Sei sulla pagina 1di 5

A pessoa por trás do diagnóstico

Marcos Alberto da Silva Pinto (marcos@encontroacp.psc.br)


*Texto escrito em 2003.

É improvável que alguém tenha condições de precisar há quanto tempo o


diagnóstico é utilizado como forma de ajuda no campo da psiquiatria e da
psicologia.
O primeiro "Manual de diagnóstico e estatísticas de distúrbios mentais", da
Associação Americana de Psiquiatria foi editado em 1952, sendo este, o primeiro
manual oficial de distúrbios mentais a conter um glossário de descrições de
categorias diagnósticas.
Este manual, hoje em sua quarta edição devidamente revisada e ampliada,
foi e é amplamente aceito pela maioria da comunidade que trabalha com saúde
mental no Brasil e no mundo, e segundo ele mesmo, tem a função de "realizar o
tratamento do paciente".
Na própria psicologia, existe uma vasta literatura a respeito do diagnóstico,
sua importância, suas formas, técnicas e métodos.
Todos eles, devidamente embasados e demonstrando a sua importância e
funcionalidade na relação de ajuda.
É importante verificarmos o sentido original da palavra diagnóstico (gnossis=
conhecimento; dia=através), ou seja, conhecer o outro através. Conhecer o outro
inteiro, por trás da fachada, em seus sentimentos e sentidos.Em minha opinião, o
que vemos hoje como diagnóstico é algo completamente oposto a esta concepção.
Gostaria de convidar o leitor, através deste texto, a refletir a respeito do
diagnóstico (este que temos hoje em dia). Tão pouco questionado em função de
uma quase unanimidade quanto a sua importância na relação de ajuda.
Em um de seus livros, Carl Rogers menciona o seu medo em escrever algo
que seja controverso, e que ao escrever, fazia isto como se fosse apenas para ele
ler, pois se escrevesse pensando que outros o leriam, provavelmente mediria as
suas palavras e não seria inteiro e autêntico em suas idéias.
É com este espírito que eu desejo me posicionar acerca do tema mesmo
tendo claro que esta é uma visão muito pessoal e diferente da grande maioria.
Quando eu era criança, me lembro que adorava bife de fígado, até o dia em
que descobri o que era um fígado. Perdi a fome, o desejo e o interesse no tal bife.
Ainda que me contem o quanto ele é necessário e faz bem a saúde, simplesmente
não o como.
já não me importa mais nem o seu gosto, se há grande quantidade de ferro,
etc. Assim funciona o rótulo.
Durante a minha vida profissional, tenho acompanhado em meu consultório,
pessoas que chegam já devidamente diagnosticadas tanto por colegas quanto por
outros profissionais de saúde.
Muitos chegam por sua própria conta buscando o seu diagnóstico.
Em minha opinião, o diagnóstico tem nos servido muito mais pra estigmatizar
e menos para ajudar.
Por meio do diagnóstico, o outro já não interessa, os seus sentimentos,
medos, necessidades. A pessoa que está por detrás do diagnóstico vira mero
coadjuvante.
Embora muitas vezes revestida com uma capa de necessidade, a minha
impressão é que o diagnóstico tem servido, na maioria das vezes, como
manutenção a um modelo confortável e arcaico para o profissional de ajuda, que
desta forma, abre mão do contato, do relacionamento e do vínculo, que a meu ver
é o que de fato importa na relação de ajuda.
Quando se diagnostica o outro, a meu ver, se está colocando o outro em
uma condição inferior. A pessoa passa a ser o segundo plano. O diagnóstico afasta
o profissional da pessoa.
Muitas vezes, em meu consultório, tenho encontrado pessoas previamente
diagnosticadas, e o que tenho visto é que esta situação tem colaborado para a
própria pessoa sentir-se inferiorizada e conformada com a situação, em muitas
vezes até se alimentando e trabalhando para a própria manutenção deste.
Frases do tipo: - Afinal eu sou mesmo depressivo; - O que se pode esperar
de um esquizofrênico como eu; a meu ver colaboram para que a pessoa perca a
crença na sua possibilidade de crescer e enfrentar a sua dificuldade em condições
de igualdade, buscando a sua libertação e qualidade de vida. Ao invés de cuidar, o
diagnóstico tem servido para que haja uma total descrença e pré-conceito com a
pessoa que sofre.
Há muitos anos, em uma visita a um hospital psiquiátrico, conversei com
uma senhora que me contava estar em sua oitava internação. Contou-me que
desta vez derrubara um prato de comida no chão e soltara um palavrão, o que fez
com que a sua família acreditasse ser o início de uma nova crise, o que resultou na
sua atual internação. Questionei esta senhora dizendo que eu já havia, por muitas
vezes, derrubado coisas e dito palavrões e que isto não fazia com que eu fosse
internado. A senhora olhou pra mim, com lágrima nos olhos dizendo que eu não
tinha o estigma de louco e por esta razão eu derrubar um prato e ficar irritado
tinha um significado para as pessoas, mas em relação a ela a mesma atitude tinha
outro significado.
Em outra ocasião uma cliente me disse que não agüentava mais passar pelas
tais crises de depressão. Eu disse a ela que se estivesse passando pela mesma
situação de vida que ela, provavelmente também estaria muito triste e sofrendo.
Ela ficou meio chocada e me disse que eu era a primeira pessoa que entendia o seu
sofrimento sem rotulá-lo. Depois disso sentiu necessidade de questionar a sua
própria "depressão" e concluiu que este era o nome que davam para o seu
sofrimento, e que ela merecia simplesmente se sentir triste ou alegre de acordo
com o andamento da sua vida. Decidiu que não seria mais apenas um rótulo que a
empurrava pra baixo. Resolveu buscar em si a sua capacidade de caminhar em
direção a vida.
Certa vez ainda, uma pessoa com o diagnóstico de "Esquizofrenia", me
procurou e toda vez que eu aceitava as suas atitudes e enxergava através do seu
rótulo o seu sofrimento ele me dizia que não tinha jeito pois era um
"esquizofrênico". Eu sempre mencionava que entendia que ele vivera a maior parte
de sua vida com este diagnóstico, mas eu me interessava mesmo por seu
sofrimento, independente do nome que lhe deram. Um dia ele chegou ao
consultório com aquela fisionomia de sempre, trazido por parente e ao fechar a
porta me disse que andava pensando no que conversávamos e que ele em função
do diagnóstico que recebera, nunca se dera ao trabalho de encarar as suas dores e
sua vida, e que a partir daquele momento queria olhar para si, para as suas
angústias, medos, sonhos... No início me disse que não se sentia confiante em
demonstrar pra todos que se percebera como um ser não mais inferior, pois tinha
medo da reação das pessoas que já estavam acostumadas com isto. Depois,
começou a pensar que do mesmo jeito que podia ser ele mesmo ali comigo,
gostaria de tentar ser assim com os outros. Para isto concluiu que deveria começar
a se posicionar. A família espantada. começou a questioná-lo e a me questionar,
pois ele começara a ser meio hostil e questionador. Começou a dizer não e isto
desagradara a família que havia se acostumado com uma pessoa dependente e
dócil. Na opinião da família, ele estava piorando, embora para ele este era o início
de sua liberdade. Para minha tristeza, depois de algum tempo, ele desistiu da
psicoterapia me dizendo que não tinha forças para lutar contra o rótulo que lhe fora
imposto de "esquizofrênico", e que de certo modo, a psicoterapia estava lhe
fazendo mal, pois se via uma pessoa "normal", mas que como apenas ele e eu o
víamos assim, ele não encontrava forças para enfrentar as pessoas que amava. Me
disse chorando que iria escolher ser o "esquizofrênico" conhecido e aceito de
sempre.
Este é apenas alguns de tantos exemplos dos males, que ao meu ver, os
diagnósticos produzem.
Talvez o maior problema para se abrir mão do diagnóstico, seja o de
acreditar na capacidade natural da pessoa em se auto dirigir.
Outra dificuldade é que abrir mão do diagnóstico, significa que o profissional
pode perder parte do seu "poder" e "superioridade" sobre o "paciente".
Provavelmente poucos profissionais de ajuda queiram se colocar numa
condição de igual perante o outro, pois isto acarretará numa perda de seu "status",
e provavelmente "em nome do bem", será mantido esta tradicional forma de
"ajuda" de opressor X oprimido.
É sabido por todos os profissionais que buscam a Abordagem Centrada na
Pessoa como sua referência, que desde o início, esta abordagem foi conseqüência
da percepção de Carl Rogers a respeito do mal, ou pelo menos da "ausência de
ajuda" que o diagnóstico pode causar.
O próprio Rogers nos conta em várias situações a sua experiência quando
trabalhava em um centro de orientação infantil em Rochester uma mãe que ele
entrevistava através de um questionário pronto visando o diagnóstico do filho ao se
despedir comentou algo como: - Que pena, achei que aqui poderíamos conversar a
respeito daquilo que me aflige.
Neste momento, ele percebeu que o enfoque estava sendo dado ao
questionário, as regras, ao diagnóstico e não a pessoa que era a parte realmente
importante em todo o processo.
Este foi o primeiro passo de Rogers em direção a não diretividade e ao que
hoje conhecemos como Abordagem Centrada na Pessoa.
Há aqueles que possuem como referência a ACP e defendem o diagnóstico
como forma do profissional poder se comunicar com outros profissionais que não
tem como referência a ACP. Desta forma, estamos nos enquadrando a um modelo
que coloca a pessoa em um segundo plano e estamos nos curvando a pressão e ao
padrão de outras referências. O mesmo respeito que devemos ter com colegas que
possuem outras referências, devemos saber exigir ao nos posicionarmos contra o
diagnóstico da forma como este é realizado e mantido.
Não podemos esquecer que o importante, na relação de ajuda, é a pessoa.
Para mim, não agrada colaborar para que a pessoa do cliente seja ou se sinta
contaminado com rótulos, pois isto apenas colabora para que ele perca a crença em
si e em sua condição de buscar um movimento de libertação interna. Crescimento
está intimamente ligado a liberdade e o diagnóstico em nada colabora para isto. Me
interessa a pessoa que está por trás do diagnóstico. A pessoa que sofre, que tem
sentimentos e histórias. A mim, agrada olhar o outro em sua unicidade, respeitá-lo
em seus sentimentos e sentidos e deixá-lo caminhar em seu caminho apenas
facilitando condições favoráveis para que ele se desenvolva em sua direção própria.
Este talvez seja o momento de nós, que acreditamos em uma forma de ajuda
mais humana, nos unirmos em torno do não diagnóstico e buscarmos uma ajuda
cada vez mais livre de regras, nos libertando também para irmos em direção à
pessoa que sofre de uma forma verdadeiramente genuína.

Referências:
American Psychiatric Association (2000). Manual de diagnóstico e estatística
de distúrbios mentais (4a. Edição). São Paulo: Ed.Artmed
Moffatt, A.(1983). Psicoterapia do oprimido: Ideologia e técnica da psiquiatria
popular (4a. Edição). São Paulo: Cortez Ed.
Nowen, H.J.M.(2000). Crescer: Os três movimentos da vida espiritual. São
Paulo: Ed.Paulinas.
Pinto, M.A.S.(1999). Apostila do Curso de introdução a Abordagem Centrada
na Pessoa. São Paulo.
Rogers, C., Stevens, B.(1991). De pessoa para pessoa: O problema de ser
humano. São Paulo: Pioneira.
Rogers, C.(1983). Um jeito de ser. São Paulo: EPU.

Potrebbero piacerti anche