foge à regra, parar atempadamente, com toda a des. Ou seja, certos países, que nem
nizar para acolher o africano, con- agora passou para oito países, e
e nós temos de compreender que logística direccionada para o ob- podíamos imaginar, também têm
tudo, sem explicação, este passou esses oito países têm de disputar a
esta selecção já deu o que tinha a jectivo que se pretende alcançar. dificuldades.
para Angola. Quer isto dizer que eliminatória regional, em repre-
dar. Assim, temos de preparar uma
trabalhamos um bocado apertados sentação da África, América Latina
nova selecção, razão pela qual esta-
e isso pode ter influenciado a nossa , Europa, ou seja, os únicos países
mos a trabalhar com jovens para,
prestação. que não disputam são os primeiros Visite agora e mantenha-se informado,
daqui a dois ou três anos, serem
Há muitas versões sobre o próximo quatro classificados.
estes os grandes pivôs do hóquei
mundial... Contrariamente às outras selec- (integridade & independência)
em patins no país. É claro que, nes-
- Continuamos, sim, no mundial, ções nacionais a de hóquei enfren-
ta fase de adaptação, não se pode
esperar grandes resultados, mas
mas devo esclarecer que, em fun-
ção do novo figurino que vigora a
tou muitas dificuldades , especial-
mente a financeira. Até que ponto
https://www.savana.co.mz
acredito que com esforço e muito
partir deste ano, os quatro lugares isto contribuiu para o seu desem-
trabalho a modalidade voltará aos
não precisam de concorrer. Os penho ?
seus melhores tempos.
restantes países têm de concorrer -Tivemos apoio de uma empre-
Agenda Cultural
Está a assumir que o fracasso da
nossa selecção se deveu à falta de
e à África, neste momento, apenas
cabia um lugar para passar. O res-
sa nacional, e, se isso não tivesse
acontecido, refiro-me aos apoios,
Cine-Gilberto Mendes
experiência dos atletas?
- Sim, nós estamos a renovar a se-
to teremos de competir e, se che- não teríamos estado lá. Pode ter Sextas, Sábados, Domingos e Feriados 18h30
garmos ao segundo classificado no havido um atraso na disponibiliza-
lecção e, às vezes, temos de assumir
esses riscos, mas todos começaram
mundial do grupo “B” , passaremos ção desses valores, mas nós demos Apresenta“Mae Coragem”
a competir a final do grupo de eli- prioridade à selecção que estamos
assim. Eles deram o melhor de si,
contudo, há sempre um momento
te. Temos esperanças de que vamos
chegar lá, até porque Angola pas-
a preparar.
Frequentemente, Moçambique
Maputo Waterfront
de declínio. A aposta nos jovens é
uma medida acertada em todos os
sou por uma situação similar no joga com moçambicanos radicados Todas Sextas, 19h
mundial passado. Portanto, com es- no estrangeiro. Terá sido fácil con-
aspectos e estou em crer que tere-
forço e preparação mais atempada, tar com a prestação desses atletas? Jantar Dancante com Alexandre Mazuze
mos uma selecção muito mais forte.
Por quê é que a selecção apostou
vamos conseguir e esta preparação
vai começar em breve. Repito: te-
-Vieram sim, mas o banco era
pouco e a uma determinada altu-
Todos Sábados, 19h
nesses novos talentos agora, a pou- Música com Zé Barata ou Fernando Luís
mos a obrigação de vencer o grupo ra notou-se um cansaço. Contudo,
cos meses do arranque do mundial?
“B” , ou pelo menos o segundo lu- vamos acautelar estes aspectos no
-Estamos com este projecto há
gar, para passarmos para a final do próximo mundial. Todos Domingos, das 13/18h
sensivelmente quatro anos, e as
campeonato. O presidente e o seu staff assumem Animacao com DJ
crianças começaram nos inicia-
Insisto, houve muitas interpreta- as culpas pela prestação pouco con-
dos. Quando criamos a escola de
hóquei, em parceria com a Uni-
ções em relação a este mundial. O
presidente reitera que Moçambi-
seguida da selecção?
- Eu avalio positivamente a presta-
Chefs Restaurante
versidade Eduardo Mondlane, na
componente de desporto, trabalha-
que tem chances, ainda este ano, de ção da selecção, porque - sejamos Todas Sextas, 19h
jogar no mundial do grupo “A”? francos - não é fácil destronar An-
mos com esses miúdos e eles foram
- Pois, claro. A única diferença é gola em sua casa, com toda a logís- Música ao vivo
distribuídos pelos clubes. São essas
crianças que foram subindo gra-
dualmente e alguns já são sub- 19. ,)&)!#55R55,)&)!#555R555,)&)!#5555R555,)&)!# ,)&)!#55R55,)&)!#555R555,)&)!#5555R555,)&)!#
Portanto, estamos a formar uma
equipa virada só para a futura se- ELISA AZARIAS BILA ELISA AZARIAS BILA
lecção nacional.
Era esta a prestação que a FMP es-
perava da nossa selecção? Faleceu Faleceu
-Naturalmente que não era isto
O Conselho de Administração e os As Familias Bila e Ubisse
que esperávamos, mas devo dizer
que houve trabalho que nos garan- trabalhadores da mediacoop comu- comunicam com profundo
te que, no mundial de Barcelona, nicam com pesar e consternação o fa- pesar e consternação o fale-
passaremos para o grupo “A”. lecimento da sra. ELISA AZARIAS cimento da sua ente queri-
da ELISA AZARIAS BILA,
BILA, irmã do seu trabalhador e co-
Adversidades ocorrido no dia 18/03/19 no
lega Miguel Bila, ocorrido no dia
Consta que a preparação da selec- Hospital Central de Maputo,
ção não foi das melhores... 18/03/19 no HCM, vítima de doença, vítima de doença, cujo fune-
-Bem, é preciso notar que a pre- cujo funeral se realizou na quarta-fei- ral se realizou na quarta-fei-
paração para uma competição é ra, 20/03/19 no cemitério da Macha- ra, 20/03/19 no cemitério da
sempre marcada por vários con- va-Bedene. À familia enlutada apre- Machava-Bedene. Que Deus
dicionalismos , como as questões
senta as mais sentidas condolências. a tenha na sua glória.
logísticas e a programação. Isto
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DESPORTO
Savana 22-03-2019 23
CULTURA
24 Savana 22-03-2019
A
história da dança contem- mulheres que têm a missão de em-
porânea em Moçambique preender uma jornada épica com
é recente. Data de 1995 e o destino a um lugar de liberda-
é resultado do “nascimen- de. O caminho que se deve seguir
to de um novo vocabulário gestual, é feito de um fio preto e fino que
que reflete várias metamorfoses serpenteia o palco. Cada persona-
das práticas de dança deste perío- gem é representada por um sapa-
do” diz-nos a renomada bailarina to de salto-alto. E cada vez que a
e coreógrafa Maria Helena Pin- bailarina tomba é uma mulher que
to em sua tese de doutoramento perde, o sapato é arrumado e a ou-
“Devir(es) Contemporâneos. tra tenta a sua sorte. A mulher que
vence tem direito a um microfone
Desde o seu surgimento até aos como troféu. Finalmente, ela ganha
dias de hoje, a dança contemporâ- a liberdade de expressar-se e pode
nea, no país, é alimentada por um proclamar, sem medo nem amarras,
grupo de bailarinos e coreógrafos, que o seu género mora aqui. Não
que embora enfrentem enormes será também a reivindicação do es-
performance de Maria Tembe paço da mulher na sociedade?
dificuldades, tudo faz para manter
viva essa prática. Dentre eles, sem A dança contemporânea é caracte-
de vontade compõem o cenário, o mulher em trânsito, em constante um grande exemplo de luta e de-
dúvidas, se destacam Maria Tembe, rizada por não se prender a padrões
enredo e a dramaturgia das duas movimento de ir-vir, vai atrás da terminação, por isso este solo tem o
Judith Mulapha e Panaibra Canda, pré-estabelecidos, por isso a sua
performances. O palco, que é o luz que lhe acena o norte, o lugar cunho auto-biográfico.
o trio responsável pelas performan- forma e conteúdo são diversifica-
mesmo para as duas, figura uma do sonho. Mas a treva não dá tré- O outro exemplo de que é possível dos e estão em constante criação
ces “Solo para Maria” e “O Meu negra passarela rodeada de luz e guas, agarra-se a ela, tenta impedi- contrariar o abismo podemos en- e transformação. Talvez seja essa a
género Mora Aqui”, que foram basta um gesto para aquele lugar se -la de prosseguir. Dá-se o combate. contrar na performance “O Meu explicação para que estas perfor-
apresentadas na última sexta-feira, transformar em outros, no tortuoso E é fascinante como a luta dessa género Mora aqui” coreografado mances, criadas há mais ou menos
dia 15 de Março, no Centro Cultu- quotidiano em que muitas mulhe- personagem – representando todas e interpretado por Janeth Mula- três anos, conservem ainda o fres-
ral Brasil Moçambique (CCBM), res se encontram enclausuradas. mulheres que reivindicam um espa-
pha, outra fascinante bailarina. Em cor e uma abordagem temática tão
ainda no âmbito da celebração da Contrariar o destino e lutar contra ço de dignidade e respeito no seio
cena, temos uma mulher ou várias actual. Sempre apetecível de se ver.
semana da Mulher. todas forças que atentam a mate- das sociedades – é metaforizada em
As performances foram autênticas rialização do sonho do herói cons- movimentos, cujo ritmo de beleza
e deslumbrantes obras de arte, cujos titui o núcleo central de toda narra- de execução nos enchem de deleite.
sentimentos e paisagens interiores tiva e aqui não é diferente. Tanto no A bailarina deste solo, a Maria
por elas provocadas têm o condão “Solo para Maria” interpretado por Tembe, é um dos grandes exemplos
de não se deixarem traduzir em Maria Tembe e coreografado por de superação que temos no país. A
palavras, mas como é nossa tarefa Panaibra Canda, assim como no deficiência física de que padece, e
verbalizar o mais profundo e ine- solo “O Meu género mora aqui” da que para a maioria serviria de en-
fável suspiro da alma tentaremos polivalente Judith Mulapha, assis- trave, nela se transforma em mais
aqui descrever e analisar o momen- timos a uma luta empreendida por uma fonte de inspiração e recur-
to mágico que os solos destas duas uma mulher multiplicada em várias so técnico ao serviço da sua arte.
mulheres proporcionaram ao públi- outras que sonham ver os seus di- Não tem os membros inferiores
co que esteve presente no auditório reitos e dignidade respeitada. mas dança como se os tivesse e ou
Vinícios de Moraes do CCBM. No “Solo para Maria”, que dura fosse uma super mulher. Voa e tre-
Uma mulher, um caminho, infini- 25 minutos, somos confrontados pa paredes com uma habilidade e
por uma cena em que temos uma mestria de encantar. É sem dúvidas performance de Judith Malapha
tos obstáculos e uma titânica força
A fórmula mágica?
O
ciclone IDAI, que tem vindo a desencadear a maior tragédia de to-
dos os tempos no centro do país, com o agravante para as cidades da
Beira e Dondo que se encontram engolidas pela água, exige de todos
nós, não só um gesto de solidariedade para com as vítimas desta ca-
tástrofe, mas também uma profunda reflexão sobre as medidas de prevenção
em casos de futuros desastres.
Não podemos continuar desarmados em plena guerra aberta. A natureza é
impiedosa, mas não será tarefa da administração pública impedir que não
sejamos apanhados tão desprevenidos?
Talvez por isso Eneas Comiche, presidente do Conselho Municipal da Cida-
de Maputo, escuta, com toda atenção do mundo, as ideias do moçambicano
Mateus Magala, vice-presidente dos Serviços Institucionais e Recursos Hu-
manos do Banco Africano de Desenvolvimento e antigo PCA da Electrici-
dade de Moçambique (EDM). Enquanto isso, ao fundo, Agostinho Vuma,
Presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique
(CTA), em contraste, sorri para os holofotes em pose de modelo fotográfico.
Rola a película do filme diante dos nossos olhos e as imagens que se seguem
figuram conversas aos pares, umas ao abrigo de atmosferas mais sérias e ou-
tras nem tanto. Num quadro, a ministra do Trabalho, Emprego e Seguran-
ça Social, Vitória Diogo, contracena com Victor Miguel, da Associação dos
Panificadores, noutro, Guilherme Machado, responsável pelo subsector no
pelouro de Agro-negócios na CTA, faz par com Max Tonela e mais adiante
Leonardo Simão, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação,
confidencia com Simione Santi e por aí vai. Espera. Alguma coisa pausou a
fita.
Que poder de hipnose estará contido no documento que suga toda a aten-
ção do ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane e Carmelita
Namashilua, ministra da Administração Estatal e Função Pública? Será a
fórmula mágica para secar as águas que fazem festa no centro e minorar o
sofrimento do povo, que enquanto aguarda pelo apoio humanitário vindo de
todos lados, há quem bem ao seu lado vende-lhe o pão a balúrdio, numa clara
exaltação ao egoísmo e desumanidade.
À HORA DO FECHO
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