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José Pachêco
E foi quem trouxe a notícia – Moleque não, sou vigia! O vigia foi e disse
Que viu Lampião chegar E não sou seu “pariceiro” A Satanás, no salão:
O Inferno nesse dia E você aqui não entrar – Saiba vossa senhoria
Faltou pouco pra virar Sem dizer quem é primeiro… Que aí chegou Lampião,
Incendiou-se o mercado – Moleque, abra o portão Dizendo que quer entrar
Morreu tanto cão queimado Saiba que eu sou Lampião E eu vim lhe perguntar
Que faz pena até contar Assombro do mundo inteiro! Se dou ingresso ou não?
Morreu a mãe de Canguinha Então, esse tal vigia – Não senhor, Satanás disse,
O pai de Forrobodó Que trabalha no portão Vá dizer que vá embora
Três netos de Parafuso Dá pisa que voa cinza Só me chega gente ruim?
Um cão chamado Cotó Não procura distinção Eu ando muito caipora
Escapuliu Boca Ensossa O negro escreveu não leu Estou até com vontade
E uma moleca moça A macaíba comeu De botar mais da metade
Quase queimava o “totó” Lá não se o usa perdão. Dos que têm aqui pra fora!
– Leve três dúzias de negros Quando Lampião deu fé Lampião pôde pegar
Entre homem e mulher Da tropa negra encostada Na caveira de um boi
Vá na loja de ferragem Disse: – Só na Abissínia Sacudiu na testa dum
Tire as armas que quiser Oh! Tropa preta danada Ele só fez dizer: – Oi!
É bom escrever também O chefe do batalhão Ainda correu 10 braças
Pra virem os negros que têm Gritou: – As armas não mão E caiu enchendo as calças
Mais compadre Lúcifer. Toca-lhe fogo, negrada! Mas eu não sei de que foi.
Veio uma diaba moça – Chega, traga um armamento! Satanás com esse incêndio
Com uma calçola de meia Assim gritava o vigia, Tocou num búzio chamando
Puxou a vara da cerca Trás a pá de mexer doce Correram todos os negros
Dizendo: – A coisa está feia Lasca os ganchos de Caria (Os que estavam brigando)
Hoje o negócio se dana, Trás os birros de Macau Lampião pegou a olhar
E disse: – Eita, baiana Corre, vai buscar um pau Não viu mais com quem brigar
Agora a ripa vadeia. Na cerca da padaria! Também foi se retirando.
Houve grande prejuízo
No inferno, nesse dia
Queimou-se todo o dinheiro
Que Satanás possuía
Queimou-se o livro dos pontos
Perderam seiscentos contos
Somente em mercadoria.
Reclamava Satanás:
– Horror maior não precisa
Os anos ruins de safra
E agora mais essa pisa
Se não houver bom inverno
Tão cedo aqui no Inferno
Ninguém compra uma camisa.