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Ayahuasca
Ayahuasca (doquíchua aya, que significa 'morto, defunto, espírito', e waska, 'cipó',
podendo ser traduzido como "cipó do morto" ou "cipó do espírito"), também conhecida
como hoasca, daime, iagê, santo-daime e vegetal, é uma bebida enteógena
produzida a partir da combinação da:
- videira Banisteriopsis caapi (cipó mariri http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-
865917978-cipo-mariri-500g-p-cha-_JM) Pode ser substituído
por banisteriopsis inebrians ou por Arruda da Síria.
com várias plantas, em particular a:
- Psychotria viridis (chacrona) ( http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-865913541-
200g-folha-chacrona-para-cha-_JM) e a :
- Diplopterys cabrerana ou chaliponga; (pode ser substituída por Jurema Preta =
Mimosa hostilis)
(http://www.naturezadivina.com.br/loja/product_info.php?products_id=214).
A produção e o consumo da bebida são difundidos no mundo todo, em especial nos países
ocidentais. A ayahuasca é, frequentemente, associada a rituais de diferentes grupos
sociais e religiões, além de fazer parte da medicina tradicional dos povos da Amazônia.
Sinonímia
O nome ayahuasca pode designar tanto o cipó Banisteriopsis spp. quanto a bebida.
Entre as traduções para esse nome, estão "cipó do homem morto" (aya significando
"espírito, morto ou ancestral" e huasca significa "vinha ou corda"), "liana das almas",
"cipó dos espíritos", "cipó da pequena morte", "vinho da alma". Os nomes além do
significado literal referem-se a elementos de significação cultural, a exemplo de
"professor dos professores", "planta professora", entre outros.
Na tabela a seguir, são descritos os diversos nomes atribuídos à bebida pelos grupos que
a consomem:
Grupo Cipó Folha Bebida
• A Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu (em 20 de fevereiro de 2006) que o
governo estadunidense não pode impedir a filial da União do Vegetal no Estado
do Novo México de utilizar o chá ayahuasca em seus rituais religiosos. O veredicto
atesta que o grupo religioso está protegido pelo Religious Freedom Restoration Act,
aprovado pelo congresso em 1993, e que foi peça jurídica fundamental no processo
que legalizou o uso ritual do cacto peiote (cujo princípio ativo é a mescalina)
pela Native American Church — congregação que reúne descendentes de algumas
etnias indígenas norte-americanas.
• O Órgão Internacional de Controle de Entorpecentes (OICE), órgão de fiscalização
independente e quase-judicial criado para monitorar a implementação das
Convenções Internacionais das Nações Unidas (ONU) de controle de drogas, afirmou
em 2001 através de um fax do seu Secretário enviado ao Ministro de Saúde Pública
dos Países Baixos que as bebidas preparadas a partir das plantas que compõem a
ayahuasca não são substâncias controladas nos termos da Convenção sobre
Substâncias Psicotrópicas das Nações Unidas de 1971[40], cuja autoridade jurídica o
governo brasileiro reconhece no Decreto no. 154 de 26 de junho de 1991. [41] Em
relatório anual de 2010, o OICE afirmou que há riscos para a saúde no uso abusivo da
ayahuasca, e aconselhou os governos a adicionarem a bebida à lista de substâncias
controladas em populações onde ocorra o uso fora de contextos tradicionais, como o
uso recreativo ou a compra e venda da bebida e das plantas que a compõem.
• O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [[analisa transformar a
ayahuasca em patrimônio imaterial da cultura brasileira, a pedido do então
ministro Gilberto Gil e das religiões que comungam da bebida. No Peru, a bebida já foi
declarada patrimônio cultural da nação. No Peru, a ayahuasca passou a ser
considerada patrimônio cultural da nação a partir de 2008. [43]
Farmacologia
Cientificamente, a propriedade psicoativa da Ayahuasca se deve à presença, nas folhas da
chacrona ((Psychotria Viridis), de uma substância denominada N,N-dimetiltriptamina
(DMT), produzido naturalmente (em doses menores) no organismo humano. O DMT é
metabolizado pelo organismo por meio da enzima monoamina oxidase (MAO). O caapi
(cipó Mariri) possui alcaloides capazes de inibir os efeitos da MAO e, assim, evitar a
oxidação da molécula de DMT, o que a tornaria inativa. Desse modo, o DMT fica ativo
quando administrado por via oral, tendo sua ação prolongada.
Os harmanos são as betacarbolinas inibidoras de monoamina oxidase. A harmina e
a harmalina têm preferência pela inibição da enzima MAO-A, e, em altas doses, podem
passar a inibir a MAO-B, enquanto a tetraidroarmina (THH) é, além de um inibidor da
monoamina oxidase, um inibidor da recaptação de serotonina de baixa intensidade,
prolongando, assim, a meia-vida da molécula de DMT. Estes compostos permitem que as
moléculas de DMT não sejam metabolizadas, e assim atravessem a mucosa do estômago
e do intestino para que, então atravessando a barreira hematoencefálica, possam chegar
aos seus receptores correspondentes no cérebro Polimorfismos na enzima citocromo
P450-2D6 podem afetar a capacidade de um indivíduo de metabolizar a harmina.
A ayahuasca provoca alucinações entópticas (fosfenos), originadas entre o nervo óptico e
o córtex cerebral, que se encaixam em padrões geométricos previsíveis, como mandalas,
podendo também lembrar formas do mundo natural, como flores. Isto ocorre porque o
agonismo de receptores 5-HT2A abaixa a pressão ocular, naturalmente produzindo
fosfenos. Ela também provoca alucinações eidéticas, as chamadas visões, originadas
no hipocampo e no lobo temporal mesial, associadas à
alta neuromodelação de acetilcolina. Sob o efeito da ayahuasca, um ambiente escuro e o
repouso corporal potencializam alucinações eidéticas porque auxiliam as betacarbolinas
(que são hipnóticos) na indução do estado hipnagógico, aquele estado transitório entre a
vigília e o sono, no qual aumenta a atividade colinérgica.
Conforme a dose se eleva, há maior tendência de ocorrerem alucinações erráticas, estas
definidas como alterações na percepção do espaço, principalmente do contorno e tamanho
de formas, e da passagem do tempo. O caapi (cipó Mariri) e a chacrona potencializam-se
reciprocamente. As betacarbolinas, por seus efeitos hipnóticos, induzem ondas cerebrais
que favorecem as alucinações eidéticas, produzidas em maior potencial pela DMT, e as
ondas induzidas pela DMT favorecem as alucinações entópicas, produzidas em maior
potencial pelas betacarbolinas. Estas alucinações são bastante fluídas: uma alucinação
eidética pode formar-se gradualmente a partir de elementos de uma entópica, e pode
facilmente esvair-se, transformar-se em outra.
A jurema (Loja:Shop2953092 Store) funciona através de método análogo à ayahuasca. Ela
contém N,N-DMT e Juremamina, a qual atua como inibidor de MAO.
Formas de preparação
Banisteriopsis caapi
Efeitos
Efeitos fisiológicos
Durante a sua ação, a bebida provoca aumento do diâmetro pupilar, da frequência
respiratória, da pressão arterial, tanto diastólica quanto sistólica; e aumenta drasticamente
as respostas neuroendócrinas para prolactina,cortisol e hormônio do crescimento
plasmático. Estas são ações típicas da N,N-DMT, ou de qualquer outro psicoativo que
também atue sobre os receptores 5-HT,tal como a LSD ou a psilocina. Esta ação pode
gerar sensações de queda de pressão, de súbito frio ou de calor, e ainda, tremores.
A ocorrência de náuseas, vômitos e diarreias pode estar associada à ação da bebida
sobre o receptor 5-HT2. Outros efeitos específicos são o aumento da empatia, a
diminuição da fome e um aumento na acuidade da visão noturna.
Devido à presença da harmina no caapi, a ayahuasca tem ação afrodisíaca, provocando
um aumento do vigor e do desejo sexual em seus usuários. A N,N-DMT, presente na
chacrona (Psichotria Viridis), também pode ter um papel nesta ação: estudos com 5-MeO-
DMT apontaram efeitos de estimulante sexual quando agia sobre receptores 5-HT2 e de
inibidor sexual quando agia sobre receptores 5-HT1. A ação inibitória desta triptamina foi
potencializada com a elevação da sua dose.
A bebida altera a natureza dos sonhos, que podem alterar em conteúdo, modo de
apresentação e intensidade, causando um aumento no realismo das sensações oníricas.
Podem ocorrer sensações de liberação dos limites normais de espaço-tempo. Em alguns
casos, sob altas doses, podem ocorrer episódios de distorção sonora. Entretanto, por
razões desconhecidas, não é normalmente relatado que os usuários escutem vozes,
experiência comum quando ingeridas substâncias bem próximas à N,N-DMT presente na
ayahuasca, como a 4-HO-DMT ou psilocina, presente nos cogumelos mágicos. Os
cogumelos também se diferenciam da ayahuasca na natureza das visões, por induzirem
ao riso e por alterarem a clareza dos pensamentos, características que também podem
ocorrer sob altas doses de cannabis.
Os usuários de ayahuasca costumam relatar fenômenos parapsíquicos com seu uso,
como a clarividência. Quando tomada em grupo, os usuários relatam experiências
telepáticas. Por este motivo, o primeiro nome que foi dado à harmina, presente no caapi,
foi Telepathine.
Ao contrário de outras triptaminas, como a LSD e os cogumelos mágicos, os efeitos da
ayahuasca não diminuem em intensidade com o uso frequente ou diário: é possível passar
meses a fio, ininterruptamente, sob o efeito da bebida. Após cessado o uso, podem
acontecer flashbacks, isto é, alguns dos efeitos voltarem, muitas horas após terem
cessado.
Efeitos cognitivos
Segundo os relatos dos usuários, a Ayahuasca produz uma ampliação da percepção que
faz com que se veja nitidamente a imaginação e acesse níveis psíquicos subconscientes e
outras percepções da realidade, estando sempre consciente do que acontece — as
chamadas mirações. Os adeptos consideram esse estado como supramental
"desalucinado" e de "hiperlucidez" ou êxtase. O estado alterado pode se dar por visões
interiores. Em doses baixas ou moderadas, o usuário consegue distinguir tais visões ou
"mirações" pessoais do que vê externamente com seus olhos; em altas doses, estas
visões podem se sobrepôr e se misturar ao que vê com olhos abertos, e a percepção de
objetos externos também pode se alterar: é comum nestas doses, por exemplo, ver os
dedos das mãos em forma diferente do real.
Segundo algumas linhas tradicionais de uso, a ingestão dessa bebida pode provocar a
absorção ou contato com o "Espírito da Planta" ou com uma "Planta Professora". Usuários
relatam, dentre outras sensações, ter os sentidos expandidos, os processos mentais e as
emoções tornarem-se mais profundos. A experiência vivenciada é a de poder mover-se em
muitas dimensões: "o voo da alma", uma sensação de partida do espírito do corpo físico,
para partir rumo a viagens astrais. Nestas viagens, ocorre a exploração tanto de novos
aspectos do mundo ordinário como de "mundos paralelos", que estariam além da
percepção corrente. O usuário pode experienciar a sensação de ser colocado na situação
de espectador externo de seus próprios atos, de tal modo que é chamado a um exame de
consciência. Esta experiência pode ser bastante súbita e violenta, sendo chamada pelos
adeptos religiosos de "apanhar","peia", "cacete","chicote", dentre outros termos.
A experiência pode em algum ponto revelar visões notáveis, insights, produzir catarses e
conseqüentes experiências de renovação e de renascimento; visões arquetípicas, de
animais, plantas e flores, mandalas, cidades, de espíritos elementais, de cenas que podem
ser interpretadas como lembranças de vidas passadas, ou de divindades. É possível que a
experiência induza a lembrança de memórias esquecidas ou muito recuadas no tempo,
como aquelas da primeira infância. Entretanto, também é possível que produza visões de
aspectos desagradáveis ou reprimidos do subconsciente, ou de entidades de aspecto
perturbador, como demônios. Abre-se o portal para outras formas de realidade, do acesso
ao inconsciente numa perspectiva psicanalítica e da criatividade do ponto de vista da
neuropsicologia e da estética.
Potencial terapêutico
No Brasil, o Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (CONAD) decretou, através de
relatório, que "Qualquer prática que implique utilização de Ayahuasca com fins
estritamente terapêuticos, quer seja da substância exclusivamente, quer seja de sua
associação com outras substâncias ou práticas terapêuticas, deve ser vedada, até que se
comprove sua eficiência por meio de pesquisas científicas realizadas por centros de
pesquisa vinculados a instituições acadêmicas, obedecendo às metodologias científicas.
Desse modo, o reconhecimento da legitimidade do uso terapêutico da Ayahuasca somente
se dará após a conclusão de pesquisas que a comprovem. Com fundamento nos relatos
dos representantes das entidades usuárias, verificou-se que as curas e soluções de
problemas pessoais devem ser compreendidas no mesmo contexto religioso das demais
religiões: enquanto atos de fé, sem relação necessária de causa e efeito entre uso da
Ayahuasca e cura ou soluções de problemas."
Pesquisadores estão encontrando indicativos de que a ayahuasca talvez auxilie no
tratamento do câncer, como também pode ter efeitos contrários aos agentes da malária e
doença de Chagas, e auxiliar na reversão de quadros de alcoolismo e comportamento
suicida, na recuperação de quadros de ansiedade fóbica, autismo, esquizofrenia,
desordem de déficit de atenção por hiperatividade e demência senil.
Embora todos os grupos ofereçam auxílio aos dependentes químicos, existem grupos
especificamente voltados para o uso da ayahuasca na superação da dependência
química, como a Associação Beneficente Luz de Salomão. Dependentes em tratamento
que optaram pela ayahuasca ao invés dos medicamentos tradicionais, como
antidepressivos ou a metadona, relatam que a bebida é mais eficaz por não provocar
dependência e efeitos colaterais pesados, tal como fazem estes remédios. Apesar disso,
ainda não existem estudos científicos que determinem de modo conclusivo a existência ou
não de indução de tolerância, síndrome de abstinência ou desejo compulsivo advindos do
consumo da ayahuasca, ou que ela não seja uma terapia de substituição.
Estudos indicam que o potencial de auxílio no tratamento da depressão e da dependência
química se concentra na harmina, presente no caapi. Enquanto os antidepressivos (SSRIs)
funcionam inibindo a recaptação de neurotransmissores, a ayahuasca funciona inibindo a
destruição dos neurotransmissores por enzimas. Assim, teoricamente, é possível uma
modalidade de tratamento que utilize uma bebida preparada apenas a partir do caapi, para
aqueles pacientes que queiram se tratar sem participar das intensas experiências
visionárias proporcionadas pela N,N-DMT, presente na chacrona. Extratos do B. caapi
também apresentam um potencial terapêutico para mal de Parkinson e outras desordens
neurodegenerativas.
Saúde física
Sistema digestivo
São comuns, após a ingestão da ayahuasca, relatos de vômitos, sudorese e diarreia em
uma proporção não muito bem estabelecida, entre os que a experimentam, podendo
resultar, segundo alguns pesquisadores, em quadros de desidratação e descompensação
eletrolítica, de modo mais agravado em organismos sensíveis, como os de crianças. As
razões pelas quais alguns indivíduos apresentam distúrbios eméticos e outros não,
permanecem obscuras.Os grupos religiosos, entretanto, defendem que a bebida não é
prejudicial à saúde digestiva, pois, em sua visão, os vômitos atuam como instrumento de
purificação e limpeza das impurezas físicas e espirituais presentes no organismo. Sabe-se
que diversas condições clínicas e digestivas podem eliciar o vômito. Observe-se que um
dos nomes da bebida ayahuasca no Peru e outras regiões da América do Sul é "la purga"
Sistema cardiovascular
A ayahuasca altera parâmetros cardiovasculares, podendo trazer efeitos nocivos para
pessoas com problemas cardíacos graves. Para pessoas em bom estado de saúde
cardíaca, entretanto, a bebida não oferece riscos significativos imediatos comprovados. A
imprensa brasileira relatou, por exemplo, o caso de um jovem que tinha Síndrome de
Marfan, doença que provoca alterações cardiológicas e vasculares graves, que morreu
após ter ingerido a bebida.
Ainda são necessários estudos para determinar se a ayahuasca pode causar valvopatia a
longo prazo. Esta suspeita existe porque a N,N-DMT apresentou alta afinidade pelos
receptores 5-HT2B em ensaios in vitro, com valores de 0,108µM e 0,184µM, e por existirem
estudos demonstrando uma ligação de causa-efeito entre o uso frequente ou crônico de
drogas serotoninérgicas com alta afinidade por receptores 5-HT2B e o desenvolvimento
de valvopatia no organismo.Também é problemática a ativação de receptores 5-HT2A tanto
pela N,N-DMT quanto pelas β-carbolinas presentes na bebida, visto que causa um
aumento na pressão sanguínea via vasopressina.[119]
Gestantes
No Brasil, o CONAD considerando a utilização secular da Ayahuasca, que não demonstrou
efeitos danosos à saúde e tendo em vista a inexistência de suficientes evidências
científicas em estudos específicos, decretou os termos da Resolução nº 05/04, quanto ao
uso da Ayahuasca por menores de 18 (dezoito) anos deve permanecer como objeto de
deliberação dos pais ou responsáveis, no adequado exercício do poder familiar (art. 1634
do CC); e quanto às grávidas, cabe a elas a responsabilidade pela medida de tal
participação, atendendo, permanentemente, a preservação do desenvolvimento e da
estruturação da personalidade do menor e do nascituro." [120]
Não existem ainda estudos epidemiológicos sobre o uso da ayahuasca em populações
gestantes e mulheres em idade fértil mostrando a presença ou ausência de defeitos
congênitos, motivo pelo qual o psiquiatra Jaime Hallak recomenda que gestantes se
abstenham da bebida até que existam estudos conclusivos [121]; contudo, alguns
pesquisadores supõem que o uso do chá por gestantes pode ser prejudicial ao feto em
desenvolvimento, pois certas β-carbolinas possuem ação co-mutagênica, inclusive
a harmina, que está presente na bebida.
Experimentos conduzidos em ratas grávidas, com doses de ayahuasca equivalentes e
também acima das humanas, apontam a possibilidade de toxicidade ao feto, que varia
conforme a dose e frequência do uso.
Em um estudo que estimou a dose letal da bebida como 50 vezes a dose típica cerimonial,
a ingestão diária do chá, por gavagem, em doses de 4 e 8 vezes maiores do que aquela
consumida quinzenalmente na União do Vegetal levou a óbito cerca de 33,3 e 40% das
ratas grávidas tratadas, respectivamente, caracterizando toxicidade materna. O estudo
reconheceu que em relação à exposição fetal in útero existe uma tendência à ação
teratogênica em ratos, visto que houve aumento na frequência de malformações viscerais,
além de embriofetotoxicidade. Porém, ele afirmou que este estudo deverá ser
complementado com as análises esqueléticas para uma conclusão mais detalhada. O
estudo concluiu que, embora o regime diário não representa a exposição normal no
contexto religioso da União do Vegetal, que o uso abusivo da bebida pode representar um
risco para a saúde humana, principalmente para gestantes, inclusive levando a morte. Os
autores também concluíram que seus resultados revelaram uma baixa toxicidade oral
aguda do chá, que o uso do chá na dose ritualística é seguro e que a administração de
Ayahuasca não pode ser correlacionada com as lesões anatomopatológicas detectadas
uma vez que não houve diferenças significativas entre os grupos.
Em um estudo de revisão que incluiu experimentos com animais e estudos com
integrantes de grupos religiosos R. S. Gable, chegou a conclusão que decocção que
contém DMT e e os alcalóides harmanos usados em cerimônias religiosas tem uma
margem de segurança comparável à codeína, mescalina ou metadona, com um potencial
de dependência de DMT oral e o risco de distúrbios psicológicos mínimos. Calculou
também que a dose letal mediana de alcaloides harmanicos e da dimetiltriptamina (DMT)
em humanos é provavelmente maior que 20 vezes a dose típica cerimonial.
Observe-se também que o reconhecimento do uso tradicional como parte da comprovação
da eficácia e segurança de produtos naturais é possível em algumas legislações
internacionais (Ex. Canadá, Comunidade Européia e México) e recomendado
pela OMS desde a conferência de Alma Ata em 1978. [128]
Saúde mental
Não foi encontrado no uso tradicional em tribos indígenas e no uso religioso em grupos
quase centenários no Brasil, segundo vários estudos científicos, uma relação de causa e
efeito entre o uso da ayahuasca e o desenvolvimento de problemas psicológicos ou
psiquiátricos.[129] Estes estudos realizaram pesquisas instrumentais que resultaram em
baixos escores em medidas de psicopatologia em adultos, baixas frequências de sintomas
psiquiátricos e bom desempenho em testes neuropsicológicos apresentadas entre
adolescentes usuários.Também consta na literatura científica referências a remissão de
quadros psicopatológicos, e constatações de ausência de evidências de deterioração
cognitiva ou da personalidade em usuários com 15 anos de uso. [133]
Entretanto, pesquisadores apontam que todos os estudos desta natureza, existentes na
revisão que realizaram, cometeram o erro metodológico de examinar somente membros
veteranos de grupos religiosos que consomem a bebida, e que portanto, se mostraram
tolerantes aos seus efeitos: não foram inclusos ex-membros que interromperam o uso por
terem sentido consequências neuropsiquiátricas negativas.[113] Estudos realizados em
ratos apontam que a harmalina, presente na bebida, é neurotóxica e degenerativa a um
conjunto específico de células cerebrais que regem a coordenação
motora.[134][135] Observe-se que esta mesma substância, que por si só tem efeitos
psicoativos quando consumida em dose suficiente, está presente em outros vegetais
comumente utilizados na dieta e medicina tradicional em concentrações menores, não
suficientes para surtir tais efeitos, a exemplo das passifloras.e da aveia (Avena sativa) que
também possui alcaloides indólicos tipo betacarbolina com um efeito sedativo fraco
semelhante ao da Passiflora. Naturalmente novos estudos precisam ser realizados e as
comparações devem ser realizadas com os devidos cuidados de equiparação de dose /
equivalência para humanos e especificidade biológica das cobaias utilizadas, e mesmo os
estudos em humanos estão sendo constantemente refeitos como pode ser visto pela
quantidade de artigos realizados aqui citados.
BOUSO et al, 2012, em um estudo longitudinal de um ano com usuários de ayahuasca
regulares (n = 127) e controles (n = 115) afirma não ter encontrado evidências de
desajuste psicológico, saúde mental deterioração ou disfunção cognitiva no grupo que
utilizava ayahuasca.
Em estudo realizado com desenho duplo-cego controlado com placebo, a ayahuasca,
administrada de forma aguda para consumidores com larga experiência com a bebida,
reduziu sinais relacionados ao pânico, diminuiu a desesperança e não alterou os sinais
relacionados com a ansiedade. Entretanto, outros estudos apontam episódios de
ansiedade e paranóia mesmo em ambientes controlados, e estudos dos efeitos
da harmalina em ratos apontaram alterações na ansiedade, na reatividade emocional e no
processo de tomada de decisão.[146]
Interações
Interações com medicamentos e psicoativos
A ayahuasca contém em sua composição inibidores da monoamina oxidase ( MAOIs)
como a harmina, que resultam na maior parte de suas contraindicações. Tomar
um MAOI em menos de cinco semanas após ter deixado de usar um SSRI, tal como
o Prozac, pode levar ao coma e à morte. A ayahuasca é contraindicada, por este critério
científico, para quem tenha doenças graves no fígado ou nos rins, dor de cabeça frequente
ou severa, hipertensão descontrolada, doenças cardiovasculares e doenças
cerebrovasculares, além de, obviamente, pessoas com histórico de problemas
psiquiátricos, especialmente de surtos psicóticos. Também é contraindicado que a
ayahuasca, por conter MAOI, seja combinada com mescalina (comopeiote ou wachuma =
cacto de São Pedro ), 5-MeO-DMT, álcool, erva-de-são-joão, sal de lítio, kava, kratom,
anfetaminas (como ecstasy), cocaína, opiáceos (como heroína ), barbitúricos,
descongestionantes e remédios para problemas respiratórios, petidina, levodopa,
dopamina, carbamazepina, dextrometorfano, alguns medicamentos anti-hipertensivos,
aminas simpaticomiméticas tais como a efedrina e a pseudoefedrina, dentre outros
compostos. Pelo menos 48 horas antes e depois da experiência, devem ser
evitados camomila, erva mate, curcumina, cúrcuma, ginseng, funcho, noz-
moscada, alcaçuz, dentre outras ervas.
Estudos apontam que os MAOIs presentes na ayahuasca são seguros se for
ingerida tiramina anteriormente ao uso, sem que exista perigo de crises hipertensivas.
Recomenda-se, entretanto, que alimentos contendo tiramina não sejam ingeridos 12h
antes e 24h depois do uso.
Pessoas que estejam tomando antidepressivos de qualquer classe não devem tomar
ayahuasca, e devem consultar um médico para saber quando poderão tomá-la, após
interrompido o uso do medicamento. Talvez o maior perigo na interação de
antidepressivos com ayahuasca seja a ocorrência de um quadro de síndrome
serotoninérgica, ainda que num grau leve a moderado.
Pode haver interação também com anti-histamínicos: calmantes, como benzodiazepínicos,
podem potencializar os efeitos sedativos, como também podem
os anestésicos. Diuréticos potencializam as alterações na pressão sanguínea. A
combinação com vasodilatadores resulta em risco de crises de pânico e desmaios.
Após o transporte da ayahuasca a contextos urbanos, ela passou a ser utilizada por alguns
grupos junto a psicoativos desconhecidos em seu contexto tradicional, sendo mais
frequente o uso da planta Cannabis sativa. Os impactos destas combinações sobre o
organismo são pouco conhecidos, quando não completamente desconhecidos pelos
estudos científicos; mas pesquisadores apontam que a interação entre a ayahuasca e a
maconha apresenta maior riscos de produzir problemas cardíacos, surtos psicóticos,
ataques de pânico e crises de ansiedade, do que quando estas substâncias são
consumidas isoladamente.[158]
Interações neurofisiológicas
Em alguns casos, a ingestão pode levar a sensação de medo e perda do controle, levando
a reações de pânico. A hipótese sobre o desencadeamento de um quadro
de ansiedade crônica ou síndrome do pânico vem sido discutida.
O consumo da bebida pode também desencadear quadros psicóticos em pessoas
predispostas a essas doenças, ou desencadear novas crises em indivíduos portadores de
doenças psiquiátricas tais como transtorno bipolar e esquizofrenia. Um estudo realizado ao
longo de 5 anos com 951 usuários de 3 cidades brasileiras registrou 20 eventos
psiquiátricos ( 2,1% ) sendo que 7 eram reações psicóticas ( 0,73% ). Observe-se que a
incidência de psicoses na população brasileira situa-se em torno de 1%.
A ayahuasca é contraindicada para pessoas com transtorno bipolar (antes referida como
psicose maníaco-depressiva).[164] Os alcaloides inibidores de monoamina
oxidase presentes na bebida, como a harmina e harmalina, têm efeito análogo a
alguns antidepressivos, como a moclobemida (Aurorix). Importante observar que
antidepressivos, sejam eles inibidores de monoamino oxidase, sejam inibidores seletivos
de recaptação de serotonina ou ainda de outras classes, são associados a maior risco de
episódios de mania nos casos de transtorno bipolar.
Psychotria viridis
O preparo do chá é realizado em uma cerimônia chamada Feitio, onde os homens batem o
jagube e as mulheres cuidam das folhas da rainha.
O jagube é batido com marrretas de madeira, e depois de as folhas do arbusto rainha haverem
sido limpas, os dois são cozidos em água. Esse primeiro cozimento é retirado e colocado em
outra panela com uma nova quantidade de jagube e rainha. Após esse segundo cozimento está
pronto o daime.
O poder da Ayahuasca sobre a mente deriva dos potentes alcalóides presentes no cipó B.
caapi e no arbusto P. viridis empregados no preparo do chá. O arbusto é rico na substância
alucinógena dimetiltriptamina (DMT), que não tem efeito quando ingerido. Mas a DMT conta com
a ajuda da harmina e da harmalina do cipó para chegar ao sistema nervoso central, onde juntas
iniciam a subversão da consciência. O mecanismo básico é uma inundação de serotonina,
neurotransmissor com múltiplos e complexos efeitos no corpo e no cérebro. Pessoas deprimidas,
por exemplo, costumam ter baixos teores de serotonina. A fluoxetina (Prozac) consegue
melhorar sua vida porque impede a recaptação (retirada) do neurotransmissor no espaço livre
entre os neurônios, reforçando a comunicação entre eles.
http://www.bialabate.net/news/reportagem-do-correio-
da-bahia-sobre-a-ayahuasca
“Queremos verificar se isso ocorre com metodologia científica”, explicou, em
entrevista por e-mail, o pesquisador brasileiro Rafael Guimarães dos Santos,
biólogo que está em Barcelona desenvolvendo sua tese de doutorado sob a
supervisão do farmacêutico catalão Jordi Ribas.
Voluntários ingerem as cápsulas feitas a partir da desidratação da ayahuasca. “A
cápsula é, resumidamente, ayahuasca sem água, ou seja, a ayuahuasca que passou
por um processo de desidratação. Em termos químicos, é a mesma coisa que o chá
dos rituais. Mas para algumas pessoas, principalmente membros dos grupos, a
cápsula pode ser vista como ‘artificial’, e o chá como ‘verdadeiro’, e isso pode
influenciar na experiência da pessoa”, afirmou Rafael.
DMT E NEUROCIÊNCIAS
http://www.universomistico.org/s/dmt-e-neurociencias.html
JUSTIFICATIVA
OBJETIVOS E METODOLOGIA
Além de investigar o efeito do DMT no cérebro, o objetivo principal desta pesquisa é,
observando o aspecto reverso, estudar a mente através do DMT. Ou seja: não apenas
estudar o efeito químico da substância no organismo, mas, sobretudo, compreender
quais dimensões de consciência que este efeito propicia (telepatia, regressões mentais
a traumas infantis, visualização de imagens do inconsciente profundo, mudanças na
percepção do tempo e da realidade).
Geralmente se observa uma dieta estrita antes as sessões de ayahuasca: comida sem
sal, açúcar, óleo, gorduras e condimentos picantes; e principalmente nenhum álcool ou
sexo antes, durante ou nos dias imediatamente após a ingestão, em um marco de
repouso, silêncio e isolamento do mundo cotidiano. Está comprovado que a dieta
influencia diretamente na qualidade da experiência e, sem dúvida, o maior perigo físico
ao ingerir ayahuasca está relacionado com os efeitos da harmala, harmalina e
tetrahidroharmina que contém, os que cumprem uma importante função inibidora da
enzima monoamina oxidasa (MAO).
Não é difícil entender porque a Jurema seria sagrada para os índios nordestinos antes
da chegada dos brancos. Além de seu caráter alucinógeno e do seu comprovado uso
nas guerras e ritos de passagem, a Jurema, enquanto planta, desempenha um papel
central no ecossistema semi-árido das caatingas nordestinas: durante os longos
períodos de estiagem, quando a paisagem do sertão fica cinza e vermelho, apenas ela e
o cacto do mandacaru resistem verdes e com reservas de água. Na verdade, no auge
da estiagem, a casca da Jurema seca enquanto seu interior permanece viçoso. Quando
a chuva volta, a casca seca cai e a árvore reaparece jovem. Esse fenômeno dá margem
a uma longa mitologia de lendas e cantos envolvendo os ciclos de sazonalidade e
morte/renascimento. Mas, ao contrário do mandacaru, do qual o sertanejo pode extrair
água durante a estiagem, a água da Jurema é completamente inacessível ao uso
humano. No caso da Jurema, a existência de água atrai a presença de pequenos insetos
e de vários níveis de pequenos predadores da cadeia alimentar do ecossistema do
sertão. As cobras são habituais no juremal, tanto pela existência farta de seu alimento
como pela proteção dos galhos espinhosos, impossibilitando o trânsito de animais
maiores. Este fato deu margem a uma extensa mitologia popular, cantada em pontos e
chamadas tradicionais, em que as cobras protegem espiritualmente à árvore, assim
como esta, com seus espinhos, protege os seus répteis guardiões. Assim, centro da
resistência da vida orgânica à seca, em torno do qual todo ecossistema ‘não-humano’
(na verdade, não-mamífero) da caatinga gravita, a Jurema reina no sertão nordestino,
desde tempos imemoriais, às margens de qualquer socialização: trata-se apenas um
local perigoso e cheio de tabus, sob múltiplos aspectos.
Antes dos colonizadores apenas os índios do sertão do Rio Grande do Norte, os Kariris e
os Jê (ou Tapuios), tomavam Jurema. (SANGIRARDI JR; 1983) Essas tribos, detentoras
dos ritos da Jurema, no entanto, se aliaram aos holandeses e foram completamente
destruídas pelas forças portuguesas. A Jurema como identidade étnica foi então
construída historicamente em segredo durante o período de colonização, chegando até
tribos litorâneas distantes que não tinham tradição com a bebida. O uso da Jurema foi
tolerado e aceito pelos portugueses católicos quando era canalizado para lógica de
guerra contra invasores franceses e holandeses, enquanto seu uso religioso era
condenado como feitiçaria. Há vários registros históricos (século XVI e XVII) sobre a
eficácia militar dos guerreiros-juremeiros. Esta dupla permissão/condenação favoreceu
uma expansão secreta e silenciosa da Jurema, levando o uso da bebida a ser conhecida
até o Maranhão. (ANDRADE, 1992:9)
Numa primeira fase da colonização, a resistência dos povos indígenas no Nordeste, não
permitiu que a Jurema, enquanto árvore sagrada, fosse conhecida, em seus usos e
significados, não sendo assim documentada pelos colonizadores e estrangeiros. Numa
segunda fase histórica a Jurema representa um elemento ritual ligado à própria
resistência armada dos povos indígenas ou à guerra empreendida contra inimigos
inclusive em suas alianças. Ainda nesta fase na qual a Jurema começa a ser
documentada, seu significado ainda não é entendido mas seu uso já é motivo de
repressão, prisão e morte de índios, (...). Na medida em que avança o rolo compressor
da colonização, processo de genocídio ou tentativa de dominação, não só política e
econômica como também cultural, aparece uma nova forma de resistência: a Jurema
assume um lugar central na religiosidade popular, não só indígena regional - Catimbó.
Diante do componente negro a Jurema garante seu reconhecimento, como entidade
(espírito, divindade, cabocla) autóctone, "dona da terra". A Jurema é absorvida pelos
cultos afro-brasileiros, tendo surgido inclusive os "Candomblés de Caboclos". Nas
últimas décadas é no contexto da Umbanda, religião nascente e em pleno processo de
sistematização e de expansão nacional, que a Jurema é integrada na cosmologia
sagrada, no panteão da religião nacional. Constatamos em vários estados nordestinos
as "Linhas da Jurema", dentre as linhagens e filiações religiosas da Umbanda. Nesses
últimos anos, e paralelo ao movimento religioso propriamente brasileiro, a Jurema
continua como "núcleo duro", segredo, bandeira ou símbolo, para os remanescentes
indígenas, em pleno "movimento étnico", num contexto de defesa de seus direitos
humanos, de suas áreas de reservas e de sua autonomia e reconhecimento no
pluralismo da sociedade e das culturas brasileiras. (ANDRADE, 1992:2)
E foi assim, neste contexto contraditório, que a Jurema se firmou como prática étnica
indígena e se misturou com os cultos africanos. E não se trata, nesses cultos, de reduzir
a planta a um ‘espírito’ de uma cabocla como conhecemos na umbanda: o candomblé
africano reconhece a Jurema como orixá, o único genuinamente brasileiro.[5] A Jurema
chegou ao império como uma forma religiosa de resistência cultural bastante complexa,
mantendo viva seu caráter guerreiro e marginal e conheceu ainda um novo ciclo de
religiosidade popular - o dos mestres da jurema no catimbó nordestino, que, até a
primeira metade do século XX utilizavam a bebida para desfazer feitiços e
encantamentos no CE, PB e RN (CASCUDO, 1978).
Por volta de 1980, alguns pesquisadores advogam na extinção dos cultos da Jurema
(SCHULTES & HOFMANN, citados por OTT, 2002:673). No entanto, sabe-se que
algumas formas cerimoniais associadas ao Toré têm sobrevivido entre os Xucuru da
Serra de Ararobá/PE; os Kariri-xocó de Colégio, na divisa entre AL e SE (MOTA, 1987);
os Atickum-Umã/PE (GRÜNEWALD, 1995); os Truká (BATISTA, 1995) e numerosos
outros grupos espalhados pelo sertão nordestino (PINTO, 1995). Além disso, durante a
segunda metade do século XX, a cerimônia indígena do Toré tem sido adotada
simbolicamente por grupos umbandistas ao longo do litoral nordestino.
Outro episódio, narrado de passagem neste texto, cita o trabalho desenvolvido por uma
fundação holandesa, Friends of the Forest – Ethnopharmacological agents & rituals and
drug dependency treatment research. A fundação, em conjunto com universidades e
autoridades públicas holandesas, aplicava tratamento gratuito para reabilitação de
viciados em drogas (heroína, cocaína, álcool, etc) utilizando-se principalmente da
Ayahuasca. No entanto, devido ao corte de fornecimento pela entidade que gerencia o
Santo Daime, que considerou o uso terapêutico da bebida fora dos seus preceitos
religiosos, “os amigos da floresta” passaram então a pesquisar e utilizar os mesmos
princípios psicoativos extraídos de outras plantas similares. Nesta “ayahuasca
analógica”, a Jurema Preta (Mimosa Hostilis) passa a ser utilizada em combinação com
sementes de Perganum Harmala [http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-871329496-
sementes-de-arruda-da-siria-peganum-harmala-25g-_JM] (Sinônimo de Arruda Síria –
obs "Petiveria tetrandra" é mais forte), um arbusto do oriente médio muito conhecido
por suas características sedativas[6].Mas não é só: os próprios pesquisadores da
fundação Friends of the Forest descrevem seu contato com os índios Atikum e como
introduziram o uso desta nova fórmula em alguns de seus rituais (BARBOSA, 1998:27-
28). Segundo eles, os Atikum não apenas reconheceram a potencialização dos efeitos
da Jurema pelo Perganum Harmala, como também ficaram com sementes do arbusto
para plantar no sertão. O texto insinua que houve uma assimilação cultural de técnicas
de preparo científicas, importadas do exterior, pela “cultura Atikum” e que tal fato
poderá ressuscitar a tradição da Jurema.
O uso de DMT em rapés dos índios da América do Norte e Central é documentado desde
o início do Século VIII DC, mas suspeita-se que seu uso seja muito mais antigo. Os
rapés Cohoba (da árvore Yopo) foram documentados em Columbia nos Séculos XVI até
XIX. Em 1931, o primeiro DMT químico foi sintetizado por Richard Manske e chamado
de "nigerine". É ilegal possuir ou vender DMT nos Estados Unidos e na maioria dos
países desde 1971.
Porém, o DMT ganhou notoriedade significante nos últimos 15 anos com Terence
Mckenna. McKenna, foi o pioneiro no estudo sistemático das tradições de consumo de
substâncias químicas. Autor de vários livros sobre diferentes substâncias psicoativas e
religiosidade contemporânea (1993, 1995 e 1996) – estabelece uma associação
estratégica entre duas hipóteses de outros autores, que se tornarão os cânones do
movimento entheogênico[7]:
A pesquisa destaca que as imagens são ‘universais da mente’ (semelhantes ao que Jung
chamou de arquétipos[8]) pois surgem em indivíduos social e culturalmente diferentes.
Esses conteúdos podem surgir de diferentes formas ou domínios e o encadeamento
dessas formas com estes conteúdos forma estruturas narrativas paralelas aos rituais. E
Shanon entrevê, através deste sistema cognitivo de conteúdos/domínios, os parâmetros
estruturais da consciência e destaca pelo menos quatro aspectos relevantes em relação
ao efeito do Ayahuasca: a percepção do pensamento como uma cognição coletiva, a
indistinção entre o interior e o exterior, e as experiências desindentificação pessoal e de
tempo não-linear.
Ou seja: quando tomam Ayahuasca as pessoas percebem que seus pensamentos não
são individuais mas sim ‘recebidos em rede’ (a mente como um rádio); que não existe a
distinção entre o sensorial e o sensível; podem se transformar em animais (jaguares e
águias são freqüentes) ou em outras pessoas; e finalmente percebem o transcorrer do
tempo de forma desigual, em que alguns segundos demoram séculos e horas se
sucedem rapidamente e em que alguns momentos se experimentam a simultaneidade
(ou a eternidade) temporal.
HIPÓTESE
Acredito também que os países e regiões detentores das plantas ricas nesta substancia
(como o nordeste em relação à Jurema e a Amazônia em relação à Ayahuasca) não
podem ser privadas dos benefícios sociais e culturais decorrentes desta realidade.
Assim sendo submeto este primeiro esboço de projeto de pesquisa à avaliação crítica
dos interessados, na esperança de que, com novas contribuições, ele se consolide e
vingue em seus objetivos estratégicos.