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“Traduzir é presumir que há desde sempre e para sempre um equívoco; é comunicar pela
diferença, em vez de silenciar o Outro, ao presumir uma univocalidade originário e uma
redundância última – uma semelhança essencial – entre o que ele e nós ‘estávamos dizendo’”.
(p. 153)
“[...] o equívoco que surge como tentativa de solução para equivocidade intercultural; e ele é
equívoco porque assenta no ‘paradoxo criado ao se imaginar uma cultura para um povo que
não a imagina para si mesmo’”. (p. 154-155)
• “O modelo amazônico da Relação não poderia ser mais diferente disso. ‘Diferente’ é a
palavra certa, pois as ontologias amazônicas postulam a diferença entre eles (e aqui já
utilizamos o modo ameríndio para comparar e traduzir).” (p. 158)
• “Em suma, ‘primo-cunhado’ é o termo que cria uma relação onde antes não havia
nenhuma; ele é a forma pela qual o ‘desconhecido’ se dá a conhecer.” (p. 158)
“Aqui, traduzir é encontrar o que os discursos têm em comum, e que só está ‘dentro deles’
porque está (e já estava antes deles) ‘lá fora’; as diferenças entre os discursos não são mais
que o resíduo que impede uma ‘tradução perfeita’, isto é, uma superposição identitária
absoluta entre eles.” (p. 159)
• “[...] só pode haver relação entre o que difere, e porque difere. Nesse caso, a tradução
passa a ser uma operação de diferenciação – de produção da diferença que liga os dois
discursos na exata medida em que eles não estão dizendo a mesma coisa, em que eles
visam exterioridades discordantes, para além das homonímias equívocas entre eles.”
(p. 159)
“A identidade entre a ‘cerveja’ do jaguar e a ‘cerveja’ dos humanos só é posta para que melhor
se veja a diferença entre os jaguares e os humanos. [...] Traduzir, nesse caso, é presumir a
diferença. A diferença, por exemplo, entre os dois modos de tradução que lhes apresentei
aqui.” (p. 160)