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GRUPO CARAMURU:

EMPREENDEDORISMO NO AGRONEGÓCIO

Case elaborado pelo Prof. Ivan Pinto, com base nas informações cedidas pela empresa
e pesquisadas em publicações. A pesquisa e a redação dos capítulos sobre
agronegócio foram preparadas por Rosilene Marcelino.

Destinado exclusivamente ao estudo e discussão em classe, sendo proibida a sua utilização ou reprodução em
qualquer outra forma. Direitos reservados ESPM/EXAME.

www.espm.br centraldecases@espm.br
(11) 5085­4625
*Resumo

Este estudo de caso aborda a formação, expansão e profissionalização administrativa do Grupo


Caramuru, o maior processador de grãos de capital nacional. É um caso clássico de empreende­
dorismo de sucesso, mas com os ingredientes, ainda não tão generalizados quanto deveriam ser
nos negócios originalmente de família, da profissionalização da gestão, cada vez mais essencial nos
mercados acirradamente competitivos de hoje. E engrandecido por ações de responsabilidade social
efetiva, numa sociedade crescentemente consciente da importância da cidadania de cada pessoa,
física e jurídica.
PALAVRAS-CHAVE: Grupo Caramuru; empreeendedorismo; responsabilidade social.

*Abstract

This case study describes the origins, expansion and professionalism administraton from Grupo
Caramuru, the largest grain processor with national capital. That’s a classic case about successful
entrepreneurship, however with certain features, that are not as generalized as they should be in
originally family business, in terms of professionalism in management, what is more and essential in
today’s competitive markets. This study presents the company’s actions towards effective social
responsibility, in a society even more conscious about the importance of both individual and legal citizenship.
KEYWORDS: Grupo Caramuru; entrepreneurship; social responsibility

* Ana Lúcia Moura Novais

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Estrutura do Case

1. Introdução
2. Prólogo: empreendedorismo e gestão
3. O que é o Grupo Caramuru
4. O contexto: o agronegócio
5. Caramuru: o difícil início
6. Inovação, oportunidade, espírito empreendedor e crescimento
7. A importância da soja
8. Empreendedorismo e profissionalização
9. A questão da logística
10. A gestão financeira
11. Expansão
12. Sinhá: os produtos de consumo
13. Em linha com os novos tempos: responsabilidade social
14. Evolução e modernização
15. Desafios para o futuro
16. Questões para discussão
17. Bibliografia e fontes

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1. Introdução dá vantagem competitiva a um negócio num cenário
que a democratização da tecnologia e a queda das
Este estudo de caso aborda a formação, expansão e fronteiras protecionistas torna, dia a dia, mais com­
profissionalização administrativa do Grupo Caramuru, petitivo.
o maior processador de grãos de capital nacional. É
um caso clássico de empreendedorismo de sucesso, Mas, mesmo os mais reputados acadêmicos e os
mas com os ingredientes, ainda não tão generaliza­ autores de compêndios sobre empreendedorismo e
dos quanto deveriam ser nos negócios originalmente gestão, além de nem sempre concordarem com os
de família, da profissionalização da gestão, cada vez traços de personalidade e as habilidades que distin­
mais essencial nos mercados acirradamente compe­ guem um bom administrador e, estes, de um em­
titivos de hoje. E engrandecido por ações de respon­ preendedor, não conseguem penetrar no âmago da
sabilidade social efetiva, numa sociedade crescen­ intrigante questão que é o que faz de alguém um
temente consciente da importância da cidadania de empreendedor de sucesso. No fundo, no fundo, pode
cada pessoa, física e jurídica. ser coisa que não se aprenda. Embora as ações dos
empreendedores sejam valiosas como um espelho no
qual possamos nos mirar para tentar reproduzi-las e
2. Prólogo: empreendedorismo e gestão acrescentar mais êxito ao nosso desempenho como
administradores, o empreendedorismo parece ser
O que faz alguém iniciar um empreendimento a partir uma virtude meio hermética que vem com o DNA, re­
do zero – freqüentemente sem capital, comumente forçada talvez pela cultura absorvida no início da vida
sem o preparo acadêmico dos gestores profissionais, e firmada, com freqüência, pela necessidade de lutar
muitas vezes depois de atravessar sucessivos insu­ contra a adversidade. Mas mesmo essa capacidade
cessos e dificuldades que desanimariam a maioria das de lutar já soa como algo entranhado na genética,
pessoas – e transformá-lo numa organização líder, lu­ mais do que aprendido.
crativa, que termina por contribuir significativamente
para o fortalecimento da economia como um todo? Já o administrador, ainda que a vocação também
seja, obviamente, um componente forte do seu jeito
O Brasil tem muitos exemplos de iniciativas desse de ser, pode aprender, pode se aperfeiçoar com o es­
tipo. Brasileiros das mais diversas regiões do país e tudo e a vivência, pode até adquirir alguns comporta­
imigrantes de várias partes do mundo criaram, mol­ mentos a partir da observação dos empreendedores.
daram e expandiram indústrias, comércios, serviços
e agronegócios; passaram seu modo de ser para fi­ Já é menos comum, certamente entre nós, o em­
lhos e filhas, netas e netos e ajudaram nosso país preendedor que se torna um competente gestor de
a se tornar a economia crescentemente significativa empresas, com as habilidades requisitadas pelo am­
em que nos tornamos – e a melhorar, no processo, a biente de negócios da atualidade e isso talvez ajude
qualidade de vida de todos nós, com resultados mais a explicar o fracasso de muitos empreendimentos fa­
práticos do que as iniciativas regulamentadoras da miliares iniciados, com sucesso, pelo “fundador”.
maioria dos nossos governantes.
O importante para a perenização dos empreendimen­
Os analistas do fenômeno do empreendedorismo tos é que o espírito empreendedor seja desenvolvi­
classificam de vários ângulos as características des­ do para se tornar um raciocínio gerencial; ou que o
sas pessoas, os empreendedores, e as distinguem empreendedor se cerque de gestores profissionais;
dos “gerentes” de empresas. Estes, são profissionais ou que estimule seus descendentes, nos negócios de
normalmente com boa formação acadêmica, capazes família, a adquirir os conhecimentos que os tornarão
de levar uma empresa às metas demandadas pelos bons gestores – idealmente, sem que percam o que
seus acionistas; gente valiosa que contribui com es­ herdarem, pelo sangue, daquela virtude empreende­
tratégias, liderança, energia, eficácia na gestão das dora.
pessoas e dos recursos financeiros das empresas;
que gerenciam a modernização constante das es­ O caso do Grupo Caramuru é valioso porque contém
truturas e processos, as marcas e o marketing das os ingredientes clássicos do indivíduo empreendedor
marcas, a tecnologia da informação e tudo mais que que partiu de uma origem desfavorável, venceu a ad­

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versidade, construiu um negócio lucrativo num ramo suas estratégias, estrutura e processos estavam em
complexo e competitivo – o agronegócio – no seu evolução para superar os desafios inerentes ao alcan­
tempo pouco afeito às práticas de gestão mais so­ ce daquelas metas.
fisticadas, povoado por iniciativas fracassadas. Mais:
que evoluiu como negócio familiar mas com cres­
centes características de gestão profissionalizada, 4. O contexto: o agronegócio
expandiu-se pela visão nada conservadora dos her­
deiros, com alargamento dos interesses empresariais A importância do agronegócio no Brasil
para novas categorias de negócio mas, sabiamente, A primeira queda no PIB desde 1992 acendeu a luz
no âmbito do agronegócio em que tinham experiên­ amarela na economia brasileira. Na contramão dos
cia. Mais ainda: com atenção à necessidade cons­ acontecimentos desponta o agronegócio como o res­
tante de inovação em todos os campos da atividade ponsável por evitar um saldo negativo ainda maior do
empresarial e de consciência da sua responsabilidade que o -0,2% calculado pelo IBGE.
social, dois fatores essenciais, nestes tempos, para O agronegócio – que engloba toda a cadeia produ­
firmar as raízes que possam levar o empreendimen­ tiva da agricultura e da pecuária – se transformou
to à almejada perenidade. Finalmente, levando em nessa grande mola propulsora da economia brasileira
conta as dificuldades crescentes de fazer previsões devido ao investimento em pesquisa e inovações tec­
sobre um cenário que muda com velocidade sempre nológicas.
surpreendente – e isso é particularmente verdadeiro Todo esse incentivo convergiu para o desenvolvimen­
no agronegócio – um quadro de desafios crescentes to de “novas variedades de plantas, novos sistemas
que os gestores, a família e seus colaboradores, te­ e métodos (agronômicos e zootécnicos)”, maior pro­
rão que prever para agir em tempo, para “sobreviver dutividade e competitividade, além de impulsionar
e crescer”, que é a condição sine qua non da pere­ outros setores relacionados, como transporte, ma­
nidade no implacável mundo dos negócios do século quinário, defensivos agrícolas, entre outros.
XXI.
O papel do agronegócio na economia brasileira
• Abastecer o mercado doméstico com a produção de alimentos
• Oferecer qualidade e preços competitivos
3. O que é o Grupo Caramuru • Substituir importações
• Gerar excedentes para exportação

• Criar emprego no campo para reduzir ou eliminar o êxodo rural
O Grupo Caramuru, iniciado em 1964, é uma empre­ • Gerar empregos e produtos para a indústria de alimentos, de máqui­

sa de capital nacional, pertencente à família Borges nas e equipamentos voltados para a agricultura
• Fundamental para o transporte de cargas
de Sousa. É o maior processador de grãos do país
e um grande exportador, principalmente de soja. A Fonte: CONAB (Companhia Nacional do Abastecimento)

exportação já representa 40% do seu negócio. Sua


gestão comercial está centralizada em Itumbiara, Outro reflexo positivo desse segmento da economia é
GO, mas suas fábricas, unidades de processamento a geração de empregos. Uma projeção feita pelo BN­
e armazenamento estão distribuídas por vários es­ DES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
tados o que a transformou na administradora de um e Social) revelava uma expectativa de 1,32 milhão de
complexo sistema logístico. Além de produtos agríco­ postos de trabalho em 2004, sendo 400 mil empre­
las básicos, o grupo está crescentemente envolvido gos diretos, 340 mil indiretos e 580 mil decorrentes
com produtos de maior valor agregado, derivados, da renda gerada pelo agronegócio.
por exemplo, da soja e do milho e, pioneiramente,
do girassol. É proprietário da marca Sinhá, de produ­
tos alimentícios destinados ao consumidor final. Do Brasil para o mundo
Em 2003, faturou o equivalente a US$ 507 milhões. De acordo com a Companhia Nacional de Abasteci­
Em abril de 2004, empregava 2.200 pessoas. É reco­ mento (CONAB), a participação do agronegócio nas
nhecida nas diversas premiações empresariais tanto exportações brasileiras chega a 36%. Isto coloca as
pelos seus resultados empresariais quanto por suas receitas da agricultura como “a locomotiva para o de­
ações de responsabilidade social. Quando este caso senvolvimento do País”.
foi preparado, suas metas de crescimento para 2004 Uma comparação feita entre março de 2003 e 2004
e para o futuro de longo prazo eram ambiciosas e (até a 3ª semana) pela Secretaria de Comércio Ex­

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terior (SECEX) mostra um crescimento de US$275,7 Produção de soja (em mil t)

milhões para US$340,5 milhões nas exportações do


setor.

Essa elevação de 23,5% nas vendas externas foi moti­


vada, segundo a SECEX, pelo aumento de três catego­
rias de produtos:

• Semi-manufaturados: 31,2%, de US$ 38,1 milhões


para US$ 49,0 milhões (aumento dos embarques
de ferro-fundido, alumínio em bruto, óleo de soja Fonte: CONAB / MAPA – intenção de plantio safra agrícola 2003/4

em bruto, couros/peles e celulose).


• Básicos: 28%, de US$ 78,8 milhões para US$ Este estudo também revelava que a oscilação do
100,8 milhões (devido principalmente ao milho em preço da soja na bolsa de Chicago (CBOT) fora neu­
grão, carne de frango, bovina e suína, farelo de tralizada pelo crescimento da demanda mundial em
soja, minério de ferro, café e soja em grão). função do cenário (aumento da demanda asiática, a
• Manufaturados: 20,9%, de US$ 151,7 milhões para reconstrução do Iraque e Afeganistão – por exem­
US$ 183,5 milhões (por conta de açúcar refinado, plo).
tratores, aviões, máquinas e aparelhos para terra­
planagem, veículos de carga, máquinas e apare­ Segundo Marcos Carvalho, da CONAB, se fossem
lhos para uso agrícola, autopeças e calçados). mantidos os níveis de aumento da demanda mundial
da soja, que naquele momento eram cerca de 5,5%
A soja e o milho ao ano, o Brasil seria o maior produtor e exportador.
Como conseqüência dos investimentos na agricultura, Isso porque o país é o único no mundo com tecno­
nos últimos dez anos, a evolução da área plantada e da logia e fronteira agrícola capazes de acompanhar o
produtividade mostra um crescimento de 37,8 milhões crescimento da demanda desse mercado.
para 47 milhões de hectares e uma produção de 57,8
milhões para 130,8 milhões de toneladas. No início de 2004, cerca de 90% da produção de soja
No caso da soja e do milho, por exemplo, a produ­ estavam distribuídas entre Argentina, Brasil e EUA
tividade chega, respectivamente, a 2.800Kg/ha e e esses países detinham aproximadamente de 94%
3.500kg/ha. das exportações mundiais, sendo a China o maior im­
portador.
No levantamento de intenção de plantio realizado em
dezembro de 2003 pelo Ministério da Agricultura Pe­ O milho, ao contrário da soja, tinha uma expectativa
cuária e Abastecimento (MAPA) em parceria com a de queda na produção da safra 2003/4 de 6,1% em
CONAB havia a confirmação da expectativa de uma su­ relação à colheita anterior.
per safra para a soja, com superação de 6,7 milhões de
toneladas em comparação à colheita anterior.
Milho – Comparativo de área, produtividade e produção

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O crescimento da cultura de milho, segundo Marco hoje. Mas a família admite que as lembranças dessa
Carvalho (CONAB), “está muito atrelado à capacida­ época são um tanto vagas e não estão registradas.
de de crescimento dos segmentos de carnes, princi­ Só agora, quando se tornou importante decidir o pa­
palmente frango e suínos”. pel da família para o futuro do empreendimento, é
No cenário internacional a produção de milho está que eles começam a relembrar e discutir aquela fase
nas mãos dos Estados Unidos (40%) e o restante inicial. Estão certos: há lições valiosas escondidas
está pulverizado no mundo. Mas, apesar do milho ser nas almas empreendedoras e que a memória de pa­
um produto com uma liquidez moderada e a infra- lavras, ações e sentimentos pode revelar.
estrutura bastante deficitária no Brasil, o país tem
todas as condições de produzir o mesmo volume dos A família, num certo momento, morou em um sítio
EUA. perto de Astorga. Múcio abriu um negócio de proces­
sar, beneficiar e moer milho e descascar o arroz. O
pessoal levava um saco com milho e ele processava.
5. Caramuru: o difícil início Conseguiu alguma fartura, uma boa área de terra,
uma vaquinha, porquinhos, galinha caipira, frutas.
“Seu” Múcio – é assim, mantendo a tradição de res­ A região tinha tudo para uma infância saudável. “A
peito na qual foram criados que, até hoje, os filhos gente brincava e subia no pé de manga”, relembram
de Múcio de Sousa Rezende se referem ao pai, já os irmãos.
falecido – teve um início de vida duro. Não era rico,
não teve o privilégio do estudo superior. Tentou vá­ Mas era também uma vida de muito trabalho e de
rias coisas, descobrindo seu caminho. Trabalhou no responsabilidade compartilhada. Um lavava a louça,
carregamento e depois no comércio de porcos, pro­ o outro enxugava. Davam água para os porcos, pe­
vavelmente uma experiência já válida para um em­ gavam o farelo da produção de arroz e levava para
presário e gestor de sucesso no agronegócio. Um dia, a vaquinha e para os porcos. Um duro, mas valioso,
casou-se com Jandira Borges, filha de um fazendeiro. aprendizado para uma família empreendedora.
Mas, como lembram seu filhos, Alberto, César e Célia
Borges de Sousa, membros do Conselho de Adminis­ Mas a escola local só tinha até o 3º ano. Para cursar
tração do Grupo Caramuru, “seu” Múcio logo desco­ os anos seguintes, os filhos se dispersaram, indo mo­
briu que “fazenda em Minas não valia nada, naquele rar com tios em outras cidades. César, Célia e Júlio,
tempo. Ainda não se tinha descoberto o que o que o irmão mais velho, já falecido, foram até para co­
fazer com o cerrado brasileiro”. légios internos. Alberto escapou: na hora de ir para
a casa de parente, “seu” Múcio mudou-se mais uma
Talvez por isso, Múcio Rezende decidiu mudar-se para vez, agora para Maringá, onde a família, finalmente,
o Paraná. Quando o sogro faleceu, Múcio e a esposa voltou a se reunir.
herdaram uma parte do inventário. Nada que mudas­
se sua vida, apenas uma ajuda bem-vinda. Eles che­ “Eu era muito novo, com 11 anos, quando fui para o
garam ao Paraná num momento de desenvolvimento internato,” conta César. “Teve um fim de semana que
daquele estado que Múcio não via em Minas. “No Pa­ me deu vontade e eu me mandei. Foi uma confusão”,
raná”, lembram os filhos, “ele foi se aventurar”. lembra sorrindo. E confessa, “Foi uma época em que
eu sofri. Tanto é que, com 16 anos, meu filho quis
Tentou várias cidades, fazendo o que podia para ga­ ficar na Alemanha e eu não deixei. Mais pra frente,
nhar a vida, experimentando e aprendendo. Even­ eu disse, você fica o tempo que quiser, mas agora eu
tualmente, começou a mexer com café, moendo e não vou deixar”.
vendendo. Foram anos difíceis, com momentos de
grande sacrifício. “Era difícil até comprar carne no A adversidade deixa raízes para a vida empresarial e
açougue”, como lembra César, com a simplicidade para a vida familiar, também.
que ajuda a explicar o sucesso da família como ges­
tora de pessoas. O negócio evoluiu à custa de idas e vindas, o que
parece ser uma característica dos empreendedores
Múcio Rezende, na lembrança dos filhos, não falava que têm o empreendimento no coração antes de um
do sonho de algo parecido com o que a Caramuru é particular negócio na cabeça.

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Múcio Rezende abriu uma moagem de café, em so­ tanto quanto a Caramuru. O milho tornou-se tão im­
ciedade com o irmão. Não tinham capital, a concor­ portante que a empresa, em 1986, mudou seu nome
rência era forte, e o negócio não prosperou. “Naquele para Caramuru Alimentos de Milho.
tempo, na década de 1960, o tempo todo tinha gente
que ficava rica e gente que falia”, explica César. Os Mas o mundo não pára de evoluir. E as empresas
irmãos desfizeram a sociedade e Múcio, em 1964, têm que acompanhar essa evolução e até antecipá-
iniciou seu próprio negócio, de beneficiar milho. O las. Apegar-se a práticas que deram certo no pas­
novo negócio requeria menos capital de giro do que o sado pode excluir a empresa do futuro ou, no míni­
anterior e tornou-se, aos poucos, viável. A firma ain­ mo, confiná-la a negócios não tão rentáveis quanto
da tinha um nome individual e estava instalada num outros que surjam na vizinhança de suas áreas de
galpão de madeira, um bem próprio que já evitava, competência.
pelo menos, o custo de aluguel. Ficava na Rua Cara­
muru e, com o tempo, de tanto as pessoas dizerem
“lá na Caramuru”, para referir-se a ela, a empresa, 7. A importância da soja
transformou-se, em 1970, por incorporação, na Pro­
dutos Alimentícios Caramuru. Por volta de 1985, a soja havia se tornado um negócio
de crescente valor no Brasil. A Caramuru foi rápida
Júlio, o filho mais velho e Alberto, o mais jovem, pre­ no aproveitamento dessa nova oportunidade e já no
coce e trabalhador, começaram a trabalhar cedo com ano seguinte estava ativa no negócio desse grão que
pai. Um juiz precisou dar uma autorização para que veio a ser tornar, rapidamente, no principal negócio
Alberto estudasse à noite, para poder trabalhar de dia. da empresa. Essa velocidade no aproveitamento de
Já César, em 1965, optou por mudar-se para São Pau­ oportunidades, a disposicão e competência para a
lo. “Ainda era uma empresinha,” diz ele, “e confesso mudança e a rápida adoção de tecnologia de ponta
que não acreditava muito naquilo”. Preferiu estudar. colocaram a Caramuru na posiçao de destaque que
Primeiro, ciências contábeis, depois, um mestrado na alcançara quando esse case foi preparado. O Grupo
Fundação Getúlio Vargas. Teve vários empregos na adotou, desde logo, por exemplo, uma avançada téc­
sua especialidade – “uns dez”, ele contabiliza – até nica processamento e refino do óleo de soja em oito
que, finalmente, a pedido do pai que estava ansioso etapas. Como visto no sumário sobre o agronegócio,
por reunir os filhos, juntou-se ao Grupo. mantido o ritmo dos anos anteriores, o Brasil poderia
assumir, em 2004, a posição de liderança mundial
em área plantada e exportação de soja, já alcançada
6. Inovação, oportunidade, espírito empre- em outras atividades do agronegócio. Os reflexos no
endedor e crescimento futuro desenvolvimento da Caramuru são fáceis de
imaginar.
O milho provou ser um negócio bem melhor. Mas tem
um problema: quando se moe o milho inteiro, o pro­ Esse foi um salto que Múcio Rezende e seu filho Júlio,
duto rancifica. A Caramuru adotou, então, a tecnolo­ falecidos no mesmo ano de 1988 não puderam ver.
gia da degerminação, que já existia em outras partes Mas eles estavam presentes, com sua visão empre­
do mundo. Quando se tira o germe do milho, antes da endedora, quando a decisão inicial de entrar no mer­
moagem, o produto não rancifica e ganha um tempo cado de soja foi tomada.
bem significativo de vida na prateleira. Quanto mais
bem feita a degerminação, mais tempo de vida. A
África, por exemplo, estava bem adiantada nisso. 8. Empreendedorismo e profissionalização

Múcio Rezende percebeu a oportunidade que havia No entanto, aproveitar oportunidades não é o único
no processo e que permitia um produto altamente fator de perenização de um empreendimento fami­
comercializável. Exportar o farelo do germe de milho liar de sucesso. As famílias se multiplicam e voca­
é muito mais rentável do que exportar milho. A mo­ ções não se decretam. Filhos, netos, genros e noras,
dernização deu um impulso à Caramuru e a outras cunhados e cunhadas, sobrinhos e primos são pesso­
empresas concorrentes que também adotaram a de­ as diferentes e a posse do capital não garante uma
germinação na mesma época. Mas nenhuma cresceu distribuição uniforme de competências em todos os

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ramos de atividades necessárias ao contínuo cresci­ do Paraná, em Apucarana. Em São Paulo, instalou um
mento no negócio. terminal hidroviário às margens do Tietê. E unidades
em Santos, para atender às crescentes necessidades
E aí entra o segundo fator que, no caso da Caramuru, de exportação.
mais cedo do que costuma acontecer com outros ne­
gócios de família, fortaleceu as raízes da perenização O peso dessa questão é tal que a Caramuru fez um
– a profissionalização da gestão. acordo com a Ferronorte, a ferrovia que une Mato
Grosso do Sul ao Porto de Santos, para colocar nos
Na Caramuru, essa profissionalização ocorre em dois seus trilhos nada menos do que 10 locomotivas e
sentidos. O primeiro, no nível das estruturas e pro­ 300 vagões, que comprou da General Electric, para
cessos – por exemplo, em 1999, a Caramuru implan­ dar conta dos volumes crescentes de produtos que
tou o sistema de gestão empresarial R/3 SAP – e com precisa transportar – e transportar com continuidade
a gradativa ascensão a cargos executivos de profis­ e rapidez. Foi um investimento de US$10 milhões.
sionais especializados. O segundo, nas decisões, já Em janeiro de 2004, cinco locomotivas e 100 vagões
em andamento quando este caso foi escrito, de de­ já estavam em operação. O projeto estava previsto
finir o papel da família na gestão. Isso estava sendo para conclusão em 2006.
feito com a ajuda de consultoria especializada nessa
sempre difícil, porém crítica, área da separação en­
tre a gestão do capital dos quotistas e a gestão da 10. A gestão financeira
empresa.
Outra vantagem competitiva da Caramuru é a sua
Um negócio baseado na agricultura de grãos envolve gestão financeira. O início da profissionalização des­
uma complexa mistura de processos ligados à sele­ sa área crítica de um negócio que lida com investi­
ção e ao plantio da matéria prima, ao financiamento mentos de longo prazo para safras, com questões de
de safras, ao processamento do grão, ao armazena­ armazenamento e com a negociação de exportações
mento e transporte em diversas fases do processo, à aconteceu quando César Borges de Sousa foi atraído
negociação e implementação da venda e da expor­ para a empresa pelo pai, ainda nos tempos pioneiros
tação. de Maringá.

O agronegócio, nesse nível, é agricultura, sim, mas “Eu fora convidado”, admite César Borges de Sousa,
é indústria, logística e finanças, num grau difícil de “simplesmente porque era um filho que o pai queria
imaginar para os não familiarizados com o assunto. no negócio. Os entendidos no negócio eram meu pai
e meus irmãos. Minha primeira contribuição, mes­
E, tudo isso, numa multiplicidade de locais espalha­ mo antes de estar formalmente na empresa, tinha
dos literalmente por todas as regiões do país. A evo­ sido nas áreas da minha especialidade, contabilidade
lução de um barracão de madeira em Maringá para e finanças. Numas férias minhas, fiz a primeira con­
filiais e unidades de processamento e armazenamen­ tabilidade anual da Caramuru – a coisa era anual,
to em sete estados anos dá uma idéia dessa comple­ naquele tempo. Me custou apenas 15 dias”.
xidade.
Como todo negócio incipiente que “dá certo”, gra­
ças à visão e determinação dos empreendedores,
9. A questão da logística chega um momento em que a adoção de estratégias
pensadas e práticas gerenciais definidas se tornam
Uma das vantagens competitivas fortes da Caramuru a garantia da longevidade do sucesso inicialmente
foi sua competência na pesada questão da logísti­ alcançado.
ca. A empresa expandiu-se rapidamente para Goiás
(unidades de processamento de soja em Itumbiara César se refere ao assunto como “o sufoco do cresci­
e São Simão), de onde passou a atender o Nordes­ mento galopante”. A família teve, além da visão em­
te. Acrescentou unidades processadoras de óleo em preendedora, a outra visão, gerencial, que permiti­
Fortaleza, CE, e de soja em Petrolina, PE. O Rio de ram à Caramuru continuar a se desenvolver.
Janeiro e a região Sul já eram atendidas pela fábrica

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Duas das coisas que César Borges de Sousa trouxe Também na área acadêmica, a Caramuru está coope­
para a Caramuru foram sua competência contabilís­ rando para estudos que confirmem o alto valor nutri­
tica e financeira e sua habilidade, adquirida num dos cional do germe de milho e, em conseqüência, suas
seus empregos, de preparar projetos econômicos vantagens para a população – e que resultariam em
para exportação, atividade que veio a se tornar um melhores negócios para a empresa.
ponto forte da empresa.
O gritz é um derivado do processo de moagem milho,
No agronegócio, o aspecto financeiro é critico. Fala-se com determinada granulometria para ser utilizada na
em “soja verde”, o financiamento do plantio garanti­ indústria de alimentação e bebidas. A Caramuru co­
do pela futura safra. Financiamentos pelo BNDES mercializa o gritz com as marcas comerciais Nekmil,
foram essenciais naquela fase de desenvolvimento Flocomil e Cermil, dentre outras.
galopante da Caramuru. Até hoje, investimentos com
prazos recuados podem fazer a diferença entre su­ A lecitina, extraída da soja, tem um alto valor agre­
cesso e problemas. gado. A soja contém apenas 0,6% de lecitina. A Ca­
ramuru exporta lecitina não transgênica para a Euro­
A gestão financeira é tão crítica que Antônio Djair Pu­ pa e os Estados Unidos. O processo exige a análise
zzi, que alcançou a diretoria financeira, no processo e aprovação de técnicos dos importadores para ga­
de profissionalização da empresa, foi, depois, elevado rantia da qualidade. Toda a produção de 2004 estava
à posição de Diretor Superintendente da Caramuru. negociada quando este case foi escrito.

Uma outra oportunidade de negócios, ainda que pe­


11. Expansão quena, que a empresa aproveita é a fabricação de
uma farinha de milho com granulometria especial
O cerne do caso da Caramuru é o empreendedoris­ para a flotação de minérios, comercializada com a
mo moderno, que alia ao impulso empreendedor a marca Flotamil.
consciência de que a profissionalização da gestão é
fundamental para a materialização do impulso em­
preendedor. A expansão rápida para outros campos 12. Sinhá: os produtos de consumo
de oportunidade empresarial é uma evidência da
união das duas visões: determinação para explorar Os produtos dirigidos ao consumidor final agregam
oportunidades e correr riscos; e adoção de técnicas um significativo valor aos produtos originados do
de gestão e condizentes com o cenário competitivo e agronegócio de base da Caramuru. Num passo im­
com as demandas de uma sociedade crescentemente portante para o seu desenvolvimento, a empresa co­
exigente da responsabilidade social das empresas. meçou a produzir uma crescente variedade de produ­
tos de consumo. Aqui também, o Grupo não hesitou
Além de expandir fortemente seus negócios de base, em corrigir rumos quando a resposta do mercado in­
a Caramuru se caracteriza por expandir suas áreas dica que mudanças são necessárias. Não tendo tido
de ação. o sucesso esperado com um grupo de produtos sob
a marca Inca, escolhida por mera afinidade com o
O girassol, por exemplo, é plantado na entressafra da nome “nativo” Caramuru, a empresa comprou a mar­
soja, no mesmo terreno. Já se tinha tentado, sem su­ ca Sinhá – curiosamente, de uma padaria no Espíri­
cesso, introduzir o óleo de girassol, que tem excelen­ to Santo – e rapidamente expandiu sua linha e sua
tes qualidades nutritivas. A Caramuru decidiu entrar abrangência geográfica..
no ramo. Quando esse caso foi escrito, era a única
empresa a plantar girassol e a exportar seu farelo. A marca Sinhá, quando este caso foi escrito, já in­
É um negócio pequeno, mas promissor. O grosso da cluía uma boa variedade de produtos à base de milho
produção ainda se destina ao consumo animal. Mas – óleo, canjica, farinha e farinha biju, fubá pré-cozido
a Caramuru está trabalhando com a área acadêmica e mimoso, polenta, creme, amido, semolina, cuscuz,
para obter o apoio científico que demonstre as van­ cuscuz enriquecido com ferro, cuscuz flocão, mistu­
tagens do girassol para outros usos. ras para bolos, milho para pipoca tradicional e de mi­
cro-ondas.

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A marca veio a abranger, também, óleo de soja, de Além dessas ações, o grupo tem projetos com foco
canola, de azeite de oliva e até de girassol, ainda em meio ambiente (desenvolvimento sustentável),
pouco utilizado no Brasil, mas bem conhecido no ex­ saúde (campanha em benefício do CRER – Centro de
terior, além de uma linha de óleos saborizados. Reabilitação e Readaptação) e também está sempre
pronto para atuar em questões emergenciais (cam­
Sinhá deu seus primeiros passos no mercado do Rio panhas de coleta de agasalho, doação de alimentos
de Janeiro e tornou-se conhecida no Nordeste e no para flagelados da seca no Nordeste).
Centro-Oeste. Para um observador das questões de
marketing de consumo e de gestão de marcas, na Todas essas ações vêm ao encontro da missão do
crescente linha de produtos e na gradual expansão Grupo Caramuru de atender as às expectativas da
geográfica da Sinhá parecem estar ingredientes de comunidade em que a empresa está inserida.
uma progressiva valorização da marca que poderiam
consolidar a empresa no disputado mercado de pro­
dutos do dia a dia das famílias. 14. Evolução e modernização

Em abril de 2004, Sinhá já representava 20% do ne­ Empreendimentos que quiserem sobreviver e prosperar
gócio da Caramuru. no que já foi chamado de “darwinismo competitivo” do
século XXI precisam não apenas acomodar-se ao cená­
rio, mas antecipá-lo e não hesitar em assumir as sem­
13. Em linha com os novos tempos: pre difíceis e arriscadas decisões de mudar. A Caramu­
responsabilidade social ru parece ter consciência dessa imposição da economia
e dos mercados. Ela aparece, por exemplo, na conti­
O Grupo Caramuru sempre esteve envolvido com nuada aquisição de facilidades de produção. Em abril
projetos sociais e, nos últimos treze anos, intensifi­ de 2004, a Caramuru adquiriu, em leilão, uma unidade
cou sua atuação com ações direcionadas, principal­ de esmagamento de soja do complexo da Companhia
mente, para a educação. Mogiana de Óleos Vegetais, localizada em Catalão, GO.
Foram R$ 10 milhões que aumentarão sua capacidade
O primeiro passo foi dado em junho de 1991, em de suprir as crescentes necessidades do mercado de
Apucarana, PR, onde a Caramuru implantou o pro­ soja. A Caramuru já tinha em seus planos investir mais
grama “Escola Empresa”, focado na escolarização de R$ 60 milhões na construção de outra unidade de es­
colaboradores da unidade, que já formou mais de magamento, também em Goiás, em Ipameri.
200 funcionários.
Esses investimentos foram necessários – assim como
Em 1998, a unidade de Itumbiara, GO, lançou pro­ outros o serão no futuro – para manter sua competi­
grama de apoio a uma unidade educacional – a esco­ tividade no agronegócio, sua liderança nos segmentos
la municipal Alexandre Arcipretti, projeto que incor­ em que lidera e, quem sabe, a conquista de liderança
porou outro centro de ensino em 2002, com o apoio em outros segmentos.
prestado à escola municipal Vinícius de Aquino Ra­
mos. Ambos os projetos beneficiam um público esti­ Além disso, a antiga Produtos Alimentícios de Milho Ca­
mado em 1600 alunos. ramuru teve que se transformar no Grupo Caramuru,
uma complexa rede de empreendimentos e pessoas
As escolas beneficiadas contam com o apoio finan­ jurídicas dedicados aos vários negócios a que foram
ceiro do grupo e com os colaboradores da própria impelidos pelo aproveitamento das oportunidades de
empresa que atuam como voluntários. expansão e diversificação dos negócios.

Outra ação do grupo no campo da educação é a par­ A concorrência é acirrada. Além de inúmeros empre­
ceria com o Jornal de Apucarana e o Núcleo Regional endimentos de capital nacional, a Caramuru enfrenta
de Educação de Apucarana no projeto cultural ‘Va­ o poderio das grandes multinacionais do setor, princi­
mos Ler’ que visa despertar nos estudantes o hábito palmente a ADM do Brasil, a Cargill, a Bunge, e a Louis
da leitura e o senso crítico. Dreyfus (Coinbra), detentoras de tradição, tecnologia
e recursos.

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Por isso, as mudanças organizacionais são constan­ de responsabilidade social. Quando este caso foi pre­
tes com o aprimoramento dos processos e estruturas parado, o processo de profissionalização estava em
e o uso cada vez mais avançado da tecnologia de curso adiantado. Os irmãos Alberto, César e Célia são
informação. Exemplos, em 2002, são a migração do membros do Conselho de Administração, do qual Al­
sistema R/3 SAP para a versão 4.6C; a certificação berto é o presidente e César o vice.
da lecitina como produto não transgênico; a certifi­ As direções executivas estão sendo gradualmente
cação ISO 9001 do armazém XL, no Porto de Santos passadas a profissionais contratados – mas, de pre­
e da unidade industrial de Apucarana; a certificação ferência, egressos dos quadros do próprio Grupo.
em Segurança Alimentar HACCP (Hazard Analysis Estava em curso, também, um trabalho de estrutura
Critica Control Points) da industria em Itumbiara e do e processos, com a ajuda de uma consultoria exter­
mesmo Armazém XL, do Porto de Santos. na, a Adigo Consultores, Apoio ao Desenvolvimento
Individual de Grupos e Organizações. Já tinham sido
definidas a missão empresarial, os valores e o código
15. Desafios para o futuro de ética do Grupo.

O agronegócio, por um lado, é visto como de econo­ A continuidade dessa evolução e as decisões que os
mia básica, a ser sucedido, à medida que as econo­ herdeiros de Múcio Rezende vierem a tomar é que
mias emergem e se desenvolvem, pela indústria e, definirão a consolidação do ímpeto empreendedor de
depois pelos serviços. Mas dentro do “básico” exis­ um homem simples e determinado, num conglome­
tem diversos patamares de evolução que passam rado empresarial de abrangência imprevisível.
pela agricultura das rocinhas e alcançam os níveis
mais sofisticados, do ponto de vista do uso inteligen­
te da terra e da sazonalidade, das escalas de produ­ 16. Questões para discussão
ção, do crescimento da produtividade, da logística,
dos investimentos, da competência na navegação 1. Você concorda com que o empreendedorismo é
pelas marés dos preços internacionais. uma faceta de personalidade em boa parte embutida
no “DNA” de uma pessoa, mais do que uma disciplina
A Caramuru percorreu e continua galgando esses pa­ “aprendida na escola”?
tamares, do comércio de produtos sem valor agrega­ 2. Se você concorda, que características de persona­
do, através da agricultura de base, até a industria­ lidade distinguem um empreendedor de um gestor
lização e exportação em escala gigantesca e até a competente? Um início de vida difícil é um estímulo
criação de marcas de produtos de consumo. importante para revelar capacidade empreendedora?
Ou pessoas com boa posição social e boa formação
O agronegócio é vital para a economia brasileira. A educacional, nascidas em famílias não proprietárias
agregação de valor permitida pela industrialização é de negócios, podem se revelar bons empreendedo­
cada vez mais necessária. A gestão de marcas de res? Procure exemplos de empreendedorismo inicia­
bens e serviços é um estágio ainda incipiente para o dor de empresas de sucesso em pessoas de várias
empresariado nacional, mas vital para a definitiva in­ origens e formações.
clusão do Brasil no “primeiro mundo”. A vida colocou 3. É possível para um empreendedor tornar-se um
Múcio Rezende no meio rural; seu empreendedoris­ competente gestor dos empreendimentos que inicia
mo, em conseqüência, levou-o ao agronegócio. Ele ou é recomendável que o empreendedor se cerque de
e, depois, a família, compraram e venderam porcos, gestores profissionais desde logo? Segundas e tercei­
mexeram com café e arroz, industrializaram milho ras gerações de empreendedores de sucesso podem
e soja, iniciaram-se no girasol, desenvolveram com­ se tornar administradores de negócio competentes
petência na logística, nas finanças, na gestão da TI, e manter o espírito empreendedor eventualmente
tornaram-se exportadores de peso, lançaram-se nos “herdado”?
produtos de consumo. 4. Nestes tempos de competição acirrada, desenvol­
vimentos tecnológicos acelerados e crescente com­
Além disso, em apenas duas gerações, compreen­ plexidade da gestão empresarial, negócios de família
deram a importância de profissionalizar um negócio que evoluam para o nível de “grandes negócios” po­
nascido familiar e de cumprir um significativo papel dem se transformar em empresas “perenes” dentro

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do âmbito estritamente familiar? Que estratégias ad­ 17. Bibliografia e fontes
ministrativas essas empresas deveriam adotar para
perpetuar o êxito inicial? • ABAG – Associação Brasileira de Agribusiness
5. No seu entender, que providências a Caramuru de­ – artigos – www.abag.com.br/a90.htm
veria tomar para completar a profissionalização da • CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento
gestão e a racionalização da administração do capital • DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedoris­
da família no Grupo Caramuru? mo corporativo: como ser empreendedor, inovar
6. A Caramuru evoluiu, com rapidez, em meros 40 e se diferenciar na sua empresa. Rio de Janeiro:
anos, por diversos sub-segmentos do agronegócio Campus. 2003.
– café, arroz, milho, soja e, recentemente, girassol. • DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedoris­
À luz de uma análise do futuro do agronegócio, no mo: transformando idéias em negócios. Rio de
Brasil e no mundo, que outras evoluções você arrisca Janeiro: Campus. 2001
prever para o contínuo desenvolvimento e estabilida­ • Empreendedorismo e estratégia – Harvard Busi­
de da empresa? ness Review – Ed. Campus
7. O agronegócio é um negócio de economia de base. • Folha de São Paulo, 28/02/2004, PIB tem a pri­
Uma empresa que alcance sucesso em agronegócio meira queda desde 92 – por Chico Santos
pode perpetuar-se sem evoluir para a indústria ou o • http://www.planejamento.gov.br/arquivos_
serviço? down/assec/Nota_Assec_PIB_2003_graficos.pdf
8. A Caramuru deveria perseguir sua experiência ini­ • MARCOVITCH, Jacques. Pioneiros & empreen­
cialmente exitosa, mas ainda limitada, no ramo de dedores: a saga do desenvolvimento no Brasil.
produtos de consumo ou mantê-la como um negócio São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
“derivado” que apenas aproveita a matéria prima que 2003.
é a base do seu negócio principal? • Revista Panorama Rural, Março de 2004, Pág 20,
9. A marca Sinhá, com esse nome que provavelmen­ repórter Alicia Gonzalez
te evoca a cozinha tradicional e caseira, na sua opi­ • SECEX – Secretaria de Comércio Exterior
nião, é adequada para uma expansão da marca para
as regiões do país em que ainda não está presente?
E para categorias de produto que não sejam aquelas
ligadas aos produtos fundamentais que hoje nomeia? Agradecimentos
E para segmentos consumidores mais jovens não fa­
miliarizados com a cozinha brasileira tradicional? Es­
ses segmentos poderiam ser induzidos a perceber na • César Borges de Sousa, vice-presidente do Gru­
marca Sinhá a credibilidade e autenticidade da “boa po Caramuru
e velha” cozinha brasileira e caseira para endossar • Alex Branco, assessor de imprensa do Grupo Ca­
produtos modernos, como instantâneos, dietéticos e ramuru
refrigerados? Ou, se a Caramuru decidir expandir seu • Equipe da CONAB: Dr. Silvio I. Porto, Wanderley
negócio de produtos de consumo nessa direção, de­ Anciães, Rocilda Moreira, Carlos Tavares e Marco
veria pensar desde logo em novas marcas segmen­ Carvalho.
tadas? • Eduardo Cavalcanti, jornalista

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