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Fichamento

BÁEZ, Fernando. História universal da destruição dos livros: das tábuas sumérias à guerra do Iraque. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
pp. 17-27.
Introdução
1. O enigma de Bagdá
"Nossa memória já não existe. O berço da civilização, da escrita e das leis foi queimado. Só restam cinzas." Escutei esse comentário
de um professor de história medieval em Bagdá, detido poucos dias depois por pertencer ao partido Baath.
Quando o disse, abandonava a moderna estrutura da Universidade, de onde saquearam, sem exceção, os livros da biblioteca, e
destruíram salas de aula e laboratórios. Estava sozinho, ao lado da entrada, coberto por uma sombra, e por acaso pensava em voz
alta, ou não pensava, mas sua voz também era parte desse extenso, interminável e sucessivo rumor que é às vezes o Oriente
Médio. Chorava ao me olhar. Creio que esperava alguém, mas, quem quer que fosse, não veio e, em poucos minutos, vi-o se
afastar, sem rumo, andando pela borda de uma enorme cratera aberta, junto ao prédio, por um míssil.
2. Entre livros destruídos
O que encontrei no Iraque me fez recordar a primeira vez que vi um livro destruído. Eu tinha 4 ou 5 anos e vivia numa biblioteca,
não porque fosse minha casa ou por bondade de algum parente generoso. A verdade é que meu pai era um advogado honesto,
isto é, desempregado, e minha mãe, nascida em Las Palmas de Gran Canária, devia trabalhar o dia todo numa mercearia, o que a
obrigava a me deixar na biblioteca pública de São Félix, na Guayana da Venezuela, onde contava com o apoio de sua prima, a
jovem secretária do local.
3. Mitos apocalípticos
Em busca de uma teoria sobre a destruição de livros, descobri, por acaso, que são abundantes os mitos1 que relatam cataclismos
cósmicos para explicar a origem ou anunciar o fim do mundo. Observei que todas as civilizações entendem sua origem e seu fim
como um mito de destruição, contraposto ao da criação, num modelo cujo eixo é o eterno retorno. A apocatástase (restauração)
tem sido um recurso para defender o fim da história e o início da eternidade. Nas mitologias antigas encontramos centenas de
narrativas em que se descreve como a água, o fogo ou algum outro elemento purificou a maldade humana ou a purificará num
futuro adiado constantemente.
4. A Eliminação da Memória
Defendo que a teoria de que o livro não é destruído como objeto físico, e sim como vínculo de memória. John Milton, em
Aeropagitica (1644), sustentava que o que se destrói no livro é a racionalidade que ele representa: "Quem destrói um bom
livromata a própria Razão." O livro dá consistência à memória humana. Não se deve ignorar que para os gregos a memória era a
mãe das nove musas e se chamava Mnemósine. A idéia era a de que a memória era mãe das artes. Do termo grego ao latino o
matiz se conserva porque memória provém de memororis, que vem a ser "aquele que recorda".
5. As Formas do Fogo
Uma boa pergunta a ser considerada pelo leitor é por que o fogo tem sido o fator predominante na destruição de livros. Há, sem
dúvida, várias explicações para esse fenômeno. Limito-me a propor apenas uma: o fogo foi o elemento essencial no
desenvolvimento das civilizações e o primeiro elemento determinante na vida do homem, por motivos de alimentação e de
segurança coletiva. O fogo, em suma, serviu para salvar e, pelos mesmos motivos, quase todas as religiões consagram fogos às
suas divindades. Esse poder de resguardar a vida também é, vale a pena assinalar, poder destruidor. Ao destruir com fogo, o
homem brinca de ser Deus, dono do fogo da vida e da morte. E dessa maneira se identifica com um culto solar de purificação e
com o grande mito da destruição, que quase sempre ocorre por ecpirosis (consumação de todas as coisas pelo fogo).
6. A Cultura da Destruição
É erro freqüente atribuir as destruições de livros a homens ignorantes, inconscientes de seu ódio. Depois de 12 anos de estudo,
concluí que quanto mais culto é um povo ou um homem, mais disposto se mostra a eliminar livros sob pressão de mitos
apocalípticos. Sobram exemplos de filósofos, eruditos e escritores que reivindicam a biblioclastia.René Descartes (1596-1650),
seguro de seu método, pediu aos leitores que queimassem os livros antigos. Um homem tão tolerante como o filósofo escocês
David Hume não hesitou em exigir a supressão de todos os livros sobre metafísica. O movimento futurista, em 1910, publicou um
manifesto em que preconizava o fim de todas as bibliotecas. Os poetas nadaístas colombianos queimaram exemplares do romance
Maria de Jorge Isaacs, em 1967, convencidos de que era necessário destruir o passado literário do país. Vladimir Nabokov,
professor das Universidades de Stanford e Harvard, queimou o Quixote no Memorial Hall, diante de mais de seiscentos alunos.
Martin Heidegger tirou de sua biblioteca livros de Edmund Husserl para que seus estudantes de filosofia os queimassem em 1933.
7. Pós-Escrito, 2004
Nesta história da destruição de livros se observará que a destruição voluntária causou o desaparecimento de 60% dos volumes.
Os restantes 40% devem ser atribuídos a fatores heterogêneos, entre os quais se destacam os desastres naturais (incêndios,
furacões, inundações, terremotos, maremotos, ciclones, monções, etc.), acidentes (incêndios, naufrágios, etc.), animais (como a
traça, os ratos e os insetos), mudanças culturais (extinção de uma língua, modificação de uma moda literária) e os próprios
materiais com os quais se fabricou o livro (a presença de ácidos no papel do século XIX está destruindo milhões de obras). Além
disso, deve se perguntar quantos livros foram destruídos por não serem publicados, quantos livros em edições particulares foram
perdidos para sempre, quantos livros deixados jogados na praia, no metrô ou no banco de um parque chegaram ao fim. É difícil
responder a essas inquietações, mas o certo é que neste mesmo momento, quando você lê estas linhas, pelo menos um livro está
desaparecendo para sempre.
CAPÍTULO 1 Oriente Médio
A destruição de livros começa na Suméria
Os primeiros livros da humanidade apareceram na ignota e semi-árida região da Suméria, no mítico Oriente Médio, na
Mesopotâmia (hoje sul do Iraque), entre os leitos dos rios Eufrates e Tigre, há aproximadamente 5.300 anos, depois de um sinuoso
e arriscado processo de aperfeiçoamento e abstração. De maneira estranha, no entanto, esses mesmos livros começaram a
desaparecer de imediato, em parte por seu material, a argila, em parte por desastres naturais, como as inundações, ou pela mão
violenta do homem.

Ebla e as bibliotecas sepultadas da Síria


Em 1964, o arqueólogo orientalista Sabatino Moscati, da Universidade de Roma, empreendeu a exploração de uma colina artificial
localizada em Tell Mardik, a 55km a sudoeste de Alepo, na Síria. No início, só encontrou uma porta, restos de uma muralha,
templos e casas, mas em 1968 apareceu o torso da estátua de um rei cuja inscrição assinalava expressamente "soberano de Ebla",
o que permitiu identificar o assentamento como a antiga cidade de Ebla, talvez a mais importante região paleossemita da Síria.
No terceiro milênio antes de Cristo, esse enclave teve 250 mil habitantes e mais de 1,2 mil funcionários administrativos.

As bibliotecas da Babilônia
Provavelmente por volta do ano 2000 a.C., a queda da dinastia de Ur III, nas mãos de um grupo étnico de amoritas, pressupôs o
estabelecimento de nova força política sobre as planícies do que é hoje o sul da moderna Bagdá. No período de 1792 a.C. a 1750
a.C., sobressaiu-se uma cidade que viria a ser conhecida como Babilônia, e seu rei, Hamurabi, sexto membro de uma família
sanguinária, dedicou-se a organizar seu império. Impôs uma teologia que postulava a existência de Marduk, o deus dos cinqüenta
nomes. Cada guerra de conquista lhe permitia saquear arquivos e transferi-los para a grande biblioteca de seu palácio. A língua
que adotou era um dialeto do antigo acadiano; a escrita, com certeza, assimilou a escrita cuneiforme.

A grande biblioteca de Assurbanipal


Assurbanipal, soberano assírio de 668 a.C. a 627 a.C., perdeu as terras do Egito, conquistadas a sangue e fogo por seu cruel pai
Asarhaddon. Lutou contra seu irmão até derrotá-lo e passou seus últimos anos em guerra. Seu reinado foi difícil, mas ele, primeiro
rei a obter instrução necessária para escrever tabletas, esmerou-se em estimular uma atividade cultural e religiosa que
preservasse seu nome do esquecimento. Provavelmente foi o primeiro governante a combinar a espada à escrita e à leitura.
A partir de 1842, arqueólogos ingleses, sob a coordenação de Henry Layard, encontraram as ruínas da biblioteca do palácio de
Assurbanipal, na antiga cidade de Nínive (a moderna Kuyunjik). Tiraram 20.720 tabletas com milhares de fragmentos de outras e
as depositaram no Museu Britânico. Alguns anos depois, se conheceu com precisão a organização da biblioteca. Confirmou-se que
Assurbanipal foi o primeiro grande colecionador de livros do mundo antigo. Antes dele, o único rei de quem se tem memória com
a mesma afeição foi Tiglah Pileser I, rei da Assíria de 1115 a.C. a 1077 a.C, ainda que em menor escala.

Os livros dos misteriosos hititas


Os hititas, habitantes do influente reino de Hatti, acreditavam num deus que de tempos em tempos, sem aviso prévio, desaparecia
sem deixar rastro. Suspeitavam que, quando isso acontecia, os amigos do deus logo o buscavam, porque do contrário o mundo
podia se acabar. O próprio destino dos hititas herdou esse traço, pois sua civilização foi aniquilada e o pouco que conhecemos
dela é sempre fragmentário ou à margem, fugaz e escasso. Seus admiradores têm tentado encontrar esses restos, certos de obter
respostas a grandes enigmas da história.
A capital do império hitita foi Hattusa, hoje Bogazköi, e se encontra a leste de Ancara, na Turquia. De 1800 a.C. a 1200 a.C., foi
uma cidade organizada, complexa, e nela se consolidou, durante seiscentos anos, uma das civilizações mais importantes da Ásia
Menor, detentora do mais apreciado segredo industrial do mundo antigo: a fabricação do ferro. O primeiro dos reis se chamava
Hattusili I; não sabemos quem foi o último. Trácios e frígios invadiram essas terras por volta de 717 a.C., e Sargão II condenou
todos os hititas a um processo de eliminação.

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