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RESUMO
O trabalho analisa o espaço do Conselho Tutelar (CT) a luz do conceito panóptico de Michel
Foucault. Parte do princípio de que o trabalho reflexivo do teórico possibilita análises
elucidativas a respeito deste espaço, traçando linhas sobre a existência do mesmo como
Política Pública para configurar ou reconfigurar a sociabilidade intrafamiliar de crianças,
adolescentes e pais. Utilizou-se a observação direta para a obtenção da análise. Situando o
Conselho Tutelar como um micropoder do Estado, estando circunscrito na vida das famílias
ditas “anormais”. Assim, o CT se reveste de prerrogativas constitucionais, ou de uma moral
instituída pelo Estado para agenciar vidas, corpos e indivíduos a luz da jurisdição do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA/90). Constatando, pois, como sendo um mecanismo
panóptico que está, com frequência, gerindo a vida dos indivíduos que, em sua grande
maioria, vivem em situação de vulnerabilidade social.
PALAVRAS-CHAVE: Conselho Tutelar; Olhar Panóptico; Criança; Adolescente; Família.
SUMMARY
The work analyzes the space of the Tutelary Council (CT) in light of the panoptic concept of
Michel Foucault. It starts from the principle that the reflective work of the theorist makes
possible explanatory analyzes about this space, drawing lines on the existence of the same as
Public Policy to configure or reconfigure the intrafamiliar sociability of children, adolescents
and parents. The direct observation was used to obtain the analysis. Placing the Tutelary
Council as a micropower of the State, being circumscribed in the life of the so-called
"abnormal" families. Thus, the TC has constitutional prerogatives, or a morality instituted by
the State to organize lives, bodies and individuals under the jurisdiction of the Statute of the
Child and Adolescent (ECA/90). Therefore, it is seen as a panoptic mechanism that is often
managing the lives of individuals who, for the most part, live in situations of social
vulnerability.
KEY WORDS: Guardianship Council; Panoptic Look; Kid; Adolescent; Family.
INTRODUÇÃO
um lugar social diferenciado (PINHEIRO, 2006, p. 36) nas instituições públicas do Estado, na
sociedade civil e na Família.
Dessa forma, essa instituição criada pelo Estado passa a estar presente no seio
intrafamiliar procurando remediar as feridas sociais advinda de uma sociabilidade tida como
sendo “anormal”. Por sociabilidade “anormal” entendemos como sendo práticas que colocam
em xeque a condição peculiar de desenvolvimento da criança e do adolescente, no caso
tratado aqui, pelos próprios pais.
Não procurando encontrar pistas conclusivas, mas sim, que possibilite, ainda
mais, a reflexão sobre esse espaço, o espaço tutelar, é que esse trabalho se mostra pertinente
tendo em vista os poucos trabalhos existentes. Além disso, no primeiro domingo de outubro
deste ano (2019), ocorrerá a primeira eleição unificada a função de conselheiro tutelar em
todo o país. Dito isso, anteriormente, as eleições se davam de maneira específicas em cada
município/cidade do país.
Assim, intervêm na vida dos sujeitos com o poder de vigilância, mesmo que não
estando próximo, presente fisicamente, mas a partir de um sentimento de vigilância espraiado.
Pode ser a própria mãe que denuncia o filho ou filha; pode ser um familiar que denuncia à
mãe e o filho, o vizinho, a professora, a agente comunitária de saúde que, uma vez mensal em
sua atividade profissional adentrou a casa e percebeu algo que estava em não conformidade
com os ditames instituídos socialmente. Por ditames instituídos socialmente, ressoa sobre as
regras sociais que são criadas a partir de uma moral coletiva que é configurada em um
conjunto de leis sociais. Leis sociais essas que irão reger como a vida dos indivíduos devem
se portar.
inaugura-se um novo lugar, que tem por finalidades múltiplas e ao mesmo tempo objetividade
em sanar a patologia da infância e da adolescência desregulada ou “anormal” no seio
intrafamiliar.
Ao perceber que determinado padrão social não está sendo colocado em prática e
o que se vê, portanto, é a transgressão do mesmo, qualquer sujeito está apto a levar
determinada situação aos olhos dos agentes sociais do CT.
Na relação entre conselheiro e delator, quer seja por telefone, e-mail ou presente
no ambiente tutelar, faz-se, na oportunidade, anotação do telefone do delatário, endereço e
situação familiar. Pergunta-se qual o grau de relação do sujeito-delator para com os sujeitos
que estão tendo suas vidas intrafamiliares narradas para os tutores sociais do Estado. Inscreve
e institucionaliza o indivíduo e sua vida. A vida social do delator , como se vê, também é
atravessada por questionamentos que são, a partir do olhar do Estado e da instituição órgão
tutelar, necessárias para realizar uma radiografia social do contexto e das tramas sociais que
por lá chegam.
considerado “anormal”, “desviante”, “desregulado” e que, portanto, deve ser trabalhado por
agentes sociais do Estado para transpor essa barreira daquilo que é “normal” e “anormal”.
Antes dessa concepção social que evoca ações de cunho protetivo, promoção e
vigilância, requerendo dos três entes (família, sociedade e Estado) ações que busquem
arranjar um lugar social compatível com as premissas sócio-cultural-psicológica desses
sujeitos, tudo o que é gerido e envolvia esses indivíduos não era passível de punição, ou
então, velavam-se as ações colocadas em prática pelos adultos para com os, à época,
“menores”.
O que se busca através do trabalho dos agentes sociais, afirma Heloíza Szymanky
(1992) em sua obra Trabalhando com as famílias, onde a família pensada, esta que está de
acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/90) deve ser colocado em prática a
todo custo em detrimento da família vivida, esta cheio de abusos, falhas e “anormalidades” no
convívio da solidariedade familiar.
vai dizer que a família pensada representa o controle do grupo social, pressionando a adoção
de um modelo padrão ideal.
Assim, quando se declara uma violação por parte dos próprios pais ou familiares
que tem a função de garantir uma sociabilidade saudável a criança e ao adolescente, entra em
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A teoria de proteção integral, que está subscrito no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/90), que foi
consagrada na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e da Organização das Nações Unidas
(1989) e na Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) parte da compreensão de que as normas que
cuidam de crianças e de adolescentes devem concebê-los como cidadãos plenos, porém sujeitos à proteção
prioritária nas Políticas Públicas do Estado, tendo em vista que são pessoas em desenvolvimento físico,
psicológico e moral.
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cena uma série de ações de tutela: retirada do sujeito do seio intrafamiliar violador; busca por
espaço de acolhimento que garanta os princípios razoáveis de uma sociabilidade saudável;
correção dos atos praticados pelos transgressores através de um aparato estatal, através de
órgãos instituídos como Centro Especializado da Assistência Social (CREAS), Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS), entre outros dispositivos que possuem, assim como o CT, seus
específicos estatutos de atuação e regulamentação das disfunções sociais.
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Para a garantia do desenvolvimento físico, psíquico e moral é necessário preservar o anonimato das crianças e
dos adolescentes envolvidos em algum conflito que transgrida seu desenvolvimento. O Art. 17 do Estatuto da
Criança e do Adolescente é taxativo: “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,
psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”. Em desacordo com essa prerrogativa
qualquer indivíduo, físico ou jurídico pode ser punido pela ação com pena de 4 a 8 anos. Sendo também,
proibido a veiculação, distribuição e venda de fotografias e vídeos de crianças e adolescentes em cenas de sexo
explícito entre outros tipos de exposição.
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Mesmo com essas dificuldades, a “fiscalização dos atos” acontecem, apesar que,
de maneira não ideal inscrito no regulamento. Esse olhar vigilante se apoia num sistema de
registro permanente, ou deveria se apoiar, dado as dificuldades já descritas. São relatórios
situacionais dos conselheiros tutelares, que depois são repassados para outros técnicos do
social como assistentes sociais, psicólogos e pedagogos. A partir daí os relatórios sobre a vida
dos indivíduos são repassados para dentro do espaço jurídico, ou seja, enviado para o
Ministério Público (MP) para que possa dar “parecer final” sobre o curso da vida dos sujeitos
envolvidos nas tramas familiares.
Ainda sobre os registros, é preciso dizer que neles irão conter o nome dos sujeitos
envolvidos, a idade, o sexo, a condição social na qual vivem, as relações de parentescos, os
hábitos diários, a escolaridade, a raça/cor, as relações objetivas de trabalho, lazer e até as
vontades e sonhos. Todo esse aporte descritivo estará presente em todos os espaços/órgãos
que estarão responsáveis por reconfigurar a solidariedade familiar. É uma espécie de registro
da patologia social familiar, onde cada órgão tem a finalidade de sanar essa doença. Contudo,
cada instituição/órgão possui sua específica função no desenvolvimento da reabilitação desse
“corpo social doente”.
mesmo, entre outros atributos5) na vida desses sujeitos, busca-se desfazer todas as
“confusões” ou “anormalidades” no seio intrafamiliar.
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Quem trabalhou esse termo foi Émile Durkheim, onde considera a sociedade como que um corpo biológico que
possui suas específicas funções formando um todo harmônico. Quando determinado órgão desse corpo-
sociedade não está em conformidade com as leis sociais, diz-se que o mesmo encontra-se em estado de anomia
social. É o que pode ser considerado com as famílias que não estão em desacordo com o regulamento (ECA/90),
que o transgride e coloca em xeque o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. E que por isso, e
partir disso, essas famílias devem ser integradas ao corpo social normal, ou para o espaço-campo da normalidade
social.
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Nesse sentido, pode-se, com relativa facilidade, perceber que mesmo sendo
diferentes esquemas de conceber o que é “normal” e “anormal” através dos dispositivos de
agenciamentos e configurações ou (re)configurações, não deixam de ser, todavia, compatíveis.
A busca pela preservação daquilo que é tido como sendo “normal” também disponibiliza um
grande esforço de instrumentos, táticas e técnicas de outro âmbito, com outras instituições,
mas não menos diferentes do que aqueles. Podemos citar como exemplo, instituições de
ensino, que visam mapear ações sintomáticas denominados de pedagógicas de um Estado
atentando as funções da sociedade; são instituições de lazer, que trabalham o corpo e a mente
conforme as prerrogativas que requerem mais ainda essa sintonia com o contexto
mercadológico; são programas governamentais de convivência que visam sempre projetar
recortes finos de disciplina no cotidiano das relações dos indivíduos.
À guisa de respostas, vejam, assim, que tudo isso está inscrito dentro do trânsito
do mecanismo de controle da vida dos indivíduos. Percebendo que há diferenciação do modo
de agir conforme aqueles que se encontram na zona da “anormalidade” e aqueles que são
tidos como sendo “normais”. Contudo, ambos estão à deriva de vários dispositivos de
controle, de agenciamento dos corpos, da identidade, da vida e da sociabilidade cotidiana
pelos organismos estatais, neste caso, representado pelo órgão/instituição Conselho Tutelar,
pelos agentes sociais, os conselheiros tutelares e suas ações tutelares na vida intrafamiliar.
BIBLIOGRAFIA