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QUARTO DE

DESPEJO
DIÁRIO DE UMA FAVELADA

Carolina Maria de Jesus


“28 de maio … A vida é igual um
livro. Só depois de ter lido é que
sabemos o que encerra. E nós
quando estamos no fim da vida é
que sabemos como a nossa vida
decorreu. A minha, até aqui, tem
sido preta. Preta é a minha pele.
Preta é o lugar onde moro.”
Sobre Carolina
Maria de Jesus e
sua obra

“Quarto de Despejo não é um livro de ontem, é de hoje. Os quartos de


despejos, multiplicados, estão transbordando”
“Quando estou na cidade tenho a impressão de
que estou na sala de visitas com seus lustres de
cristais, seus tapetes de veludos, almofadas de
sitim. E quando estou na favela tenho a
impressão que sou um objeto fora de uso, digno
de estar num quarto de despejos... Devo incluir-
me porque eu também sou favelada. Sou
rebotalho. Estou no quarto de despejo, e o que
está no quarto de despejo ou queima-se ou
joga-se no lixo”
A POLÍTICA DA FOME
“O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou
fome. A fome também é professora. Quem passa fome
aprende a pensar no próximo, e nas crianças.”
.

“Quando é arroz e feijão é um dia de festa para eles.


Antigamente era a macarronada o prato mais caro. Agora é o
arroz e feijão que suplanta a macarronada. São os novos
ricos. Passou para o lado dos fidalgos. Até vocês, feijão e
arroz, nos abandona! Vocês que eram amigos dos marginais,
favelados, dos indigentes. Vejam só. Até o feijão nos esqueceu.
Não está ao alcance dos infelizes que estão no quarto de
despejo... Quando puis a comida o João sorriu. Comeram e
“Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo!
Eu que antes de comer via o céu, as árvores, tudo amarelo, não aludiram a cor negra do feijão. Porque negra é a nossa
depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos” vida. Negro é tudo que nos rodeia”
CULPABILIZAÇÃO DA
POBREZA COMO
MANUTENÇÃO DA POBREZA

“Quando vou na cidade tenho a impressão que estou no


paraízo. Acho sublime ver aquelas mulheres e crianças tão bem
vestidas. Tão diferentes da favela. As casas com seus vasos de
flores e cores variadas. Aquelas paisagens há de encantar os
olhos dos visitantes de São Paulo, que ignoram que a cidade
mais afamada da América do Sul está enferma. Com suas
úlceras, as favelas”
.
“[...] Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as
pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se
útil a pátria e ao pais. Pensei: se ele sabe disto, porque não faz
um relatório e envia para os políticos? Agora falar para mim,
que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem minhas
próprias dificuldade”
10 de maio (...) O tenente interessou-se pela
educação dos meus filho. Disse-me que a
favela é um ambiente propenso, que as
pessoas tem mais possibilidades de
CRIMINALIZAÇÃO delinquir do que tornar-se útil a pátria e
DA POBREZA E ao país (p. 48)
SELETIVIDADE DO 11 de agosto (...) Eu estava pagando o sapateiro e
APARATO conversando com um preto que estava lendo um
jornal. Ele estava revoltado com um guarda civil que
REPRESSIVO espancou um preto e amarrou numa arvore. O
guarda civil é branco. E há certos brancos que
transforma preto em bode expiatório. Quem sabe se
guarda civil ignora que já foi extinta a escravidão e
ainda estamos no regime da chibata?” (p.96)
SITUAÇÃO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE E A AUSÊNCIA DE
POLÍTICAS PÚBLICAS
“Recebi intimação para comparecer
8 horas da noite na Delegacia do 12. Como o direito tratava a criança e o adolescente?

Passei o dia catando papel. A noite Doutrina da Situação Irregular (Código de Mello Mattos)
os meus pés doíam tanto que eu - Art 1º O menor, de um ou de outro sexo, abandonado ou
não podia andar. Começou a delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade, será
submetido pela autoridade competente às medidas de
chover. Eu ia na Delegacia, ia levar assistência e proteção contidas neste Código.
o José Carlos. A intimação era para - Art. 62 Si o menor for abandonado, pervertido ou estiver em
ele. O José Carlos está com 9 anos” situação d eperigo de o ser, a autoridade competente proverá a
sua colocação em asylo casa de educação, escola de prevenção
ou confiará a pessoa idônea por todo o tempo necessário à sua
educação contando que não ultrapasse a idade de 21 anos
QUEBRADA,CRIME E FÉ

Dados apresentados pelo CNJ em 12/11/2018


Pesquisa IPEA 2015- Perfil e tipos de atos infracionais
SITUAÇÃO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE E A AUSÊNCIA DE
POLÍTICAS PÚBLICAS

A questão da política:
“Os políticos protegem os favelados. Quem protege é o povo... Eu
classifico São Paulo assim: O palácio, é a sala de visita. A
prefeitura é a sala de jantas e a cidade é o jardim. E a favela é o
quintal onde jogam os lixos”

“O que o senhor Jucelino tem de aproveitável é a voz [...] parece


um sabiá e sua voz é agradável aos ouvidos [...] Mal sabe ele que
na favela é a minoria quem toma café”
FEMINISMO NEGRO
“...Eu escrevia peças e apresentava aos diretores
de circos. Eles respondia-me:
-É uma pena você ser preta.
Esquecendo eles que eu adoro a minha pele
negra, e o meu cabelo rustico… Se é que existe
reencarnações, eu quero voltar sempre preta.”

“[...] E depois, um homem não há de gostar de


uma mulher que não pode passar sem ler. E que
levanta para escrever. E que deita com lapis e
papel debaixo do travesseiro. Por isso é que eu
prefiro viver só para o meu ideal.”
CAROLINA HUMANA
“Eu sou muito alegre. Todas manhãs eu canto. Sou como as
aves, que cantam apenas ao amanhecer. De manhã eu estou
sempre alegre. A primeira coisa que faço é abrir a janela e
contemplar o espaço.”

“11 de janeiro … Não estou gostando do meu estado espiritual.


Não gosto da minha mente inquieta. O cigano está
perturbando-me. Mas eu vou dominar esta simpatia. Já percebi
que ele quando me vê fica alegre. E eu tambem. Eu tenho a
impressão que eu sou um pé de sapato e que só agora é que
encontrei o outro pé.”

“4 de junho … O senhor Manoel chegou. Agora eu estou lhe


tratando bem, porque percebi que gosto dele. Passei varios dias
sem vê-lo e senti saudades. A saudade é a amostra do afeto.”
INQUÉRITO - ROSA DO MORRO
A vida é igual um livro, só depois de ter lido
É que sabemos o que encerra
E nós quando estamos no fim da vida
É que sabemos como a nossa vida decorreu
A minha até aqui tem sido preta, preta é a minha pele
Preto é o lugar onde eu moro
Pele escura, pé rachado
Filho nos braços, lata na cabeça
Sobe a ladeira Dona Rosa
A Rosa do Morro, a Rosa que é preta
Mas saiba você que nem tudo são flores
No jardim que ela vive
Tem miséria e tem crime
A polícia oprime
Mas é de lá que ela veio
É lá que ela vive
É de lá que ela gosta
Onde as casas são feitas de maderite
Rosa, Rosa, Rosa
Rosa do Morro, Rosa
Nos caminhos por onde passou
Ela viu rosas diferentes dela
Viu rosa branca, rosa vermelha
Até rosa amarela
Então ela se perguntava
"Meu deus, por que tanto a minha cor incomoda
Se nem todas as rosas são cor de rosa? "
Quando percebi que sou poetisa fiquei tão triste
"Rosa do Morro, Rosa"
Há varias coisas belas no mundo que não é possível descrever
"Rosa do Morro, Rosa"
Será que a sorte do poeta negro é negra igual sua pele?
"Rosa do Morro, Rosa"
Quero ser livre igual ao Sol

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