Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre a obesidade, que acompanha, de forma velada, as queixas
de alguns analisandos. Para realizar esta reflexão, foi utilizada a teoria psicanalítica que destaca, para além do corpo orgânico, sua dimensão
pulsional.
2l Revista de Psicologia
a sucção rítmica de alguma parte da pele ou da mucosa. É fácil
A primeira dessas organizações sexuais pré-genitais é a adivinhar também em que ocasiões a criança teve as primeiras
oral, ou, se preferirmos, canibalesca. Nela, a atividade se- experiências desse prazer que agora se esforça por renovar. A
xual ainda não se separou da nutrição, nem tampouco se primeira e mais vital das atividades da criança - mamar no seio
diferenciaram correntes opostas em seu interior. O objeto materno (ou em seus substitutos) - há de tê-la familiarizado com
de uma atividade é também o da outra, e o alvo sexual esse prazer. Diríamos que os lábios da criança comportaram-se
consiste na incorporação do objeto - modelo do que mais como uma zona erógena, e a estimulação pelo fluxo cálido de leite
tarde irá desempenhar, sob a forma da identificação, um foi sem dúvida a origem da sensação prazerosa.
papel psíquico tão importante. Como resíduo dessa hipoté- A princípio, a satisfação da zona erógena deve ter-se asso-
tica fase de organização que nos foi imposta pela patologia ciado com a necessidade de alimento. A atividade sexual apóia-
podemos ver o chuchar, no qual a atividade sexual, desliga- -se primeiramente numa das funções que servem à preservação
da da atividade de alimentação, renunciou ao objeto alheio da vida, e só depois se torna independente delas. Quem já viu
em troca de um objeto situado no próprio corpo (FREUD, uma criança saciada recuar do peito e cair no sono, com as fa-
1905, p.204). ces coradas e um sorriso beatífico, há de dizer a si mesmo que
essa imagem persiste também como norma da expressão da sa-
Freud esclarece que o prazer está ligado à ingestão de ali- tisfação sexual em épocas posteriores da vida (FREUD, 1905).
mentos e à excitação da mucosa dos lábios. O objetivo sexual A necessidade de repetir a satisfação sexual dissocia-se então da
consiste na incorporação do objeto, ou seja, essa é a forma de necessidade de absorção de alimento - uma separação que se
o bebê relacionar-se com o mundo. Isso se apresenta como torna inevitável quando aparecem os dentes e o alimento já não
protótipo para identificações futuras, pois é a partir da significa- é exclusivamente ingerido por sucção, mas é também mastigado.
ção comer-ser/comido que se caracterizará a relação de amor De acordo com Freud, a criança não se serve de um objeto
com a mãe. Essa fase não se caracteriza somente por uma externo para sugar, mas prefere uma parte de sua própria pele,
determinada parte do corpo, e sim, por um modo de relação porque isso lhe é mais cômodo e a torna independente do mun-
de objeto: a incorporação. do externo, que ela ainda não consegue dominar; ainda porque,
O ato de sugar o seio que aparece no lactente, para Freud desse modo, ela se proporciona como que uma segunda zona
pode continuar até a maturidade ou persistir por toda a vida. Esse erógena, mas que de nível inferior. A inferioridade dessa segunda
ato consiste na repetição rítmica de um contato de sucção com a região a levará, mais tarde, a buscar em outra pessoa a parte cor-
boca (os lábios), do qual está excluído qualquer propósito de nu- respondente, os lábios. (Pena eu não poder beijar a mim mesmo,
trição. Uma parte dos próprios lábios, a língua ou qualquer outro dir-se-ia subjazer a isso.)
ponto da pele que esteja ao alcance - até mesmo o dedão do pé Como aponta Freud, nem todas as crianças praticam esse
- são tomados como objeto sobre o qual se exerce essa sucção. chuchar. É de se supor que cheguem fazê-lo aquelas em quem a
Freud afirma que na meninice, o sugar o seio é frequente- significação erógena da zona labial for constitucionalmente refor-
mente equiparado aos outros “maus costumes” sexuais da crian- çada. Persistindo essa significação, tais crianças, uma vez adultas,
ça. Parece-lhe que a concatenação de fenômenos que se pode serão ávidas apreciadoras do beijo, tenderão a beijos perversos
discernir através da investigação psicanalítica, autoriza a ver no su- ou, se forem homens, terão um poderoso motivo para beber e
gar uma manifestação sexual e a estudar justamente nele os traços fumar. Caso sobrevenha o recalcamento, porém, sentirão nojo
essenciais da atividade sexual infantil. da comida e produzirão vômitos histéricos. Por força da dupla
Segundo Freud, temos a obrigação de fazer um exame apro- finalidade da zona labial, o recalcamento se estende à pulsão de
fundado desse exemplo. Como traço mais destacado dessa prá- nutrição. Muitas das pacientes com distúrbios alimentares, globus
tica sexual, salientemos que a pulsão não está dirigida para outra hystericus, constrição na garganta e vômitos foram, na infância,
pessoa; satisfaz-se no próprio corpo, é autoerótica, para dizê-lo firmes adeptas do chuchar.
com a feliz denominação introduzida por Havelock Ellis (1910) de Assim, de acordo com Varela (2006), a partir da idéia de zona
acordo com Freud (1905). erógena, podemos diferenciar o corpo da medicina e o corpo da
Freud afirma que o ato da criança que suga é determinado psicanálise. O autor afirma que assim como o instinto está para
pela busca de um prazer já vivenciado e agora relembrado. No a necessidade, para o corpo biológico, a pulsão inaugura outro
caso mais simples, portanto, a satisfação é encontrada mediante corpo, ou seja, o corpo pulsional. Podemos pensar que o instinto
Revista de Psicologia l 3
está para a necessidade, que está para o corpo biológico; enquan- REFERENCIAS
to a pulsão está para o desejo, que está para o corpo erógeno. FREUD, Sigmund. (1916 [1915]). Os instintos e suas vicissitudes. In ___ A histó-
ria do movimento psicanalítico, artigo sobre a metapsicologia e outros
trabalhos. Rio de janeiro: Imago. 1914-1916. p.117-123. (Edição standard bra-
O desejo surge do afastamento entre a necessidade e a exi- sileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 14).
gência. Não é mais um objeto real que satisfaz, mas um obje-
to-fantasma... O corpo fantasmático é o corpo-representação, FREUD, Sigmund. Fragmento de um caso de histeria. In:___ Três ensaios so-
e não um corpo anatomofisiológico (VARELA, 2006, s.p.). bre a teoria da sexualidade e outros trabalhos. Rio de janeiro: Imago.
1901-1905. p. 170-224.( Edição standard brasileira das obras psicológicas com-
pletas de Sigmund Freud, 7).
Para Varela (2006), o obeso encontra no corpo uma forma
de expressar aquilo que não pode ou não consegue expressar VARELA, Ana Paula. Você tem fome de quê? V 26. Brasília/DF. 2006. Dispo-
pela via da fantasia, do sonho ou da linguagem. O obeso sente, nível em: <http://pepsic.bvs-sisi.org.br/scielo.php?scrip=sci_arttext&pid>. Aces-
sado em: 24/11/2008.
mas, não conseguindo significar a sensação como linguagem fala-
da, ele significa no corpo. Assim, para essa autora, o obeso sofre
NOTAS DE RODAPÉ
por uma falha no processo de simbolização. Essa falha impede um 1 Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva
deslocamento simbólico, que possibilitaria o recurso da fantasia.
2 Professora supervisora de estágio do curso de Psicologia do Centro Universitário
CONCLUSÃO Newton Paiva
4l Revista de Psicologia