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RESUMO :
ABSTRACT :
This article discusses the introduction and influence of the political thought of the
Italian philosopher Antonio Gramsci (1891-1937) in Argentina and Brazil between
1950 and 1990, highlighting his contribution to the transformations of the local leftist
groups. The research was limited to 1950, when the "Letters from Prison" were
translated into Spanish and published for the first time in Argentina, through the
reception of Gramsci's work in both countries during the rise of military governments,
until 1990, after the establishment of democracy. The methodology consisted of
bibliographical research, cuttings of texts that deal with the subject, found in books
and articles of different authors, seeking to report and analyze the polictical impact of
Gramscian theories in both South American countries.
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Graduanda em História – Universidade do Grande Rio. E-mail: marianicordeiro@ymail.com
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da troca com outras correntes ideológicas, o que para o PCA significava trair as suas
tradições.
No início dos anos 60, se iniciou dentro do PCA uma análise crítica do marxismo
leninista utilizando o pensamento gramsciano, a partir da publicação do artigo “Notas
sobre Antonio Gramsci e o problema da objetividade” de Oscar del Barco para a
revista Cadernos de Cultura (BURGOS, 2004, p.53). O que causou um desconforto no
partido e culminou com a expulsão dos gramscianos em 1963, enquanto Hector Agosti
permaneceu no PCA e minimizou as suas manifestações de interesse em Gramsci
(ARICÓ, 1988, p. 62)
Neste sentido e talvez não somente nele, o saber marxista que buscou apropriar-se e
que defendeu o grupo Pasado y Presente era aquele em condições de suportar um
diálogo produtivo com o mundo e a cultura do presente. Esta visão sem
preconceitos, sem ideologia, ou para dizer melhor, laica do marxismo contribuiu
para fazer do nosso grupo uma experiência marginal, inclassificável e incomoda da
cultura de esquerda na Argentina. (ARICÓ, 1988, p. 81)
Raul Burgos (2004, p. 105) afirma que durante essa primeira fase a identificação
teórico-política do grupo era o “leninismo-castrista”, utilizavam ideias revolucionárias,
enquanto o pensamento gramsciano atuava como diferenciador, através das suas
reflexões mais desenvolvidas. Marco Aurélio Nogueira (2003, p.65) aponta que a
razão para o pensamento gramsciano se sobressair está no fato de que ele jamais
propôs uma doutrina fechada, e permitiu a revisão, a crítica, e a assimilação de teorias
diferentes do marxismo.
Enquanto a obra de Gramsci era disseminada na Argentina, ela era desconhecida
pela maioria dos comunistas brasileiros, que utilizavam como fontes somente os
manuais soviéticos e estavam presos aos moldes do marxismo leninista
(COUTINHO,1999, p.281). Seu nome nunca foi citado nos textos de comunistas
ilustres como Caio Prado Jr e Astrojildo Pereira, que em certa ocasião trocaram
correspondências com Hector Agosti, mas aparentemente nunca conversaram sobre o
pensador sardo (SECCO, 2002, p. 26).
Gramsci foi referenciado brevemente em publicações ligadas ao PCB (Partido
Comunista Brasileiro) no início dos anos 60 em ensaios de autoria de intelectuais
marxistas como por exemplo a “Problemática atual da dialética” em 1961, do então
adolescente Carlos Nelson Coutinho, publicado na revista Ângulos, editada pelo
Centro Acadêmico Ruy Barbosa, da faculdade de direito da Universidade da Bahia
( COUTINHO, 1999, p.283).
Em 1964 os militares executaram um golpe, e implantaram um regime ditatorial
no Brasil e cinco generais do Exército se alternaram no comando do governo, Castello
Branco (1964-67), Costa e Silva (1967-69), Garrastazu Médici (1969-74), Ernesto
Geisel (1974-79) e João Figueiredo (1979-85) (SCHWARCZ, STARLING, 2015, p.
374). Através do decreto de atos institucionais, foram limitados os poderes do
Legislativo, Executivo e Judiciário, proibido a existência dos antigos partidos
políticos, criando apenas dois, o ARENA, para defender os interesses do governo e o
MDB, representando a oposição moderada, suspensas as garantias individuais e
cancelados os direitos políticos (SCHWARCZ, STARLING, 2015, p. 380).
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presidencial, resultando na vitória de Perón para seu terceiro mandato, e a sua segunda
esposa Maria Estela Martinez como vice (BURGOS, 2004, p. 217).
A Argentina parecia alcançar certa estabilidade política com a conquista
democrática, mas o Brasil se manteve em conflito. Segundo Schwarcz e Starling
(2015, p. 385) houve um eminente aumento da repressão cometida pelo Estado, o que
intensificou a organização de grupos armados contrários ao regime. Mas em 1974,
através da vitória do MDB nas eleições parlamentares, o governo foi obrigado a
diminuir a censura aos meios de comunicação, e no mesmo ano aconteceram eleições
diretas para senadores, deputados e vereadores (SCHWARCZ, STARLING, 2015, p.
390).
Nos anos 70 o ambiente intelectual mudou, os intelectuais focaram na
especialização acadêmica e Gramsci se tornou objeto de estudo (SECCO, 2002, p. 47).
Entre 1975 e 1980 foram reeditados todos os livros de Gramsci publicados entre 1966
e 1968, e mais 24 títulos sobre o autor foram lançados (SECCO, 2002, p.292 ). Para
Carlos Nelson Coutinho (1999, p. 292) essa popularização se deu por dois motivos,
primeiro pela abertura política que o regime concedeu através do relaxamento da
censura, e em segundo pela reavaliação autocrítica da esquerda.
Os intelectuais brasileiros encontraram simetrias entre a ditadura brasileira e o
fascismo italiano. Carlos Nelson Coutinho (1999, p. 201) enfatiza que o regime
ditatorial brasileiro não pode ser caracterizado como um regime fascista clássico, mas
possuem semelhanças em seus objetivos econômicos. O regime brasileiro arquitetou
um plano ambicioso em que promoveu o crescimento econômico em detrimento de
outras atividades, causando o aumento astronômico da dívida externa e da inflação.
Segundo Luiz Werneck Vianna (2013, pp. 197-198) essas ações nacional-
desenvolvimentistas, que para o governo eram em prol de toda a nação, na verdade só
beneficiaram as elites. Para Milton Lahuerta (2003, p. 238) o regime brasileiro seria
qualificado como “autoritarismo burocrático”.
Reside nisso o principal motivo para qual Gramsci conquistou en maître um espaço
preciso na vida cultural brasileira, tornando-se não apenas uma referência
obrigatória para qualquer reflexão criativa sobre nossas contradições e perspectivas,
mas também um insubstituível recurso na luta da esquerda brasileira para reconstruir
– depois do colapso do “socialismo real” e em oposição à dura ofensiva do
neoliberalismo conservador – uma imagem sólida e atualizada do marxismo e do
socialismo. (COUTINHO,1999, pp. 304-305)
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Houve uma ruptura dentro do PCB entre as diferentes correntes ideológicas que
culminou com a saída de membros. Marco Aurélio Nogueira (2003, pp. 36-37)
enfatiza que o marxismo em si, sempre foi transformativo, e comprometido com a
necessidade de se rever e se reformular constantemente, mas viveu ameaçado por uma
espécie de “congelamento”, que impossibilitou o seu processo de autotransformação.
Para Carlos Nelson Coutinho (2013, pp. 28-29) “(...) o “comunismo histórico”
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(...) o próprio Gramsci, de certa forma permitiu, já que os seus principais conceitos
foram retirados inicialmente de outros autores ( revolução passiva de Vicenzo
Cuoco, hegemonia dos socialistas russos via Lênin, sociedade civil de Hegel, bloco
histórico de Sorel, cartáse da teoria literária, reforma intelectual e moral de Renan
etc.), adquirindo novas funções. Nisso consiste, paradoxalmente, toda a sua
originalidade no terreno do marxismo. (SECCO, p.68)
absorveu as ideias de Gramsci, como o fez com outras ideologias : sem compô-las em
um arcabouço doutrinário coerente.”
Carlos Nelson Coutinho (2013, p. 19) acentua que apesar do discurso plural de
Gramsci, e da abertura para uma variedade de interpretações, ele continuou sendo um
socialista revolucionário, porém crítico e herético. Gramsci propõe a construção de
uma sociedade civil forte que possibilite o autogoverno dos cidadãos
democraticamente, mas também defende, com ressalvas, a necessidade da revolução
(COUTINHO, 2013, p.25).
Paralelamente ao que acontecia no Brasil, a adesão aos princípios democráticos
pelos gramscianos argentinos, só ocorreu após um novo golpe militar em 1976.
Alguns gramscianos argentinos, como Juan Carlos Portantiero, José Aricó e Oscar
Terán, saíram do país e buscaram exílio no México, onde aconteceu uma renovação do
pensamento marxista (BURGOS, 2004, p. 231). O PCM (Partido Comunista
Mexicano), diferente do PCA e do PCB, era aberto ao diálogo com outras ideologias e
possuía uma posição democrática influenciada pelo eurocomunismo, e a organização
de vários seminários, como o de Morélia em 1980, desempenharam um papel
fundamental na difusão da proposta democrática através da discussão dos conceitos
gramscianos (BURGOS, 2004, p. 235).
A conquista da democracia
O fim da ditadura argentina foi resultado da derrota do país na disputa pelas Ilhas
Malvinas com a Inglaterra em 1982. O conflito armado durou três meses, onde a
Inglaterra foi vitoriosa, e o governo argentino saiu enfraquecido perdendo todo apoio e
credibilidade (DEVOTO, 2003, p.208). Poucos dias depois da derrota e pressionado
pela população, a única saída foi liquidar o regime e convocar novas eleições para
1983. Os gramscianos exilados retornaram ao país e se vincularam ao candidato da
UCR (União Cívica Radical) Raúl Alfonsín, e aderiram uma posição institucionalista
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de ação política (BURGOS, 2004, p. 309). Raúl Alfonsín obteve o êxito contra o
candidato peronista Ítalo Luder e se manteve no cargo até 1989, durante um período
de mudança para a Argentina, caracterizado pela democracia plena e o fim das
perseguições políticas, mas também pela hiperinflação e aumento do desemprego
(DEVOTO, 2003, pp. 208-209).
Lincoln Secco (2002, p.57) “O pensador italiano serviu como terreno de disputa, como
linguagem, e seu universo conceptual tornou-se senso comum.”
Conclusão
Referências Bibliográficas
ARICÓ, José M. La cola del diablo. Itinerario de Gramsci en América Latina. Buenos
Aires: Puntosur Editores, 1988. 225p.
SECCO, Lincoln. Gramsci e o Brasil. Recepção e difusão de suas idéias. São Paulo:
Cortez, 2002. 119p.
SCHWARCZ, Lilia M., STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015. 792p.