Agravo Interno na Apelação nº 0134764-47.2002.8.19.0001 Relator Desembargador Nametala Jorge
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. CONSTRUÇÃO. QUEDA DE OBJETO. LESÃO CORPORAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. INCAPACIDADE TOTAL TEMPORÁRIA CONFIRMADA PELO LAUDO PERICIAL. SENTENÇA QUE NÃO RECONHECE A PRETENSÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL, CONDENANDO A RÉ AO PAGAMENTO DE R$ 15.000,00 A TÍTULO DE REPARAÇÃO PELOS DANOS MORAIS. INCONFORMISMO DE AMBAS AS PARTES. RECURSO DA RÉ A QUE SE NEGA SEGUIMENTO, DANDO PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DA AUTORA NA FORMA DO ART. 557 DO CPC. AGRAVO INTERNO. DESPROVIMENTO. 1) O ordenamento jurídico estabelece a responsabilidade civil objetiva do dono do edifício ou construção pelos danos provenientes de coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido (art. 937 do C.C.). 2) As lesão físicas sofridas pela vítima, por si só, configuram dano moral, a ser devidamente reparado. Caso em que a quantia de R$ 15.000,00 corresponde a justa indenização por esse dano. 3) Mesmo não tendo a autora provado o exercício de função laborativa, é devida a indenização pelo período de incapacidade total temporária com base no salário mínimo mensal. Precedentes deste tribunal. 4) Tratando-se de responsabilidade civil extracontratual, os juros devem incidir a partir do evento danoso sendo a taxa de 12% a.a. (súmula 54 do STJ). Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo na Apelação Cível nº 0134764-47.2002.8.19.000, em que é agravante SIG. EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. Acordam os Desembargadores da Décima Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, à unanimidade, em negar provimento ao recurso. Decidem desta forma, eis que o seu objetivo é a reforma da decisão que, a teor do art. 557 do CPC, negou seguimento ao seu recurso, pelos seguintes fundamentos:
Trata-se de ação de responsabilidade civil proposta por
FLÁVIA HOMSY DA SILVA em face de SIG. EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. Alega a autora que ao caminhar pela calçada da rua Djalma Ulrich, em frente ao n. 370, no bairro de Copacabana, foi atingida, no braço direito, por uma peça de aço que despencou do alto de um edifício. Por tal razão pede a condenação da ré ao pagamento de indenização pelos danos morais e materiais suportados. Contestação (fls. 62/71), onde a ré requer a denunciação da lide à empresa PALMO REVESTIMENTOS E REFORMAS LTDA. No mérito, nega a existência de danos morais e materiais a serem indenizados. Contestação pela denunciada (fls. 190/196), aduzindo que apenas trabalha com a execução de serviços de revestimento interno, não sendo responsável pelo fornecimento ou sequer movimentação dos andaimes utilizados na obra e que deram causa aos fatos narrados na inicial. Laudo Pericial a fls. 274/286. A sentença (fls. 304/307) assim conclui: “...considerando a ausência de responsabilidade da Empresa Palmo, tão somente condeno a Sig Empreendimentos Imobiliários Ltda a reparar os danos morais experimentados pela autora que arbitro em R$15.000,00 (quinze mil reais), incidindo a correção do dano moral ora fixado desde a data do arbitramento conforme Súmula 362 do C STJ (Resp 657.026, 743.075, 974.965 e 675.026 e reajuste da data da citação conforme tabela da E Corregedoria do TJERJ. De igual forma condeno a SIG Empreendimentos em custas e honorários com relação a parte autora e a parte denunciada de 10% do valor da condenação para cada qual.” Apelação pela autora (fls. 309/320), postulando a elevação do valor da reparação pelos danos morais causados, o pagamento de pensionamento integral pelo período de incapacidade total temporária e incidência de juros a partir do evento danoso sobre o total da condenação. Contrarrazões a fls. 347/370. Apelação da ré (fls. 321/342) SIG EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA., reeditando os termos de sua contestação, e alegando, ainda, a ocorrência de cerceamento de defesa. Contrarrazões a fls. 371/381.
É o relatório.
A responsabilidade em questão é objetiva, prevista nos
arts. 937 e 938 do Código Civil e, conforme a lição de Hely Lopes Meirelles citado por Sérgio Cavalieri Filho em sua obra Programa de Responsabilidade Civil (Ed. Atlas – 2007): “Essa responsabilidade independe de culpa do proprietário ou do construtor, uma vez que não se origina da ilicitude do ato de construir, mas, sim, da lesividade do fato da construção. É um caso típico de responsabilidade sem culpa, consagrado pela lei civil, como exceção defensiva da segurança, da saúde e do sossego dos vizinhos (art. 554)” (Hely Lopes Meirelles - Direito de construir, 5a ed., 1987; 8a ed., Malheiros Editores, 2000, p. 262-263) Também nesse sentido é a jurisprudência desta Corte: “CONDOMÍNIO DE EDIFÍCIO. ARREMESSO DE OBJETOS. LESÃO CORPORAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. Responsabilidade civil. Fato da coisa. Dano moral. Existência. 1. O ordenamento jurídico estabelece a responsabilidade do ocupante do prédio pelos danos provenientes de coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido (CC, 1916, art. 1.529; CC/2002, art. 938). 2. Trata-se de responsabilidade de natureza objetiva, que independe de culpa, e se configura com a presença do dano e o respectivo nexo de causalidade. 3. Neste contexto, afigura-se dever do condomínio indenizar a vítima que sofre lesões corporais decorrentes do arremesso de objetos no playground do edifício.” (AC nº 2006.001.40304, DES. MILTON FERNANDES DE SOUZA, Julg: 05/09/2006, QUINTA CÂMARA CÍVEL) (grifos nossos). Responsabilidade civil pelo fato da coisa – Letreiro de propaganda instalado na fachada de prédio – Queda sobre transeunte – Dever de indenizar do ocupante do prédio. A lei aponta o ocupante do prédio como responsável pelo dano proveniente de coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. Por se tratar de responsabilidade objetiva, descabe qualquer discussão em torno da culpa e seus efeitos, bastando a prova do fato e do dano dele decorrente. Reforma parcial da sentença. (TJRJ, Ap. cível 890/2001 (2a C., rel. Des. Sergio Cavalieri Filho) (grifos nossos). De mais a mais, as provas produzidas nos autos, em especial o laudo de fls. 274/286, bem como os documentos de fls. 17/29, demonstram, quantum satis, ser a ré a única responsável pela manutenção e movimentação do andaime que deu causa ao sinistro, não havendo razão para se imputar responsabilidade à denunciada, conforme bem decidiu a sentença. Se já existentes nos autos provas suficientes ao convencimento do julgador, despiciendas mostram- se aquelas que a recorrente deseja produzir; daí que não há falar em cerceamento de defesa. Quanto ao dano moral, este resta devidamente configurado no caso dos autos. Com efeito, as lesões sofridas pela vítima, por si só, caracterizam esse dano, que existe “in re ipsa”. Exatamente por isso sua existência não demanda dilação probatória, como ocorre na hipótese de dano material. Sua quantificação, como sabido, que fica à prudente discrição do magistrado; entretanto, na apuração do valor da reparação, devem ser consideradas as condições do ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado, levando-se ainda em conta critérios de proporcionalidade e razoabilidade. Não se pode olvidar, outrossim, do princípio de que o dano não pode ser fonte de lucro, tampouco o fato de que a reparação não tende a “restitutio in integrum”, senão a uma compensação pela dor e sofrimento da vítima, decorrentes do ato ilícito. No caso em exame, a sentença estabeleceu a reparação em obediência às diretrizes sobreditas, por isso, a quantia fixada corresponde à justa reparação por esse prejuízo extrapatrimonial da ofendida. Entretanto, no que se refere ao pedido de indenização pelos danos materiais causados, assiste razão à autora. O laudo pericial (fls. 279) afirma que em consequência das lesões, a autora ficou totalmente incapacitada pelo período de dez dias. Logo, mesmo não tendo sido provado o exercício de função laborativa, o período de incapacidade total temporária deve ser indenizado, tendo como base o salário mínimo. Neste sentido os seguintes julgados:
SUMÁRIO. REPARAÇÃO DE DANO. ATROPELAMENTO.
PROCEDÊNCIA PARCIAL. CONDENAÇÃO DA RÉ NO PAGAMENTO DE R$ 760,00 POR DANOS MORAIS. NÃO INCIDÊNCIA DE DANO MATERIAL, PORQUANTO O AUTOR, À ÉPOCA DO EVENTO, ENCONTRAVA-SE DESEMPREGADO. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. APELAÇÃO. PROVIMENTO. MAJORAÇÃO DO DANO MORAL QUE SE IMPÕE. NÃO FORAM OBSERVADOS OS PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ALUDIDA FIXAÇÃO. CONDENAÇÃO DA RÉ AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR 5 (CINCO) DIAS DE INCAPACIDADE TEMPORÁRIA, COM BASE NO LAUDO PERICIAL, TOMANDO-SE POR BASE O VALOR DE UM SALÁRIO MÍNIMO, INCIDINDO JUROS LEGAIS E CORREÇÃO MONETÁRIA A PARTIR DO EVENTO DANOSO. VERBA PELO DANO MORAL QUE DEVERÁ SER ACRESCIDA DE JUROS DE MORA, NOS TERMOS DA SÚMULA Nº 54, DO C. STJ., E CORREÇÃO MONETÁRIA DA FIXAÇÃO. ÔNUS SUCUMBENCIAIS PELA RÉ. PROVIMENTO DO RECURSO. REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA. DES. MAURO DICKSTEIN - Julgamento: 02/09/2008 - DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL (grifos nossos).
Processual Civil - Apelação - Ação Ordinária de
Indenização - Atropelamento de ciclista por ônibus após colisão com outro veículo automotor. Alegação de culpa exclusiva do condutor do outro veículo: a não comprovação de que haveria culpa exclusiva do condutor do veículo KOMBI envolvido no acidente, impede o afastamento da responsabilidade civil da empresa concessionária do serviço público. - Estado de necessidade exculpante agressivo: Ocorre estado de necessidade exculpante agressivo quando o condutor do ônibus objetivando tentar evitar a colisão com outro veículo, efetua desvio à direita vindo a atropelar a ciclista. Ato agressivo contra terceiro praticado para salvar de perigo atual que não provocou e nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício não era razoável exigir-se. – LESÃO CORPORAL: o terceiro que sofre lesão corporal em razão do ato praticado em estado de necessidade exculpante agressivo deve ser indenizado pelo seu ofensor. DANOS MORAIS E ESTÉTICOS CONFIGURADOS. - VALORES INDENIZATÓRIOS RAZOÁVEIS E PROPORCIONAIS - DANOS MATERIAIS: vítima que não exerce atividade laborativa que teve incapacidade total temporária por sete dias. - Pensionamento com base no salário mínimo mensal proporcional ao período de incapacidade total. - JUROS DE MORA: não existindo relação contratual entre a vítima e a empresa de ônibus, os juros de mora incidirão desde a data do fato. - CORREÇÃO MONETÁRIA: a atualização monetária dos valores das condenações deverá ser feita a partir da data sentença, de acordo com os índices compilados pela Corregedoria Geral de Justiça. Reforma parcial da sentença, para adequá-la ao verbete sumular nº. 54 do STJ, definir o termo inicial da correção monetária e adequar o pensionamento ao período de incapacidade física total. - PROVIMENTO PARCIAL DE AMBOS OS APELOS. ( Apelação Cível nº 2008.001.26341 – Jds. Des. Cláudio Dell Orto – Décima oitava Câmara Cível) (grifos nossos). Em relação aos juros, estes devem ser fixados em 12% ao ano, sendo computados a partir do evento danoso por tratar-se de responsabilidade extracontratual (súmula 54 do STJ). Releve-se, por fim, que cabe ao relator denegar seguimento a recurso manifestamente improcedente e dar provimento a recurso manifestamente procedente, com base no art. 557 do CPC, sem que isso importe ofensa a qualquer princípio constitucional, ou consagrado em lei. Esse o entendimento do STF, que considerou constitucional o citado dispositivo legal (1a. Turma, AI 360.424-MG-AgRg, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 26.2.02; 2a. Turma, AI 375.370-CE-AgRg., Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 23.3.02) e do STJ (2a. Turma, Ag. 142.320-DF, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ 30.6.97). Por esses fundamentos, na forma do art. 557 do CPC, nego seguimento ao recurso da ré; dou provimento parcial ao recurso da autora, para: 1) condenar a ré ao pagamento de indenização pelo período de incapacidade total temporária (dez dias) o valor equivalente a 1/3 do salário mínimo; 2) Fixar a taxa de juros no percentual de 12% ao ano, a contar do evento danoso. Fica mantida a condenação ao pagamento das custas e honorários advocatícios, conforme estabelecido pela sentença.
Como se vê, as decisões não estão a merecer
reparo e se mantém por seus próprios fundamentos, que passam a integrar ao presente, na forma regimental; tanto mais porque não sofreram qualquer abalo com as razões deste recurso, em descompasso, aliás, com a jurisprudência desta Corte e divorciadas da sólida fundamentação do decisum agravado. Ressalte-se que, por via do agravo interno, toda a matéria decidida monocraticamente pelo Relator, e suficiente para a solução da controvérsia, submete-se à cognição da Câmara; assim, eventual nulidade da decisão fica superada pelo julgamento do colegiado (STJ-1º, REsp 906.094, Rel. Min. Teori Zavascki, DJ 23.04.07). Ademais, repita-se, pode e deve o relator dar provimento a recurso manifestamente procedente, com base no art. 557,§1ºA do CPC, sem que isso importe ofensa a qualquer princípio constitucional, ou consagrado em lei. Esse o entendimento do STF, que considerou constitucional o citado dispositivo legal (1a. Turma, AI 360.424- MG-AgRg, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 26.2.02; 2a. Turma, AI 375.370-CE- AgRg., Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 23.3.02) e do STJ (2a. Turma, Ag. 142.320-DF, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ 30.6.97).
Rio de Janeiro, 05 de maio de 2010.
Desembargador Nametala Jorge
Relator
Certificado por DES. NAMETALA MACHADO JORGE
A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br. Data: 06/05/2010 17:38:15Local Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0134764-47.2002.8.19.0001 - Tot. Pag.: 7