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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
UFPE – CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
História da Filosofia Contemporânea I. Professor: Thiago Aquino
Resumo: Este trabalho procura expor o trabalho do Filósofo alemão Martin Heidegger, “Que
é Metafísica?” parte do livro “Marcas do caminho”, que traz para a era contemporânea da
filosofia uma nova roupagem às discussões metafísicas e apresentar a “Questão do Nada” como
um pressuposto necessário as ciências. As discussões sobre esta área do conhecimento
(metafísica), que pareciam estar acabadas devido a muitas críticas vindas de filósofos modernos
e foi herdada pela contemporaneidade como Carnap, Wittgenstein (ou como por exemplo o
Círculo de Viena) faz Heidegger trazer de volta a discussão sobre a metafísica fomentando sua
necessidade para toda filosofia. O escrito de Heidegger pode ser encontrado na sua preleção é
composto de três partes: a) desenvolvimento de uma interrogação metafísica; b) a elaboração
da questão; c) a resposta à questão. Aqui, me limitarei a apresentar estas partes ao mesmo
tempo em que se faz algumas considerações explicativas sobre a história da filosofia
contemporânea e uma das características desta era do pensamento que seria “A Crítica a
Metafísica”.
Palavras-chave: Filosofia, Contemporânea, Metafísica, Crítica, Heidegger.
INTRODUÇÃO
É verdade que no texto do filósofo Martin Heidegger, “Que é Metafísica” não se fala
diretamente de Metafísica. Ele aborda uma questão metafísica em específico e não a Metafísica
como um todo. Isso acontece pelo fato de Heidegger acreditar que abordando uma questão
metafísica, podemos nos situar dentro da Metafísica (“Aquele que interroga também está em
questão”), pois assim, ele dar a oportunidade da Metafísica se apresente para o filósofo como
si-mesma. Ou seja, Heidegger acredita que só estando dentro da Metafísica poderemos falar
sobre ela, senão só falaríamos da metafísica do ponto de vista do homem, situado fora da
filosofia primeira. Sendo assim, é estando dentro da metafísica que abrimos a possibilidade de
este pensamento se apresentar a nós como ele é em si, sem as inferências humanas que torna o
assunto apenas subjetivo.
De um lado, a questão Metafísica, abarca sempre a totalidade da problemática da
Metafísica. Portanto qualquer questão metafísica que eu abordar (Que é Deus? Que é existir?
Que é Alma? E etc), segundo Heidegger, vai abarcar toda a metafísica. Sendo assim, a
metafísica para Heidegger é a própria totalidade, é o “todo” e qualquer questão metafísica que
você faça, abarcará toda a problemática metafísica. Por outro lado, uma problemática
metafísica só pode ser formulada levando em consideração o “ser” que pergunta, o
“Perguntador”. Sendo assim, Heidegger deixa bem claro estas duas pré-disposições que
devemos ter ao analisarmos uma questão metafísica, a Metafísica é a totalidade e abarca
também aquele que pergunta, o Perguntador (há uma consciência que está perguntando
sobre...).
[...] De um lado, toda questão metafísica abarca
sempre a totalidade da problemática da metafísica.
Ela é a própria Totalidade. De outra, toda questão
metafísica só pode ser formulada de um tal modo
que aquele que interroga, enquanto tal, esteja
implicado na questão, isto é, seja problematizado
Neste âmbito da questão sobre o nada, Heidegger nos chama atenção para a elaboração
da questão acerca desta reflexão: a) a possibilidade de uma resposta sobre o Nada ou b) a
impossibilidade de se chegar a uma tal resposta.
a) Bem, o que sabemos é que o Nada é admitido. As ciências, apesar de não tratarem
do nada, usam de seu significado para fomentar e explicar suas teorias e descobertas (“Além
do ente, nada!”, “Além do Universo, nada!”, “Antes do big-bang, nada” e etc). b)Sendo assim,
se o Nada é admitido, nasce daí outro problema, ao se falar do nada, sempre o “enteficamos”,
sempre tornamos este nada um ente o que fomenta a rejeição do nada como objeto científico
de investigação pois “a priori” e por uma falseabilidade baseada – por exemplo - em uma
análise “analítica Kantiana” de fundamentação do juízo no próprio significado do sujeito (o
que pressupõe a priori através de uma análise do sujeito da proposição uma contradição que a
torna falsa), por significado conceitual o nada não pode “ser”. Deste modo, apresentamos uma
proposição: “o nada é...” para explicar o ser do nada, onde o que se sabe popularmente, é que
o nada é exatamente aquilo que não existe, que não-é. Portanto, quando você tenta responder
o que ele é, você acaba “enteficando-o”. Por outro lado, não é preciso que a ciência rejeite o
nada. Recorrer ao princípio do pensamento da lógica universal, O Princípio de Não-contradição
arrasa a pergunta acerca do ser do nada. Pois o pensamento que é essencialmente o pensamento
de alguma coisa acaba por agir, enquanto pensamento do nada, contra sua própria essência no
sentido de existência e co-existência. Sendo assim, Heidegger desenvolve outra maneira de
abordar a questão do Nada:
[...]A totalidade do ente deve ser
previamente dada para que possa ser
submetida enquanto tal simplesmente à
negação, na qual, então, o próprio nada
deverá se manifestar
E para o filósofo alemão, assim como a manifestação da alegria se revela na alegria pela
presença do ser-aí amado, a manifestação do nada se revela em uma afecção em nosso ser-aí.
No caso do Nada, ele se revela na Angústia. Como Kierkegaard, o filósofo alemão se volta a
problematizar este sentimento:
[...]Este acontecer <de uma
tonalidade afetiva que revele o nada de
acordo com seu próprio sentido
revelador> só é possível e também real
por instantes na tonalidade afetiva
fundamental da angústia.
No entanto, Heidegger quer diferenciar a Angústia que nos leva a conhecer o Nada do
conceito de Medo. Segundo o pensador alemão medo temos sempre de um Ente. Seja porque
temos medo “diante de” ou “pelo que” temos medo, de alguma forma sempre determinamos
como ente o objeto a qual temos medo. Angústia por outro lado, vem do latím angor. Sempre
remete ao indeterminado onde não há nem um “diante de” e muito menos um “pelo que”. Esta
angústia que nos remete ao nada e se dar quando há uma indeterminação ou como diria
Heidegger, uma Indiferença, caráter do que é estranho. Kierkegaard diria que quando a
significância sólida do mundo desmorona; torna-se sem significado e isso é estar angustiado.
O sentido é existencial. É próprio do existente dar sentido as coisas e quando todo esse sentido
se perde sente-se na angústia o que nos remete ao Nada. Na Angústia, os entes não nos falam
mais, tudo afunda em uma indiferença. O meu ser-aí não se apoia mais nos entes, e esta
ausência de apoio me revela o nada existencial. É esta angústia que me revela do nada, a
suspensão.
Esta suspensão por sua vez, se mostra na filosofia de Heidegger como uma
transcendência. O que determina a nossa relação com o “Ser” e não com o “Ente”. Já que não
encontramos mais apoio nos entes, ao suspendê-los, a existência se desvela. Encontro-me
dentro da Metafísica, encontro-me no ser que existe, mas não se “entifica”.
O nada se revela na angústia -
mas não enquanto ente. Tampouco nos é
dado como objeto. A angústia não é uma
apreensão do nada. Não obstante o nada
se torna manifesto por ela e nela, ainda
que de uma maneira tal como se o nada se
mostrasse separado, “ao lado” do ente na
totalidade, ao qual caiu na estranheza.
Nós dizemos muito mais o seguinte: O
nada vem ao encontro na angústia
juntamente com o ente na totalidade.
A RESPOSTA À QUESTÃO
O que significa este “juntamente com?” ao qual o filósofo alemão se refere? O homem
se lança ao ente e se afasta cada vez mais do nada, porém, na angústia esse homem se sente
suspenso no nada, este é o ser-aí humano. Assim, quando se afasta do nada é tentando sair do
profundo vazio que o nada infunde nesse ato de suspender, para se direcionar à superfície onde
se encontra o ente em sua totalidade. Nesse encontro com o ente em sua totalidade, o nada é
nadificado dando origem ao "não" no sentido em que o nada se ausenta e o que fica na presença
do ente é o sentimento de "não ente", "não ser", pois o nada está nadificado.
Na história da metafísica, diz Heidegger, o "não ser" tem sido colocado como "nada",
porém Heidegger demonstra que o "não" tem sua origem no nada. O ser-aí humano estar
suspenso no nada, este suspender coloca o homem além do ente em sua totalidade, em outras
palavras, transcende o ente. Heidegger se apropria dessa transcendência para ligar o nada à
uma questão metafísica. Se metafísica quer dizer "meta + física”, ou seja, "além do ente
enquanto tal" o nada é uma questão que abarca a metafísica em sua totalidade (2008, pag 129).
Um outro ponto que demonstra o nada como questão metafísica é o fato de que o nada, segundo
as colocações de Heidegger, invalida a legitimidade que a lógica operava "dentro da
metafísica". A metafísica, ao definir-se pelo que está além do ente, não é, em Heidegger, uma
disciplina ou um saber determinado convencionalmente, mas pertence a própria natureza do
homem, porque o ser-aí deste, encontra-se suspenso no além e aquém do ente.
E como o nada é a questão que envolve a metafísica em sua totalidade e este nada remete
o ser-aí do homem em direção ao ente em sua totalidade e a existência científica consiste na
busca e relacionamento com o ente, a metafísica está na origem da ciência, e, portanto, o nada
é que impulsiona o comportamento científico a transformar o ente em objeto de pesquisa para,
assim, o nada ser nadificado. Antes não há apenas, unicamente, somente o ente, também não
apenas, unicamente, somente o nada, os dois, nada e ente, coexistem numa relação de mútua
rejeição e participação de um no outro. Esse escrito, portanto, apesar de sua brevidade instaura
um novo pensamento sobre o homem e sua postura diante do mundo e da ciência e marca
também o renascimento da Metafísica no sentido de Ontologia (ciente da diferença
heideggeriana de ôntico e ontológico) na Filosofia Contemporânea.
Bibliografia:
-Heidegger, M. Marcas do Caminho. Tradução: Enio Paulo Giachini e Emildo Stein. Editora
Vozes, 2008
-S. Kierkegaard, Il concetto dell’angoscia. Semplice riflessione di carattere psicológico
orientata in direzione del problema dogmático del peccato originale (1844), in Opere, Florença.
1972, p. 107-197 (BA – Begrebet Angest – O Conceito de Angústia) A obra foi publicada em
Copenhague sob o pseudônimo Vigilius Haufniensis, isto é, “a sentinela de Copenhague” (já
que Hafnia é o nome latino da capital da Dinamarca). [Nota do tradutor: nas citações de BA
presentes nesta tradução foi utilizada a edição: KIERKEGAARD, S. O Conceito de Angústia.
Trad. Álvaro Luiz Montenegro Valls, Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora
Universitária São Francisco, 2010. Os números das páginas correspondem a esta edição
brasileira.]