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RESUMO
Tendo como pano de fundo os estudos desenvolvidos pelo autor relativos às características da
configuração espacial e as relações de interdependência entre esta configuração e a dinâmica cotidiana dos
centros urbanos de Porto Alegre, apresenta-se aqui um pequeno excerto. Este propõe-se a, primeiramente,
conceituar "centro urbano" e, a seguir, proceder a aplicação de tal conceito à estrutura urbana da cidade
de Porto Alegre, lançando as bases para o estudo detalhado dos centros terciários de Porto Alegre.
A construção do conceito preliminar não terá a pretensão de estabelecê-lo de modo definitivo e
completo, pois será fundamentada em idéias diversas advindas de campos distintos da ciência urbanística e
procurará evitar o hermetismo descritivo próprio de definições intra-teóricas. Após a elaboração do conceito,
será preciso definir com mais precisão com que tipo de centro urbano deseja-se trabalhar, apontando
características físico-funcionais que delimitem o universo do estudo e possibilitem a identificação de tais
entidades na cidade de Porto Alegre e a realização dos estudos de caso.
ABSTRACT
This small paper is part of other comprehensive researches and studies developed by the author on
the characteristics of the space configuration and the interdependence relationships between this
configuration and the daily dynamics of the urban centers of Porto Alegre. It intends, firstly, to shape a
"urban center" concept and, then, to proceed the application of such concept to the urban structure of the city
of Porto Alegre, setting bases for the detailed study of the commercial cores of Porto Alegre.
The construction of this preliminary concept doesn´t have the pretension of establishing it on a
definitive and complete way, because it is based on several ideas came from different fields of the urban
science and tries to avoid the own descriptive hermetism of intra-theoretical definitions. After the
conceptualization, it is necessary to define more precisely the desired type of urban center, assigning
physical and functional characteristics that delimit the universe of study and make possible the identification
of such entities in the city of Porto Alegre, in order to accomplishes the case studies.
Desta maneira, o eixo espaço-temporal toma seu sentido e alcance concreto, que
vai do zero de realidade urbana à culminação do processo (urbanização). Desde o início,
na vizinhança do zero inicial, o urbano encontrava-se em germe, a caminho. Como o
instrumento, desde a lasca de pedra ou o bastão brandido, como a linguagem e os
conceitos desde o primeiro lugar demarcado. A centralidade ad-vém desde o primeiro re-
colhimento e da primeira re-coleção de objetos dispersos na natureza, desde o primeiro
ajuntamento ou amontoado de frutos. Ela anunciava sua realização virtual. Desde o
princípio, reunir, amontoar, recolher é algo de essencial na prática social; é um aspecto
racional da produção que não coincide com a atividade produtiva, mas dela não se
dissocia. (Lefebvre, 1999)
Pois o termo concentração, ao expressar uma imagem essencialmente dinâmica relativa
do processo permanente de reunião coletiva que caracteriza as cidades, traz embutida a noção de
centro como sendo o "objeto" mais ou menos concreto que melhor o identifica. Cidades são
centros, na medida em que são fundamentalmente pontos de convergência, lugares onde
naturalmente se localizam e se buscam as coisas do homem.
Se, na escala global, as cidades são os núcleos de concentração distribuídos sobre
o território originalmente virgem e, na maior parte de sua extensão, livre, é lícito supor que tal
fenômeno reproduza-se na escala intra-urbana: existem centros também no interior das
cidades. A densidade da ocupação humana do espaço não é uniforme; pontos de convergência e
concentração sempre se farão presentes em quaisquer partes dessa ocupação,
independentemente da escala.
Para iniciar a aproximação à conceituação do fenômeno da concentração no âmbito do
espaço intra-urbano, é necessário cuidado na escolha da matriz conceitual a ser adotada.
Centralidade é um dos aspectos mais recorrentes dos estudos urbanos e os conceitos mais
comuns costumam ser vagos e ambíguos, indicando exatamente a variedade de origens
disciplinares e de pontos de vista. Abordagens históricas ou econômicas, por exemplo, costumam
cair na armadilha tautológica de conceituar lugares centrais exatamente como... lugares centrais!
A centralidade é vista como algo natural, um princípio inerente à geografia interna das cidades.
Neste sentido, um ponto de partida atraente para a conveniente conceituação de centro e
centralidade seria precisamente a geografia pois, além de ser uma ciência que lida com a
descrição do espaço, do ponto de vista epistemológico sua operacionalização parte da
montagem de sistemas abstratos no qual os elementos possuem apenas as propriedades
explicitamente atribuídas a eles e os objetos em estudo reduzem-se a suas características
fundamentais, bem como as relações entre este objetos. Essa sistemática de estudo mostra-
se bastante objetiva e, portanto, adequada quando da busca por precisão e clareza nas definições
relativas ao espaço, mas isso não quer dizer que ela restrinja-se à aridez de definições
geométricas ou matemáticas absolutas, como, por exemplo a que diz que centro é o ponto situado
a igual distância de todos os pontos de uma circunferência ou da superfície de uma esfera ou o
meio de uma linha reta, ou ainda, o ponto que divide uma figura ou espaço em duas partes iguais
(Ferreira, 1981). Tais definições podem levar à noção de centro como "o lugar mais próximo de
todos", o que é insuficiente. Como ciência que procura descrever a terra em seus diversos
aspectos, a geografia transcende tais limitações descritivas e avança no sentido da
diferenciação espacial como idéia-chave, desvinculando a noção de centro de sua mera posição
geométrica e preconizando que ela é apenas um dos fatores determinantes da centralidade, em
conjunto com a densidade ou a intensidade relativa com que tal localização é ocupada ou
utilizada.
...there is no geography without variation from place to place. Indeed, geography has
usually been defined as the study of areal differentiation.
...Não há geografia sem variação de lugar para lugar. Em realidade, a geografia tem sido
usualmente definida como o estudo da diferenciação de áreas. (Nystuen, 1968. Tradução
do autor)
Pois a geografia, ao lidar com a diferenciação entre áreas através de sistemas descritivos
abstratos, foi, portanto, uma espécie de "mãe" de algumas linhas da ciência urbanística,
especialmente aquelas que procuram abordar a questão urbana através de métodos quantitativos.
Ao apoiar seus fundamentos analíticos em conceitos como posição relativa, conexão e
distância ela apontou um interessante caminho que posteriormente seria largamente aceito nos
estudos da morfologia urbana. Os chamados "Estudos Configuracionais Urbanos", dentre os
quais é possível incluir a Sintaxe Espacial, baseiam-se em sistemas descritivos abstratos, entre
eles a Teoria dos Grafos, nos quais a mensuração das distâncias (no sentido topológico) entre
elementos componentes do arranjo espacial urbano é capaz de expressar determinadas
características deste arranjo. A posição relativa, o número de conexões e a distância entre os
elementos invariavelmente determinam uma hierarquia espacial, facilmente detectável
através do cálculo de um grafo (Kruger, 1989). Alguns cálculos topológicos indubitavelmente
revelam um tipo de hierarquia espacial, e costumam ser aceitos como medida de acessibilidade.
No entanto, apesar de importantíssima, a acessibilidade não é o único fator constituinte da
centralidade, mesmo em termos topológicos. Outras medidas sintáticas como a Integração (RRA)
são mais poderosas no que diz respeito à expressão da hierarquia interna dos arranjos urbanos,
pois atribuem aos espaços não apenas a sua simples propriedade de posicionar-se em local "mais
próximo de todos", mas seu potencial de interdependência (influenciando e sendo
influenciados) com os padrões de co-presença que ali se estabelecem. (Hillier e Hanson,
1984).
As medidas sintáticas, apesar do seu grande apelo, não foram desenvolvidas para auferir
centralidade. Sua idéia básica é constituir um sistema descritivo e analítico das configurações
urbanas a fim de explicitar os padrões espaciais e, a partir daí, investigar as interrelações destes
padrões com outros fenômenos observáveis, especialmente aqueles relativos à interação social.
Outras vertentes da linha configuracional encarregaram-se de avançar na tarefa de construção de
métodos e modelos destinados à mensuração de centralidade, através do endereçamento de
outros atributos aos elementos espaciais desagregados (tais como número de formas
construídas ou tipo de atividade que ali se estabelecem), articulando a questão da acessibilidade
com a quantidade e a qualidade da ocupação dos espaços. Esta articulação alcança grande
exatidão na descrição da estrutura de centralidade das cidades ao declarar sistemicamente as
relações entre usuários, atividades e localizações, constituindo-se em um instrumento valioso para
o planejamento urbano contemporâneo (Krafta, 1994).
Entretanto, modelos de centralidade deste tipo são, ainda, visões parciais da questão. Um
centro urbano pode ser delineado numericamente em função de sua localização, suas
quantidades e tipo de ocupação através de uma descrição numérica, mas tal descrição corre o
risco de não corresponder à realidade justamente por sua incapacidade de lidar com os fatores
subjetivos da dinâmica humana. Neste momento de construção de um conceito preliminar de
centro urbano com um enfoque preciso e ponderado, a aceitação apriorística do conceito
puramente configuracional de centralidade determinaria um desvirtuamento dos objetivos
do trabalho. É necessário prosseguir com o processo de elaboração de um conceito próprio que
contemple e articule outras visões do urbano.
Pois, se centro é uma porção do espaço com características locacionais, de uso e
ocupação excepcionais em relação às demais que com ela compõem uma estrutura urbana,
sua existência é um fenômeno quase universal na formação e organização das cidades. Mesmo
em pequenos povoados, essa diferenciação espacial básica que determina a existência de um
núcleo em contraponto ao restante do, por assim dizer, tecido "ordinário" verifica-se com maior ou
menor clareza. O conjunto formado pela praça, a igreja, o estabelecimento comercial mais antigo
e melhor suprido e suas adjacências, palco das festas e reuniões populares, familiar a quase
todas as pequenas cidades do interior de qualquer região do hemisfério ocidental, constituem o
que inevitavelmente será chamado de o centro, mesmo que, como exposto acima, não localize-se
na posição geometricamente central.
Estas caracterizações prematuras têm apenas a finalidade de mostrar até onde vai
a divergência entre concentração de certas funções no espaço e o papel central de uma
parte da cidade com relação ao conjunto da estrutura urbana. Da mesma maneira que
atualmente admite-se que o centro urbano não tem nada a ver com a centralidade
geográfica numa área urbana, e que esta posição central quando ela existe, é o resultado
de um processo funcional, deveria ser igualmente entendido que a concentração de certas
funções e sua eqüidistância aproximativa com relação ao aglomerado são apenas as
conseqüências de um processo específico: o da expansão urbana acelerada segundo as
leis do mercado. (Castells, 2000)
...as constantes encontradas para a descrição original de cidades podem ser encontradas
em todas elas. Não são apenas as profundas estruturas em comum, mas também uma
linguagem geométrica genérica de tamanho de linhas (os eixos viários) e ângulos de
incidência sobre a qual as parametrizações culturais são identificadas. É essa linguagem
geométrica que permite às constantes fundamentais e às parametrizações culturais
evoluírem lado-a-lado. No nível mais profundo compartilhado por todas as culturas - o que
é comum espacialmente a toda a humanidade - está essa linguagem geométrica.
(Hillier, 1996)
Como todas as cidades brasileiras, nascida na era colonial, nossa urbs, depois de
formado o núcleo central, desenvolveu-se através de estradas de penetração.
Desse modo, criou-se, de uma maneira inconsciente, um sistema radial de vias de
comunicação bastante perfeito, pois essas estradas transitadas por carretas que sempre
procuravam as linhas de menor declive sempre seguiram pelas gargantas.
...
Porém, a situação topográfica da cidade (a existência do espigão citado que a
divide em duas partes de ligação difícil) impediu a formação de ruas circunferenciais com
boas condições técnicas e portanto provocou a convergência do tráfego das radiais sobre
um centro relativamente pequeno, além disso colocado quase na ponta do promontório.
(Paiva e Faria, 1937)
Entretanto, para além da detecção das restrições ao crescimento da cidade impostas pelo
sítio natural, o que transparece de essencial deste último parágrafo é o vislumbre da necessidade
de iniciar um processo de dispersão das atividades terciárias, em função da excessiva
dependência do núcleo original. Visto que os bairros já se encontravam relativamente
consolidados, os autores afirmam:
ART 103
Parágrafo Único - Serão igualmente Corredores de Comércio e Serviços outras
vias, mesmo interiores às Unidades, quando for constatado pelo Sistema Municipal de
Planejamento e Coordenação do Desenvolvimento Urbano, a existência de atividades não
características, em proporções que justifiquem a medida, observado o exposto no artigo
226. (Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1979)