Sei sulla pagina 1di 342

Renold J.

Blank

A morte em questão

Edições Loyola

2ª edição: maio de 2000


ISBN: 85-15-01645-1

Diagramação So Wai Tam

Edições Loyola
Rua 1822 nº 347 - Ipiranga 04216-000 São Paulo, SP
Caixa Postal 42.335
04299-970 São Paulo, SP
Fone (0**11) 6914-1922
Fax (0**11) 6163-4275
Home page e vendas: www.loyola.com.br
e-mail: loyola@ibm.net
SUMÁRIO

PARTE 1 - A indagação sobre a vida depois da vida


1. Uma indagação fundamental com as mais variadas
respostas
2. As experiências do homem perto da morte
3. O que há depois da morte?

PARTE 2 - O enfoque científico


1. O valor das "provas científicas" da reencarnação
2. Fenômenos para psicológicos, para cuja explicação não se
precisa recorrer à hipótese da reencarnação
3. Afirmações de pessoas que se lembram de encarnações
anteriores
4. A terapia de regressão a vidas passadas pela via da
hipnose
5. As experiências do déjà vu ou déjà vécu
6. Identificação emocional com lugar ou objeto
7. Outros fenômenos aparentemente inexplicáveis

PARTE 3 - A reencarnação entendida a partir do enfoque


fisiopsicológico
1. Sintomas físicos ou psíquicos procedentes de experiências
feitas em supostas vidas anteriores
2. Marcas corporais herdadas de uma pressuposta vida
anterior
3. Dermografia, uma explicação científica
4 Semelhanças físicas e psíquicas
5. Identificação com pessoas que já morreram
6. Capacidades físicas ou psíquicas extraordinárias
7. Resumo sintético

PARTE 4 - A reencarnação sob o enfoque filosófico


1. Não há consenso, e sim muitas teorias opostas
2. As mais importantes doutrinas de reencarnação
3. A questão da evolução pessoal do indivíduo
4. O perigo de perder de vista o mundo real
5. Evolução dentro da cosmovisão ocidental e suas
consequências no modo de enxergar o homem após a morte

PARTE 5 - Declarações do Magistério da Igreja sobre a


reencarnação
1. Declarações sobre a questão da reencarnação

PARTE 6 - Crenças religiosas sobre o destino do ser humano


na morte no contexto bíblico
1. As crenças sobre o destino do homem depois da morte no
contexto bíblico anterior a Jesus Cristo
2. As crenças sobre o destino do homem depois da morte no
contexto bíblico depois de Jesus Cristo
3. Textos bíblicos interpretados de maneira errônea para
justificar a reencarnação
4. O problema da perda de força da mensagem sobre a
ressurreição

PARTE 7 - Declarações da Igreja sobre a vida depois da


morte
1. Declarações sobre o julgamento
2. Declarações sobre o Purgatório
3. Declarações sobre o Inferno
4. Declarações sobre o Juízo Final (juízo universal)

Bibliografia
AGRADECIMENTO

O autor agradece a valiosa colaboração de Pe. Oscar G.


Quevedo, do Centro Latino-Americano de Parapsicologia -
São Paulo.
PARTE 1

A INDAGAÇÃO SOBRE A VIDA DEPOIS DA VIDA

1. Uma indagação fundamental com as mais variadas


respostas

A partir do momento em que o ser humano se destaca na


evolução como um ser cultural, aparecem os vestígios de que
este ser cultural se preocupa com a questão da morte; ou
melhor, com aquilo que vem depois da morte. O homem do
Paleolítico que, numa caverna da época glacial, juntava seis
crânios de ursos na direção exata do pôr-do-sol em cima de
um túmulo; os livros dos mortos do Tibete; o culto aos
mortos no Egito antigo; e, por fim, os funerais solenes numa
igreja cristã. Todos esses temas denotam a preocupação do
homem com a questão da vida após a morte.
Em toda a história conhecida da espécie humana,
constatamos, como traço cultural permanente, a convicção
de que, depois da morte, haveria algo mais, a morte não
1
seria o fim último; a vida do ser humano continuaria.
Mas, ao lado dessa convicção, subsiste a permanente
dúvida e indagação: como será a vida após a morte, ou,
existe mesmo vida depois da morte?
Tais dúvidas não se encontram só no materialismo do
século XIX ou em pensadores declaradamente ateístas, como
Jean-Paul Sartre. Elas estão presentes até em textos tão
sarcásticos e provocativos como o de Coélet no quadro dos
livros bíblicos de Sabedoria.
De fato, o destino do homem e do animal são idênticos:
do mesmo modo que morrem estes, morrem também
aqueles. Uns e outros têm o mesmo sopro vital, sem que o
homem tenha vantagem alguma sobre o animal, porque tudo
é fugaz. Uns e outros têm o mesmo princípio e o mesmo fIm:
2
vêm do pó e voltam para o pó (Ecl 3,19-20).
A pergunta sobre o destino do homem após a morte se
apresenta como indagação complexa e variável, na qual
sempre encontramos as seguintes linhas de argumentação:

DEPOIS DA MORTE:
A VIDA CONTINUA
NÃO HÁ MAIS VIDA

A VIDA CONTINUA
Pergunta: COMO SERÁ ESTA VIDA NOVA?
Uma repetição de vida dentro de parâmetros similares.
Uma vida de penúria dentro de parâmetros negativos.
Uma vida feliz dentro de parâmetros totalmente novos.

NÃO HÁ MAIS VIDA


Pergunta: QUAL É O SENTIDO DESTA VIDA?

3
Nils O. Jacobson, em seu livro Vida sem morte , resume
as possíveis atitudes diante da questão da sobrevivência
além da morte da seguinte maneira:
a) A sobrevivência à morte é logicamente impossível.
b) A sobrevivência à morte é logicamente possível, mas
é impossível prová-la empiricamente.
c) A sobrevivência é lógica e empiricamente possível.
d) A sobrevivência é logicamente possível e
empiricamente plausível.
e) A sobrevivência é logicamente possível e
empiricamente provada.
f) A sobrevivência é logicamente necessária.

Não importa, no fundo, a partir de que enfoque se


enfrenta a questão. A grande indagação, com a qual cada ser
humano se vê confrontado, é sempre a mesma: por qual
dessas alternativas seria lógico optar?
Como responder, em cada situação específica, à pergunta
sobre a continuação da vida depois da morte?
O interesse por essa problemática aumentou nos últimos
anos de maneira considerável. Certamente devido à dolorosa
e frustrante experiência do homem moderno, cuja vida nesta
nossa sociedade de consumo torna-se a cada dia mais
superficial e insatisfatória.
Nesse contexto, ganharam destaque os relatos de
experiências vividas por pessoas em situações perto da
morte, depois da morte clínica.
Será que essas experiências podem dar uma resposta
segura e empiricamente fundada sobre a antiga questão
fundamental do homem: "O que há depois da morte?"

2. As experiências do homem perto da morte

Queremos, de antemão, esclarecer que as nossas


análises não se limitam aos fenômenos conhecidos hoje pelo
nome de NDE Near-Death-Experiences. O fato da existência
de tais experiências é inegável, mesmo reconhecendo muitos
exageros e grandes erros de interpretação. Conhecemos hoje
milhares de casos, classificados pela International Association
for Near Death Studies. Segundo suas estatísticas, entre
40% e 50% dos casos pesquisados de reanimação
apresentam a ocorrência de tais experiências.
Pode ser que esse número seja exagerado, porque, na
realidade, em muitos casos não se trata de NDE reais, mas
de fenômenos parapsicológicos ou "à margem do
psicológico", como são denominados. As vezes, trata-se de
experiências excepcionais, mas não sobrenaturais. Apesar de
todas essas restrições, não podemos simplesmente ignorá-
las. ,De acordo com a classificação científica dessas
experiências é possível distinguir hoje basicamente cinco
4
estádios de NDE, vividos nas seguintes proporções :
% dos
Estágio Experiência
entrevistados
flutuar num espaço 40-50

desconhecido
estar fora do próprio 37

corpo
atravessar uma zona de 23

escuridão (túnel)
uma luz forte intensa e, 16

apesar disso agradável
penetrar nesta luz, 10
5º sensação que equivale a
experimentar o amor total

Michael B. Sabom descobriu, ao analisar 61 casos de


reanimação, uma distribuição bem diferente dos elementos
constitutivos de experiências vividas perto da morte:
- Sensação de paz: 100%
- Sensação de separação do corpo: 100%
- Voltar ao corpo: 100%
- Sensação de ser morto: 92%
- Sensação de passar para um outro mundo: 54%
- Percepções específicas nesta situação: 53%
- Encontrar outras pessoas: 48%
- Percepção de luz:28%
- Percepção de uma região de trevas (túnel): 23%
- Recapitulação da vida já vivida: 3%

Robert Kastenbaum, baseado nas experiências de


Kenneth Ring e de outros pesquisadores de NDE, apresenta
os seguintes números, muito discordantes entre si:
Teriam passado por experiências NDE:
Ring: 48% das pessoas reanimadas entrevistadas.
Sabom: 53%, mas só 22% com características
marcantes.
Garfield: 22%
Dobson, Tattersfield e Adler: 0,5%
Noyes: 36%

É importante mencionar que, além das experiências NDE


predominantemente agradáveis e positivas mencionadas no
livro de Moody, há relatos de outras mais negativas e, às
5
vezes, até atormentadoras.
Se, por um lado, existe a preocupação científica em
interpretar todas as experiências aqui mencionadas, por
outro essas mês, mas experiências estão sendo questionadas
e até negadas pela impossibilidade de serem provadas.
Sem entrar no mérito da polêmica em questão, vamos
tentar analisar as experiências relatadas como simples
fenômenos, que devem ser investigados com seriedade e
rigor.
A partir de um enfoque imparcial, podemos constatar
também que os relatos sobre experiências perto da morte
(NDE) não são fenômenos exclusivos de nossa época ou de
nossa cultura. Descobrimos relatos sobre elas nas mais
diferentes épocas e culturas, desde a Antiguidade até os dias
de hoje. Cícero, na sua obra Tratado da República, descreve
no "Sonho de Cipião" alguns fenômenos típicos das NDE.
Casos semelhantes encontramos no Livro tibetano dos
mortos e em muitos textos medievais, nos quais vamos
encontrar relatos sobre experiências do além.
Segundo Peter Dinzelbacher, em seu livro sobre a
comparação intercultural das visões do morrer, "os mesmos
fenômenos e processos, descritos hoje de maneira lacônica e
neutra pelos psicólogos, aparecem com a mesma
configuração nos relatos medievais sobre visões e
6
aparições".
Todavia, levando em conta a concepção de mundo
medieval, devemos questionar se a interpretação de tais
fenômenos feita na época resistiria ao critério e ao rigor
científicos de hoje. Como ter certeza de que se trata
realmente de fatos objetivos, e não de interpretações
subjetivas, de exageros ideológicos, fanáticos ou
interesseiros, seja por parte dos autores dos próprios textos,
seja por parte de quem os interpreta hoje? Não obstante
todas essas restrições, não podemos, mesmo assim, negar a
veracidade de alguns fatos. Devemos esclarecer também a
existência de pontos de vista diametralmente opostos em
relação a eles.
Segundo Wolff e Curran, bem como E. Thurmond, as
7
aparições relatadas por pessoas reanimadas são estados de
delírios, nos quais o moribundo confunde as pessoas
8
presentes com parentes ou amigos já mortos.
É, de fato, revelador que a maioria dos mortos vistos por
moribundos no momento da agonia eram parentes próximos.
A maioria dos que não eram parentes eram pessoas vivas,
9
com as quais o moribundo tinha se relacionado.
Cientistas como o neuropsicólogo Ronal Siegel e Karl L.
R. Jansen interpretam as experiências feitas entre a morte
clínica e a morte aparente como fenômenos causados por
uma superdose de medicamentos, chamados
"neurotransmissores", ministrados no momento da morte.
Afirmam isso com base na semelhança dessas visões com
10
aquelas causa as por certas drogas.
A mesma semelhança também é mencionada nos relatos
de Karlis Osis, para quem as alucinações constantes em
moribundos estavam "de acordo com as concepções
religiosas tradicionais (Céu, Inferno, Cidade eterna etc.), ou
eram descritas como cenas de uma beleza extraordinária
cujas cores brilhantes assemelhavam-se às relatadas por
pessoas sob o efeito de drogas como a mescalina ou o
11
LSD".
Outros autores ainda, como Kenneth Ring ou Raymond
Moody, dão a esses fenômenos, com certa dose de
ingenuidade, uma interpretação totalmente diferente de
todas aquelas que até agora conhecemos; segundo eles, tais
experiências, apesar de não provarem a existência de vida
após a morte, desempenham um papel revelador e
significativo no esclarecimento da questão da vida eterna. E
finalmente há outros, como Elisabeth Kübler Ross, para quem
essas experiências são a comprovação da existência da vida
eterna. No prefácio do conhecido livro de Raymond A. Moody,
Elisabeth K. Ross faz as seguintes declarações: "A pesquisa
que o Dr. Moody apresenta em seu livro esclarece muitas
questões e confirma o que nos tem sido ensinado há dois mil
12
anos: a existência da vida depois da morte".
A interpretação dada aos fatos analisados por ela, no
entanto, ultrapassa de maneira clara os limites da atitude
científica.
As experiências vividas perto da morte só provam que
algumas pessoas, depois da morte clínica, ainda são capazes
de ter certas percepções. Por enquanto, não conhecemos as
razões exatas dessas percepções, e talvez nunca venhamos a
conhecê-las. Mas não podemos negar a existência de tais
fenômenos. Contudo, seria extrapolar a ética científica ou
teológica querer fazer dessas experiências uma prova para
aquilo que as religiões pensam sobre a vida depois da vida.
Seria falso querer ver nelas uma afirmação por assim dizer
empírica de que depois da morte a vida do homem continua.
O que podemos afirmar - isto sim - é que esta vida
continua dentro de certos pressupostos depois da morte
clínica. Podemos afirmar também que as experiências
relatadas não contradizem aquilo que a religião cristã sempre
declarou sobre a vida depois da vida. Mais que isso não é
possível afirmar.
As experiências vividas perto da morte não podem ser
usadas como provas científicas de que ali o homem se
encontrou com Deus. Tampouco podem ser usadas como
prova da vida eterna. O que elas provam, de fato, é que,
depois da morte clínica, certo número de pessoas, pelo
período de alguns minutos, não "apagam" ainda a sua
consciência.
O que nos interessa, no entanto, não são as experiências
perto da morte clínica, mas a questão sobre o que há depois
daquele limite, durante a morte aparente e depois da morte
real. O que nos interessa saber é o que há além daquele
limite onde a reanimação não mais é possível - e nunca será,
nem mesmo com as técnicas mais sofisticadas.
O que há depois da verdadeira morte? O que há depois
do limite de onde o ser humano não mais retomará?
Para que esta fronteira, denominada "limite da
possibilidade de reanimação", possa ser mais bem situada
dentro da dinâmica que ora tratamos, recapitularemos as
várias etapas do processo de morrer percorridas pelo ser
humano.
Com base neste esquema, elaborado pela Tanatologia
atual, podemos mais uma vez formular a nossa indagação
inicial: o que há depois da morte?
Para sairmos do campo genérico, devemos formular
nossa pergunta de maneira específica, definindo claramente
que ela não se limita àquilo que vem depois da morte clínica.

As Etapas do processo de morrer

Início do Processo de Morrer


Morte Clínica
Limite da possiblidade de reanimação

A grande indagação
O que há depois desse limite?
A situação depois do limite da reanimação até a morte
real é chamada "na morte"

Choque Raiva Negociação Depressão Aceitação


Experiências perto da morte (NDE)

MORTE REAL
Morte Clínica
Morte fisiológica
Nenhuma célula Viva
Período da Morte Aparente
Período da Morte Aparente

Como mencionamos nos capítulos anteriores, a medicina


e a psicologia, juntamente com alguns outros ramos da
ciência, podem responder a essa indagação de maneira
objetiva. No entanto, o que nos interessa de fato é ir além da
fronteira das ciências experimentais.
É saber o que acontece depois daquela fronteira chamada
aqui de limite da possibilidade de reanimação. Será que há
ainda outros limites? Será que a partir de um enfoque
científico é possível responder à pergunta sobre o que
acontece com o ser humano de pois daqueles limites, até a
morte real?
Eis as nossas indagações finais: o que há depois dos
limites em que os nossos métodos experimentais não podem
mais ser aplicados? O que ocorre durante o que se denomina
"morte aparente"? O que há depois da morte real?
São essas as nossas indagações. É a partir delas que
devemos de novo voltar à pergunta inicial:

3. O que há depois da morte?


Ao formular essa pergunta, estamos mais uma vez
confrontando um dos grandes enigmas que envolvem o
gênero humano e que esteve presente em todas as culturas
e em todas as épocas.
Tanto no Livro dos mortos da antiga cultura egípcia
quanto nas atuais sessões espíritas, formula-se a mesma
pergunta: o que acontece com o ser humano depois da
morte real e definitiva?
O livro dos mortos dos egípcios, por meio de palavras e
práticas mágicas, tentava ajudar os mortos a vencer as
13
ciladas e os perigos do além.
O livro alude continuamente ao reino de Osíris, deus
assassinado pelo seu irmão Seth, ressuscitado por sua irmã e
esposa Ísis. De Osíris dependia a sorte dos mortos. E aqui
deparamos com uma questão que permanece através dos
tempos: os parâmetros que regem a vida após a morte
seriam os mesmos que regem a vida aqui. As práticas
mágicas do livro dos mortos dos egípcios prometiam aos
ricos de Sua época riqueza e poder, desde que seguissem as
suas recomendações.
Não é algo semelhante que muitas religiões ainda pregam
nos dias de hoje?

3.1. O que há depois do limite da possibilidade de


reanimação?

Do ponto de vista puramente científico e experimental,


podemos afirmar que esta pergunta delimita o terreno até
onde vão as ciências experimentais. Isso porque o limite da
possibilidade de reanimação é, por definição, o mesmo das
ciências da natureza. A partir de certo limite, não se pode
mais chamar o homem de volta à vida. Será que devemos
entender que esse limite é um indicador de que não há nada
além daquela fronteira?
De modo nenhum!
Embora a ciência não possa trazer de volta uma pessoa
que ultrapassou a fronteira da morte real e definitiva, ela
pode constatar empiricamente que tal fenômeno já
aconteceu. Trata-se de casos inexplicáveis pela ciência, mas
constatados e comprovados por seus métodos. Por serem
inexplicáveis, mas reais, tais fatos são chamados de
milagres. E, no decorrer da história do cristianismo, muitos
milagres foram constatados. Embora inexplicáveis pelos
métodos científicos, há casos historicamente comprovados de
pessoas que, com certeza, estavam mortas, sem nenhuma
possibilidade de serem reanimadas pelos métodos científicos
e, apesar disso, voltaram à vida, umas depois de três dias,
outras depois de cinco, e algumas até mesmo sete dias após
terem morrido. A ciência não tem nenhuma explicação para
esse fenômeno. Os corpos já se mostravam em adiantado
estado de putrefação. Mas, mesmo assim, as pessoas
voltaram à vida. Os seus corpos decompostos recuperaram-
se rapidamente. Elas continuaram vivendo. A explicação para
esse extraordinário acontecimento é basicamente a mesma:
foi obra de um santo.
Um santo que, em nome de Deus e para confirmar uma
verdade fundamental da fé cristã, chamava de novo à vida
alguém que já estava morto. Alguém que, do ponto de vista
científico, estava absolutamente impossibilitado de viver,
porque seus órgãos não podiam mais funcionar, seu cérebro
estava destruído, seus vasos sanguíneos não existiam mais.
Alguém que estava clinicamente morto. Mas, apesar de
aparentemente impossível, a pessoa voltou à vida. Um
milagre.
Sabemos da existência de várias centenas de casos
provados de revitalização no decorrer dos 2 mil anos da
história cristã, e até de um caso de ressurreição de pessoas
que, de maneira milagrosa e inexplicável pela ciência,
voltaram à vida.
a) Um caso de revitalização
O primeiro exemplo, e talvez o mais conhecido, é a
revitalização de Lázaro pelo próprio Jesus (Jo 11,17.38ss).
Morto havia quatro dias, Lázaro já cheirava mal quando Jesus
o revitalizou. Esse acontecimento, assistido por muitas
pessoas, foi definitivo para que os dirigentes religiosos
decidissem eliminar Jesus (cf. Jo 11,45ss).

b) Um caso de ressurreição
O segundo exemplo de ressurreição é a do próprio Jesus.
Ainda que a ressurreição de Jesus seja um caso que não se
pode comparar com nenhum outro, tamanha a sua grandeza.
Ressurreição é muito mais que revitalização. Isso por que a
pessoa que passa pela revitalização um dia morrerá, ao
passo que o ressurrecto nunca mais passará pela morte.

Do ponto de vista da medicina, Jesus de fato morrera,


tendo o coração perfurado pela lança de um soldado romano.
Biologicamente impossibilitado de voltar a viver, após três
dias sepultado, retorna à vida, ressuscitado pelo próprio
14
Deus, como a Igreja primitiva insistiu em afirmar.
Pode-se objetar que os dois casos mencionados estão
circunscritos ao campo da fé. Mostramos em outro lugar que,
pelo menos para a ressurreição de Jesus há também uma
15
prova objetiva, baseada nas ciências sociais. (Uma prova
sociológica da ressurreição). No entanto não queremos entrar
aqui numa discussão sobre a cientificidade ou não dos casos
mencionados. O que pretendemos alertar para o fato que
existem fenômenos ligas à morte que a própria ciência não
consegue explicar, não obstante reconheçamos sua
existência.

c) O que é uma revitalização?

Denominamos revitalização a experiência de pessoas que


voltaram à vida depois de terem ultrapassado em limites da
possibilidade de serem reanimadas pela medicina. Já naquele
estado, chamado de morte fisiológica, em que a medicina
não é mais capaz de reanimar, algumas pessoas saíram
dessa situação e recobraram a vida. A essa volta à vida
chamamos revitalização. No que concerne aos exemplos e
provas históricas de revitalização a partir da morte
fisiológica, chamamos a atenção para o livro de Oscar G.
Quevedo: Palavra de Iahweh. Nele, nas páginas 289 a 340,
vamos encontrar uma serie de relatos históricos sobre o
assunto, bem com as respectivas referências bibliográficas. O
último dos casos mencionados por Quevedo data de 1967.
Trata-se de fatos comprovados, notados e autenticados por
16
testemunhas históricas e cientifica.
Nenhum desses episódios, e também as centenas de
casos de revitalização que se conhece por meio da história
dos santos, foram desvendados pela ciência. O ponto de vista
da ciência é de que se tratava de pessoas clinicamente
mortas, que tinham ultrapassado o limite da possibilidade de
uma reanimação, mas que, ainda assim, voltaram a viver.
Estamos claramente diante de algo que na linguagem
religiosa se denomina milagre, ou seja, fenômenos que
ultrapassam os limites da ciência e passam para o campo do
mundo religioso. Não se trata de casos de fé nem de histeria,
mas de fatos reconhecidos pela ciência, não obstante ela não
dê conta de explica-los.
Quando analisados do ponto de vista estrutural, esses
fenômenos apresentam uma característica em comum: em
todos os casos de revitalização milagrosa, nunca houve um
em que a revitalização ocorresse depois de mais de dez dias
da morte daquela pessoa.
Parece que descobrimos aqui, pela via fenomenológica,
um limite absoluto que não pode ser ultrapassado. A partir
dessa constatação, podemos formular, tomando como base
os fenômenos comprovados de revitalização, três afirmações
17
fundamentais:

1) Dentro de certo período, depois da morte clínica,


uma pessoa pode ser reanimada pela aplicação de
técnicas da medicina. Chamamos essa volta à vida
de reanimação. Ela é completamente explicável
pela ciência.
2) Uma pessoa que ultrapassou o limite da
reanimação, já em estado de morte fisiológica,
pode, de maneira milagrosa, voltar à vida, apesar
de a ciência não poder explicar como isso
acontece. Existem muitos casos de revitalização,
reconhecidos pela própria ciência.
3) Nunca houve o caso de uma pessoa voltar à vida
depois de dez dias de sua morte.

Baseados nestas afirmações apresentamos a seguir outro


quadro de respostas à pergunta sobre a vida depois da morte
clinica - agora de maneira mais diversificada e exata:

As várias etapas e limites do morrer humano

Morte Clinica
Início do morrer + 21 Dias
(Limitação de Reanimação)
Limite da Revitalização
+ 8 a 10 Dias

Vida Processo de morrer Morte Real


Morte Aparente
Morte Fisiologica
Morte Clinica

3.2. O que há entre o limite da reanimação e a morte


real?

Em resposta a essa pergunta, podemos inicialmente


afirmar que, depois do limite da reanimação, a pessoa não
cessou de existir. A prova disso são os inúmeros casos de
revitalização mencionados no capítulo anterior. Como o
próprio nome indica, trata-se somente de morte aparente.
Apesar de ter ultrapassado a fronteira onde a medicina
dispõe de meios para reanimá-lo, o ser humano continua
vivendo. Possui ainda bilhões e bilhões de células vivas, que
vão morrendo passo a passo, num processo lento e
demorado.
Mesmo indo além das possibilidades de uma reanimação
pela medicina, mas ainda dentro do processo chamado de
morte aparente, chegamos a um limite específico: oito a dez
dias após a morte clínica. Esse limite, aqui chamado de limite
de revitalização, ocorre dentro do processo da morte
aparente; dentro dele a história ainda registra casos de
revitalização; supõe-se que, nesse período de cerca de oito
dias após a morte clínica, a pessoa permanece em. estado de
inconsciência total 16. 16. Podemos constatar na crença
popular vestígios de um conhecimento talvez intuitivo sobre
este assunto. Assim, é comum no Ocidente a ideia de que a
alma sairia do corpo só depois de sete dias. Exemplo disso
são as nossas missas de sétimo dia. Nas religiões orientais
existe a crença de que a alma sairia do corpo dez dias depois
da morte. Em At 2,26 e Ap 6,11, a Bíblia se refere aos
mortos, dizendo que "repousam". Jesus, quando fala sobre a
morte de Lázaro e da ressurreição da filha de Jairo, diz que
estão dormindo (Jo 11,11; Mt 9,24; Mc 5,29; Lc 8,52). Será
que essas afirmações poderiam ser a expressão de uma
intuição de que, entre a morte clínica e a morte real, há um
estado inicial de pleno repouso, de inconsciência total, antes
18
de haver uma retomada da consciência após oito dias?
Podemos entender então que depois do limite' da
revitalização o processo de morrer se passa num nível onde a
revitalização não é mais possível. Não porque Deus não
poderia deixá-la acontecer, mas porque, aparentemente, ele
não quer mais deixá-la acontecer.
Todavia, oito dias depois da morte clínica, constatam-se
muitas células vivas no organismo humano. A pessoa não
está totalmente morta, encontrando-se ainda na situação de
morte aparente, também denominada morte fisiológica. Num
caso de enterramento em condições normais, podemos
contar em média 21 dias para a morte da última célula. Em
casos extremos, esse limite pode se estender por muito mais
19
tempo
Nesse estado a pessoa não passou ainda pela última
fronteira, chamada de morte real. Para a ciência, porém,
chegamos no limite máximo, em que não existe nenhuma
possibilidade de fazer experiências com pessoas que
voltaram à vida. O que há ainda é o fato de constatarmos um
lento processo de deterioração de células, que dura cerca de
21 dias depois da morte clínica. A partir daí ocorre a morte
real. Esta é também a Última etapa que o método empírico
da ciência alcança.
Não há mais nenhuma célula viva no corpo enterrado.
Estamos outra vez diante da indagação fundamental: será
que, agora, a vida da pessoa humana terminou? Como
vimos, a resposta a essa pergunta não mais pode vir do
campo da ciência empírica. Ela sai do campo exclusivamente
experimental, para entrar na dimensão filosófica e teológica.
Mas também nesse campo permanece a indagação sobre
como imaginar uma vida depois da morte.

3.3.A pessoa humana não pode continuar vivendo como


puro espírito

O ser humano nunca poderia existir como pura alma


espiritual. O modelo dualista que divide o homem em corpo e
alma está hoje definitivamente superado pelas ciências
antropológicas. Do ponto de vista filosófico, a rejeição de
uma antropologia dualista já se encontra em Tomás de
Aquino. Para ele, alma e corpo formam uma dualidade, um
20
único princípio e uma unidade fechadal.
Para a antropologia atual, o ser humano é
multidimensional, que só permanece como tal por apresentar
todas essas suas dimensões. Um puro espírito, seja ele
chamado de espírito, seja chamado de alma, não é um ser
humano e nunca poderá sê-lo. Ele, no máximo, é uma
abstração. Para a filosofia tomista, "a ideia de uma alma sem
corpo e ao mesmo tempo incorruptível é difícil de ser aceita",
porque uma tal alma sozinha não pode "nem se exprimir a si
mesma, nem se exprimir perante outro ser humano... Ela
perde o seu ser-no-mundo, tornando-se uma mônada sem
21
comunicação e sem mundo".
Dentro dessa mesma linha de reflexão, o grande teólogo
Karl Rahner definiu a fórmula da "separação de corpo e alma
na morte", de modo que a palavra "separação" "não pode
exprimir uma separação em si, mas somente uma nova
correlação entre corpo e alma".
O que existe é o ser humano com todas as suas múltiplas
dimensões e a pergunta crucial é esta: será que o ser
humano continua vivendo depois da morte real em outras
dimensões?
A teoria do conhecimento evolucionário forneceu, nos dez
últimos anos, argumentos lógicos e empíricos a partir dos
quais a existência de tais dimensões parece não só plausível,
mas até justificável. As crenças de todas as religiões - desde
a época pré-histórica até hoje -, num consenso universal,
demonstram serem elas um tema constante. Aceitar a
existência de tais dimensões hoje parece mais lógico do que
simplesmente rejeitá-las. Com isso, porém, 'a nossa
pergunta amplia ainda mais: à indagação sobre o que
acontece com o ser humano entre o limite da reanimação e a
morte real se acrescenta agora o questionamento sobre
como a pessoa alcança essas novas dimensões que
aparentemente se abrem para ela depois da morte real.
Como imaginar essa passagem para outras dimensões?
Como imaginá-la a partir de um enfoque científico e
tanatológico?
Não queremos entrar aqui no campo das explicações
teológicas sobre o assunto. Todas as religiões sempre
descreveram essa passagem com imagens e modelos. A
respeito da doutrina cristã sobre o assunto, o autor faz
referência ao primeiro volume de sua escatologia, no qual,
sob o título de Nossa vida tem futuro, ele a apresenta a
22
partir de um ponto de vista teológico.
Será possível harmonizar a crença religiosa de uma vida
depois da morte real com as exigências de uma ciência
baseada na lógica e em argumentos empíricos? Acontece que
não temos mais argumentos empíricos.
Mas temos os argumentos da teoria do conhecimento
evolucionário sobre a probabilidade da existência de
dimensões que superam as limitações do nosso sistema
cognitivo. E temos a doutrina das religiões. E, por último, a
religião cristã. Seria possível interligar as duas dimensões por
intermédio de um modelo lógico que pudesse ultrapassar o
modelo absolutamente superado de uma alma que se separa
do corpo?
Oscar G. Quevedo desenvolveu nos últimos anos um
modelo que, em seguida, queremos apresentar e aperfeiçoar.

3.4. O modelo de um processo de transmutação no


período da morte aparente

A religião cristã afirma que, depois da morte, o ser


humano passa por vários estágios de uma possível evolução
e conversão. Esses estágios recebem as seguintes
23
denominações :
Juízo particular
Purgatório
Possibilidade de inferno
Juízo final
Ressurreição do corpo

Ao mesmo tempo afirma que, depois da morte, a pessoa


entrará na dimensão de Deus, ou seja, a eternidade. A
eternidade é uma dimensão sem tempo.
Uma vez que não há tempo naquela dimensão, não se
pode "aguardar" "depois" da morte um Juízo Final, nem
tampouco passar por um novo estágio de evolução, pois todo
"aguardar" e toda evolução implicam tempo.
Na eternidade, porém, não há tempo. Como, então,
manter aprofunda convicção da fé sem entrar na insolúvel
contradição com os princípios da lógica e sem também ficar
forçado a recorrer a construções tão obscuras como o Aevum
24
ou o que se denomina "limbo"?
Tentaremos nas explanações a seguir dar uma resposta a
essa pergunta, formulada por tantos cristãos de hoje:
podemos constatar que os fatos importantes da vida não
acontecem subitamente, de uma hora para outra. A vida se
desenvolve em forma de processos.
Sendo assim, nada mais lógico do que supor que a
passagem para as novas dimensões de Deus também se faça
da mesma maneira: em forma de processo. Dentro de tal
perspectiva também os processos evolutivos entendidos à luz
da fé acontecerão depois da morte, mas situados num
período em que a ligação do ser humano com o tempo ainda
exista. Essa ligação não termina com a morte clínica, mas
continua até a morte real.
No entanto, como pessoas revitalizadas jamais contaram
ter vivido tal processo, e como as experiências perto da
morte, chamadas NDE, não podem ser realmente
interpretadas como experiências de encontro com Deus, só
resta uma possibilidade: é no período da morte aparente,
mas depois do limite da possibilidade de revitalização, que a
pessoa recupera a sua consciência. No decorrer de um
processo de transmutação, ela ultrapassa as dimensões
conhecidas por nós, atravessa novas dimensões, até a
dimensão da Eternidade. Muito mais que separação de alma
e corpo, esse processo significa a conscientização e
transformação do ser humano em sua totalidade. Tal
processo não é a experiência de uma alma espiritual, mas de
uma pessoa como um todo.

3.5. Não é uma alma separada do corpo que passa pelo


processo de transmutação na morte, mas o ser humano em
sua totalidade

É importante frisar mais uma vez que a morte é um


acontecimento que abrange a pessoa em todas as suas
dimensões. Na morte, toda a pessoa se transforma. Ela não
significa a simples separação entre alma e corpo. Tal
separação não é possível. No capítulo 3.3 mencionamos o
fato de que para Karl Rahner - o grande teólogo do Concílio
Vaticano 11 - a separação de corpo e alma na morte nunca
poderia significar uma separação verdadeira, mas uma nova
correlação entre corpo e alma.
O modelo que sustenta tal separação é o modelo dualista
da filosofia platônica e neoplatônica, bem como sua
continuação na concepção cartesiana do século XVII.
Hoje, no entanto, esse modelo está totalmente superado.
A primeira negação desse modelo já se encontra nos
textos bíblicos: Ernst Haag explicita esse fato de maneira
muito clara no seu artigo sobre "Alma e imortalidade a partir
do enfoque bíblico". Nele podemos ler:
O Antigo e o Novo Testamento concordam totalmente
com a concepção de que Deus criou o homem como uma
unidade psicofísica. Nessa unidade, que é a sua essência,
Deus destinou o homem a uma existência incorruptível... Em
nenhum caso, no testemunho dos textos bíblicos, "alma"
significa um ser puramente espiritual que,
independentemente do corpo, já possui a imortalidade ou a
incorruptibilidade. O termo "alma", tanto no Antigo como no
Novo Testamento, designa o ser humano, marcado de
maneira global pela sua natureza espiritual e, por causa
25
disso, aberto para Deus...
Essa visão reflete-se de maneira mais acentuada na
antropologia de Paulo. Para ele, o ser humano é sempre visto
como uma unidade inseparável. Essa unidade, no entanto,
pode ser concebida sob variados enfoques. A partir desses
enfoques Paulo concebe o ser humano com as seguintes
dimensões:
Soma - dimensão que propicia ao homem se unir
com outros.
Psyche - dimensão da personalidade.
Sarx - qualidade de um ser biológico-corporal
suscetível à fraqueza por sua condição humana.
Pneuma - capacidade de entrar em união com
Deus.

Nunca, para Paulo, essas dimensões existiriam separadas


umas das outras. O que acontece é que as pessoas podem
apresentar uma dessas dimensões de maneira mais
acentuada, mas todas elas existem de forma indivisível no
ser humano.
O prestigiado compêndio dogmático Mysterium Salutis
acentua tal fato de modo bastante claro na sua análise da
escatologia de Paulo:

Paulo não apregoa a imortalidade e a eternidade da alma,


que com a morte se separaria do corpo e continuaria
sobrevivendo sem ele. Para Paulo o homem é sempre uma
existência corporal e como tal permanece no mundo da
ressurreição. O homem inteiro - criatura de Deus - morre e
26
chega, com a nova criação, à salvação divina.
Mesma convicção encontramos na filosofia dos
apologetas, nos primeiros séculos da era cristã. Gisbert
Greshake, após ter citado textos de Orígenes e de Pseudo-
Justino, acentua, de maneira taxativa, que a concepção dos
apologetas significa uma clara correção do dualismo
27
platônico.
Para Tomás de Aquino, o mais eminente filósofo da
Escolástica, a ideia de uma alma que poderia alcançar sua
plenitude independentemente do corpo fica definitivamente
rejeitada e superada.

A antropologia de Paulo
O homem na sua capacidade de O homem como
personalidade
União com outros formada

SOMA PSYCHE
Dimensão do "eu" Dimensão do "eu"
Humano em sua totalidade como sede da personalidade

SARX PNEUMA
Dimensão O homem aberto
Biológico-corporal para Deus
O homem na fraqueza de sua Condição humana
O homem na sua capacidade de união com Deus

Para Tomás de Aquino, o ser humano é uma única


substância, uma dualidade indivisível. Na sua Suma
Teológica, ele compara a situação de uma alma separada do
28
corpo à de "uma mão cortada do braço".
Georg Scherer, ao analisar o pensamento de Tomás de
Aquino, mostra a concepção que tem o filósofo escolástico
sobre a alma: "Ser separada do corpo é para a alma humana
29
fora da ordem de sua natureza"
A alma espiritual é, conforme Tomás de Aquino, só uma
parte do homem, um princípio do ser homem e, por causa
disso, a ideia de uma alma incorruptível, mas sem corpo, é
filosoficamente difícil de ser concebida
R. Schulte, por sua vez, resume com bastante clareza o
pensamento de Tomás de Aquino:
Neste ser único e global, chamado homem, Alma e corpo
são correlacionados um ao outro. Eles são dois princípios do
ser que se condicionam mutuamente, formando uma unidade
30
existencial e fechada em si mesma.
Com base na concepção de Tomás de Aquino, para quem
o ser humano significa necessariamente corporeidade,
Gisbert Greshake, seguindo as explanações de Georg
Scherer, afirma que "uma alma separada do corpo é uma
mônada isolada, separada do mundo e de toda
31
comunicação".
Para a filosofia tomista, uma alma separada do corpo
seria uma mônada isolada, separada do mundo e de toda
comunicação.
Por fim encontramos semelhante concepção também na
antropologia contemporânea, segundo a qual o ser humano
só pode ser compreendido como um ser multidimensional.
Tudo o que este ser vive, ele o faz na sua totalidade, com
todas as suas dimensões. Isolar uma das dimensões desse
ser multidimensional significa não mais existir ser humano.

3.5.1. A analogia entre um computador e um ser humano


Não obstante todas as tentativas de substituir o dualismo
antropológico na linguagem religiosa, ele permanece até
hoje. Ou pelo menos mantém-se o costume de referir-se ao
ser humano como um ser de corpo e alma. No entanto
permanece também o perigo de interpretar as noções no
sentido platônico-dualista. Para que isso não mais aconteça,
toma-se essencial a substituição do modelo tradicionalmente
usado na descrição do ser humano por um novo modelo.
Nele a terminologia corpo e alma poderia até se manter, mas
não num sentido dualista.
Dentro da corrente de pensamento chamada de Nova
Era, podemos encontrar tentativas de compreender o ser
humano comparando-o a um computador, no qual o corpo
sena o hardware e a alma o software, ou o programa do
computador. Frank J. Tipler, em seu famoso livro A física da
imortalidade, faz a seguinte comparação a respeito da
concepção antropológica de Tomas de Aquino.
Aos olhos de Tomás de Aquino, a alma humana precisa
de um corpo para pensar e sentir, da mesma maneira como
um programa de computador precisa de um computador
32
concreto para funcionar.
Esse modelo aparentemente rejeita a base dualista,
acentuando a tradição de 'Tomás de Aquino da correlação
substancial entre corpo e alma. Todo usuário de um
computador sabe, no entanto, que o mesmo programa pode
ser instalado em um novo computador.
Nesse sentido, o modelo, por um lado, explica e sustenta
a tese de que uma alma sozinha não pode existir, mas, por
outro, abre ampla possibilidade para urna compreensão
moderna de todo tipo de transmigração da alma na morte.
Ela passaria de um corpo para outro, da mesma maneira
corno um programa de computador poderia ser instalado em
um novo computador. O hardware muda, mas o software
permanece o mesmo. Todavia, não é dessa maneira que a
filosofia e a teologia contemporânea compreendem a morte e
a pessoa humana.
Baseado na filosofia tomista, a teologia atual - pelo
menos desde Karl Rahner - sustenta a tese de que a vida e a
morte devem ser compreendidas como experiências do ser
humano na sua totalidade.
Para compreender a totalidade inseparável existente
entre corpo e alma, não podemos operar com o modelo de
hardware e software, como o faz F. J. Tipler. Porém, uma
analogia entre ser humano e computador parece muito
inteligível para muitos de nossos contemporâneos. Caso
queiramos manter de alguma maneira essa analogia,
devemos ampliar o modelo de Tiffler em seus aspectos
fundamentais. Ciente das limitações de tal analogia e
deixando bastante claro que um modelo estático jamais
poderia abranger a complexidade do ser humano, ainda
assim poderíamos estabelecer uma analogia entre o ser
humano e o computador nos seguintes termos: o hardware
seria a dimensão material do homem, ao passo que a
dimensão psíquica da personalidade seria o software. A alma,
por sua vez, poderia ser compreendida como a energia - a
corrente elétrica que possibilita o funcionamento do sistema;
tudo isso dentro da visão tradicional de que a alma é a forma
33
do corpo.
De acordo com essa analogia, chegaríamos ao seguinte
modelo:
Dimensão da alma, o circuito energético do sistema
Dimensão material, o hardware
Dimensão psíquica, o software

Todo ser humano é dotado de um sistema dinâmico, cujo


funcionamento requer a integração de todos os seus
componentes, de tal forma que, por meio de um feedback
constante, todos eles evoluam num processo de integração
da matriz dinâmica do sistema como um todo. Não é
possível, pois, separar um dos componentes sem destruir o
sistema todo. Esse fato ficou mais evidente desde que, há
poucos anos, começamos a compreender a consciência não
mais como um dado estabelecido e fixo, mas como um
sistema entrelaçado de correlações e interações, em que, por
meio de processos constantes e dinâmicos, forma-se de
instante a instante o sistema daquilo que denominamos o
34
"eu".
Todos esses processos, porém, realizam-se integrados
num sistema. Da mesma maneira que um computador só
funciona quando há inter-relação entre hardware, software e
circuito elétrico, também o ser humano só funciona dentro do
seu sistema integrado. Não é possível separar um dos
componentes sem comprometer a dinâmica do sistema
inteiro. 33. cr. Concílio de Viena (DS 902).
Isso vale tanto na vida como na profunda transformação
pela qual passa o ser humano na morte. Essa transformação
significa uma progressiva transmutação. Conforme o modelo
apresentado nos capítulos anteriores, essa transmutação se
dá num espaço de tempo que vai até o momento em que
ocorre a morte real. A partir de então, o ser humano passa a
integrar uma realidade que se caracteriza pelo fim das
dimensões temporais e início da eternidade.
A entrada na eternidade, no entanto, segue os mesmos
parâmetros que norteiam a vida: no decorrer de um
processo, cujo início e fim podem ser situados claramente
como "morte clínica" e "morte real".
Nesse período, enquanto de um lado se desfaz a vida das
células que compuseram o ser humano, de outro forma-se
progressivamente aquilo que, em termos teológicos,
chamamos de "a 'pessoa gloriosa", ou "o corpo glorioso", ou
"a pessoa ressuscitada". É no período entre a morte clínica e
a morte real que ocorrem também aquelas experiências que
a religião denomina "Juízo", "Purgatório" etc.
Interpretando assim o processo do morrer em toda sua
complexidade, chegamos ao seguinte modelo do que
acontece com o ser humano a partir de sua morte aparente:

Modelo de transmutação progressiva na morte aparente


(Cf. Oscar G. Quevedo)

Recuperação progressiva da consciência


Inicio da vida eterna
Inconsciente Processo de transformação progressiva,
rumo à formação de um corpo glorioso.
Processo de ampliação das dimensões psíquicas
Juizo
Purgatorio

Vida morte real


Limite da revitalização Processo de morrer no nível
biológico morte aparente
Morte clinica + 21 dias
+ 8 dias

3.6. O que há depois da morte real?

As respostas daqueles que afirmam que, com a morte


real, a vida não termina para sempre, podem ser divididas
em duas grandes tendências: depois da morte há a
continuação da vida em dimensões novas, isto é, a vida
eterna. Esta é a resposta da religião cristã, e sua convicção
baseia-se em toda uma história de revelação divina. De outro
lado, há os representantes da doutrina reencarnacionista.
Afirmam estes que, depois desta vida, a mesma pessoa
passará por outras 'vidas semelhantes a esta. A base para
essa afirmação está, de um lado, na antropologia dualista,
superada hoje em dia pela ciência. De outro lado, trata-se de
uma visão que tenta basear a resposta sobre o que vem
depois da morte num princípio que exclui a ideia de que há
um Deus pessoal que ressuscita. Sobre as várias vertentes
dessa corrente de pensamento entraremos em detalhes nas
partes seguintes.
Uma vez excluída a suposição de que a morte significa a
aniquilação do ser humano para sempre, a discussão se
restringe basicamente a uma indagação sobre qual das duas
concepções sobre a vida após a morte é verdadeira: a
ressurreição, isto é, a sobrevivência do ser humano em
novas dimensões, junto com Deus, ou a reencarnação.
Entraremos nessa questão com o claro intuito de
esclarecer o problema a partir dos mais variados enfoques,
tratando a questão da sobrevivência após a morte, primeiro à
luz da ciência, depois a partir de um enfoque filosófico.

3.7. Como compreender a ressurreição?

No que diz respeito ao enfoque teológico-religioso da


ressurreição, que, por sua vez, também deve ter uma base
racional, chamamos a atenção para o nosso livro
35
Reencarnação ou ressurreição uma decisão de fe'.
Segundo o enfoque dado às reflexões aqui apresentadas,
gostaríamos de lembrar que, a partir de uma base lógica e
racional, tudo aquilo que o Magistério da Igreja ensina e
sempre ensinou sobre o destino do homem na morte fica
muito mais compreensível.
Na morte, o ser humano sai das dimensões do espaço-
tempo cósmico e entra em outras dimensões,
tradicionalmente chamadas de eternidade.
A eternidade sempre foi definida como uma dimensão
sem tempo. A partir do momento em que a pessoa entra
nessa dimensão, não existe mais tempo para ela e,
consequentemente, o tempo não pode mais "passar".
Mas, se não há tempo, também não pode ocorrer a
passagem do tempo entre um acontecimento e outro. Isso
significa que, na eternidade, aquilo que só conseguimos
pensar em termos de uma sucessão temporal são na
realidade acontecimentos simultâneos. No momento em que
a pessoa se desliga das dimensões do tempo, ela alcança o
"final dos tempos".
Num único instante atemporal, essa pessoa passa a
vivenciar aquele evento que para o cosmo - por ser ligado ao
tempo - só acontecerá durante o transcorrer de talvez
milhões e milhões de anos: o fim do mundo e,
consequentemente, "o juízo final". Do ponto de vista do
espaço-tempo, o fim do cosmo pode demorar talvez milhões
de anos ainda. Mas, para quem não mais está preso à
passagem do tempo, esses milhões de anos do cosmo não
existem. A pessoa que ultrapassou a dimensão do espaço-
tempo vivencia tudo num único "instante atemporal".
Aquilo que numa linguagem científica se denomina o fim
do espaço-tempo foi chamado por Teilhard de Chardin de o
"ponto ômega" da criação. Dentro de uma linguagem
teológica, esse ponto ômega pode ser identificado com o
Juízo Final, onde acontecem a Ressurreição do corpo e a
Parúsia.
O juízo particular, de um lado, e o Juízo Final, de outro,
sempre foram compreendidos, na linguagem tradicional,
como uma sequência temporal. Levando a sério o real
significado de "eternidade", descobrimos que aquela aparente
sequência temporal é, de fato, uma sequência lógica.
Essa sequência lógica torna-se, na vivência concreta do
indivíduo que saiu de sua ligação com o tempo, uma vivência
simultânea. Uma vez considerado o real significado da
palavra eternidade, é possível compreender de maneira
muito mais clara tudo aquilo que se falou no Magistério da
Igreja sobre a ressurreição do corpo e o fim do mundo. Ao
mesmo tempo, é possível respeitar também as novas
descobertas da física sobre a multidimensionalidade do
tempo. E, ato contínuo, resolver até o problema de como
harmonizar a exigência de uma ressurreição do corpo
verdadeiro e individual com a ressurreição daquilo que faz
parte do conteúdo do Juízo Final.
Foi sobretudo na teologia alemã dos anos 70 e 80 que se
acentuou o fato de que a ressurreição do corpo implica
também tudo o que aconteceu no decorrer do curso histórico
de minha vida pessoal como consequência de meus atos e de
minhas omissões.
Com tudo isso também serei confrontado à luz dos
parâmetros de Deus. E, na totalidade de minha existência
individual e histórica, entrarei "como ser humano global na
36
união com Cristo ressuscitado, união que supera a morte".
Tal concepção está sendo chamada de o modelo de uma
"ressurreição do homem global na morte". Nela, diz o jesuíta
Medard Kehl, "foi possível, em grande medida, chegar-se a
37
um consenso".
A ressurreição das dimensões sociais do meu corpo
acontece numa sequência lógica, após a ressurreição das
dimensões individuais do meu corpo. Essa sequência lógica,
no entanto, não pode significar "um depois" temporal, porque
na eternidade não há mais tempo. Daí chega-se à concepção
de que, em termos de tempo, o Juízo Final acontece para a
ressoa no momento de sua morte. Consequentemente, é
nesse momento que se realiza também a ressurreição do
corpo em nível individual-concreto e social-histórico.
A pessoa, na morte, encontra-se junto com todas as
outras pessoas que, do ponto de vista do contínuo espaço-
tempo, jamais viveram e jamais irão viver. Encontra-se junto
com Jesus morto e ressuscitado. Fora do tempo, ela já
vivencia a Parúsia, apesar .de que, para aqueles que estão
ligados ao tempo, o ponto ômega da evolução ainda está
num futuro longínquo. Para uma pessoa na eternidade',
porém, não pode existir futuro, porque não mais existe
tempo.
Para compreender essas reflexões, devemos aprender a
pensar de maneira simultânea em várias dimensões. Aquilo
que, numa dimensão ligada ao tempo, só pode ocorrer por
meio de uma sucessão de eventos, pode, sem contradição
nenhuma, numa outra dimensão sem tempo, acontecer de
maneira simultânea.
Assim, é possível representar o destino do homem além
da morte pelo seguinte esquema:

3.8. Juízo e ressurreição do corpo a partir do modelo


global do homem

Eternidade (sem tempo sem espaço) Simultâneo em


termos de eternidade
Juízo particular Ressurreição do corpo (dimensão físico
individual)
Sucessivamente em termos lógicos
Vida Individual
Ponto Alta Espaço tempo cósmico Ponto Ômega Juízo
final Ressurreição do corpo Dimensão histórico social
Eternidade (sem tempo sem espaço)
Purgatório Céu Inferno

3.9. A ideia de que na morte a alma não se separa do


corpo é perfeitamente compatível com o ensinamento
dogmático da Igreja

Muitos cristãos, confrontados com os novos modelos


acima apresentados, se inquietam por causa de uma questão
perfeitamente compreensível: a igreja também não ensinou
que, com a morte, a alma se separaria do corpo? A nova
antropologia da morte não entra em choque com os
ensinamentos dogmáticos de nossa fé?
Eis uma indagação que deve ser levada a sério. Como
talar da ressurreição do homem global na morte quando a
Igreja mantém em suas declarações o esquema corpo-alma,
segundo o qual, com a morte, a alma se separaria do corpo,
para, assim, "imediatamente após a morte", entrar na
eternidade? (Constituição Dogmática Benedictus Dei - DS
1000).
Diante dessa questão, devemos lembrar o que diz Gisbert
Greshake de forma bastante clara sobre o assunto, depois de
minuciosa análise dos textos do Magistério onde se usa o
modelo antropológico corpo-alma38: 38. Sobretudo as
declarações do Concílio de Latrão, Concílio de Viena e
Constituição Dogmática "Benedictus Dei".
O modelo dualista não é um dogma da Igreja. O modelo
é uma chave hermenêutica para exprimir verdades da fé.
Escreve o autor e especialista no assunto o que: o
ensinamento foi "expresso dentro das categorias da
antropologia corpo-alma. Considerando que essas categorias
são apenas meios para exprimir o cerne da questão, elas
mesmas não estão incluídas na definição assim o diz toda
38
hermenêutica responsável pelos dogmas".
O ensinamento doutrinal da Igreja usa o esquema corpo-
alma para exprimir verdades decisivas da fé. Essa
antropologia corpo-alma, no entanto, não está sendo
39
apresentada como obrigatória".
O autor chega assim à seguinte conclusão sobre o
assunto:
"Não vejo lugar nenhum onde uma interpretação dualista
(do esquema corpo-alma) seria exigida pelo infalível
40
Magistério da Igreja”.

Ao mesmo resultado chega também José Comblin, em


sua antropologia cristã:
Nesses textos, a Igreja não pretende explicar o que é
alma. Nem tampouco dar uma explicação filosófica da alma.
O que se pretende afirmar com a palavra "alma" é que há um
princípio que dá identidade ao homem e permanece depois
da morte à espera da ressurreição. Nem tudo no homem
41
desaparece pura e simplesmente.

Resolvida assim a questão dogmática, também não há


razão teológica para deixar de lado um modelo antropológico
que, como tentamos mostrar nos capítulos anteriores, foi
superado completamente.
As grandes verdades imutáveis de nossa fé não
dependem de modelos. Os modelos podem mudar. As chaves
hermenêuticas podem ser trocadas. O que não muda é a
verdade da fé.
PARTE 2

O ENFOQUE CIENTÍFICO

AS RESPOSTAS CIENTÍFICAS DIANTE DA ALTERNATIVA


DE REENCARNAÇÃO OU RESSURREIÇÃO

1. O valor das "provas científicas" da reencarnação

Um dos grandes argumentos usados na discussão sobre a


possibilidade da reencarnação é o fato de existirem milhares
de pessoas afirmando que reencarnaram e que se lembram
de uma vida anterior. Os livros espíritas estão cheios de
testemunhos, às vezes bastante impressionantes.
Será que nos encontramos de fato diante de provas
diretas e empíricas, como o espiritismo afirma? Ou será que
existe outra explicação para esses fenômenos, que, na
realidade, não podem ser negados?
Para os adeptos do espiritismo, não há necessidade de
outras explicações, porque os fenômenos em si são claros.
Mas será que são de fato tão claros? Será que não buscam
de antemão aquilo que querem achar?
Se todo fenômeno de déjà vu, toda reminiscência de uma
vida passada e todo fenômeno mediúnico que não podem ser
explicados pelas vias conhecidas servem como prova de que
a reencarnação existe, então caímos de maneira muito fácil
numa atitude ideológica. Ao inexplicável dá-se a "explicação"
que mais nos agrada. Na época de Jesus, não se conheciam
as verdadeiras causas da epilepsia. A explicação que davam
ao fenômeno era que ele se devia à ação de um "mau
espírito", ou seja, à "possessão". Dizia-se que a pessoa
acometida pela doença estava "possuída" por um espírito.
E a cura administrada por Jesus também era interpretada
como a "expulsão" daquele espírito. Com o desenvolvimento
da psiquiatria, ficamos sabendo que a epilepsia é causada
não pela possessão de um espírito, mas por uma disfunção
no equilíbrio bioelétrico do cérebro. Restabelecido o
equilíbrio, a epilepsia é curada. Ninguém, hoje, atribuiria a
atuação do médico à "expulsão" de espíritos.
A partir dos trabalhos de Charcot e de outros médicos
psiquiatras do século XIX, conhecemos hoje em dia as razões
e os mecanismos de todos os sintomas da histeria - uma
doença psíquica curável, tratada pela psicologia e pela
psiquiatria. Mas, até o fim da Idade Média, a convicção geral
era de que os sintomas provocados por esta doença eram
sinais certos e visíveis de uma possessão pelo demônio.
Da mesma maneira que na época de Jesus não se
conhecia a verdadeira causa da epilepsia, assim como até o
século XIX também não se conheciam as razões dos
sintomas psicossomáticos da histeria, hoje os não-
especialistas ainda não conhecem a verdadeira razão de
muitos fenômenos parapsicológicos.
Recorrer à crença na atuação de um espírito como
explicação de tais fenômenos seria ficar no mesmo nível da
explicação da época de Jesus ou da Idade Média, quando se
acreditava que o epiléptico estava possuído pelo demônio,
em que se acreditava que a histeria era também possessão.
demoníaca.
Em vez de se limitar a uma explicação mágica e pré-
científica, seria bem mais prudente admitir que não se
conheciam, de fato, as causas de tais fenômenos, até porque
acontecem muitos outros fenômenos cujas causas
desconhecemos, e nem por isso se dão a eles explicações
esotéricas. Devemos antes de tudo examinar todas as
possibilidades para explicar o acontecimento, que podem
estar na própria natureza ou no psiquismo humano.
Vamos, pois, buscar e pesquisar tais manifestações. Essa
é última atitude científica, e não aquela que, de antemão,
declara que a ciência só pode aceitar a explicação baseada
na teoria da reencarnação. Afinal, existe de fato um mundo
psíquico bem mais amplo e complexo do que o que podemos
captar com os nossos sentidos.
Existem faculdades parapsicológicas que ultrapassam a
nossa capacidade de percepção normal. São essas
capacidades que devemos descobrir; são essas estruturas
42
inconscientes que devemos conhecer.
Diz Gastone de Bani, renomado médico e parapsicólogo
italiano: "O espírito humano determina fenômenos
telepáticos infinitamente mais complexos que os da
43
comunicação intermental". Em seu livro A face oculta da
mente, Oscar G. Quevedo apresenta um impressionante
quadro de faculdades do nosso inconsciente'. Faculdades que
vão desde as simples adivinhações e cálculos até os
fenômenos muitas vezes impressionantes de xenoglossia,
44
pantomnésia e clarividência.
Conhecemos inúmeros casos de curas aparentes, de
"lembranças de vidas passadas", de fenômenos telepáticos
de todo tipo. De modo geral esses fenômenos podem ser
explicados sem que se recorra à hipótese da reencarnação.
As forças do inconsciente em si são capazes de produzi-los.
Cabe a nós não cair na atitude dos contemporâneos de Jesus.
Em vez de basear as nossas explicações numa simples
hipótese reencarnacionista e muito tradicional, devemos
buscar caminhos novos para sua explicação. Caminhos que
superem uma visão filosófica dualista do homem, levem em
consideração tudo aquilo que hoje sabemos sobre as
complexas correlações entre o consciente e o inconsciente, e
também deixem espaço às verdades fundamentais da fé
revelada e àqueles fenômenos que consideramos milagres
verdadeiros de Deus.
É isso, pois, que tantas vezes se esquece nas discussões:
as afirmações reencarnacionistas são em grande parte
apriorísticas, baseadas num tipo de crença totalmente
superficial em relação a fenômenos claramente fora do
quadro daquilo que podemos considerar "verdadeiro milagre
de Deus". As provas apresentadas são em muitos casos
provas circulares que supõem aquilo que querem provar.
A doutrina da reencarnação não pode dispensar essa
crença, da mesma maneira que a doutrina cristã fundada na
ressurreição não pode dispensar a fé. A pergunta é se tal
crença é reconhecida abertamente ou está sendo camuflada
por argumentações aparentemente científicas.
Não queremos negar a importância que pode adquirir um
argumento científico para a fundamentação da fé. Tal
procedimento, afinal, tem uma longa tradição dentro da
filosofia cristã. O que queremos acentuar é o fato de quem
nem a doutrina da reencarnação nem a doutrina da
ressurreição podem fundamentar-se em provas puramente
experimentais. As duas doutrinas oferecem, em sua essência,
uma opção fundamental de fé. Reconhecer esse fato faz
parte de uma atitude de sinceridade absolutamente
necessária.

2. Fenômenos parapsicológicos para cuja explicação


não se precisa recorrer à hipótese da reencarnação

Mencionaremos a seguir alguns dos mais conhecidos


fenômenos parapsicológicos, para cuja explicação se recorre
muitas vezes à hipótese da reencarnação. Queremos mostrar
que tal hipótese é dispensável para explicar esses
fenômenos, uma vez que eles são explicados pela psicologia
e pela parapsicologia.

2.1. Aparições de pessoas ainda vivas ou mortas

É a partir da categoria "alucinações", ou talvez


"alucinações telepáticas", que se poderiam explicar sem
muita dificuldade as tão frequentes visões que uma pessoa
agonizante tem de pessoas ainda vivas ou já mortas. Não há
porque, a priori, classificá-las como manifestações espíritas.
Tampouco devemos chamar de "recordação de vidas
passadas" muitos fenômenos de recordação verdadeira, mas
inexplicáveis à primeira vista.
Em seu livro Panorama sobre a reencarnação, o psicólogo
holandês Hans Tendam, especialista em terapia de vidas
passadas, apresenta, sete tipos de recordação que podem
45
acontecer de maneira espontânea. São eles :
- reconhecimento de lugares à primeira vista;
- reconhecimento de pessoas à primeira vista;
- recordação em sonhos;
- recordação desencadeada por objetos, pinturas
ou livros;
- recordação desencadeada por situações similares;
- recordação aflorada em circunstâncias físicas ou
emocionais excepcionais;
- recordação na primeira infância.

Ao lado desses fenômenos de recordação, menciona


46
muitos outros sinais, como :
- aparência física;
- comportamento e hábitos específicos;
- habilidades;
- intuições;
- preferências;
- atitudes rígidas;
- emoções.

Segundo Tendam, todos esses fenômenos podem ser


indícios de vidas passadas, constituindo-se em provas de que
tais vidas existem.
Ao mesmo tempo, mesmo sendo adepto da terapia de
vidas passadas, Tendam, numa atitude de sinceridade
científica, afirma que os mesmos fenômenos podem ter
outras explicações, baseadas em nossos conhecimentos
atuais dos mecanismos parapsicológicos.

2.2. Recordações espontâneas em adultos

Segundo ele, podem se tratar de associações "que se


47
intensificam até a identificação" , sendo esta identificação
claramente falsa.Também podem ser identificações com
48
exemplos históricos atraentes.
Mas também em tais casos não são identificações "de"
49
alguém, mas com alguma personagem real ou fictícia.

2.3. Reconhecimento de lugares à primeira vista

Podem ser experiências de déjà vu. Sobre esse assunto


lembremos o que foi dito de maneira magistral por Oscar G.
Quevedo, em seu livro O que é parapsicologia, cap. IV, item
59.

2.4. Recordações de lugares históricos ou turísticos

São outro aspecto daquilo que se chama experiência de


50
déjà vu. Podem ser "falsas recordações" ou "falsas
51
memórias" .
As pessoas ouviram falar, em certos momentos do
passado, sobre tais lugares. Talvez na escola, em livros ou
em filmes. Tendo-se esquecido dessas informações há muito
tempo, a pessoa as revive porque algum acontecimento as
traz de volta; a recordação vem por partes, de tal forma que
as lembranças surgem de maneira vaga. Há então a
impressão de já ter estado naquele lugar, enquanto, na
verdade, a pessoa está recordando as informações que
recebeu do passado sobre o lugar.

2.5. Reconhecimento de pessoas à primeira vista

Podem ser explicadas a partir de experiências de déjà vu.


Também podem se tratar de associações com pessoas que já
52
conhecemos.

2.6. Recordações de vidas passadas

Tais recordações não podem ser usadas como "provas de


53
uma reencarnação" simplesmente porque um "teste
histórico" confirma a veracidade das descrições ou fatos
relatados. Referindo-se a uma pesquisa de Hans Holzer,
publicada em 1985 1313. Hans Holzer, Life Beyond life: The
evidence for reincarnation, West Nyack, Parker, o próprio
Hans Tendam firma que "alguns dos melhores exemplos de
_pesquisa,' incluindo o que chama de 'o caso perfeito de
reencarnação' (Holzer, p. 60), não são reencarnações e sim
54
obsessões ou mesmo apegos espirituais".
Estamos assim diante do fato de que, para praticamente
todas as experiências apresentadas como provas científicas
de reencarnação, os próprios adeptos da doutrina, pelo
menos aqueles que mantêm uma atitude cientificamente
séria, afirmam haver a possibilidade de outras explicações.
Sendo assim, voltamos outra vez a nossa afirmação inicial: a
doutrina da reencarnação é em última análise uma fé. E,
como toda fé, tem argumentos a seu favor e argumentos que
a contradizem. Tais argumentos geram discussões e
polêmicas. Mas deve-se ter sempre em mente que se trata.
de argumentos, e não de provas.
3. Afirmações de pessoas que se lembram de
encarnações anteriores

Dia após dia, aumenta o número de pessoas que afirmam


lembrar-se de experiências ocorridas em vidas anteriores. Há
muitas técnicas terapêuticas baseadas na psicologia
destinadas a conduzir as pessoas a fazer tais regressões ou
liberar reminiscências de vidas anteriores.
Muitos afirmam categoricamente lembrar-se de
existências anteriores a esta que estão vivendo. Outras
pessoas lembram-se, em certas circunstâncias, de já ter
vivido determinada situação. Tais experiências tornam-se
para as pessoas que a viveram ou para quem ouve ou lê
sobre elas a "prova irrefutável" de ter havido, de fato, um
regresso a uma vida anterior. E, se houve um regresso a tal
vida, é porque de fato ela existiu. Com isso, estaria provada
a doutrina da reencarnação.
Vários casos citados de reminiscência de vida passada
55
foram relatados pelo médico psiquiatra Nils O. Jacobson.
Os argumentos por ele usados parecem convincentes à
primeira vista. No entanto, apresentam a mesma
problemática que podemos constatar nos relatos de muitos
outros adeptos da reencarnação: o que é apresentado como
prova encerra a prévia convicção de tratar-se de uma
verdade. A grande pergunta que se faz nesses casos é
sempre a mesma: como explicar tais casos sem considerá-
los, de antemão, uma prova daquilo que se quer provar?
Apesar disso, os exemplos apresentados não podem ser
mero fruto do acaso. As investigações científicas dos
fenômenos mencionados pelo autor assim como tantos
56
outros casos semelhantes excluem a possibilidade de se
tratar de pura coincidência ou acaso. Será que estamos
mesmo diante de uma prova da reencarnação? A tentação de
responder afirmativamente e de justificar a crença na
reencarnação nesses acontecimentos supostamente
empíricos e em fatos interpretados de maneira tendenciosa é
bastante grande.
Mas será que não pode haver também outras
possibilidades de explicação? As pesquisas de parapsicologia
oferecem atualmente explicação para muitas manifestações
de percepção extra-sensorial. Estas consistem em
percepções, às vezes, totalmente inexplicáveis pelos
parâmetros de uma ciência empírica, obtidos por meio de
experiências com objetos, pessoas e eventos em que os
sentidos quase não são usados. Essas experiências vão desde
a telepatia e a clarividência até a precognição e a
retrocognição. Como podemos ver, não há razão nenhuma
para se recorrer, de antemão, à hipótese da reencarnação
como a única explicação de tais fenômenos. E, mesmo
quando todas as outras hipóteses se mostrarem
insatisfatórias, ainda assim não nos parece válido acreditar
que a teoria da reencarnação "explica coerentemente toda
57
essa variada gama de acontecimentos".
Quantas vezes já se explicou um fenômeno com uma
hipótese que, apesar de parecer coerente, mais tarde se
revelou falsa?
Não queremos negar que a reencarnação possa ser usada
como uma hipótese para explicar tais casos. Mas ela é ainda
apenas uma hipótese entre tantas outras. E, entre essas
outras, muitas parecem bem mais prováveis por não
apresentarem as grandes contradições da teoria da
reencarnação. Nesse caso, porque aceita-la a como a mais
provável? Os acontecimentos vividos por. meio das terapias
de vidas passadas devem ser investigados para se descobrir
se deixaram algum vestígio (testemunha, referências
escritas, restos arqueológicos etc.). Caso tenham deixado,
deve-se recorrer aos conhecimentos parapsicológicos para
explicá-los. Se não há vestígios, não existe método científico
para provar que eram verdadeiros. Aí entramos no campo da
ideologia, e não da ciência.

4. A terapia de regressão a vidas passadas pela via da


hipnose

Nos últimos anos vêm aumentando cada vez mais as


informações sobre supostas provas experimentais da
reencarnação por vias de terapias hipnóticas. Uma pesquisa
representativa, realizada em 1989 com 1.754 jovens com
idade entre 12 e 20 anos, revelou que uma porcentagem
elevada desses jovens acreditava na possibilidade de entrar
em contato com mortos e de poder regredir a vida passadas
por meio da hipnose.
Procedendo-se a uma análise em que os fatores variavam
entre -1 e +1, a opinião de que é possível entrar em contato
com mortos alcançava o valor de 0,80; e a convicção de que
é possível regredir a vidas passadas por meio da hipnose
chegou a um fator de 0,69. Ambos os fatores indicam, assim,
a presença significativa de tais convicções nas diferentes
58
faixas etárias.
É importante frisar que, nesse contexto, as experiências
hipnóticas de regressão a vidas passadas não representam
novidade nenhuma. Elas já foram realizadas no século XIX.
Mas só a partir das experiências do psicólogo sueco John
Bjõrkhem, realizadas na primeira metade do século XX, com
mais de mil pessoas, elas se tornaram mais conhecidas.
Mesmo assim os resultados de Bjõrkhem não apresentam
nada de especial, porque as pessoas entrevistadas sob
hipnose responderam de maneira muito vaga e genérica
sobre suas supostas vidas passadas.
Em 1956, um relato sobre reencarnação foi publicado por
M. Bernstein, no livro The Search for Bridey Murphy. Trata-se
de experiência de regressão a vida passada realizada por
Bernstein, no sábado, 29 de novembro de 1952, com a sra.
59
Virgínia Tighe.
Conhecido como o "Caso Murphy", o livro tornou-se um
Verdadeiro best-seller, usado pelos adeptos da reencarnação
como prova cientifica da veracidade dessa teoria.
Na realidade, a experiência relatada neste livro revela um
dos principais problemas que envolvem esse tipo de
experiência: a sugestão. Sobre o perigo de hipnotizado ser
sugestionado pelo hipnotizador trataremos mais adiante
neste capítulo.
Em 1978, o livro de Thorwall Dethlefsen sobre a terapia
da reencarnação e sua aplicação no campo da saúde marcou
60
o início de uma nova fase de interesse por tais terapias.
Suas teorias foram elogiadas e propagadas com ênfase
pelos adeptos da doutrina da reencarnação. Parecia que,
enfim, havia sugerido um método cientifico e uma prova
experimental de que os seres humanos, de fato, têm várias
vidas.
A terapia de vidas passadas foi utilizada inicialmente para
descobrir, por meio da hipnose, os possíveis traumas
psíquicos sofridos no passado, tanto na infância como em
pressupostas vidas passadas. O objetivo de tal terapia era
levar o paciente a reviver esses, traumas, para poder, então,
supera-los.
Devemos esclarecer que a psicoterapia clínica atual não
aceita mais esse método de trabalho. Essa é a razão pela
qual a terapia de vidas passadas está sendo rejeitada pelos
representantes da psicoterapia cientifica.
Os adeptos da reencarnação, no entanto, insistem na
eficiência de seus métodos. Constatamos, além disso, que
cada vez mais o grande público esta assimilando esse
método como aquele que é, por excelência, capaz de
investigar e fazer descobertas sobre suas vidas anteriores. A
consequência de tudo isso é que hoje há milhares de pessoas
que se querem submeter a uma "regressão", não por razões
terapêuticas, mas por curiosidade. Todos esses candidatos a
regressões querem no fundo confirmar por meio de suas
experiências aquilo em que já acreditam em maior ou menor
escala: a reencarnação.
A fé na doutrina age desse modo como uma forte
predisposição a receber sugestões do terapeuta. Tais
sugestões podem ser por métodos tanto hipnóticos como
não-hipnóticos - o resultado é o mesmo. O paciente deixa-se
conduzir pelas orientações do terapeuta de tal maneira que
começa a fazer associações livres. Essas associações são
dirigidas cada vez mais na direção de uma regressão antes
do nascimento. Passo a passo, o terapeuta pede ou exige
recordações pré-natais, e o paciente, em estado de transe ou
pré-transe, deixa-se conduzir pelas sugestões e, de fato,
chega a tais recordações, descobrindo lembranças até então
esquecidas, bem como experiências feitas em outras vidas.
Por meio dessas associações finalmente o paciente descreve
as experiências vividas. Com isso teríamos a prova da
existência de vidas passadas e consequentemente a prova de
que a reencarnação existe. A terapia de vidas passadas
toma-se assim, para muitos, o argumento mais convincente
para provar a reencarnação.
Só que, na realidade, a questão não pode ser resolvida
de maneira tão simples. Até o pesquisador Ian Stevenson,
adepto a priori da reencarnação, reconhece, depois da
análise minuciosa de muitos e muitos casos de regressão,
que a maioria das recordações apresentadas em tais
61
processos não são reais, mas produto da fantasia.
As recordações extraordinárias não passam do resultado
da situação específica vivenciada pela pessoa sob o efeito da
sugestão, o que a faz entrar em transe ou pré-transe. Por
meio de técnicas específicas, o terapeuta a conduz pelos
caminhos da sugestão e do reforço sugestivo. Ele determina
as regras e dirige as associações, exercendo um domínio que
se torna tão mais decisivo quanto mais o paciente se sentir
inseguro. E, por se sentir inseguro, busca segurança no
terapeuta. A aceitação daquilo que lhe está sendo sugerido
não passa mais por um processo crítico de reflexão. Trata -se
muito mais da expressão de algo resultante de um laço
emocional dentro do qual o terapeuta é aceito como guru e
mestre.
Quando o paciente se sente seguro, entra numa espécie
de conflito por não ser sugestionado pelo terapeuta. Ainda
que ele queira responder ao que o mestre dele deseja, não
pode, porque não há recordação nenhuma de vida passada.
O mestre, porém, insiste em que ele busque tal recordação.
É nessa situação que o paciente desenvolve aquele tipo de
atitude que na psicologia conhecemos sob o nome de
confabulação ou fabulação.
O manual de psiquiatria de Antoine Porot define o termo
fabulação da seguinte maneira:

Nome dado a fatos imaginários que se apresentam na


forma de relato mais ou menos coordenado em torno de um
tema principal C..) resultante d'e uma "compensação
imaginativa" de complexos de inferioridade ou de fracassos
afetivos, seguidos de rejeição. Constrói-se todo um enredo
que, mais tarde, conforme a complexidade espiritual e as
tendências da pessoa, pode produzir estados delirantes... ou
62
imaginários...
Mediante tal fabulação, o paciente, sob a sugestão de que
está regredindo a vidas passadas, substitui a sua falta de
experiência real de vidas passadas pelo produto de sua
imaginação. Faz parte do fenômeno da fabulação que a
pessoa que o produz comece a acreditar naquilo que
fantasiou, defendendo suas convicções de maneira tão
convincente que em outras situações chegam a "causar"
63
deploráveis erros judiciários.
Nos casos das tais fabulações aqui tratadas, talvez não
provoquem erros judiciários; porém produzem relatos que,
de fato, parecem verdadeiros, mas que, no entanto, não
passam de produto da imaginação resultante de certos
conhecimentos sobre a época histórica "revivida". Tais
conhecimentos podem ser adquiridos mediante os diversos
meios intelectuais e até mesmo por vias extra-sensoriais,
conhecidas e descritas pela parapsicologia.
No fundo, porém, é a correlação entre o paciente e o seu
"terapeuta" que determina a construção da fabulação.
Baseada e alguns elementos típicos da situação, o terapeuta
induz o paciente a fazer associações, sugerindo que tais
elementos têm um significado especial. O paciente aceita a
sugestão, reforçada e recompensada pelo terapeuta, de
modo que se desenvolve todo um esquema de sugestão e
autossugestão capaz de convencer o paciente, o terapeuta e
todos os que acreditam na teoria da reencarnação a aceita-la
como verdade inquestionável.
Hansjõrg Hemmiger, depois de analisar os mecanismos
de transe e sugestão aplicados nas terapias de regressão,
assim como os seus resultados, chega à seguinte conclusão
sobre a veracidade dos relatos sobre vidas passadas:

Em geral faltam casos documentados de maneira


convincente... Muitos dos detalhes (em geral históricos) são
impressionantes e até coerentes, mas não é possível prova-
los. Muitos são claramente improváveis; outros, embora
pareçam prováveis, são falsos... Aos raros casos
aparentemente fundamentados. em relatos contrapõe-se a
experiência generalizada de que tais relatos de vidas
passadas seguem clichês históricos banais e contêm não
poucos erros... O leitor e observador sem preconceitos
chegará à conclusão de que as supostas recordações de
reencarnações refletem em geral todo o imaginário que
64
povoa a mente do cidadão comum.

Um exemplo da absoluta banalidade de tais recordações


de vidas passadas foi apresentado num programa de
televisão a cabo de São Paulo, em agosto de 1995. Foi
mostrada uma mulher que, sob hipnose, ia se lembrando de
sua vida anterior em certas cidades da França e da Escócia.
Um grupo de repórteres, junto com o terapeuta, conduzia a
mulher por aqueles lugares onde ela teria vivido para que ela
pudesse reconhece-los e descreve-lo. Os comentários dela
eram tão vagos e genéricos que mais serviam para
desestimular do que para convencer possíveis adeptos da
terapia de vidas passadas.
A título de exemplo, queremos apresentar aqui a
transcrição de um pequeno trecho do programa. Trata-se do
momento em que a pessoa pressupostamente reencarnada,
ao lembrar-se, em transe, do nome "James Burns", é
conduzida de olhos fechados pela pequena cidade no sudeste
da Escócia onde o tal James Burns teria vivido muito tempo
atrás como médico. Ela deveria reconhecer o lugar.
Aqui apresentamos comentários feitos pela mulher no
momento em que visita a escola de medicina:

- Este edifício é fantástico.


Vamos entrar...Realmente sinto-me em um lugar muito
familiar.
Comentador: - Sente forte emoções neste lugar?
- Bom, sim.
(Eles entram no pátio)
- Bom. Antes, tudo isso era um jardim. E não havia esta
torre.
Comentador: - O que era isso antes?
- A escola de medicina... 'tudo isso era jardim. Podemos
entrar e ver um. pouco mais? 'tudo isto era jardim.
(Eles entram no edifício)
Comentador: - Estava como pensávamos. A atmosfera
interior envolvia Helena...
- Que sentimento estranho. Gostaria de subir esta
escada. Podemos?
Comentador: - Helena Piquering e nossa equipe foram
capturados por uma atmosfera de lembranças do passado.
- Eu poderia ver a entrada? Estas são as galerias. Meu
Deus, me sinto como... um fantasma.
Comentador: - Parecia que Helena nos guiava como
através de uma cortina.
- A biblioteca! Falei que havia uma biblioteca... Meu
Deus, tenho que sentar.
Comentador: - Nos tempos de James Burns, esta era a
biblioteca da escola.
- Vamos por aqui.
(O grupo sai do edifício.)

A própria maneira como o filme é apresentado é um


exemplo de sugestão que provoca no espectador a
imaginação e consequentemente a fabulação. O que esse
caso pode mostrar de extraordinário é somente certa
percepção extra-sensorial, nada mais. Mas; sem entrar no
campo da parapsicologia e de seus fenômenos extra-
sensoriais, a simples capacidade de fabulação que um
hipnotizado desenvolve é suficiente para revelar como
totalmente infundadas as tais provas científicas da
reencarnação obtidas por meio da terapia de vidas passadas.
Os seus méritos talvez existam no campo terapêutico, em
que alguns resultados podem ser alcançados no tratamento
de problemas psíquicos e psicossomáticos. Mas não podem
oferecer uma prova cientifica de que há reencarnação. As
suas tão propaladas revelações sobre vidas passadas
mostram-se falsas à luz de uma análise crítica: um
observador atento logo perceberá' que não passa de
sugestão, autossugestão; _fabulação ou talvez, em certos
casos, de percepções extra-sensoriais.
Wiesendanger, psicólogo que pesquisou de maneira
profunda e científica a terapia da reencarnação, resume a
questão da seguinte maneira: "Disparidades e contradições
evidentes, erros fáceis de serem demonstrados representam
a regra, e não a exceção, até mesmo em regressões
aparentemente bem-sucedidas. Ocorre que vários clientes se
veem identificados com a mesma figura histórica; também
ocorreu de um regredido descobrir em sessões distintas
várias vidas distintas, vividas na mesma época (...); outras
vezes ocorre de alguém identificar o seu eu com uma pessoa
ainda viva; são relatados fatos sobre descobertas técnicas
que ainda não existiam na época que o acontecimento se
situa. Há pessoas regredidas que contradizem fatos históricos
conhecidos, mencionam lugares, países e pessoas fictícias e
produzem de maneira convincente dados históricos falsos...
Entre dúzias de volumosos relatos editados por terapeutas
reencarnacionistas há três décadas, não conheço nenhum
que admitiria tais problemas nem numa nota ao pé da
65
página".
É claro que nem todas as informações dadas em estado
de hipnose são falsas ou banais. Não há dúvida de que, por
meio das propaladas terapias de vidas passadas, é também
possível descobrir fatos verdadeiros sobre os quais a pessoa
hipnotizada não podia saber. Fatos interessantes, que podem
ser verificados e não podem ser identificados como
mecanismos de fabulação.
Para todos eles, no entanto, há a possibilidade de uma
explicação psicológica ou parapsicológica. O psiquiatra
americano Edwin S. Zolik mostrou, já em 1958, que
informações arquivadas, mas esquecidas podem provocar
66
experiências de supostas reencarnações.
Harald Wiesendanger menciona como exemplo típico de
reminiscência falsa de uma vida passada as experiências do
psiquiatra finlandês Reima Kampmann, da Universidade de
Oulu. Ele usou regressões em vidas passadas com centenas
de crianças e adultos e 40% dessas pessoas apresentavam
lembranças reencarnacionistas de vidas passadas.
Pesquisando essas lembranças de maneira crítica com a
ajuda da hipnose, ele descobriu o seguinte: "Com habilidade,
muitos dos 'regredidos' tinham reunido fragmentos de
informações procedentes de livros, filmes e acontecimentos
de Sua vida atual. Uma estudante de 19 anos descreveu em
ordem cronológica não menos de oito vidas anteriores. Ela
teria sido, entre outras coisas, filha de um hospedeiro inglês
do século XIII. Nesse contexto, a estudante cantava até uma
canção popular em inglês arcaico... Questionada, porém,
sobre as fontes de seus conhecimentos pressupostamente
pré-natais, ela revelou que, com 13 anos, tinha folheado,
numa biblioteca, textos sobre a época por ela descrita.
Lembrava-se dos nomes dos autores... até mesmo do lugar
exato onde fora impressa a canção em inglês arcaico.
Kampmann, depois, pôde pesquisar e descobrir os livros em
67
questão".
68
A criptomnésia revela-se, desse modo, uma
possibilidade real e verdadeira para explicar pressupostos
conhecimentos históricos.
O pai da psicologia analítica, Carl Gustav Jung, menciona
em seu livro O homem e seus símbolos um caso típico desse
fenômeno. Trata-se de um episódio que nada tem a ver com
reencarnação, mas que apresenta todas as características do
que tantas vezes se menciona como prova de uma suposta
69
vida anterior.
Diz Jung que, por acaso, descobriu no livro Assim falou
Zaratustra, do famoso filósofo Friedrich Nietzsche, a
descrição de um fato mencionado no diário de bordo de um
navio de 1686. O estilo e a fraseologia do texto escrito por
Nietzsche distinguem-se claramente do estilo e da fraseologia
normal do autor. Será que descobrimos aqui vestígios de
uma vida anterior de Nietzsche?
Será que o autor de Zaratustra teria vivido uma vida de
marinheiro no século XVII? Como adepto da reencarnação,
poderia sem maiores dúvidas responder que sim. Eis mais
uma prova de que as pessoas se lembram de vidas passadas
e que tais vidas realmente existem! - assim eu poderia
argumentar. Só que eu me enganaria, da mesma maneira
que tantos outros a partir de tais fatos, querem provar que
as pessoas vivem mais de uma vez.
O próprio Jung dá uma explicação totalmente
convincente, sem nenhuma necessidade de recorrer à
hipótese da reencarnação.
Pesquisas feitas com a irmã de Nietzsche, realizadas pelo
próprio Jung, demonstraram que Nietzsche, na idade de 11
anos, tinha lido um livro, publicado em 1835, no qual se
encontra o episódio do diário de bordo, acontecido em 1686.
Cinquenta anos depois, quando o filósofo escreveu o seu
Zaratustra, aquele episódio emergiu de seu inconsciente. Ele
o escreveu sem se lembrar de que reproduziu o mesmo texto
lido por ele aos 11 anos.
Um caso típico de criptomnésia, diz Carl Jung. A
criptomnésia explica tais recordações, sem nenhuma
necessidade de recorrer à crença na existência de
reencarnação.
Contudo, a criptomnésia não é a única possibilidade para
explicá-las. Há, ainda, a percepção extra-sensorial, fenômeno
que, como a criptomnésia, nada tem a ver com
reencarnação. Tanto a criptomnésia como a percepção extra-
sensorial poderiam, sem as contradições da hipótese da
reencarnação, explicar os fenômenos de que ora tratamos.
Por que então se fixar numa única hipótese, rejeitando todas
as outras? Tal atitude não é científica, mas ideológica.

5. As experiências do déjà vu ou déjà vécu

Tais experiência, são muito comuns. Elas acontecem nas


mais variadas situações e com muitas pessoas. O seu
elemento central consiste na sensação de já ter visto ou
vivido certa situação ou de já conhecer certo lugar.
A essa experiência se podem acrescentar lembranças de
lugares e objetos que não mais existem, mas que existiram
numa época do passado. Recordações que muitas vezes
podem ser provadas por meio de fotografias ou de
lembranças de outras pessoas.
Como explicar tais fenômenos?
Mais uma vez, procura-se explicá-los com a hipótese da
reencarnação. E de novo queremos ressaltar que tal
explicação se baseia numa hipótese nunca provada, ao passo
que existem outras possibilidades de explicações baseadas
em hipóteses comprovadas.
Johannes Mischo relata que, hoje em dia, existem
modelos neurológicos por meio dos quais é possível
compreender a experiência do déjà vu como dissimetria na
transmissão de informações nas duas metades do cérebro.
Caso uma informação transmitida pelos neurotransmissores
chegue um milissegundo mais tarde numa das partes do
cérebro, este atraso pode provocar a impressão típica do "já
70
visto".
Outras possibilidades para explicar o mesmo fenômeno
sem recorrer à hipótese da reencarnação já foram
enumeradas no livro de Oscar G. Quevedo, O que é
71
parapsicologia, cap. JV.
Existem vários tipos de reminiscência. Relacionamos
abaixo os mais importantes:
- Tendência psicótica.
- Lembrança de conteúdos inconscientemente
captados.
- Adivinhação.
- Criptomnésia.
- Efeito de uma precognição pré-consciente anterior.
- Distúrbio psíquico, denominado "lembrança do
presente".
- Paramnésia etc.

Além de todas essas causas que possibilitam explicar os


fenômenos em questão sem recorrer à hipótese da
reencarnação, o leitor encontra outras causas também no
livro muito interessante de Jean Vernette, Reincarnation -
72
Resurrection - Comuniquer avec L 'Au-dela.
De todas elas a que nos parece mais válida é a que
descrevemos no item 6, a seguir.

6. Identificação emocional com lugar ou objeto

Todos conhecemos a impressionante capacidade do ser


humano de se identificar com pessoas ou eventos. Por vezes
essa identificação com pessoas, lugares, objetos é tão
profunda que a pessoa acredita tê-los conhecido num
passado remoto.
Ao ativar desejos e sonhos e juntá-los aos conhecimentos
históricos ou geográficos, a pessoa é capaz de imaginar tão
intensamente acontecimentos ou emoções que passa a
acreditar tê-los vivido realmente. Como podemos perceber, o
fenômeno do déjà vu apresenta variadas configurações que
podem ser explicadas pela ciência sem a necessidade de
recorrer à hipótese da reencarnação.
O que vale para explicar o déjà vu vale também para
explicar muitos outros fenômenos.

7. Outros fenômenos aparentemente inexplicáveis

Como dissemos, as causas que explicam o déjà vu valem,


da mesma maneira, para explicar muitos outros fenômenos
aparentemente inexplicáveis.
Sabemos da existência de inúmeros casos de talentos
extraordinários, aparentemente inexplicáveis pela simples
herança genética. Em vez de buscar explicação nas causas
racional e cientifica mente comprovadas, os adeptos da
reencarnação dão a todos esses casos uma explicação
baseada em sua doutrina, segundo a qual os indivíduos
vivem essas experiências extraordinárias porque
desenvolveram suas faculdades em vidas passadas, trazendo
para esta um enorme potencial.
Mas também essa explicação é pouco consistente diante
da vasta gama de conhecimentos científicos de que dispomos
para investigar tais fenômenos.
PARTE 3

A REENCARNAÇÃO ENTENDIDA A PARTIR DO ENFOQUE


FISIOPSICOLÓGICO

1. Sintomas físicos ou psíquicos procedentes de


experiências feitas em supostas vidas anteriores

Sintomas somáticos ou psicossomáticos também são


usados como argumentos a favor da teoria de vidas
passadas.
Citaremos como exemplo um dos casos mais
interessantes, analisado a partir de critérios científicos sérios
e rígidos. Trata-se do "Caso Matthew", estudado durante 18
meses por Jonathim Venn, psicólogo clínico em Green
73
Mountain Circ1e, Colúmbia, Estados Unidos.
Na época, quando sua esposa esperava o segundo filho, o
pai, Matthew, apresentava constantes e fortes dores no
peito, para as quais não encontrava nenhuma explicação
orgânica. Decidiu, então, fazer uma terapia de hipnose, no
decorrer da qual se fez uma regressão a vidas passadas.
Matthew narrava a recordação de uma vida anterior, na qual
teria sido um piloto de guerra francês, abatido no Inês de
agosto de 1914 por uma bala que o acertara no peito.
Sob hipnose, Matthew reviveu o acontecimento de sua
morte de maneira muito dramática e realista no decorrer de
uma sessão de mais de 30 minutos. Em seguida as suas
dores no peito desapareceram e não voltaram mais.
Tal fato mostra de maneira bastante clara que, no caso
das dores em questão, não havia nenhuma ligação com fatos
ocorridos em outra vida. Eram muito mais sintomas
psiconeuróticos, provocados por tensões e emoções
reprimidas. A hipnose simplesmente o levou a cristalizar e
concretizar tais emoções por meio da criação de uma
personalidade fictícia - a personalidade do piloto francês e
desta maneira foi possível a Matthew liberar as tensões
psíquicas que provocavam as dores no peito.
Evidentemente essa espécie de cura sempre apresenta o
grande risco de no fundo tratar-se mais da eliminação dos
sintomas do que das verdadeiras causas da doença. Pode
ocorrer de, com o passar do tempo, os sintomas voltarem de
maneira mais grave, uma vez que os mecanismos de
repressão não foram eliminados. A personalidade daquele
piloto não era a de Matthew numa vida anterior. Era uma
criação fictícia, por meio da qual lhe foi possível, pela via da
projeção, extravasar emoções reprimidas.

1.1. Fabulação e criptomnésia - uma explicação científica


para os sintomas constatados

Johannes Mischo, ao relatar a detalhada pesquisa de J.


Venn sobre a veracidade das declarações de Matthew,
apresenta os seguintes fatos:
Das 30 afirmações que podiam ser confirmadas por meio
de bibliotecas ou registros públicos, 14 eram falsas e 16
verdadeiras.
Numa tabela que reúne 47 informações dadas por:
Mattew, Johannes Mischo mostra que, desse total, há 16
verdadeiras. As verdadeiras são todas relatos de fatos ou
situações de conhecimento geral. Qualquer pessoa
razoavelmente interessada pela Primeira Guerra Mundial e
pelas ofensivas aéreas daquela época sobre a Bélgica e a
França teria sido capaz de adquirir tais conhecimentos.
As outras 22 informações eram falsas. Destas, 5 diziam
respeito a fatos de conhecimento geral, 17 referiam-se a
pessoas, acontecimentos ou lugares "menos conhecidos".
Tudo o que Mattew dizia sobre esses elementos menos
74
conhecidos era falso.
O resultado dessa análise levou à conclusão muito Clara
de que o caso relatado nada tinha a ver com reminiscência
de vida passada, mas com projeção fabulativa. Incentivado
pelo hipnotizador, o paciente criou uma
pseudopersonalidade. Essa personalidade in ventada permitiu
a vivência de conteúdos emocionais inconscientes e
reprimidos.
Os elementos cognitivos verdadeiros relatados por
Matthew podem muito bem ser explicados pela psicologia ou
pela parapsicologia como mecanismos da criptomnésia.
Sabemos que as células de nossa memória são capazes
de armazenar muito mais conteúdos do que os que temos
disponíveis. Em geral, esses conteúdos podem ser reativados
em casos de fortes emoções. Uma dessas ocasiões ocorre
com a hipnose, que explica o que se supôs ser a vida anterior
de Matthew. É provável que ele tenha armazenado certos
conhecimentos sobre a Primeira Guerra Mundial que depois
esqueceu. Na hipnose, somente os conhecimentos
criptomnéticos que vieram à tona eram verdadeiros. Todos
os outros elementos, criados pelo mecanismo da fabulação,
eram falsos.

2. Marcas corporais herdadas de uma pressuposta vida


anterior

Além dos sintomas psicofísicos, como os do exemplo


tratado no item anterior, fazem parte dos argumentos a
favor da reencarnação os casos em que as pessoas
apresentam no corpo marcas ou sinais exatamente iguais aos
apresentados por outras pessoas que viveram antes. Há
casos em que se descobrem nos recém-nascidos traços
físicos, cicatrizes ou deformações exatamente iguais àqueles
que havia em pessoas mortas anteriormente.
Este é outro fenômeno que está sendo apresentado como
prova da reencarnação. A criança que nasceu com uma
marca física igual a de uma pessoa que morreu é considerada
a mesma pessoa reencarnada.
Jean Vernette menciona o fato de que, "na Tailândia,
existe o costume de os familiares do morto fazerem um sinal
específico no seu corpo para que possa ser reconhecido no
75
corpo do bebê que o reencarnou".
Aparentemente a explicação reencarnacionista parece
muito lógica, mas, na realidade, existem muitas outras
possibilidades de explicar o fenômeno com bases científicas.
Um estudo de Ian Stevenson, Twenty cases suggestives
76
of reincarnation , revela que entre os 1.600 casos
estudados, 200 apresentam tais sinais, o que significa 12,5%
77
do total de casos estudados.
Contudo - volto a repetir -, parte dessas marcas podem
ser explicadas pela genética como transmissões hereditárias.
Além disso, deparamos mais uma vez com a atitude que, de
antemão, quer provar que tal fenômeno seja indício de
reencarnação. Essa predisposição leva ao perigo de se
construir uma teoria baseada num fenômeno - no caso, uma
marca no corpo - que pode perfeitamente se enquadrar na
fabulação.
Não podemos esquecer, porém, que há certos sinais
corporais cuja origem não se explica nem pelas leis da
genética nem pelas vias da fabulação. Os exemplos mais
significativos, nesse sentido, encontram-se nas pesquisas de
Ian Stevenson sobre recordações espontâneas de vidas
anteriores em crianças. Aproximadamente 2.000 crianças
pesquisadas apresentavam marcas corporais. A pergunta é:
como explicar tais marcas no caso de não se enquadrarem
nas explicações?

3. Dermografia, uma explicação científica


3.1. Provocada por sugestões ou autossugestão

Uma parte dos casos se resolve quando lembramos a


forte influência que se pode estabelecer entre a mãe grávida
e o feto.

Conhecemos muito bem os casos de dermografia, em que


certas marcas aparecem no corpo de uma pessoa. Essas
marcas podem ser resultantes da autossugestão. Do mesmo
modo como uma pessoa histérica é capaz de produzir
"estigmas" no seu próprio corpo, também é possível que
marcas, como efeito de sugestão psíquica, se formem não no
corpo da mãe, mas no corpo do bebê que ela espera -
fenômeno conhecido como dermografia. Benjamin Bossa
menciona alguns casos num dos capítulos de seu livro sobre
parapsicologia66. cr. Benjamin Bossa, op. cit., pp. 80-81.
Oscar G. Quevedo demonstra com vários exemplos que o
fenômeno já foi interpretado de maneira falsa na época das
78
perseguições às bruxas.
Não há dúvida, pois, de que o fenômeno existe. Ele, no
entanto, pode ser explicado sem recorrer a uma pressuposta
reencarnação.

3.2. Resultado de percepções extra-sensoriais (ESP)

Contudo, como explicar os casos que não se enquadram


nas teorias conhecidas? Como explicar marcas ou cicatrizes
em crianças que não têm ligação de parentesco com as
pessoas que apresentavam as mesmas marcas? Sem cair
numa atitude de superstição, Nils O. Jacobson interpreta tal
fato como "decorrente de um ferimento que o indivíduo
79
anterior sofreu e que está relacionado com a sua morte".
Na opinião do autor, há "uma hipótese que explica todos
os aspectos desses casos, sem contradições. Podemos
denominá-la hipótese da reencarnação". Jacobson tenta
formular os termos dessa hipótese afirmando que a
consciência ou a personalidade "ou alguns de seus aspectos
que não podemos ainda identificar, mas que poderíamos
chamar de psicocomponentes, sobreviveriam à morte do
corpo e continuariam presentes em algum outro plano da
existência. Quando surge uma ocasião propícia, os
psicocomponentes agiriam sobre o ovo fertilizado, produzindo
tais marcas no corpo já formado de uma criança. "Uma lesão
corporal que causasse a morte produziria então uma forte
impressão, que mais tarde se expressaria na forma de um
80
sinal de nascença."
Dentro dessa visão também se explicam as lembranças e
Os conhecimentos sobre pessoas ou famílias que já
morreram.
Embora diante de uma hipótese que apresenta urna
aparente coerência, devemos mais urna vez questionar se
não haveria outras explicações menos hipotéticas e mais
fundamentadas nos conhecimentos científicos. Por que não
recorrer também aqui à hipótese da demografia decorrente
da percepção extra-sensorial?
Segundo Jean Venette, "os pensamentos de um
moribundo podem agir por urna espécie de contágio afetivo
sobre o ambiente que o cerca (...) Estamos assim diante da
telepatia ou simples HIP (hiperestesia indireta_ do
pensamento). As pessoas que continuam vivendo, no
entanto, acreditam com boa-fé tratar-se de urna
81
comunicação que estão tendo com o desaparecido".
O conteúdo dessa comunicação pode também ficar
armazenado, de maneira inconsciente, na mente de urna
pessoa. Sabemos, além disso, que os conteúdos do
inconsciente podem ser transmitidos pela percepção extra-
sensorial (ESP = Extra-sensorial-Perception).
Não é difícil imaginar que tais conteúdos presentes no
inconsciente da mãe ou até de outra pessoa possam produzir
marcas dermográficas no feto. Essa explicação está
fundamentada na ciência e, por causa disso, é muito mais
provável que a hipótese - na realidade contraditória - de urna
suposta reencarnação.

82
4. Semelhanças físicas e psíquicas

Tudo o que foi dito sobre a explicação de marcas ou


cicatrizes específicas no corpo de urna pessoa também pode
ser aplicado, nos seus devidos limites, a outros casos de
características físicas. ou psíquicas. É claro que não podemos
falar de dermografia em relação a todos eles. Mas muitos
outros meios de transmissão de conteúdos do inconsciente
por vias sensoriais ou extra-sensoriais podem fornecer
explicações mais convincentes e com fundamento científico,
contra a hipótese não provada e contraditória da
reencarnação. Jean Vernette usa para a explicação de tais
semelhanças o termo contágio psíquico. Ele diz: "Esse
contágio psíquico, que muitas vezes está na origem daquilo
que se interpreta corno transferência de personalidade,
encontra um campo ideal para se realizar dentro de um
grupo social que tem grande afinidade natural: família, tribo,
clã. Como firma Stevenson, esse é um tipo de caso muito
frequente nos tlingits do Alasca.
Na Tailândia, 69% dos casos de reencarnação estudados
aconteceram dentro do largo quadro da família. Na Birmânia,
são 54%. E, no povo dos druzes, fica entendido que se
renasce entre druzes.

5. Identificação com pessoas que já morreram

A identificação de uma pessoa com outra é no fundo um


processo normal no decorrer da formação da personalidade.
Ela é completamente diferente da suposta identificação de
pessoas com espíritos.
Cada personalidade se forma, num processo gradual, por
meio da identificação com pessoas amadas, ídolos ou outras
figuras. Em geral, a pessoa nunca se identifica com outra a
ponto de esquecer sua própria personalidade. Caso tal
fenômeno aconteça, estamos ou diante de um caso
psicopático ou de algo cujas explicações devemos buscar
dentro do quadro da telepatia ou da "clarividência
psicométrica forte". Além disso pode tratar-se ainda de "uma
83
experiência de déjà vu, imaginação ou (auto)fraude".
Não há por que acreditar a priori que se trata de um caso
de reencarnação ou possessão.
Quando a identificação se dá no plano da aparência física,
podemos estar diante de uma dermografia parcial. Há, no
entanto, casos em que uma criança se revela a cópia mais ou
menos fiel das características psíquicas de uma pessoa já
falecida. De antemão, parece-nos importante frisar que, em
geral, tais identificações de personalidades devem ser
analisadas com muito cuidado. Sabemos pela psicologia que
personalidades idênticas não existem. O que existe são
personalidades que se assemelham. Conhecemos muitos
mecanismos psíquicos que podem explicar tais semelhanças.
Quando acontecem na mesma família, as explicações
podem se restringir às leis da hereditariedade. Em casos fora
da família, devemos recorrer, em primeiro lugar, às leis
conhecidas e pesquisadas da identificação por mecanismo
psicossociais.
Como, porém, explicar os casos nos quais a semelhança
se estabelece com pessoas totalmente fora não só do círculo
hereditário, mas também dos mecanismos de identificação
no nível psicossocial ou psicopatológico? Esses' casos, reais,
são muitas vezes anunciados em sessões espíritas. Mas
parece-nos simplista e cômodo recorrer à explicação de que
se trataria de uma pressuposta reencarnação. De novo
devemos salientar que há outros possíveis caminhos para se
compreender esses casos. Sabemos que uma futura mãe é
capaz de determinar, por vias extra-sensoriais, não só
aspectos físicos, mas também psíquicos de seu bebê. Tal
determinação pode acontecer de maneira consciente, mas
também sem que a mãe o perceba. Ela pode ter captado
informações sobre certa personalidade pelos meios normais,
como lendo livros ou assistindo a filmes. As informações
captadas por essas vias ficaram armazenadas no seu
inconsciente talvez por anos, antes de se manifestarem na
criança que vai nascer. Também é possível captar, por meios
hiperestésicos ou extra-sensoriais, certos traços da
personalidade de alguém. Essas informações podem agir no
momento da gravidez, determinando certos aspectos que
futuramente se manifestarão na personalidade da criança.
Tudo isso é possível e está provado. Não há razão para
acreditar que a teoria da reencarnação é a única
possibilidade para explicar tais fenômenos.

6. Capacidades físicas ou psíquicas extraordinárias

São conhecidos muitos casos" em que certos indivíduos


de repente apresentam capacidades surpreendentes, tanto
no campo intelectual e artístico como no físico: falam línguas
que nunca aprenderam e talvez nem conheçam, fenômeno
conhecido como xenoglossia. Outros se lembram de
acontecimentos, lugares ou pessoas aparentemente
desconhecidos. Os adeptos da hipótese reencarnacionista
logo atribuem esses fenômenos à reencarnação.
Experiências feitas em muitos centros de pesquisas
parapicológicas mostram sempre' os mesmos resultados:
existe ria mente humana a capacidade de captar e
interpretar os sinais provenientes de outras pessoas. Essa
capacidade, denominada hiperestesia indireta do pensamento
(HIP), em geral não é consciente. O conteúdo captado,
porém, pode tornar-se consciente ou manifestar-se pelos
mecanismos da pantomnésia (memória do inconsciente).
Nesses casos, a pessoa apresenta capacidades
aparentemente inexplicáveis, uma vez que age como se
tivesse informações que não foram obtidas pelas vias
normais. Há, então, a tendência a acreditar, de imediato, que
se trata de um caso de reencarnação, supondo-se que a
pessoa teria adquirido tal capacidade numa vida passada.
Nos anos 70, no entanto, foram feitas experiências na
União Soviética em que, sob efeito de hipnose, algumas
pessoas foram sugestionadas a acreditar que eram certos
artistas. Os hipnotizados, de fato, revelaram capacidades
84
artísticas que antes nunca tinham. mostrado.
Essas surpreendentes capacidades não se deviam,
conforme supunham, a conhecimentos trazidos de vidas
passadas, mas à extraordinária capacidade do inconsciente
humano de lembrar-se de informações captadas e
armazenadas por vias sensoriais ou extra- -sensoriais,
85
denominada pantomnésia.
O inconsciente, como foi provado pela parapsicologia,
lembra-se até do não percebido... Já mencionamos alguns
casos de pessoas que se lembraram de fatos sucedidos na
primeira infância, antes do aprendizado da fala. Tais casos
86
são relativamente frequentes".
E de modo geral se resolvem sempre pelo mesmo
caminho: pesquisa-se o passado da pessoa, e, na maioria
dos casos, percebe-se que ela, num passado talvez muito
remoto, havia adquirido informações a respeito do assunto.
Tais informações, embora a pessoa não se lembre, estão
armazenadas no inconsciente. Quando, de repente, elas
aparecem, tem-se a impressão de que a pessoa apresenta
capacidades absolutamente inexplicáveis. Na realidade,
porém, tais faculdades se enquadram dentro dos
conhecimentos que hoje se têm sobre o funcionamento do
psiquismo humano.

6.1. Casos de capacidades extraordinárias que não


podem ser classificadas como pantomnésia

Há, todavia, alguns casos em que a pessoa demonstra


certos conhecimentos que não provêm de nenhum
aprendizado ou de experiências vividas em qualquer fase da
vida. Trata-se capacidades surpreendentes e aparentemente
inexplicáveis.
Mesmo para esses casos fora do comum e aparentemente
inexplicáveis, existem explicações científicas. Não há dúvida
87
de que a hiperestesia indireta do pensamento existe.
"Não só palavras e frases, mas também significados,
sentimentos, ideias, conceitos abstratos etc. podem ser
captados pela hiperestesia ou por outros meios
88
paranormais."
E, além disso, essas diferentes vias de captação podem
completar-se mutuamente.
Captados de maneira inconsciente, esses conteúdos
podem ser armazenados no inconsciente do receptor e, no
momento propício, manifestar-se. A consequência é que o
observador de repente se encontra diante de capacidades
aparentemente inexplicáveis. Logo se recorre à hipótese de
uma reencarnação. Na realidade, porém, surgimento de tais
"capacidades inexplicáveis" é perfeitamente compreensível
dentro dos moldes daquilo que sabemos sobre telepatia e
hiperestesia. Os efeitos destas capacidades surpreendentes
do nosso inconsciente podem parecer inexplicáveis, mas na
realidade são perfeitamente conhecidos.
Temos conhecimentos cientificamente provados sobre
tais ocorrências. Foram realizadas experiências em que
algumas pessoas foram colocadas a uma distância entre 265
e 6.000 quilômetros do local onde ocorriam sessões espíritas.
Percebeu-se que as mensagens enviadas por essas pessoas
eram captadas telepaticamente pelos médiuns nas sessões
89
espíritas.
Essas experiências mostraram também que as
comunicações hiperestésicas ocorrem com maior frequência
em pessoas com idade abaixo dos 45 anos. Sabemos que
elas se manifestam mais na direção do homem para a mulher
(41%), do que da mulher para' homem (18%) e que ocorrem
90
muito pouco entre mulher e mulher (12%).
Tudo isso foi provado e testado por meios científicos. Não
há razão para se atribuir tais fenômenos à reencarnação ".

7. Resumo sintético

Fenômeno Causa "Normal" Causa "Parapsicológica"

- Acaso - Sintomas psicossomáticos - Hereditariedade -


Sugestão - Auto-sugestão - Histeria
- Dermografia - Criptocomnésia - Somatização de
percepções extra-sensoriais - Contágio afetivo
Marcas ou cicatrizes no corpo

Sintomas físicos ou psíquicos


- Dermografia, causada por: - Reações psicossomáticas
ou psiconeuróticas - Histeria - Somatização de lembranças
esquecidas (criptomnésia) - Sugestão - Auto-sugestão
Dermografia causada por: - Criptcomnésia - Somatização
de percepções extra-sensoriais - Contágio afetivo - Telepatia
Semelhanças físicas ou psíquicas
- Hereditariedade - Identificação por mecanismos
psicossociais - Identificação por mecanismos psicopatológicos
- Sugestão - Autossugestão
- Contágio psíquico - Identificação por mecanismos de
percepção extra-sensorial -
Capacidades físicas ou psíquicas extraordinárias
- Hereditariedade - Aprendizagem - Habilidade - Truque
- Hiperestesia (telepatia) - Pantomnésia
Aparições de pessoa ainda vivas ou já mortas
- "Alucinações"
"Alucinações telepáticas"
Recordações espontâneas em adultos
- Associações - Identificações
Pantomnésia
Reconhecimento de lugares à primeira vista
- Experiências de déjà vu
Pantomnésia
Recordações de lugares históricos ou turísticos
- Recordações de infonnações recebidas uma vez no
passado
Pantomnésia
Reconhecimento de pessoas à primeira vista
- Experiências de déjà vu - Associações com pessoas que
já conhecemos
Pantomnésia Pantomnésia ligada a hiperestesia (uma
pessoa se lembra de outra pessoa com a qual, sem lembrar,
teve algum contato hipestésico no passado)
- Recordações de " vidas passadas"
- Obsessões ou mesmo apegos espirituais -
Pantomnésia
Afirmações de pessoas que dizem se lembrar de "
encarnações anteriores"
- Fabulação - Sugestão - Autossugestão - (Cf. as
explicações da parte 3)
- Percepção extra-sensorial - Telepatia - Clarividência -
Precognição - Retrocognição - Criptomnésia
Experiências de deja vu ou deja vécu ("já visto" ou "já
vivido")
Mecanismos neurológicos (dissimetria na transmissão de
informações nas duas metades cerebrais) Reminiscência de
um conteúdo memorial esquecido Identificação emocional
com lugar ou objeto
- Transmissão telepática de um pensamento
PARTE 4

A REENCARNAÇÃO SOB O ENFOQUE FILOSOFICO

1. Não há consenso, e sim muitas teorias opostas

A teoria da reencarnação não se apresenta de maneira


única, fechada e definida em sim mesma. Constatamos, pelo
contrário, uma variedade de enfoques, os mais importantes
dos quais apresentamos a seguir.
Antes, porém, faz-se necessário entrar num dos temas
em torno do qual giram todas as concepções
reencarnacionistas de maneira mais ou menos direta: a lei
carma.
Para que se possam avaliar os diversos enfoques dessa
concepção é preciso fazer uma breve descrição dos
elementos centrais que configuram o carma.

1.1. A lei do carma


A doutrina da reencarnação tem sua origem na Índia,
onde foi formulada pela primeira vez, por volta de 800 a.C.,
nos Upanixades. Neles se tenta compreender a existência
humana dentro de uma visão global e cósmica, em que a
figura de Deus não é mais uma pessoal; Deus passa a ser
impessoal, ou seja, a energia vital do próprio cosmo. O
cosmo, por sua vez, interage também com as ações
humanas. Mas é a partir da interligação do cosmo com as
ações do homem que se coloca o problema do mal e do
sofrimento.

O encadeamento da história do cosmo com o


agir do homem
Evoca a problemática do sofrimento humano?
Por que o homem deve sofrer?
O sofrimento humano tem sentido?
Quando o sofrimento acaba?

Todo sofrimento tem uma causa, e, dentro de uma


concepção cósmica, tal causa só poderia ser a culpa. Se há
sofrimento humano, consequentemente deve existir culpa,
considerada a última causa para tal sofrimento.
Se essa causa não está na vida atual, ele deverá provir
de uma vida anterior, uma vez que a vida humana é
concebida dentro do grande contexto da evolução cósmica,
segundo o qual ela transcenderia o presente e se ligaria com
um processo cósmico que abrange o passado e o futuro.
É desta maneira, a partir de uma visão globalizante e
cósmica da vida humana, que se formou a convicção de que
o homem deveria ter várias vidas, cada uma das quais seria
marcada pela anterior.
Nessa visão, a problemática do sofrimento ganha uma
explicação muito fácil e compreensível: o homem sofre nesta
vida, porque, na vida anterior, cometeu atos maus, dos quais
se tornou culpado. O sofrimento na vida atual é consequência
de uma culpabilidade assumida numa vida anterior. Na vida
atual, ele paga a culpa passada: a lei do karma.
Na sua origem, a "lei do karma" seria a "lei do ato", ou a
"lei da causa e efeito". Cada ação tem o seu efeito no todo e
em todas as épocas. Atrás desta concepção, há a crença
numa unidade global de tudo aquilo que é. Tudo o que existe
seria uma unidade... embora se acredite também que nada
existe de verdade. Tudo seria "maia", "ilusão".
No fundo se trata de uma visão muito "poética" do
91
cosmo.
A interligação entre culpa e pagamento da culpa de uma
vida anterior se daria automaticamente, por se tratar de uma
lei cósmica, à qual o homem, como ser cósmico, estaria
forçosamente submetido. Nada poder mudar essa lei, nada a
pode eliminar. Nada, ninguém pode mudar ou frear o curso
determinado da retribuição, outro nome para o determinismo
da lei do karma. Podemos constatar, então, a intima e
essencial ligação entre a doutrina da reencarnação e a lei do
carma. Essa ligação revela degeneração daquilo que se
pretende como "lei cósmica". Mas ela prevalece ainda hoje e
determinou a concepção dos vários tipos de espiritismo
92
existentes em nosso pais.

1.2. Pesquisas encontram provas para a presença de


relações cármicas

Ian Stevenson, autoridade internacional sobre


recordações espontâneas em crianças, pesquisou mais de
2.000 casos, declarando-se ele mesmo surpreso por não ter
encontrado em suas pesquisas as relações cármicas de
retribuição, de punição e de recompensa que esperava
encontrar. Em vez disso, "encontrou apenas fracas indicações
93
de carma em apenas quatro casos entre 106".
Hans Tendam comenta esse fato da seguinte maneira:
"Stevenson tornou a reencarnação plausível com o seu
trabalho, mas fez com que a lei do carma, pelo menos nos
casos de crianças, se tornasse implausível. 'Ele chega a
declarar que não encontrou sus tentação para a ideia do
94
carma".
Ainda assim, essa lei é um dos princípios básicos do
espiritismo atual.
Diante disso perguntamos: se nem pesquisadores ligados
a priore à ideia da reencarnação conseguem encontrar
indícios de influências cármicas, por que se deveria então
aceitá-las como verdadeiras? Na realidade é como ter outro
tipo qualquer de crença ou superstição

2. As mais importantes doutrinas de reencarnação


2.1. Reencarnação no espiritismo de Allan Kardec

O kardecismo é, no Brasil, a mais conhecida concepção


reencarnacionista. O elemento fundamental dessa doutrina é
uma espécie de crença baseada na esperança e no otimismo
em relação a uma evolução constante do ser humano. Essa
evolução se realizaria no decorrer de inúmeras vidas
sucessivas. Por meio da reencarnação a pessoa "retornaria,
purgando e corrigindo os erros da vida passada, num
95
processo evolutivo".
Sendo assim, a existência humana faz parte desse
processo evolutivo que vai muito além do que a pessoa
realiza numa única vida. Contrário às concepções
reencarnacionistas das religiões indianas, porém, o
espiritismo entende que o ser humano realiza o seu processo
evolutivo no decorrer de muitas vidas, nunca recaindo em
estágios mais baixos do que aquele alcançado na vida
anterior. Também não concebe a reencarnação em formas
96
não-humanas, como de animais, por exemplo.
O que pode ocorrer é a pessoa permanecer no mesmo
estágio. Mas, de modo geral, costuma haver evolução de
uma vida para outra.
Essa evolução consiste num trabalho de limpar o carma,
até chegar a um estado de plenitude, ou seja, a um estado
de perfeição, em que o espírito encerra o ciclo das
reencarnações.
O espiritismo contemporâneo, influenciado por correntes
psicanalistas, tenta também superar o determinismo original
da concepção de carma. O carma deixa de ser uma lei
cósmica, à qual a pessoa está sujeita de maneira passiva. O
homem, em cada momento de sua vida, pode mudar o seu
carma, de maneira que o tempo passa a designar "a
97
tendência do ciclo evolutivo, o caminho para a evolução".
Dentro desse enfoque, define-se como o grande desafio
do ser humano "substituir os conteúdos negativos dos
98
subconsciente por elementos mais positivos".
O enfoque principal desse esforço evolutivo situa-se no
campo do aperfeiçoamento moral e individual.
Prevalece nessa concepção uma total "espiritualização"
do ser humano, cujo verdadeiro ser é o espírito. o mundo
corporal fica, então, relegado a um plano secundário, ou até
negativo. Desde os primórdios do espiritismo até os dias de
hoje, tal atitude não foi alterada. Ela manifesta-se de
maneira muito clara diante da questão da morte, na qual
prevalece uma interpretação dentro dos antigos moldes da
concepção platônica. Bastante reveladora, dentro desse
contexto, é a maneira como Gabriel Delanne, outro grande
mestre do espiritismo, num livro publicado pela primeira vez
em 1883 e ainda hoje com milhões de exemplares vendidos,
descreve o momento da morte, a partir do enfoque do
espírito:
É solene o momento em que um deles vê cessar a sua
99
escravidão pela ruptura do laço que o retém ao corpo.
O espírito, depois de sair do corpo, permanece no mesmo
estágio' de evolução que alcançou quando estava ligado ao
corpo.
Isso significa que a pessoa, depois da morte, goza, na
condição de espírito, de certo nível dentro da hierarquia dos
espíritos. Este nível depende do estado de evolução
alcançado na vida material anterior.
Gabriel Delanne descreve os vários níveis evolutivos da
seguinte maneira:
O estado do espírito se modifica extraordinariamente em
razão de sua elevação e de sua pureza. À medida que ele
progride no plano intelectual e moral, suas concepções e
100
sensações tornam-se menos grosseiras...
Há espíritos que se encontram em estágios atrasados e
outros em estágios mais desenvolvidos. Há ainda casos de
espíritos endurecidos, que não querem mais evoluir, não
obstante esse "endurecimento seja muito raro e apenas
101
temporário".
Para dar continuidade a seu processo evolutivo, cada
espírito "desencarnado" deve encarnar novamente. Quanto
mais evoluído o espírito se torna, mais percebe a sua
necessidade de crescer na escala evolutiva. O que se conclui
dessa concepção é que é muito difícil sair dessa roda sem fim
de reencarnações.
Sobre essa possibilidade, Gabriel Dellane faz o seguinte
comentário:
Em resumo, vimos que a alma se desenvolve por meio de
sucessivas existências (...) ela deve elevar-se de degrau a
degrau até atingir a perfeição (...). Aliás, ao progredirmos
por meio das sucessivas reencarnações, percebemos que
ingressamos num estágio em que não tínhamos nenhuma
das faculdades que possuímos hoje desenvolvidas; nós as
adquirimos gradualmente por meio de uma série de lutas
contra a matéria... A imensidão e a eternidade são os únicos
limites que encontramos para o progresso, o que vale dizer:
102
o progresso não tem limites.
Contraditoriamente, a pretensa concepção positiva, do
espiritismo revela-se assim como uma via sem saída. O que
se propõe é uma roda infinita de reencarnações cujo objetivo
é uma evolução que parece nunca ter fim.

2.2. A reencarnação segundo a umbanda

Assim como no espiritismo, também na umbanda


devemos distinguir de maneira bem clara a questão dos
espíritos que se manifestam por meio da possessão e a
questão da reencarnação. A umbanda adotou, de maneira
mais ou menos clara, a concepção reencarnacionista do
espiritismo kardecista. Porém, o fenômeno da possessão
torna-se o centro dessa concepção religiosa, em que
entidades de espíritos desencarnados incorporam em.
médiuns para, assim, desenvolver trabalhos de caridade.
Conforme José' Guilherme Cantor Magnani, a diferença
fundamental entre espiritismo e umbanda consiste na
maneira como concebem os espíritos. Enquanto para o
espiritismo os espíritos são seres bem determinados na sua
história individual, "para as entidades umbandistas estes
constituem categorias mais genéricas, em que as
características pessoais são substituídas por estereótipos,
103
como o do caboclo ou do preto velho, entre outros".
Permanece, porém, a ideia de que os espíritos que se
incorporam nos médiuns, "por intermédio da ajuda dos
mortais, ascendem em seu processo evolutivo em busca da
104
perfeição".
Encontramos aqui o ponto em comum com a ideia
espírita de que o homem deve evoluir, limpando o seu carma
em cada reencarnação. O padre jesuíta Valdeli Carvalho da
Costa, em estudo profundo sobre a fenomenologia do
sincretismo umbandista, define essa ligação nos seguintes
termos:
Segundo a doutrina do Templo Umbandista, que nesse
ponto é a do espiritismo kardecista, cada homem se redime a
105
si mesmo, por meio de reencarnações sucessivas.

2.3. A concepção reencarnacionista da Nova Era

A Nova Era, com suas inúmeras ramificações, seria o


movimento esotérico-religioso da era pós-cristã. Não há
dúvida de que muitos cristãos se deixam influenciar por suas
concepções neognósticas e esotéricas. É crescente o número
de pessoas que adotam essa concepção de espiritualidade,
baseada na ideia central de "desenvolver a sua essência
divina". Para que haja esse desenvolvimento é necessário
"entrar em sintonia com a energia vital do cosmo". Existem
vários meios para se chegar a esse desenvolvimento, entre
106
os quais:

As psicotécnicas espirituais e corporais, a medicina e a


educa alternativas; a psicologia transpessoal, associada à
prática de ioga o zen-budismo, a alquimia, a cabala e as
técnicas de respiração, a, terapia de vidas passadas, a
preparação de pessoas ou grupos para manejar poderes
humanos, sutis e ocultos; as diferentes combinações de
elementos rituais, mágicos, oraculares, míticos e filosóficos
de antigas tradições sagradas orientais, primitivas e
populares, a meditação, a concentração, os mantras e os
cantos devocionais, os contatos com os mestres da luz... a
dança cigana a dança do ventre, a dança indiana... cursos,
vivências, turismo e seminários; atendimento de tarô,
astrologia, numerologia, runas alimentação natural,
cromoterapia, quirologia, radiestesia, trabalho com cristais,
107
ondas, happenings e festivais.
Segundo o movimento da Nova Era, a tarefa primordial
do homem é atingir a ""expansão da consciência' para, por
108
meio dela, ocupar seu verdadeiro lugar no universo".
De acordo com o famoso livro Nova Era, o poder de
amanhã, essa tomada de consciência se baseia em cinco
109
princípios espirituais.
1. Deus não é um ser pessoal, mas uma energia ou uma
lei cósmica universal. (Isso significa que se confunde o
criador com aquilo que foi criado.)
2. O ser humano faz parte do ser divino. Ele é um brilho
do fogo cósmico e divino. Esse brilho mora temporariamente
num corpo. (Como no item anterior, constata-se a mesma
contradição.)
3. O mundo é uma manifestação passageira da energia
divina, em constante evolução.
4. O bem é a iluminação da verdadeira situação do ser
humano dentro do cosmo. Consequentemente, o mal é a
atitude não-iluminada.
5. A redenção do ser humano se dá pelo caminho da
iluminação. No decorrer dessa iluminação, a pessoa deve
entrar em harmonia com as energias cósmicas, de' maneira
cada vez mais íntima, para adquirir uma "consciência
110
transpessoal e cósmica", até chegar ao conhecimento de
sua identidade real como elemento divino. (Essa concepção
destrói ao mesmo tempo a individualidade humana e a
transcendência divina.)
Para que a pessoa possa atingir um conhecimento claro
do fato fundamental de que é a parte da energia divina, deve
conhecer e saber utilizar técnicas e práticas especificas.
Fazem parte dessas técnicas a descoberta dos shakras, a
sintonização com as vibrações do cristal, a captação das
energias e vibrações cósmicas, bem como o channeling, que
permite à pessoa receber ensinamento por vias mediúnicas.
É claro que uma única vida é insuficiente para se chegar
à iluminação total. Para isso, são necessárias inúmeras novas
incorporações e, em todas elas, um esforço constante em
busca da iluminação. O caminho para essas incorporações é
necessariamente a reencarnação. O fim último dos ciclos
reencarnacionistas é compreender de maneira clara o seu
verdadeiro lugar dentro do universo, tornando-se uma
consciência superior, que participa na energia cósmico-
divina. Este seria o meio de o ser humano tornar-se livre da
necessidade de novas encarnações. Neste sentido, podemos
descobrir muitas semelhanças com a concepção do
111
hinduísmo. E também as mesmas contradições.

2.4. A ordem Rosa-Cruz


A ordem Rosa-Cruz é uma fraternidade fundada no século
XVII, na Alemanha. Seus integrantes se consideram
"iluminados" e afirmam "ter relações secretas com o mundo
112
invisível".
Como nas outras doutrinas, há nas promessas e crenças
formuladas pelos adeptos do movimento a mesma
incongruência de que "Deus, o homem e o mundo se
identificam ou são uma grande substância em evolução
113
permanente".
A partir de tais pressupostos deduz-se que o ser humano,
um ser em evolução, não viverá uma única vez, mas muitas
e muitas vidas, reencarnando sucessivamente. Encontramos
pontos em comum entre a concepção reencarnacionista da
ordem Rosa-Cruz e a visão antroposófica de Rudolf Steiner,
apresentada a seguir

114
2.5. A antroposofia de Rudolf Steiner

A concepção reencarnacionista da Antroposofia de Rudolf


Steiner tenta estabelecer uma correlação com a teoria da
evolução do darwinismo, além de criar um sistema "no qual
não só a reencarnação, mas também o cristianismo teria o
115
seu lugar".
Nesse sentido, ele não baseia as suas concepções em
revelações mediúnicas, como ocorre no espiritismo, mas na
intuição e na imaginação criativa. Os conhecimentos
intuitivos são alcançados sobretudo por meio da
contemplação subjetiva e dos sonhos.
Para Rudolf Steiner a vida humana é determinada pelos
carmas. Segundo ele, "as determinações cármicas podem ser
muito complexas, porque suas raízes se encontram não só no
carma pessoal, mas também no cruzamento de múltiplos
carmas, como o do mundo, o do povo, o de um grupo de
pessoas etc. Tendo sua vida ligada a todos esses
cruzamentos de carmas, o homem, por meio de muitas
reencarnações, torna-se não só sujeito de sua evolução
pessoal, mas também da evolução do gênero humano como
um todo. Para que o homem possa interferir no seu processo
evolutivo, ele deve conhecer as relações cármicas que
interligam uma vida com outra. Ao conhecer essas relações,
ele torna-se capaz de programar sua próxima encarnação,
direcionando seu processo de evolução. Tal programação
acontece principalmente nos intervalos, às vezes muito
extensos, entre a morte e uma próxima vida. É sobretudo
nesses intervalos que o sistema cármico se manifesta. No
item 43 dos "Princípios Antroposóficos", podemos ler que o
homem se forma entre a morte e o novo nascimento, de tal
modo que se torna essencialmente uma imagem daquilo que
fez na vida anterior.
Na etapa de preparação para a nova encarnação, a
pessoa não fica sozinha. Ela entra em contato com outras
almas e também com seres que já pertencem a níveis mais
evoluídos. O intervalo entre duas encarnações é, para a
antroposofia de Steiner, o estágio mais importante da
evolução do indivíduo. Nele se percebem as influências do
bem e do mal, construídas no decorrer da vida anterior. É
nesse intervalo que, de acordo com as influências pessoais e
sociais, o eu pode construir os parâmetros para uma nova
encarnação.
Para isso forma-se primeiro um novo corpo astral. Depois
a essência humana que está para encarnar busca um corpo
que, segundo suas predisposições genéticas, corresponda às
características desse novo ser e de seu corpo astral.
Encontrado o corpo, realiza -se a nova encarnação. O
objetivo final de todas as encarnações é evolução de um eu
reestruturado, no qual deveria predominar cada vez mais o
elemento espiritual. Essa predominância chegaria a tal ponto
que o homem criaria o homem não mais por meios
biológicos, mas pelo próprio espírito.
A necessidade de reencarnações termina quando se
alcança o último dos sete estágios da consciência humana - a
consciência plena. Ela é o fim último das sucessivas
reencarnações do ser humano. Mas esse fim nunca pode ser
visto somente dentro de uma dimensão individualista. Ele faz
parte de uma evolução cósmica e integral de todo o universo,
no decorrer da qual se realiza uma assimilação do material
pelo espiritual.

2.6. O reencarnacionismo apessoal do budismo

O budismo nasceu na Índia a partir de uma base


hinduísta, trazendo como elemento mais significativo uma
mudança radical na concepção de Deus: "De um Deus criador
e, portanto, distinto do mundo, passa-se a um Deus que se
confunde com o mundo e, em particular, com o eu de cada
116
ser vivente".
Não há mais um Deus pessoal, mas uma energia
impessoal e cósmica dentro da qual se compreende também
a vida. Não existe pessoa humana enquanto ser individual; é
tudo ilusão daqueles que ainda não alcançaram a iluminação.
O iluminado "sabe" que a sobrevivência individual não
tem importância, porque, na verdade, a essência de uma
pessoa não poderia passar de uma vida a outra. O que há é
um sistema entrelaçado de causalidades cósmicas, que se
manifestam numa dinâmica histórica como um círculo sem
fim de surgimento e desaparecimento.
A existência humana, dentro dessa corrente, é
fundamentalmente derivada de um mecanismo de
condicionamento anterior. Esses condicionamentos,
responsáveis pelo mal no futuro, são chamados de
"formações do carma". Na descrição muito bem articulada de
Reinhard Hummel as formações cármicas são "impulsos
salvíficos ou funestos da vontade, que precisam de novas
formas de existência para poder se manifestar. Essas
formações de carma determinam o surgimento dos fatores
117
impessoais, nos quais consiste o ser humano".
Dentro dessa concepção o ser humano é constituído de
im personalidades.
De toda existência real de um ser humano surgem novas
formações cármicas tanto positivas como negativas. A única
possibilidade de sair do eterno ciclo de formações cármicas é
a destruição do mecanismo dessas causalidades. Esse
mecanismo criador do carma é a cobiça.
Por esse motivo é tarefa do ser humano distanciar-se
cada vez mais de toda cobiça em todas as suas inúmeras
manifestações. a homem deve, por assim dizer, "apagar-se".
Esse é o único caminho capaz de deter a corrente
condicionadora das causalidades. "Apagando-se", o homem
alcança o "Nirvana". A sobrevivência nesse Nirvana, no
entanto, implica uma série de contradições: para alcançar a
felicidade eterna o ser humano deve impressionar-se, ou
seja, nada sentir.
O caminho para chegar a esse estado de "salvação" é o
conhecimento gnóstico que se obtém pelo autoconhecimento,
veiculado pelas técnicas da ioga.
"Quem não ascende mediante o conhecimento gnóstico
terá de retornar à roda da fortuna das reencarnações e
retomar, durante milênios, o curso inútil e sofredor da vida
118
terrena."

2.7. A reencarnação cármica do hinduísmo

A concepção pessimista e fatalista do budismo tinha a


sua origem num pensamento religioso denominado
hinduísmo. 'Os seus fundamentos já estão formados no
século VIII a.C., na Índia.
Na base deste sistema religioso encontramos o
questionamento fundamental da salvação. Será que a
maneira como se vivem e as cerimônias religiosas pode
garantir a salvação para a vida eterna? Será que a vida
eterna é de fato eterna?
As respostas a essas perguntas fundamentais começam a
ser formuladas a partir do século VIII a.C. nos Upanixades.
Apresentamos essas respostas com base nas explanações
muito claras do já citado Reinhard Hummel. Ele mostra no
capítulo II do seu livro sobre reencarnação como a busca de
respostas à questão da salvação humana produziu o
desenvolvimento de uma concepção pseudo-religiosa, em
cujo centro se encontra a doutrina da reencarnação e dos
caminhos para alcançar a salvação, libertando-se da
necessidade de reencarnar.
"A base original do ser e o cerne da pessoa individual,
isto é, o ser do mundo e o ser da alma individual - Brahman
119
e Atman são idênticos".
Essa alma individual, que não participa da vida do
indivíduo e de suas mudanças, é apessoal, transcendente e,
em última análise divina. Ela passa de um corpo mortal para
outro, acompanhada e envolvida por vários invólucros:
- O corpo físico, que desaparece na morte.
- O corpo aetérico, que não desaparece na morte, mas
acompanha a alma em sua passagem para um outro corpo
físico.
O corpo aetérico é acompanhado, por sua vez, de "uma
potência aetérica". Ela transmite como "causalidade
120
retributiva automática" , as determinações individuais e
sociais do indivíduo de uma reencarnação para a outra. A
essa potência aetérica se dá o nome de. carma, que, por sua
vez, funciona como "princípio cósmico de retribuição, em
decorrência de uma lei da natureza"31. 31. Id., ibid., p. 44.
Não se entra, nessa concepção, na questão da origem de
tal lei. Quem a causou? Quem a revelou? Essas questões
ficam fora de consideração, de modo que encontramos aqui
muitas das antigas estruturas míticas do pensamento.
As consequências de tal concepção para o indivíduo são
muito claras e muito duras. Cada um recolhe em sua vida
aquilo que semeou em sua vida anterior, porque ações boas
produzem um bom karma, enquanto ações más produzem
um karma negativo e mau... Quem conduziu uma vida boa,
reencarnará consequentemente numa si1mação melhor;
quem conduziu uma vida negativa e má, reencarnará numa
situação negativa, má. A lei retributiva do karma pode até
produzir reencarnações em forma de animais desprezíveis ou
de plantas. Ela é também a base para a compreensão do
sistema social das castas. Toda pessoa humana tem de
cumprir e deixar cumprir o seu respectivo karma. Os
Brahmanes não têm obrigação social nenhuma ante os
párias, e aos párias não é permitido sair de sua situação
calamitosa.
Enquanto uma pessoa humana age, ela produz karma e,
consequentemente, deve depois de sua morte reencarnar.
Para sair do ciclo das reencarnações, é necessário não mais
produzir karma. Isso significa que a pessoa deve entrar
numa existência desinteressada, longe de todos os desejos;
numa apatia desumana que não se baseia nem nos princípios
do êxito nem nos do fracasso.
Seu cerne divino, apessoal e sem individualidade não
mais deve reencarnar. A salvação está sendo alcançada. Mas,
mais uma vez, é uma salvação para o nada...

3. A questão da evolução pessoal do indivíduo

3.1.O problema e a realização das potencialidades do


indivíduo
Em todas as concepções reencarnacionistas aqui citadas,
constata-se como um dos elementos centrais a convicção de
que o ser humano nessa sua vida não conseguirá
desenvolver todas as suas capacidades potenciais.
Quanto mais moderna a doutrina da reencarnação, mais
res saltado é esse aspecto. O espiritismo moderno constitui
um exemplo típico desse fato, em que o termo "evoluir" se
tornou uma palavra-chave.

3.2. Desenvolver um sintoma do anseio profundo do


homem contemporâneo

Hoje em dia as sociedades são cada vez mais marca das


por um tipo de sistema socioeconômico denominado pós-
moderno, pós-lndustrial e neoliberal, que tem como
característica básica a exigência de eficiência máxima. O
homem deve ser eficiente. Seu trabalho é dirigido e
qualificado conforme os parâmetros da "qualidade total".
Essa exigência se impõe sobre todos os outros valores. Os
valores morais e espirituais só são considerados quando
contribuem para aumentar a produtividade do indivíduo. O
lazer não é mais voltado para o desenvolvimento pessoal e
social do indivíduo, mas para recuperar as forças
desgastadas. Um sistema sutil de controle e mecanismos de
ameaça envolvem a pessoa no trabalho, de modo que o
controle, o autocontrole e a autoavaliação sejam a base da
conduta pessoal, fazendo crescer a concorrência entre os
colegas. Denúncias e inveja substituem o coleguismo e a
solidariedade. E todo esse processo é mascarado pela falsa
solicitude. Todos estão sempre sorridentes e dizendo que
precisam ajudar um ao outro, para que, juntos, façam
crescer o lucro da empresa. Aparentemente, todos
compreendem, e sorriem, e mentem um ao outro, mas, no
fundo, detestam um sistema que obriga a todos ser
hipócritas, pois quem não responde às exigências da
empresa acaba sofrendo sanções, que vão de "uma
conversa" com o chefe à perda do emprego. E todos temem
perder o emprego, o que, entre outras coisas, significa não
poder participar do consumo. Participar do consumo, por sua
vez, é o grande lema e o grande objetivo para o qual todos
foram educados. Além disso, há os compromissos
financeiros: alimentação, compras a prazo e tantas outras
despesas. O círculo se fecha. A participação no sistema
torna-se uma necessidade, porque o mesmo sistema criou,
antes, as obrigações financeiras e de consumo que só podem
ser cumpridas se a pessoa participa do sistema. E, em geral,
antes mesmo de a pessoa terminar de pagar uma dívida, a
propaganda já lhe sugeriu novas necessidades. Para poder
satisfazê-las, a pessoa assume novos compromissos
financeiros e assim se mantém eternamente acorrentada às
necessidades de consumo. Sem saída, o indivíduo torna-se
escravo de um sistema cujo único interesse é o aumento do
seu próprio lucro. Não há tempo para o desenvolvimento
pessoal.
Não há espaço para emoções, nem para a arte, a
literatura, a música. Não há tempo nem espaço para as
reflexões de cunho ético, moral, religioso. O homem fica
reduzido à sua força de trabalho e, dessa maneira, torna-se
emocionalmente mutilado. Mas disso o sistema não se ocupa,
nem se interessa, pois isso não serve para aumentar a
eficiência da força de trabalho.
É este o mundo no qual vive grande parte de nossa
população, que em sua grande maioria nem sequer se torna
consciente dessa situação. Mas, mesmo inconscientes,
sentem um desconforto emocional crescente, o que faz
aumentar a agressividade, o número de divórcios, enquanto
os corações se tornam vazios e entram num abismo de perda
de sentido como nunca antes observamos em nossas
sociedades.
Os corações vazios buscam uma compensação. As
emoções frustradas e reprimidas anseiam por um meio de se
dar vazão. As mentes oprimidas por exigências racionais têm
saudade de se sentir livres. Eis o estado de inconsciência da
grande massa de pessoas - sejam da classe média, sejam da
classe pobre. O problema, em níveis diferentes, permanece o
mesmo. As pessoas sentem que foram fracionadas
diminuídas, estioladas. E buscam uma compensação, uma
complementação. Tentam desesperadamente tornar-se
inteiras, completas, desenvolvidas. "Você deve se
desenvolver!" Estas palavras estão na ordem do dia, tocam
os corações; por causa disso, as pessoas entram num
caminho de busca de desenvolvimento da mente, de suas
capacidades mediúnicas de vidas passadas, sem, de fato,
perceber o que está errado. Não percebem que, nesse
caminho, ao invés de se desenvolver como personalidade
inteira e global, fecham-se cada vez mais. Em vez de abrir os
olhos e perceber as estruturas das quais fazem parte e
perceber a si e aos outros, em vez de unir-se aos irmãos e
irmãs numa experiência de solidariedade e fraternidade, elas
se concentram cada vez mais no seu próprio eu, girando em
torno de si, buscando respostas para os seus problemas em
pressupostas vidas passadas, sem perceber que a verdadeira
resposta está na sua vida atual e numa tomada de
consciência sobre a necessidade de reformular o sistema
social, para que ele se torne mais humano.
Mas a preocupação egocêntrica não deixa a pessoa
perceber as suas reais necessidades e a realidade do mundo
à sua volta. Assim, o velho sistema continua, as frustrações
continuam, e no final, em vez de encontrar um caminho para
o autodesenvolvimento, desestabilizam ainda mais sua
personalidade já enfraquecida. Por causa disso, sentem uma
necessidade ainda maior de se desenvolver. E, quanto mais
entram no círculo vicioso, menos alcançam o resultado
desejado.
Eis a problemática que leva as pessoas ao desejo de
"desenvolver a mente". Uma problemática real, com a qual
estamos confrontados. Uma problemática que muitos não
chegam a perceber e que, no final das contas, situa-se
dentro do mesmo quadro' que leva ao alcoolismo e ao
consumo de drogas.

4.O perigo de perder de vista o mundo real

Nunca podemos perder de vista um aspecto muito


importante que envolve a questão em torno das discussões
sobre as interpretações espíritas e teosóficas. O fenômeno
em si ou a interpretação que a ele se dá nem sempre é o que
realmente importa.
Interpretados dentro da perspectiva mágica do
espiritismo ou sob o enfoque racional da parapsicologia, os
fenômenos mediúnicos são exceções, se os considerarmos
sob de ponto de vista estatístico. A grande maioria da
população não os vive nem os conhece, e suas preocupações
são de outra natureza, pouco importam a ela as aparições de
espíritos de mortos ou a existência de vidas passadas.
Não é por acaso que o pesquisador Ian Stevenson, que
realiza suas pesquisas com rigor científico, embora imbuído
de conceitos e preconceitos sobre a teoria reencarnacionista,
depois de analisar mais de 2.000 casos, considera cerca de
40 como possíveis casos de reencarnação. Como podemos
perceber, nem mesmo o pesquisador afirma que os 40 casos,
entre os 2.000 estudados, são de fato fenômenos de
reencarnação, considerando-os apenas possíveis.
Outros pesquisadores sérios chegam às mesmas
conclusões. Os fenômenos parapsicológicos são a exceção e
não a regra na vida das pessoas. Esse fato deve ser levado
em conta para que possamos distinguir os reais problemas
que as afligem. Esses problemas em geral estão ligados às
estruturas injustas da nossa sociedade, e são eles que
afetam o cotidiano de todos nós e nos afligem muito mais do
que indagações sobre os espíritos dos mortos.
Além disso, vale também lembrar que a maioria das
revelações no campo das aparições mediúnicas não passa de
banalidade gritante. Geddes Mac Gregor sintetiza esse fato
com bastante clareza: "As mensagens 'do outro lado' são na
maioria das vezes tão triviais que nos vem a suspeita de se
tratar de fenômenos de projeção dos próprios participantes,
121
reunidos em sessão".
Entre a mensagem de um suposto espírito que informa
arre pender-se de ter esquecido o seu chapéu e as reflexões
de pensadores vivos, prefiro estes últimos. Entre as
lembranças vagas de uma vida anterior e as pesquisas
concretas dos historiadores de hoje, prefiro as informações
dos historiadores. Entre as hipóteses sustentadas por
médiuns e as Revelações de Deus, prefiro estas últimas.
Parece-nos interessante ter em mente toda a discussão
sobre o que aqui denominamos o "princípio da estatística". A
vida real é muito mais palpável e estatisticamente muito
mais importante do que os supostos fenômenos mediúnicos
ou parapsicológicos.

5. Evolução dentro da cosmovisão ocidental e suas


consequências no modo de enxergar o homem após a morte
A crescente preocupação do homem com a sua evolução
situa-se dentro de uma tendência sociocultural de âmbito
mundial. Essa questão - uma evolução abrangente que vai do
cósmico ao econômico - tornou-se a partir de Darwin e
Teilhard de Chardin um dos eixos centrais da cosmovisão
ocidental.

5.1. As consequências da nova cosmovisão no campo


religioso

a) O choque com concepções estáticas que provocam


medo
Não é de admirar que essa nova visão do mundo e do
homem repercuta também no pensamento religioso. No
entanto, essa nova visão choca-se com uma concepção
estática que muitas pessoas têm e que reduz o ser humano
depois da morte a um simples objeto passivo, totalmente
subjugado pela ação de um Deus que salva ou condena,
conforme os seus critérios. Essa concepção torna-se ainda
mais radical nas várias doutrinas deterministas, segundo as
quais Deus teria predeterminado o homem ao céu ou ao
inferno, independentemente de como ele conduz a sua vida
na terra.
Mas nem precisamos nos deter na análise dessas
concepções para descobrir nelas um certo fatalismo estático.
Em muitos cristãos evangélicos e católicos, encontramos às
vezes um fatalismo semelhante. Só que em sua visão essa
determinação não vem de Deus, mas de seus próprios
pecados, dos quais eles não conseguem se libertar. Pecados
que lhes pesam na consciência, oprimindo-os e roubando-
lhes toda a esperança de uma futura vida gloriosa com Deus.
Em épocas em que o homem era obrigado a aceitar de
maneira passiva a doutrina religiosa, esse medo não se
manifestava 'de maneira aberta. As pessoas se calavam e
temiam o futuro. Para muitos, a Boa Nova da religião cristã
tornava-se uma 'mensagem de ameaça e opressão.

b) A problemática da não-compreensão das imagens


tradicionais

Cada vez menos uma visão estática das verdades sobre o


destino último do ser humano está sendo aceita pelo homem
moderno. As pessoas buscam uma concepção processual e
evolutiva. Mas talvez não percebam que na doutrina cristã
existe essa. A definição de purgatório dada pelo catolicismo
está dentro de uma concepção bem mais dinâmica do que
qualquer pensamento reencarnacionista. Ela abrange a ideia
de uma evolução que vai muito além das dimensões
terrenas. 'De acordo com a religião cristã, na evolução do ser
humano não ocorre um passo para trás, não há a repetição
do que já se passou. A evolução humana implica sempre um
122
passo adiante rumo a uma dimensão nova."
Isso vale também para a evolução, chamada
"Purgatório". Ela não é um processo do qual o ser humano
não participa ativamente. Ao contrário, por ser um processo
dinâmico, cada um de nós participa dinamicamente dele em
todas as suas dimensões.
Quanto mais cedo os cristãos superarem a ideia
antiquada de um purgatório entendido como lugar de
punição, mais depressa serão capazes de descobrir a grande
dinâmica evolutiva e processual que se esconde na antiga
imagem do purgatório, e então deixarão de ser seduzidos
pela teoria da dinâmica evolutiva da reencarnação.
Nas ciências da natureza ocorre um problema análogo ao
que ocorre com os cristãos. Aquilo que os alunos aprendem
nos seus manuais de física muitas vezes já está superado
pelas descobertas dos últimos anos.
A ideia que a grande maioria dos cristãos ainda faz do
purgatório e das outras verdades sobre a vida após a morte
já foi superada há muito pelas reflexões teológicas. Mas o
resultado dessas reflexões não aparece na catequese. Ainda
não está sendo transmitido para os fiéis. De um lado, porque
essas novas ideias parecem de imediato chocantes; de outro,
porque nem os próprios formadores as conhecem.
Eis o grande desafio proposto para evangelização no
século XXI. Não ter medo de transmitir as novas concepções.
Quanto mais profundamente o povo as conhecer, menos
atraente lhe vão parecer outras doutrinas religiosas, como,
por exemplo, a da reencarnação.
PARTE 5

DECLARAÇÕES DO MAGISTÉRIO DA IGREJA SOBRE A


REENCARNAÇÃO

Para completar todas as nossas reflexões sobre o destino


do ser humano na morte, parece-nos importante voltar
também o nosso olhar para as declarações feitas pelo
Magistério da Igreja a respeito do terna. Queremos com isso
mostrar a distância, às vezes imensa, existente entre as
declarações da Igreja oficial e aquilo que em certos casos
resultou de urna interpretação ideológica.

1. Declarações sobre a questão da reencarnação

1.1. A base comum entre a doutrina cristã a teoria da


reencarnação

Antes de mostrar as diferenças que podem ser


constatadas entre as declarações oficiais da Igreja sobre a
morte e a crença na reencarnação, parece-nos importante
chamar a atenção para um aspecto que as duas doutrinas
religiosas têm em comum, que é a crença e a fé numa
continuação da vida depois da morte. A diferença está na
concepção que cada qual tem a respeito do assunto. Os
adeptos do reencarnacionismo acreditam que, por meio da
reencarnação, o ser humano vive várias vidas aqui na terra
ou até em outros planetas. A Igreja, por sua vez, baseada na
Revelação, tema firme convicção de que a criatura humana
tem uma única vida aqui na terra e depois uma continuação
eterna e imutável em novas dimensões, originais e
espirituais. "Os homens morrem uma só vez; depois disso
vem o julgamento..." (Hb 9,27).
1.2.O tema da reencarnação não tinha tanta importância
no passado, para ser tratado em declarações oficiais

A profunda fé na ressurreição marca a doutrina da Igreja


de tal maneira que no passado a questão da reencarnação
simplesmente não era um problema que a preocupasse. Esse
é o motivo por que a Igreja não se manifestou de maneira
oficial sobre a questão. Concluir que não ter se posicionado
oficialmente sobre a reencarnação significa aceitá-la é
simplesmente manipulação ideológica.

123
1.3. A rejeição oficial de certas teses de Orígenes

É importante salientar também que o conflito com


Orígenes e, em seu contexto, a Declaração do 5° Concílio
124
Ecumênico de Constantinopla do ano 553 não eram de
fato um conflito sobre a questão da reencarnação, mas sobre
a questão de uma preexistência da alma e o problema da
assim chamada apokatástese. Orígenes U85-254 a.C.) nunca
havia defendido a hipótese da reencarnação. Sobre esse fato,
todos os cientistas sérios são unânimes. Reinhard Hummel
formula a questão da seguinte maneira: "No conflito com
Celso, ele (Orígenes) mostrou que a doutrina
reencarnacionista é incompatível com a Sagrada Escritura e
125
com a fé da Igreja".
O historiador da religião Karl Hoheisel coloca o problema
de maneira bem direta, ao afirmar: "Suspeitar que Orígenes
tivesse. sustentado a ideia de um ciclo reencarnacionista só o
podem fazer aqueles que confundem a ideia de uma
preexistência da alma com a ideia de um retorno da alma à
terra, criando com esse pensamento uma contradição com as
126
declarações autênticas do filósofo".
E mesmo um autor como Geddes Mac Gregor, que tenta
mostrar que a ideia da reencarnação não é nem oposta nem
alheia ao pensamento cristão, afirma: "Não se sabe,
realmente; o que Orígenes pensou a respeito da doutrina da
127
reencarnação".

1.4. O credo do imperador Miguel Paleólogo

No ano de 1267, o papa Clemente N formulou a proposta


de uma profissão de fé ao imperador grego Miguel
Palaólogos, bem como a seu clero e ao povo, para que eles
pudessem voltar à Igreja Católica. A declaração foi aceita
pelo imperador em 1274, na ocasião do Concílio de Lyon II.
Hans Waldenfels considera como "declaração doutrinária
indireta sobre a questão (da reencarnação)" o Credo de
Miguel Palaólogos datado de 1274. Nele se declara que "o
momento da morte significa também o momento do juízo
128
definitivo sobre o indivíduo".
O texto do Credo confirma a fé na ressurreição dos
corpos (DS 854) e na verdade de que as almas daqueles que
não cometeram nenhum pecado depois de ter recebido o
batismo, assim como as almas dos que pecaram mas foram
purificadas, seriam aceitas no céu, enquanto aqueles que
teriam morrido em estado de pecado mortal iriam para o
inferno. Todos, porém, iriam voltar a seus corpos no dia do
Juízo Final (DS 856-859).

1.5. A constituição "Benedictus Deus", do papa Benedito


XII, no ano de 1336

Nessa constituição, o papa, recorrendo a sua "autoridade


apostólica", declara que as almas de todos os santos,
apóstolos, mártires, confessores, virgens que morreram não
têm necessidade de uma purificação depois da morte,
podendo entrar diretamente no céu e ter a visão eterna de
Deus. Aqueles que morrerem em estado de pecado mortal
irão diretamente para o inferno (DS 1000 1002).
O importante nessa declaração é a reafirmação da ideia
de que a continuação da vida depois da morte ocorre dentro
de dimensões totalmente diferentes das dimensões terrenas.
Não há nem recompensa nem punição numa nova vida aqui
na terra. A retribuição mencionada nessa declaração
acontece em outras dimensões, chamadas Céu e Inferno.
Não acontecem em novas vidas terrenas.

1.6.Declarações do Concílio Vaticano II

O Concílio Vaticano II (1962-65) não era propriamente


dogmático. A sua intenção não era "condenar os erros da
época, mas sobretudo empenhar-se por mostrar
129
serenamente a força e a beleza da doutrina da fé".
Ao apresentar essa doutrina, o Concílio
consequentemente entra na questão do destino humano
depois da morte. Encontramos em duas de suas constituições
uma clara rejeição a qualquer tipo de crença na
reencarnação:

a) Lumen gentium 48-51


"... vigiemos constantemente, a fim de que, terminado o
único curso de nossa vida terrestre (cf. Hb 9,27), possamos
entrar com ele para as bodas e mereçamos ser contados
entre os benditos..." (n 131).

b) Gaudium et spes 18
"Pois Deus chamou o homem para que ele, com a sua
natureza inteira, dê sua adesão a Deus na comunhão
perpétua da incorruptível vida divina. Cristo conseguiu essa
vitória por meio de sua morte, libertando o homem da morte
e o ressuscitando para a vida" (n 251).

1.7.O catecismo católico alemão para adultos

Além dos textos dogmáticos do Concílio Vaticano II,


podemos constatar nos últimos anos várias tomadas de
posição do episcopado opostas à doutrina da reencarnação.
Mencionamos como exemplo o texto do Catequismo católico
para adultos, da Conferência Episcopal Alemã. Nele se
declara, de maneira firme e clara, que a ideia de uma
reencarnação contradiz totalmente a Sagrada Escritura e a
130
tradição doutrinária da Igrejas.

1.8. O catecismo oficial da Igreja Católica de 1993

Como último testemunho daquilo que é "uma exposição


da fé da Igreja e da doutrina católica, testemunhadas ou
iluminadas pela Sagrada Escritura, pela tradição apostólica e
131
pelo Magistério da Igreja" , citamos o texto do catecismo
oficial da Igreja Católica. Sob o n° 1013 desta síntese da
doutrina oficial de nossa Igreja podemos ler o seguinte sobre
a questão da reencarnação:
"A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem; é
o tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece
para realizar a sua vida terrestre segundo o projeto divino e
para decidir o seu destino último. Quando tiver terminado 'o
único curso da nossa vida terrestre', não voltaremos mais a
outras vidas terrestres. 'Os homens morrem uma só vez' (Hb
9,27). Não existe reencarnação depois da morte".
São esses os textos mais significativos nos quais a Igreja
toma posição diante da questão da reencarnação. Em geral,
não se menciona de maneira direta a reencarnação, mas se
afirma aquilo que sempre foi o eixo principal da fé bíblica. Há
uma única vida, e depois dela a ressurreição. Essa fé tanto se
tornou o fundamento de toda a religião cristã que no passado
nem se cogitou da necessidade de contrapor esse dogma de
fé à ideia de reencarnação. A questão simplesmente não
existia.
O fato de os textos mais recentes abordarem, ainda que
de maneira periférica, o assunto mostra que o problema só
começou a ganhar proporções nas últimas décadas. Em
oposição à relativa escassez de declarações sobre a questão
da reencarnação, constatamos uma vasta quantidade de
textos oficiais da Igreja sobre aquilo que espera o homem na
morte, interpretados à luz da fé na ressurreição. Parece-nos
importante enfatizar que todas essas declarações são
pautadas pela prudência. Nesse sentido, elas se distinguem
de muitos textos catequéticos não-oficiais, que, num zelo
religioso errôneo, tentam definir como certeza aquilo que
nada mais é do que especulação.
PARTE 6

CRENÇAS RELIGIOSAS SOBRE O DESTINO DO SER HUMANO


NA MORTE NO CONTEXTO BÍBLICO

1. As crenças sobre o destino do homem depois da morte


no contexto bíblico anterior a Jesus Cristo

Chamamos de contexto bíblico pré-cristão aquele período


cultural dentro do qual mais tarde se formou o cristianismo.
É nesse contexto que a Revelação bíblica se concretizou e se
explicitou. Não de uma vez, mas em etapas, no decorrer de
toda uma história. Nos textos bíblicos que surgiram naquela
época revelam-se concepções específicas sobre o destino do
ser humano depois da morte. Tais concepções se baseiam,
de um lado, na cultura judaica da Palestina; mas, de outro
lado, podemos constatar também a influência da filosofia
helênica e gnóstica.
No contexto cultural do judaísmo, as crenças sobre o
destino do homem após a morte supõem, na sua tendência
geral, um monismo antropológico. O enfoque básico da
cultura gnóstica e helênica tem como ponto de partida uma
concepção dualista. Por uma questão de espaço e pela
vastidão do tema, só nos é possível mencionar os traços
gerais dessas duas concepções, assim como as suas
interferências mútuas.

1.1. O monismo da cultura judaico-bíblica

Segundo a Revelação bíblica e a concepção de Israel,


tudo que acontece com o ser humano se dá de maneira
global e individual. Isso engloba não só os acontecimentos da
vida terrena, mas também o que ocorre na vida após a
morte.
A vida humana é um dom recebido de Deus. Ela se
desenvolve na sua totalidade e em todas as suas dimensões
até o momento por ele designado. No momento em que o ser
humano morre, a vida dessa pessoa morre na sua totalidade.
Era desse modo que a teologia de Israel entendia o além,
sem, apesar disso, ignorar que os que morreram estavam
vivos, que Javé era Deus também daqueles que morreram:
um Deus dos vivos nessa nossa dimensão terrena e dos vivos
na dimensão do além. Os mortos viviam, mas separados dos
vivos da terra. Por viverem em mundos separados, tanto a
Bíblia como a cultura de Israel rejeitam o culto aos mortos -
prática bastante desenvolvida nas religiões do Egito, da
Pérsia e de Canaã. Na morte, o ser humano ficaria reduzido a
uma existência de sombra, fora da comunhão com as
pessoas da terra. Os mortos desaparecem numa
infradimensão, chamada Scheol, e ali permanecem sem volta
à vida terrena, "abandonados a si mesmos" (cf. SI 88, 6;
também Is 14,9-15).
Não são os mortos que louvam o Senhor, nem nenhum
dos que descem ao silêncio (SI 115,17).
Essa visão primitiva e pessimista da morte, no entanto,
choca-se com a convicção fundamental da fé de Israel,
segundo a qual Deus é fiel e nunca abandona os homens. E a
fidelidade de Deus não pode abranger simplesmente o
período entre o nascimento e a morte. Um Deus fiel ao
homem não poderia simplesmente expurgar a pessoa
humana de sua mente.
Baseada nesse princípio da fidelidade de Deus, o
processo da revelação torna cada vez mais forte a convicção
de que Deus é fiel ao homem não só na morte, mas além
dela. Deus não abandona o homem não só na morte,
deixando-o desaparecer para sempre.
Mas Deus me resgatará do abismo (Scheol), sim, ele me
arrebatará (SI 49,16; cf. também SI 73,24).
Porque Deus é fiel, e ao mesmo tempo um Deus da vida,
vai manter o ser humano para além da morte.

Esta convicção cheia de esperança se desenvolve e se


revela gradativamente no decorrer da história de Israel, não
obstante as experiências catastróficas e traumáticas porque
passou aquele povo.
Marcado pela catástrofe do exílio (587 a.C.) e pelos
acontecimentos caóticos que o seguiram, os profetas
desenvolveram a ideia, de um futuro reino da justiça e da
paz, onde Deus reinará para sempre. Quando Deus reina,
também a morte é superada. Essa superação da morte pela
força de Deus tem, antes de tudo, uma dimensão coletiva da
morte do povo. Mas ela abrange também a ideia de uma
superação da morte individual.
Mencionamos como exemplo dois textos antigos: o
primeiro, de Ezequiel, do século VI a.C., o segundo, escrito
no século IV a.C., do livro de Isaías:

Abrirei os vossos sepulcros e vos tirarei dos vossos


túmulos, povo meu... e sabereis que eu sou Javé quando
escancarar os vossos sepulcros e vos fizer sair das vossas
sepulturas, meu povo (Ez 37,12-13). Reviverão os vossos
mortos, ressurgirão seus cadáveres, despertarão e
jubilosamente cantarão os que jazem no pó (ls 26,19).

A ocupação selêucida do século II a.C. e as subsequentes


perseguições são acontecimentos que reforçam a ideia de
que Deus ressuscitará os mortos. No livro de Daniel, escrito
entre 167 e 160 a.C., esta ressurreição está sempre ligada à
visão apocalíptica do "fim do mundo"; o mundo dos
perseguidores acabará, dando lugar a uma nova situação
histórica, na qual Deus reinará. No reino de Deus não haverá
mais mortos. Ele, sendo fiel, os ressuscitará. E o objetivo
principal dessa ressurreição é fazer prevalecer a justiça.
Muitos dos que dormem debaixo da terra despertarão,
este para a vida eterna, aquele para o vitupério, para a
132
infâmia eterna (Dn 12,2).
O livro de Macabeus, escrito nos últimos 20 anos do
século II a.C., reflete o contexto de perseguição sob Antíoco
Epífanes. Esse livro transmite a esperança de que Deus
ressuscitará todos os mortos, referindo-se de maneira
especial à felicidade daqueles que morreram por causa de
sua fé.
O Criador do universo, que formou o homem no seu
nascimento e deu origem a todos os seres, devolver-vos-á
misericordiosamente o espírito e a vida (2Mc 7,23).
Não encontramos aqui nenhuma referência à vida como a
repetição de mais uma passagem pela terra. A revelação
sempre sugere a vida num corpo espiritualizado e glorioso,
numa nova dimensão que vai além das dimensões terrenas.
Nesse texto e em muitos outros não mencionados, vamos
encontrar sempre a mesma ideia: há um Deus da vida e dos
vivos. Onde Deus está, há vida, e não morte. Passando por
muitas crises teológicas, a compreensão da Revelação em
Israel desenvolveu essa convicção fundamental. Nos textos
apocalípticos, ela se concretizou na fé em uma ressurreição
do corpo. Tal ressurreição muda radical mente o antigo
conceito sobre a vida após a morte: uma existência sombria
e sem atrativos na dimensão do Scheol. De acordo com essa
nova concepção, Deus recriaria o corpo da pessoa morta, o
que significa, dentro da perspectiva bíblica, recriar a pessoa
133
humana em sua totalidade.

1.2. O dualismo do mundo greco-romano

A fé de Israel na ressurreição baseava-se unicamente na


fidelidade de Deus. Uma fidelidade historicamente
confirmada por muitos milagres.
Na natureza humana não há nada que possa justificar a
vida eterna. Se o homem tem a possibilidade de viver para
além da morte, é unicamente porque Deus o quer; é porque
Deus o possibilita.
A partir do momento em que Israel teve um contato mais
íntimo com a cultura e o pensamento helênico, a sua fé
confrontou -se com outra concepção de esperança na vida
eterna, cujo funda mento não é a fé num Deus da vida, mas
uma reflexão antropológico-filosófica. O ser humano não
pode desaparecer na morte por que tem em si mesmo uma
dimensão eterna. Essa dimensão é a alma espiritual, que é
fundamentalmente distinta do corpo. A morte atinge o corpo,
mas não a alma. A essência do ser humano não é a sua
manifestação corporal, mas a dimensão espiritual, chamada
alma. Ela é, por natureza, imortal. Eis o cerne da
antropologia dualista expressa na filosofia grega. Essa
concepção se desenvolveu em várias etapas, a partir do
século VII a.C. nas religiões órficas da Trácia, passando por
Pitágoras e sendo desenvolvida por Platão no século IV a.C.,
e pela Gnose a partir do século II a.C. Quando Israel, devido
à ocupação dos selêucidas, entra em contato mais íntimo
com essa concepção, se estabelece também a discussão
teológica sobre a veracidade dos dois modelos. Uma
discussão profunda e muitas vezes conflituosa.
Ela se reflete principalmente nos textos do livro do
Eclesiastes, escrito numa época em que a reflexão judaica
tradicional sobre o destino humano na morte já entrava em
conflito com a concepção dualista do helenismo. Rejeitando a
ideia helênica de que o ser humano é imortal só porque
possui uma alma imortal, o Eclesiastes defende a tradição
antiga de Israel. Ele alerta que na concepção helênica falta o
principal: a ligação do ser humano com Javé. Não se alcança
a imortalidade simplesmente porque se tem uma alma
imortal, e sim porque este é um desígnio de Deus. É
necessário compreender que foi Deus quem destinou ao
homem uma existência eterna e que é para Deus que o
homem ressuscita. Para reforçar essa concepção, o
Eclesiastes afirma que, não fosse pela relação que o ser
humano tem com Deus, não haveria distinção entre a
condição do homem e a condição do animal.
Pois é a mesma a sorte dos homens e a dos animais:
tanto morre um como o outro; todos têm o mesmo alento. O
homem, pois, não leva vantagem sobre os animais, porque
tudo é ilusão: todos vão para o mesmo lugar: todos vêm do
pó e ao pó retomam (Ecl 3,19-20).
No século seguinte, por causa de. um contato mais íntimo
com a filosofia helênica, esta radicalidade na rejeição da
concepção grega desaparece. Passo a passo, assistimos a
uma influência do pensamento helênico refletida na descrição
do verdadeiro destino do homem na morte. Não é, no
entanto, só a alma que sobrevive, como pensavam os
gregos. Sobrevive o homem inteiro. Porque tem alma, e esta
exige o corpo, assim Deus ressuscita o homem na sua
totalidade.
O exemplo mais típico dessa progressiva tendência em
aceitar a concepção helênica são os livros da Sabedoria,
escritos entre130 e 50 a.C. Neles a terminologia do modelo
antropológico dualista da filosofia grega aparece claramente.
Por um lado, no entanto, mantém-se a convicção básica de
que a imortalidade é fundamenta num Deus que em si é a
134
vida.
Quanto à questão da vida após a morte, a grande
novidade deste livro é a fé na recompensa após a morte:
"Deus fez o homem para a imortalidade (incorruptibilidade:
Sb 2,23), entendida não só como consequência da natureza
imortal da alma, mas também e principalmente, como fruto
135
do dom divino dado aos que lhe são fiéis".
Ora, Deus criou o homem para a incorruptibilidade e o
tornou imagem de sua própria natureza (Sb 2,23).
Quanto às almas dos justos, estão nas mãos de Deus, e
nenhum tormento irá atingi-las (Sb 3,1).
O que o livro da Sabedoria acentua é o princípio da
retribuição, sobre o qual há um comentário na Bíblia
Sagrada: "A recompensa é alcançada após a morte, mas
136
decidida durante a vida terrena".
São há a ideia de que essa retribuição seja dada numa
segunda vila terrena, de acordo com os mecanismos
reencamacionistas.
Os ímpios, porém, receberão o castigo por seus
pensamentos, pois desprezaram o justo e se afastaram do
Senhor (Sb 3,10).
Os justos, ao contrário, vivem eternamente; sua
recompensa está no Senhor e o Altíssimo vela por eles. Por
isso, receberão das mãos do Senhor a gloriosa coroa real e o
diadema do esplendor... (Sb 5,15-16).

1.3. A gnose

A segunda linha sobre o destino humano depois da morte


'Com a qual a linguagem bíblica entrou em contato foi a
gnose, doutrina de concepção acentuadamente dualista.
Encontraremos claros vestígios da terminologia gnóstica no
4° Evangelho do Novo Testamento, por exemplo.
Os textos do Antigo Testamento não apresentam
qualquer traço do pensamento gnóstico porque já estavam
escritos quando a influência da gnose começou a ser
marcante.
Além da temática da ressurreição, os livros da Sabedoria
apresentam também traços de uma concepção dualista do
mundo.
A questão do dualismo corpo-alma é tratada de maneira
clara na teologia rabínica. Ao contrário da concepção
gnóstico-helênica, em que há uma separação entre o corpo e
a alma, ela procura manter e ressaltar a verdade revelada da
ressurreição integral do ser humano. Essa ressurreição se
dará, em primeiro lugar, em Israel, e seria a ressurreição dos
justos. De acordo com Rolf Schmitz, a identidade do homem
nessa ressurreição não mais estaria garantida pela existência
do Scheol, mas por algo denominado "osso da imortalidade",
um elemento da espinha dorsal que jamais desapareceria.
Por meio desse "osso da imortalidade" Deus, na ressurreição,
137
poderia renovar o ser humano por inteiro.
Outra ideia errônea e ainda hoje difundida entre os
cristãos é a de que a alma do morto ficaria guardada,
esperando até a chegada do Messias prometido, sendo esta a
maneira de preservar a identidade do ser humano antes e
depois da morte. Nesse momento, então, ela se reuniria ao
138
corpo, e este seria totalmente renovado e transformado.
Podemos notar que, de uma ou de outra maneira, todas
essas concepções mantêm a ideia fundamental da
ressurreição do ser humano na sua integridade. Todas elas
guardam a tradição que marca o desenvolvimento da
Revelação bíblica sobre o último destino do homem: ser
ressuscitado por Deus.

1.4. Concepções reencarnacionistas no contexto judaico-


bíblico antes de Jesus Cristo

Nos capítulos anteriores mostramos que, no contexto


bíblico -judaico anterior a Cristo, não havia concepções
reencarnacionistas. O que se constata, ao contrário, é um
esforço constante em compreender o destino humano à luz
de uma imagem específica de Deus. Um Deus fiel ao homem
nesta vida terrena e também na vida após a morte. Essa
fidelidade está implícita no fato de que Deus não quer que o
homem caia no esquecimento e na aniquilação, mas que
entre em comunhão consigo mesmo. Por isso, Deus criou o
homem segundo o princípio da ressurreição.
Essa convicção não surgiu de um momento para outro,
mas se formou ao longo de um. caminho longo e tortuoso,
cujas principais características tentamos mostrar. O eixo
fundamental de todo esse caminho é sempre o mesmo: Deus
ressuscita o homem depois de uma única vida. O homem não
foi criado por Deus para viver várias vidas consecutivas.
A partir desse princípio, podemos concluir que nos textos
bíblicos de épocas anteriores a Cristo não há sinais de
reencarnacionismo.
Fora do contexto religioso-cultural bíblico, a situação é
diferente. Ali vamos encontrar, entre outras concepções,
aquelas que se baseiam na ideia da reencarnação para
explicar como se dá o processo da recompensa para o bem e
da punição para o mal.

2. As crenças sobre o destino do homem depois da morte


no contexto bíblico depois de Jesus Cristo

2.1. Base e fundamento da fé na ressurreição: a


Ressurreição de Jesus, compreendida como ato exemplar do
Deus da vida

Toda a revelação sobre o destino do homem após a


morte no Novo Testamento baseia-se fundamentalmente na
afirmação de que Deus ressuscitou Jesus da morte. Essa
formulação se repete 26 vezes nos textos dos Evangelhos e
das Epístolas, começando com o texto mais antigo de 1Cor
15, escrito nos anos 50-51 d.C., e terminando com o 4°
Evangelho. Tornou-se a primeira formulação do credo da
Igreja primitiva, e é nela que Paulo baseia todas as suas
argumentações sobre a salvação.

"Se Cristo não ressuscitou, é vã nossa pregação e vã a


nossa fé" (1Cor 15,14).

Ao ressuscitar Jesus, o Deus Javé da tradição judaica


revela-se de fato o Deus fiel no qual se baseia a teologia de
Israel.

Com esse ato, Deus comprova aquilo que os textos do


Antigo Testamento tinham formulado como esperança da fé:
um Deus que ressuscita os mortos.
Com relação a esse paradigma da fé de Israel, Paulo, em
Rm 4,17, fala de modo específico: "Faz viver os mortos e
139
chama à existência as coisas que não existem".
O paralelismo entre a ressurreição dos mortos e a criação
"do nada", no início do mundo, reforça o contexto salvífico
dentro do qual Paulo vê as duas perspectivas - a da criação e
da morte sob o mesmo enfoque de um Deus da vida.
O fato de Deus ter ressuscitado Jesus morto torna-se
assim a confirmação de toda a teologia da ressurreição
desenvolvida no Antigo Testamento. Para os primeiros
adeptos do cristianismo, a evidência da ressurreição era tão
clara que, confiando nela, eles eram capazes de encarar a
morte. Isso porque sabiam que a sua morte não seria a
aniquilação, mas o início de uma nova reencarnação. Sabiam
e acreditavam de maneira absoluta naquilo que Paulo
formula na 211 Carta aos Coríntios:
Sabemos que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus
ressuscitará também a nós com Jesus e nos fará comparecer
diante dele convosco (2Cor 4,14; também 1Cor 6,14).

3. Textos bíblicos interpretados de maneira errônea para


justificar a reencarnação

É com insistência que certos autores repetem o


argumento de que a ideia da reencarnação se encontra
fundamentada também nos textos bíblicos. Mas, quando se
analisam os argumentos apresentados, constata-se sempre o
mesmo erro: certos textos bíblicos: estão sendo tirados do
seu contexto e interpretados a partir de critérios
estabelecidos por quem os utiliza. Contra essa atitude
enfatizamos, com todo o vigor científico, que a interpretação
de textos bíblicos é uma tarefa difícil e exige o trabalho de
especialistas, chamados de "exegetas".
Em vez de conclusões tiradas a partir de interpretações
pessoais, parece-nos muito mais prudente basear a nossa
argumentação naquilo que os especialistas no assunto têm a
dizer. Por esse motivo, mencionaremos, a seguir, os textos
bíblicos mais comumente citados como prova de
reencarnação e apresentamos, para cada um desses textos,
as opiniões de alguns dos mais conhecidos exegetas.

3.1. Textos do Antigo Testamento

Jr 31,29
Nesses dias já não se dirá: os pais comeram uvas e os
dentes dos filhos se embotaram.

O texto se encaixa no contexto dos oráculos


140
"pronunciados em favor dos exilados do reino de Israel".
Israel do Norte se encontrava exilado desde o ano 721, e
a ele se acrescentavam os exilados da Babilônia dos anos
597 e sobretudo de 586. Diante desses fatos históricos de
deportação e exílio, o profeta exprime as suas profecias
sobre a reintegração do povo de Israel a seu centro religioso,
chamado Jerusalém.
O texto reflete a concepção rabínica, segundo a qual' o
mérito das obras realizadas pelo homem não está somente
na boa intenção, mas na concretização dessas obras. Em
relação a elas, o homem deve assumir uma responsabilidade
pessoal. Assim, o texto em questão não trata da retribuição
cármica, mas da não-aceitação da "solidariedade de pais e
141
filhos no pecado...".
Jr 32,18
Tu fazes misericórdia a milhares, mas punes a falta dos
pais, em plena medida, em seus filhos.

Também nesse texto, que de certa maneira retoma a


ideia de Jr 31,29, é importante frisar que não é correto tomar
só a primeira parte do versículo para, a partir dela, deduzir
uma ligação com o pensamento cármico de retribuição. Isso
porque a segunda parte mostra claramente a situação em
que os filhos pagam as culpas dos pais: quando seguem os
pais no pecado. Josep Ribera Florit afirma que, nesse texto, o
autor "se opõe à solidariedade no pecado e no castigo entre
pais e filhos e, em vez disso, faz apelo à responsabilidade
142
pessoal".

Ml 3,23
Eis que vou vos enviar o profeta Elias, antes que
chegue o meu dia, grande e terrível.

Antes de descobrir neste texto indícios da ideia de


reencarnação, vale a pena estudar o contexto dentro do qual
ele foi escrito. Percebemos que a menção a Elias - anunciado
como aquele que vai vir de novo - não tem nenhuma
conotação reencarnacionista.
Seguindo o comentário de Amsler, Lacoque e Vuilleumier
sobre o Antigo Testamento, podemos perceber que a menção
a Elias ' feita em redação posterior a Malaquias.
Afirmam esses três autores: "Podemos imaginar o
seguinte processo: depois da morte de Malaquias, nada
deveria mudar, e promessa de 3,1 parecia não se realizar. A
partir de então, surge um grande conflito de gerações. Os
antigos, que haviam conhecido Malaquias, permaneciam
143
apesar de tudo fiéis na sua espera. Mas ficavam
apreensivos com a juventude, que não tinha tido contato
com o profeta e, por causa disso, sentia-se desorientada e
decepcionada, deixando-se conduzir pela descrença. Com
isso, a ordem ficava perturbada. Um redator, perto de seu
mestre, retomou então o tema do precursor, referindo-se a
Elias. Elias, que por já uma vez ter trazido a ordem (IRs
18,20ss; cf. Si 48,lss) foi conduzido ao céu. Por que ele não
poderia voltar para interferir de maneira decisiva antes do
144
grande dia de Javé?".

A compreensão desse texto é muito importante, pois é


baseado nele que se formou no judaísmo a ideia de que Elias
voltaria para anunciar o grande dia do Julgamento de Javé. É
a partir daí que devemos interpretar todos os textos do Novo
Testamento, onde se fala de Elias ou de um outro precursor.
(Cf. os textos respectivos, interpretados em seguida.)

3.2. Textos do Novo Testamento

Mt 11,13-15
Porque todos os profetas, bem como a lei,
profetizaram, até João. E, se quiserdes dar crédito, ele
é o Elias que deve vir.

Esse texto deve ser interpretado segundo o testemunho


de Jesus sobre João Batista. Essa mesma temática está
também em Lc 7,24-28 e 16,16. Todo o testemunho de Jesus
culmina na citação de dois textos veterotestamentários, de
Ex 23,20 e de MI 3,113. A citação de MI 3,1 deve ser
compreendida como uma interpretação da palavra de Jesus,
acrescentada por Mateus. Na sua exegese do Evangelho de
Mateus, Alexander Sand explica essa interpretação,
afirmando que o evangelista teria compreendido a citação de
Ml 3,1 a partir de MI 3,23. Desse modo, o texto de MI 3,1
referia-se, conforme a opinião do evangelista, a João Batista,
145
que, por sua vez, pode ser chamado também de Elias.
Como podemos perceber, o texto não se refere à
reencarnação; trata-se antes de uma construção teológica,
em que há um apelo a seus ouvintes para aceitar João
Batista como o precursor do Messias, apesar de ele não
corresponder à expectativa judaica de um Elias redivivo 15.
15. cr. id., ibid., p. 241.

Mt 16,13-15
Chegando Jesus ao território de Cesareia de Filipe,
perguntou aos discípulos: "Quem os homens dizem ser o
Filho do Homem?" Disseram: "Uns afirmam que é João
Batista, outros que é Elias; outros afirmam que é Jeremias
ou um dos profetas".
O texto refere-se à cena em que Pedro declara
publicamente que Jesus é de fato o Messias. Dentro desse
contexto, o evangelista repete também as várias opiniões
populares sobre Jesus. O povo é de opinião de que Jesus
seria um dos antigos profetas que teria voltado. Além dessa
crença genérica, existiam várias outras opiniões sobre Jesus.
Podemos perceber pelo texto que "a opinião é dividida ('Uns
afirmam que é João Batista; outros que é Elias...'). Conforme
Mt 14,2, existia a opinião (propagada por Herodes) de que
Jesus seria o Batista revivido. Baseada numa tradição
judaico-veterotestamentária, circulava também a suposição
de que Jesus seria o Elias revivido (MI 3,23-24; Sr 48,1-
11)"16. 16. cr. ib., ibid., p. 325.
O evangelista menciona essas opiniões não como
referência à possibilidade de reencarnação, mas para
contrapor as opiniões do povo à declaração de Pedro,
segundo a qual Jesus não é um profeta qualquer, Mas o
verdadeiro Messias. O fato de época de Jesus terem existido
expectativas de que antigos profetas voltariam para anunciar
o Messias não significa que havia entre o povo a crença na
reencarnação. Eram mais expectativas religiosas em torno de
um evento religioso específico, e nada tinham a ver com a
doutrina da reencarnação. O povo simplesmente esperava
que um dos antigos profetas fosse voltar, mas não
questionava corno isso seria possível e tampouco acreditava
na possibilidade de reencarnação. Para o povo, a volta do
profeta se daria mediante um dos milagres efetuados por
Deus para anunciar a vinda do Messias. Javé faria voltar à
vida um profeta já morto, mostrando assim o seu poder e
anunciando que o tempo messiânico teria começado. Essa é
a interpretação correta para as várias referências que
encontramos nos textos bíblicos sobre um profeta redivivo.

Mt 17,10-13
Os discípulos perguntaram-lhe: "Por que razão os
escribas dizem que é preciso que Elias venha primeiro?"
Respondeu-lhes Jesus: "Certamente Elias terá de vir
para restaurar tudo. Eu vos digo, porém, que Elias já
veio, mas não o reconheceram. Ao contrário, fizeram
com ele tudo quanto quiseram..." Então os discípulos
entenderam que se referia a João Batista.

Conforme o texto do profeta Malaquias (MI 3,23), antes


da chegada do dia do Julgamento de Javé, Deus enviaria
Elias. Esse retorno de Elias tornou-se uma das ideias gerais
da expectativa apocalíptica judaica. Vimos já no texto de Mt
11,13-15 que Jesus dirigiu essa expectativa à pessoa de
João, dizendo que ele teria sido o precursor que veio "no
espírito de Elias" (Mt 11,10.14;17,12)17. 17. Cf. Bíblia de
Jerusalém, anotação "1" de Mt 16,14. Mais uma vez a
palavra de Jesus sobre a vinda de Elias não tem nada a ver
com a ideia de reencarnação. Jesus faz referência a um fato
histórico: a vida de Elias, que viveu e sofreu aquilo que era o
destino de todos os profetas - nenhum reconhecimento e ser
146
tratado de maneira arbitrária.
O tempo de Elias já passou, mas o "espírito de EIias" não
passou. O que aconteceu com Elias também aconteceu com
João Batista e acontecerá com Jesus. A ideia de Elias revivido
em Batista serve mais uma vez para acentuar o messianismo
de Jesus. O tempo dos precursores passou; o verdadeiro
Messias chegou em Jesus.

Mt 19,28
Disse-lhe Jesus: "Em verdade vos digo que, quando as
coisas forem renovadas e o filho do Homem se assentar
no seu trono de glória, também vós, que me seguistes,
vos sentareis em doze tronos..."

Não se trata aqui de uma renovação no sentido cármico


"da renovação messiânica que há de manifestar-se no fim do
mundo, e que terá começo, sob uma forma espiritual, com a
Ressurreição de Cristo e o seu reinado na Igreja"19. 19. Cf.
Bíblia de Jerusalém, anoto "d" de Mt 19,28
Conforme a exegese de Alexander Sand, a noção da
"renovação das coisas" tem a sua origem no helenismo... No
pensamento apocalíptico judaico, o seu significado se
aproxima da ideia de um "mundo novo". Baseado nesse
conteúdo, o autor do Evangelho recorre a uma noção
conhecida para exprimir a ideia da "plenificação do mundo"
147
cujo fundamento é a ressurreição.

Mt 27,47-49
Alguns dos que tinham ficado ali" ouvindo-o, disseram:
está chamando Elias!... Deixa, vejamos se Elias vem
salvá-lol

De acordo com a já citada interpretação de Alexander


Sand Elias está sendo apresentado aqui, conforme a atitude
popular: como alguém que vem em socorro de outro nas
148
dificuldades.
Jesus, no entanto, nem a esse socorro pode recorrer,
ficando totalmente sozinho. É esse o significado da menção a
Elias nesse versículo. Não há nenhuma alusão à ideia de
reencarnação.

Lc 9,7-8
O tetrarca Herodes, porém, ouviu tudo o que se
passava e ficou muito perplexo por alguns dizerem: "É
João que foi ressuscitado dos mortos"; e outros: "É
Elias que reapareceu"; e outros ainda: "É um dos
antigos profetas que ressuscitou".

O trecho acima citado do Evangelho de Lucas apresenta


uma estrutura semelhante à que se encontra no texto mais
antigo de Mc 6,14-16. Os dois evangelhos relatam, de forma
genérica, opiniões do povo sobre Jesus. Nesse sentido, as
menções a Elias, a João Batista ou a "um dos antigos
profetas" situam-se no mesmo contexto teológico-
apocalíptico já explicado na interpretação que se fez dos
textos de Mateus. De modo algum esse texto oferece alguma
sustentação para a doutrina da reencarnação.
Sobre a questão de por que também se fala de um
149
Batista ressuscitado. Não se trata de uma pessoa
reencarnada num novo corpo, mas ressuscitada pelo agir de
Deus, Josef Ernst, na sua interpretação do Evangelho de
Marcos, nos oferece uma ideia interessante. Ele pergunta:
"Será que aqui discípulos de João que não podiam aceitar a
morte de seu mestre interpretam os milagres de Jesus como
atos realizados pelo seu mestre, morto de maneira violenta e
150
agora ressuscitado?".

Mc 9,11-13
E perguntaram-lhe: "Por que motivo os escribas dizem
que é preciso que Elias venha primeiro?" Ele
respondeu: "EIié3ts, certamente, virá primeiro, para
restaurar tudo. Mas como está escrito a respeito do
Filho do Homem que deverá sofrer muito e ser
desprezado? Eu, porém, vos digo: Elias já veio, e
fizeram com ele tudo o que fizeram, como dele está
escrito"'.

Da mesma maneira que no texto de Mateus, o texto mais


antigo de Marcos estabelece uma ligação com a crença
judaico-apocalíptica de que Elias voltaria com a tarefa de
preparar para o iminente fim do mundo (cf. MI 3,23). Mas no
texto de Marcos constatamos aquilo que é acentuado em
Mateus: o Batista é compreendido como o precursor que MI
151
3,23 mencionava sob o nome de Elias.
O Batista não é o Elias reencarnado; ele apenas assume
aquela tarefa que, na crença judaica, cumpriria o papel de
um Elias revivido. A intenção do discurso sobre Elias é a
mesma que constatamos no Evangelho de Mateus: mostrar
Jesus Como Messias. Para que esse fato fique tem claro, o
autor do Evangelho recorre às imagens suscitadas pela figura
de Elias.
A possibilidade de interpretação sob o prisma da doutrina
reencarnacionista fica totalmente fora do texto. Ele é uma
construção teológica que tenta estabelecer uma ligação entre
a expectativa apocalíptica de uma renovação do mundo e a
morte e ressurreição de Jesus. "O tempo final já começou
com a vinda de Elias (Batista), mas os opositores do justo
fizeram com que o caminho da plenificação passasse pelo
sofrimento."2525. Cf. id., ibid., p. 63.

Jo 1,19-22
Este foi o testemunho de João, quando os judeus
enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para o
interrogarem: "Quem és tu?" Ele confessou e não
negou: "Eu não sou o Cristo". Perguntaram-lhe: "Quem
és, então? És tu Elias?" Disse ele: "Não o sou". "És o
profeta?" "Não", respondeu ele.

A crença na vinda do profeta ou na volta de Elias não tem


nenhuma conotação. reencarnacionista. Trata-se de uma
outra visão segundo a qual se acreditava na vinda do
Messias. Já falamos sobre o surgimento do tópico a respeito
da volta do profeta Elias no decorrer de nossas explicações
sobre MI 3,23.
Segundo aquela interpretação, em que se menciona Elias
ou o profeta, "os inquisidores questionam se João Batista
atribuiu a si mesmo um papel messiânico. Segundo a crença
da época, a manifestação do Messias - vivamente esperada -
seria precedida ou se daria por intermédio da volta do
profeta Elias..."2626. Cf. Xavier Léon-Dufour, Leitura do
Evangelho segundo João, vol. I, São Paulo, Ed. Loyola 1996,
p. 126.
O autor do Evangelho de João refere-se a essa crença
não para transmitir, por meio dela, algum princípio
reencarnacionista, mas para acentuar que Jesus é o Messias.
É interessante notar que este intuito fica mais claro em João
do que nos textos dos sinóticos, que também mencionam a
crença num Elias redivivo. Enquanto João nega a
identificação entre João Batista e Elias, os sinóticos
identificam os dois. Contudo, querer ver na referência a um
Elias redivivo um sinal de reencarnação significa
simplesmente desconhecer tudo sobre o contexto religioso e
cultural no qual os evangelhos foram escritos.

Jo 1,29-30
No dia seguinte, ele vê Jesus aproximar-se e diz: Eis o
cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". Dele é
que eu disse: "Depois de mim vem um homem que
passou adiante de mim porque existia antes de mim".

Também nesse texto não encontramos nenhum indício


sobre a teoria reencarnacionista. A menção a Jesus como
aquele que "existia antes de mim" está dentro de um
contexto em que o autor do 4° evangelho quer apontar Jesus
como o Messias. Para isso, Batista dá seu testemunho sobre
Jesus, e este testemunho é muito mais exato do que o que
encontramos nos sinóticos. Começando com a apresentação
do Batista como "a voz que clama no deserto, aplanai o
caminho do Senhor" (Jo 1,23), o autor, passo a passo, deixa
João Batista tornar-se testemunho da messianidade de
152
Jesus.
Esse testemunho culmina no texto citado acima, em que
João Batista aponta Jesus de maneira direta, declarando que
Jesus vem depois dele, mas vai além de tudo aquilo que ele,
João Batista, teria dito e feito, porque Jesus é o verdadeiro
Messias, aquele que "existia antes de mim". Como podemos
ver, essa menção não sus cita de modo algum a ideia de
reencarnação; ela apenas situa Jesus no nível de um ser
divino, estabelecendo a ligação com o prólogo do Evangelho
153
e a "preexistência do Logos".

Jo 3,3
Jesus respondeu-lhe: "Em verdade, em verdade te
digo: quem não nascer de novo não pode ver o Reino
de Deus".

Esse texto, formulado no decorrer do encontro de


Nicodemos com Jesus, é talvez o mais citado pelos adeptos
da reencarnação para justificar a sua convicção, segundo
eles, baseada nos textos bíblicos. No entanto, bastaria uma
análise superficial para mostrar que o texto trata de um
assunto totalmente diverso. Durante a leitura, vamos
encontrar nas palavras do próprio Jesus a explicação exata
do significado de "nascer de novo". "Quem não nascer da
água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus" (Jo
3,5). O próprio texto de Jo 3,3 não revela nenhuma intenção
reencarnacionista. A palavra grega ánothen usada naquele
versículo pode ser traduzida por "de novo"; seu significado
154
correto neste contexto, porem é "do alto".
A palavra nascer, por sua vez, deveria ser substituída por
outra expressão. O já citado Xavier Léon-Dufour afirma que
"respeitando-se o passivo do verbo grego e sua conotação
implícita na atividade de Deus nesse nascimento", a
expressão deveria ser traduzida como "se alguém não é
155
gerado".
Compreendida a partir do ângulo exegético, percebemos
que o texto não apresenta nenhuma conotação de cunho
reencarnacionista. O que se quer transmitir, na verdade, é a
mesma ideia já formulada também no prólogo do 4°
evangelho: "Para se tornar filho de Deus, é preciso ter sido
gerado não pelo sangue... mas do próprio Deus" (1,12-
156
13).

Jo 9,1-3

Ao passar, ele viu um homem, cego de nascença. Seus


discípulos perguntaram-lhe: "Rabi, quem pecou, ele ou seus
pais, para que nascesse cego?" Jesus respondeu: "Nem ele
nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam
manifestadas as obras de Deus".
Esse texto é citado em certas ocasiões como prova de
que na própria Bíblia há referências ao carma da vida
passada.
Um olhar atento ao texto é suficiente para perceber que
uma tal argumentação é falsa. Isso porque no mesmo texto
fica claro que Jesus descarta a tese de que a cegueira se
deva a pecados cometidos anteriormente. "Nem ele nem
seus pais pecaram...".
O texto não trata nem de carma nem de reencarnação.
Ele deve ser compreendido dentro do grande propósito de
João de mostrar Jesus como o Messias. A prova de sua
messianidade são os sinais, e um deles é a cura de um cego.
Gl 6,7
Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o
homem semear colherá: quem semear na sua carne, da
carne colherá corrupção, quem semear no espírito, do
espírito colherá a vida eterna.

O texto deve ser interpretado dentro do grande contexto


das exortações, formuladas por Paulo desde GI 5,16. O cerne
das indagações do apóstolo pode ser resumido no seguinte
princípio. "Mesmo aquele que vive no espírito não se exime
da necessidade de assumir a responsabilidade pelo seu
157
agir".
Conforme Dieter Lührmann, a vida no espírito, e
consequentemente o "semear no espírito", deve ser
compreendido como uma "vida na fé, cujo conteúdo é o amor
158
do Filho de Deus...".
Paulo acentua a dicotomia entre uma tal vida e uma vida
"na carne". A vida na carne é marcada pela inveja, pela
cobiça e pelo desejo de glória, sentimentos que fortalecem
um ao outro (GI 5,25). A vida na carne é o caminho para a
"fornicação, a impureza, a libertinagem, a idolatria, a
feitiçaria, o ódio, as brigas, o ciúme, a ira, a discórdia, as
divisões" (GI 25,19) e assim por diante.
Em oposição a esse elenco de atitudes contrárias ao amor
de Deus, Paulo acentua a necessidade de orientar a vida para
aquele amor. E, em GI 6,7, resume todas as suas
advertências na frase . sobre a correlação entre o caminho
de vida que se busca trilhar e as obras resultantes dessa
vida. O resultado de uma vida "na carne" é a corrupção, ao
passo que a vida "no espírito", isto é, no amor de Deus,
resulta na vida eterna3434. Cf. id., ibid., p. 98.. É esse o
significado desse texto. Em nenhum momento ele se refere a
uma possível ligação cármica.
..ele salvou-nos, não por causa dos atos justos que
houvéssemos praticado, mas porque, por sua
misericórdia, fomos lavados pelo poder regenerador e
renovador do Espírito Santo.

A palavra que em certos casos está sendo interpretada


como indício de reencarnação exprime, na verdade, a noção
de "regeneração" (palingenesia, em grego). No contexto do
judaísmo helênico, ela tinha o significado de "voltar à vida
depois da morte". Na carta a Tito, no entanto, a frase em
questão refere-se na sua íntegra a uma visão do batismo. É o
batismo que tem um "poder regenerador e renovador".
Jeremias e Strathmann mostram que a simbologia que essa
imagem encerra já se encontra no judaísmo. Este ensinava
que, no momento da conversão, o ser humano se tornaria
159
"uma nova criatura".
Interpretar o texto em questão como indicador da
reencarnação significa não apenas desconhecer aquilo que a
palavra "regeneração" (palingenesia) quer dizer no seu
contexto religioso-cultural como também negligenciar a
intenção do texto.

1Pd 1,3
Bendito seja o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que, em sua grande misericórdia, nos gerou de novo
pela ressurreição de Jesus Cristo.

O significado dos termos "gerou de novo" já deixa claro


que não se trata de reencarnação no sentid9 espírita, mas de
uma nova dimensão de vida, aberta aos homens pela
ressurreição de Jesus Cristo.

A mesma ideia está expressa em 1Pd 1,23:


Fostes regenerados não de uma semente corruptível,
mas mediante a palavra viva e incorruptível de Jesus.
Mais uma vez encontramos o termo "regenerado", já
comentado no contexto de Tt 3,5. Só que aqui o autor não o
aplica ao batismo, mas ao efeito da ressurreição de Jesus
Cristo, nesse caso, ressurreição que possibilitou uma nova
vida, de modo que, após a ressurreição de Jesus, todas as
criaturas humanas são renovadas. R. Aguirre Monastério, em
seu estudo sobre Pedro na Igreja primitiva, mostra, com
muita propriedade, que a primeira carta de Pedro "é um
complexo literário, no qual as influências das tradições
catequéticas e litúrgicas da comunidade cristã primitiva
160
confluem".
Os ensinamentos ali reunidos "seguiam uma tal ordem
161
decrescente de importância" que no início há uma
descrição quase aplacadoras dos elementos mais
importantes. Para a Igreja primitiva, o fato mais importante
era a ressurreição. A carta começa relatando esse fato, e é a
ele que os dois textos aqui em questão se referem.

4. O problema da perda de força da mensagem sobre a


ressurreição

Podemos constatar, mesmo numa ligeira. abordagem dos


textos bíblicos, que, para a Bíblia, o tema da reencarnação
não está presente nem no Antigo nem no Novo Testamento.
A Bíblia não despreza diretamente as concepções
reencarnacionistas, que, com certeza, estavam presentes no
contexto sócio religioso e histórico, porque ela, desde as
mais remotas origens, apresentava uma perspectiva
completamente diferente. Era uma perspectiva tão radical e
tão ousada que todas as outras, inclusive a da reencarnação,
perderam qualquer valor.
A perspectiva mostrada nos textos bíblicos é a da
ressurreição, e é a partir dela que os ensinamentos bíblicos
definem o destino último do homem.
Diante da esperança colocada pela ressurreição, todas as
outras doutrinas que existiam no contexto sócio religioso,
entre as quais a da reencarnação, estão definitivamente
superadas. Os adeptos de tais modelos são considerados
pessoas "sem esperança".
Paulo fala, em diferentes contextos, sobre a ressurreição
como a grande esperança daqueles que creem em Cristo.

Irmãos, não queremos que ignoreis coisa alguma a


respeito dos mortos, para não vos entristecerdes, como os
outros homens que não têm esperança. Se cremos que Jesus
morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará com
Jesus os que nele morreram (lTs 4,13)38. 38. O enfoque de
Paulo, neste texto, não é especificamente a Ressureição, mas
a Parúsia e a pergunta da comunidade sobre o que
acontecerá com aqueles que já morreram antes de ela ter
acontecido. A sua resposta, que visa esclarecer esta
pergunta, pressupõe a Ressureição daqueles que "Deus
levará com Jesus".
Lembrai-vos, pois, de que outrora vós, pagãos de
nascimento, estivestes então sem messias... sem esperança
e sem Deus no mundo (Ef 2,11-12).
Um dos grandes problemas atuais é a perda da fé na
ressurreição. Essa perda da fé no significado verdadeiro das
palavras de Cristo propicia o surgimento de doutrinas
alicerçadas em falsas verdades. Uma delas é a doutrina da
reencarnação.
Num livro notável cujo título é Ressurreição dos mortos -
162
esperança sem atrativos , o teólogo protestante Werner
Tiede mostra o processo da perda da fé e os problemas dele
decorrentes. A esperança de que o homem, na morte, seja
ressuscitado pela ação de um Deus da vida parece sufocada
por concepções materialistas e espíritas. Com base nelas, o
homem se acredita capaz de construir um novo futuro - seja
uma nova sociedade tecnoindustrial seja uma "nova era",
alicerçada num novo pensamento mítico.
Diante da inconsistência de tais messianismos e do
dilema insolúvel diante de uma "transcendência empírica", tal
como também se manifesta nas crenças reencarnacionistas,
o autor mostra que a fé na ressurreição pode trazer ao
homem contemporâneo uma verdadeira esperança. "A
esperança no amor de Deus que plenifica e guia as ações
humanas para o amor - o amor sério e orientado para o
163
futuro".
Contra a tendência de encarar a morte como o estancar
radicada vida, o autor acentua que "a esperança cristã na
ressurreição possibilita compreender a morte como uma
outra dimensão da vida exatamente por acreditar na
164
superação universal da morte".
O grande desafio da verdadeira evangelização cristã de
hoje e do futuro não está na necessidade de entrar em
polêmica com representantes da nova "transcendência
empírica", mas na compreensão de duas necessidades
básicas:
1) Os cristãos devem redescobrir o grandioso significado
da mensagem cristã sobre a ressurreição.
2) A partir da convicção da verdadeira Boa Nova, os
cristãos devem ter a coragem de transmitir essa mensagem
para um mundo carente de Boas Novas.
De acordo com o pensamento do teólogo suíço Kurt Koch,
a difusão desse princípio será capaz de revelar a dimensão
política da esperança cristã, fazendo com que as várias
doutrinas reencarna cionistas percam seu poder de
165
atração.
PARTE 7

DECLARAÇÕES DA IGREJA SOBRE A VIDA DEPOIS DA MORTE

Em oposição às escassas declarações da Igreja sobre a


questão da reencarnação, encontramos um vasto número de
textos oficiais baseados na fé na ressurreição.
Parece-nos importante acentuar que todas essas
declarações são marcadas pela prudência. Neste sentido, elas
se distinguem de muitos textos catequéticos e não-oficiais
em que, com um zelo religioso excessivo, se tentou afirmar
com certeza aquilo que muitas vezes não passou de
especulação.
Mencionamos, a seguir, os textos mais importantes das
declarações oficiais:

166
1. Declarações sobre o julgamento

(O termo "julgamento" é frequentemente utilizado para


expressar "juízo particular".)

O juízo particular (julgamento) ocorre imediatamente


167
após a morte (D 464, 530, 693, DS 854ss, 1000s).
Este juízo não frisa propriamente o ato do juízo em si,
mas o cumprimento da sentença proferida, o prêmio ou o
castigo que entra imediatamente em vigor.
No momento deste juízo, a alma reconhece com
evidência total o resultado e o valor da vida que viveu, sem
nenhuma restrição.
Não há, depois da morte, uma situação intermediária,
mas um estado de purificação, chamado Purgatório, para
aqueles que ainda precisam de purificação. Além disso,
imediatamente após o juízo, há o estado de felicidade para
os justos, e o inferno para aqueles que morrem em estado de
168
pecado grave.

Enfoque do princípio hermenêutico


De acordo com o Dictionnaire de Théologie Catholique, o
julgamento universal foi sempre unanimemente apresentado
como uma verdade revelada pela fé. A doutrina do
julgamento particular é apenas considerada uma doutrina
169
certa.
É evidente, nesse contexto, que as declarações sobre o
juízo universal, de um lado, e o juízo particular, de outro,
não podem ser compreendidas como dois julgamentos
separados por um certo período de tempo. Como o tempo
não existe na eternidade, e como o conceito de "evo" não
passa de um engendramento especulativo da linguagem
teológica, evidentemente ambas as expressões referentes ao
julgamento dizem respeito a uma mesma realidade. Juízo
universal e juízo particular, portanto, só podem significar que
todos e cada um seremos julgados. Em sua maneira de
exprimir essa verdade fundamental da fé, a linguagem
teológica do passado entrou aqui em muitas disquisições
ideológicas. Isso porque naquele tempo não se tinha o
conhecimento que se tem hoje sobre a natureza do tempo e
também pelo pouco conhecimento no campo da tanatologia,
170
cujas descobertas ocorreram nos últimos 15 anos.
O Diccionario de Conceptos Teológicos afirma que na
tradição teológica há três razões para manter a fé na
necessidade do julgamento:
como sanção,
como recompensa,
como autoconhecimento.

171
Na discussão atual predomina o terceiro aspecto. Isso
porque, no decorrer das reflexões escatológicas dos últimos
20 anos, tornou-se cada vez mais frequente interpretar o
julgamento como um ato de autoconhecimento do homem
172
perante Deus e por ele iluminado.
Do ponto de vista histórico, é interessante notar que a
base para tal concepção já se encontra em são Bernardo e
em santo Tomás de Aquino:
Ut quorumdam studia bona manifesta sunt praecedentia
ad judicium, ut illi quidem non expectantes sententia propria
statim pondere criminum in tartara dejiciantur, isti vero e
regione paratas sibi saedes tota libertate spiritus sine ulla
cunctatione conscendante. ("Como os estudos de alguns com
referência ao juízo se manifestaram bons, uns certamente,
sem demora, por sentença própria, pelo peso dos crimes,
imediatamente são lançados ao tártaro; outros porém sobem
de seu lugar com toda liberdade de espírito, sem nenhuma
173
dificuldade, às cadeiras para eles preparadas.").
Sicut in corporibus est gravitas vellevitas, qua feruntur ad
suum locum qui est finis motus ipsorum, ita etiam est in
animabus meritum vel demeritum, quibus perveniunt animae
ad praemium vel ad poenam quae sunt fines actionum
ipsarum. ("Assim como nos corpos há gravidade ou leveza,
com a qual são levados ao local que lhes corresponde,
também as almas chegam ao prêmio ou ao castigo pelo
174
mérito ou pelo demérito.").

175
2. Declarações sobre o Purgatório 10.

A doutrina sobre o Purgatório foi definida como dogma de


fé revelada fundamentalmente na Idade Média, pelos
concílios de Lyon (1274), Florença (1438-39) e Trento (1545-
63). As declarações mais tardias não acrescentam nada ao
dogma já definido, sendo apenas a sua confirmação.
Os elementos centrais da doutrina dizem o seguinte:

Concílio de Lyon
A declaração de 6 de julho de 1274 afirma que haverá
purificação após a morte para todos aqueles que morreram
verdadeiramente penitentes e no amor de Deus (D 464)
(qui... vere paenitentes in Dei decesserint, antequam dignis
176
paenitentiae fructibus de commissis satisfecerint ).
Fica claro também nessas declarações que a Igreja não
entra em detalhes científicos. É evidente que, à luz dos
conhecimentos atuais da tanatologia, o processo denominado
"Purgatório" deve acontecer no decorrer daquilo que a
tanatologia chama de "morte aparente", antes de completar-
se a morte e a ressurreição.
As orações, as missas, os atos de caridade e outros
tantos efetuados dentro dos costumes da Igreja servem para
177
aliviar (ou eliminar) as penas dos mortos (D 464, 693,
983, DS 856-857). Concílio de Florença Confirma-se
basicamente a doutrina formulada no Concílio de Lyon.
Concílio de Trento As declarações de 1563, além de
confirmarem a doutrina já formulada, recomendam aos
pregadores que usem maior cautela e discrição ao descrever
o Purgatório, uma vez que eles não podem saber coisas
certas sobre o assunto, nem tampouco essas descrições
foram reveladas (DS 1820).
Não abordando diretamente a doutrina do Purgatório, o
mesmo Concílio, em 1547, trata ainda no cânon 30 da
questão da justificação do pecador. Contrapondo-se à
posição de Lutero, especifica mente, a declaração afirma que,
quando o pecador tiver recebido a graça da justificação,
serão ainda necessárias obras temporárias para transformá-
178
lo interiormente e fazê-lo crescer na união com Cristo.

Concílio Vaticano II
Não menciona em lugar nenhum a doutrina do
Purgatório, confirmando no número 51 da Lumen gentium a
doutrina dos três concílios já mencionados.
Carta sobre algumas questões referentes à escatologia.

Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 1979


(Antes de tudo convém salientar que tal carta não
pertence ao ensinamento doutrinal infalível da Igreja.)
No n° 7 da Carta, a doutrina da Igreja sobre o Purgatório
é resumida da seguinte maneira: "Ela (a Igreja) crê existir
para os eleitos uma eventual purificação prévia à visão de
Deus, a qual, no entanto, é absolutamente distinta da pena
dos condenados"14. 14. Op. cit., p. 6. Como referências
doutrinárias podem-se mencionar: D 465 DS 838; D 570; DS
1066ss; D 693; DS 1304; D 840; DS 1580; D 983; D 1820;
D 998 DS 1867; D 2147; DS 3553ss.

Enfoque do princípio hermenêutico


É importante notar que nunca foi dogmaticamente
declarado que o Purgatório fosse um lugar onde haveria fogo,
nem tampouco declarou-se a existência de outro elemento
que indique a duração ou a maneira da purificação.
Também o texto da Sagrada Congregação para a
Doutrina da Fé só mencionou o fato de uma eventual
purificação, não citando nem fogo nem torturas.

179
3. Declarações sobre o Inferno

A Igreja declara a existência do Inferno e sua eternidade


(D 16, 40, 429, 464, 693, 717, 835, 804). Isso confirma que
existe a possibilidade de alguém se condenar. O fato de
alguém realmente ter-se conde nado não foi nem declarado
nem revelado concretamente por ninguém.
A ideia de uma apokatástase - a restauração ou liberação
de quem se encontra na situação de Inferno - é rejeitada (D
211, 429, 531, D 2189) (Coll. Lac. VII 517, 550, 564, 567).
Contrapondo-se à disquisição de alguns teólogos a
respeito de um estado intermediário dos condenados antes
do Juízo Final, declara-se que o Inferno acontece
imediatamente após a morte (D 464, 531). Com essa
declaração eliminaram-se os modelos muito frequentes, até
mesmo entre teólogos, que tentam compreender a vida após
a morte dentro de parâmetros temporais. A declaração
torna-se assim importante para a superação desses modelos
puramente imaginários e disquisições, mas ainda presentes
na concepção de muitos fiéis.
Faz-se certa distinção entre a poena damni, o tormento
ocasionado pela privação da visão de Deus, e a poena
sensuum, que é o tormento da punição (D 410). Essa
punição é declarada como sendo diferenciada (D 464, 693).
É importante ressaltar que não há nenhuma decisão do
Magistério sobre a questão de que a possibilidade de uma
perdição eterna, como é formulada na doutrina sobre o
Inferno, de fato já se tenha concretizado para algum homem.
"Temos de manter justa postas, sem harmonização, as
sentenças sobre o poder de vontade salvífica geral - da
redenção de todos por Cristo, do dever de esperar a salvação
para todos - e a sentença da real possibilidade de uma
180
perdição eterna.".

Enfoque do princípio hermenêutico


Quanto ao que diz respeito ao aspecto querigmático,
Josef Ratzinger destaca que "o desenvolvimento teológico do
dogma não pode acontecer, em primeiro lugar, na direção de
uma especulação subjetiva sobre o além, mas deve se
esforçar muito mais para desenvolver o sentido existencial da
181
declaração".
Em outras palavras, Karl Rahner explica que, com base
em um princípio hermenêutico que deveria ser utilizado para
a compreensão de todas as declarações escatológicas, o
discurso sobre o Inferno não pretende dar informações
antecipadas sobre uma situação futura, mas mostrar a
seriedade da situação na qual o indivíduo se encontra. É
nesse sentido que tudo o que a Sagrada Escritura menciona
sobre o Inferno deve ser compreendido também dentro das
categorias do gênero do "discurso de ameaça", e as
metáforas usadas devem ser compreendidas como imagens,
182
e não como realidades.
Sobre a justaposição das possibilidades de salvação e
perdição, o mesmo autor afirma que a formulação dessas
duas possibilidades "não é no Cristianismo necessariamente a
doutrina de dois caminhos equivalentes diante dos quais o
homem deva decidir qual deles trilhar. Essa abertura de
terminar a sua existência numa situação livremente escolhida
de perdição é formulada ao lado da doutrina segundo a qual
o mundo e a história do mundo como um todo de fato
183
desembocam na vida eterna junto com Deus".

184
4. Declarações sobre o Juízo Final (juízo universal).

O Magistério da Igreja declara a fé no juízo universal de


todos os homens. Esse juízo é concebido em estreita ligação
com Parúsia ou "segunda vinda" de Jesus, isto é, com o
nosso encontro com ele, o Senhor (DI-6, art. 7; D 13, 40,
54, 86, 228a, 255, 287 344, 422, 429, 462, 464, 531, 693,
994). Há, do ponto de vista d conteúdo, uma tendência
claramente cristológica, porque esse juiz universal "não será
realizado pelo Pai (D 384; DS 737), mas pelo Filho - o Filho
Encarnado, o Filho que se fez homem, Jesus Cristo (D 13; DS
44; D 40; DS 76; D 86; DS 150; D 287; DS 540s; D 427; DS
797; D 462; DS 851; D 464; DS 854s).
Até o século XIII, não há ampliações essenciais da
doutrina do juízo universal. Podemos mencionar: D 255;
287; 344; 384; 422; 429.
Uma primeira distinção entre juízo universal e juízo
particular encontra-se no Credo de Clemente IV (D 462; 464)
e de Bento XII (D 530s).
"Desde o século XV nada mais foi acrescentado ao dogma
185
do juízo universal nas declarações do Magistério.".
Quando fazemos a interligação das declarações sobre o
Juízo Final com as outras sobre a Ressurreição dos mortos e
a plenificação do mundo em Deus, podemos mencionar as
186
seguintes declarações :
- Credo do Concílio de Constantinopla 381 (Ds 150; L
555)
- Credo de Atanásio (entre os séculos IV e VI) (DS
76; L 56)
- XI Conferência Eclesial de Toledo (675) (DS 540; L
557)
- IV Concílio de Latrão (Roma 1215) (DS 801; L 558)
- Credo do Imperador Bizantino Miguel VIII (1274)
(DS 854; L 559)
- Constituição Benedictus Deus, do Papa Bento XII, de
29 de janeiro de 1336 (DS 1005; L 560)
- Encíclica Mirae Charitatis, do Papa Leão XIII, de 28
de maio de 1902 (L 561)
- Constituição apostólica Munificentissimus Deus, do
Papa
- Pio XII, de 1° de novembro de 1950 (DS 3903; L
562)
- Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen
gentium n° 48, de 21 de novembro de 1964 (L 542) I
- Constituição Pastoral Gaudium et spes n 39 (L 563)
e n 45

Quanto às declarações sobre o Juízo Universal, a


Ressurreição dos Mortos e a Parusia, é totalmente válido
aquilo que, já em 1925, está escrito no Dictionnaire de
Theologie Catholique: "A Igreja é tão firme sobre a existência
do Juízo Universal e da Parusia quanto é discreta sobre a
187
modalidades de sua realização".

Enfoque do princípio hermenêutico


O dicionário Sacramentum Mundi, de 1969, menciona a
problemática que se abre quando se quer manter uma
distância temporal entre o juízo particular e o juízo universal,
mostrando uma interpretação que se torna cada vez mais
188
geral nas publicações dos últimos 20 anos sobre o tema :
"Compreender-se-á o Juízo Particular em primeiro lugar
como declaração sobre a planificação individual do homem
particular, contanto que ele não seja só parte do coletivo
chamado humanidade. O Juízo Universal será compreendido,
em primeiro lugar, como uma declaração sobre o fato de que
a humanidade e a sua história como um todo estarão sujeitos
ao julgamento de Deus, sem querer harmonizar as duas
declarações, fixando o seu conteúdo em dois pontos definidos
189
do mesmo sistema de coordenadas temporais".
A já mencionada "Carta sobre algumas questões
referentes à escatologia", expedida pela Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé, publicada em 1979,
pretende manter no seu artigo 5Q a concepção de dois
julgamentos, sem, no entanto, insistir que eles seriam
190
distintos no tempo ou no espaço.
Herbert Vorgrimler, em resposta à carta mencionada,
resume a posição teológica à qual parece aderir hoje a
maioria das publicações sobre o assunto. Escreve ele: "A
ideia de que ali onde o homem ou a humanidade encontra
Deus na pessoa de Jesus Cristo de maneira definitiva, onde é
revelada inexoravelmente a verdade, não só a verdade
desiludida sobre o homem, mas também a verdade do amor
de Deus, esta ideia pode ajudar a superar a concepção de
que Deus encenaria dois dias distintos de juízo como
191
dramaturgia jurídica".
BIBLIOGRAFIA

Parte 1: Tanatologia

AGOSTINHO Santo, O cuidado devido aos mortos, São


Paulo, Ed. Paulinas, 1990
AICHELIN A., Tod und Sterben. Deutungsversuche,
Guetersloh, 1978.
ALBERTINI Lino Sardos, O além existe,' São Paulo, Ed.
Loyola, 1989.
ALDWINKLER R., Death in the secular city, Grand Rapis,
1972.
ALTNER G., Tod, Ewigkeit und Ueberleben.
Todeserfahrung und Todesbewaeltigu_ im
nachmetaphysischen Zeitalter, Heidelberg, 1981.
ALVES Rubem, Variações sobre a vida e a morte, São
Paulo, Ed. Paulinas, 1982
AMIGUES M., Le chrétien devant Ia mort, Paris, 1981.
ARIES Philippe, Studien zur Geschichte des Todes im
Abendland, Muenchen, 1980
- O homem diante da morte, 2 vols. Rio de Janeiro,
Ed. Francisco Alves, 1981
- Geschite des Todes, Einstellungen der Menschen
zum Tod, Ed. dtv No. 44C (s. d.).
BACHL G., Ueber den Tod und das Leben danach, Graz,
1980.
BAUMANN Heinz, lndividualitat und Tod, Würzburg, Ed.
Kõnigshausen/Neuman 1995.
BECKER E., A negação da morte, Rio de Janeiro, Ed. Nova
Fronteira, 1976.
BENEDICTI XIV, De servorum dei beatificatione et
beatorum canonizatione, voI. IV Prati, 1841.
BERGUA Juan B., Ellibro de los muertos de los antigos
egípcios, Madri, Ed. Clásico Bergua, 1962.
BISCHOFBERGER Norbert, Werden wir
wiederkommen?, Ed. Grünewald, Main 1996.
BISER E., Dasein auf Abruf, Der Tod ais Schicksal,
Versuchung und Aufgab Düsseldorf, 1981
BOECKLE F., Menschenwuerdig sterben, Einsiedeln, 1979.
BOEMER Magali R., A morte e o morrer, São Paulo, Ed.
COIiez, 1986.
BROWN N., Life against death. The psychanalitical
meaning of history, Nova Iorque, 1959.
CAFFARA C., La visione cristiana delta morte, Verona, II
Corso Int. Bioetica, 1989.
CASSORLA RooseveIt M. S. (Org.), Da morte, São Paulo,
Ed. Papirus (s.d.).
CHORON J., Der Tod im abendlaendischen Denken,
Stuttgart, 1967.
CONDRAU Gion, Der Mesch und sein Tod, Einsiedeln,
1984.
CREAZZO Arcangelo, Studio su Ia morte apparente e Ia
morte reale, Roma, 1913.
DANTINE Wilhelm, Der Tod, eine Herausforderung zum
Leben, Guetersloh, 1980.
DEMSKE J. M., Sein, Mensch und Tod. Das Todesproblem
bei M. Heidegger, Friburgo, i. Br., 1963.
DINZELBACHER Peter, An der Schwelle zum Jenseits,
Friburgo, Ed. Herder, 1889.
DOHMEN Christoph, Schoepfung und Tod. Entfaltung
theologischer und antropologischer Konzeptionen in
Gen 2/3, 1988.
DOORE Gary, Gibt es ein Leben nach dem Tod? München,
Ed. Kõsel, 1994.
DUBOIS P. M., The hospice way of death, Nova Iorque,
1980.
EERSEL Patrice van, Sterben, der Weg in ein neues
Leben, München, Ed. Knaur, 1991.
EISSLER K. R., Der sterbende Patient. Zur Psychologie
des Todes, Stuttgart, 1978.
EVELY N., In the face of death, Nova Iorque, 1979.
FLAMMARION C., La morte et son mystere, 3 vols., Paris,
1948.
FORTMAN E. J., Everlasting life after death, Nova Iorque,
1976.
GOETH D. H., Es gibt keinen Tod, Viena, 1981.
GROF St., The human encounter with death, Nova
Iorque, 1977.
GUARDINI Romano, Das Mysterium des Todes, Frankfurt
a.M., 1955.
HAMPE J. CH., Sterben ist doch ganz anders, Stuttgart,
1980.
HEINON Y., Un homme pour vivre et traverser Ia mort,
Paris, 1978.
ICARD Severin, Mort réele et la mort apparente, Paris,
1897.
JACOBSON Nils O., Vida sem morte? Rio de Janeiro, Ed.
Nórdica (s.d.j.)
JAFF A/ROHN L. F./FRANC M. L., Morte à luz da
psicologia, São Paulo, Ed. Cultrix, 1989.
KASTENBAUM Robert, Haverá vida depois da morte? Rio
de Janeiro, Ed. Nórdica, 1989
KELSEY M. T., A[terlife. The other side of dyng, .Nova
Iorque, 1979.
HOENIG H. (Org.), In Wuerde sterben. Gespraeche ueber
den 1bd, Munique, 1977.
KUEBLER-ROSS Elisabeth, Sobre a morte e o morrer, São
Paulo, Ed. Martins Fontes, 1981.
- Morte, estágio final da evolução, Rio de Janeiro, Ed.
Record (s/d).
- Interviews mit Sterbenden, Estugarda, Ed. Kreuz
(s/d).
- Reif werden zum Tode, Stuttgart, 1975.
LANGEGGER Florian, Doktor, Tod und Teufel, Frankfurt
a.M., _a. _unrKamp, 1983.
LEONISSA Miguel de, Vida, a morte aparente e a morte
real; São Paulo, Mare e Monti, 1908.
LEPARGNEUR Hubert, Lugar atual da morte, São Paulo,
Ed. Paulinas, 1986.
LEPP J., La morte es ses mysteres. Approches
psychanalytiques, Paris, 1966.
LUYTEN NorbertA, Ewigkeit des Menschen?, Friburgo,
UniversitaetsverIag, 1988.
MALONEY G. A, The everlasting now. Meditations on the
mysteries of life and death, as they touch us is our
daily choices, Notre Dame, 1980.
MANN Ulrich, A morte no imaginário religioso das épocas
e das culturas, em: vv. AA.: Grenzerfahrung Tod,
Frankfurt, Ed. Suhrkamp, 1978.
MARTINS José de Souza, A morte e os mortos na
sociedade brasileira, São Paulo Ed. Hucitec, 1983.
- A morte e os outros, São Paulo, Ed. Hucitec, 1983.
MEYER Joachim, Todesangst und das Todesbewusstsein
der Gegenwart, 1988.
MITFORD J., The american way of death, Nova Iorque,
1978.
MOODY Raymond A, Vida depois da vida, Rio de Janeiro,
Ed. Nórdica (s.d.). -, Das Licht von drueben, Reinbek
B. Hamburgo, 1989.
MYSTERIUM SALUTIS, Compêndio de dogmática, voI. 3,
Petrópolis, Ed. Vozes, 1985.
NASSEHI ArminIWeber Georg, Tod, Modernitaet und
Gesellschaft. Entwurf einer Theorie der
Todesverdraengung, 1989.
OSIS Karlis, Deatheb observations by physicians ans
nurses, Nova Iorque, Parapsychology Foundation
1961.
OSIS K./HARALDSSON E., Der 1bd, ein neuer Anfang.
Visionen und Erfahrungen an der Schwelle des Seins,
Friburgo, i. Br., 1978.
PARRICK J., Toman Welch died, Went to hell und lived to
tell, a 20th century miracle, New Jersey, 1981.
PAULA Sergio Goes de, Morrendo à toa, São Paulo. Ed.
Ática (s/d).
PAUS Ansgar (org.), Grenzerfahrung Tod. Salzburger
Hochschulwochen 1975, Graz 1976.
POTEET G. H., Death ans dying. A Bibliografy 1950-1974,
Nova Iorque, 1976.
PRICKETT J. (org.), Death livings faiths, Londres, 1980.
PULLWITT Juergen, Tod, eine Lebensfrage, Paderdom,
Ed. Schoening, 1975.
QUEIROZ Mauricio Vinhas de, Messianismo e conflito
social, São Paulo, Ed. ÁtiCf RAWLINGS M., Before
death gomes, Londres, 1980.
RING Kenneth, Den Tod erfahren-Das Leben gewinnen,
München-Bema-Viena, Ed Scherez, 1986.
- Life at Death, Coward Mc Cann, 1980.
SANTOS Juana Elbein dos, Os Nagô e a morte, Petrópolis,
Ed. Vozes, 1993.
SCHERER G., Das Problem des Todes in der Philosophie,
Darmstadt, 1979.
SCRINZI Justiniano, Santo Antônio de Pádua e seu
tempo, São Paulo, 1933.
SOBRINHO J. Vasconcelos, A arte de morrer, Petrópolis,
Ed. Vozes, 1984.
THE TIBETAN BOOK OF THE GREAT LlBERATlON, Londres-
Nova Iorque, Toronto, Oxford University Press (s.d.).
THOMAS Klaus, Warum angst vor dem Sterben?,
Friburgo, Ed. Herder, 1980.
THURMOND E., Últimos pensamentos antes de afogar-se,
em: Journal of Abnormal Social Psychologie 38
(1943).
TUCCI Giuseppe, O livro tibetano dos mortos, Milão, Ed.
Fratelli Bocca, 1949.
VARlGNY Henry de, Mort véritable ef fausse mort, Paris,
Felix Alcan, 1929.
VORGRIMLER Herbert, Der Tod im Denken und Leben des
Christen, Düsseldorf, 1978.
VV.AA., Der Mensch und sein Ibd, Kleine Vandenhoeck-
Reihe No. 1426, 1976.
- Der Tod - und was KQmmt danach? 22
Darstellungen von Religionem und Konfessionen,
Guetersloh, 1983.
- Les Sens de la mort, Friburgo, Ed. Universitaires,
1980.
- Stichwort Tod, eine Anfrage, Rhabanus-Maurus-
Akademie, Frankfurt a.M., 1980.
- A vida em meio à morte, São Paulo. Ed. Paulinas,
1983.
WOLLF/ Curran, Natureza do delírio e estados alienados,
em: Arch. Neurol. Psychiatr (1935), pp. 1175-1212.
ZIEGLER Jean, Os vivos e a morte, Rio de Janeiro, 1977.
ZOBHAM Brewer Ebenezer, A Dictionary of miracles,
Filadélfia, 1984.

Partes 2 e 3: Reencarnação

A DICTlONARY OF MIRACLES, Gale research Company,


Book Tower, Detroit, 1966.
ALBERTINI Lino Sardos, O além existe, São Paulo, Loyola,
1989.
BERNSTEIN Morey, Protokoll einer Wiedergeburt,
München, Knaur, TB N. 4114.
- The Search for Bridey Murphy, Garden City, Nova
Iorque, Doubleday, 1956.
BLANK Renold J., Reencarnação ou ressurreição, uma
decisão de fé, São Pa1f1o, Ed Paulus, 1995.
BONI Gastone de, L'uomo alla conquista dell'anima,
Milão, 1975.
BOSSA Benjamin, Parapsicologia - O poder da mente e os
mistérios da vida, São Paulo, Ed. Loyola, 1993.
DALLEGRAVE Geraldo E., Reencarnação, São Paulo,
Loyola, 1987.
EBEON Martin (ed.), Reincarnation in the Twentieth
Century, New American Library, EUA, 1969.
ELIADE Mircea, Myths dreams and mysteries, Nova
Iorque, 1967.
- The myth of the eternal return, Nova Iorque, 1954.
HEAD Joseph!CRANSTON, S. L., Reincarnation an East
West anthology, Wheaton, EUA, 1980.
HEMMIGER Hansjõrg, Reinkarnationstherapie - kritisch
betracnrer, em: n.,mu,""" Kochanek: Reinkarnation
oder Auferstehung, Friburgo-Basel-Viena, Ed. Herder,
1992, pp. 128-129.
HOLZER Hans, Life Beyond life: The evidence for
reinçarnation, West Nyack, Parker, w
HUMMEL Reinhart, Reinkarnation, Mainz, Gruenewald,
1989.
KARDEC Allan, O que é o Espiritismo, Brasília, Fed.
Espírita, 1944.
KOCHANEK Hermann, Reinkarnation oder Auferstehung,
Friburgo-Basel-Viena, Ed. Herder, 1992.
LAURITSEN Paul, Reinkarnation und Freiheit, München,
Knaur, 1989.
LORENZATTO José, Parapsicologia e religião, alguns
aspectos da mística à luz da ciência, Caps. I a V, São
Paulo, Ed. Loyola, 1979.
MAC Gregor Geddes, Reinkarnation und Karma im
Christentum, München, Ed. Knaur, 1990.
MONTERO Paula, Magia e pensamento mágico, São Paulo,
Ed. Ática, 1986.
OSTRANDER S./SCHROEDER L., PSI, Die
wissenschaftliche ErfGrschung und praktische
Nutzung übersinnlicher Kriifte des Geistes und der
Seele im Ostblock, Berna-München-Viena, 1970.
PAVESE A./Wfum M., Handbuch der Parapsychologie,
Augsburg, Ed. Pattloch, 1992.
POROT Antoine, Manuel alphabétique de Psychiatrie,
Paris, Presses Universitaires de France, 1965.
QUEVEDO Oscar G., Antes que os demônios voltem, São
Paulo, Ed. Loyola, 1989.
- As forças físicas da mente, vols. 1 e 2, São Paulo,
Ed. Loyola, 1981.
- A face oculta da mente, São Paulo, Ed. Loyola,
1979.
ROBILLARD Edmond, Reencarnação, sonho ou realidade?
São Paulo, Ed. Paulinas, 1984.
SOMETTI José, O espiritismo moderno, São Paulo, Ed.
Loyola, 1981.
STEINER Rudolf, Reencarnação e carma, São Paulo, Ed.
Antroposófica, 1990.
STEVENSON Ian, Reinkarnation, Friburgo, i. Br. 1976.
- Reinkarnation Der Mensch im Wandel von Tod und
Wiedergeburt, 20 Faelle, Friburgo, Herder, 1986.
Cases of the reincarnation type, Charlottesvil1e,
University Press of Virginia voI. I: Ten cases ofIndia
(1975); voI. II: Ten cases in Sri Lanka (1977); voI.
IIJ Twelve Cases in Lebanon and Turkey (1980); voI.
IV: Twelve Cases in Thailané and Burma (1983).
- The evidence for survival from claimed memories of
former incarnations, Bull Heath, Peto, 1961.
- The evidence for survival from claimes memories
offormer incarnations, JASPI 54, 1960.
TALBOT Michael, Jenseits der Quanten, München, Ed.
Heye, 1990.
TENDAM Hans, Panorama sobre a reencarnação, uma
investigação recente e sua relação com TVP, São
Paulo, Ed. Summus Editorial, 1993.
THIEDE Werner, Die mit dem Tod spielen, Gutersloh, Ed.
Gutersloher Verlagshau: 1994.
THORWALD Dethlefsen, Das Erlebnis der Wiedergeburt,
Heilung durch Reinkarnation, Munique, 1978.
VENN J., Hypnosis and the reincarnation hypothesis: a
critical review and intensive case study, The Journal
of the American Society for psychical Research, n. 8,
1986.
VERNETTE Jean, réincarnation ressurrection;
communiquer avec au'dela, mulhouse, Ed. Salvator,
1989.
WIESENDANGER Harald, Zurück in frühere Leben,
Moglichkeiten der Reinkarnationstherapie, München,
Ed. Kõsel, 1991.
ZOLIK Edwin, An experimental investigation of the
psychodynamic implications of the hypnotic previous
existence fantasy, em: Journal of Clinical Psychology,
n. 14, 1985.

Parte 4: Enfoque filosófico

ARAIA Eduardo, Espiritismo, São Paulo, Ed. Ática, 1996.


AZEVEDO Regina, O carma nosso de cada dia, em:
Revista Planeta, n. 208, Janeiro, 1990.
BETTENCOURT Estêvão Tavares, Crenças, religiões &
seitas: quem são? Ed. O Mensageiro de Santo
Antônio, São Paulo, 1995.
ESTUDOS DA CNBB, n° 71, "A Igreja católica diante do
pluralismo religioso no Brasil III", São Paulo, Ed.
Paulus, 1994.
COSTA Valdeli Carvalho da Umbanda, São Paulo, Ed.
Loyola, 1983.
DELANNE Gabriel, O Espiritismo perante a ciência, Rio de
Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1993.
GRAMAGLIA Pier Angelo, Espiritismo, São Paulo, Ed.
Paulus, 1995.
HUMMEL Reinhard, Reinkarnation, Mainz, Ed. Grünewald,
1989.
KARDEC Allan, O que é o espiritismo, Rio de Janeiro,
Federação Espírita Brasileira, 1990.
MAC GREGOR Geddes, Reinkarnation und Karma im
Christentum, München, Ed. Knaur, 1990.
MAGNANI José Guilherme Cantor, Umbanda, São Paulo,
Ed. Ática, 1991
PARRA Constantino Quelle, La "New Age" Reencarnacion
o Ressurrection, em:' Biblia y Fé, n. 64, voI. XXII,
Madri, 1996.
QUEVEDO Oscar G., em: Revista de Parapsicologia, n. 21,
pp. 27-33, Sãq Paulo" Centro Latino-Americano de
Parapsicologia.
QUILES Ismael, Filosofia Budista, Buenos Aires, Ed.
TroqueI, 1968.
ROBILLARD Edmond, Reencarnação, São Paulo, Ed.
Paulinas, 1984.
SCHMIDT Walter/FLOETHER EckartJMATRISCIANA C.,
New Age, die Macht von morgen, Stuttgart, Ed.
Hãnssler, 1987.
SILVA Vagner Gonçalves da, Candombli e Umbanda, São
Paulo, Ed. Ática, 1994.
STEINER Rudolf, Theosophié, Einführung in übersinnliche
Welterkenntnis und Menschenbestimmu'ng, Dornach,
,Ed. Rudolf Steiner, 1962, (Leipzig 1914).
- Reinkarnation und Karma vom Standpunkt der
modernen Naturwissenchaft, Dornach, Ed. Rudolf
Steiner, 1921.
TERRIN Aldo Natale, Nova Era. A religiosidade do futuro,
São Paulo, Ed. Loyola, 1996.
VV.AA., A Nova Era em questão, São Paulo, Ed. Paulus,
1994.

Parte 5: Declarações do Magistério da Igreja sobre


Reencarnação

BISCHOFBERGER Norber, Werden wir wiederkommen?


Der Reinkarnationsgedanke im Westen und die Sic/1,t
der christl. Eschatologie, Mainz, Grünewald-Verlag,
1996.
DENZINGER, Enchiridion Bymbolorum, Friburgo-
Barcelona, Ed. Herder, 1955.
DEUTESCHE BISCHOFSKONFERENZ (org.), Katholischer
Erwachsenenkatechis mus, Bonn, 1985.
WALDENFELS Hans Auferstehung, Reinkarnation, Nichts?,
em: Hermann Kochanek, Reinka_nation oder
Ausferstehung, op. cito
MAC GREGOR Geddes, ReÍ11karnation und Karma im
Christentum, München, 1990. JOÃO PAULO lI,
"Constituição Apostólica Fidei Depositum", em:
Catecismo da Igreja Católica, São Paulo, Ed. Loyola,
1993.

Parte 6: O enfoque religioso a partir da Revelação

BÍBLIA SAGRADA, Petrópolis, Ed. Vozes, 1986, p. 811.


BÍBLIA DE JERUSALÉM, São Paulo, Ed. Paulinas, 1976.
BLANK Renold, J., Nossa Vida tem futuro, Escatologia I,
São Paulo, Ed. Paulus, 1991.
- Esperança que vence o temor, São Paulo, Ed.
Paulinas, 1995.
BRIEND Jacques, O livro de Jeremias, São Paulo, Ed.
Paulinas, 1987.
DODD C. H., A interpretação do quarto Evangelho, São
Paulo, Ed. Paulinas, 1977.
FEUILLET Robert, Introdução à Bíblia, Antigo Testamento
lI, São Paulo, Ed. Herder, 1967. "
FLORIT Josep Ribera, Tra,ducción deI Targum de
Jeremías, Estella (Navarra), Ed. Verbo Divino, 1992.
HAAG Ernst, em: VV.AA., Seele, Problembegriff
christlicher Antropologie, Friburgo Basel-Viena, Ed.
Hercler, 1986.
JEREMIAS J./STRATHMANN H., Nuovo Testamento, Le
lettere a Timoteio e a Tito.."
Brescia (Itália), Ed, paideia, 1973.
KEHL Medard, Eschatologie, Würzburg, Ed. Echter, 1986.
KOCH Kurt, Leben wir nt.tT einmal auf Erden?
Seelenwanderung und christlichel Glaube, Friburgo,
19@5.
LEON-DUFOUR Xavier, Leitura do Evangelho segundo
João I, São Paulo, Ed. Loyola, 1996.
LUEHRMANN Dieter, Der Brief an die Galater, Zürich,
Theologishcer Verlag, 1978.
MONASTERIO R. Aguirre, Pedra en la Iglesia primitiva,
Estelle (Navarra), Ed. Verbo Divino, 1991.
SAND Alexander, Das Evangelium nach Matttius,
Regensburger Neues Testament, Regensburg, Ed.
Pustet, 1986.
TIEDE Werner, Ressurreição dos mortos - esperança em
atrativos, Gõttingen, Ed. Vandenhoeck & Ruprecht,
1991.
VUILLEUMIER René, Commentaire de l'Ancien Testament
XIc, Neuchatel-Paris, Ed. Delachaux & Ni_stlé, (s.d.).

Parte 7: Declarações da Igreja sobre a vida depois da


morte

AQUINO Tomás de, Suma Teológica, SupI. q. LXIX, a. 2.


cito cf. Dictionnaire de Théologie Catholique, voI. 8,
Paris, 1925.
BENTO XII, Bula Benedictus Deus, 1336.
BERNARDO, São, sermo VIII, 12, P.Lt. CLXXXIIL cito cf.
Dictionnaire de Théologie Catholique, voI. VIII, p.
1807.
BOLLINI Claudio, Céu e inferno, São Paulo, Ed. Paulinas,
1996.
CATHOLICISME, ENCYCLOPÉDIE, Center Inderdisciplinaire
des Facultés, voI. 6, 1967; voI. 55. 1989.
CONCEPTOS FUNDAMENTALES DE LA TEOLOGIA, Ed.
Cristiandad, Madri, 1966.
DICCIONARIO DE CONCEPTOS, vol. 1 Barcelona, Ed.
Herder, 1989.
DICIONÁRIO DE TEOLOGIA, vol. 2, São Paulo, Ed. Loyola,
1970.
DICTIONNAIRE DE THEOLOGIE CATHOLIQUE, voI. 8,
Paris, 1925.
DICTIONNAIRE APOLOGÉTIQUE DE LA FOI CATHOLIQUE,
voI. Iv, Paris, 1928.
GRESHAKE GiLOHFINK G., Naherwaltung-Auferstehun,
Unsterblichkeit, 1982.
- Herders Theologisches Taschenlexikon, voI. 3,
Friburgo-Basel-Vieha, 1!:)72.
- Sacramentum Mundi, voI. 3, Friburgo-Basel-Viena,
Ed. Herder, 1969.
LAEPPLE Alfred, Der Glaube an das Jenseits,
Aschaffenburg, Ed. Patloch, 1978. Lanne Emmanuel,
L'enseignement de l'église catholique sur"le
pur;atoire, _m: Irénikon, voI. 6, 1972.
- Lexikon fuer Theologie und Kirche, voI. 5, Friburgo-
Basel-Viena, Ed. Herder, 1967.
RAHNER Karl, Grundkurs des Glaubens, Friburgo-Basel-
Viena, Ed. Herder, 1978. -, Zur Theologie des Todes,
1958.
- "Sagrada Congregação para a Doutrina da fé", Carta
sobre algumas questões referentes à Escatologia,
1979.
TAMEZ EIsa, Contra toda condenação, São Paulo, Ed.
Paulus, 1995.
VORGRIMLER Herbert, Hoffnung aufVollendung, Friburgo-
Basel-Viena, Ed. Herde 1980.
- Der Tod im Denken und Leben des Christen,'
Düsseldorf, Ed. Patmos, 197:
- Geschichte der Holle, München, Ed. Fink, 1993.
VV.AA: Die grossere Hoffnung des Christen,
Friburgo/Basel/Viena, Ed. Herder, 1990.
Notas

[←1]
Cf. Ulrich Mann: A morte no imaginário religioso das épocas e das
culturas, em: vv. AA.: Grenzerfahrung Tod, Frankfurt, Ed. Suhrkamp
1978, pp. 41-72.
[←2]
"Consciente ou inconscientemente, aceito ou reprimido, o tema da
morte domina a vida humana como um tema universal" Copo cit., p.
41). Sobre a interpretação do texto mencionado, recomenda-se o
estudo da referente literatura exegética.
[←3]
cr. Nils O. Jacobson: Vida sem morte, p. 254.
[←4]
cr. Kenneth Ring: Life at Death, Coward Me Cann 1980. - Kenneth Ring:
Den Tod erfahren - Das Leben Gewinnen, Münehen-Berna-Viena, Ed.
Seherz 1986. - Eersel Patriee van: Sterben, der Weg in ein neues Leben,
Münehen, Ed. Knaur 1991, pp. 30-31.
[←5]
cr. Klaus Thomas: Warum Angst vor dem Sterben? (Por que ter medo
ante o morrer?), Freiburg, Ed. Herder 1980, pp. 62-65.
- Peter Dinzelbaeher: An der Schwelle zum Jenseits (no limiar do além),
Friburgo, Ed. Herder 1989, p. 20.
- Roberl Kastenbaum: Haverá vida depois da morte?, pp. 27-28.
- Mauriee S. Rawlings, Eles viram o Inferno, São Paulo, Ed. Multiletra
1996.
[←6]
Cf. Peter Dinzelbacher: op. cit., p. 83.
[←7]
Cr. neste contexto a grande pesquisa de Karlis Osis: Deathbed
Observations by Physicians and Nurses, Nova Iorque, Parapsychology
Foundation 1961. Também: Osis K. Haraldsson E., Der Tod, ein neuer
Anfang. Visio{!en und,jEr fahrungen an der Schwelle des Seins, Friburgo
i. Br., 1978.
[←8]
Cf. Wolff, Curran: Natureza do delírio e estados alienados, em: Arch.
Neurol. Psychiatr., 1935, pp. 1175-1215. E. Thurmond: Últimos
pensamentos antes de afogar-se, em: Journal of Abnor mal Social
Psychologie nQ 38 (1943), pp. 165-184.
[←9]
Cf. Karlis Osis: Deathbed Observations by Physicians and Nurses, p. 107
[←10]
Cf. Robert Kastenbaum: Haverá vida depois da morte? Rio de Janeiro,
Ed. Nórdica 1989, pp. 37-40. Cf. também: Karl R. L. Jansen: Using
Ketamine to induce the Near - Death Experience, em: Internet: http://
www. lycaeum. org/drugs/synthetics/ketamine/k near-death. html (22
de setembro de 1996) Também em: Jahrbuch fuer Ethnomedizin, 1995,
pp. 55-79.
[←11]
Karlis Osis: Deathbed Observations, p. 106
[←12]
cr. Elisabeth Kübler-Ross, em: Raymond A. Moody: Vida depois da vida,
p.9. Cf. também os livros de Elisabeth Kübler-Ross, mencionados na
Bibiiografia. Um artigo interessante sobre essa autora se encontra em:
Il Giornale dei Misteri nQ 73, Florença, pp. 33-35.
[←13]
Cf. Juan B. Bergua: El libra de los muertos de los antigos egípcios,
Madri, Ed. Clásicos Bergua 1962.
[←14]
Cf. At 2,24; 2,32; 3,15; 4,10; 5,30; 10,40; 13,30; 13,34; 13,37; Rm 4,27;
7,4; 8,11; 10,9; CI 2,12; Ef 1,20; Gl 1,1; 1 Cor 6,14; 15,12.15.20; 2Cor
4,14; 1Tm 2,8; 1Pd 2,21.
[←15]
Cf. Renold J. Blank, Reencarnação ou Ressurreição, São Paulo,Ed. Paulus
1995, p. 89.
[←16]
Cf. Oscar G. Quevedo: Palabra de Iahweh, São Paulo, Ed. Loyola 1993,
p.281ss.
[←17]
Cf. também: Justiniano Scrinzi, Santo Antonio de Pádua e seu tempo,
São Paulo 1933, pp. 297-299.
Bento XIV, De servorum dei beatificatione, et beatorum canonizatione,
vol IV, Prati 1841,p. 246.
Brewer Ebenezer Zobham, A Dictionary of miracles, Filadélfia 1984, pp.
72-87.
[←18]
Cf. também Dn 12 2.
[←19]
Cf. Benjamin Bessa, Parapsicologia, o poder da mente e os mistérios da
Vida, São Paulo, Ed. Loyola 1993.
[←20]
Cf. Georg Scherer, em Tod-Hoffnung-Jenseits, p. 68.
[←21]
Cf. Georg Scherer, op. cit., p. 79.Cf. também; Gisbert Greshake, Seele in
der Geschichte der christlichenEschatologie, em; VV. AA., Seele,
Problembergriff christlicher Eschatologie, pp. 132138.20. Cf. Norbert
Bischofberger, Werden wir wiederkommen (Diss.), Mainz 1996,p. 124
[←22]
Cf.Renold J. Blank, Nossa vida tem futuro, São Paulo,Ed.Paulus1991Esse
estudo procura mostrar não só a teologia cristã, mas a tanatologia.
[←23]
Cf. Renold J. Blank, op. cito Reencarnação ou ressurreição, São Paulo,
Ed.Paulus 1995.
[←24]
Tanto Aevum como limbo são as construções filosóficas e teológicas do
passado para superar as contradições de um espaço sem tempo. Elas
não têm base e mostram-se contraditórias em si.
[←25]
Cf. Ernst Haag, Seele und Unsterblichkeit in biblischer Sicht, em: vv.
AA.,Seele, Problembegriff christlicher Eschatologie, Friburgo-Basel-
Viena, Ed. Herder1986, pp. 92-93.
[←26]
Mysterium Salutis, vaI. 3, p. 193.
[←27]
Cf. Norbert Greshake, Seew in der Geschichte der christlichen
Eschatologie,em: vv. M., Seele, Probwmbegriff christlicher
Eschatologie, p. 115
[←28]
Cf. Suma Teológica I, 75. 4" ed., 2.28.
[←29]
Cf. Georg Scherer, Das Leib-Seele Problem in seiner Releuanz fuer die
indiuiduelle Eschatologie, em: Ferdinand Dexinger, Tod-Hoffnung-
Jenseits, Viena-Friburgo-Basel, Ed. Herder 1983, p. 7029. Id., ibid., p. 78
[←30]
Cito em Id., ibid., p. 68.31.
[←31]
Cf. Gisbert, Greshake, Seele in der Geschichte der christlichen
Eschatologie, em: vv. AA., Seele, Problembegriff christlicher
Eschatologie, p. 135.
[←32]
Cf. Frank,J.Tipler, Die, Physikder, UnsterblichkeitMuenchen, 1994,
pp.167 e 293.
[←33]
Analogia entre o ser humano, como sistema dinâmico e indivisível, e o
computador. Nenhum componente do sistema pode ser separado dos
outros, sob pena de impossibilitar o funcionamento do todo.
[←34]
cr. Charles T. Tart: Was lebt weiter? Schlussfolgerungen aus der
modernen Bewusstseinsforschung, em: Gary Dore, Gibt es ein Leben
nach dem Tod? Muenchen 1994, pp. 125-130.
[←35]
São Paulo, Ed. Paulus 1995
[←36]
Cf. Medard Kehl, EschatolóJie, p. 275.
[←37]
Id., ibid
[←38]
cr. Gisbert Greshake, Die Leib-Seele Problematik und die Vollendung
der Welt, em: G. Greshake / G. Lohfink, Naherwartung-Auferstehung-
Unsterblichkeit, Friburgo-Basel-Viena, Ed. Herder 1986, p. 182.
[←39]
Id., ibid., p. 183.
[←40]
Id. ibid., p. 184.
[←41]
cr. José Comblin, Antropologia cristã, Petrópolis, Ed. Vozes 1985, p. 84.
[←42]
Cf., p. ex.: As explicações de Gastone de Boni: L'uorrw aUa conquista
deU'anima,Milão, 1975. (No que diz respeito à reencarnação, cf. de
maneira especial pp. 395 503.)
[←43]
Cf. id., ibid., p. 415.
[←44]
Cf. Oscar G. Quevedo, A face oculta da mente, São Paulo, Ed. Loyola
1979. Também: Oscar G. Quevedo, O poder da mente, São Paulo, Ed.
Loyola 1979.
[←45]
cr. Hans Tendam, Panorama sobre a reencarnação, p.121.
[←46]
Id., ibid., pp.121-122.
[←47]
Id. ibid. p.123.
[←48]
Id., ibid.
[←49]
Cf. Identificação dos mortos
[←50]
Id., ibid., p. 124
[←51]
Id., ibid, p. 125.
[←52]
Hans Tendam, op. cit., p. 126.
[←53]
São Paulo, Ed. Loyola 1971.
[←54]
Hans Tendam, op. cit., p. 130.
[←55]
Cf. Nils O. Jacobson, Vida sem morte? Rio de Janeiro, Ed. Nórdica, pp.
200-216.
[←56]
Cf. em termos de exemplo: Stevenson Ian, Cases of the Reincarnation
Type, Charlottesville, University Press of Virginia, voI. I: Ten Cases of
lndia (1975), vol. II: Ten Cases in Sri Lanka (1977), vol. III: Twelve Cases
in Lebanon and Turkey (1980), vol. IV: Twelve Cases in Thailand and
Burma (1983).
[←57]
Cf. Nils O. Jacobson, Vida sem morte? p. 219.
[←58]
Cf. Johannes Mischo, "Empirische Reinkarnationsforschung
aussoziologischer und parapsychologischer Sicht", em: Hermann
Kochanek,Reinkarnation oder Auferstehung, pp. 165-166.
[←59]
Cf. M. Bernstein: The Search for Bridey Murphy, Garden City, Nova
Iorque, con 1 O P. Br 1976, PP' 350s.F'burgo, 1. .Doubleday, 1956.-.
karnation, ri
[←60]
Cf. Dethlefsen Thorwald, Das Erlebnis der Wiedergeburt, Heilung durch.
Cf lan Stevenson, RemReinkarnation, Munique, 1978.
[←61]
Cf. Ian Stevenson, Reinkarnation, Friburgo, i. Br. 1976, pp. 350s.
[←62]
cf. Antoine Porot, Manuel alphabétique de psychiatrie, Paris, Presses
Universitaires de France, 1965, p. 232.
[←63]
Id. Ibid., p. 232
[←64]
cr. Hansjõrg Hem_inger, Reinkarnationstherapie - .kritisch betra_htet,
Hermimn Kochanek: Remkarnatzon oder Auferstehung, Fnburgo-Basel-
Vlena, I 23.1d. ibid., .. 232Ed H.nI_ 1992, ... 128-129.
[←65]
Cf. Harald Wiesendanger, Zurück in frühere Leben, p. 168.
[←66]
Cf. Edwin Zolik, An experimental investigatian af the psychodynamic
zmplicatians af the hypnatic previaus existence fantasy. em: Journal of
Clinical Psycholagy, n2 14 (1958), pp. 179-183.
[←67]
Cf. Harald Wiesendanger, Zurück in frühere Leben, pp. 134-135.
[←68]
Cf. Oscar G. Quevedo, A face oculta da mente, São Paulo, Ed. Loyola
1979,capo 9, pp. 98ss.
[←69]
Cf. CarI Gustav Jung, Der Mensch und seine Symbole, Olten-Friburgo
1968,p.37.
[←70]
Cf. Johannes Mischo, Methodenprobleme der empirischen
Reinkarnationsforschung, em: Hermann Kochanek (editor),
Reinkarnatiol), oder Auferstehung, Friburgo-Basel-Viena, Ed. Herder
1992, p. 136
[←71]
São Paulo, Ed. Loyola 1971.
[←72]
Cf. Mulhouse, Ed. SaIvator 1988.
[←73]
cr. J. Venn, "Hypnosis and the Reincarnation Hypothesis: A Critica!
Review and Intensive Case Study", The Journal of the American Society
for psychical Re8earch, n 80 (1986), pp. 409-425.
[←74]
Cf. Johannes Mischo, Methodenprobleme der empirischen
Reinkarnations therapie, em: Hermann Kochanek, Reinkarnation oder
Auferstehung, pp. 144-149.
[←75]
cr. Jean Vernette, Réincarnation Resurrection, Mulhouse, Ed. Salvator,
p. 42
[←76]
Ian Stevenson, Reinkarnation, Der Mensch im Wandel von Tod und
Wiedergeburt, 20 Faelle, Friburgo, Ed. Herder, 1986.
[←77]
Cr. p. ex: I. Stevenson, The evidence for survival from claimes memories
of former incarnations, JASPR 54 (1960), pp. 51-117
[←78]
cr. Oscar G. Quevedo, Antes que os demônios voltem, pp. 170-175.José
Lorenzatto, Parapsicologia e Religião, alguns aspectos da Mística à luz
da ciência, capo I a V, São Paulo, Ed. Loyola 1979.
[←79]
Cr. Nils O. Jacobson, Vida sem morte, p. 219.
[←80]
Id., ibid.
[←81]
Cf. Jean Vernette, Reincarnation - Resurrection, p. 43.
[←82]
Id. Ibid
[←83]
Id. Ibid
[←84]
Cf. S. OstranderlL. Schroeder, PSI, Die wissenschaftliche Erforschung
und praktische Nutzung übersinnlicher Krafte des Geistes und der Seele
im Ostblock, Bema-München-Viena, 1970, pp. 136ss. O fato é
mencionado também em: Wemet Thiede, Die mit dem Tod spielen,
Gutersloh 1994, p. 74
[←85]
Muitos exemplos e indicações bibliográficas sobre o fenômeno
encontram -se em: Oscar G. Quevedo, A face oculta da mente, pp. 98-
154. Cf. também: Benja min Bossa, Parapsicologia, o poder da mente e
os mistérios da vida, São Paulo, Ed. Loyola, pp. 54-58.
[←86]
Cf. Oscar G. Quevedo, op. cit., pp. 101-104.
[←87]
Às vezes se fala simplesmente de "telepatia assim como a captação
paranormal ou percepção extra-sensorial.
[←88]
Cf. Oscar G. Quevedo, A face oculta da mente, p. 125.
[←89]
Cf. A. Pavese, M. Würmli, Handbuch der Parapsychologie, p. 85.
[←90]
Id. ibid., p. 196.
[←91]
lsmael Quiles, Filosofia Budista, Buenos Aires, ed.Troquel,1968; cf.
Oscar G Quevedo, Revista de Parapsicologia n. 21, pp.27-33.
[←92]
O texto do capo 1.1 segue, com pequenas modificações, o texto
formulado pelo autor em outro livro sobre o assunto: cf.: Renold J.
Blank, Reencarnação ou Ressurreição, uma decisão de fé, São Paulo, Ed.
Paulinas 1995, pp. 27-29.
[←93]
Cf. Hans Tendam, op. cit., p. 140. E mesmo essas fracas indicações,
analisadas a partir de um ponto de vista crítico, mostram-se muito
subjetivas.
[←94]
Cf. id., ibid.
[←95]
Cf. Allan Kardec, O que é o espiritismo, Rio de Janeiro, Federação
Espírita Brasileira, 1990, p. 143.
[←96]
Cf. Id., ibid., p. 142.
[←97]
Cf. Regina Azevedo, O carma nosso de cada dia, em: revista Planeta, n°
208, Janeiro, 1990, p. 34.
[←98]
Cf. Renold J. Blank, Reencarnação ou Ressurreição, p. 30.
[←99]
Cf. Gabriel Delanne, O espiritismo perante a ciência, pp. 291-292.
[←100]
Cf. id., ibid., p. 296.
[←101]
Cf. id., ibid., p. 300.
[←102]
Cf. id., ibid., pp. 301-302.
[←103]
Cf. José Guilherme Cantor Magnani, Umbanda, São Paulo Ed . pp. 30-
31.' . Atica 1991.
[←104]
Cf. id., ibid., p. 30.
[←105]
Cf. Valdeli Carvalho da Costa, Umbanda, São Paulo, Ed. Loyola
[←106]
Cf. Vagner Gonçalves da Silva, Candomblé e Umbanda S_ 1983, p. 147.
Atica 1994. Sao Paulo, Ed.
[←107]
Estudos da CNBB n° 71, A Igreja Católica diante do pluralismo religioso
no Brasil IlI, p. 123.
[←108]
vv. AA., A Nova Era em questão, p. 73.
[←109]
Cf. Walter Schmidt, Eckart Flõther, C. Matrisciana, New Age, die Macht
von morgen, Stuttgart, Ed. Hãnssler 1987.
[←110]
vv. AA., A Nova Era em questão, p. 74
[←111]
Cf. Constantino Quelle Parra, La "New Age", Reencarnacion o
resurrecction, em: Biblia y Fe n2 64, Vol. XXII (Madri), Abril, 1996.
[←112]
Cf. Estêvão Tavares Bettencourt, Crenças, religiões, igrejas & seitas:
quem são?, p. 145.
[←113]
Cf. id., ibid., p. 145.
[←114]
Cf. p. ex.: Rudolf Steiner, Theosophie, Einführung
Menschenbestimmung, Dornach, Ed. Rudolf Steiner 1962 (Leipzig,
1914). Rudolf Steiner, Reinkarnation und karma vom Standpunkt der
mOdernen Naturwissenschaft, Dornach, Ed. Rudolf Steiner 1921.
[←115]
Cf. Hermann Kochanek, Reinkarnation oder Auferstehung, p. 102.
[←116]
Cf. Edmond Robillard, Reencarnação, São Paulo, Ed. Paulinas 1984, p.
47.
[←117]
Cf. Reinhard Hummel, Reinkarnation, Mainz, Ed. Grünewald 1989, p. 58
[←118]
Cf. Edmond Robillard, op. cit., p. 52.
[←119]
Id., ibid., p. 37.
[←120]
Id., ibid., p. 43.
[←121]
cr. Geddes Mac Gregor Reinkarnation und karma im Christentum, p.
186.
[←122]
Cf. Renold J. Blank, Reencarnação ou ressurreição, p. 111.
[←123]
cr. sobre este assunto o estudo muito interessante de Bischorfberger
Norberl: Werden wir wiederkommen? Der Reinkarnationsgedanke im
Westen una die Sicht der christl. Eschatologie, Grünewald-Verlag
1996.
[←124]
cr. Denzinger 403, 411.
[←125]
cr. Reinhard Hummel, Reinkarnation, p. 105.
[←126]
Cito conr.: Hans Waldenfels, Auferstehung, Reinkarnation, Ni_hts?, em:
Hermann Kochanek, Reinkarnation oder Auferstehung, p. 257.
[←127]
Cf. Geddes Mac Gregor, Reinkarnation und karma im Christentum,
München,1990, p. 76.
[←128]
Cf. Hans Wandenfels, op. cit., p. 258.
[←129]
Cf. Papa João Paulo II, Constituição Apostólica Fidei Depositum, em:
Catecismo da Igreja Católica, São Paulo, Ed. Loyola, p. 7.
[←130]
Op. cit., p. 258. Cf. Deutsche Bischofskonferenz (org.), Katholischer
Erwachsenenkatechimus, Bonn 1985, p. 409.
[←131]
Cf. Papa João Paulo 11, Constituição Apostólica Fidei Depositum, em:
Catecismo da Igreja Católica, São Paulo, Ed. Loyola 1993, p. 11.
[←132]
É importante frisar que o texto revela a possibilidade e não o fato da
condenação, caso alguém fique obstinado. Também não se menciona
nenhuma reencarnação, mas um destino único e eterno.
[←133]
Cf. Medard Kehl, Eschatologie, Würzburg, Ed. Echter 1986, p. 131.
[←134]
Cf. análise muito profunda de Ernst Haag, em: VV. AA., Seele,
Problembegriffchristlicher Antropologie, Friburgo-Basel-Viena, Ed.
Herder 1986, pp. 53-56.
[←135]
Comentário em: Bíblia Sagrada, Petrópolis, Ed. Vozes 1986, p. 811.
[←136]
Idem, p. 813.
[←137]
Cf. RolfSchmitz, Jenseitsvorstellungen im Judentum, em: Hermann
Kochanek (org.), Reinkarnation oder Auferstehung, p. 67.
[←138]
Id., ibid., p. 68.
[←139]
A ideia de que Deus faz viver os mortos encontra-se no Antigo
Testamento de maneira específica em: Dt 32,39; 18m 2,6; 4Rs 5,7; 8b
16,13; Tb 13,2.
[←140]
Cf. Robert Feuillet, Introdução à Bíblia, Antigo Testamento lI, São Paulo,
Ed. Herder 1967, p. 66. Cf. Também: Jaques Briend, O livro de Jeremias,
São Paulo, Ed. Paulinas 1987, pp. 56ss.
[←141]
Cf. Josep Ribeira Florit, Traducción del Targum de Jeremias, Estella
(Navarra), Ed. Verbo Divino 1992, p. 34.
[←142]
Cf. id., ibid., p. 186, anoto 11.
[←143]
cr. a interpretação e explicação do texto respectivo de Malaquias, neste
capítulo.
[←144]
cr. René Vuilleumier, em Commentaire de l'Ancien Thstament XIc,
Neuchatel Paris, Ed. Delachaux & Niestlé, sd, p. 253.
[←145]
cr. Alexander Sand, Das Evangelium nach Matthaus, Regensburger
Neues Testament, Regensburg, Ed. Pustet 1986, p. 241.
[←146]
Cf. Alexander Sand, op. cit., p. 357.
[←147]
Cf. Alexander Sand, Das Euangelium nach Mathiius, Regensburger
Neues Testament, p. 399.
[←148]
Id., ibid., p. 564-565.
[←149]
Chamamos a atenção para o fato de que não se fala do "Batista
reencarnado", mas "ressuscitado".
[←150]
Cf. Josef Ernst, Das Evangelium nach Markus, Regensburger Neues
Testament, Regensburg, Ed. Pustet, p. 179.
[←151]
Comp. Josef ErBt, Das Evangelium nach Markus, Regensburg(r Neues
Testament, pp. 262-3.
[←152]
Cf.: C. H. Dodd, A interpretação do quarto Evangelho, São Paulo,
Ed.Paulinas 1977, p. 388s.
[←153]
Cf. Xavier Léon-Dufour, op. cit., p. 139.ali acentuado.
[←154]
Cf. Bíblia de Jerusalém, anoto "r" do respectivo texto A tradução da
Biblia de Jerusalém utiliza frequentemente esta última versão.
[←155]
Cf. Xavier Léon-Dufour, op. cit., p. 222.
[←156]
Cf. id., ibid., p. 223.
[←157]
Cf. Dieter Lühnnann, Der Brief an die Galater, Zürich, Theologischer
Verlag, 1978, p. 95.
[←158]
Cf. id., ibid., p. 96. As concretizações de uma tal vida estão sendo
mencionadas nos versículos 6,1-6.
[←159]
Cf. J. Jeremias, H. Strathmann, Nuovo Testamento, Le lettere a Timoteo
e a Tito..., Brescia (Italia), Ed. Paideia 1973, p. 125.
[←160]
Cf. R. Aguirre Monasterio, Pedro en Ia Iglesia primitiva, Estelle (Navarra)
Ed. Verbo Divino 1991, p. 121.
[←161]
Id., ibid., p. 122
[←162]
Gõttingen, Ed. Vandenhoeck & Ruruprecht 1991.
[←163]
Id., ibid., p. 134.
[←164]
Id., ibid., p. 141.
[←165]
Cf. Kurt Koch, Leben wir nur einmal auf Erden? Seelenwanderung und _
,",;,tli"" Glaub,. "",ib_g. 1985. p. 54.
[←166]
Cf. a título de referência: Catolicismo, vol. 6, pp. 1182-1186. Conceptos
Fundamentais de la Teologia, vol. 1, pp. 509-511. Dicionário de
Teologia, vol. 2. pp. 4647. Diccionaire de Theologie Catholique, vol. 8,
pp. 1722-1810, especialmente pp. 1803-1810.
[←167]
Daqui em diante as referências às declarações da Igreja, feitas no
Denzinger, aparecem simplesmente sob a abreviatura "D" e o número
respectivo e deve distinguir-se do juízo universal por aplicar-se apenas
ao indivíduo.
[←168]
Bula Benedictus Deus, do Papa Bento XII, do ano de 1336.
[←169]
Idem, p. 1727.
[←170]
Cf. também aquilo que se diz sobre o assunto no capítulo 5 desta parte,
de maneira específica a atitude da "Carta sobre algumas questões
referentes à Escatologia", formulada em 1979 pela Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé, e a respectiva resposta de Herbert
Vorgrimler
[←171]
Idem, pp 318-319.
[←172]
Cf. a título de referência: Renold J. Blank, Nossa vida tem futuro.
Leonardo Boff, Vida para além da morte. Herbert Vorgrimler: Der Tod
im Denken und Leben des Christen. Herbert Vorgrimler, Hoffnung auf
Vollendung. VV.AA., Die grossere Hoffnung der Christen. Os autores
aqui mencionados apresentam por sua vez uma vasta bibliografia sobre
o tema.
[←173]
Cf. São Bernardo, sermo VIII, 12, P. L t. CLXXXIII. Cito cf. Dictionnaire d,
Théologie Catholique, voI. VIII, p. 1807
[←174]
Cr. Tomás de Aquino, Suma Teológica, SupI. q. LXIX, a. 2. Cito cf.
Dictionnain de Théologie Catholique, voI. VIII, p. 1807.
[←175]
Cf. a título de referência: Catholicisme, voI. 55, 1989, pp 304-314.
Concepts fondamentaux de la foi catholique, voI. 1, 1966, p. 512,
Dictionnaire apologétique de la foi catholique, voI. N, 1928, pp. 495-
526, Dicionário de Teologia, voI. 2, 1970, pp. 47-49. Emmanuel Lanne,
L'enseignement de l'église catholique sur le purgatoire, em: Irénikon,
voI. 6, 1972, pp. 197-201. Karl Rahner, Grundkurs des Glaubens, pp.
424-5.
[←176]
Cf. Herders Theologisches Taschenlexikon, op. cit., p. 200.
[←177]
Cf. Emmanuel Lanne, op. cit., p. 212; ambas as interpretações são
possíveis.
[←178]
Cf. Emmanuel Lanne, op. cit., pp. 213-5
[←179]
Cf. a título de referência: Conceptos Fundamentais de la Teologia, voI.
1, 1966, pp. 513-514. Dicionário de Teologia, voI. 2, 1970, pp. 50-51.
Herders Theologisches Taschenlexikon, voI. 3, 1972, pp. 305-308. Alfred
LaeppIe, Der Glaube an das Janseits, pp. 160-165. Herbert Vorgrirnler,
Geschichte der Holle, München, Ed. Fink 1993.
[←180]
Herders Theologisches Taschenlexikon, op. cit., p. 307.
[←181]
Josef Ratzinger, em: Lexikon fuer Theologie und Kirche, voI. 5, p. 448.
[←182]
Karl Rahner, em: Herders Theologisches Taschenlexikon, voI. 3, p. 306.
[←183]
Karl Rahner, Grundkurs des Glaubens, p. 426.
[←184]
cr. a título de referência: Catholicisme, vol. 6, 1967, pp. 1174-1181.
Concept, Fundamentais de la Teologia, vol. I, 1966, pp. 460-462.
Conceptos Fundamentais de la Teologia, vol. II, 1966, pp. 460-462.
Dicionário de Teologia, vol. 2, 1970, pp. 554. Dictionnaire de Theologie
Catholique, vol. 8, 1925, pp.1811-27. Herd Theologisches
Taschenlexikon, vol. 3, 1972, pp. 26-32. Sacramentum Mundi, vol. 1969,
pp. 220-3.
[←185]
Cf. Josef Loosen, Herder Theologisches Taschenlexikon, vol. 3, p. 30.
[←186]
Cf. Alfred Laepple, Der Glaube an das Janseits, pp. 130-4.
[←187]
Op. cit., 'vol. 8, p. 1814.
[←188]
Cf. a título de referência, os seguintes autores com as respectivas
bibliografias: Cf. Karl Rahner, Zur Theologie des 1bdes, 1958. Herberl
Vongrimler, HoffnunJ. auf Vollendung, 1980. G. Greskake, G. Lohfink,
Naherwartung-Aufertehung Unsterblickeit, 1982. VV. AA.: Die grossere
Hoffnung der Christen, 1990.
[←189]
Cf. Karl Rahner, Sacramentum mundi, vol. 3, p. 221.
[←190]
Id., ibid., p. 5.
[←191]
Cf. Herberl VorgrimIer, Hoffnung auf Vollendung, p. 158.

Potrebbero piacerti anche