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FOUCAULT, Michel. Aula de 17 de março de 1976.

In: Em defesa da
sociedade: curso no Collège de France. São Paulo, Editora WMF, 2º ed. 2010,
p. 201 - 221

[PASSAGEM DA SOCIEDADE DISCIPLINAR PARA SOCIEDADE


REGULADORAS]
Parece-me que um dos fenômenos fundamentais do século XIX foi, é o que se
poderia denominar a assunção da vida pelo poder (...) Na teoria clássica da
soberania, [XVII – XVIII] vocês sabem que o direito de vida e de morte era um
de seus atributos fundamentais. 201- 202

E eu creio que, justamente, uma das mais maciças transformações do direito


político do século XIX consistiu (...) [em] um poder exatamente inverso: poder
de “fazer” viver e de “deixar” morrer (...) De fato, o nível em que eu gostaria de
seguir as transformação não é o nível da teoria política, mas, antes, o nível dos
mecanismos, das técnicas, das tecnologias de poder (...) nos séculos XVII e
XVIII, viram-se aparecer técnicas de poder que eram essencialmente centradas
no corpo, no corpo individual. 202 – 203
[Na] segunda metade do século XVIII, eu creio que se vê aparecer algo novo (...)
Essa nova técnica não suprime a técnica disciplinar simplesmente porque é de
outro nível (...) eu diria: a disciplina tenta reger a multiplicidade dos homens [
vigiar, educar] (...) a nova tecnologia que se instala se dirige à multiplicidade dos
homens (...) na medida que ela forma(...) uma massa global, afetada por
processos de conjuntos que são próprios da vida. 203 – 204

De que se trata essa nova tecnologia do poder (...) trata-se de um conjunto de


processos como a proporção dos nascimentos e dos óbitos, a taxa de
reprodução, a fecundidade de uma população (...) Nessa biopolítica, não se trata
simplesmente do problema da fecundidade. Trata-se também do problema da
morbidade. 204 – 205

[CAMPO DE INTERVENÇÃO BIOPOLÍTICO]


[ 1º campo de intervenção] Não é de epidemias que se trata naquele momento,
mas de algo diferente no final do século XVIII (...) poderia chamar de endemias
(...) Doenças mais ou menos difíceis de extirpar, e que não são encaradas como
epidemias [ são vistas como] (...) subtração das forças, diminuição do tempo de
trabalho, baixa de energias, custos econômicos, tanto por causa da produção
não realizada quanto dos tratamentos que podem custar (...) doença [não mais]
como fenômeno de população: [epidemia] (...) mas como a morte permanente,
que se introduz sorrateiramente na vida, a corrói perpetuamente, a diminui a
enfraquece. 205

[2º campo de intervenção] (....) conjunto de fenômenos dos quais uns são
universais e outros acidentais (...) [universais] da velhice, do indivíduo que cai,
em consequência para fora do campo de capacidade, de atividade. E da outra
parte [acidentais], os acidentes, as enfermidades, as anomalias diversas. 205

[3º campo de intervenção] a preocupação com as relações entre a espécie


humana, os seres humanos enquanto espécie, enquanto seres vivos, e seu
meio, seu meio de existência. 205

[TRÊS ELEMENTOS]

[1º elemento]: [o aparecimento] da noção de “população” (...) população como


problema político, como problema a um tempo científico e político, como
problema biológico e como problema de poder. 206
[2º elemento]: a natureza dos fenômenos que são levados em consideração (...)
são fenômenos que se desenvolvem essencialmente na duração, que devem ser
considerados num certo limite de tempo relativamente longo; fenômenos em
série. 206 – 207
[3º elemento]: [implantação de mecanismos] pela biopolítica: previsões,
estimativas estáticas, medições globais (...) em resumo, de levar em conta a
vida, os processos biológicos do homem - espécie e de assegurar sobre eles
não uma disciplina, mas uma regulamentação. 207]

[BIOPOLITICA E MORTALIDADE]
Ora, eu creio que a razão por que, de fato, a morte tornou-se assim essa coisa
que se esconde não é numa espécie de deslocamento da angústia (...) está
numa transformação das tecnologias de poder (...) o poder intervém sobretudo
nesse nível para aumentar a vida, para controlar seus acidentes, suas
eventualidades, suas deficiências, daí por diante a morte (...) Isso sobre o que
poder tem domínio não é a morte, é a mortalidade (...) agora a morte vai ser , ao
contrário [do direito soberano], o momento em que o indivíduo escapa a qualquer
poder (...) o poder já não conhece a morte. 208
É, mediante um poder que não é simplesmente proeza científica, mas
efetivamente exercício desse biopoder político que foi introduzido (...) que
consegue [fazer as pessoas viverem] no mesmo momento em elas deveriam,
biologicamente, estar mortas há muito tempo. 209

[DISCIPLINA E REGULAMENTAÇÃO]
Esses dois conjuntos de mecanismos, um disciplinar, o outro regulamentador,
não estão no mesmo nível [mas não se excluem] (...) os mecanismos
disciplinares de poder e os mecanismos regulamentadores de poder (...) são
articulados um com o outro1 (...) pode-se dizer que o elemento que vai circular
entre o disciplinar e o regulamentador (...) é a norma (...) o que pode tanto se
aplicar a um corpo que se quer disciplinar quanto a uma população que se quer
regulamentar. 212 – 213
[BIOPODER E RACISMO]
Nessa tecnologia de poder que tem como objeto e como objetivo a vida (...) como
vai exercer o direito de matar e a função de assassínio (...) como um poder como
este pode matar, se é verdade que se trata essencialmente de aumentar a vida,
de prolongar a sua duração, de multiplicar as suas possibilidade. 214
É aí, creio eu, que intervém o racismo (...) ele existia a muito tempo. Mas eu acho
que funcionava de outro modo (...) o que é o racismo? (...) é o meio de introduzir

1
Para exemplificar temos a cidade operária do século XIX “Quanto mais rápido a cidade crescesse, pior
era em superpopulação. Apesar da reforma sanitária e do pequeno planejamento que ali havia, o
problema da superpopulação talvez tenha crescido nesse período sem que a saúde ou a taxa de
mortalidade tenham melhorado, se é que não pioraram de fato” (Hobsbawm, A era do capital, p. 317)
afinal, nesse domínio da vida de que o poder se incumbiu, um corte: corte entre
o que deve viver e o que deve morrer. 214

[FUNÇÕES DO RACISMO]
[1º função]: fragmentar, fazer censuras no interior desse contínuo biológico a
que se dirige o biopoder. 214
[2º função]:permitir uma relação positiva (...) “se você quer viver, é preciso que o
outro morra” (...) a morte do outro não é simplesmente a minha vida, na medida
em que seria minha segurança pessoal; a morte do outro, a morte da raça ruim,
da raça inferior. 215
Em outras palavras, tirar a vida, o imperativo da morte, só é admissível, no
sistema de biopoder, se tende não à vitória sobre os adversários políticos, mas
a eliminação do perigo biológico e ao fortalecimento (...) o racismo, é a condição
de aceitabilidade de tirar a vida numa sociedade de normalização. 215
[BIOPODER E A BIOLOGIA]
Pode se compreender, primeiro, o vínculo que rapidamente (...) se estabeleceu
entre a teoria biológica do século XIX e o discurso de poder (...) Em outras
palavras, cada vez que houve enfrentamento, condenação à morte, luta, risco de
morte, foi na forma do evolucionismo que se foi forçado, literalmente, a pensa-
los. 216
O racismo, acho eu, assegura a função de morte na economia do biopoder,
segundo o princípio de que a morte dos outros é o fortalecimento biológico da
própria pessoa na medida em que ela é membro de uma raça ou de uma
população, na medida em que se é elemento numa pluralidade unitária e viva. 2
217

2
A sociedade nazista é um exemplo dessa aproximação entre a teoria biológica e o discurso de poder.
Outro aspecto importante é que para o filosofo italiano Agamben o exemplo clássico de biopoder são as
os Estados autoritários do século XX. O filosofo italiano diverge de Foucault ao retomar a biopolítica não
a partir da segunda metade do século XVIII e no início do século XIX, mas a partir do homo sacer presente
no direito romano.

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