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CURSO DE
FUNDAMENTOS SOBRE A
PSICANÁLISE LACANIANA
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CURSO DE
FUNDAMENTOS SOBRE A
PSICANÁLISE LACANIANA
MÓDULO IV
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MÓDULO IV
9 COMPLEXO DE ÉDIPO
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Édipo aceita o desafio da Esfinge. Ele consegue resolver o problema,
então a Esfinge se lança ao penhasco. Em recompensa, Édipo recebe Jocasta,
a rainha viúva em matrimônio (sua mãe biológica), no qual tem dois filhos:
Polinice e Etéocles e duas filhas: Ismênia e Antígona.
Uma peste arrasa a cidade de Tebas como punição pela morte do rei
Laio. Édipo se vê obrigado a procurar o assassino do rei. Quando descobre
que é o assassino do próprio pai, e que sua mãe é sua esposa. Ele se cega e a
rainha (Jocasta) se suicida.
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Conforme Laplanche e Bertrand Pontalis (2008, p. 3), o complexo de
Édipo pode ser conceituado como:
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superego no que tange à moralidade. No entanto, o superego tem uma função
de repreensão, enquanto o ideal de ego aspira à realização de ideais.
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Ainda em totem e tabu, Freud (1974) fortalece sua tese sobre o
complexo de Édipo e introduz a discussão no campo antropológico. “O retorno
do totemismo na infância segue à discussão sobre a origem da exogamia e sua
relação com o totem”. (MOREIRA, 2004, p. 222).
A respeito do tema, Moreira (2004, p. 221) destaca:
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9.6 A CASTRAÇÃO E O COMPLEXO DE ÉDIPO
Não há dúvidas de que a lei, para ser respeitada, precisa ser temida.
Neste sentido, para a resolução do Édipo, é necessário o temor à
castração, segundo a concepção freudiana. Uma lei que não seja
temida – que não tenha potência de interdição e punição – é uma lei
fajuta. No entanto, o temor à lei, sendo necessário, é absolutamente
insuficiente para fundar a relação do ser humano com a lei.
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9.7 A CASTRAÇÃO COMO UMA OPERAÇÃO SIMBÓLICA
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9.8 O COMPLEXO DE ÉDIPO LACANIANO
FIGURA 29 - LACAN
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criança. Ela começa a perceber que a própria mãe está submetida
às leis impostas pelo pai. Dessa forma, ela deixa de competir com o
próprio pai.
c. Terceiro momento: há um declínio do complexo de Édipo, trazendo
consigo o fim da rivalidade fálica com o pai em torno da mãe. A
principal caraterística dessa fase reside na simbolização da lei.
Neste sentido, abre o leque de identificações. No caso do menino, há
uma renúncia do falo (significante). Logo, para obtê-lo passa a se identificar
com o pai. A sua identificação irá assumir uma posição ambivalente. “Esse
processo ocorre também nas meninas, sendo investidas as figuras de desejo e
de identificação”. (BOCK; TEXEIRA, 2001, p. 98).
Entretanto, é importante salientar que a identificação com o pai ou com
a mãe determinará o desfecho da situação edípica e, consequentemente, a
escolha do pai ou da mãe como objetos de desejo. O tipo de escolha do objeto
dependerá da opção identificatória efetiva no declínio do Édipo.
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Ao mesmo tempo em que a lei reprova, ela dá lugar ao desejo. Nesse
sentido, não há lei sem desejo. A partir daí, a conciliação e a mediação entre a
lei e o desejo definem o verdadeiro lugar do pai, definem também o verdadeiro
sentido da função de limite, que geralmente lhe é atribuída. Segundo o
entendimento lacaniano, a função do pai modifica-se para função simbólica. A
interpretação do complexo de Édipo não se dá por meio de uma referência
patriarcal, mas em função de um sistema familiar.
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somente nas fissuras, nas falhas, ou na cadeia infinita dos jogos de significante
e significado. Para ele, Freud não compreende a psique como sentido
subjetivo, como demonstra na sua teoria sobre os mecanismos psíquicos
universais, independentes da história e dos contextos culturais em que vive o
sujeito.
Rey (2000, p. 49) enfatiza que se trata de “um sujeito construído dentro
da perspectiva subjetiva”. Mas antes de conhecer este sujeito, vamos entender
a proposta de Fernando Rey (2000) sobre a subjetividade: “O desenvolvimento
da subjetividade não responde a uma simples preferência teórica, mas sim à
tentativa de reconceituar o fenômeno psíquico em uma ontologia própria,
específica do tipo de organização e processos que o caracterizam”. Rey
desconstrói o sentido dado pela abordagem psicanalítica sobre o sujeito
freudiano.
Dessa forma, ele propõe um sujeito construído por configurações
subjetivas que não conscientiza. Ao mesmo tempo está produzindo de forma
consciente um conjunto de projeções, reflexões e representações, com
capacidade de subjetivação, as quais são fontes de significados e sentidos
cujas consequências em termos do desenvolvimento de sua subjetividade
estão mais além de suas intenções e de sua consciência, mas que passam a
ser agentes importantes do desenvolvimento e da transformação produzidos
desde sua atividade consciente.
Elliot (1992, p. 238) menciona que:
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ele, a figura do pai simboliza um modelo social para o sujeito. Em relação à
interpretação de Elliot, Rey (2000, p. 51) menciona que:
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Neste sentido, Lacan apresenta a subjetividade somente por meio dos
processos de linguagem, desenvolvendo uma concepção ontológica do desejo
como falta, que não considera sua constituição como dimensão subjetiva,
ficando totalmente aprisionado na organização da linguagem. Como o próprio
Lacan assinala ao referir-se à ordem simbólica, esta não pode ser concebida
como constituída pelo homem senão como constituído a ele. (LACAN, 1996).
Esta proposta o coloca dentro de uma compreensão estruturalista da
linguagem.
Ibañez (1994, p. 68) discorda de Lacan no que se refere ao sujeito. Ele
descreve: “O sujeito é efeito, não causa da ordem simbólica preexistente para
os indivíduos: quando nascem têm já preparados, para cada um, o seu lugar,
no conjunto das relações sociais”. O sujeito não pode ser entendido dentro de
uma visão determinista, como mencionada por Ibañes. O sujeito vai se
constituindo a partir do meio e das relações sociais. Ele não nasce preparado
para isso. É infundável reduzir os comportamentos do sujeito na percepção do
“efeito”.
Rey (2000, p. 46-47) faz várias considerações sobre o aporte de Lacan
para o desenvolvimento da subjetividade. Vejamos:
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qual perde capacidade de circulação interdisciplinar, assim como
possibilidades de circulação intradisciplinar.
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se expressa por meio do simbólico, elemento do outro (traços da cultura, de
sua história, de ideologias) e do outro (traços do inconsciente, significantes),
que constituem sua subjetividade.
Segundo Rey (2000), o sujeito em sua processualidade reflexiva
intervém como momento constituinte de si mesmo e dos espaços sociais em
que atua, a partir dos quais pode afetar outros espaços sociais. O sujeito
representa um momento de subjetivação dentro dos espaços sociais em que
atua e, simultaneamente, é constituído dentro desses espaços na própria
processualidade que caracteriza sua ação dentro deles, a qual está sempre
comprometida direta ou indiretamente com inúmeros sistemas de relação.
A atuação do sujeito é vista como um processo. O sujeito tem a
capacidade de interagir com diversos sistemas sociais e, consequentemente,
suas ações podem interferir nas relações humanas e no meio. Rey (2000), ao
mencionar o sujeito como representante de um espaço social de subjetividade,
traz uma reflexão bastante peculiar – a entrada do sujeito na produção de
sentido.
É importante considerar que a produção de sentido e subjetivação em
espaços sociais pode preceder de uma formação simbólica, que Lacan destaca
em toda sua obra. Os elementos da linguagem se configuram como uma
dimensão simbólica, na qual as produções de sentido e as experiências do
sujeito têm um papel fundamental na construção das relações sociais.
Rey (2000, p. 229) destaca que:
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Orlandi (2000, p. 63) é uma adepta à obra de Lacan. Assim, ela escreve:
“O sujeito que não sofre os efeitos simbólicos não submete à língua e à
história, ou seja, ele não se constitui”. Todavia, para Orlandi, a submissão
simbólica do sujeito é condição necessária na produção de sentido e nas
relações da língua, história e de ideologia.
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11 NARCISISMO
FIGURA 30 - NARCISO
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Durante um passeio, Narciso encontra um riacho onde se abaixa para
beber água. Fascinado pelo reflexo, supõe ver outro ser, mas logo reconhece
sua própria face. Deslumbrado por si mesmo, coloca os braços na água para
abraçá-lo e beijá-lo. Aflito por esse desejo impossível se esquece de tudo e seu
corpo vai enfraquecendo, até morrer. Afrodite, sensibilizada pela sua situação,
transforma-o em uma flor.
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narcisismo e a castração, já que por se ver amável aos olhos do Outro, o
sujeito também pode se esquivar daquilo que lhe falta.
É essa a imagem que Freud nos dá do enamoramento: “O que ama
sacrifica, por assim dizer, um fragmento de seu narcisismo e só pode restituir
mediante a troca de ser amado”. (FREUD, 1980, p. 75). A referência ao texto
freudiano encontra-se ainda afinada com a análise lacaniana efetivada no
seminário 8: “A transferência que destaca a metáfora do amor existente na
transferência, pela qual a visão narcísica se impõe na situação analítica”.
(LACAN, 1992, p. 123).
O termo escolhido na teoria lacaniana para caracterizar a transferência
é a metáfora, que, por sua vez, indica a formação do inconsciente. Neste
sentido, o amor de que se trata na transferência é concebido a partir de uma
tentativa de realização da falta, em uma formação sintomática em relação à
castração.
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não se junta à ninfa Eco, fica impossibilitado de amar o outro. Ele cria um
mundo para si, pensa que não precisa do outro. O narcísico é único e todo
poderoso. O sujeito narcísico é considerado onipotente em pensamento e
palavras. Exalta a sua própria imagem, não deixa de investir parte da sua libido
no eu.
É importante destacar que um dos sintomas principais da perversão é o
“the best”, que corresponde “ao melhor”, “ao todo poderoso” caraterístico do
desenlace trágico de Narciso. O sujeito narcísico é aquele que dá amor de
forma irrestrita. Só deseja ser idolatrado e admirado. Cria na sua mente um
mundo idealizado que não corresponde ao mundo real. Não pode receber nada
que vem de fora, a não ser elogios.
Narciso é considerado um deus do amor próprio, interessado apenas
em satisfazer a sua vaidade. No drama, chega à destruição por causa do seu
excesso de vaidade e exibicionismo, e enfraquece até a morte. Não consegue
lidar com a frustração e com seus próprios sentimentos. Onde está o núcleo da
tragédia narcísica? Na patologia perversa.
A ausência de sentimento e a transcendência condena Narciso à
solidão e à destruição própria. Como vimos no módulo III sobre a estrutura
perversa, é notável que a tragédia se assemelhe a uma patologia grave, “o
sujeito narcísico” vive isolado em seu mundo, não consegue se relacionar
efetivamente com ninguém, não sente culpa e nem remorso. O sujeito narcísico
tem traços marcantes, como a ausência de sentimentos e valores sociais.
O sujeito que possui um grau elevado de exibicionismo e vaidade tem
uma probabilidade maior de ser “um narcísico”, mas isso não quer dizer que ele
tenha sintomas de perversão ou outro tipo de patologia. Para ser considerada
uma patologia o sujeito deve apresentar um conjunto de sintomas. Todos nós
em certo grau somos narcísicos, mas não em nível patológico.
A Psicanálise lacaniana acredita na possibilidade de cura da perversão.
O analista lacaniano vai trabalhar justamente o narcisismo do sujeito. Ele
procura fazer com que este não olhe só para si, mas para outras pessoas. A
sua satisfação também deve ser a satisfação do outro.
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11.4 CONCEITO DE NARCISISMO
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Investigações recentes chamaram nossa atenção para um estádio na
história evolutiva da libido, que se cruza com o caminho que vai do
autoerotismo ao amor objetal. Este estádio foi designado como
narcisismo. Consiste no momento do desenvolvimento do indivíduo
em que ele reúne suas pulsões sexuais de atividades autoerótica,
para ganhar um objeto de amor. Toma a si próprio e seu próprio
corpo antes de passar para a escolha de um objeto que seja outra
pessoa. (FREUD, 1911, p. 56).
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11.6 NARCISISMO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO
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reconhecimento a partir do outro. A criança, ao se reconhecer no espelho,
restringe-se a esta possibilidade, pois a imagem fica preservada em seu
interior.
No momento em que o reconhecimento no espelho acontece, o sujeito
se envolve com sua imagem, busca por si mesmo algo se perde. No entanto, o
que se perde é justamente a capacidade de completar-se como objeto. No mito
de Narciso, ele reconhece sua imagem refletida nas águas, se vê no imenso
espelho, mas se perde no seu egoísmo, na sua onipotência, se afasta do
mundo e não se completa enquanto sujeito.
Nas palavras de Lacan (1966, p. 113):
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12 UMA PERCEPÇÃO LACANIANA SOBRE AS VICISSITUDES DO AMOR
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ainda que seja recíproco, porque ignora que é apenas o desejo de Um o que
nos conduz ao impossível de estabelecer a relação dos (...) dois sexos”.
(LACAN, 1985, p. 14). Temos então, por um lado, a impotência do amor para
fazer Um, ou para fazer existir a relação sexual; por lado, temos “a suplência
do amor” à relação sexual que não existe. Nessa perspectiva, Lacan deixa
claro que o amor não tampona o furo constituinte do desejo, onde se aloja o
objeto “a”, causa de desejo, pois o objeto “a” nada mais é, a partir de então, do
que um semblante de ser. O objeto “a” parece apenas fornecer “o suposto do
ser”. (LACAN, 1985).
Para Lacan, o amor se dirige a um semblante, pois o semblante se
apresenta onde não existe a relação sexual. Ao tomar como referência o objeto
“a” como semblante, ele faz a distinção de semblante e ser. Essa percepção
implica em uma discussão relativa ao registo da antologia que se encontra
numa doutrina que define o objeto antes de uma experiência.
A antologia trabalha com um marco intuitivo e conceitual da
objetividade, das determinações gerais do ser. No entanto, Lacan enfatiza que
a linguagem é um campo mais rico de recursos do que simplesmente aquele
no qual se inscreve, no curso dos tempos, o discurso filosófico.
Lacan discorre sobre o objeto “a” como um semblante, depois
esclarece que a linguagem é sempre lateral ao seu efeito de significado. Nesta
visão, o amor visa o outro em seu ser, “isto é, aquilo que, na linguagem, mais
escapa – o ser que, por um pouco mais ia ser ou o ser que, justamente por ser,
fez surpresa”. (LACAN, 1985, p. 44).
Nesses termos, Caldas (2008, p. 12) nos fornece uma clara definição
para o semblante: o semblante é “até onde se pode ir com o jogo significante
em direção ao real e ao seu gozo”.
FIM DO MÓDULO IV
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