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Migrações sob o esquadro e o compasso:

300 anos de histórias da maçonaria


Migrations under the Square and Compasses: 300 Years of Freemasonry Stories
Migraciones bajo la escuadra y el compás: 300 años de historias de la masonería

Felipe Corte Real de Camargo1*

ESQUIVEL, Ricardo Martínez; ANDRÉS, timo Congresso Mundial sobre Fraternalis-


Yvan Ponzuelo; ARAGÓN, Rogelio (Org.). mo, Maçonaria e História, em Paris.1 Mesa
300 años: Masonerías y Masones (1717- esta que avivou o debate sobre a pluralidade
2017). Tomo I: Migraciones. Ciudad de da maçonaria em suas práticas e seus pen-
México: Palabra de Clío, 2017. 194p. samentos reafirmando que não deve haver
maçonaria no singular para quem pesquisa
este fenômeno.
Escrever uma antologia é sempre uma Os editores da coleção, Ricardo Martí-
tarefa complexa. Mais do que a reunião de nez Esquivel, Yvan Ponzuelo Andrés e Roge-
textos diversos sobre um determinado as- lio Aragón – respectivamente diretor, editor
sunto, é necessário ritmo, coerência e coe- e contribuidor regular da REHMLAC –,
são; além de unidade temática e estilística, segundo suas falas nos congressos de Paris
mesmo para textos contraditórios entre si. (maio de 2017) e Havana 2 (julho de 2017),
Tal necessidade aumenta ao se produzir uma querem demonstrar o caráter plural do fe-
antologia em cinco volumes, da qual o pri- nômeno maçônico, ou seja, das maçonarias.
meiro volume é o tema aqui. Por meio dessa multiplicidade querem tam-
bém dar visibilidade à miríade de pesquisas
A coleção 300 Años de Masonería (Es-
e pesquisadores que a Ordem3 abarca.
quivel, 2017) busca organizar as ideias e
O primeiro volume tem o abrangen-
os ideais, que bem poderíamos chamar de
te título Migraciones, desta maneira busca
pós-coloniais, que vêm sendo produzidos
evidenciar os usos, as recepções e as apro-
em torno da Revista de Estudios Historicos
de la Masonería Latinoamericana y Caribeña
(REHMLAC). Com dez anos de existência,
1
Painel: “Imperialism, Colonialism and Multiple
Freemasonries”. World Conference on Fraternalism,
o periódico ascendeu de um difusor dos tra-
Free Masonry and History. 2017, Paris.
balhos latinos sobre história da maçonaria 2
V Simposio Internacional de la Masonería
para um coletivo de ideias que, por exemplo, Latinoamericana y Caribeña. 2017, La Habana.
organizou sua própria (e maior) mesa no úl-
3
São termos intercambiáveis: Maçonaria, Franco-
-Maçonaria, a Ordem, a Fraternidade, entre outros.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/2237-101X01903812
Resenha recebida em 4 de setembro de 2017 e aprovada para a publicação em 11 de outubro de 2017.
1
Universidade de Bristol, Bristol, Reino Unido.
* Doutorando pela Universidade de Bristol, Inglaterra. E-mail: fc15629@bristol.ac.uk.

Topoi (Rio J.), Rio de Janeiro, v. 19, n. 38, p. 268-272, mai./ago. 2018 | www.revistatopoi.org 268
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300 anos de histórias da maçonaria
Felipe Corte Real de Camargo

priações não somente do fenômeno estrutu- de La Habana (Cuba), Eduardo Torres-Cue-


rante que é a maçonaria, como os impactos vas. O historiador nos leva pela fragmentada
produzidos pelo que poderíamos chamar de história da maçonaria cubana por meio de
“ideário maçônico”, que se confunde – mes- suas divisões e influências. Ao ler o segundo
mo por ser produtor e produto – com a pró- capítulo, o leitor percebe que há um certo
pria modernidade. padrão fragmentário nas maçonarias latino-
Na primeira parte do livro, tal como na americanas e que tais cisões acontecem por
tradição universitária, temos a fala do de- dois motivos principais: as variadas influên-
cano. O professor dr. José Ferrer Benimeli, cias recebidas (Espanha, França, Inglaterra
com mais de 40 anos de pesquisas em torno e Estados Unidos) e o papel central que as
do tema, revisa as fontes e a historiografia organizações maçônicas ou criadas nos mol-
produzida entre Espanha e México no oito- des da maçonaria irão execer nas nascentes
centos. Assim, demonstra os usos feitos da repúblicas. Tal atuação se deve ao fato de
história da maçonaria, tanto nas vertentes que as lojas maçônicas se apresentam como
laudatórias quanto nas detratórias. Desta os primeiros corpos de auto-organização po-
maneira põe em xeque meias-verdades e mi- lítico-partidária nos séculos XVIII e XIX na
tos perpetuados por historiadores profissio- América Latina.
nais e amadores, com as intenções mais di- Torres-Cuevas coloca em suspenso ques-
versas. Apresentando erudição não somente tões sobre as origens da maçonaria na ilha.
da história da maçonaria como da história Seguindo também a tradição mais clássica,
do mundo ibérico, Benimeli demonstra a tal como Benimeli, prende suas conclusões a
relevência dos estudos maçônicos e suas li- provas documentais. Porém, insinua bastan-
gações não somente aos temas mais variados te livremente sobre possibilidades, chegando
da historiografia tradicional, mas também inclusive a apontar uma possível presença de
sua utilidade para problematizar questões “maçons operativos” (pedreiros que teriam
propostas e por vezes tidas por resolvidas. sido a origem da maçonaria moderna, dita
Porém, o desfile erudito de autores, fatos, “especulativa”) na construção da Catedral
fontes e datas se apresenta pouco convidati- de Havana. Das primeiras lojas fundadas no
vo para o “abre-alas” de uma antologia. No final do século XVIII por maçons fugidos
afã de clarificar uma discussão nebulosa, Be- da Revolução Haitiana, passando pela pro-
nimeli demonstra de maneira crua que para fusão de lojas e Grandes Orientes por quase
desvendar o hermetismo da história da ma- 30 anos até o período final do século XIX,
çonaria é necessário adentrar dois outros: o no qual se estabelecem as potências maçôni-
da historiografia e o da diplomática. cas que formariam o panorama da Ordem
O capítulo seguinte segue uma metodo- em Cuba no século XX, o autor oferece uma
logia semelhante, a divisão da argumentação história bem costurada com pausas para
em três tempos, e fica a cargo de um dos análises bastante sintéticas, auxiliando o
mais renomados professores da Universidade entendimento de uma história com muitas

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nuances e recheada de jargões. metade do século XIX e os motivos para as


O capítulo de Éric Saunier, professor da rusgas entre a Igreja Católica e seus mem-
Universidade do Havre (França) demonstra, bros. Pretendendo apresentar um panorama
por meio de uma escrita fluida e precisa, muito completo, o artigo de Esquivel tende,
como a história da maçonaria compõe um a partir da metade do texto, para uma nar-
mosaico com a história política. Por meio de rativa mais tradicional da história política,
uma problemática que muito bem poderia o que contrasta fortemente com a primeira
se resumir a questiúnculas relativas a lojas parte, mais analítica e arrojada.
maçônicas periféricas e suas relações com Na sequência, os primeiros anos da ma-
a sua obedicência central, Saunier apresen- çonaria mexicana são passados em revista
ta de que modo se deram costuras políticas pela experiente historiadora Maria Eugênia
que permitiram lojas maçônicas antilhanas Vazques Samenedi. Com consistente trajetó-
e lojas maçônicas francesas em cidades por- ria acadêmica no campo da história da ma-
tuárias a continuarem fiéis às políticas po- çonaria, a autora revisa as obras que (por an-
ligenistas, impedindo a iniciação de negros tiguidade ou merecimento) são tidas como
em suas lojas, contrariando assim a políti- indispensáveis para contar a história da Fra-
ca liberal parisiense do Grande Oriente da ternidade em território mexicano. Mesclan-
França. O capítulo de Saunier reflete a teoria do análise, crítica e novas fontes, a historia-
que mesmo dentro de uma mesma obediên- dora desmonta mitos maçônicos mexicanos,
cia maçônica há variados entendimentos como a “lenda” de que a primeira loja ma-
sobre sua práxis, cessando, uma vez mais, o çônica no México dataria de 1806 e que se
entendimento ingênuo da maçonaria como localizaria na Calle de las Ratas. Além deste,
homogênea e unívoca. desmonta o argumento, bastante comum,
Ricardo Martinez Esquivel assina o ca- entre os historiadores mais tradicionais, de
pítulo que trata da origem da maçonaria que a fundação das lojas maçônicas teria um
centro-americana, nascida em seu país, Cos- caráter eminentemente político. Somente
ta Rica. O autor discorre com desenvoltura por esses dois feitos, o capítulo já se torna
sobre o tema, sobre o qual pesquisa há qua- indispensável para qualquer pesquisador do
se dez anos, principalmente quando foca na tema na América Latina. Porém, mais
análise das redes de sociabilidade que a fra- do que isso, a historiadora aclara, de maneira
ternidade teceu naquele país e nos seus vizi- sutil, nas últimas páginas, algumas questões
nhos, ano após ano. O ponto forte do artigo de teoria e metodologia que tendem a ser ne-
se apresenta na relação que Esquivel estabe- gligenciadas em temas que não fazem parte
lece entre os dados de suas pesquisas prévias do mainstream historiográfico, como a dife-
com panoramas mais gerais da história da renciação entre a análise da história de uma
chamada América Latina. Mesmo o leitor instituição e a análise das narrativas que se
neófito no tema poderá entender o peso que fazem sobre ela.
a francomaçonaria teve a partir da segunda Dévrig Mollès, historiador e diretor cien-

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tífico do Arquivo da Grande Loja da Argen- A sociedade civil, seus elementos e constructos
tina, traz um olhar desde aquele país sobre são analisados de maneira bastante didática
a chegada do feminismo na América Latina. pelo autor, que busca entender de que manei-
Com esse tema demonstra o papel central ra as organizações voluntárias têm o poder de
que a maçonaria teve ao servir como base, promover, criar e contribuir para a democra-
dada sua capilaridade, aos movimentos van- cia (e se, de fato, contribuem). Analisando a
guardistas do começo do século (feminismo, maçonaria nesse espectro teórico mais amplo
anticlericalismo, livre-pensamento) que con- o autor clarifica uma das discussões mais re-
figuraram o moderno sistema-mundo. Tal correntes – porém pouco aprofundadas – no
fenômeno teria ocorrido dado que as redes campo da história da maçonaria na contem-
maçônicas formaram uma “plataforma de poraneidade: aquela relativa à esfera pública.
transferências culturais e um espaço de lutas O debate, trazido atualmente por Habermas,
culturais”. A escrita de Mollès flui de ma- é tema obrigatório em todo trabalho sobre a
neira singular, sua clareza conceitual e suas Franco-Maçonaria, e este capítulo é um bom
escolhas bibliográficas, enxutas e certeiras, guia para aqueles que desejam abordar o tema
fazem de seu capítulo um ótimo panorama com maior propriedade. Além do cabedal teó-
sobre os movimentos de emancipação femi- rico, em sua maioria oriundo da Ciência Po-
nina na América Latina, suas relações com os lítica, apresentado pelo autor, somos também
movimentos socialistas e com a maçonaria. brindados com uma pequena análise da mito-
O historiador chileno Felipe Santiago logia maçônica em sua expressão estaduniden-
del Solar nos oferece um breve panorama se, e de como a exacerbação, ou mero exagero,
dos primeiros anos da maçonaria no Chile. do papel da maçonaria na história política dos
Para tal, faz uma análise das primeiras obras países se expressa em um aumento de impor-
que dão conta das atividades maçônicas no tância real da Ordem.
país andino. Este recorrido, del Solar não o A crítica a este volume é a mesma que se
faz apenas por uma questão de crítica histo- pode fazer a qualquer compilação de ensaios
riográfica, mas porque a grande maioria da sobre a maçonaria, isto é, os autores estão se-
documentação maçônica chilena se perdeu parados por um tema comum. Explico: como
após um terremoto no começo do século a maçonaria foi, e continua sendo, um tema
XX. Apesar de bastante conciso, o capítulo é marginal na academia, há uma considerável
o relato de uma trajetória maçônica bastan- defasagem teórica, muitas vezes causada pela
te tardia e singular se comparada aos outros necessidade dos autores acadêmicos de se co-
países latinos. municar com o seu público, mormente leigo,
O fechamento do livro fica nas mãos de no que concerne às questões historiográficas.
Guillermo de los Reyes-Heredia, professor da Outro traço dessa separação é a variedade de
Universidade de Houston (Estados Unidos), termos para definir as questões maçônicas que
que escreve sobre um tema que pode não pa- por vezes tais pesquisadores cunham e apli-
recer “demasiado maçônico”, à primeira vista. cam unilateralmente. Variedade esta causada

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pela falta de conhecimento dos termos usados grata surpresa.


pelos próprios maçons ou, quando há o co- Como citar:
nhecimento destes, devido a uma necessidade ESQUIVEL, Ricardo Martínez; AN-
de se diferenciar dos “maçons historiadores”. DRÉS, Yvan Ponzuelo; ARAGÓN, Roge-
A história da maçonaria tem sido produzida lio (Org.). 300 años: masonerías y masones
por maçons frequentemente sem formação (1717-2017). Tomo I: Migraciones. Ciudad
acadêmica na área das humanidades, o que de México: Palabra de Clío, 2017. 194p. Re-
torna fundamental a crítica à produção “do- senha de CAMARGO, Felipe Corte Real
mingueira”. Seja qualquer um dos motivos, de. Migrações sob o esquadro e o compasso:
a falta de uniformidade conceitual pode in- 300 anos de histórias da maçonaria. Topoi.
quietar quem conhece os termos maçônicos e Revista de História, Rio de Janeiro, v. 19, n.
confundir quem deseja conhecer. 38, p. 268-272, mai./ago. 2018. Disponível
De qualquer maneira, o primeiro volume em: <www.revistatopoi.org>.
desta coleção mostra que os estudos acerca
da maçonaria evoluem para um debate mais Referência Bibliográfica
público e qualificado. Longe de ser uma seita
ou uma religião, ou ainda uma conspiração ESQUIVEL, Ricardo Martínez;
para dominar o mundo, conforme as crendi- ANDRÉS, Yvan Ponzuelo; ARAGÓN,
ces à direita e à esquerda, a maçonaria é um Rogelio (Org.). 300 años: Masonerías y
capítulo incontornável da história moderna Masones (1717-2017). Tomo I: Migraciones.
e contemporânea. Como todos os mitos da Ciudad de México: Palabra de Clío, 2017.
modernidade, urge desativá-la na sua mística 194p.
e analisá-la em sua historicidade. Para quem
deseja dar os primeiros passos ou incrementar
os que já foram dados, Migraciones será uma

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