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Mesmo que não se saiba nada do inglês, acho que aquela prosódia
tem uma certa beleza, mas eu só queria que vcs começassem a pensar, o que
faz aquela prosódia... enfatizar uma última vez que não existe uma boa
resposta. Não existem respostas consensuais... muitas teorias ... mas não dão.
Então a estrutura da minha argumentação vai até 4 parte, normalmente são 5,
mas vou tratar apenas de 4.
Eu vou começar propor uma definição de ritmo, uma resposta à
pergunta, o que é o ritmo, porque eu acho que todos os fenômenos de
prosódia, de forma poética, que podem se subsumir sobre o ritmo, então vou
falar do ritmo. No segundo lugar, vou tentar explicar duas funções, que todo
mundo sabe do ritmo, não só da poesia, que todo mundo conhece... todo
mundo sabe que o ritmo tem uma função mnemotécnica. Vocês sabem que é
mais fácil memorizar uma coisa se vc tem um ritmo, tem um poema para
memorizar... assim com as classes gramaticais. Em segundo todo mundo sabe
que o ritmo pode dar golpes. Na terceira parte, vou tentar atacar um problema
mais difícil, porque se fala também que prosódia tem uma função de conjurar.
Se vc tem um poema, vc muitas vezes tem a impressão que, o tema do poema,
por exemplo, aquele cara, o jovem bonito de que Shakespeare está falando,
está corporalmente presente. Estou sublinhando o corporalmente presente,
porque a gente tem aquela impressão.
Na última parte eu vou tratar de talvez falar do problema mais difícil,
já não falar da prosódia em termos gerais, mas se perguntar se diferentes
formas poéticas, balada, soneto, por exemplo, tem diferentes funções. Já vou
anunciar que não tenho a resposta, porque eu acho que lá existe uma
resistência sistemática, acho que realmente é uma questão quase impossível,
por razões que a Bethania, minha amiga/colega Bethania que é uma grande
linguista histórica, espero vc concordar... hoje às 6 horas pela manhã mandei
um e-mail, Bethania, vc estará na minha palestra... para discutir aquele
problema?
Então, eu basicamente vou falar 50 minutos, mas eu sempre falo
[...], então estou dependendo da hermenêutica de suas caras. Então como vcs
dão a impressão de que gostam da palestra, gostam mais se eu falar mais e se
muniram com maconha numa cara com expressão muito dura [...], muito chata,
então eu vou ter vergonha e vou saltar coisas... vai ficar mais breve. Em todo
caso, a responsabilidade sempre vai estar com vcs. Bom.
Primeira parte: uma proposta, uma definição do ritmo. A proposta é a
seguinte, um pouco complexa, vou explicar tudo. Sempre que a gente usa a
palavra ritmo, até sem saber, a gente se está referindo a uma solução prática
do problema como objeto temporal, no sentido próprio. Como objeto temporal
no sentido próprio pode ter uma forma. De novo? Cada vez que a gente usa a
palavra ritmo a gente se refere a soluções práticas do problema como objeto
temporal no sentido próprio pode ter uma forma. Isso ninguém compreende,
néh, mas vou explicar agora.
Então, o que é um objeto temporal no sentido próprio? Este é um
conceito inventado pelo filósofo alemão Edmund Husserl, que se refere a
qualquer fenômeno que precisa de tempo para se articular... assim a música é
um objeto temporal no sentido próprio, porque a música sem tempo não pode
se desenvolver. Qualquer forma de linguagem é um objeto temporal, néh, a
gente fala movimento, qualquer movimento. Objeto temporal no sentido próprio,
fica claro, neh. O problema é como o objeto temporal no sentido próprio
consegue ter uma forma? Agora que uma forma existe uma infinidade de
propostas da história da filosofia de definir a forma. Eu vou usar a seguinte, que
é de novo, de um filósofo alemão Nicolas Ulman e ele fala a forma/cada forma
é a simultaneidade da diferença entre auto referência e referência exterior. Que
quer dizer, imagine um círculo, quadrado ou qualquer forma. Esta forma
sempre aponta para si mesma, por isso a gente pode imediatamente dizer
certamente é um círculo ou o quadrado... quer dizer que estabelece-se uma
diferença entre si mesmo e todo o resto do mundo que está fora do contorno do
círculo, compreende.
Agora, o problema é o seguinte, se vcs tem o círculo ou o quadrado,
em que aquele círculo começa a se transformar o quadrado em círculo numa
coisa circular, etc., etc., então vcs dizem já, não tem um forma. Fica claro, não
éh, se vai transformando então já perde a qualidade de ter uma forma. Um
objeto temporal, mas já não tem forma. Compreende o problema? Obrigado.
Como então um objeto temporal consegue ter uma forma? [...] ao ver o
desenho, o design, o logo de uma Exposição Mundial, foi do ano 2000 em H.,
na Alemanha, e foi um desenho que se movia. Estavam todos os aviões da
Luftansa num telão que se movia, era a princípio um círculo, logo um quadrado,
logo oval... mas esperando lá, na entrada do avião... como sempre se faz
quando todo mundo está com bagagem, de repente observei que depois de 30
segundos voltou ao início e passou de novo pelas mesmas transformações e
depois de 30 segundos de novo... então, este era o logo, um desenho que tinha
ritmo. Porque sempre passava pelas mesmas transformações, compreende.
Nesse sentido, a sequência das transformações sempre sendo a mesma
depois de 30 segundos substituía a tranquilidade da forma. E nesse sentido se
pode dizer que o objeto temporal tem um ritmo [uma estrutura de ritmo] pode
ter ao mesmo tempo uma forma, compreende. Qualquer coisa que a gente
chama de ritmo é o jeito temporal que, graças ao ritmo, ao mesmo tempo tem
uma forma. Quando normalmente as coisas que estão se transformando não
tem identidade de forma. Fica claro este problema?
A boa notícia é que esta foi a parte mais abstrata e pior da palestra.
Já passo à segunda parte, que é menos abstrata. Então eu vou falar de
algumas funções que a gente obviamente associa com ritmo, não ainda
necessariamente com poesia, com ritmo. Agora existe uma coisa interessante
falando de ritmo, porque para o ritmo tem um começo e um final. Por exemplo,
naquele logo, eu podia identificar que sempre começa por quadrado que vai
passando por círculo e vai voltando logo ao começo, tem começo e tem fim,
por isso vcs podem distinguir entre o barulho e música. Porque vcs sabem o
que se identifica com alguma coisa que tem ritmo, que teve um começo e que
terá um final. Quando o tempo cotidiano nem começo nem tem final. O tempo
cotidiano está sempre correndo, está fluido, mas não tem forma. Fica claro?
Então cada vez que vcs tem o ritmo, aquele ritmo se vai impondo ao
tempo cotidiano, que não tem nem começo e nem fim. Então se pode usar uma
distinção do grego clássico, quando se chama ao tempo corrente, tempo fluido,
cotidiano, khronos, e se usa outro conceito que existe no grego antigo para
ritmo, se fala kairós. Então cada vez que vc tem o ritmo, este ritmo está se
impondo sobre o tempo khronos, sobre o tempo fluido e então tem duas
funções: que naquele interior, no kairós, no interior do ritmo, que se vai
impondo ao tempo fluido cotidiano, se estabelece uma simultaneidade. Eu acho
que todas as coisas que fazem parte do ritmo estão tendencialmente em
simultaneidade. Não tem anterioridade e nem posterioridade.
Poderia dizer mais ou menos, é complicado, que um ritmo sempre
está congelando o tempo ao interior dele, porque as coisas sempre vão
voltando, quer dizer, o ritmo não é um tempo progressivo, não é um tempo
aberto, sempre vai voltando de novo ao mesmo. Quer dizer, ao interior do
kairós com ritmo, todas as coisas são simultâneas. E talvez, até se poderia
dizer, agora, lembra aquele momento em que estava lendo aquele soneto do
Shakespeare, que não só no interior do ritmo, tudo fica simultâneo, mas
também o tempo fora do ritmo fica congelado.
Essa, eu acho, que é a razão, porque se vc tem o ritmo, saber que
vc vai adquirindo/relendo no passado vc vai voltando, automaticamente, essa é
a razão da função mnemotécnica do ritmo, porque ao interior do ritmo tudo está
contemporâneo. Eu, por exemplo, consigo lembrar regras gramaticais do latim,
que aprendi aos 10 anos no 2º grau na Alemanha, para dar um exemplo de
melodia, vou cantar no momento, nunca canto numa palestra, mas [a melodia
das preposições latinas]: são as 6 preposições com ablativo. Eu não sei direito,
eu não poderia memorizar aquelas preposições que não tem nenhuma utilidade
pra mim hoje, se não for graças ao ritmo, graças à melodia. É muito estranho,
que também poderia reproduzir regras sobre o feminino na 3ª declinação, etc.,
etc., é completamente inútil, mas tenho conservado, não pensa que é a mesma
coisa, é porque tem uma função mnemotécnica.
Eu acho que essa função mnemotécnica é a consequência do fato,
de que ao interior de um ritmo tudo está simultâneo, o tempo está congelado e
também o tempo fora do ritmo. Então coisas voltam... se pode falar
metaforicamente, o ritmo, o kairós se vira numa janela para coisas do passado
voltar, mas só estão voltando no momento em que estão memorizando o ritmo.
Se vcs agora me perguntam quais são as preposições com ablativo do latim,
eu não posso memorizar o ritmo, não tenho o direito de memorizar o ritmo, eu
não saberia. São graças ao ritmo tudo fica simultâneo. Fica claro isso?
Agora uma segunda função que todo mundo sabe do ritmo, que não
tem que ser uma poesia, mas poesia também, é que o ritmo consegue
coordenar os movimentos do corpo. Por exemplo, engraçadamente, Heidedger
no seu livro Ser e Tempo fala que um batalhão militar vai marchando melhor se
tem um ritmo, uma música. E todo mundo sabe, pra dançar, por exemplo, néh,
funciona melhor com o ritmo, vai coordenando o corpo. Fica claro isso. [...] uma
coisa estranha, quando estou recitando Shakespeare, por exemplo, então eu
estou incorporando/recitando um ritmo de Shakespeare. Um ritmo que
Shakespeare tinha no corpo dele há 400 anos atrás. E quando vcs ficam
expostos à minha recitação, de repente os seus corpos ficam coordenados com
o ritmo do Shakespeare. Uma coisa bem estranha, uma distância de 400 anos,
mas existe uma coordenação entre os seus corpos quando estão ouvindo o
Soneto 18 de Shakespeare que vivia ao por volta de 1600.
Todo mundo sabe... mas como assim, como se pode explicar, é um
saber que todo mundo tem... que o ritmo é muito bom para coordenar
movimentos corporais, mas muito difícil de se explicar porque. Vou usar uma
segunda última vez, aquele filósofo, Nicolas Ulman, ele faz uma distinção entre
dois tipos de acoplagem e sistema. Então, ele tem 2 tipos, que podem ser
sistemas sociais, máquinas, mas também podem ser indivíduos. E tem um tipo
de acoplagem de primeira ordem, que ele chama de não-produtiva. Essa é uma
acoplagem em que o oblíquo mediatiza entre os dois sistemas. Quer dizer, uma
acoplagem onde o status 1, do sistema A, vai ativando o status 2 do sistema B
que vai ativando o status 3 do sistema A, etc., etc., no certo momento o seu
ritmo vai voltando à mesma sequência. Então essa é uma acoplagem de
primeira ordem.
Que o Lulman fala, por exemplo, entre máquinas entre motor, que
isto não é produtivo. Que isto nunca vai produzir status novo, que não pré-
exitiam. Seria muito ruim, imagina que se os diferentes sistemas do seu carro,
seria improdutivo, de repente o carro vai fazendo coisas que você não tem
previsão, mas não são produtivos e você sabe isto também está acoplado,
dançando, por exemplo. Uma observação também do Hussel, a sua tensão e
não tesão, falando da dança. A tensão de consciência é bastante baixa e dizia
que no momento de dançar bem, ou de um momento de fazer sexo bem, não
são os momentos mais iluminados intelectualmente, não são os momentos
onde você tem conceitos certos bem definidos, então, a acoplagem de primeira
ordem sempre se acompanha num nível relativamente baixo de tensão de
consciência. Mesma coisa negativa, muito importante, vocês sabem, para se
ter um bom ritmo é preciso relaxar, o relax. Se você pensa continuamente
como fazem os alemães, 1, 2, 3, 1, 2, 3, então nunca vai dançar bem. Mesma
coisa com o jogador de futebol, se o Christiano Ronaldo pensa cada vez que
chuta quanto dinheiro pode perder ao marcar um gol, ele nunca vai fazer um
gol, mesma coisa com o Messi. Em geral a tensão de consciência do Messi é
bem baixa, o que faz com que o Messi seja um jogador genial. Talvez seja o
problema da televisão brasileira, eles são inteligentes demais.
Mas vejam bem, então, uma acoplagem de segunda ordem e uma
acoplagem produtiva, onde a acoplagem entre dois sistemas, uma fala, uma
conversa por exemplo, vai produzindo status novo até o ponto que a um certo
momento vai sair um nível de auto-observação, os dois sistemas se podem
auto observar, mas se vocês estão numa boa conversa, estão pensando
durante a conversa, nesta conversa e vai se estabelecer um nível semântico de
auto-descrição, quando a acoplagem da primeira ordem tem uma tensão de
consciência bem baixa e não tem semântica, compreende? E neste sentido
então se pode falar que uma acoplagem de segunda ordem, em que vocês
ficam relaxados, deixam erguer o corpo uma condição para uma combinação
de corpos. Quero dizer que aquele tipo de acoplagem que precisa do ritmo é a
condição pela qual a gente sabe que um poema é bom. Um poema é bom para
coordenar movimentos do corpo e porque a gente tem aquele efeito que
ninguém nunca menciona mas que eu acho bastante interessante, que se você
vai recitando um poema, até lendo um poema silenciosamente, se encontra
uma coordenação de movimento corporal com o autor e com todas as pessoas
que já recitaram aquele poema. Já acabou a segunda parte, a segunda parte
não foi tão ruim como a primeira “né”.
Eu não sei, a terceira é bem complicada, mas antes de passar para
a terceira parte, queria antes recitar de novo um poema e o segundo poema é
um poema de um poeta expressionista alemão muito bom. E eu normalmente
não gosto que as pessoas dizem que a literatura vai sempre explicando ela
mesma, mas este é um poema cujo conteúdo se refere a esta função da poesia
de parar o tempo, de congelar o tempo é um poema sobre o último verão, que
se chama em inglês Indian Summer, verão indiano e se expressa o desejo para
este indian summer de não acabar nunca, então o poema se descreve em
letras quando se lê o poema, hesitantemente o verão não vai desaparecer, mas
no final, nos últimos versos, quando já continua o tempo chronos, (...) um
poema sobre aquela força do ritmo de neutralizar, de parar, de congelar o
tempo, então de novo eu vou ler somente em alemão pra vocês perceberem a
prosódia que acho de novo muito bonita e podes também nesse caso ler a
tradução em inglês, que não existe uma tradução boa portuguesa (lendo o
poema)
Eu acho interessante que os dois últimos versos já voltam a um
tempo mais fluido. Quando o poema descreve o que acontece graças ao
poema o tempo não vai avançando, o tempo fica congelado, mas já quando
acaba o poema o verão já vai passar, acho interessante como descrição. Bom,
passo a terceira parte, uma parte difícil mas eu achei interessante. A gente já
descreveu a possibilidade mnemotécnica da prosódia, do ritmo e também a
capacidade de coordenar corpos, movimentos de corpos, mas como aquela
função de conjurar, de produzir a impressão, uma coisa que o poema tematiza
está lá, quase fisicamente presente. É como a gente percebe muitas vezes,
que um poema pode ter um impacto até físico como se o objeto de desejo
erótico, por exemplo, estiver presente. Como se explica isso?
Eu quero brevemente mencionar duas coisas para entrar na
pergunta, primeiramente é importante que voluntariamente ou
involuntariamente uma ativação que não depende da vontade, no momento
que alguém está recitando um poema, por exemplo, eu recitando um poema,
então se vocês não conhecem alemão ou inglês não vai produzir imagens, se
sabe a tradução vai produzir imagens necessariamente, mas
independentemente do conteúdo a recitação de um poema está produzindo em
vocês, por isso li poemas em uma língua que vocês não conhecem, aquele
poema de Vor?...produz uma atmosfera, produz uma certa tonalidade, um certo
tônus e o importante é que isto é involuntário. Você pode odiar aquela palestra,
mas se alguém, neste caso eu, estiver recitando um poema, estiver recitando
um texto, isto vai ativar uma reação desse sentido, uma reação quase
atmosférica e neste sentido até sem saber o conteúdo o efeito do soneto de
Shakespeare é bem diferente do efeito, da atmosfera, da reação da maneira
que vocês reagem ao poema de Gottfried Benn e logo mais tarde vou ler os
dois poemas também bem diferente. Todo mundo sabe o efeito de um poema
de João Cabral nesse sentido bem diferente de um Caetano Veloso, se
transcende. Não é uma questão de melhor ou pior, mas existe aquela
diferença.
Bom, o que eu acho decisivo para aquela função de conjurar é de
novo aquela observação que se a gente se encontra na acoplagem de primeira
categoria, de primeira ordem, então a tensão de consciência é relativamente
baixa e eu queria contar, queria brevemente narrar um experimento mental
interessante de um filósofo americano 100 anos atrás. Um filósofo que era
colega, professor de filosofia na universidade de Chicago, o nome dele
George...O experimento dele é sobre imaginação. O George propõe de a gente
se imaginar como homosapiens já homem, não proto-homem, homosapiens
temprano, jovem. E aquele homosapiens está fazendo o que o homosapientes
faziam provavelmente todo tempo jogando, provavelmente o tempo a 50 mil
anos atrás a humanidade foi bem feliz .... tralhando 4 horas para ter de comer,
mas tinha 10 horas para dormir e 10 horas para jogar, então estaria brincando
o homosapiens. De repente, aquele homosapiens percebe um barulho e este
barulho vai ativar imediatamente, sem vontade dele, uma imagem na
consciência, um objeto intencional, quando se fala filosoficamente.
Isto basicamente se um barulho pode ser uma imagem de um animal
mais forte que o homosapiens, ou poderia ser a imagem do animal mais fraco.
Mas a coisa importante é que vocês conheçam tudo isso de poesia erótica, por
exemplo. Se você está com uma tensão de consciência baixa, acoplagem de
primeira ordem, a imagem vai ativar imediatamente movimento, que dizer, se é
aquele animal imaginado mais fraco, vai ativar o movimento muscular de
ataque, agressivo. Se aquela ativar a imagem do animal maior, a tendência é
fugir, quer dizer, no caso de estar exposto a prosódia com a tensão de
consciência bem baixa, as imagens e atmosferas que produzem a poesia, a
prosódia, o poema, tem uma reação corporal imediata. Eu acho que aquela
reação corporal imediata é a razão porque a gente acha que poemas tem a
capacidade de conjurar, de fazer presente objetos e muitas vezes objetos de
desejo. Vocês sabem que não é assim, você sabe que um poema erótico
dedicado do seu namorado, da sua namorada para você, não traz fisicamente
namorado, mas vocês todos sabem, uma coisa que eu nunca poderia falar
numa universidade americana, mas no Brasil é possível, vocês todos sabem,
tanto mulher como homem, que você é bem capaz de ter uma reação corporal,
uma presença que ontologicamente não é existente. Então aquela impressão
de que poemas podem conjurar coisas vem da nossa reação corporal à
imaginação. Fica claro isso? Então o objeto não está lá, mas você está tendo
uma reação corporal, imagina, por exemplo também com comida, não tem que
ser uma coisa sexual, você poderia imaginar uma descrição de uma comida
boa, poeticamente feita e você acaba com fome, e você acaba com vontade de
comer aquela coisa, mas estou falando comer e já sei muito bem que há uma
metonímia no Brasil também para sexo, deglutir. Mas fica claro, então eu quero
resumir antes de já passar à última reflexão.
Eu queria resumir o que a gente sabe até agora: Quais são as
funções da prosódia, quer dizer, qual a diferença que tem um texto prosódico
em comparação com um texto em prosa. Então a gente já sabe que
primeiramente, um texto prosódico vai ativar independentemente, se vocês
quiserem ou não, uma coordenação entre corpos. Uma coordenação de corpos
entre vocês, no momento em que vocês estão todos expostos à mesma
recitação, mas também estranhamente uma coordenação com um corpo já
morto a 400 anos, no caso de Shakespeare, mas vocês estão coordenados. De
novo, eu achei super interessante! Segunda função, só para já recapitular é
aquela função mnemotécnica. Uma prosódia é capaz de ativar a presença de
um saber já muitas vezes esquecido. Estou falando das preposições do
ablativo. Então normalmente teria esquecido já desde quarenta anos, mas
posso ativar uma memória. Em quarto lugar a poesia sempre, a prosódia,
sempre, inevitavelmente, vai ativar uma atmosfera, por isso leio os poemas
numa língua que você não conhece, mas você tem percebido que o que ativa o
ritmo do soneto de Shakespeare é bem diferente do que ativa aquela poesia do
Gottfried Benn, independentemente do conteúdo e finalmente eu espero ter
dado já uma primeira explicação daquela capacidade de poemas de conjurar,
de produzir aquela impressão, daquela ilusão, porque afinal de contas uma
ilusão de uma presença física, de um corpo, de um objeto que acontece graças
à nossa reação corporal. A gente reage como se o objeto descrito no poema
estivesse presente corporalmente e tem reações físicas a isto.
Bom, então já queria passar à quarta parte e na quarta parte eu
queria me ocupar daquela pergunta, porque tudo o que tenho dito até agora é
muito generalizado. Eu tenho falado de ritmo de forma geral, dizendo que cada
coisa que a gente chama de poema tem um ritmo e por ter um ritmo vai ativar
basicamente, involuntariamente, uma certa série de funções. Mas uma questão
que todo mundo está pensando mas ninguém tem uma resposta é a questão
seguinte: como as funções ativadas no soneto, por exemplo, são diferentes das
funções ativadas numa balada, ou ativadas numa outra forma poética? Então
eu acho que isto já é uma questão que vai sobrepassando as capacidades dos
críticos literários, talvez para linguistas seja possível, porque claro, a diferença
que está fazendo uma forma poética, um soneto por exemplo, depende de uma
língua natural como fundo, quer dizer, a diferença, o contraste entre a prosódia
de um soneto em português brasileiro e bem diferente da diferença que faz um
soneto em inglês e deferente da diferença que faz um soneto russo, etc, etc,
este já um problema.
Então para descrever, para começar a descrever a diferença que faz
uma forma prosódica particular, você sempre teria que comparar aquela forma
prosódica com outra prosódia básica de uma língua. Vocês todos sabem muito
bem que já a prosódia do português brasileiro é bem diferente do de Portugal,
então, mas eu acho que isto seria basicamente, sobretudo na idade da
computação, uma tarefa possível para a linguística. Mas eu acho
historicamente falando, que existe também uma tarefa provavelmente
impossível, porque a diferença entre uma prosódia particular de um soneto,
está fazendo, não só depende da língua natural, da língua como português,
inglês, etc, etc, o que um poema está articulado, mas também depende de uma
coisa, não conheço uma palavra boa em português, do soudscape histórico,
que dizia do barulho típico que historicamente é específico.
Eu por exemplo, toda minha vida, eu estou fascinado daquela forma
prosódica do teatro clássico francês. Que conhece a prosódia, a prosódia de
..... como se chama? Uma pergunta dos alunos de graduação. Como se
chama? Aquela prosódia bem pesada, acho que muito elegantemente pesada,
mas bem pesada e aquelas peças, aquelas obras estavam tão populares em
Paris no século XVII como é hoje todo esporte, futebol ou coisa assim. Todo
mundo queria teatro e se expor a esses conteúdos bem astractos e àqueles
ritmos. Todo o teatro clássico francês de tragédia está escrito naquele som de
12 sílabas, muito pesado realmente, então eu sempre gostaria de poder
imaginar o soudscape, quer dizer, o barulho típico em Paris ao redor de 1650,
por este ser o fundo contra que a ----- faz a diferença. Mas isto é
completamente impossível. A gente nunca vai saber qual foi o soudscape em
Paris ou em Lisboa durante o tempo de Camões, a gente nunca vai saber. E
neste sentido eu acho que a pergunta sobre as funções diferenciadas da
prosódia historicamente falando tem um limite. Eu diria que são perguntas
super interessantes, que a gente infelizmente nunca vai poder resolver. E neste
sentido eu acho que toda aquela questão da diferenciação funcional da
prosódia tem um limite sistemático. Aquela pergunta não tem resposta, fica
claro isto? Infelizmente. Eu acho que é uma pergunta fascinante, mas que
infelizmente, as vezes, as perguntas mais fascinantes não tem soluções.
Para já quase fechar, eu queria falar daquele poeta alemão,
Friedrich Schiller, não sei se conhecem Friedrich Schiller e na obra dele ao
redor de 1800 e não vou falar muito dele biograficamente, mas vou mencionar
uma coisa. O Hölderlin estava completamente obcecado por aquela segunda
pergunta. O Hölderlin queria desenvolver uma filosofia, uma teoria das
diferentes prosódias, de como as diferentes prosódias podem ter funções
diferentes, isso vinha no caso dele, primeiramente, interessante não tanto da
suas práxis poética, mas vinha do feito que ele queria traduzir o Sófocles do
grego antigo ao alemão do seu tempo, ao alemão de ao redor de 1800. E ele
compreendia muito bem que traduzir, manter a prosódia do texto de Sófocles
não era uma possibilidade para o alemão, então o esforço de Hölderlin esforço
frustrado, esforço impossível, era de desenvolver, de inventar uma prosódia no
alemão do seu tempo que seria o equivalente, funcionalmente falando, da
prosódia das tragédias do Sófocles. Isto ele nunca conseguiu e tinha plena
consciência que isto era impossível, mas quero falar brevemente disto. O
Hölderlin desenvolvia não sei se fica traduzido em português, mas são
fragmentos super interessantes neste sentido, uma teoria que ele chamava,
uma filosofia sobre a alternância, alteração das tonalidades poéticas, e ele
associava aqueles conceitos que ele chamava de superfície. Eu acho que
superfície são precisamente formas diferentes de prosódia, com que ele
chamava de doido, que seria significado, mas eu acho que significava
realmente atmosfera, aquela coisa que tem uma prosódia que você não
compreende o conteúdo vai ativando.
Para só dar um exemplo que são exemplos interessantes, não quero
dizer que seja uma teoria completa, não, a teoria não é completa, mas as
intuições de Hölderlin são bem interessantes. Ele faz uma distinção entre três
tipos, três tipos de prosódia que tem diferentes amostras. Ele fala do tipo épico,
não necessariamente tem que ser uma epopeia, mas o tipo épico, onde a
superfície parece ser natural e simples, natural e simples e a atmosfera de
ambição, fala de ... é interessante que uma coisa ativa de energia,
interessante, a superfície, a estrutura prosódica bem simples e natural, mas o
efeito é um efeito de energia e eu acho interessante. A segunda descrição que
ele tem, e ele chama de trágico, e de novo aí diferente da tragédia como
gênero. Ele fala no caso de trágico, a superfície sempre tem uma divisão, tem
um contraste, como vai ver a primeira poesia que vou ler do R. tem duas
estrofes e que são completamente contrastivas no sentido prosódico. Ele fala
que a atmosfera de uma prosódia trágica vai ativando e a visão intelectual, ele
disse: você vai começar pensar em conceitos, em contrates. E finalmente ele
fala, a tonalidade que ele chama de lírica é que, onde a superfície que ele
falava seria muito abstrata. Isto vai ativar uma grande intensidade de
sentimentos.
De novo eu não quero dizer que seja uma teoria completa, mas eu
acho interessante ele ter uma reflexão sobre isto, que a reflexão não seja tanto
de conteúdo, mas a relação é entre a prosódia básica, uma reflexão prosódica
básica, o que ele chama de superfície e aquelas atmosferas, são também
atividades, atitudes mentais. Então, para já quase fechar e sem fazer
comentário, vou ler duas poesias do Hölderlin. De novo, a razão da minha
escolha foi a beleza da prosódia. Vocês podem acompanhar lendo português,
mas quase estou aconselhando de não ler em português no momento, mas
ouvir a prosódia. A primeira poesia se chama .... e quer dizer “metade da vida”
e só para falar das absurdidades de certos colegas, existe agora uma
interpretação deste poema, vocês vão lendo e se deparam com uma coisa
totalmente absurda, dizendo que o tema daquele poema é ... completamente
idiota e que muitas vezes acontece com o colega, infelizmente e tranquilos os
meus que falassem assim de mim também. Bom vou ler aquele poema que tem
uma prosódia fantástica. (ele lê o poema). Percebem que a prosódia é
completamente diferente em suas estrofes, quando oficialmente é a mesma
estrutura. Vou só reler uma vez, desculpem, mas adoro tanto aquele poema
que nunca posso resistir à tentação de reler, mas também já falar para vocês
entrar na prosódia, sobretudo que não e prometo não repetir o segundo poema
que vou ler, (Lê o poema).
O segundo poema é não mais complicado, um pouco mais
entendido, uma descrição de uma cidade que talvez algum de vocês já
conhecem, quem conhece a cidade de Heidelberg? Cidade universitária mais
conhecida na Alemanha, quantos conhecem Heidelberg? Quando fizerem
turismo pela Alemanha, passem em Heidelberg, cidade mais turística e tem um
point antigo. O lugar deste poema que vou ler agora é o point precisamente, o
point da cidade de Heildeberg, então vou ler aquele poema de novo, não para
analisar, por que acho até certo ponto uma operação quase obscena analisar
um poema, uma operação cirúrgica, é horrível, mas eu acho que realmente
falar de poemas deveria ser uma coisa dêitica, apontar a beleza de um poema
recitando um poema, então vou ler só uma vez prometido:
Heidelberg
Lange lieb' ich dich schon, möchte dich, mir zur Lust,
Mutter nennen, und dir schenken ein kunstlos Lied,
Du, der Vaterlandsstädte
Ländlichschönste, so viel ich sah.