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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
FUNDAMENTO SOBRE A
PSICANÁLISE LACANIANA

Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE
FUNDAMENTOS SOBRE A
PSICANÁLISE LACANIANA

MÓDULO II

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para
este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou
distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do
conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências
Bibliográficas.

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MÓDULO II

2 JACQUES LACAN

2.1 BIOGRAFIA (1901 – 1981)

FIGURA 11 - LACAN

FONTE: Cultura Mix, 2012.

“A linguagem é a condição da existência do inconsciente


e que só dela existe no sujeito falante” (LACAN, 1998).

Jacques Lacan exerceu grande influência sobre a psicanálise francesa.


De família burguesa e católica, formou-se em Medicina e especializou-se em
Psiquiatria. Discípulo de Freud retomou temas complexos como: inconsciente,
transferência, princípio do prazer e pulsão.

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Lacan demonstrou definitivamente o seu interesse pela Psicanálise na
sua tese de doutorado (1932) “Da psicose paranoica em suas relações com a
personalidade”. Também apresentou uma nova visão aos conceitos
psicanalíticos por meio do estruturalismo e da linguística. Influenciado pelas
teorias de Saussure e Lévi-Strauss, concluiu que a linguagem é a condição da
existência do inconsciente e não como Freud a definiu. Ele também destacou a
importância do grande “Outro” na constituição do sujeito, inscrevendo-o no
campo simbólico e da linguagem.
Enquanto Freud utilizou conhecimentos da Física e da Biologia para
explicar as suas teorias, Lacan empregou a linguística para elucidar quase
todos os seus conceitos. Ele formulou a teoria dos matemas, dos nós
borromeanos e dos registros psíquicos: simbólico, imaginário e real.

A sua produção teórica dividiu-se em três momentos: no primeiro, vai


de 1936 a 1953, foi desenvolvido o registro imaginário, centrado na
teoria do estádio do espelho. No segundo momento, de 1953 a 1964,
Lacan desenvolveu o registro simbólico, quando formulou a tese do
inconsciente estruturado como linguagem. No terceiro momento, de
1964 a 1980, a ênfase se deu no registro do real e a inter-relação
desses três registros. (CESAROTTO; LEITE, 1993, p. 112).

Em 1938, Lacan foi nomeado titular da Associação Internacional de


Psicanálise. No entanto, em 1963, foi expulso. Um ano depois fundou a
Sociedade Francesa de Psicanálise, mas não obteve o mesmo reconhecimento
da primeira. Em 1964, criou a Escola Freudiana de Paris, na qual desenvolveu
maior parte da sua obra. O seu objetivo era a releitura das obras freudianas. O
novo grupo era composto por 134 membros associados.
Faleceu no dia 9 de setembro de 1981, deixando uma série de
seminários escritos por alunos e poucos discípulos à sua corrente, como:
“Escritos”, “Os complexos familiares” e “Televisão”.
Após a morte de Lacan, em 1981, o lacanismo fragmentou-se em uma
multiplicidade de tendências, grupos, correntes e escolas implantadas de
maneiras diversas em muitos países. (ROUDINESCO; PLON, 1998). De
acordo com Roudinesco e Plon (1998), o lacanismo não é uma simples
corrente, mas uma verdadeira escola. Constitui um sistema poderoso de
pensamento, a partir de um Lacan que modificou inteiramente a doutrina e a

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clínica freudiana, não só forjando novos conceitos, mas também inventando
uma técnica original de análise, da qual decorreu um tipo de formação didática
diferente do freudismo clássico.

2.2 AVANÇO OU CRÍTICA NAS CONCEPÇÕES FREUDIANAS?

FIGURA 12 – FREUD E LACAN

FONTE: Cultura Mix, 2012

Sem dúvida Lacan foi o psicanalista mais importante de sua época.


Suas teorias sobre a linguística ultrapassam o conhecimento da linguagem que
temos atualmente. Não é um autor simples, nem fácil, seus conhecimentos
demandam um pensando linear ao que está habituada a cultura europeia.
Muitos psicanalistas acreditam que ele não fez um retorno às obras
freudianas, mas uma crítica considerável. No entanto, outros teóricos confiam o
avanço nos conceitos de inconsciente, transferência, amor, impulso.
É importante distinguir as duas abordagens. O autor atribui a Freud
concepções que só foram possíveis a partir da linguística de Saussure. Em
suas releituras sobre a obra freudiana, Lacan reconhece as dificuldades de

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comparação. Em outro momento, (1974/1975) chega a dizer que “Freud não
dispunha de nada que pudesse corresponder ao seu objeto de investigação e
que este não estaria no mesmo nível de maturidade científica”.
Apesar de Lacan ser discípulo de Freud, é perceptível uma
contraposição ao caráter reducionista que a psicanálise vinha tomando. Nesse
sentido, parece válida a tentativa lacaniana de lançar uma reinterpretação da
teoria freudiana.

2.3 OS PRINCIPAIS SEMINÁRIOS DE LACAN

FIGURA 13

FONTE: Ponto Lacaniano, 2012.

No período de 1953 a 1980, Lacan realizou 28 seminários, de todos


somente 10 foram publicados oficialmente. São eles:

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 Seminário 1 (1953/1954): salienta que “(...) o eu é estruturado
como um sintoma. No interior do sujeito ele é apenas um
sintoma privilegiado. É o sintoma humano por excelência, é a
doença mental”.
 Seminário 2 (1954/1955): dedica-se a diferenciar os dois
pronomes, relacionando “je” a sujeito e inconsciente e “moi” ao
conjunto de certezas imaginárias que o indivíduo possui a
respeito de si mesmo.
 No Seminário 3, sobre as psicoses (1955/1956), afirma que “o
significante, como tal, não significa nada, define que a neurose e
a psicose são estruturas clínicas”. Ele destaca um ponto
importante para o seu trabalho com esta estrutura: a proposta de
secretário do alienado. Tal surge como uma inversão aos
valores ligados a esta expressão. Ainda em sua visão, como
uma forma de dar credibilidade à fala do alienado.
 No seminário 4, sobre o objeto “a” (1956/1957), fala da falta do
objeto, que é a causa do desejo, que por sua vez se origina nos
objetos substitutos e, no entanto, nunca satisfaz plenamente o
desejo.
 No seminário 5, sobre as formações do inconsciente (1998)
articula um novo conceito, o gozo, entendido como um
movimento do inconsciente que reside ao simbólico, situa-se no
real e está no centro da repetição.
 No seminário 6, sobre a temática do desejo e sua interpretação
(1958/1959), afirma que o registro real é feito de cortes; ele
retoma em seu ensino, o registro do simbólico: “para que o
homem fale é preciso que ele entre na linguagem, no discurso
preexistente”. Retoma a noção de desejo, advinda de Freud,
como uma cobiça, um tormento, que, enfim, perturba a
percepção do objeto. Destaca, também, sobre a primeira
experiência do desejo, e ratifica a ideia de que este é o desejo
do outro, mas que se situa primeiramente na fantasia.

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 No seminário 7 (1956/1960) desenvolve que a satisfação é
acendida pela pulsão. E que essa busca só existe porque há no
aparelho psíquico uma força que age no sentido oposto.
 No seminário 8, “A transferência” (1960/61), destaca a metáfora
do amor existente na transferência, pela qual o narcisismo se
impõe à situação analítica. O termo é usado para indicar a troca
constitutiva operante na formação do inconsciente.
 No seminário 9, “A identificação” (1961/62), apresenta a
vinculação entre o nome próprio e o traço unário, pontuando o
caráter distintivo como o elemento principal de um nome próprio,
pois nomear é de início algo que tem a ver com uma leitura do
traço, um designando a diferença absoluta. O que resta é algo
da ordem do traço unário, enquanto funciona como distintivo,
enquanto pode no momento desempenhar o papel de marca.
 No seminário 10 (1962/1963) Lacan afirma que: “o que seduz o
sujeito é o que está além da compreensão, o que o atrai é o que
não é passível de ter significado”.
 No seminário 11 (1964/1965), rompe com a ideia da
possibilidade combinatória e questiona a noção de recalque
proposto por Freud. O que significa que não é a história do
sujeito que responde por suas determinações, mas o que falta a
ele. Não importa o que o sujeito diz, mas o lugar de onde ele
enuncia. Ele defende que existe algo que está além do
semblante, que em breve palavras seria aquilo que o sujeito diz
e o que afirmam sobre ele.

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3 FUNDAMENTOS DA TEORIA LACANIANA

3.1 A TEORIA DOS MATEMAS

O termo matema foi criado por Jacques Lacan, em 1971, para


designar uma escrita algébrica capaz de expor cientificamente os
conceitos da psicanálise e que permite transmiti-los em termos
estruturais, como se tratasse da própria linguagem da psicose.
(ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 516).

Lacan (1972/1973) procurou dar status científico à psicanálise,


utilizando da matemática e da lógica. Ele propôs o termo “matemas”, que
significa “o que se ensina” tanto para os conceitos freudianos quanto para os
seus próprios conceitos. Inicialmente, estabeleceu algumas letras denominadas
de álgebra lacaniana: S1, S2, $, a. Depois as relacionou entre si e compôs
fórmulas como o da fantasia ($ ◊ a), do símbolo ( ∑), dos quatro discursos, etc.
Neste período utilizou o matema ($) para explicar o termo de spaltung
como sendo uma caraterística da subjetividade, na qual o sujeito está alienado
em si, por uma cisão irredutível, incurável, dividido. Ao invés de pronunciar a
expressão “o sujeito que decorre da cadeia de significante” é preferível usar a
álgebra lacaniana $.
A relação conhecida na psicanálise lacaniana (S1→S2) corresponde a
uma forma gráfica que tem como finalidade diminuir a cadeia de significante. O
matema s(A) equivale à expressão castração materna ou significante da falta
do Outro. Lacan privilegiou os modelos e símbolos gráficos, em que introduziu
uma álgebra, depois recorreu à topografia com a intenção de explicar o registro
psíquico.

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3.2 OS REGISTROS PSÍQUICOS: SIMBÓLICO, IMAGINÁRIO E REAL

Roudinesco e Plon (1998) sintetizam a identificação, na psicanálise


lacaniana, como um processo central pelo qual o sujeito é constituído e
transformado, em momentos diversos, por aspectos, traços, valores ou
atributos dos sujeitos que o cercam.
Lacan (1972) define as três categorias conceituais como: simbólico,
imaginário e real. O registro do simbólico é o lugar fundamental da linguagem.
É a relação do sujeito e o grande Outro. No sujeito envolve aspectos
conscientes e inconscientes. Isto significa que a maneira que o inconsciente se
manifesta se dá por meio da linguagem.
Em 1998 descreve a linguagem como o simbólico, já que é por meio
dela que o sistema de representações, baseado em significantes, determina o
sujeito à sua revelia. É por intermédio desse sistema simbólico que o sujeito
refere-se a si mesmo ao usar a linguagem. (ROUDINESCO; PLON, 1998).
O imaginário é um registro psíquico correspondente ao ego (eu) do
indivíduo. O indivíduo busca no outro (pessoas, amor, imagem, objeto) uma
sensação de completude, de unidade. No entanto, o Outro não existe para
desenvolver a imagem com que o ego (eu) quer ser sustentado.
“O real é o registro psíquico que não deve ser confundido com a noção
corrente de realidade. O real é o impossível, aquilo que não pode ser
simbolizado e que permanece impenetrável no sujeito”. (BRAGA, 1999, p. 2).
Em 1955 aborda que o real é o que se escapa à simbolização, pois na relação
do sujeito com o símbolo há a possibilidade de uma verwerfung primitiva, ou
seja, que alguma coisa é simbolizada e que vai manifestar no real.
A noção de real, a partir do nó borromeano, é mais bem entendida
considerando a ideia de algo que articula uma coisa com a outra, mas distintas.
O real escapa à materialização e, assim, também o desejo. Se o que
aprendemos no significante metafórico, na cadeia de significante, trata-se de
identificação que compõe um sujeito, não podemos falar que ali se manifestou
um desejo, pois, ora manifestado (ou realizado na simbolização), deixa de ser

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desejo e cede lugar a outras reformulações do objeto “’a”. Não há, pois,
esgotamento da cadeia de significantes, já que o desejo pelo real sempre
estará além da capacidade de representação do sistema simbólico.
Mas, afinal, o que é nó borromeano? É um nó no qual três aros
independentes se articulam e se sustentam entre si por uma amarração, com a
caraterística de que basta desfazer um nó para os outros dois se desfaçam. É
assim o nó borromeano do qual nos fala Lacan. Os três registros psíquicos
estão juntos de tal forma que não há formação de par.

FIGURA 14 – NÓ BORROMEU

FONTE: TAVARES, 2010.

Para Rabinovich (2005), a estrutura borromeana implica uma


equiparação das três ordens: real, simbólico e imaginário, sendo que cada uma
delas tem a mesma importância que as demais. Cada um dos anéis se
organiza de modo diferenciado do outro. Ao mesmo tempo, esse processo
permite que depois que essa organização se dê ela se autoanule, pois uma vez
que são intercambiáveis cada anel pode sempre ser o outro.
González Rey (2005) apresenta as seguintes caraterísticas do
simbólico, imaginário e real, conforme a sua teoria da subjetividade: o
imaginário define-se como o reino em que não existe divisão entre sujeito e
objeto. Significa dizer que nesta fase o sujeito não se diferencia do objeto de
seu desejo, uma unidade, pois faz com que essa separação não exista e,

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portanto, não consiga distinguir de sua imagem aquilo que é do outro. O si
mesmo, como produção imaginária, é fonte de fragmentação, distorção e
alienação. É nesta fase que a criança começa a estabelecer uma ilusão
narcísica, pela qual buscará nessa relação indissolúvel entre sujeito e objeto
perceber a falta e a incapacidade de integrar com ela mesma. Na medida em
que a criança se identifica com a sua imagem, experimenta a falta.
A linguagem é um elemento essencial na definição do simbólico. Lacan
(1998) coloca a configuração do psíquico e do inconsciente no nível do
simbólico. Para Lacan (1998), a linguagem representa a base sólida de seu
pensamento e por intermédio dela o sujeito poderá organizar o seu universo
psíquico, compreendendo assim, ao contrário de Freud, o inconsciente como
linguagem.
Na ordem real, o sujeito está totalmente incapacitado para seguir o
princípio da realidade, sendo um sujeito de ficção. Neste sentido, Lacan coloca
o real como algo fictício, sujeitado à linguagem, vinculado ao desejo. No real se
expressa e recicla de forma permanente um desejo que o sujeito nunca pode
gratificar.

3.2.1 Críticas aos Conceitos de Lacan

Segundo González Rey (2005), o imaginário aparece como uma


dimensão constitutiva da psique. É impossível reduzir o imaginário a outros
processos de natureza social, como a linguagem ou o discurso. Em relação à
tendência universal do pensamento de Lacan e seus discípulos, Elliot (1992)
expressa:
(...) ao imaginar que um modo particular de subjetividade, a saber, a
constituição de um vazio imutável entre si mesmo e outros, é
intrínseco à natureza do inconsciente imaginário. Contra essa posição
tenho argumentado que o estudo das formas ideológicas não é
analisar um imaginário “coberto” ou “envolto” de uma profunda falta
ontológica, senão que está mais bem relacionado com a exploração
das vias pelas quais as formas imaginárias engendram constituições
do si mesmo, que são autônomo-facilitadoras ou alienado-
repressivas. (ELLIOT, 1992, p. 199).

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A preocupação expressa por Elliot (1992) está relacionada à produção
do imaginário em situações sociais semelhantes. O que permite desconstruir os
processos de produção subjetiva associados ao imaginário. A desconstrução
do imaginário leva necessariamente à transcendência da origem universal
atribuída a Lacan à produção imaginária.

3.2.2 Os Diferentes Modos de Gozo Segundo Lacan

FIGURA 15

FONTE: Banco de imagens Cepolina, 2012.

Na concepção lacaniana o gozo abrange o prazer e o desprazer. Lacan


(1974/1975) aponta que estes termos estão em continuidade e expressa o
encontro de Éros e Tánatos.

O gozo não se deixa apreender totalmente, ele está sempre


extravasando. Não há limite para o gozo. Entretanto, ele não pode ser
reduzido ao sexo, pois se deixa aprisionar pelo significado fálico. O
que não quer dizer que seu campo não seja estruturado. (QUINET,
2000, p. 3).

Lacan (1974) coloca na interseção dos três registros, a saber: real,


simbólico e imaginário, os modos de gozo, tendo no centro o objeto “a”. Ele dá

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uma primeira escritura do nó borromeano, especificando os diferentes modos
de gozo. Na interseção do real com o simbólico, põe o gozo fálico como aquele
que está fora do imaginário, do corpo, porém não fora do simbólico. É o gozo
em sintonia com o significante.
Na interseção do real com o imaginário, Lacan situa o gozo do Outro, é
o que está fora do simbólico, porém não fora do corpo. Porém, ele nos adverte
em “A terceira” que quando mais gozo fálico está fora do corpo, mas o gozo do
corpo está fora do simbólico:

(...) esse gozo do Outro, é aí que mostra que quanto mais o gozo
fálico está fora do corpo, mais o gozo do Outro está fora da
linguagem, fora do simbólico, pois é a partir dali, a saber, a partir do
momento em que se agarra o que há de mais vivo ou de mais morto
na linguagem. (LACAN, 1974-1975, p. 4).

Dessa forma, não há possibilidade do gozo sem interseção. “A


transgressão é necessária para acender a este gozo”. (LACAN, 1958-1959, p.
217). Podemos chamar a instância de gozo da transgressão, ou seja, um gozo
que apareceu ligado ao excesso. Esse modo de gozo se dá como uma
tentativa de satisfação da pulsão.

3.2.3 O Gozo pelo Viés do Objeto “A”

No seminário 20, Lacan (1972) traz uma última reformulação sobre o


gozo, no qual conceitua como sendo uma instância negativa:

O gozo é aquilo que não serve para nada – mas que temos o direito
de usá-lo, abusá-lo, mas não muito. Aparentemente, nada parece
obrigar o sujeito a gozar, mas o gozo se manifesta, efetivamente, sob
forma de um imperativo, já que todo significante é, de saída,
imperativo, superegoico. Temos o imperativo do gozo: Goza!
(LACAN, 1972, p. 11).

Lacan (1972) fala de um gozo ligado ao um desejo, a uma


possibilidade de satisfação, esse gozo vem de uma esfera sexual e fálica. Para
além desse modo de gozo, Lacan enfatiza o gozo no corpo, do ser, um gozo no

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Outro. Se no primeiro momento apresenta um gozo sexual e fálico, no segundo
momento ele descreve o gozo no corpo. É importante destacar que, mesmo
enfatizando o aspecto simbólico da linguagem, Lacan (1975/1986) faz
referência ao corpo e aos aspectos linguísticos, afirmado que as palavras são
tiradas de todas as imagens corporais que cativam o sujeito. Dessa forma,
destaca os gestos e as expressões do corpo como uma linguagem corporal.
Assim, as articulações lacanianas possibilitam situar que o corpo, em
vertente simbólica, é marcado pelo significante, no qual o inconsciente se
escreve e pode ser decifrado. Como sugere Nasio (1993), o corpo pensado a
partir da linguagem é o “corpo falante”, e isso significa que o corpo que
interessa a psicanálise é tomado como um conjunto de elementos significantes.
Nasio (1993) apresenta o corpo em dois sentidos: por meio da fala e do
sexo. Ele aponta o gozo como o impulso de energia do inconsciente, que é
gerada pela ação, fala ou fantasia. O autor reflete sobre o caráter contraditório
de que se reverte a definição de gozo na teoria lacaniana, de que só existe
gozo no corpo.

3.2.4 O Desejo Lacaniano

FIGURA 16

FONTE: Banco de imagens Cepolina, 2012.

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O termo desejo indica, em alemão, begierde e, em inglês, desire, que
significa desejo de um desejo. (RODINESCO; PLON, 1998, p. 160). Lacan
conceituou a ideia de desejo a partir da tradição filosófica. O termo expressa
cobiça ou apetite, que tendem a se satisfazer no absoluto, isto é, fora de
qualquer realização de um anseio ou de uma propensão. (RODINESCO;
PLON, 1998, p. 160).
Segundo Valas (2001), o desejo é uma fonte de reconhecimento:

O desejo é reconhecido pelo desejo do Outro. É submetido às leis da


palavra – dom, reconhecimento, troca, pacto e aliança.
Reconhecendo as leis da palavra que legitima o seu desejo. O sujeito
pode obter a realização no encontro, o objeto escolhido. Em um
segundo momento, as definições do sujeito e de desejo se modificam.
(VALAS, 2001, p. 15-16).

O desejo do sujeito é dividido pelo significante e submetido à


linguagem. É por meio da linguagem que o desejo se manifesta. A partir das
representações, o sujeito percebe os significantes que o determinam. Segundo
Freud, quanto mais o sujeito avança no caminho da satisfação do desejo, mais
ele sofre com os efeitos da sua destruição subjetiva.
Neste sentido, o desejo é marcado pela linguagem. Lacan atribui o
desejo aos significantes, enquanto Freud atribui à sexualidade. Lacan não
consegue relacionar o desejo com ordem sexual, ele atribui um objeto que
deve estar de acordo com a estrutura que ele denominou metonímia. Este
objeto será definido como sendo o falo metonímico.

3.2.5 A Relação entre Desejo e Pulsão na Abordagem Lacaniana

O autor constrói o real como sendo a causa do desejo e essa noção é


embasada no método psicanalítico. O desejo depende de um objeto, pois o
desejo advém justamente dessa falta. O desejo é algo que coloca o sujeito
sempre em uma condição de insatisfação. “O desejo nasce da defasagem
entre a necessidade e a demanda” em que “a necessidade visa um objeto

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específico e satisfaz-se com ele. A demanda é formada e dirige-se a outrem”.
(LAPLANCHE; PONTALIS, 1992, p. 6).
Mas, afinal, qual é a relação entre desejo e pulsão? É importante
conhecer a triologia: necessidade, demanda e pulsão. Entende-se por
necessidade o elemento bruto da pulsão, que se impõe à experiência.
Demanda, por sua vez, é o que, da pulsão, consegue passar a fala, anulando,
convertendo nela o bruto da necessidade.
É impossível que toda necessidade se transforme em demanda, a
diferença entre as duas, o resto, é o desejo. O desejo é, portanto, a diferença
inevitável, impossível de se suprida, que faz sempre existir em significado a
mais. O problema desse trio é que ele não esgota o que há para se dizer sobre
pulsão.

3.2.6 O Estádio do Espelho

FIGURA 17

FONTE: Banco de imagens Cepolina, 2012.

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Segundo Lacan (1966), o estádio do espelho compreende:

(...) como uma identificação, no sentido pleno que a análise atribui a


esse termo, ou seja, a transformação produzida no sujeito quando ele
assume uma imagem – cuja predestinação para este efeito de fase é
suficientemente indicada pelo uso, na teoria, do termo imago.
(LACAN, 1996, p. 97).

O Estádio do Espelho refere-se ao período que se inicia aos seis


meses, aproximadamente, encerrando aos 18, caraterizado pela representação
da unidade corporal pela criança e também por sua identificação com a
imagem do Outro. (GARCIA-ROZA, 1999).
Garcia- Roza (1999) salienta que o estágio do espelho não se refere
necessariamente à experiência concreta da criança frente ao espelho. “O que a
criança vê é um tipo de relação com seu semelhante. Essa experiência pode se
dar tanto em face de um espelho, pela mãe ou pelo Outro, mas no nível do
imaginário”. (GARCIA-ROZA, 1999, p. 212-213).
Para Wallon (1975), o espelho é considerado um objeto privilegiado
para traduzir o aspecto exterior do corpo. As dificuldades pelas quais as
crianças têm que passar até poderem se apropriar de uma imagem total de si
são esclarecidas quando se observa uma criança na frente do espelho. Esse
reconhecimento da imagem é a possibilidade de reportar essa imagem a si
própria.
No texto “O papel do espelho da mãe e da família no desenvolvimento
da criança”, Winnicott (1975) refere-se ao rosto da mãe como o precursor do
espelho no desenvolvimento da criança. Quando a criança olha para o rosto da
mãe, o que ela vê é a si própria. O rosto da mãe funciona como espelho e
como lugar a partir do qual se iniciam as primeiras trocas significativas com o
mundo.
Quando a criança se questiona sobre a imagem que vê no espelho, ela
busca, no adulto, a referência de que aquela é a sua própria imagem. No
entendimento lacaniano, essa imagem do corpo, ou seja, a constituição de eu,
depende não apenas de um desenvolvimento maturacional, mas exige a
implicação do Outro.

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Assim, por questões de pré-maturação a criança faz confusão entre si
e o Outro. Passa por uma experiência inicial de um corpo fragmentado, para
alcançar a formação do corpo unificado. Esta experiência se dá por meio do
espelho. Ela liberta-se da angústia das fantasias do corpo despedaçado. Esta
identificação é entendida como processo simbólico na qual a criança faz a
primeira estruturação do eu, da sua imagem.
A imagem corporal tem um papel fundamental na constituição do
sujeito. Conforme visto em Lacan, a imagem especular possibilita à criança
estabelecer a relação do seu eu com a realidade.

3.2.7 As Fases da Primeira Infância

Winnicott (1975) distingue três grandes fases na primeira infância. A


fase de dependência absoluta corresponde aos cinco primeiros meses. Aí a
criança está em fusão com sua mãe e quanto mais esta compreende
exatamente as necessidades de seu filho, melhor este se desenvolve. A fase
de dependência relativa se estende ao sexto mês e ao fim do primeiro ano; ela
já está esboçada desde o quarto mês, de modo variável, de acordo com o
bebê. É ao longo deste período que a criança diferencia-se progressivamente
de sua mãe.
Ela não espera mais uma compreensão e uma satisfação mágica de
suas necessidades por parte da mãe. Torna-se capaz de estabelecer uma
relação objetal e, por este fato, cabe a ela dar um sinal para chamar sua mãe,
é, então, muito importante que esta compreenda a necessidade da criança de
se manifestar antes que ela satisfaça suas necessidades.
As carências de adaptação menores são, então, positivas, contanto
que sejam de curta duração, já que é esta experiência que vai levar
progressivamente a criança a se diferenciar de sua mãe, a qual deve ser capaz
de um abandono progressivo de sua adaptação; caso contrário, a criança não

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chega a dominar a situação pela qual está passando, continuando em um
estado de regressão permanente e de fusão com ela, ou a rejeita.
Neste caso, a diferenciação com o mundo exterior não pode se fazer;
em particular, o desenvolvimento mental e a elaboração do pensamento correm
o risco de ficar fortemente comprometidos. Na fase de dependência relativa, a
criança começa a ser consciente da dependência. Esta consciência desenvolve
no início uma compreensão intelectual, que vai do simples condicionamento à
compreensão da linguagem, passando por todos os níveis intermediários.
A terceira fase acontece no início do segundo ano, quando a criança
evolui pouco a pouco para a independência. Ela enfrenta progressivamente o
mundo e identifica-se com a sociedade. Paralelamente, desenvolve-se a
socialização e a aquisição do senso social.

3.2.8 Alienação e Separação

Lacan (1960), ao fazer uma releitura dos textos de Freud, dá enorme


importância à linguagem, tratando-a como o diferencial. Contudo, a aquisição
da linguagem passa por duas operações: alienação e separação. A aquisição
da linguagem consiste num duplo investimento, ou seja, é preciso que a
criança tenha sido desejada por Outro, que esse outro possa se oferecer ao
infans como transmissor da linguagem. Isso significa que geralmente os pais
sustentam esse lugar de nomeação do mundo à criança.
A alienação é a operação pela qual a criança está sujeita ao Outro; o
outro é o lugar da linguagem, da cadeia significante, é tudo que nos organiza
simbolicamente. Logo, a criança se liga ao outro, a mãe, para poder se fazer
representar por um significante. Esse salto apresenta um ganho de fazer parte
do mundo simbólico, poder ser representado por um significante. Já a perda diz
respeito à impossibilidade de uma relação direta com as coisas, com a vida
orgânica. Tudo passa, inevitavelmente, pela mediação da linguagem.
(OLIVEIRA, 2008).

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A operação de separação se caracteriza por um posicionamento do
sujeito em relação ao desejo do Outro. A criança percebe que não satisfaz o
desejo da mãe por completo, que algo falta, que a mãe deseja para além dela.
A partir da falta do outro, ela percebe-se também como faltosa. Está instaurada
aí a lei da castração. E é com a castração que cada sujeito percorrerá um
caminho particular no mundo simbólico. (OLIVEIRA, 2008).

3.2.9 O Enfraquecimento da Função Paterna

É possível percebermos o enfraquecimento da função paterna, seja


enquanto genitor (pai), ou mesmo como representante que estabelece à lei.
Lacan (1938) nomeia o enfraquecimento da função paterna como o declínio da
imago paterna.

Um grande número de efeitos psicológicos nos parece depender de


um declínio social da imago paterna, pode-se reconhecer a grande
neurose contemporânea. Nossa experiência nos leva a designar sua
determinação principal na personalidade do pai, sempre carente de
alguma forma, ausente, humilhada, dividida ou postiça. (LACAN,
1938, p. 60-61).

Na opinião de Santiago (1995), o pai tinha um parecer mais valorizado


do que hoje. Ele também exercia sua função como representante da lei. No
entanto, houve uma ruptura na forma de ajustamento do pai à sua função,
devido à ciência e aos padrões estabelecidos pela modernidade. Dessa forma,
rompendo os aspectos positivos do pai e vinculando-o à perda.
Viganó (1999) nos esclarece sobre as condições atuais referentes às
transformações familiares que dificultam a travessia dos adolescentes à vida
adulta. Antes, o ideal paterno podia ser pensado como o agente da separação,
que possibilitava ao jovem tornar-se responsável por si mesmo perante a
autoridade e ter a marca de adulto. Atualmente, os registros de atos de
violência e infração podem ser pensados como ritos de separação, na falta dos
ritos de iniciação.

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Jacques Akerman (1999), por meio dos atendimentos às crianças e
adolescentes nas instituições de saúde mental, observa que diante da
precariedade do pai existe um pedido para que algo da função paterna seja
restituído. Isso aponta para uma localização de demanda a partir da falta de
limites, propiciada pela ausência ou irresponsabilidade do pai. Na ausência do
pai da realidade, há o reconhecimento de que este vazio é ocupado pelo ato,
por intermédio do qual o sujeito se faz apresentar.
Nesta questão há o pedido para que o profissional da saúde mental
assuma uma posição que encare o pai, capaz de colocar limites aos filhos.

4 O SUJEITO DO INCONSCIENTE

“Não há um sujeito verdadeiro, senão aquele que fala em nome da


palavra. Não há outro sujeito senão em referência a esse Outro”. (LACAN, 1966,
p. 26). Pode-se notar uma distinção entre os conceitos de “linguagem” presente
na teoria lacaniana e os de “língua” na teoria saussuriana. A linguagem é
definida por Lacan como uma estrutura que preexiste a entrada de cada sujeito
no momento de seu desenvolvimento mental, enquanto para Saussure a língua
é constituída por um sistema de signo.
O signo linguístico é uma entidade psíquica de duas faces: significado
e significante, cujos elementos estão intimamente unidos e um reclama o outro.
(SAUSSURE, 2006). Lacan (1955) ressalta que há uma predominância do
significado sobre o significante. Ele atribui à linguística S/s, que corresponde a
significante sobre significado.
A concepção do autor sobre o inconsciente estruturado como
linguagem está articulada nas releituras freudianas e na crítica da noção
saussuriana da língua, enquanto sistemas de valores. Para Lacan (1955), o
significante se expressa por intermédio do desejo. O indivíduo com a aquisição
da linguagem entra em uma ordem simbólica, que organiza o desejo
inconsciente nas abordagens sistêmicas da estrutura.

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Para Saussure (2006), o significante contém um significado e para
Lacan (1998), a significação está entre significantes. A essa relação de
significantes opostos uns aos outros, Lacan chamou de cadeia de significantes.
A constituição do sujeito ocorre da relação com o outro, dos significantes e
suas cadeias, principalmente no campo da linguagem. A psicanálise lacaniana
afirma que o inconsciente sem a linguagem é um imenso vazio, portanto,
acredita que o inconsciente é estruturado como uma linguagem.

4.1 O “OUTRO” NA PERSPECTIVA DO INCONSCIENTE

Conforme Saussure (2006), a constituição do Outro parte da


perspectiva do inconsciente estruturado como linguagem. A língua compreende
um conjunto de signos. Essas bases possuem um significante e um significado
que se referem, respectivamente, à impressão psíquica da imagem acústica da
palavra e ao conceito do ser ou objeto representado pelo signo.

4.2 A RELAÇÃO TRANSFERENCIAL E O SUJEITO SUPOSTO SABER

Porge (1996) nos esclarece que “o sujeito suposto saber” é


interpretado por Lacan em vários sentidos, desde seu estabelecimento em
1964. O verbo saber pode ser entendido no sentido transitivo, que implica em
um sujeito ativo e em um complemento objetal. Assim, no primeiro sentido,
teríamos um suposto saber que poderá ser constituindo na análise. Sabemos
também que existe um nome para designar essa assimilação à cadeia: o
sujeito suposto saber. (LACAN, 1979).
O sujeito suposto saber se refere ao conceito de inconsciente, relido a
partir da submissão do sujeito à linguagem e tomado como fundamento da
relação transferencial. Desse modo, entendemos que o sujeito suposto saber

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pode ser interpretado numa abordagem que situa a suposição tanto do lado do
sujeito, quando do lado do psicanalista.
De acordo com Cottet (1998), a prévia da definição de transferência
pode ser encontrada no Seminário 8, a partir do sujeito suposto saber. A
definição de transferência é questionada por ser essencialmente ambígua.
Dessa forma, a transferência é percebida como interpretação e não como um
fenômeno que a categoria do real permite abordar.

4.3 O REGISTRO IMAGINÁRIO

FIGURA 18

FONTE: Banco de imagens Cepolina, 2012.

A fantasia é uma cena imaginária em que o indivíduo aparece disfarçado


sob diversas maneiras. Chama-se registro imaginário quando a fantasia e a
imagem nela contida se relacionam com a imagem de um semelhante.
Enquanto a função imaginária diz ao sujeito que o Outro é uma ilusão, a função

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simbólica subverte isso, denuncia que tanto esse sujeito quanto Outro estão
incluídos em leis universais que nos governam: o desenvolvimento
psicossexual, o complexo de Édipo. (KUSNETZOFF, 1982).

4.4 A FANTASIA

De maneira geral, Lacan retoma por sua conta o conceito freudiano


de fantasia, mas sublinha desde muito cedo sua função defensiva. No
seminário dos anos de 1956-1957, a fantasia é assimilada ao que ele
passa a denominar de “parada na imagem”, maneira de impedir o
surgimento de um episódio traumático. Imagem cristalizada, modo de
defesa contra a castração. (RODINESCO; PLON, 1998, p. 239).

Além da diversidade das fantasias de cada sujeito, Lacan (1956)


postula a existência de uma estrutura teórica geral, a fantasia fundamental,
cuja “travessia” pelo paciente assinala a eficácia da análise, materializada em
um remanejamento das defesas e em uma modificação de sua relação com o
gozo.
Segundo Puglia (1999), a única forma de fazer com que o sujeito se
desembarace do gozo presente na imagem, no significante e na fantasia, é dar
condições para que, em sua análise, ele ultrapasse o imaginário, deixando cair
as identificações idealizadas, e atravesse a fantasia que construiu. É
justamente na fantasia que incide o destino do investimento libidinal e o final
depende do desinvestimento libidinal da fantasia.

4.5 METONÍMIA E METÁFORA

Lacan (1998 apud Loures 2007, p. 10) classifica as relações entre


significantes na cadeia como: metonímia e metáfora. A metonímia corresponde
à relação construída entre significantes, que mantêm o mesmo significado,
sustentando aparente efeito de unidade no discurso. A metáfora diz respeito à
mudança de significado na cadeia: “Ela brota entre dois significantes, dos quais

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um substitui o Outro, assumindo seu lugar na cadeia significante”. Segundo
Lacan (1998), é o rompimento da linearidade discursiva pela metáfora que
produz efeitos de sentido. Aqueles significantes que aparentemente não
produziria significado na cadeia e representaria um lapso, uma falha, é o
causador dos sentidos.

5 O CONCEITO DE A POSTERIORI

O conceito de a posteriori ou posterioridade foi resgatado por Lacan.


Significa que nem tudo que é vivido pelo indivíduo se integra imediatamente
dentro de seu aparelho psíquico. É só depois que os acontecimentos vão
adquirir relevância ou significado, quando o aparelho psíquico estiver
totalmente amadurecido.
Kusnetzoff (1982) conceitua a posteriori como aparelho psíquico, cujo
rendimento e operacionalidade serão mostrados apenas quando ele tiver
completamente acabado. A problemática edípica triangular se constitui na
criança a partir de cinco a seis anos de idade, ou seja, o aparelho psíquico dela
se forma.

6 CONDENSAÇÃO E DESLOCAMENTO

O deslocamento consiste em transferir a energia de uma


representação muito carregada à outra. É um fenômeno fundamental
da substituição e também faz parte da estrutura de qualquer sintoma.
Uma caraterística importante é que o deslocamento não anula o
substituto e, sim, o integra numa cadeia associativa. (KUSNETZOFF,
1982, p. 168).

Freud se refere ao deslocamento como alusão e, portanto, este é o


principal efeito pelo qual um determinado conteúdo parece descentrado e
estranho. Segundo Cabral e Nick (2007), o deslocamento é um mecanismo de

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defesa, caraterizado por: a) transferências de emoções ou fantasias do objeto a
quem estavam originalmente associadas para o substituto, b) transferência da
libido de uma forma de expressão para outra. Já a condensação consiste no
processo de transferir um sentimento, emoção ou desejo de um grupo de ideias
para uma só ideia.
O segundo mecanismo é a condensação. Uma representação única
que está ligada a várias cadeias associativas produzidas pelo deslocamento. A
condensação é o resultado, enquanto o deslocamento é causa.

FIM DO MÓDULO II

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