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SEMINÁRIO TEOLÓGICO EVANGÉLICO DO BETEL BRASILEIRO

JOAB SENA DE CARVALHO

O PENTECOSTALISMO NA PERSPECTIVA DOS DITOS


MOVIMENTOS DE SEGUNDA ONDA NO BRASIL

BACHARELADO EM TEOLOGIA

São Paulo
2018
JOAB SENA DE CARVALHO

O PENTECOSTALISMO NA PERSPECTIVA DOS DITOS


MOVIMENTOS DE SEGUNDA ONDA NO BRASIL

BACHARELADO EM TEOLOGIA

Projeto de pesquisa apresentado ao Seminário


Teológico Evangélico do Betel Brasileiro em São
Paulo, como requisito parcial para a obtenção de
formação no curso de Bacharel em Teologia, sob a
orientação do Professor Dr. Emmanuel Roberto
Leal de Athayde.

São Paulo
2018
JOAB SENA DE CARVALHO

O PENTECOSTALISMO NA PERSPECTIVA DOS DITOS


MOVIMENTOS DE SEGUNDA ONDA NO BRASIL

Projeto de pesquisa apresentado ao Seminário


Teológico Evangélico do Betel Brasileiro em São
Paulo, como requisito parcial para a obtenção de
formação no curso de Bacharel em Teologia, sob a
orientação do Professor Dr. Emmanuel Roberto
Leal de Athayde.

Aprovado em: _______________________________________________

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Ao Mestre Supremo, Senhor e Rei de toda
a criação, à minha família: Marcia, minha
filha Giovanna e meus pais, Pr. Zenilson e
Aracy, minha riqueza em vida!
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Grande Iahweh, sua Graça trouxe-me aqui;

À minha esposa Marcia. Querida, esposa e minha amiga. Te Amo!

À minha filha Giovanna, te amo incondicionalmente;

Aos meus pais, Pr. Zenilson e Aracy, suas orações, minhas vitórias. Nesta vida,
não encontrei exemplos melhores a serem seguidos;

Aos professores do Betel Brasileiro e especial agradecimento à Missionária


Durvalina, pelo ensino, exemplo e humildade;

Ao sábio orientador que tive o privilégio de aprender tanto. Esse mestre me


lembra muito o Dr. Emmanuel Roberto Leal de Athayde;

A minha querida Igreja Batista do Povo e ao Pr. Jonas Neves, por tantos
tesouros espirituais compartilhados a cada novo encontro;

E aos muitos amigos e companheiros do Seminário Betel Brasileiro: “Em todo


o tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão”. Pv. 17:17
Pois quando a sabedoria entrar no teu coração, e o
conhecimento for agradável à tua alma, o bom siso te
guardará e a inteligência te conservará; Pv 2.10 -11
RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo estudar os principais “movimentos


pentecostais de segunda onda no Brasil” destacando aqueles que se tornaram
mais importantes. Foram escolhidos três movimentos que ao longo dos anos
tornaram-se referenciais: “Movimento de Renovação Espiritual Batista”, que teve
início a partir de 1941 em São Paulo e Belo Horizonte, “Cruzada Nacional de
Evangelização” e “Cruzada Brasileira de Evangelização”, iniciadas entre 1949 a
1953 em São Paulo e contempla também a história de fundadores que tiveram
seus nomes acoplados aos principais acontecimentos, dos quais destacam-se:
“Rev. Harold Willians, Rev. Raymond Boatright” missionários de International
Church of The Foursquare Gospel; Pr. Enéas Tognini; Rev. Epaminondas Silveira
Lima; Pr. José Rego do Nascimento; Rosali Appleby; Miss. Manoel de Mello, entre
outros fundadores dos “ditos movimentos pentecostais de segunda onda no
Brasil”. A chamada teologia pentecostal ganhou histórias, testemunhos e matérias
em jornais da época e abriu caminho para grandes igrejas, com destaque para:
Igreja do Evangelho Quadrangular; Igreja Pentecostal o Brasil para Cristo; Igreja
Deus é Amor; Igreja de Nova Vida; Igreja Metodista Wesleyana; Igreja
Presbiteriana Renovada; Igreja Cristã Pentecostal da Bíblia do Brasil; Igreja Cristã
Maranata; Igreja Batista de Lagoinha entre outras igrejas, que influenciadas pelos
movimentos citados, nasceram e se destacaram no contexto evangélico brasileiro.
A pesquisa se baseou em material historiográfico, depoimento de testemunhas e
estudo de métodos evangelísticos usados na época.

Palavras chave: Movimento. Igreja. Teologia. Segunda onda. Renovação.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - União de Forças ........................................................................................ 23


Figura 2 - Primeira Tenda da Cruzada Nacional de Evangelização .......................... 27
Figura 3 - Cruzada Brasileira de Evangelização ....................................................... 33
Figura 4 - Harold E. Williams ..................................................................................... 35
Figura 5 - Raymond Boatright ................................................................................... 36
Figura 6 - Epaminondas S. Lima ............................................................................... 38
Figura 7 - Enéas Tognini ........................................................................................... 40
Figura 8 - Rosalee Apleby ......................................................................................... 43
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO MOVIMENTO DA SEGUNDA ONDA .. 17
1.1 A Teoria das Ondas ....................................................................................... 18
1.2. Segunda onda pentecostal brasileira ............................................................ 19
1.3. Movimento de Renovação Espiritual Batista ................................................. 20
1.4. Cruzadas de Evangelização no Contexto Brasileiro ..................................... 24
1.5. Cruzada Nacional de Evangelização ............................................................ 25
1.6. Cruzada Brasileira de Evangelização ........................................................... 29
2. OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES DA SEGUNDA ONDA NO BRASIL ..... 35
2.1. Missionário Harold Edwin Williams ............................................................. 35
2.2. Missionário Raymond Levi Boatright ............................................................ 36
2.3. Reverendo Epaminondas Silveira Lima ....................................................... 38
2.4. Pastor Enéas Tognini ................................................................................... 40
2.5. Rosalee Mills Appleby .................................................................................. 43
2.6. A Importância do Legado ............................................................................. 45
3. A TEOLOGIA PENTECOSTAL DO MOVIMENTO DA SEGUNDA ONDA ......... 46
3.1. Origem da Doutrina Pentecostal da Segunda Onda ..................................... 46
3.2. A Soterologia Pentecostal ............................................................................ 48
3.3. Pneumatologia Pentecostal ......................................................................... 49
3.3.1. Simbolos atribuídos ao Espírito Santo ................................................... 51
3.4. Os Dons Carismáticos no Movimento da Segunda Onda ............................. 51
3.4.1. A Glossolália ou Dom de Linguas .......................................................... 52
3.4.2. Dom de Profecias .................................................................................. 53
3.4.3. Dons de Curas e Operação de Milagres ................................................. 54
3.5. Hinos e Corinhos do Movimento da Segunda Onda .................................... 56
3.5.1. Santo Espírito Enche a Minha Vida............................................................ 57
3.5.2. Manda fogo, Senhor ................................................................................... 57
3.5.3. Trabalhai e Orai ........................................................................................... 57
Obra Santa ............................................................................................................... 58
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 62
9

INTRODUÇÃO

O pentecostalismo brasileiro tem em suas origens, alguns movimentos que


para alguns historiadores, mostram certas semelhanças a grupos pentecostais. Ainda
que possa parecer exagero a comparação, vale a pena destacá-los. Gedeon Freire
de Alencar em sua tese de doutorado pela PUC - SP1 (2013, p.41,43), destaca-os
como “proto pentecostalismo brasileiro, de substância cristã essencialmente sincrética
e mesclada com movimentos ‘iluministas protestantes’2”. Neste ambiente religioso
protestante que a chegada do movimento pentecostal encontrou lugar para crescer.

O autor informa em sua pesquisa importantes antecessores pentecostais;


grupos com práticas religiosas que já estavam presentes no contexto protestante
brasileiro antes da chegada de novas tendências ou como classificada atualmente:
“Movimento Pentecostal Brasileiro”. Tais grupos para o autor continham, o que
denominou como “resíduos pentecostais” e dentre estes destacou: os Muckers3 no
RS; o “protestantismo indígena” do ex padre José Manuel da Conceição que se torna
pastor presbiteriano, mas graças a seu ardente misticismo, acaba tendo problemas
com missionários americanos; o movimento religioso organizado por um negro letrado
em 18414, que com uma Bíblia em punho, proclamava uma “revelação divina” e
seguido por um grupo de negros, fundou a Igreja Divino Mestre, que se opunha a
Igreja Católica e mediação dos santos e defendia uma ação direta do Espírito Santo
a seus fiéis. O ex padre, foi preso e posteriormente solto e aclamado como “Lutero
Negro”. Seu grupo e sua mensagem desapareceram.

O autor ainda retrata um pouco da história surpreendente de um movimento


que deu origem a Igreja Evangélica Brasil, fundada no Rio de Janeiro em 1874, por

1
GEDEON FREIRE DE ALENCAR, é um importante pesquisador sobre o movimento pentecostal Brasileiro, é
mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (2000) e doutor em Ciências da Religião
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2012). Fundador e diretor responsável pelo Instituto Cristão
de Estudos Contemporâneos ICEC. É pesquisador, participante do GEPP (Grupo de Estudos do Protestantismo e
Pentencostalismo) - PUC/SP CNPQ e Professor da Faculdade Teologica Batista de São Paulo.
2
Forma de interpretação, desenvolvida pelo Prof. Émile Léonard em sua obra O iluminismo num protestantismo
de constituição”, onde procura as influências de movimentos protestantes, analisando-os socialmente e
religiosamente. Disponível em: https://goo.gl/fPqwtz. Acesso em: 2 de Dezembro de 2018.
3
A REVOLTA DOS MUCKERS. Disponível em: https://goo.gl/zbh18T. Foi um conflito entre representantes do poder
estadual e integrantes de uma seita religiosa liderada pelo casal Jacobina Mentz Maurer e João Jorge Maurer,
travado entre 1873-74, em São Leopoldo (atualmente Sapiranga), no Rio Grande do Sul. O cenário da revolta foi
a linha Ferrabraz, tendo envolvido as localidades atuais de Campo Bom, Lomba Grande e Novo Hamburgo.
Acesso em: 13 Agosto 2018. Todas as informações sobre a história dos Muckers, ENCONTRAM-SE no site citado.
4
ESPIRITUALIDADE E SOCIEDADE. Disponível em: https://goo.gl/E1SKGU. Acesso em 20 de Outubro de2018.
10

Dr. Miguel Vieira Ferreira (1837-1885)5, que era um aristocrata positivista;


abolicionista, republicano, jornalista, engenheiro, militar e Doutor em Ciências
Matemáticas e Físicas. Passou pelo espiritismo e presbiterianismo. Exerceu seu
ministério, a partir de revelações e visões, tendo assim grande influência sobre seus
seguidores. O pentecostalismo é de fato um fenômeno mundial, considerado por
Leonildo Campos (2005, p.100,115) como o movimento religioso mais importante do
século XX 6. É caracterizado basicamente por crenças como a Glossolalia (dom de
línguas) e a ênfase aos dons de cura e profecia. Nem todo movimento pode
legitimamente representar o pentecostalismo brasileiro, são necessários fundamentos
que os tornem dignos de aceitação. Assim, hoje, mais do que qualquer outro momento
na história da igreja, existe necessidade de estudos que norteiem a informação, a fim
de que se faça distinção, do que é pentecostalismo e do que não é pentecostalismo.

Muito se tem discutido sobre teorias que possam fundamentar o movimento


pentecostal brasileiro. Existem três teorias até o momento conforme afirma (MORAES,
2016, p. 13-14). A primeira é a “Teoria das ondas”, formulada por David Martin (1990),
que compreendeu o ciclo das ondas em: “Movimento Puritano, Movimento Metodista
e Movimento Pentecostal”. No Brasil esta teoria foi adaptada pelo sociólogo
protestante Paul Freston, a fim de nomear cada momento histórico que deixou marca
de implantação de igreja. A primeira onda teria sido nomeada, a partir da chegada da
Congregação Cristã no Brasil (1910) e Assembleia de Deus (1911). A segunda onda
nos anos cinquenta e sessenta, quando setores da esfera pentecostal conquistaram
maior espaço e atenção da sociedade, surgindo então grandes e pequenos grupos de
igrejas, onde os mais conhecidos foram: Igreja do Evangelho Quadrangular (1951),
Igreja Pentecostal o Brasil para Cristo (1955) e Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962).
A última grande onda teria sido aquela que tem início nos anos setenta, ganhando
maior força nos anos oitenta, tendo como principais grupos a Igreja Universal do Reino
de Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980). A segunda teoria,
formulada pelo sociólogo Antônio Gouvêa de Mendonça7, é a “Teoria dos surtos”,

5
LITERATURA DIGITAL. Disponível em: https://goo.gl/yngLB2. Miguel Vieira Ferreira (1837-1885). Acesso em 15
de Agosto de 2018.
6
LEONILDO SILVEIRA CAMPOS, é professor de Sociologia da Religião no programa de Pós-graduação em Ciências
da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, é autor de Teatro, Templo e Mercado: Organização e
Marketing de um Empreendimento Neopentecostal (Vozes/Umesp).
7
TEORIA DOS SURTOS. Mencionada por Isael de Araújo (MORAES, 2016, p. 14). Em: ANTONIAZZI, Alberto (et
al). Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 72.
11

conforme esta, de tempos em tempos apareceram repentinamente e irromperam


ensinos pentecostais. Assim sendo, o primeiro surto do pentecostalismo brasileiro
aconteceu entre 1910 e 1911, trazendo consigo as características do pentecostalismo
do batismo no Espírito Santo. O segundo surto se deu nos anos 50 e se caracterizou
pela cura divina e não mais pelo batismo no Espírito Santo. Em seguida, houve o
terceiro e último surto, tratando-se do neopentecostalismo, que trouxe as marcas do
dualismo (concepção teológica: Deus – o Bem e Satanás – o Mal, duas forças
antagônicas lutando entre si, sendo Satanás o rival de Deus) e se caracterizando pela
expulsão de demônios (libertação) e a Teologia da Prosperidade. A terceira teoria é a
“Teoria das ênfases”8, que analisando o transcorrer histórico pentecostal brasileiro,
entende-se que ao longo do tempo, representantes das principais instituições
protestantes (Metodistas, Batistas, Presbiterianos, etc.), adotaram um ou mais temas,
dando a estes, maior relevância entre os demais assuntos da igreja. A primeira grande
ênfase foi em torno do batismo no Espírito Santo com o falar em línguas. A segunda
foi constituída da cura divina, dos milagres e da escatologia. E a última grande ênfase
tem sido dada à libertação e a Teologia da Prosperidade. Nesta teoria, os temas
relevantes ganham maior destaque, colocando secundariamente ou esquecendo
determinadamente dos dons9 espirituais, santificação, evangelismo, missões,
dispensações e escatologia.

Para entender o movimento pentecostal brasileiro, precisamos antes de tudo


conhecer o impacto do Azuza Street, que não apenas trouxe a atenção de cristãos
americanos, como também de representantes de diversos outros grupos protestantes
em todo o mundo, que viajaram a caminho de Los Angeles (EUA) com o anseio de
presenciar e experimentar aquilo que matérias dos principais jornais amplamente
noticiavam, como foi o caso do Los Angeles Times, na edição de 18 de abril de 1906
com o seguinte destaque editorial: "Com gritos estranhos e pronunciando coisas que
aparentemente nenhum mortal em seu juízo normal pudesse entender, teve início, em
Los Angeles, a mais recente seita religiosa." (KENNETH, LANG e PHETERSEN,
2003, p. 173). Nesse contexto deu-se início a Missão da Fé Apostólica, localizada à
rua Azuza, ministrada por um pregador do movimento holiness, chamado William J.

8
TEORIA DAS ÊNFASES, é mencionada por Isael de Araújo em sua obra História do Movimento Pentecostal
(MORAES, 2016, p. 14)
9
Na teoria das ênfases, os dons espirituais mencionados, são aqueles relacionados à doutrina pentecostal, sendo
eles: Glossolalia; dom de profecia e operação de milagres.
12

Seymour, e logo tornou-se referência para todos aqueles que buscavam renovação
espiritual, conforme relata (KENNETH, LANG e PHETERSEN, 2003, p. 173):

William J. Seymour, pregador batista negro, recém-chegado de


Houston, chamava os crentes a dar um passo a mais. Na verdade,
dois passos: ele queria que eles se "santificassem" e que fossem
"batizados no Espírito Santo". O batismo, dizia ele, seria
acompanhado pelo falar em línguas

O avivamento à rua Azuza, foi sem dúvida o que podemos chamar de epicentro
do pentecostalismo moderno, ainda que não tenha sido o único ou o começo de tudo,
de fato, foi um dos maiores eventos da igreja desde sua inauguração. (OLIVA e
BENATTE, 2010, p. 15,16) destaca que “os registros históricos do pentecostalismo
moderno começou muito antes de Topeka ou Los Angeles e que Azusa Street não é
o ‘ponto inicial’ ou o ‘marco zero do pentecostalismo moderno”.

Do ponto de vista fenomenológico, podemos afirmar que Azuza deixou as mais


reconhecidas marcas e heranças pentecostais. Em 2016 deu-se início a um evento
em Los Angeles, que reuniu cerca de 120.000 pessoas para momentos de louvor,
adoração e clamor por Avivamento no estádio do Los Angeles Memorial
Coliseum. denominado de “Azuza Now”10.

No pentecostalismo brasileiro, percebe-se com base nas inquestionáveis


heranças americanas, que qualquer cidade onde tenha iniciado algum movimento
pentecostal, indubitavelmente serão reconhecidos como ‘pontos de chegada’ de
movimentos e tendências religiosas que rapidamente se tornaram uma onda
crescente. O crescimento do movimento pentecostal brasileiro, hoje é analisado por
muitos pesquisadores. Ricardo Mariano, em um artigo escrito à Revistas de estudo da
religião11, confirma que:

[...] o crescimento pentecostal, no censo de 2007 já alcançava


crescimento surpreendente, com um número de mais de 40 milhões
de evangélicos presentes no país, dentre os quais cerca de 30 milhões
são pentecostais, o que o faz ser o maior país pentecostal do mundo,
ultrapassando até mesmo os Estados Unidos, que em 2006 registrava
apenas 5,8 milhões de adeptos.

10
GUIA-ME. Disponível em: https://goo.gl/fuPBXP. Notícias sobre o mundo cristão. Acesso em 09/08/2018.
11
PUC SP. Disponível em: https://goo.gl/sLWPd2. Revista de Estudos da Religião. (MARIANO, dezembro/2008, p.
pp. 68-95) Acesso em: 13 de junho de 2018. Informações ENCONTRAM-SE disponíveis no site da instituição.
13

Embora seja muito difícil afirmar quais influências se herdou do movimento


pentecostal internacional, visto de suas muitas variantes doutrinárias, entretanto,
sabemos que o movimento pentecostal no Brasil recebeu influências incontestáveis
dos principais grupos de renovação pentecostal dos Estados Unidos.

Nesse período marcado como “segunda onda”, houveram grandes mudanças


no ambiente evangélico brasileiro. Sabemos que tanto nos Estados Unidos como
também no Brasil, igrejas e pastores batistas tem se tornado pentecostais, os registros
históricos fornecidos no site de uma das maiores igrejas pentecostais dos Estados
Unidos, a Church of God in Christ12, fundada pelo pastor C.H.Mason, que se desligou
da Convenção Batistas do Sul após declarar crer e ter experimentado o batismo com
o Espírito Santo é um exemplo desse fenômeno de adesão batista ao pentecostal.
Conforme (MORAES, 2016, p. 120) Synan, pesquisador pentecostal, no nível da
membresia define que “as igrejas pentecostais tem tido provavelmente mais adesão
entre batistas do que em qualquer grupo protestante nos Estados Unidos”.

No Brasil, tal como destaca (MORAES, 2015, p. 120), houveram alguns


movimentos de renovação entre batistas a partir da década de quarenta, sendo que o
primeiro teria ocorrido na cidade de Lages, na Bahia e mais tarde em Belo Horizonte.
Como resultado direto dessas mudanças, no cenário Batista temos hoje a Convenção
Batista Nacional que surgiu como alternância no direito de crença pentecostal entre
grupos de batistas brasileiros e hoje já conta com 2700 igrejas filiadas e 400 mil
membros que professam da mesma aliança pentecostal13.

Cruzadas evangelísticas existem a muito tempo e os métodos mais conhecidos,


realizados por evangelistas renomados à exemplo de Billy Graham, viajam com suas
respectivas equipes de ministros por cidades do mundo, levando suas pregações a
estádios, ginásios, escolas, praças públicas e outros ambientes. As cruzadas dos
anos cinquenta no Brasil, que marcaram o fenômeno pentecostal de segunda onda,
foram as primeiras no Brasil a usar tendas e nelas reuniam-se pessoas de todas as
idades para participarem de campanhas de curas e milagres. O objetivo destes
encontros realizados em tendas, destinava-se a atrair multidões de ouvintes.

12
CODIC. Disponível em: https://goo.gl/z8qbiL. Acesso em 19/08/2018. As informações sobre história da igreja e
do fundador, ENCONTRAM-SE no site da instituição.
13
CONVENÇÃO BATISTA NACIONAL. Disponível em: https://goo.gl/zMZu2K. Acesso em: 10 de junho de 2018.
Números e informações ENCONTRAM-SE disponíveis no site da instituição.
14

Conforme (MORAES, 2015, p. 249), “as primeiras tendas, foram construídas para
1200 pessoas e foram instaladas no bairro do Cambuci e Água Branca em São Paulo,
posteriormente em diferentes regiões do país”.

Os métodos usados por movimentos pentecostais nas décadas de cinquenta e


sessenta, tiveram bons resultados, eram inovadores e perfeitamente compatível à
necessidade da maior parte de seus adeptos. A mensagem ministrada através de
missionários americanos, era simplista e se tornava rapidamente uma tendência entre
grupos pentecostais. Diziam eles: “Jesus Cristo Salva, Cura, Batiza com o Espírito
Santo e Voltará”, esta frase tornou-se extremamente repetida entre líderes e pastores
das diversas denominações que vieram das cruzadas de evangelização. Dois
movimentos foram fundamentais na comunicação desta nova tendência pentecostal:
“Cruzada Nacional de Evangelização” e “Cruzada Brasileira de Evangelização”.

Sabemos em suma, que as experiências pessoais com os dons divinos são de


fato realidade e para toda a igreja de Cristo, e não é privilégio de alguns “renovados”
apenas e são manifestados a cada um para o que for útil à igreja (1Co 12.7). Charles
Spurgeon em seu livro “O Conquistador de Almas” (C.H., 1993) declara que: “Parece
que a marca do cristianismo em alguns pregadores não é a língua de fogo, e, sim, um
bloco de gelo.” É tarefa de todo bom cristão, manter a chama do evangelho acesa,
independentemente da linha doutrinária à qual fundamente sua fé.

A presente pesquisa teve como objetivo geral, reunir informações e conteúdos


históricos sobre o movimento pentecostal ocorrido a partir da década de quarenta, se
estendendo até final da década de sessenta, conhecido como movimento de segunda
onda pelo pesquisador Paul Freston. O teórico escolhido será Isael de Araújo 14,
graduado em Teologia pelo Instituto Bíblico das Assembléias de Deus (IBAD) em
Pindamonhangaba (SP); Editorial Management do Institute Christian Publishing
Internacional (ICPI) em Colorado Springs (EUA). Pesquisador da história das
Assembleias de Deus no Brasil desde 1980 e atualmente é chefe do Centro de
Estudos do Movimento Pentecostal (CEMP) mantido pela CPAD.

Teve como objetivos específicos: Mostrar quais foram os movimentos basilares à


dita segunda onda no Brasil: Cruzada Nacional de Evangelização; Cruzada Brasileira

14
ISAEL DE ARAÚJO, tem todas as informações concernentes a sua obra, no site do Dicionário do Movimento
Pentecostal. https://goo.gl/9KTYWy. Acesso em 15 de Agosto de 2018. /08/2018.
15

de Evangelização e Movimento de Renovação Batista; destacar principais expoentes


dos movimentos e igrejas que nasceram como consequência direta: Igreja do
Evangelho Quadrangular, Igreja Pentecostal o Brasil para Cristo, Igreja Pentecostal
Deus é Amor, Igreja de Nova Vida, Igreja Batista de Lagoinha entre outras. Detectar
se houve outras influências doutrinárias, além dos quatro pilares pentecostais: Jesus
Cristo Salva, Cura, Batiza com o Espírito Santo e Voltará.

Buscou-se na problematização, resolver as seguintes perguntas: Qual Teologia


Predominante pregada nos principais movimentos e quais ensinos se tornaram forma
comum entre as principais denominações? Quais louvores eram cantados e conteúdo
das letras? Quais eram as estratégias usadas na evangelização e qual a importância
das tendas no crescimento surpreendente que tiveram?

Por ser filho de um pastor que conheceu a fé cristã no contexto dos eventuais
acontecimentos da igreja pentecostal de então e por ter convivido quando criança com
o fundador da Cruzada Brasileira de Evangelização, Rev. Epaminondas Silveira Lima,
que foi um dos fundadores da PIEC – Primeira Igreja Evangélica do Cambuci, e
também, por tantas histórias ouvidas desde criança, que me senti impelido à pesquisar
e compartilhar tudo o que em parte conheço, aproveitando o ensejo, buscar
depoimento de algumas testemunhas vivas, filtra-las e registra-las. Existem poucos
livros, mas acredito ser possível e relevante, me empenhar e colher tudo o que possa
servir legitimamente de fonte conhecimento. Muita coisa mudou nestas instituições,
existe uma forte e crescente preocupação pelos rumos que muitas seguiram após o
avivamento neopentecostal, algo que sabemos ter sido um estrago sem medida aos
princípios elementares e inegociáveis da igreja de Cristo. Dar início a essa pesquisa,
é sem dúvidas uma forma de ir além e lembrar que é possível ter simplicidade com
princípios, algo que infelizmente se perdeu por quase todos que outrora conheceram.

A pesquisa se baseará prioritariamente em duas obras de Isael de Araújo, hoje


um dos maiores pesquisadores do pentecostalismo brasileiro. É autor de algumas
obras sobre pentecostalismo clássico e moderno. Os dois livros que reconheço tal
importância para esse projeto são: Dicionário do Movimento Pentecostal contendo
informações históricas de A à Z e História do Movimento Pentecostal no Brasil, que é
uma obra muito importante para essa pesquisa, pois destina alguns capítulos aos
movimentos ditos segunda onda e também da renovação espiritual batista.
16

Outras obras igualmente importantes, foram usadas: Teologia Sistemática:


Uma perspectiva Pentecostal de J.Rodman Williams, que trouxe uma contribuição
impar a compreensão teológica; Tomemos Posse de Autilino Batista de Souza, nessa
obra, o autor trás no capítulo 8, uma entrevista notável com o Rev. Mario Bovi, com
informações únicas sobre o início das atividades pentecostais no bairro do Cambucí;
Obra Santa de Rosivaldo de Araújo, detalha muito sobre a renovação espiritual batista
e Vozes Femininas no Início do Protestantismo Brasileiro de Rute Salviano Almeida,
contando história de algumas incríveis e consagradas mulheres, é o caso de irmã
Rosalee Mills Appleby, grande influenciadora no contexto de renovação Batista em
todo o país.

A metodologia usada foi a pesquisa histórica, bibliográfica, documental,


descritiva e de campo. Procurei notícias da época, sendo recorte de jornais, revistas,
documentários encontrados na internet, para compará-las ao exposto pelos teóricos.

No primeiro capítulo, procurei contextualizar a história do movimento, tratar a


sobre a teoria das ondas e início da Cruzada Nacional de Evangelização, Cruzada
Brasileira de Evangelização e do Movimento de Renovação Espiritual Batista.

O segundo capítulo mostrou os principais nomes daqueles que fundaram ou


participaram ativamente no avivamento espiritual.

No terceiro e último capítulo, foi dado ênfase as principais doutrinas teológicas


pentecostais: O batismo no Espírito Santo; Dons espirituais comuns como o falar em
línguas, profecia e operação de milagres; Teologia dos hinos e corinhos.

Nas considerações finais, foi mostrado a importância destes movimentos para


a igreja brasileira, que o trabalho incansável destes irmãos, ultrapassou as barreiras
denominacionais e alcançou grande êxito, porque tiveram sentimento de amor por
vidas e ardente desejo por avivamento espiritual.
17

1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO MOVIMENTO DA SEGUNDA ONDA

Avivamento é uma palavra que em especial marca na história cristã momentos


de maravilhosa visitação de Deus. Os registros históricos nos mostram, que pessoas
das mais diferentes culturas e classes sociais, pertencentes a igreja ou não, por
razões inquietantes, sentiram-se compungidas a orar avidamente por avivamento
espiritual. Talvez, os sinônimos “reavivamento, despertamento e renovação” possam
justificar, aquilo que apenas testemunhas puderam descrever. O historiador Isael de
Araújo, em seu Dicionário do Movimento Pentecostal, define avivamento de forma
simples e objetiva. (MORAES, 2015, p. 108)

Avivamento é uma obra de Deus pelo seu Espírito por meio da


Palavra, levando os espiritualmente mortos a viverem a fé em Cristo e
renovando a vida interior de crentes negligentes e sonolentos. No
Avivamento, Deus torna novas as coisas velhas, dando novo poder ao
evangelho e novo despertamento espiritual para aqueles cujos
corações e consciências têm estados cegos, duros e frios.
Avivamento, desta forma, anima e reanima igrejas e crentes a
causarem um impacto espiritual e moral nas comunidades.

A partir da década de quarenta, pessoas comuns de diversos lugares, membros


de igrejas históricas, começaram se reunir a grupos autônomos de oração. O objetivo
era a busca pelo avivamento espiritual. Se reuniam, alguns em residências, outros em
retiros espirituais, como é o caso do Rev. Carl W. Cooper e sua esposa Sarah Cooper,
conhecidos como Daddy e Mother Cooper, que promoviam retiros espirituais em um
sítio na região de Suzano (SP) e Dom Philips que frequentou reuniões de oração na
residência do casal Epaminondas e Ada Silveira Lima. Ali o pastor americano Dom
Philips ministrou durante uma campanha de oração, tomando por base o texto de II
Crônicas 14:7 – “Se o meu povo que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e
buscar a minha face e se converter de seus maus caminhos, então eu ouvirei dos
céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra”. Eram reuniões com muitas
pessoas, algumas vezes, com pouco espaço no interior da residência se colocavam
de joelhos no jardim da casa.15 Líderes de Igrejas Batistas, também participaram de
encontros de busca pelo avivamento espiritual no início da década de quarenta,

15
IGREJA PENTECOSTAL DA BÍBLIA. Disponível em: https://goo.gl/BRJerz. Acesso em 20/08/2018. As informações
sobre o conteúdo histórico, primeiros encontros em Suzano e grupo de oração na casa do Rev. Epaminondas
Silveira Lima ENCONTRAM-SE no site da denominação.
18

período em que o movimento de renovação batista, começou a se tornar caracterizado


pela forma, nada tradicional de eloquência na pregação. Uma senhora por nome de
Rosali Appeby, de Belo Horizonte, Pr. José do Rego do Nascimento e Pr. Enéas
Tognini foram os precursores do dito movimento de renovação espiritual na igreja
Batista, e que seria posteriormente parte do contexto de batistas renovados em todo
o país, abrindo caminho para as maiores igrejas Batistas conhecidas hoje no país em
especial na cidade de Belo Horizonte.

Era o final da década de quarenta e chegava ao Brasil, na cidade de São João


da Boa Vista, o missionário Harold Edwin Williams e sua esposa Mary Elizabeth
Willians, que vieram dos Estados Unidos com objetivo de disseminar a doutrina
pentecostal no país. Unindo-se a grupos de oração em São Paulo, trouxeram também
dos Estados Unidos, o missionário Raymond Boatright e juntos formaram uma frente
que abriria caminho para a cruzada de evangelização, movimento principal do
contexto de renovação daqueles dias, vindo influenciar líderes a fundar as maiores
igrejas que o Brasil de então tivera conhecimento.

1.1 A Teoria das Ondas

Uma boa parte dos pesquisadores do pentecostalismo brasileiro, fazem uso da


teoria das ondas para compartilhar seus trabalhos de pesquisa. A intenção é fornecer
subsídios que facilite compreender historicamente o movimento pentecostal, de sua
chegada até os dias atuais. Para o leitor que deseja conhecer superficialmente o
assunto, é de fato o meio que oferece melhores condições, pois sinaliza algumas
marcas importantes de cada ponto de chegada do movimento pentecostal. Entretanto,
para aqueles que desejam estudar criteriosamente o assunto, não a terão por
absoluta. Neste caso, o uso da pesquisa crítica, será indispensável.

Existe ao menos uma razoável interpretação contrária sobre a teoria das ondas
e creio que muito importante, pois destaca cada marca de chegada de nova tendência
pentecostal sem desprezar suas características peculiares. O argumento de Isael de
Araújo (MORAES, 2016, p. 14), mostra que a teoria das ondas no contexto americano
é diferente da adaptada no Brasil. Nos Estados Unidos, os eventos relacionados as
três ondas, apresentam características parecidas, como ondas do mar propriamente
dizendo. No Brasil, a metáfora teria sido usada inadequadamente, pois cada
19

movimento manifesta características diferentes. Neste caso, Freston que adaptou a


teoria das ondas ao movimento pentecostal brasileiro e seus seguidores, estariam
usando mal a metáfora das ondas, por terem copiado o conceito de situações
históricas diferentes.

1.2. Segunda onda pentecostal brasileira

A “segunda onda”, surgiu em um momento de grande instabilidade no cenário


político brasileiro. A obra: Getúlio (1945-1954) - da Volta Pela Consagração Popular
ao Suicídio (NETO, 2014), mostra que o país vivia, sob um regime de ditadura, onde
Getúlio Vargas escreve seu nome na história como um dos líderes mais carismáticos
e populares do país, que já havia vivido quinze anos sob sua liderança, agora, porém,
assistia um humilhado Getúlio vivendo no exercício máximo de poder da república.
“Talvez só com meu sacrifício eu consiga libertar-me das mesquinharias”, escreveu
Getúlio em São Borja (1945).

O país começava a passar por uma fase de crescimento industrial que causou
mudanças drásticas na urbanização, tendo sua taxa mais elevada nos anos 60. Até a
década de 40, a população brasileira concentrava-se basicamente no campo, porém,
a medida que setores da indústria crescia, mais pessoas mudavam para grandes
capitais, principalmente São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A igreja crescia,
ano após ano, e tais mudanças no contexto social prometia ainda dias de maior
amplitude.

Segundo o Anuário Estatístico do IBGE, os dados do crescimento dos


evangélicos no Brasil são os que se seguem: em 1890, éramos 143.743 (1% da
população); em 1940, éramos 1.074.857 (2,6%), o que representava um crescimento
de 648% em 50 anos; em 1950, éramos 1.741.430 (3,4%), um crescimento de 62%;
em 1960, 2.824.775 (4%), um crescimento de 62,2%; em 1970, 4.814.728 (5,2%), um
crescimento de 70,5%; em 1980, 7.885.846 (6,6%), um crescimento de 63,8%; em
1991, 13.189.284 (9%), um crescimento de 67,3%; e em 2000, 26.184.941 (15,45%),
o que significou um crescimento de 98,5%. Agora, somos 22,2%, com crescimento de
20

1%. Nesse ritmo, em 2030 ou, no mais tardar, em 2040, os evangélicos serão maioria
no Brasil16.
A igreja protestante dos anos quarenta no país, ainda era tema de assunto
sobre grupos minoritários, mas conforme os dados, já existia indícios de ascendência.
Era dividida basicamente entre adeptos do pentecostalismo clássico e tradicionalismo
histórico. Suas teologias eram distintas, porém moderadas, não encontrando registros
de escândalo, que pudesse colocar em risco sua liberdade religiosa.

Podemos perceber que o dito movimento de segunda onda no Brasil, começou


em meio a grandes mudanças no contexto social brasileiro, porém, o maior agente de
transformação protestante, veio em consequência de uma nova visão de crescimento.
Os emissários desta nova “onda”, atravessaram o oceano e concentraram aqui suas
bases, firmaram propósitos, que aceito por uma parcela significativa de líderes das
principais denominações, inauguraram a nova fase da igreja brasileira.

1.3. Movimento de Renovação Espiritual Batista

No início da década de quarenta, muitos movimentos de renovação nasciam


entre denominações tradicionais. O motivo no qual levou a tradição histórica a ser
influenciada pela doutrina pentecostal é desconhecido, entretanto, podemos perceber
através de algumas notas históricas, que havia desejo por mais de Deus, um anseio
coletivo, que se espalhava, alinhava propósitos e transformava a muitos.

Em janeiro de 1960, Pr. Enéas Tognini e pastor Pr. José Rego Nascimento,
escreveram um boletim histórico, que se tratava de um manifesto a líderes e pastores
batistas de todo o país, era uma denúncia pública, corajosa e irremediável.

“Nossas igrejas se converteram em montanhas de gelo; não há vigor,


não há vida, não há poder do Espírito Santo como houve
abundantemente nas igrejas apontadas no Novo Testamento [...]
Nossas reuniões de oração são insípidas, mecânicas e rotineiras”
(MORAES, 2016, p. 76)

16
CPAD. Disponível em: https://goo.gl/j4u63j. CPAD NEWS. Acesso em 25 de Agosto de 2018. Números e dados
ENCONTRAM-SE disponíveis no site da instituição.
21

O boletim, orientava pastores das mais variadas cidades do país onde havia
uma igreja Batista, a reunir seu grupo ao menos uma vez ao mês, a fim de orar e
buscar pelo avivamento espiritual em todo o país. A ordem era: “Cada pastor, deve
organizar um Movimento de Renovação Espiritual e colocar-se a frente dele”. Assim
surgia o Movimento de Renovação Batista Brasileiro.

Muito embora a renovação não tenha vindo através de uma única pessoa, pois
foram semeaduras aqui e ali e que não se tem exata dimensão de como surgiu,
apenas pequenos indícios, certamente pode-se perceber, que algumas pessoas o
receberam com propósitos elementares. É possível notar por exemplo na renovação
espiritual entre batistas, a participação de algumas mulheres, que influenciaram
pastores das mais altas lideranças do país. Rosalee Mills Appleby, certamente foi uma
destas mulheres. Foi incentivada a buscar renovação espiritual através das pregações
Otis Pendleton Maddox17, cujas mensagens eram ministradas sob lágrimas e unção
(MORAES, 2016, p. 75). A presença de Rosalee é de fundamental importância, para
a compreensão daquilo que veio ser a base estrutural da instituição batista renovada
no Brasil. Outra mulher que reconhecidamente tem sua marca na renovação espiritual
Batista, é Stela Câmara Dubois, que na Bahia, na cidade de Jaguaquara, junto de seu
marido, Prof. Carlos Dubois, exerceram forte influência espiritual, conforme
declaração do então jovem, Rosivaldo de Araújo (TOGNINI, 2003 p.275).

Quem conheceu Stela Dubois, conheceu também D. Rosalee; e quem


leu os livros de D. Rosalee, conheceu D. Stela. D. Stela fez parceria
com D. Rosalee, e foi através de D. Stela que co-nheci D. Rosalee,
por ocasião de um desses acampamentos, no qual o Pr. Valdívio
Coelho, homem igualmente avivado e juntamente com o Pr. José
Rego, programaram, para logo depois do lanche da tarde, uma reunião
de oração pelo culto da noite e acampamento em geral.

17
Otis Pendleton Maddox. Foi um educador e religioso estadunidense, radicado no Brasil. Tornou-
se missionário batista no Brasil em 1905, inicialmente no Rio de Janeiro, onde exerceu também a função de
Secretário de Campo. Em 1917 mudou-se para Minas Gerais, onde organizou a Convenção Batista Mineira e, em
seguida, fundou o Colégio Batista Mineiro. Foi Secretário Correspondente da Junta de Missões Estrangeiras,
da Convenção Batista Brasileira. Durante a II Guerra Mundial, apresentou-se à Marinha de seu país, tendo servido
como capelão naval. Aposentado pela igreja em 1945, retornou aos Estados Unidos, onde faleceu em 1955, com
81 anos de idade. Também foi colaborador do Cantor Cristão, no qual traduziu uma música. Disponível em:
https://goo.gl/EPmcu7. Acesso em: 30 de Agosto de 2018.
22

Entre os Batistas brasileiros, muitas chamas começaram a ascender no tocante


a renovação espiritual, de Norte a Sul do país, igrejas e líderes subitamente aderiam
ao movimento de renovação espiritual, que rapidamente começou a tomar força no
Nordeste do país. Rosivaldo de Araújo escreveu um livro e o dedicou a contar muitos
dos acontecimentos no Nordeste, disse ele que como fruto dessa visitação do Espírito,
a terra também foi muito abençoada economicamente (ARAÚJO, 2013, p. 22):

[...] fez a terra irrigar-se com canais e açudes, atraiu a atenção de


algumas empresas e de grandes agricultores, que fizeram brotar da
terra uvas, melões, abacaxis, melancias e muito mais. Abriram as
portas para exportação para os produtos do Nordeste – castanhas,
lagostas, soja e flores – e assim trouxeram prosperidade a muitas
famílias que antes imigravam para o Sul e para a região central do
Brasil [...]

Recife se tornou o polo principal da renovação espiritual no Nordeste do país,


e tal como já estava acontecendo em outras capitais do país, programas de rádio
estavam sendo liderados por pastores batistas ligados ao movimento de renovação.
Em Recife iria ao ar o programa Seara em fogo, dirigido por Rosivaldo de Araújo,
também pelo radialista Edmundo Queiroz e Pr. Eclésio Menezes um programa que
alcançava do Maranhão a Bahia e com uma grande audiência. Era muito comum o
uso da palavra “Fogo”, e esse programa conforme (ARAÚJO, 2013, p. 59), iniciava com
a seguinte chamada: “Começávamos proclamando as palavras de Jesus, que diziam:
“Vim lançar fogo na terra e que mais quero, se já está aceso? Seara em fogo: um
programa em prol do avivamento espiritual”.

Em Belo Horizonte, o pastor José Rego do Nascimento, em ondas curtas de


rádio, também trazia ao ar um programa denominado de Renovação Espiritual pela
rádio Piratininga. Algumas destas mensagens estão disponíveis no Youtube, como é
o caso da Vento e Fogo18. José Rego é destacado até hoje como um dos pilares da
renovação espiritual Batista e não é à toa. Em 1957 fundou a Igreja Batista de
Lagoinha e esse foi um marco espiritual na cidade. Começou com vinte membros,
tinha uma maneira diferente de pregar, o que logo chamou a atenção de membros da
Convenção Batista Brasileira, que o chamaram para dar explicação. Não apenas ele

18
VENTO E FOGO. Disponível em: https://goo.gl/H77u9M. Mensagem do Pr. José Rego. Acesso em 31 de Outubro
de 2018. O pastor José Rego do Nascimento foi um dos líderes pioneiros do Movimento de Renovação Batista.
Foi fundador da Igreja Batista de Lagoinha em Belo Horizonte.
23

vivia esse contexto de pressão por parte do conselho, o pastor Enéas Tognini, que
tem um testemunho vibrante sobre sua renovação, não apenas sofreu pressões
intensas, como deliberadamente acabou por entregar todas as funções que exercia.

Figura 1 - União de Forças


Fonte: Blog do Pr. Marcio Valadão. Disponível em: https://goo.gl/8YCc8K

O movimento Batista cresceu e atingiu várias cidades brasileiras, com ele veio
também o fatídico desentendimento com a Convenção Batista Brasileira e os já
chamados renovados tiveram que assumir posicionamento e apesar de uma
resistência que durou dez anos, em 1965 em um encontro na Primeira Igreja Batista
de Niterói a CCB decidiu excluir 14 igrejas e outras 52 naquele mesmo ano.

Em 1967 a CBN – Convenção Batista Nacional foi fundada, com 60 igrejas


batistas renovadas. No ano 2000 já somavam mais de 3000 emancipadas ou não. No
mesmo ano houve um evento promovido pela União Batista Latino-americana, na
Primeira Igreja Batista de Niterói, onde reuniram-se líderes das duas convenções.
Líderes das igrejas Batistas tradicionais e líderes das Batistas renovadas, estavam
juntos em um encontro novamente. Sobre esse encontro, o Dicionário do Movimento
Pentecostal destaca as seguintes informações:

Em clima de fraternal, que em nada lembrava o período de divisão da


década de 60, batistas tradicionais abordaram um assunto de
interesse geral em evidência: o culto. O resultado do encontro está
registrado em um documento de três páginas, intitulado ‘Declaração
24

de Niterói sobre Adoração’. Entre outras deliberações, reconhece a


validade tanto da forma de culto utilizado pelas igrejas tradicionais
quanto da usada pelas renovadas. (MORAES, 2015, p. 121)

A renovação espiritual batista brasileira, é hoje uma das principais lideranças


da igreja brasileira, tem inspirado igrejas em várias áreas, tanto de missões como
também no ministério de louvor e adoração.

1.4. Cruzadas de Evangelização no Contexto Brasileiro

Cruzadas Evangelísticas ou “campanhas evangelísticas”, não eram usadas no


Brasil até que a metade do século dezenove chegou por aqui. Suas características
pareciam não combinar com o modelo de igreja que até aqueles dias existia. Cruzadas
evangelísticas, movimentam-se grande número de pessoas, conforme Isael de Araújo
(MORAES, 2015, p. 248).

[...] é inspirada no revival meeting norte-americano, uma série de


cultos realizados com o propósito de encorajar os crentes e desafiar
pessoas não-crentes a fazerem parte da igreja. Foi popularizada por
Charles Finney (1792-1875), principal pregador do Segundo Grande
Despertamento, o revival meeting consistia de várias noites
consecutivas de cultos realizados no mesmo horário e local, na
maioria das vezes, numa propriedade pertencente à igreja hospedeira,
e algumas vezes, em auditórios alugados ou em locais em que os não-
crentes se sentissem mais à vontade.

A Cruzada de evangelização no Brasil, nasceu de uma ação conjunta entre


ministros americanos e brasileiros, que juntos estabeleceram o propósito único de
compartilhar a renovação com líderes das principais denominações. Conforme Isael
de Araújo em sua obra Dicionário do Movimento Pentecostal (MORAES, 2015, p. 249),

[...] as principais Cruzadas de Evangelização com curas e milagres,


foram as de Harold Willians, Raymond Boatright, Virgil Smith, Manoel
de Melo, David Miranda, Doriel de Oliveira, Cecílio Carvalho
Fernandes, Bernhard Johnson Jr., Joá Caitano Otoniel e Oziel de
Paula, Luís Schiliró, Celso Lopes, Sóstenes Mariano da Silva, Geziel
Gomes, Paulo Terra, José Moreira, Édino Fonseca, Rodolfo
Beuttenmüler e Hidekazu Takayama.

Assim, nasceu a cruzada brasileira de evangelização, que teve seu início na


campanha realizada na Igreja Presbiteriana Independente no bairro do Cambucí – SP,
25

obtendo resultado imensurável, chamando a atenção de pastores e crentes de todo o


país e atraindo uma multidão de pessoas, dos mais distantes bairros da capital, que
vinham, encontravam salvação, cura e libertação. A campanha teve seu final, quando
o presbitério da igreja, não aceitou a doutrina do falar em línguas.

1.5. Cruzada Nacional de Evangelização

A Cruzada Nacional de Evangelização, teve também seu princípio, durante os


encontros de avivamento ocorridos na Igreja Presbiteriana Independente do bairro do
Cambuci, as datas dos principais acontecimentos também coincidem e os principais
idealizadores aparecem juntos.

Conforme departamento histórico da Igreja do Evangelho Quadrangular


(JESUS, 2011, p. 11), a chegada do missionário Harold Willians ao Brasil, ocorreu
após uma passagem pela Bolívia, onde ele e missionário cristão por nome de
Hermínio Vasquez, nascido no Perú, iniciaram algumas atividades evangelísticas no
país, mas que por uma decisão do governo local tiveram que parar. Vasquez, que
conhecia o território brasileiro, compartilhou sua experiência no país, e incentivou o
missionário americano a iniciar os trabalhos de evangelização primeiro em solo
brasileiro, afirmando que seria mais fácil iniciar suas atividades de evangelização.
Este conselho foi a direção que Harold Willians buscava, e que após entrar em contato
com o diretor de missões Rev. Howard Courtney, recebeu autorização internacional
da Foursquare Gospel Church e partiram da Bolívia para Guajara Mirim em Rondônia
região norte do Brasil, no dia 30 de junho de 1946, vindo posteriormente de navio até
o porto de Santos. (JESUS, 2011, p. 11).

Após a mudança para a cidade de São João da Boa Vista - SP em 1948,


iniciaram a primeira igreja. O missionário Harold Willians, era muito carismático e logo
fez grandes amigos em igrejas tradicionais da cidade, que o convidavam para pregar.
Também fazia trabalhos de sua denominação através de cultos regulares e por
ocasião alugou um salão, reunindo ali um pequeno grupo, mas considerava pequeno
o resultado e se sentia insatisfeito mesmo após o estabelecimento do primeiro templo
da denominação. Conforme registros históricos da instituição, o missionário Harold
Willins, “Decidiu orar e jejuar durante 40 dias, bebendo apenas água, colocando diante
de Deus sua angústia e as necessidades da igreja” (JESUS, 2011, p. 19), subitamente
26

lembrou-se de um amigo de faculdade, que a essa altura já tinha um ministério sólido


nos Estados Unidos e convidou-o a vir ajuda-lo por um tempo no Brasil, e assim
chegou ao país o missionário Raymond Levi Boatright, pastor licenciado pela
Foursquare Gospel Church, que ministrava em todo o território americano como
evangelista. É possível perceber pelos registros daqueles que o conheceram, que
havia nele, desejo especial em vir ministrar ao Brasil, algo que surgiu antes mesmo
do convite de seu amigo. Dizia ele que Deus o enviara para iniciar um avivamento na
nação brasileira19. Raymond veio algumas vezes ao Brasil, três de suas visitas foram
imprescindíveis para o início das cruzadas evangelísticas. Na primeira vez, ficou
hospedado na casa de seu amigo Harold Willians em São João da Boa Vista, onde no
pequeno salão da Igreja do Evangelho Quadrangular, realizou a primeira campanha
de curas e milagres em janeiro de 1952. Em sua segunda visita ao Brasil em 1953,
foram iniciadas as campanhas de avivamento na Igreja Presbiteriana Independente
do Cambuci, à rua Barão de Jaguará a convite do Rev. Silas Dias e do líder da
Organização Juventude para Cristo (Youth for Christ) do Brasil, pastor Don Philips.
Em sua terceira visita, no ano de 1954, o missionário Raymond Boatright, Missionário
Harold Willians, Rev. Epaminondas Silveira Lima e outros, iniciaram o movimento
interdenominacional “Cruzada de Evangelização” como ficou conhecido, em que tinha
o objetivo inicial de reunir pastores de várias denominações e expandir pelo país o
movimento de renovação espiritual e cura divina.

A partir de sua chegada em São Paulo, Raymond e Harold, participaram de


muitas campanhas. A campanha na Igreja Presbiteriana Independente, foi onde se
concentrou o maior número, e que puderam dimensionar o que viria pela frente. Desta
forma, ainda que sob divergências por parte do presbitério da igreja, mantiveram-se
firmes, até ao ponto de serem impedidos de continuar a pregarem a doutrina
pentecostal do Batismo com o Espírito Santo. Nesta ocasião, o missionário Harold
Willians, conforme registros históricos da IEQ disse: “Se for para pregar um evangelho
multilado, prefiro não pregar” (JESUS, 2011, p. 25) e em janeiro de 1954, após ofertas
de irmãos americanos, uma tenda foi adquirida e a Cruzada de Evangelização,
começou a ganhar características pentecostais e tornou-se um movimento

19
PRIMEIRA IGREJA EVANGÉLICA DO CAMBUCI. Uma história contada a partir do depoimento do pastor Mário
Bóvi ao pastor Autiliano Batista, que a registrou no capítulo 8 de seu livro intitulado como “Tomemos Posse”.
Disponível em: https://goo.gl/cJHvKc . Acesso em 17 de Setembro de 2018. As informações da história relatada
ENCONTRAM-SE no site da Igreja.
27

independente dos grupos tradicionais, que por não aceitarem a doutrina do batismo
com o Espírito Santo, e por divergirem radicalmente, tornou-se impossível a
continuidade, e assim, a primeira tenda se estabeleceu no bairro do Cambuci de
janeiro a março de 1954.

Figura 2 - Primeira Tenda da Cruzada Nacional de Evangelização


Fonte: Agreste Notícias. Disponível em: https://goo.gl/McuHWD

A intenção continuava sendo levar a doutrina do batismo com o Espírito Santo


a quantos líderes pudessem e em certo encontro onde muitos pastores foram
convidados para ouvir sobre a doutrina pentecostal, verificou-se que maioria não
compareceu e os que estiveram presente, se manifestaram contrários a doutrina do
Batismo com o Espírito Santo, chegando a afirmar que só permaneceriam ativos
naqueles trabalhos, se não existisse tal doutrina. Harold Willians estava um tanto que
insatisfeito com o que estava presenciando. E aconteceu que no momento em que
começaram a orar, um homem ajoelhado próximo de Willians começou a falar em
línguas, seu nome era Pr. Syr Evangelista Martins, um dentista que realizava em seu
consultório no centro de São Paulo, reuniões de oração, buscando por um avivamento
espiritual para o Brasil. Para o missionário, este foi o sinal para seguir em frente.

A tenda permaneceu no Cambuci por dois meses, mas após uma forte
tempestade em São Paulo, que causara muitos prejuízos, a tenda foi derrubada,
28

levando-os a tomarem a decisão de transferi-la a outro lugar. O local escolhido foi o


bairro da Água Branca em novembro de1954.

O movimento evangelístico avançava rapidamente e com muitas realizações,


no mesmo mês de novembro, inauguraram a igreja da Barra Funda, se tornando sede
nacional da Igreja do Evangelho Quadrangular, no dia 24 de novembro de 1954
(JESUS, 2011, p. 27). Este evento também marcaria o fim da Cruzada de
Evangelização como movimento evangelístico interdenominacional, vindo a se tornar
o Departamento Evangelístico da Igreja do Evangelho Quadrangular.

A Cruzada Nacional de Evangelização trouxe grandes mudanças no contexto


evangelístico cristão, pois agora se tratava de um departamento de evangelização
completamente inovador, que tinha compromisso único com uma denominação
evangélica. Com isso, os avanços da denominação para outros estados e cidades do
país foram muito rápido, onde ainda no ano de sua inauguração em 1954, alcançaram
o Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito
Santo. Novas tendas foram adquiridas e formou-se um ciclo evangelístico que sempre
que concluído, resultava na implantação de novas igrejas. O departamento
evangelístico da Igreja do Evangelho Quadrangular, ainda hoje mantém o trabalho da
Cruzada Nacional de Evangelização, não mais como o principal meio de expansão da
mensagem. As palavras da jornalista Anna Virgninia Balloussier à folha de São
Paulo20, reserva notas de respeito e honra ao que representou a Cruzada Nacional de
Evangelização para a igreja brasileira:

“Jesus Cristo é o mesmo – hontem, hoje e eternamente.” A grafia de


“ontem” com a lestra “h” mudou faz tempos. Os evangélicos brasileiros
também passaram por várias transformações após a Cruzada
Nacional de Evangelização, que juntou centenas de fiéis sob uma lona
na avenida Francisco Mararazzo, zona oeste paulistana, em 1953.
Levantado por dois missionários americanos, o “circo gospel” ajudou
a renovar [...]

20
FOLHA DE S.PAULO. Edição de 2014 quando o deputado estadual Fernando Capez, entrou com um projeto de
construção de um museu cristão, onde a história da cruzada nacional de evangelização viria a ser lembrada.
Disponível em: https://goo.gl/GnN95p. Acesso em 20 se setembro de 2018.
29

1.6. Cruzada Brasileira de Evangelização

Durante toda a década de quarenta, grupos de oração surgiram e o motivo era


a busca pelo avivamento espiritual. Seria algo comum, se essa iniciativa tivesse
surgido apenas entre pentecostais ansiosos por experiências e dons espirituais, mas
não foi assim. O movimento começou dentro de igrejas históricas tradicionais e o que
seria algo comum, se tornou a marca fundamental na transformação história da igreja
brasileira, fazendo surgir inúmeras igrejas pentecostais em todo o país.

Muitos fatos importantes acabam passando desapercebidos nas pesquisas


sobre pentecostalismo no contexto da denominada segunda onda. Isto acontece
porque os grupos que buscavam avivamento espiritual, surgiam de norte a sul no país,
tinham diferentes confissões congregacionais, entretanto homogêneos no propósito
pelo avivamento espiritual e eram incontáveis grupos, que nasciam a cada dia. Assim,
surgiram os movimentos e igrejas pentecostais como foi o caso de Nelson Arcanjo
Duarte Rocha que tendo se desligado da Igreja Metodista do Brasil fundou a Missão
Evangélica do Brasil (1945); Mario Roberto Lindstron, que juntos com outros crentes,
se desligaram da Igreja Metodista do Tucuruvi (SP), fundando a Igreja Avivamento
Bíblico (1946) e Igreja Cristã Pentecostal da Bíblia do Brasil (MORAES, 2016, p.
71,72), fundada pelo Rev. Epaminondas Silveira Lima, que junto de outros irmãos da
Igreja Presbiteriana Independente no bairro do Cambuci, experimentaram, aquilo que
no depoimento de muitas testemunhas é denominado como: “Avivamento do
Cambuci”. Conforme registros da Igreja Cristã Pentecostal da Bíblia e também citado
por Isael de Araújo no Dicionário do Movimento Pentecostal, registraram que:

Tudo começou, quando membros da Igreja Presbiteriana do Cambucí,


sedentos por renovação, começaram a participar de retiros espirituais
promovidos pelo rev. Carl Cooper e sua esposa, Sarah Cooper,
conhecidos como Daddy e Mother Cooper, em uma chácara onde
funcionava um orfanato administrado pelo casal. Na casa do então
Presbítero Epaminondas Silveira Lima e sua esposa Ada Endrigo da
Silveira Lima, também existia um grupo de oração, onde frequentavam
membros da IPI do Cambuci, onde em uma ocasião, o pastor Dom
Philips ministrou durante uma campanha de oração, tendo-a baseado
no texto de 2 Crônicas 14:7 “Se o meu povo que se chama pelo meu
nome, se humilhar orar e buscar a minha face e se converter de seus
maus caminhos, então eu ouvirei do céus, e perdoarei os seus
pecados, e sararei a sua terra”. “Para estas reuniões, afluíam tantas
pessoas que muitos não tinham acesso ao interior da casa; então,
caiam de joelhos nos jardins” (MORAES, 2016, p. 73).
30

Sobre o início dos grupos de oração, Pr. Mário Bovi, uma testemunha ocular
dos acontecimentos daqueles dias, contou a seguinte versão da história ao Pr. Autilino
Batista de Souza que a reproduziu em seu livro “Tomemos Posse”, segue seu relato:

Foi impressionante e até inesperado o grande interesse pelas reuniões


de oração nos lares, chegando a quase cem o número de reuniões de
oração em favor da igreja … Ao mesmo tempo em que os grupos de
oração estavam clamando pela igreja, um servo de Deus na outra
América estava orando também ao Senhor, quando foi tocado por
Deus para vir ao Brasil para aqui ser instrumento divino de um
avivamento espiritual. O nome dele é Raymond Boatright. Aqui
chegando, ele se dirigiu à cidade de São João da Boa Vista, no interior
de São Paulo, onde residia um seu patrício, o Reverendo Harold
Willians. Naquela cidade, o Pr. Raymond Boatright uniu-se à família
Willians e um total de sete pessoas oravam todos os dias para saber
a vontade de Deus. Os dias iam se passando e eles não tinham
nenhuma resposta, até que ele se pôs diante do Senhor e disse
claramente: ‘Senhor, tu me enviaste aqui, para trazer um avivamento
a este país, mas onde está este avivamento? Quando acabou de orar
nesses termos, a resposta veio: ‘O avivamento está ali na esquina.
Movido por esta palavra, o Pr. Raymond Boatright dirigiu-se à esquina
próxima à casa onde estava hospedado e viu no meio da rua uma
mulher terrivelmente endemoninhada, pessoa conhecida da cidade.
Ele não perdeu tempo, foi em direção a ela. O Reverendo Willians
tentou detê-lo dizendo: ‘O que você vai fazer? Esta moça é filha do
prefeito da cidade; se você tocar nela, não sei o que poderá acontecer’,
ao que o Pr. Raymond respondeu: ‘Mas o Senhor falou-me claramente
que o avivamento está na esquina’. Em seguida expulsou da moça os
demônios ficando ela totalmente liberta. A notícia espalhou-se pela
cidade tão depressa que no dia seguinte pela manhã uma multidão se
aglomerou defronte à residência dos Willians, que ficaram
amedrontados, pensando em alguma represália pelo fato acontecido.
O servo de Deus, sabendo que tudo estava sob o controle do Espírito
Santo, saiu à rua e começou a orar pela multidão e dezenas de
milagres começaram a acontecer na mesma hora: surdos passaram a
ouvir, paralíticos saíram saltando de alegria, mudos e cegos eram
libertados, e assim milagres iam acontecendo, começando naquela
pequena cidade o avivamento espiritual que o Brasil estava
necessitando. (BATISTA, 1983, p. 63)

O pastor Dom Philips, colocou o então presbítero Epaminondas Silveira Lima


em contato com o pastor Harold Willians, que junto com Raymond Boatright “Mr. Slim
(ex-caubói americano), aceitaram um convite para realizarem uma campanha de uma
campanha de avivamento na IPI do Cambucí, desta campanha, nasceu a Cruzada de
Evangelização e dela muitas outras, como foi o caso da Cruzada Brasileira de
Evangelização.

No momento em que os primeiros sinais de avivamento surgiam, o presbítero


Epaminondas estava em viagem ao exterior e ao retornar, encontrou sua esposa Ada
31

Endrigo Silveira Lima orando em línguas, ele não aceitava a continuidade dos dons,
porém, após sua esposa Ada o convencer, lembrando-o de sua idoneidade cristã e de
sua dedicação desde que se converteu aos nove anos de idade, o fez pensar
seriamente a respeito, conforme (ICPBB)21 e também Dicionário do Movimento
Pentecostal (MORAES, 2015, p. 360), testemunhas relataram a seguinte história:

Quando o avivamento eclodiu, o então presbítero Epaminondas


Silveira Lima estava em viagem missionária ao exterior, em
companhia do Dr. Carlos Han. Foram 5 (cinco) meses de pregação por
países da América do Sul, América Central e Estados Unidos, onde
mais de 300 (trezentas) cidades foram alcançadas. Ao retornar, alegre
como um dos setenta da grande comissão, o presbítero Lima, como
também era conhecido, encontra sua esposa, dona Ada Endrigo
Silveira Lima falando em línguas com uma nova dinâmica em sua vida,
mais animada do que ele jamais vira. Sob o impacto dos
acontecimentos, sua primeira iniciativa foi querer calar sua
companheira, fato que, em princípio, trouxe certo desconforto entre
ambos. Mas sua esposa o recordava de sua vida cristã genuína e
equilibrada desde sua conversão a Cristo, aos nove anos de idade,
quando ouviu a pregação do evangelho pela voz do Dr. Gióia, um ex-
padre convertido. E a consagrada serva de Deus insistia em mostrar
ao esposo e companheiro de batalhas que esta experiência fazia parte
da bênção prometida por Cristo em Atos 1:7-8, a qual ambos
buscavam ardentemente. Isso levou Epaminondas a refletir um pouco
mais. Enquanto isso, os cultos de oração prosseguiam em sua casa,
dos quais ele agora parecia participar com certo constrangimento.
Contudo em certa noite Deus levanta sua empregada doméstica, que
era analfabeta, falando em profecia no idioma inglês. Pensando haver
chegado visitas dos Estados Unidos, ergueu a cabeça e observou o
fenômeno. Foi então que, estupefato, viu cair suas últimas resistências
àquelas manifestações. Estava inteiramente convencido de que Deus
estava fazendo algo novo no seio da Igreja e que, daquela forma,
trazia a tão anelada manifestação do Espírito Santo. Decididamente
entrou para o seu “Vau de Jaboque”. A crescente paixão pelas almas
o impulsionava a busca com mais intensidade desse poder para o
pleno exercício do ministério da palavra. Clamava a Deus com todas
as forças da alma, pedindo-lhe que o agraciasse com a mesma
bênção. Foi quando, sentindo não suportar mais a ansiedade em seu
coração, na cozinha de sua casa, em torno da mesa onde através das
mãos da missionária Ada serviu a dezenas de homens de Deus, orou
ousada e apaixonadamente: “Jesus, batize-me hoje no teu Espírito
Santo, ou não lhe peço mais! ” E então… foi ali mesmo,
misericordiosamente, batizado com o doce Espírito Santo de Deus,
começando uma nova etapa de sua vida!

21
IGREJA CRISTÃ PENTECOSTAL DA BÍBLIA DO BRASIL. Disponível em: https://goo.gl/N3QPkK. Acesso em: 02 de
setembro de 2018. A história referente ao começo da Cruzada Brasileira de Evangelização, ENCONTRA-SE, no
portal da instituição.
32

Quando deram início as atividades, junto com missionários americanos, as


reuniões começaram rapidamente a crescer, chamando a atenção principalmente pelo
número de participantes. Os jornais da época noticiaram os acontecimentos como um
evento inusitado na cidade:

“Veio dos E.U.A fazer milagres no Cambuci – mais de 15 mil


consulentes atendidos pelo pastor norte-americano, ao qual atribuem
curas milagrosas – necessitados de todos os recantos da capital
bandeirante procuram a Igreja Presbiteriana Independente do
Cambuci – Era vaqueiro em sua terra natal e cantou em inúmeras
estações de rádio”. Outra manchete dizia: “As filas se estendem no
bairro do Cambuci, são necessitados de todos os quadrantes da
Paulicéia que procuram Raymond para mitigarem seus males. Faça
chuva ou sol, o movimento é o mesmo nas proximidades do templo”.
Ainda outra manchete diz: “Enquanto o recinto da Igreja Presbiteriana
Independente do Cambuci fica apinhado de gente, lá fora duas filas
duplas se prolongavam por mais de dois quilômetros. Brevemente,
Raymond irá aos E.U.A adquirir tendas de lona, a fim de melhor
atender o grande público que o procura”. As cópias originais ainda se
encontram disponíveis nos arquivos da Primeira Igreja Evangélica do
Cambuci, com data de 17 de março de 1953. (BATISTA, 1983, p. 68)

O evangelista Raymond Boatright, o (caubói americano), ministrava reuniões


em inglês, sendo interpretado por Harold Willians, porém, diante da tamanha demanda
nos encontros de avivamento retornou aos Estados Unidos, conseguindo uma tenda
doada por Oral Roberts22, ficando posteriormente com o pastor Epaminondas. De fato,
havia um fenômeno no número de presentes que vinham de todos os lugares para as
campanhas realizadas na Presbiteriana do Cambuci, e que o “trânsito sempre intenso
na Rua Barão de Jaguará era interrompido pela massa humana que já não cabia
dentro das instalações da igreja”, entretanto, existia também, discordância por parte
do presbitério da igreja, conforme mostra (BATISTA, 1983, p. cap. 8):

O Reverendo Silas Dias e sua esposa, Dona Yolanda logo se


identificaram com o movimento do Espírito Santo, sendo ele chamado
algumas vezes ao Presbitério para explicar os fatos, mas não
conseguia convencer os seus superiores eclesiásticos.

22
Granville Oral Roberts, mais conhecido como Oral Roberts. Nasceu em 24 de janeiro de 1918 em Ada,
Oklahoma, EUA. Foi casado com Evelyn Roberts de 1938 a 2005. Oral Roberts foi um tele evangelista pentecostal
norte-americano. Fundou uma universidade com seu nome, a Oral Roberts University. Morreu aos 91 anos,
vítima de complicações de uma pneumonia. Disponível em: https://goo.gl/5eKqfp. Acesso em: 5/09/2018.
33

Figura 3 - Cruzada Brasileira de Evangelização


Fonte: Portal ICPBB. Disponível em: https://goo.gl/GRSsLT

Tal insatisfação por parte do presbitério os levaram a convidar todos adeptos


do movimento de avivamento a se desligarem da igreja, conforme o resumo dado pela
própria denominação23 fundada pelo Rev. Epaminondas Silveira Lima:

[...] logo se instalou uma forte resistência ao avivamento, de maneira


que, os que estavam envolvidos com a obra do Espírito Santo foram
convidados a se retirarem. Foi muito difícil para aqueles pioneiros se
afastarem da Igreja que tanto amavam. Foi muito dolorido e um preço
muito alto tiveram que pagar. Não desejavam se afastar do convívio
de irmãos de tantos anos e nem tampouco desejavam formar uma
nova denominação, pois não tinham propósitos divisionistas [...]

Com o desligamento da denominação presbiteriana, nasceu em 23 de janeiro


de 1955 a assembleia geral de constituição da Primeira Igreja Evangélica do Cambuci,
sendo eleito o Reverendo Silas Dias como pastor presidente da igreja. Em decorrência
destas eventuais mudanças, muitos daqueles que participaram do avivamento no
Cambuci, fundaram outros movimentos e Igrejas, assim nasceu a “Cruzada Brasileira
de Evangelização” que é pouco citada nas obras de pesquisa do movimento
pentecostal, pois veio poucos anos após sua origem, se tornar a Igreja Pentecostal da
Bíblia do Brasil. A chegada desse avivamento no Cambuci, foi fruto do clamor de

23
O detalhamento sobre a saída do Reverendo Epaminondas Silveira Lima, sua esposa Ada Endrigo da Silveira
Lima, bem como de todos aqueles que sentiram-se abraçados pela renovação espiritual, ENCONTRAM-SE no
portal da Igreja Cristã Pentecostal da Bíblia do Brasil. Disponível em: https://goo.gl/N3QPkK. Acesso em 02 de
Setembro de 2018.
34

muitos grupos de oração, que tiveram participação fundamental e crucial na


renovação espiritual testemunhada por milhares de pessoas.

Com base nos fatos contados por pesquisadores como (MORAES, 2015) e
também de igrejas que fizeram parte do início das cruzadas, como é mostrado no
departamento histórico (JESUS, 2011) 24; (ICPBB)25 e também no importante
conteúdo do capítulo 8 do livro do pastor Autilino Batista (BATISTA, 1983), que através
de uma entrevista ao pastor Mario Bóvi, pôde reunir informações, mostrando que os
efeitos deste avivamentos foram imensos, pois dele adveio as Cruzadas Brasileira e
Nacional de Evangelização; Igreja do Evangelho Quadrangular; Igreja o Brasil para
Cristo e ainda trouxe forte influência para outras denominações como o próprio pastor
Autilino Batista mencionou:

Podemos dizer que a Igreja Batista Nacional, sob a liderança do pastor


Enéas Tognini, Igreja Cristã Presbiteriana, Igreja Presbiteriana
Renovada, Igreja Metodista Wesleyana, entre outras, tiveram direta ou
indiretamente a influência e os benefícios do poderoso avivamento
acontecido em 1953 no bairro do Cambuci. (BATISTA, 1983, p. cap 8)

Tal foi o efeito deste movimento de avivamento no bairro do Cambuci, que seus
efeitos ainda são reverberados em novas igrejas que surgem em nossos dias.
Conforme o pastor Mario Bóvi: Se somarmos as igrejas e congregações batistas,
presbiterianas, metodistas, pentecostais e outras que receberam influência do
avivamento de 1953, chegaríamos a mais de seis mil e quinhentas denominações,
sem contar os inúmeros seminários e missões, com centenas de obreiros no país e
no exterior.

Alguns movimentos que surgiram no contexto da segunda onda não foram


mencionados, apenas os pioneiros e basilares. O mesmo critério também foi usado
para os respectivos fundadores. Suas biografias são fundamentais para que alguns
detalhes citados sejam plenamente compreendidos.

24
O Departamento Histórico da IEQ – Igreja do Evangelho Quadrangular, mantém um Centro Cultural, onde
preserva fontes históricas sobre a denominação. É atualmente coordenado pela Pra. Marli de Jesus, Diretora do
Departamento Histórico e fundadora do Museu Histórico da IEQ.
25
A Igreja Cristã Pentecostal da Bíblia, mantém registros de sua história preservada em sua sede à Av. Pedro
Severino Junior, 54 em São Paulo/SP.
35

2. OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES DA SEGUNDA ONDA NO BRASIL

Muitos homens e mulheres se tornaram referência para as gerações futuras,


principalmente para aqueles que foram alcançados através do trabalho direto dos
movimentos mencionados. Para alguns, existe certo orgulho, até exagero, quando
mencionado nomes de seus principais expoentes. Claro que o respeito é de fato
importante e é manifestado com medidas de honras, mas quando passa-se do limite,
chega-se ao cúmulo do endeusamento, marca muito comum em muitos movimentos
pentecostais. Porém, maioria dos homens e mulheres que escreveram seus nomes
na história dos ditos movimentos de segunda onda no Brasil, fornecem motivos de
sobra para serem lembrados, ainda que alguns, manifestaram claramente falhas,
exageros doutrinários e até mesmo sob alguns critérios, ignorância teológica, mas
nada que poria suas vidas dedicadas ao ministério como de quem não tenha merecido
respeito, alguns o terão relativamente, outros, porém, serão eternizados como
homens e mulheres dos quais o mundo não foi dígno.

2.1. Missionário Harold Edwin Williams

Harold Edwin Williams26, nasceu no dia 27 de


novembro de 1913, na cidade de Hollywood, EUA. Ele e sua
família frequentavam o Angelus Temple, onde converteu-se e
foi batizado nas águas por Aimee Sample McPherson,
fundadora da Foursquare Gospel Church no mesmo tempo
conheceu Mary Elisabeth Williams e, no dia 27 de maio de
1939 uniram-se no matrimônio. A convicção de seu chamado
Figura 4 - Harold E. Williams
e desejo de dedicar sua vida ao ministério, veio durante uma
campanha com a juventude na igreja de Long Beach, onde ajoelhado ao lado do piano
de cauda, entregou sua vida e futuro nas mãos de Deus. Harold e Mary, estudaram
juntos e concluíram o Instituto Bíblico Life College em junho de 1942, assumindo seu
primeiro pastorado naquele mesmo ano em Arkansas, na igreja Litte Rock. Foi
desafiado a vir para a América do Sul, após receber uma palavra de Aimee, foi então
que em agosto de 1945, casados a seis anos, o casal deixou Los Angeles rumo a

26
WILLIANS, HAROLD EDWIN. História do Movimento Pentecostal. Isael Araújo. Editora CPAD. RJ. pp. 917, 918.
36

América Latina. Foi nomeado pelo gabinete de missões para a Bolívia no ano de 1945,
atravessou países como Jamaica, Colômbia, Equador e Peru. Chegando à Bolívia,
seu desejo missionário foi renovado através da amizade com o peruano Jesus Hemílio
Vasquez, que já residia no país e em julho de 1946 foi nomeado pelo gabinete de
missões para o Brasil. Harold e família e Vasquez atravessaram a Amazônia
passando por Manaus, Porto Velho e Belém, de onde partiram para o Rio de Janeiro,
parando em diversos portos em São Luis, Fortaleza, Recife e Salvador. Em 20 de
agosto de 1946 chegou a capital carioca, seguiu para o litoral paulista depois de três
dias. Aportaram em Santos depois de enfrentarem muitas adversidades durante a
viagem. A peregrinação pela costa brasileira findou em 5 de setembro de 1946,
quando embarcaram em um trem com destino à Minas Gerais, para, finalmente, se
estabelecerem na cidade de Poços de Caldas. Enquanto aprendia a língua e os
costumes do povo brasileiro, ensinava inglês. Em agosto de 1949, chegou a São João
da Boa Vista, no Estado de São Paulo, onde iniciou o ministério em um salão alugado;
porém em 15 de novembro de 1951 foi adquirido o terreno para a construção do
primeiro templo. Em 1962 Harold retornou para EUA; e veio para ficar em seu lugar
no Brasil, George Russel Faulkner. Harold Edwin Williams27 faleceu em 11 de
setembro de 2002 aos 89 anos de idade na cidade de Los Angeles, na California.
Deixando a esposa Mary Elizabeth Williams, os filhos John Robert, Paul James, Diane
Elizabeth e netos.

2.2. Missionário Raymond Levi Boatright

Raymond Boatright28 ou simplesmente Mr Slim por


ex cowboy americano, foi um nome importantíssimo no
cenário pentecostal, muito embora pouquíssimo conhecido
e mencionado nos anais históricos das principais
denominações que contribuiu.
Figura 5 - Raymond Boatright

27
HAROLD EDWIM WILLIAMS. Biografia completa. Disponível em: https://goo.gl/ixkM5m; https://goo.gl/iTG8nx;
https://goo.gl/oyzxPd. Acesso em 20 de setembro de 2018. A Biografia de Harold Edwim Williams, ENCONTRA-SE
disponível nos sites mencionados.
28
ICPBB. Parte da história do Reverendo Raymond Boatright será encontrada no site da Igreja Cristã Pentecostal
da Bíblia do Brasil. Disponível em: https://goo.gl/N3QPkK. Acesso em 02 de Setembro de 2018.
37

Não há registros sobre nascimento ou mesmo nome de sua esposa, exceto de


sua filha, que ainda está viva, Linda Boatright, que conforme informações colhidas
pelo departamento de cultura da Igreja do Evangelho Quadrangular, é responsável
pela Fundação Boatright nos EUA.

Boatright era um dinâmico pastor pentecostal que liderou o início do avivamento


no Brasil em 1952 na cidade de São João da Boa Vista, eclodindo na cidade de São
Paulo em março de 1953. Após estes marcantes eventos no Brasil, continuou um
fervor pelo Brasil, mantendo seu contato com alguns expoentes do avivamento, como
o reverendo Epaminondas Silveira Lima e sua esposa Ada Endrigo da Silveira Lima,
se tornaram amigos e irmãos de firme caminhada. William Mikler, arcebispo luterano,
teve uma íntima relação ministerial com Raymond, conforme um artigo29 que
escreveu, ficou responsável de dar sequência ao trabalho de Boatright no Brasil.

A minha história com Raymond Boatright começou depois de uma


criação enraizada nas doutrinas de protestantismo herdado de minha
família, da comunidade, e na Igreja Luterana. Aos 21 anos, depois de
uma busca de oito meses cujo alvo foi o melhor conhecimento do
poder do Espírito, fui batizado no Espírito Santo sob o ministério de
Raymond Boatright em dezembro 1969, na cidade de Los Angeles,
Califórnia. Quando aconteceu, eu sabia quase nada acerca dos
pentecostais — mas conheci o poder do Espírito Santo quando ele me
encheu. Depois disso, fui discipulado por Raymond Boatright no
decurso de quase três anos e ordenado pela imposição de suas mãos.
Em 1980 na cidade de São Paulo, acompanhei Boatright em sua última
missão no Brasil. Foi naquela missão que Boatright me apresentou à
Sra. Ada Silveira Lima e à igreja central da denominação fundada por
seu marido, o reverendo Epaminondas Silveira Lima. Boatright me
introduziu como seu filho na fé e o homem americano que ele apontou
de continuar a sua obra no Brasil. Na mesma missão, fui introduzido
na mesma maneira ao Rev. Manoel de Melo, o fundador de Brasil Para
Cristo. No aeroporto de Congonhas, uma hora antes da minha volta
aos Estados Unidos, por acidente providencial, Boatright e eu nos
encontramos com o Pr. Bernard Johnson, grande evangelista da
Assembleia de Deus. Boatright ficou no Brasil por mais algumas
semanas, mas eu e Bernard Johnson voamos no mesmo avião e
tivemos uma boa conversa durante o voo. Logo depois daquela
missão, Boatright foi assassinado em Los Angeles por um ladrão
armado. Foi um grande choque e ainda lamento a perda prematura do
meu “pai” na fé. Porém, depois da morte de Boatright, Deus me fez
responsável em abraçar a minha parte da obra de Deus no Brasil.

29
TEOLOGIA CARISMÁTICA. O desconhecido Avivamento brasileiro da década de 60. Arcebispo William Mikler,
Primaz da Communion Cristiana, com sede no Estado da Flórida/USA. Disponível: https://goo.gl/TmNhHQ. Acesso
em 25 de outubro de 2018. O conteúdo sobre a vida e ministério de Raymond Boatright, ENCONTRA-SE no site
mencionado.
38

Esse grande evangelista, quando veio ao Brasil pela primeira vez, já tinha
convicção da chamada para esse tempo de avivamento e foi de fato algo grande. Ele
foi o preletor durante todo o tempo de campanhas e Harold Willians seu interprete.
Dois amigos americanos, um com palavras em inglês e o outro com uma interpretação
em português carregada de sotaque estrangeiro.

2.3. Reverendo Epaminondas Silveira Lima

A família Silveira Lima30, tem uma fundamental


passagem na história na Igreja Presbiteriana Independente
no Brasil. Conforme entrevista realizada ao Rev. Éber Silveira
Lima, a origem familiar dos Lima, se deu no estado de Minas
Gerais, porém, nas últimas décadas do século 19 se
arrancharam para a cidade de Bebedouros – SP.

Na cidade de Bebedouros, a família Silveira Lima, se


tornou parte importante da histórica de sua fundação.
Chegaram em um momento, que a região ainda estava sob
Figura 6 - Epaminondas S. Lima circunstâncias primárias. Cortaram árvores, cercaram terras
e fixaram-se como uma das primeiras famílias na região. Os Lima eram católicos,
pessoas simples e conhecedores do cultivo da terra, algo que lhes proporcionou
dentro de pouco tempo reconhecimento e notoriedade dentro da região.

No final do século 19, a família Lima ergue um Cruzeiro na fazenda, do qual


hoje ainda existe. A vida seguia no ritmo do campo e com a vinda de missionários
presbiterianos para a região, uma grande parte da família se converteu, trazendo
mudanças importantes. A conversão protestante no final do século 19 estava
intrinsicamente associada a melhorias sociais e culturais e isto realmente se destaca
na família dos Silveira Lima, onde boa parte teve além de sólida carreira profissional
à formação teológica.

30
Detalhas da história biográfica da família dos Lima, foi relatada pelo Rev. Eber Silveira Lima, sobrinho do Rev.
Epaminondas Silveira Lima, no canal da ICPBB. Disponível em: https://goo.gl/jx1vyq. Acesso em 13 de Novembro de
2018.
39

Após à conversão, os Lima, mantendo o cruzeiro na fazenda, respeitando-o


como marco da fé em Cristo, iniciaram atividades junto aos missionários,
compartilhando a outros a fé protestante. Desta forma nasceu em 1905 a Igreja
Presbiteriana Independente de Bebedouros dentro da fazendo dos Lima.

No final da década de trinta, alguns Lima, começaram a se mudar para São


Paulo. Um deles foi Epaminondas Silveira Lima, também irmãos e primos, isso
aconteceu com o fenômeno de crescimento industrial na capital paulista. Com grande
capacidade cultural, os Lima se deram muito bem na nova cidade, abrindo uma
empresa na área de produção química, a Silveira Lima e Companhia Limitada, na rua
da Glória, centro da capital, formada pelos sócios Epaminondas, Norival e outros
irmãos Lima.

Os Lima mantinham laços importantes de família, que se tornavam ainda mais


fortes pela participação ativa na comunidade presbiteriana. Se tornaram líderes
renomados na Igreja Presbiteriana Independente do Cambuci. Em 1947, o então
Presbítero Epaminondas Silveira Lima, se tornou integrante do conselho da igreja.
Nesse ano também conhece Ada Endrigo da Silveira Lima e se casam. A partir de
então suas vidas se tornam muito dedicadas ao exercício ministerial no contexto
presbiteriano. Ada que já era cristã desde os nove anos de idade, muito atuante e uma
entusiasta mulher de Deus, tornar-se com seu esposo, professores e
superintendentes da escola dominical.

Nos anos quarenta, muitos missionários americanos, de diversas confissões


tradicionais vieram para o Brasil. Havia um clamor por avivamento entre as igrejas
brasileiras e muitos núcleos de oração nascia. O Reverendo Epaminondas conhece o
pastor Dom Philips, atuante ministro entre jovens, e a partir de então, participar de
encontros de oração por avivamento espiritual. Sua residência torna-se também
espaço para oração e conta-se que algumas vezes, se tornava difícil o acesso ao
interior da casa, fazendo com que alguns participantes caíssem de joelhos no próprio
jardim. Epaminondas, após uma viagem, vê sua esposa diferente e renovada, algo
que após um processo, também acontece com ele.

Através do pastor Dom Philips, conhece os missionários Harold Willians e


Raymond Boatright e os convida a ministrar uma semana na Igreja Presbiteriana do
Cambuci, algo que muda radicalmente a direção de seu ministério. A partir de então
40

se vê sob pressão do presbitério da igreja, que não queria mais que tais movimentos
continuassem a influenciar outros membros da igreja. Epaminondas sai da instituição
presbiteriana com muita tristeza, pois desde sua infância esteve muito presente e
dedicado.

Fundou a Cruzada Brasileira de Evangelização e a Igreja Cristã Pentecostal da


Bíblia no Brasil, que a partir de 1958 já tinha sede própria. Desta forma, o Rev.
Epaminondas exerceu seu ministério, viajando pelo Brasil, levando sua tenda que fora
trazida pelo missionário Boatright após retornar ao seu país, ofertada pelo evangelista
Oral Roberts e trazida dos Estados Unidos. Rev. Epaminondas, por onde levava sua
cruzada, deixava a marca do avivamento, fundando assim uma nova igreja para a
denominação.

O Rev. Epaminondas Silveira Lima, influenciou milhares de pastores, alguns,


posteriormente, lideraram grandes movimentos no Brasil e fora do Brasil. Sua última
cruzada se deu no ano de 1979, na cidade de Xaxim – SC. Durante o retorno, pararam
para almoçar, após todos darem graças, o reverendo sentou-se começou sua
refeição, mas com a mão no peito, teve um ataque fulminante do coração e partiu.

Seu legado continua vivo entre aqueles que o conheceram e foram nutridos por
sua mensagem de amor, paz, esperança e salvação em Jesus Cristo. Na cidade de
Bebedouro, em sua homenagem, uma rua de um bairro residencial, recebeu seu
nome, Professor Epaminondas Silveira Lima.

2.4. Pastor Enéas Tognini

A vida do Pr. Enéas Tognini é sem dúvida uma marca na


vida de quem cruzou o seu caminho, pois sua personalidade
consagrada, conseguiu tocar e atrair inúmeros vocacionados a
seguir seu exemplo. Não existe como contar a história de
renovação brasileira, sem nomear este ícone e humilde servo de
Deus.
Figura 7 - Enéas Tognini
Enéas, nasceu em 20 de abril de 1914, na cidade de Botucatu
(SP), Filho de Adolfo Carlo Setephano Tognini e Letícia Tognini, ambos italianos.
41

Converteu-se ao evangelho em 17 de setembro de 1933, em Campo Grande (MS),


através do pastor Egídio Gióia, que também o batizou nas águas no mesmo ano.

Em fevereiro de 1938, por recomendação da Primeira Igreja Batista de Campo


Grande, foi para o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro,
onde se formou bacharel em Teologia, em 1941. Neste mesmo ano foi ordenado ao
ministério da palavra, na Igreja Batista de Itacuruçá, Rio de Janeiro, em 20 de maio.
Também, no mesmo ano, em 29 de novembro, casou-se com Nadir França Lessa e
tiveram três filhas: Dinéia, Edna e Noemi.

De 1941 a 1946, pastoreou a Igreja Batista do Barro Preto, em Belo Horizonte.


De dezembro de 1946 a dezembro de 1963, pastoreou a Igreja Batista de Perdizes
em São Paulo. Entre 1956 e 1961, foi diretor-geral do Colégio Batista Brasileiro, em
São Paulo.

Enéas, como pastor, era extremamente tradicional a doutrina batista, da qual


defendia de forma fiel a tudo o que viesse de pentecostais. Porém, na década de 50,
percebeu que alguns de seus irmãos batistas, pastor José Rego do Nascimento e
missionária Rosalee Mills Appleby em Minas Gerais, estavam enfatizando a
renovação espiritual como uma proposta de Deus para a igreja, isto chamou a atenção
do intelectual Enéas Tognini e como ele mesmo disse, foi no penúltimo dia de
congresso em São Paulo, enquanto o pastor José do Rego ministrava, que “uma seta
acertou seu coração” (TOGNINI, 2006, p. 149-161):

Aí eu comecei a chorar. Depois disso, comecei a buscar mais a Deus.


A Bíblia passou a ser um livro novo para mim, a oração era nova. Mas
ainda não havia sido revestido de poder. Quando orava em minha
casa, certa tarde, sozinho, ouvi uma voz bem clara dizendo: “Eis que
estou para fazer uma coisa nova”. Eu estava ajoelhado, orando,
peguei o fone que estava perto, não era [ninguém]. Fui à janela e
chamei a minha esposa, mas não havia ninguém. Era Deus
anunciando. Aí achei no livro do profeta Isaias: “Eis que estou para
fazer uma coisa nova”. E assim foi. No dia 16 de agosto de 1958, em
me levantei às 5h para orar. Era feriado no colégio, a minha família
dormia, orei por um hora e meia mais ou menos, e parece que naquele
dia Deus não me respondia. “Oh! Deus, porque não me respondes?”
perguntei. Então nessa hora do meio dos livros, veio uma voz
imperativa: “Entrega”. Eu não tinha dúvida de que era a voz de Deus,
que ouvira poucos dias antes. Aí eu disse: Senhor, entregar o quê?
Ele disse: “Esta biblioteca”. Uma biblioteca de uns 4 mil volumes.
Disse: “Eu entrego”. Ele falou: “A direção do colégio”. (Outro ídolo).
“Eu entrego”. “A Igreja Batista de Perdizes”. “Eu entrego”. Ele disse:
“A família”. Aí eu relutei. Sempre fui um homem caseiro. Eu disse: “Eu
42

entrego”. Aí, quando entreguei o último ídolo, veio o poder sobre mim,
poder, poder, poder que eu não resistia. Não dormi, mas acordei,
encontrando a mesa banhada em lágrimas. Abri a gaveta da
escrivaninha. Havia uma arma, uma porção de coisas, até documento
meio falsificado. Peguei aquelas coisas todas, quebrei, rasguei e
enterrei no quintal. Naquele dia não tive força para mais nada e parece
que estava no céu. E eu estava naquele êxtase. Depois eu tive de ir
até Rio de Janeiro para pedir perdão a um pastor do colégio batista do
Rio, com quem eu tinha brigado. Ficamos estremecidos por 15 anos.
Muita renúncia. Daí para frente, tive que procurar muitos pastores,
acertar coisas na minha vida. Mas foi uma coisa gloriosa. Entreguei a
Deus todos os ídolos, e ele me abençoou.

Ao tomarem conhecimento de sua experiência pentecostal, todos os seus


colegas, pastores batistas, afastaram-se completamente. Dois deles eram grandes
líderes da denominação. Tognini foi considerado como herege, pois havia tido “uma
experiência profunda com o Espírito Santo”. Neste período, em 1960, na cidade de
Monte Verde (MG), escreveu seu famoso livro Batismo no Espírito Santo. Vinculou-se
ao Movimento de Renovação Espiritual. Deixou o colégio em 8 de março de 1961, e
a igreja, em 1° de janeiro de 1964, e passou a percorrer o Brasil, pregando a
renovação espiritual e divulgando os seus livros entre as igrejas tradicionais, Batistas,
Presbiterianas, Metodistas, Congregacionais e Luteranas. Em 1959, passou a dirigir
um programa de rádio denominado: “Renovação Espiritual”, mais tarde, teve seu
nome mudado para “Igreja Evangélica do Lar”.

Em 1963, no dia 15 de novembro, organizou o Dia Nacional de Jejum e


Arrependimento, com o propósito declarado, segundo ele, de mobilizar os evangélicos
do país contra o comunismo, que estaria prestes a tomar conta do Brasil. Antes de
lançar o plano, ele o expôs a um oficial militar, na capital paulista. O militar aprovou,
dizendo-lhe que seria, de fato, uma grande ajuda na luta contra os comunistas. Depois
que Jango foi derrubado, Tognini avaliou as ações militares de intervenção como uma
resposta divina ao Dia Nacional de Jejum e Arrependimento. Em 16 de setembro de
1967, junto com José Rego do Nascimento e outros pastores, fundou a Convenção
Batista Nacional, com cerca de 60 igrejas que haviam sido expulsas da Convenção
Batista Brasileira por aceitarem a experiência pentecostal. Conforme resumo de sua
obra em seu livro (ENÉAS, 1985, p. 140-161): “Nos 18 anos em que percorri o Brasil
pregando o evangelho, mais de 100 mil almas se entregaram a Cristo e mais de 30
livros foram publicados (...)”. Fundou a Igreja Batista do Povo no bairro da Vila Mariana
em 17 de janeiro de 1981, foi jubilado no ano de 2000, passando a direção da igreja
43

ao então pastor Jonas Neves. Pr. Enéas Tognini Viveu 101 anos dos quais 74 foram
dedicados ao santo ministério. Faleceu no dia 09 de setembro, em São Paulo (SP).

2.5. Rosalee Mills Appleby

Muitas mulheres, tiveram ativa participação na renovação espiritual do Brasil,


foi o caso de Rosalee Mills Aplleby e Stela Câmara Dubois, que fizeram uma parceria
espiritual. O pastor Enéas Tognini, as destacou em sua obra: (ENÉAS, 1985, p. 7-8):

Duas vidas cheias do poder de Deus, transbordantes da graça do céu,


vidas que se derramaram no altar do Senhor em holocausto santo e
puro; vidas que viveram perto de Deus, que inspiraram outras a
palmilhar o mesmo caminho de luz e amor; vidas que expressaram
bondade divina, foram refúgio para os viajores cansados, batidos por
violentas tempestades, desanimados e abatidos; viajores que se
dirigiam para os precipícios do inferno; nelas encontraram alento, nova
disposição e coragem para prosseguir na batalha e empunhar a
Espada do Espírito; vidas que encarnaram a verdade, a humildade, a
mansidão, a sinceridade e a beleza da vida nos seus lindos matizes.
Figura 8 - Rosalee Apleby

A missionária Rosalee teve destaque proeminente, sendo considerada por


muitos como a mãe da renovação espiritual no Brasil. Sua santidade e devoção ao
Senhor, traz inspiração para muitos homens e mulheres da igreja de Cristo. O pastor
Enéas Tognini, destaca na dedicatória do livro Labaredas de Fogo, uma clara nota da
importância de Rosalee para a renovação Batista no Brasil.

Uns constroem neste mundo com a cabeça: São os intelectuais; outros


com as mãos: São os artífices; e há aqueles que edificam e laboram
com o coração cheio do Espírito: São os santos. Estes fazem para a
eternidade e tratam com almas. Dona Rosalee pertence a esta
categoria. Buscou a Deus e o encontrou e da sua presença tem
esparzido sobre milhares fragrâncias perenes. Avivamento, um
avivamento no Brasil, terra a que sabe amar, é o tema constante de
sua vida. (APPLEBY, 1963, p. 4)

Rosalee, nasceu no ano de 1885, veio para o Brasil ainda jovem e recém-
casada com o norte-americano David Appeby, fixaram residência em Belo Horizonte,
Minas Gerais. David Appleby faleceu em 15 de outubro de 1925, um dia antes de seu
filho nascer. Antes de falecer disse a sua esposa: “Estão me chamando lá em
cima...cuide de nosso filho...faça dele um homem...Realize o meu trabalho e o
seu...Estou completamente feliz...Bendize, o minh’alma, ao Senhor...”
44

Rosalee, teve seu bebê em sua residência, num quarto afastado, enquanto o
corpo de David estava sendo velado na sala. Tal experiência, de perder precocemente
o marido, logo após chegarem ao Brasil, trouxe a essa grande mulher de Deus, uma
necessidade maior de comunhão com Deus, afetando todo o seu ministério de
pregação da mensagem da cruz e unção do Espírito Santo.

Sua dedicada vida ao ministério trouxe muitos frutos, encorajando igrejas a


perseverarem em oração de avivamento espiritual, tornando-se um dos nomes mais
importantes da renovação Batista brasileira.31O pastor Márcio Valadão, no site da
Igreja Batista de Lagoinha descrevendo sobre a história da instituição, destaca a
grandeza e nobre virtude de Rosalee:

Ela orava por um avivamento espiritual. Havia dentro do coração da


Dona Rosalee este sonho, de um avivamento espiritual. E ela era uma
mulher cheia de Deus, contagiante! A influência dela era tão grande
na igreja que, no início dos anos 60, muitas mães, ao conceberem,
davam o nome às suas filhas também de Rosalee. Se você conhecer
alguém chamada Rosalee, pode saber que foi da época (risos).

Dezenas de livros foram escritos por Rosalee, alguns best-sellers nos Estados
Unidos e na Inglaterra. “O livro de devocionais diárias que escreveu em parceria com
Stela Dubois, Ouro, Incenso e Mirra, publicado pela Casa Publicadora Batista, teve
cinco edições, com três mil tiragens cada e abençoou muitas igrejas no Brasil”.

Rosalee, fundou muitas igrejas em Belo Horizonte e um orfanato conforme


descreve o pastor Enéas Tognini:

Saía no domingo pela manhã com duas bananas na bolsa e trabalhava


o dia todo, sem esmorecimento. Seu lanche e seu almoço eram
bananas. Quantas vezes se privou de roupa bonita para empregar seu
dinheiro no querido orfanato em terras mineiras que hoje traz seu
nome. (ENÉAS, 1985, p. 9)

A participação de Rosalee no movimento de renovação Batista foi fundamental,


pois foi sustentáculo dessa base espiritual. Ela orava por um avivamento que
incendiasse com fogo do céu as igrejas históricas brasileiras.

31
BATISTA DE LAGOINHA. A história da igreja de lagoinha, bem como a mencionada importância da vida dedicada
de Rosaleee Appleby, ENCONTRAM-SE no portal da instituição. Disponível em: https://goo.gl/vYoMaU. Acesso
em 22 de Outubro de 2018.
45

A missionária jamais se deixou abalar por críticas vindas de dentro da própria


denominação e declarava que um batista, presbiteriano, metodista, congregacional ou
luterano avivado deveria permanecer em sua igreja e aquecer seus irmãos.

A história de Rosalee Mills Appleby é a confirmação de uma vida dedicada a


Deus, que tendo sua fé e chamado confirmado, se desprende de tudo para satisfazer
a vontade soberana do Senhor da Seara.

Após décadas realizando a obra de Deus no Brasil, volta para os Estados


Unidos e em 1985, com 90 anos, continuava incendiando igrejas com sua pregação e
modelo missional, intercedendo pela terra Brasil. Enxergava pouco, mas ainda
escrevia cartas com letras grandes, como o apóstolo Paulo para seus queridos amigos
brasileiros. Em 20 de maio de 1991, faleceu aos 96 anos de idade, em Canto,
Mississippi.

2.6. A Importância do Legado

Todos os nomes mencionados neste capítulo tiveram suas vidas dedicadas ao


ministério, foram pessoas simples e consagradas, que tendo no coração o desejo de
levar a mensagem, desprenderam-se de tudo o que poderia paralisa-los e construíram
aquilo pelo qual, ainda hoje produz muitos frutos.

Obviamente que tendo lançado o fundamento, edificaram novas igrejas e com


elas a doutrina pentecostal foi gradativamente sendo disseminada e se estendendo
até os nossos dias. Desta forma, conhecer detalhes sobre a teologia pentecostal se
torna absolutamente importante, pois quanto a muitas das atuais igrejas pentecostais,
até mesmo herdeiras dos ditos movimentos de segunda onda, nota-se que já se
distanciaram muito daquilo que seus principais expoentes anteriormente ensinaram.
46

3. A TEOLOGIA PENTECOSTAL DO MOVIMENTO DA SEGUNDA ONDA

No pentecostalismo clássico, trazido pelos primeiros missionários, a tradição e


costumes eram suas maiores marcas. Estabeleceram condutas e valores doutrinários
que são reconhecidos até hoje em muitas denominações. Podemos ver por exemplo,
que em Igrejas Assembleias de Deus, como também na Congregação Cristã do Brasil,
muitas tradições ainda são preservadas e a liturgia é extremamente peculiar. Suas
tradições são percebidas na maneira de pregar, cantar e orar e seus costumes são
reconhecidos na maneira de vestir, cumprimentar, até mesmo na forma de sentar.
Suas formalidades foram diretamente influenciadas pela estreita caminhada com
líderes de igrejas pentecostais americanas.

Para igrejas do movimento pentecostal ditos de segunda onda, iremos notar


também alguns costumes e tradições herdados de igrejas históricas, porém, sua
principal marca é sem dúvida a ênfase as curas milagrosas e ao batismo com o
Espírito Santo. Pode se notar também incontestável influência da igreja pentecostal
americana e qualquer que seja a denominação pentecostal surgida no contexto, se
perceberá doutrinas e interpretações equivalentes.

3.1. Origem da Doutrina Pentecostal da Segunda Onda

A origem da doutrina dos movimentos pentecostais, a partir da década de


cinquenta, como já vimos, foi trazida por evangelístas americanos, que após terem
realizado uma grande campanha de avivamento no bairro do Cambuci, iniciaram a
Cruzada Nacional de Evangelização, apoiando outros movimentos de avivamento
como a Cruzada Brasileira de Evangelização e motivando a Renovação Batista, que
surgiu do ativo envolvimento de irmãos e irmãs que oravam incesantemente por um
Avivamento no pelo Brasil.

Com a chegada do missionário Harold Williams, a doutrina pentecostal foi


comunicada de forma extremamente simples. Sua pregação, consistia na visão
doutrinária de sua denominação, a Foursquare Gospel Church, fundada Aimee
Sample McPherson. Visão esta que teria recebido durante uma campanha de
evangelização na cidade de Oakland, Califórnia em 1922.
47

A visão Quadrangular, para Aimee surgiu confirmada pelo texto sagrado sobre
a descrição do templo e suas medidas: “Depois ele mediu o pátio: era quadrado,
medindo cinquenta metros de comprimento e cinquenta de largura. E o altar ficava em
frente do templo” (Ez 40:47). E também no livro de Apocalipse sobre medidas da
cidade celestial, a nova Jerusalém, sumariamente apresentada na forma quadrada.

“Evangelho Quadrangular” representa aquilo que é igualmente


equilibrado por todos os lados, estabelecido e resistente. Tal confiança
no poder do evangelho é expressa em Hebreus 13:8, o que é
apresentado nas igrejas quadrangulares como “Jesus Cristo é o
mesmo ontem, hoje e será eternamente”. (MORAES, 2015, p. 390)

O termo representa os 4 pilares do ministério de Jesus na Terra:

O Salvador

“Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre Ele; e pelas Suas pisaduras, fomos sarados.”
Isaías 53:5 (Tito 2:14; Isaías 55:7; 1:18; Hebreus 7:25).

O Médico dos médicos

“... Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças.” Mateus
8:17 (Marcos 16:17,18; Mateus 9:5,6; Atos 4:29,30).

O Batizador com o Espírito Santo

“Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito
Santo, não muito depois destes dias... Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que
há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a
Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.” Atos 1:5,8 (João 14:16,17; Atos 2:4;
8:17; 10:44-46; 1 Cor 3:16).

O Rei que há de vir

“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com
a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro... Depois
nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a
encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.” 1
Tessalonicenses 4:16,17 (Tito 2:12,13; Mateus 24:36-44, Hebreus 9:28; Lucas 19:13;
12:35-37).
Essa linha doutrinária, influenciou praticamente todas as igrejas pentecostais
no ambiente protestante de então. Se tornou um chavão, líderes das mais diversas
denominações diziam frases como: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para
sempre” (Hb 13:8). “Jesus Cristo Salva, Cura, Batiza com o Espírito Santo e Voltará”...
48

Embora a doutrina pentecostal seja simples, existe quem a torne complicada,


talvez porque algumas pessoas garantem receber dons que jamais foram bíblicos. No
início da igreja pentecostal de então, alguns apelidos já eram dados aos seguidores
do movimento: “povo barulhento, movimento do cai cai” entre outros. Os excessos
existem de fato, mas a teologia pentecostal não pode ser reduzida a experiências
pessoais. A doutrina pentecostal deve manter fundamentos concretos, que de fato
existem e devem ter prevalência.

3.2. A Soteriologia Pentecostal

A Doutrina da Salvação no pentecostalismo é predominantemente Arminiana,


com raríssimas exceções, como no contexto da renovação batista com uma doutrina
mais propensa ao Calvinismo. Não pretendo traçar todo o conteúdo sobre o assunto,
apenas alguns aspectos sobre a Doutrina da Eleição no contexto pentecostal.

Alguns teóricos do pentecostalismo, apresentam a Doutrina da Eleição de


forma muito equilibrada e com grande tendência para o Calvinismo, como é o caso de
J.Rodman Williams, que em sua obra Teologia Sistemática, uma Perspectiva
Pentecostal, destaca a Eleição como “Chamado especial da parte de Deus”,
ocorrendo em dois níveis: o primeiro denomina como o “Chamado Geral para a
Salvação” e o segundo como “Chamado Eficaz para a Salvação” (WILLIAMS, 2011,
p. 363,364). Compreende que a chamada para a salvação é ilimitada, não sendo
privilégio de apenas alguns a capacidade de crer a fim de recebe-la. Portanto, para
J.Rodman, a Eleição “Não exclui a responsabilidade humana” e é condicionada
exclusivamente pela fé, conforme (WILLIAMS, 2011, p. 368).

Há, porém, uma linha mais extremista, principalmente entre pentecostais


clássicos, também entre muitos de seus contemporâneos. Tal conceito condiciona a
salvação a passos que deve ser seguido pelos homens, em o não cumprimento a
salvação poderá ser perdida.

Para aqueles que defendem uma linha tão extrema, a Eleição é uma condição
dada pela perseverança dos crentes. Eles acreditam que o homem seja capaz de
fazer suas próprias escolhas e acertar o alvo quantas vezes quiser. A Graça do Senhor
é maravilhosa, porém, ainda que haja contemplação, o homem poderá virar as costas.
49

Para eles, hoje você pode estar salvo e daqui a cinco minutos perder a salvação, mas
poderá retoma-la em seguida novamente. Sobre esse pensamento, a obra Teologia
Sistemática Pentecostal faz as seguintes considerações:

Deus nao elege uns para a salvacao, e outros, para a perdicao. O


homem é capaz de fazer a livre-escolha. E a graca de Deus nao é
irresistivel, como muitos ensinam, valendo-se do falacioso chavão:
“Uma vez salvo, salvo para sempre”. (SOUZA, 2008, p. 354)

O livre arbítrio é o provável responsável pelo medo do inferno em muita gente.


Uma das razões disto acontecer, é também a abertura para profecias sem critérios
bíblicos, com elas, surgem falsas teorias sobre céu e inferno. Isto não ocorre ou
ocorreu em todas as igrejas do contexto pentecostal, mas certamente, a Doutrina da
Eleição na perspectiva pentecostal, carrega muitos exageros, claro que muitas
virtudes também. Pois se de um lado existe o fardo e medo, também existem vidas
muito dedicadas e consagradas, e consequentemente, um desejo infindo pelo lar
celestial. É evidente que cada cristão deva ter vida no altar, vida santa, todavia, esse
desejo não é uma regra, ele arderá continuamente no coração de um Eleito.

No ambiente da renovação espiritual entre batistas, prevalece o Calvinismo, e


em muitos casos, a doutrina é consideravelmente percebida. É de fundamental razão
para cristãos renovados a confissão de fé, ela é o alicerce perene da vocação e não
salvação verdadeira, se não existir primeiro a fé verdadeira. Portanto, se houver a fé,
a salvação será operada inevitavelmente e irremediavelmente.

Tanto em um movimento onde o livre arbítrio se tornou mais forte, como no


outro, em que a Doutrina da Eleição prevaleceu, ambos, tiveram em sua histórica
trajetória e grande parte dos crentes deste tempo, ansiavam ardentemente pelo
encontro eternal.

3.3. Pneumatologia Pentecostal

Na teologia pentecostal, a terceira pessoa da trindade tem fundamental


participação na vida da igreja. De fato, sem o Espírito Santo não haveria igreja e é por
meio d’Ele que todas as bênçãos em Jesus são reveladas aos crentes. Também é Ele
quem acompanha e ajuda-os em todas as coisas. Ele é o “Paráclito ou Paracleto”, e
significa: "aquele que consola ou conforta; aquele que encoraja e reanima; aquele que
50

revive; aquele que intercede em nosso favor como um defensor numa corte". Dr. J
Rodman Williams facilita a tarefa de compreensão de alguns pontos chave, que nutre
a teologia pentecostal. Sua vasta pesquisa, traz inequívoca consideração ao Deus
Espírito Santo, enfatizando sua personalidade, conforme a teologia pentecostal.
(WILLIAMS, 2011, p. 472-510).

IMATERIALIDADE – A palavra “espírito” carrega a nota de intangibilidade,


incorporalidade, portanto imaterialidade.

LIBERDADE – A palavra “espírito” também significa liberdade de movimento. Uma


vez que o espírito não conhece nenhuma limitação corpórea, não segue um padrão
predeterminado. “Onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade (2 co 3.17).

PODER/VIRTUDE – Espírito traz poder (dynamis). Aqueles, sobre os quais o Espírito


vem, recebem essa “dinamite”: “Receberão poder [dynamis] quando o Espírito Santo
descer sobre vocês” (At 1.8). O Espírito transmite a energia de Deus. (Alguns teólogos
discordam desta interpretação).

ESPÍRITO DA VERDADE – Expressão usada para designar a virtude divina, aquele


que fala aquilo que o mundo desconhece e só através do Espírito Santo poderá
conhecer. (Jo 14:16-17; 15:26; 16:13; 14:26) e (1Co 2:14).

ESPÍRITO DE SANTIDADE – Expressão usada pelo apóstolo Paulo, para dar ênfase
a pessoa de Cristo. (Rm 1:4) e (Rm 8:11).

ESPÍRITO DE VIDA – Expressão usada pelo apóstolo Paulo para dar ênfase a nova
vida em Cristo (Rm 8:2).

ESPÍRITO DE ADOÇÃO – Expressão usada pelo apóstolo Paulo, para dar ênfase a
adoção dos filhos de Deus (Rm 8:15).

ESPÍRITO DA GRAÇA – Expressão usada para enfatizar a continuidade do ministério


de Jesus pelo Espírito Santo (Hb 10:29)

ESPÍRITO DA GLÓRIA – Expressão usada pelo apóstolo Pedro para enfatizar o


sofrimento dos mártires em Cristo (1Pe 4:14).

ESPÍRITO ETERNO – Expressão usada para em Hebreus para exaltar o sacrifício de


Jesus, único e eterno. (Hb 9:14).
51

3.3.1. Simbolos atribuídos ao Espírito Santo

Alguns “Símbolos”, também são usados como expressão comum no linguajar


pentecostal, são relacionados ao Batismo no Espírito Santo:

VENTO – Expressão usada com base no texto de Atos (2:2).


FOGO – Símbolo universal do pentecostalismo clássico, em (Mt 3:11;Lc 3:16).
ÁGUA – Símbolo também usado por Jesus, para referir a sua palavra, também a vida
pelo Espírito Santo. Expressão muito usada no pentecostalismo com base no texto de
(Jo 7:37-39).
POMBA – Expressão usada com base no texto de (Lc 3:22; Jo 1:32).
SELO – Símbolo usado para denominar alguém marcado pelo Espírito Santo, através
do Batismo com o Espírito Santo (Ef 1:13-14).
ÓLEO – Este símbolo é comumente usado para designar a unção do Espírito Santo,
usado como referência de curas, milagres e capacitação ministerial. Usada com base
em (1Sm 16:12-13; Lc 4:18; 1Jo 2:20 e 27).

3.4. Os Dons Carismáticos no Movimento da Segunda Onda

No contexto geral, todas as denominações pentecostais, tanto do movimento


clássico, como também daquelas que nasceram através de movimentos pentecostais
surgidos a partir da década de quarenta, tem nos dons espirituais sua principal
característica, principalmente o batismo com o Espírito Santo, que para grande parte
dos pentecostais é caracterizado pelo dom de falar línguas. Para pentecostais,
manifestações espirituais são fruto de comunhão com o Espírito Santo, que lhes é
dado para terem autoridade espiritual e cumprirem a grande comissão. De fato a
presença do Espírito Santo é quem nos guiará a cumprir o chamado de cada cristão
e não existe teologia que seja transmitida com vida de Deus, que não venha banhada
pela presença do Espírito Santo como disse (BARTH, 2007, p. 39)

A teologia deixa de ser espiritual onde se deixa afastar do ar fresco e


movimentado do Espírito do Senhor, que é o único ambiente em que
poderá vingar, e se deixar atrair e impelir para dentro de recintos em
cujo ar viciado está automática e radicalmente impedida de ser e de
realizar o que poderia e deveria.
52

A teologia pentecostal tem virtudes inegáveis, não apenas pela ênfase aos
dons espirituais, mas também pelo resgate da pessoa do Espírito Santo como Senhor
ativo na igreja, que ministra e se comunica, até mesmo de forma sobrenatural. Essa
marca nas igrejas pentecostais tem sua premissa no advento descrito no livro de atos,
no capítulo dois, quando todos foram cheios do Espírito Santo. No pentecostalismo a
experiência da igreja apostólica, deverá ser vivenciada por todos os cristãos.

Os dons, tem sua importância e devem ser buscados conforme o apóstolo


Paulo escreve a igreja de Coríntios, “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e
eu vos mostrarei um caminho mais excelente” (1 Co 12:31). O apóstolo, não apenas
mostra a importância dos dons, como dedica esse capítulo para descrever o valor que
cada um deles tem, aconselhando a toda a comunidade de cristãos a buscarem os
melhores dons. Portanto, não são apenas o dom de línguas ou de curas que fará uma
igreja vibrante, ativa e frutífera, mas cada dom colocado a serviço do reino de Deus.

3.4.1. A Glossolália ou Dom de Linguas

A Glossolália, é o fenômeno de falar em línguas ou como alguns grupos


pentecostais costumam dizer: falar em mistério. É talvez a mais polêmica e debatida
doutrina pentecostal e foi um dos principais motivos de divisão em igrejas históricas
do início da década de quarenta, até os nossos dias.

Algumas igrejas o tem como um evento isolado, destinado a um grupo


específico da igreja de Jesus no dia de Pentecostes, são os “Cessassionistas”,
enquanto outras creem que não foi um evento isolado, chamados de “Continuistas”.
Dr. J Rodman Williams em sua obra sobre teologia na perspectiva pentecostal,
comenta sobre essa doutrina (WILLIAMS, 2011, p. 536-560).

Para pentecostais do movimento de segunda onda, a manifestação do dom de


línguas tem continuidade e todos os cristãos devem experimentar afim de terem suas
vidas e ministérios avivados. Rodman destaca algumas importantes ocasiões, onde
pode-se verificar a atuação do dom de linguas na história da igreja:

- Os discípulos que se reuniram no dia de Pentecostes, “ficaram cheios do Espírito


Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava” (At
2.4). Esse falar em línguas prescedeu o discurso de Pedro para a multidão (14-16);
53

- Em Cesaréia, onde Pedro primeiro pregou o evangelho aos gentios, o falar em


línguas aconteceu depois que o Espírito Santo foi derramado. Lucas escreve: “Os fiéis
[...] que tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se
derramasse também sobre os gentios.

- Quando Paulo impôs as mãos aos efésios, “veio sobre eles o Espírito Santo, e
começaram a falar em línguas e a profetizar” (At 19.6). Assim, a vinda do Espírito em
Jerusalém, Cesaréia e Éfeso foi acompanhada do falar em línguas.

Algumas outras ocasiões, se tornaram especificamente argumentativas


pentecostais para a continuidade Batismo do Espírito Santo. Em atos, a história do
mágico Simão, querendo comprar dos apóstolos a capacidade de impor as mão para
que outras pessoas pudecem receber o Espírito Santo, também chama muita atenção
e é um argumento bastante contundente na defesa do continuismo.

De fato, houve uma atividade inicial do ministério do Espírito Santo e para a


igreja pentecostal essa foi uma questão extremamente relevante, a ponto de se tornar
a mais vigorosa defesa de sua teologia. Vejo que isto não pode ser compreendido
como algo distante da Palavra, até porque o N.T descreve a doutrina historicamente
e doutrinariamente. Porém, também não pode ser compreendida como o padrão único
de uma igreja cristã, creio que algumas pessoas falam ou falaram e outras não falam
e talvez jamais falarão e isto não as tornarão menos espiritual ou capacitadas a
cumprirem com excelência a vocação.

3.4.2. Dom de Profecias

Esse é outro tema que demanda muitos debates, até mesmo no ambiente
pentecostal, pois trata de um delicado assunto, onde algumas pessoas, em nome de
Deus, acabam entregando muitas mensagens, tidas como absurdas. Isto acontecia
com muita frequência! As chamadas profecias eram em grande parte uma mistura de
línguas e interpretação, que nem sempre tinham claro sentido ou coerência na
mensagem. Claro que não podemos entrar no julgamento de dizer o que é e o que
não é de Deus, a própria Escritura nos mostrará o caminho para provar uma profecia.
A Escritura tem sido garantia e critério para que uma profecia seja aceita como
inspirada ou não, e já era o critério de muitas igrejas no contexto dos movimentos de
54

renovação pentecostal. Portanto, para ser uma profecia inspirada, necessitará antes
de tudo ser provada.

De acordo com 1 Coríntios 14:12-14, a profecia é a manifestação do Espírito Santo


através do qual, Deus envia uma mensagem que se dirige ao corpo de crentes
presentes, tendo como propósito a sua edificação, exortação e conforto. Como está
escrito em 1 Corintios 14:3-4 “Mas o que profetiza fala aos homens para edificação,
exortação e consolação...mas o que profetiza edifica a igreja. Isael de Araújo, no
Dicionário do Movimento Pentecostal (MORAES, 2015, p. 269), salienta que “é preciso
fazer distinção entre a manifestação momentânea do Espírito, da profecia como dom
ministerial na igreja, mencionada em Efésios 4.11”. Isael ainda continua, dizendo que
“como dom de ministéiro, a profecia é concedida a apenas alguns crentes, os quais
servem na igreja cmo ministros profetas”. Isso significa que, o dom de profecia poderá
ser ministrado a igreja, não apenas por ocasião de uma manifestação que deverá ser
colocada a prova, mas que ministros, ungidos, poderão dar voz profética, através da
ministração da escritura sagrada. Como manifestação do Espírito, a profecia está
potencialmente disponível a todo cristão cheio dele (At 2:16-18).

3.4.3. Dons de Curas e Operação de Milagres

As campanhas dos chamados movimentos pentecostais de segunda onda,


tiveram grande repercussão no Brasil, pois chamou a atenção de doentes de toda a
parte. Na capital paulista, durante a campanha do Evangelista Raymond Boatright
milhares de pessoas vieram por causa dos anúncios aos doentes da cidade. Tamanha
foi a demanda por lugares na tenda, que mais de 15.000 pessoas acumularam-se em
fila aguardando o término entre uma reunião e outra.

Não temos dúvidas de que esse é um dom que chama multidões, afinal de
contas elas seguiam a Jesus por onde ele andava, buscando alívio para suas
doenças. Mas existem critérios bíblicos a serem analisados. Na doutrina pentecostal
alguns dons eram manifestados e até hoje ainda se vê, trata-se do tal do dom de
revelação que a bíblia não menciona. Isael de Araújo, em sua obra, Diocionário do
Movimento Pentecostal destaca como “dom de palavra do conhecimento” (MORAES,
2015, p. 269):
55

Trata-se de uma mensagem vocal sária, enunciada mediante a


opração sobrenatural do Espírito Santo. Tal mensagem aplica a
revelação da palavra de Deus ou sabedoria do Espírito Santo a uma
situação ou problema específico (At 6:10; 15;13-22). Não se trata aqui
da sabedoria comum de Deus, para viver diário, que se tem pelo
diligente estudo e meditação nas coisas de Deus e na sua palavra,
pela oração (Tg 1:5-6).

De fato as curas e milagres aconteciam nos movimentos de renovação e tal era


a frequência, que poucos eram aqueles que não tinham testemunho de alguma cura
ou milagre. Tenho o depoimento de meus pais, que se converteram no ano de 1958 e
provaram milagrosamente em suas vidas.

Testemunho de meu pai:

Me converti em 1958, logo que a Igreja Cristã Pentecostal da Biblia


nasceu, fruto da Cruzada Brasileira de Evangelização. A anos tentava
deixar de fumar, mas assim que fui a frente, recebi a oração, só
consegui fumar por mais três dias e depois nunca mais... Pr. Zenilson
Sena de Carvalho, foi fundador de uma igreja na denominação, onde
exerceu ministério por mais de 40 anos. Hoje está com 82 anos de
idade e serve ao Senhor como intercessor de sua obra.

Testemunho de minha mãe:

Me converti após o convite de meu primo, hoje meu marido e pai de 6


filhos que tivemos. Eu era filha de maria na igreja católica, muito
devota a minhas imagens e acendia velas todos os dias. Quando fui a
frente após um apelo do evangelista Luís Schiliró, convidado naquela
noite do Rev. Epaminondas Silveira Lima, não sabia de nada sobre
igreja evangélica, não sabia orar, apenas rezar. Uma prima disse para
que eu desse glórias a Deus, e foi o que fiz dizendo: glórias, glórias,
glórias. Foi quando percebi que meu coração começou a querer saltar
para fora, mas era algo maravilhoso e de repente, não entendia mais
o que falava pois eram línguas estranhas que saiam de minha boca,
também não compreendia o porquê eu chorava tanto. Voltei para a
minha casa e estava muito feliz [...]. Eu, fumava dois maços de cigarro
por dia e ao retornar para a casa, resolvi fumar um cigarro antes de
dormir como era de costume, porém, tive náuseas como nunca avia
sentido, ela retornou após as outras tentativas e nunca mais consegui
fumar um cigarro [...]. Ainda na mesma noite, antes de dormir, fui rezar
e senti muita tristeza ao fazer, acendi as velas e fui dormir. Após algum
tempo, ouvi uma voz me acordar dizendo: ‘Jeremias 3’. Eu não
conhecia nada de bíblia, tão pouco sabia quem era Jeremias. Acordei
e minha irmã que já estava na igreja a algum tempo disse que era um
livro e capítulo da bíblia, fomos ler e dizia que a idolatria não agradava
a Deus. Minha irmã me disse que deveria quebrar os ídolos e servir
somente a Deus. Foi o que fiz e nunca mais tive outros deuses. Aracy
Rodrigues de Carvalho, se tornou uma poderosa mulher de Deus,
exercendo ao lado de seu primo de primeiro grau, foi ativamente
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envolvida com ministério de libertação e ação social. Hoje com 82


anos, ela e seu marido servem ao Senhor como intercessores.

3.5. Hinos e Corinhos do Movimento da Segunda Onda

A história da música no contexto protestante, é algo que vem de muito tempo.


Cada igreja histórica tem seu próprio repertório, que foi feito com base no conjunto de
vida do corpo de Cristo reunido. Seus costumes, doutrinas, somados a experiência da
fé, inspirou e capacitou os crentes, a também cantar o que vivem e adorar com música.

Os hinários sempre estiveram presente contando muito a respeito de cada


igreja. Os avivamentos foram responsáveis não apenas por uma contribuição
missiológica, não apenas belos sermões, mas também lindas canções.

As campanhas evangelisticas dos movimentos pentecostais tiveram uma forma


bastante diferente de compartilhamento da fé pentecostal. Os hinos cantados por
igrejas do pentecostalismo clássico, soam como fontes de profunda adoração. A
musicalidade sacra é inconfundível. Já nos movimentos pentecostais surgidos a partir
dos anos 40, novos ritmos e estilos começaram a atrair ouvintes para a música cristã.
Os hinários foram mantidos, mas junto com eles foram adaptados louvores temáticos
a liturgia. Algumas razões podem ser equiparadas a pessoas, neste caso, poderíamos
dizer, que muitas mudanças surgiram na música cristã, com a chegada de muitos
missionários americanos no país. Em 1953 por exemplo, com a chegada de Raymond
Boatright e sua guitarra, os louvores ganharam o estilo country, e rapidamente
tornaram-se integrante na liturgia e assim nasceram os famosos corinhos, que ficaram
conhecidos como “corinhos de fogo”. Eram cantados nos encontros públicos para
motivar crentes a buscar o Batismo com o Espírito Santo e os dons. Alguns eram
cantados em uma sequência harmônica simples, dois ou três acordes, várias canções
seguidas no mesmo tom e rítimo.

Eram cantadas canções como:


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3.5.1. Santo Espírito Enche a Minha Vida 3.5.2. Manda fogo, Senhor

Santo espírito enche a minha vida Manda fogo, Senhor,


Pois por Cristo eu quero brilhar Manda fogo, Senhor,
Santo espírito enche a minha vida E batiza o meu coração.
Para outras vidas eu ganhar Senhor batiza-me, Senhor batiza-me,
Aleluia Senhor batiza-me com o teu poder.
Dou ao Cristo Rei Manda fogo, Senhor,
Aleluia Manda fogo, Senhor,
Dou ao rei! E batiza o meu coração.
Aleluia dou ao Rei!!

Outras canções ainda surgiam, motivando os crentes a pregar e a anunciar o


evangelho, inclusive alguns hinos da harpa cristã:

3.5.3. Trabalhai e Orai 3.5.4. Brilhando para nunca perecer

Brilhando, brilhando,
Eu quero trabalhar pra meu Senhor, Brilhando em todo o meu viver
Levando a Palavra com amor; Brilhando, Brilhando
Quero eu cantar e orar, Brilhando para nunca perecer
E ocupado quero estar,
Sim, na vinha do Senhor. Brilhando, brilhando,
Brilhando em todo o meu viver
Trabalhai e orai. Brilhando, Brilhando
Brilhando para nunca perecer
Na seara e na vinha do Senhor;
Meu desejo é orar,
E ocupado quero estar
Sim, na vinha do Senhor.

Muitas canções ainda eram cantadas com mensagens de esperança da glória


escatológica de Cristo com sua igreja. Canções como: Vencendo vem Jesus, Mais
perto quero estar e Caminhando eu vou para Canaã, entre outras, eram cantadas ao
som de instrumentos como: Acordeons, órgãos, gaitas...Sons que tocavam a alma e
motivavam muitos cristãos a permanecerem firmes e fiéis na presença de Deus.

No contexto da renovação espiritual batista brasileira, também não foi diferente,


tiveram marcas perenes em seus louvores. O Pr. Rosivaldo de Araújo em seu livro
biográfico, conta a história da música, que como ele mesmo diz, na primeira frase do
hino já é contado sua história: “Obra Santa”. Rosivaldo conta o momento em que teve
a inspiração para compor:
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Um dia, quando entrava no portão do Seminário Batista, encontrei um


seminarista, grande opositor da obra, que me foi perguntando:
“Rosivaldo, você soube o que está acontecendo por aí com os
renovados, na cidade do interior? Quanto absurdo eles estão
praticando em nome do Espírito Santo! Você acha que esta obra pode
ser chamada de obra de Deus? Respondi: “Não sei bem o que estão
fazendo, mas posso afiançar que Renovação Espiritual é obra de
Deus”. Então lhe perguntei: “Você acha que a Reforma do século XVI
foi obra de Deus?” Ele deu uma risada, e disse: “Você não esta
querendo comparar a Reforma com a Renovação, não é?” Eu disse:
“De modo nenhum. Você conhece bem a história da reforma?” Ele
respondeu: “Claro que sim”. Repliquei: “Então você não vai estranhar
o que vou falar. Até agora, a Renovação não mandou matar ninguém,
e a Reforma mandou matar perto de cem mil camponeses”. (ARAÚJO,
2013, p. 113)

Obra Santa

Esta causa é do Senhor.


Obra Santa do Espírito
Eis o Noivo vem chegando,
Esta causa é do Senhor.
Espalhando suave amor;
Como um vento impetuoso
Já se sente o perfume
Como fogo abrasador
Da unção do salvador!
Estamos sobre terra santa
E a Noiva ataviada
Reverente e muito amor
De pureza e esplendor,
Esta hora é decisiva
Aguardando entrar nas bodas
Vigilante e de temor.
Pra reinar com seu Senhor.
Ninguém detém! É obra santa
Nem satã, nem o mundo todo
Pode apagar esse ardor.
Ninguém detém! É obra santa!

A canção foi escrita em 16 de agosto de 1965, Pr. Rosivaldo de Araújo,


compôs o coro do hino, no ônibus, enquanto retornava para casa em Recife. As
estrofes foram escritas no dia seguinte. De forma natural e sem pretensão, compôs a
canção que se tornou posteriormente o hino símbolo do movimento de renovação
espiritual Batista no Brasil.

As músicas são carregadas de histórias, crenças e culturas. Suas maiores


contribuições são percebidas por aqueles que formaram suas identidades religiosas
recebendo suas mensagens. É comum alguém querer mostrar a próxima geração,
tudo aquilo que o formou. Músicas fazem parte da vida e os hinos sacros e corinhos
são definitivamente uma herança de valor inestimável.
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O alicerce da fé para as futuras gerações dependerá muito da preservação de


suas tradições. Medidas de renovação são boas, porém, não guardadas as devidas
proporções, inovação ausente de tradição, haverá de ser desastroso e catastrófico. O
novo sem o legado só poderá representar mais um modelo religioso sem a Graça.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pôde-se constatar na pesquisa, que os ditos movimentos pentecostais da


segunda onda no Brasil, Cruzada Brasileira de Evangelização, Cruzada Nacional de
Evangelização, Renovação Espiritual Batista, foram de fato, marcos históricos do
pentecostalismo mundial. Chegou-se à conclusão que aquilo que teve início na Igreja
Presbiteriana Independente do Cambuci e também entre Batistas tradicionais na
cidade de Belo horizonte, foi talvez, e parafraseando (CAMPOS, 2005, p. 100,115), “o
movimento mais importante do século XX”. Também, não restou qualquer dúvida, que
estes foram os principais grupos de implantação de igreja pentecostal no Brasil até
hoje, principalmente, porque não foi uma eventual denominação manifestando suas
crenças e costumes e monopolizando os meios para se autopromover, como é o caso
de muitas neopentecostais. Neste caso, os ditos movimentos de segunda onda, foram
instrumentos de propagação da renovação pentecostal e a recomendação de um
modelo a ser seguido, facilitando o surgimento de outras incontáveis denominações
que ainda hoje se multiplicam.

Também foi possível confirmar a influência de movimentos americanos, fato


que se confirma, principalmente na teologia e estratégias evangelísticas. Os métodos
de campanhas realizadas em tendas, se tornaram, não apenas uma solução logística,
mas o meio dinamizado e absolutamente inovado de pregação. Pessoas de diversas
classes da sociedade frequentaram as reuniões, mostrando de fato que o alcance da
pregação foi alcançado, ou seja, o evangelho para todos os povos. O desempenho
dos métodos, trouxe incontestável crescimento da igreja, que ao final da década de
quarenta era de 2,6% entre a população, e em 1960 já ultrapassava os 4%.

A pesquisa, pôde constatar que pequenos grupos de oração ao final da década


de quarenta estavam unidos no mesmo propósito em busca de avivamento espiritual
para o Brasil e que tudo o que veio posteriormente acontecer, agrupou cristãos de
diferentes tradições denominacionais, fortaleceu laços para caminharem juntos e
ofereceu condições para que as sementes fossem plantadas na boa terra. Esse foi o
maior movimento de busca pelo avivamento registrado no país.

Reconhecemos que existem questões doutrinárias controversas a serem


rediscutidas, por vezes até heréticas e que após o crescimento muitos grupos saíram
de suas origens, seja por falta de preparo teológico ou por doutrinas corrompidas, que
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vem alimentando anseios egoístas. A estes podemos garantir que se desviaram da


pureza, honestidade e sinceridade que havia no início, daqueles que se desprenderam
completamente de muitos valores materiais, para que os propósitos do evangelho
viessem ser cumpridos. Muitos nomes hoje, são esquecidos nos registros históricos,
mas a participação destes é de inigualável contribuição.

Estes movimentos mudaram muito o cenário cristão no Brasil, trouxe além do


crescimento de igrejas, comunicação cultural com várias comunidades do país.
Nasceram igreja para gentes de todas as classes sociais, igrejas urbanas e do campo.
Novas denominações nasceram com características próprias, algumas que não são
conhecidas na TV ou rádio, mas crescem de ponta a ponta no país.

A história do movimento pentecostal brasileiro mostra que é possível iniciar


mudanças no cenário religioso protestante unindo crentes de diferentes confissões
doutrinárias e unilateralmente buscar o avivamento espiritual, que traga, conversões
e não divisões.
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