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Revista Funpresp

Ano 1 | número 01

desconsiderar
CAPA
O futuro da Previdência
Complementar no Brasil
Debate sobre reformas,
modelos, portfólios, perfis de
investimentos, governança e
gestão nos fundos de pensão

Painel i - modelos de Painel ii - Governança, Painel iii - Poupança Entrevista: professor


planos, longevidade, gestão e reputação nas previdenciária, da Universidade da
reformas previdenciárias entidades de previdência portfólios e perfis de Carolina do Norte
e capitalização complementar investimentos (EUA), Robert Clark
Revista Funpresp Revista Funpresp

Diretoria Executiva Sumário


Ricardo Pena Pinheiro
Diretor-presidente

Tiago Nunes de Freitas Dahdah Painel III


5 22
Diretor de Investimentos

Cleiton dos Santos Araújo


EDITORIAL CHILE: LIÇÕES PARA A ADOÇÃO DO
Diretor de Administração MODELO DE CAPITALIZAÇÃO NO BRASIL
Cícero Rafael Barros Dias
Diretor de Seguridade (substituto)
ENTREVISTA
Expediente 6 ENTREVISTA
ROBERT CLARK 26 CRISTIANO ARBEX VALLE
Edição

Fátima Gomes
Gerente de Comunicação e Relacionamento
Painel I
OPINIÃO DO
10 28
Leônia Vieira
Coordenadora de Comunicação e Marketing
FINANCIAMENTO DA PREVIDÊNCIA:
Entrevistas e redação
Luciana Cobucci - In Press Oficina
UM PROBLEMA GLOBAL ESPECIALISTA
Maíra Silveira - In Press Oficina
Pedro Silas - In Press Oficina

14 ENTREVISTA
Projeto gráfico e diagramação
Amanda Moreira - In Press Oficina

Fotografia
Dênio Simões - In Press Oficina
BRIAN O’MALLEY 30 ENTREVISTA
WAGNER GUIDA
Luís Salimon - In Press Oficina

Revisão
ENTREVISTA
16 ENTREVISTA
32
Nadja Araújo - In Press Oficina

Revista da Fundação de Previdência


Complementar do Servidor Público Federal
HEINZ RUDOLPH EDUARDO RIOS-NETO
do Poder Executivo - Funpresp
Endereço: SCN Quadra 2, bloco A, 2º andar,
salas 202/203/204
Ed. Corporate Financial Center
Painel II
70712-900 - Brasília - DF CHEGOU A HORA DE
A PREVIDÊNCIA
Fone: 0800 282 6794

Jornalista responsável:
Fátima Gomes - registro profissional 480/82
18 DIVERSIFICAR OS INVESTIMENTOS
DOS FUNDOS DE PENSÃO? 34 PELO MUNDO
Tiragem: 700 exemplares

2 3
Editorial
O 3º Seminário Internacional Funpresp – A Previdência Com-
plementar do Servidor Público foi realizado em Brasília (DF), no
dia 23 de abril de 2019, com a presença de mais de 250 pessoas,
entre especialistas, autoridades e participantes da Entidade. Ao
longo de todo o dia, foram debatidas experiências nacionais e
internacionais, com o objetivo de reunir as melhores práticas em
gestão e governança da previdência complementar, em especial
a dos servidores públicos. Nesta revista, o leitor vai conhecer um
pouco do teor das discussões realizadas nos painéis, opiniões de
especialistas e de participantes, entrevistas com estudiosos em
previdência e um panorama mundial sobre o tema.
Ao debater ideias e experiências nacionais e internacionais, a
Funpresp cumpre sua missão de prospectar o que há de melhor
para os seus participantes, além de reforçar o seu compromisso
com a modernidade, a transparência e a governança dos Planos
de Benefícios da Entidade.
Essa publicação tem a finalidade de proporcionar ao leitor uma
visão geral da previdência social e complementar e, quem sabe,
ajudá-lo a pensar e planejar o próprio futuro. De antemão, é possí-
vel dizer que as mudanças demográficas e o aumento da longevi-
dade da população apontam que é preciso criar novos caminhos de
financiamento da previdência. Esse é um debate que, sem dúvida
alguma, ganhou mais relevância devido à Reforma da Previdência,
cuja proposta tramita atualmente no Congresso Nacional.

Boa leitura!
Ricardo Pena

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Entrevista Robert Clark


Planos de benefícios e
planejamento para o futuro:
uma visão norte-americana
O professor do Departamento de Economia,
Inovação e Empreendedorismo da Universidade
do Estado da Carolina do Norte é um dos mais
renomados especialistas mundiais quando o assunto
é previdência. Nos Estados Unidos, Clark chefiou
estudos e programas de pesquisa para o Teachers
Insurance and Annuity Association of America (TIAA),
um dos maiores fundos de pensão do país. Nesta
entrevista, ele fala sobre experiências americanas e
tendências mundiais para o setor.

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É possível almejar um siste- é surpresa que aumentar impostos não vidência complementar americano.
ma previdenciário financeiramente Clark atua nas áreas de econo- deixa ninguém feliz. Geralmente, uma Não existe uma crença geral de que
equilibrado, tendo em vista os de- mia do trabalho, economia do dessas coisas, ou ambas as coisas, o sistema vai falir, mas é sabido que
safios demográficos que se apre- envelhecimento, previdência e acontecem numa reforma da previdên- haverá grandes mudanças de manei-
sentam? Qual seria o melhor mode- aposentadoria. cia e, consequentemente, ninguém fica ra a resolver o déficit do sistema. Não
lo de previdência nesse contexto? feliz com isso. há planos concretos para resolver o
problema, é uma questão que está em
Todos os sistemas de pensão Fundos do tipo capitalização po- Washington, que tem que ser resol-
têm pontos positivos e negativos e a dem ser um caminho para países vida no Congresso, que não tem um
questão é como será feito o equilíbrio em todo mundo, uma vez que, na pensamento único dominante, e por
entre eles. O problema do plano tipo maioria, o gasto com previdência isso torna-se mais difícil de resolver.
benefício definido (BD) é que a flu- pesa no orçamento público?
tuação demográfica eleva o custo do Que experiências internacionais
benefício. Já o plano tipo contribuição Se eu fosse começar um fundo de podem servir como modelo para o
definida (CD) coloca o risco no nível pensão do zero, certamente tenderia Brasil?
individual, o que pode dificultar o pla- a considerar o modelo de contas indi-
nejamento do contribuinte, e também viduais - o de capitalização -, que tem Não tenho a pretensão de dar con-
pode significar uma queda acentuada muitas vantagens. selhos para o Brasil, mas acredito que
no benefício futuro. Estamos compa- existem modelos que dão uma ideia
rando riscos diferentes. No geral, a do caminho a ser seguido. Basica-
tendência tem sido se afastar dos mo- mente, a respeito dos planos CD e
delos BD e se aproximar dos modelos
CD. Planos tipo BD podem ser ajusta-
“Uma reforma previdenciária BD, depende do tipo de risco que o
governo brasileiro está disposto a as-
dos de várias maneiras, mas isso sig- geralmente aumenta os impostos e sumir e do risco que ele está disposto
nifica que, com o passar do tempo, os a deixar sob responsabilidade do em-
benefícios vão aumentar ou diminuir, reduz os benefícios. E ninguém fica pregado. É possível fazer os dois tipos
e os impostos também. É possível ter de planos funcionarem, mas depende
um plano sustentável se for indexado
feliz com isso.” - Robert Clark da forma como cada agente é afetado,
a certos indicadores, mas ele perde trabalhador e empregador.
sua principal característica que é, do
ponto de vista do empregado, a ga- O senhor acha que experiências
rantia de um determinado valor de Como os americanos se preparam internacionais como a do Japão,
aposentadoria no futuro. para a aposentadoria? Existe uma que revê os parâmetros de suas
cultura previdenciária? aposentadorias a cada cinco anos,
É uma tendência mundial as poderiam funcionar no Brasil?
pessoas terem que contribuir mais A maioria da população é coberta
e por mais tempo para ter acesso a pelo sistema de previdência social, a Seria ótimo que os Estados Uni-
benefícios maiores? maioria inclui isso no seu planejamen- dos adotassem o modelo previdenciá-
to, mas eu diria que existe um bom rio do Japão, mas, em vez disso, nós
Previdência dos
Como as pessoas estão vivendo equidade entre as gerações? Receber Por que o senhor acha que mu- nível de preocupação, até porque a estamos empurrando o problema com
professores nos EUA
mais, o preço de manter qualquer tipo o mesmo valor ou receber o valor com danças na previdência enfrentam situação atual da previdência social a barriga há 20 anos e cada vez mais
de benefício previdenciário vai aumen- mesmo poder de compra, ou seja, tanta resistência em todo o mundo? Segundo Clark, cerca de metade pode fazer com que ela não cumpra o se aproxima o momento derradeiro. O
tar. Se você pensar na equidade entre com correção monetária? É preciso, dos estados norte-americanos seu papel no futuro. Isso certamente Japão, em vez de fazer uma grande
as gerações, pode avaliar: “bom, se então, fazer esse debate: qual a me- Sempre que você se compromete tem planos diferentes para afeta o planejamento e se você acha reforma, faz pequenas séries de re-
pessoas há 20 anos tinham um valor lhor forma de garantir um tratamento com um benefício e depois tenta modifi- professores. Nesses estados, as que a previdência social pode faltar formas a cada cinco anos, o que mos-
X de benefício, por que as pessoas de igualitário para todas as gerações. O car essa promessa, é de se esperar que condições, custos e planos para quando você precisar, então você tra que um plano de BD pode funcio-
hoje não recebem o mesmo valor?”. jeito como fazer o BD funcionar é mo- as pessoas não fiquem felizes com essa os docentes são semelhantes precisa tomar a frente do seu plane- nar, mesmo diante do grande desafio
Mas as pessoas há 20 anos recebiam dificá-lo constantemente ou indexá-lo mudança. Não é de se surpreender que em relação aos demais servido- jamento previdenciário. E a maneira da longevidade que eles enfrentam.
o benefício por menos tempo do que a um indicador para que ele seja au- o corte de benefícios de aposentados res públicos, apenas são admi- como as pessoas fazem isso é colo- Mas o preço disso é aumentar impos-
os aposentados hoje. Então, o que é a tomaticamente atualizado. não os deixem felizes. E também não nistrados separadamente. car mais dinheiro no sistema de pre- tos e reduzir benefícios.•
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Painel I Perguntamos a participantes da


Funpresp que prestigiaram o semi-

FINANCIAMENTO DA PREVIDÊNCIA: A taxa de rentabilidade adotada pelos fundos estaduais nário: por que é importante debater
a previdência complementar, num
é de aproximadamente 7,5% ao ano, quando a taxa real é contexto de reforma, e promover

UM PROBLEMA GLOBAL de cerca de 4%. Isso leva a um subfinanciamento que pode a educação previdenciária? Veja o
que eles responderam:
chegar a 79% do valor real necessário, como é o caso de
As discussões sobre previdência e aposentadoria de servidores nos Es-
Nova Jersey. Estados como Colorado, Connecticut, Illinois,
aposentadoria não são exclusividade tados Unidos já em 2023, de acor- Kentucky e Nova Jersey têm menos de 50% de financiamento.
do Brasil. Em todo o mundo, especia- do com o professor Robert Clark, da Outros 17 estados têm menos de 2/3 do valor necessário para
listas e governantes tentam resolver Universidade da Carolina do Norte. 25% dos servidores pagar os benefícios prometidos. Apenas Nova Iorque, Dakota
complexas equações que levam em Em sua palestra no 3º Seminário In- dos EUA estão fora do Sul, Tennessee e Wisconsin tinham, ao menos, 90% de
consideração idade, saúde, salário, ternacional Funpresp, Clark deu um do sistema federal
tempo de trabalho, estilo e expectati- panorama sobre o funcionamento da financiamento, segundo dados de 2016.
va de vida dos cidadãos, entre outros previdência norte-americana (confira
Na década de 1950, nos
aspectos, em torno de um único obje- na página 34). Clark também citou outros problemas para o déficit previdenciário estadual
EUA, os governos estaduais André Sousa de Sena, servidor do
tivo: prover assistência previdenciária Cada estado com fundo de pensão norte-americano. Um deles é que existem leis e até decisões judiciais que impe- Ministério da Justiça – É importante o
aos seus cidadãos de maneira finan- próprio deve depositar uma contra- e municipais puderam esco- debate em função das mudanças que vi-
lher se juntar à previdência dem a mudança das regras da aposentadoria de um servidor desde o momento da vemos hoje. O Congresso Nacional deba-
ceiramente sustentável e justa. partida no mesmo valor da contri- sua contratação até a inatividade. Outro ponto é a possibilidade de aposentadoria te a necessidade de ter essa Reforma da
Nesse sentido, reformas previden- buição do servidor estadual. Existem social federal. A maioria
integral com 30 anos de serviço. Previdência num país que enfrenta uma
ciárias estão sendo debatidas e feitas atuários responsáveis por calcular o decidiu aceitar a oferta. Os dificuldade financeira seríssima, por isso é
importante esse debate. Como o brasileiro
em vários países, com um aspecto em valor das aposentadorias que serão estados e municípios que não tem o costume de fazer poupança por
comum: o financiamento dos fundos pagas nos próximos anos. A decisão ficaram de fora hoje têm conta própria, uma alternativa é o fundo
de pensão públicos, em muitos casos, de valores a serem depositados nos sistemas próprios em sepa- Se alguém começa a trabalhar aos 22 anos, é possível se de previdência complementar, como é a
Funpresp para o servidor federal.
está abaixo do necessário para garan- fundos de pensão estaduais é dos rado, como Alaska, Massa- aposentar aos 52 anos. Com o aumento da longevidade, as
tir o pagamento de benefícios. governadores de cada estado, sendo, chusetts, Colorado, Nevada, pensões estaduais estão pagando benefícios por 20, 30, 40
O problema de financiamento dos portanto, uma ação política que de-
Louisiana, Ohio e Maine. e até 50 anos ou mais, e esta é uma razão do aumento do
fundos de pensão pode impactar a pende do governo daquele ente.
Como resultado, 25% dos
custo dos planos.
servidores públicos dos EUA
estão fora do sistema fede-
ral de previdência.
O aumento da longevidade também foi apontado como um desafio global pelo
diretor de Desenvolvimento de Negócios da Aegon Blue Square Re, Brian O’Mal-
ley, que também participou do primeiro painel do seminário, apresentando a ex-
periência previdenciária europeia. Outra adversidade, alertou o especialista, é o Larissa Amorim, servidora da Univer-
Nesse contexto, Clark detalhou as di- nível de educação financeira e previdenciária da população, que pode afastar os sidade de Brasília – A gente precisa
participar agora mais do que nunca, num
ficuldades enfrentadas por alguns fun- participantes do sistema. momento em que todo o país acompanha
dos patrocinados pelos estados que não “Os jargões e os termos usados pelos profissionais de previdência tendem a e debate junto a votação da Reforma da
são cobertos pelo sistema federal de intimidar o cidadão mais leigo. As pessoas estão entrando mais tarde no mercado Previdência. Precisamos nos inteirar sobre
o assunto. Vim ter mais informações sobre
aposentadorias. Segundo ele, o déficit de trabalho e, consequentemente, começando a contribuir mais tarde. Com isso, como a Funpresp pode me auxiliar no fu-
nas contas desses fundos era de US$ elas tendem a ignorar o problema, achando que já é tarde demais para começar a turo com uma renda extra para a aposen-
1,4 trilhão em 2016. poupança previdenciária. Por outro lado, para quem já está no sistema, o obstáculo tadoria. Eu me preocupo muito com o meu
futuro, por isso já venho me preocupando
é o nível de conhecimento e educação previdenciária e a tolerância a riscos, prin- com essa temática, e agora é um momento
cipalmente se a tendência é ofertar planos do tipo contribuição definida”, explicou. crucial para essa questão da previdência.
Clark: O problema de financiamento dos fundos
de pensão nos EUA atinge os estados america-
nos e não o sistema como um todo.

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REFORMAS Nos Estados Unidos, ao longo


PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR E ADESÃO AUTOMÁTICA Como no Brasil, dos últimos 30 anos, os estados têm Perguntamos a participantes da
tendência nos EUA No mundo todo, as reformas pre- substituído a oferta de planos BD Funpresp que prestigiaram o semi-
Com o problema de financiamento de benefícios e devem se pronunciar videnciárias passam pela transição por CD. Segundo Robert Clark, as
nário: por que é importante debater
é substituir planos de planos tipo benefício definido (BD) a previdência complementar, num
das previdências públicas em todo o apenas caso não desejam permane- reformas nos EUA param por aí. “As contexto de reforma, e promover
mundo, a tendência é reduzir cada vez cer. Nos locais onde tem sido adotada, BD por CD para contribuição definida (CD) que, expectativas dizem que, se nada for a educação previdenciária? Veja o
mais os benefícios sociais pagos pelos esse tipo de prática é bem sucedida. segundo os especialistas, exigem feito, os benefícios previdenciários que eles responderam:
governos, fazendo surgir a consciên- Nos Estados Unidos, por exemplo, “a mais conhecimento previdenciário serão reduzidos em 25%. É muito
Nos Estados Unidos, a parti-
cia sobre a necessidade da poupança participação em planos suplementa- por parte dos poupadores. No con- improvável que isso aconteça, mas
cipação nos fundos de pensão texto europeu, segundo O’Malley, a
complementar. Esta já é uma realidade res no setor público é mais baixa. No dos servidores públicos, que as projeções são as mesmas há 20
para funcionários da iniciativa privada entanto, com a adoção de políticas de reforma está acontecendo na previ- anos. O Congresso não tem feito
têm contrapartida do emprega- dência no setor privado.
nos Estados Unidos, que são cobertos adesão automática, a taxa de partici- nada e é difícil que faça nos próximos
pação passou de 5% para 90% no es-
dor, é obrigatória, ao contrário “Os planos tipo CD têm registrado
pela previdência social federal, mas re- anos. Somente duas coisas podem
correm a fundos complementares, os tado da Dakota do Sul, por exemplo”, do Brasil que continua sendo altos volumes de contribuições, mas ser feitas para resolver: aumentar os
chamados 401(k) – confira na entrevista explicou o professor Robert Clark. facultativa - como estabelece ainda assim há pessoas que contri- impostos ou reduzir os benefícios”,
com o professor Robert Clark, na página Para O’Malley, em muitos países a lei. A maioria desses planos, buem com o máximo e ainda querem alertou. Ele lembra, no entanto, que
6. A adesão a esses fundos é facultativa europeus, no setor privado, este “é o tradicionalmente, ainda é de contribuir com mais. A verdade é que não se trata de um problema do sis-
para quem trabalha na iniciativa priva- maior acontecimento dos últimos 10 benefício definido, mas essa todos os lados dessa equação preci- tema como um todo. • Beatriz Almeida Lessa, servidora do
sam entender de fato quanto custa Senado Federal – Fiquei interessada em
da, mas, entre os servidores públicos, a ou 15 anos”. “É algo que ajudou bas- tendência vem mudando nas úl- saber do panorama, o que a Funpresp
participação é obrigatória. tante no aumento da consciência pre- manter um fundo de pensão e quanto está enfrentando. Trabalho com a parte
timas duas décadas, principal-
Alguns estados que possuem seus videnciária na Europa, está dando um é preciso poupar para garantir benefí- de previdência no Senado, então é impor-
mente por conta dos custos e do cios previdenciários”, explicou. tante eu vir para esses eventos até para
próprios planos de benefícios para respiro de vida para os planos CD”, ex- financiamento desses planos. repassar as melhores informações para
servidores passaram a adotar a ade- plicou. A exemplo dos EUA, na Europa o pessoal. Migrei de regime em 2018 e
aderi à Funpresp, e tenho preocupação
são automática, de modo que os novos a tendência é substituir os planos BD “A previdência social de como vai ser a gestão do fundo. Com
integrantes são vinculados ao plano por CD, segundo o especialista. a iminente mudança da legislação, acho
nos EUA vai cumprir os que vamos ter que trabalhar mais tempo e
contratos como aconte- na Funpresp consigo juntar um montante
maior de dinheiro com o sistema de capi-
“A verdade é que de ce hoje? Provavelmente talização própria.

tempos em tempos é não. A previdência vai


necessário fazer ajustes quebrar? Também prova-
nas pensões e nos direitos velmente não. Não tenho
e ninguém gosta de ver como dar uma resposta
isso acontecendo com a sobre o que vai acontecer
própria aposentadoria. Na nos EUA, mas não pensem
Europa, essa mentalidade que o Brasil está sozinho
vem mudando e as pes- na questão de problemas Jorlândio Francisco Félix, servidor da
soas têm entendido que com o financiamento da Universidade de Brasília – É extrema-
mente importante o debate porque existe
é necessário tomar medi- previdência.” – Robert muita controvérsia, pouco entendimento
das mais duras.” – Brian Clark sobre a previdência complementar. Acho
importante esses eventos para que possa-
O’Malley mos entender o funcionamento pleno da
Funpresp. Tem muita gente que ainda é
contra. Eu estudo e corro atrás para enten-
der da Funpresp e ter esse conhecimento
mais amplo, pois considero muito impor-
tante para questão de investimento futuro.
Me considero preocupado com a minha
aposentadoria, principalmente quem tem
O painel I abordou os modelos de planos, longevidade,
filhos, como eu, a gente quer ter conforto
reformas previdenciárias e capitalização à luz das expe-
na longevidade.
riências dos Estados Unidos e da Europa.
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a necessidade de garantir sustenta- uma oportunidade para o Brasil e ou-


ENTREVISTA bilidade a longo prazo desses bene- tros países de ver o que funcionou e

BRIAN O’MALLEY fícios previdenciários. Da perspectiva


governamental, isso requer medidas
o que não funcionou na adaptação às
mudanças demográficas e decidir as
mais duras, como a redução dos práticas mais adequadas.
benefícios, aumento de impostos e
O diretor de contribuições e da idade mínima para A quantidade de pessoas se apo-
Investimentos da aposentadoria. Precisamos garantir
a equidade entre as gerações, redu-
sentando está aumentando, enquanto
o número de contribuintes para o sis-
Aegon Blue Square Re zindo o risco de pobreza na velhice tema de previdência social está cain-
agora e no futuro. do. Nesse contexto, qual é a impor-
(Holanda) participou do tância da previdência complementar?
painel “A previdência
“A verdade é que de tempos em tempos é A mudança na taxa de dependên-
complementar dos necessário fazer ajustes nas pensões e nos direitos e
cia, onde a proporção entre aposenta-
dos e trabalhadores está aumentando,
servidores públicos”, ninguém gosta de ver isso acontecendo com a própria coloca um freio nos planos providos
debate que abriu o 3º aposentadoria. Mas, na Europa, essa mentalidade vem
pelo governo, enquanto a responsa-
bilidade pela provisão da própria apo-
Seminário Internacional mudando e as pessoas têm entendido que é necessário sentadoria está sendo transferida para
cada indivíduo. Uma pesquisa feita em
Funpresp. tomar medidas mais duras.” – Brian O’Malley 2018 pela Aegon com 15 países, in-
cluindo o Brasil, mostra que os traba-
Como o senhor vê o debate so- lhadores esperam que 30% dos seus
bre os fundos de pensão ao redor Como a troca de informações proventos de aposentadoria venham
do mundo? entre os países, como a que acon- da própria poupança previdenciária.
teceu no 3º Seminário Interna- Essas pessoas precisam ter o poder
Atualmente, devido ao aumento na cional, pode ajudar a difundir a de assumir o controle pela preparação
longevidade, envelhecimento da po- consciência sobre a importância da da própria aposentadoria e, para isso,
pulação e taxas de juros se mantendo previdência complementar? precisam entender conceitos básicos
em patamares cada vez mais baixos, de literatura financeira, serviços e
benefícios pagos pelo governo estão As populações em alguns países produtos previdenciários.
sob forte restrição. Os tradicionais estão envelhecendo mais rápido do
planos de benefício definido (BD) que em outros. As medidas que os Como o resseguro pode ajudar o
estão desaparecendo e dando lugar países têm implementado para ajudar sistema de segurança social?
aos planos de contribuição definida as pessoas a se prepararem para a
(CD), com aportes dos trabalhadores. aposentadoria variam de acordo com O sistema de previdência social é
Com essa mudança, os participantes as circunstâncias locais, as práticas uma fatia importante dos compromis-
passaram a ter a maior fatia da res- de trabalho e normas sociais. O Japão sos financeiros de um governo. Olhan-
ponsabilidade pelos riscos contraídos é comumente classificado como uma do sob uma perspectiva global, não
e por acumular seus próprios fun- sociedade de “superenvelhecimento”, existe capital suficiente para assumir
dos de aposentadoria. No entanto, a com uma proporção maior de pesso- esse risco. Mas as lições aprendidas
maioria não tem o conhecimento ne- as mais velhas em relação ao resto com o resseguro podem ser aplica-
cessário para isso e, assim, corre o da população. O Brasil também está das. A indústria de resseguro tem
risco de não atingir a quantia neces- Brian O’Malley possui mais de 20 anos seguindo rapidamente nessa direção, sido bastante ativa nos últimos anos
sária para uma aposentadoria confor- de experiência em marketing e desen- com uma expectativa de vida no nas- em ajudar os planos de previdência
volvimento de seguros. cimento que passou de 50,8 anos em dos empregadores a reduzir o risco
tável. Como empresa, a Aegon tem o
objetivo de criar a consciência sobre 1950 para 74,6 anos em 2015. Existe de suas obrigações previdenciárias. •

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A previdência complementar pú- acontece em qualquer lugar. O Chile


ENTREVISTA blica brasileira tem o melhor dos buscou muita experiência internacio-

HEINZ RUDOLPH mundos dos planos tipo contribuição nal na criação de fundos de pensão.
definida e benefício definido: não tem Um dos principais problemas do mo-
os passivos dos planos BD e tem con- delo chileno é o valor das aposen-
tribuintes com alta densidade de co- tadorias, que pode ser considerado
Economista líder do tização que ficarão com o fundo até baixo em alguns casos (confira como
a aposentadoria. Mas também tem funciona o sistema de previdência no
Banco Mundial em grandes responsabilidades, que são: Chile na página 34). É um problema
Washington D.C., gerenciar os riscos para otimizar as
aposentadorias futuras; diversificar
que o governo está tentando resolver
com debates, apresentando reformas,
o chileno trouxe os riscos; contribuir para o desen-
volvimento de mercado de capitais
fazendo discussões no Congresso,
mas uma coisa é fato: será preciso
para o painel II privado de longo prazo, incluindo in- aumentar a alíquota de contribuição.
vestimentos no setor de infraestru- Além disso, da forma como foi cons-
do 3º Seminário tura; e, principalmente, garantir uma truído ao longo dos anos, o sistema
presença mais forte da governan- pode convergir para um modelo ine-
Internacional ça. O tema chave é a governança e, ficiente, altamente investido em mo-
Funpresp a principalmente, como assegurar que
o Conselho Deliberativo será uma
delos overnight. Por isso, é preciso
priorizar as mudanças regulatórias.
experiência do seu instância que vai dar visão de futuro
para decisões da Diretoria Executiva.
Outro ponto é que a discussão está
muito centrada na taxa de retorno.
país de origem e as Temos que começar a perguntar qual
é o efeito real que a rentabilidade
Por que as entidades de previ-
visões do organismo dência complementar devem in- tem, seja sobre a taxa de reposição,
vestir em transparência e como seja nas decisões dos participantes
internacional isso ajuda na governança das fun- do fundos de pensão. •
dações?
sobre previdência
complementar. O tema da transparência é muito
significativo porque através da trans- “O tema chave
parência as pessoas sabem exa-
tamente o valor acumulado no seu é a governança e,
Na sua visão, quais os pontos
fortes da previdência complemen-
fundo de pensão com o passar do
tempo. Pode haver muita volatilidade
principalmente, como
tar brasileira e quais os principais no curto prazo, por isso é importan- assegurar que o Conselho
desafios? te ter uma governança forte para que
as pessoas possam ter confiança nos Deliberativo seja uma
Este é um bom momento para conselhos diretivos do fundo de pen- instância que vai dar
consolidar a previdência complemen- são e que isso de fato vá levar a uma
tar no caso brasileiro. Acho que o melhor aposentadoria futura. visão de futuro para as
modelo de capitalização de repartição
simples tem seus limites e a criação Que lições o Brasil pode tirar do
decisões da Diretoria
de um pilar de capitalização pode aju- modelo de previdência que vigora Executiva.”
dar a diversificar o risco, mas tam- hoje no Chile?
bém pegar parte dos benefícios de - Heinz Rudolph
crescimento econômico brasileiro e O modelo do Chile tem muita coisa
Entre 1995 e 2004, Rudolph trabalhou no Ministério das Finanças do Chile como diretor de Política Econômica, onde liderou o projeto
melhorar os benefícios futuros. boa, mas também muitos erros, como de reforma da previdência e securitização do país.

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Painel II “A governança Perguntamos a participantes da


Funpresp que prestigiaram o semi-

CHEGOU A HORA DE DIVERSIFICAR OS das EFPC não é um


objetivo, mas uma
nário: por que é importante debater
a previdência complementar, num
contexto de reforma, e promover

INVESTIMENTOS DOS FUNDOS DE PENSÃO? forma efetiva de a educação previdenciária? Veja o


que eles responderam:
melhorar a ges-
tão de ativos num
Com a estabilização dos juros Outro motivo favorável à diversifi- mentos. “No caso brasileiro, os inves-
básicos no Brasil, especialistas con- cação das carteiras é a instituição da timentos com Fundos de Investimen- contexto de gestão
cordam: as entidades fechadas de resolução 4.661/2018 do Conselho tos em Participações (FIP) têm sido de riscos.” – Heinz
previdência complementar (EFPC) Monetário Nacional (CMN), que mo- associados com corrupção. Por isso, Rudolph
precisam buscar rentabilidades maio- dernizou as regras de alocação de quebrar esse ciclo vicioso depende da
res em outros mercados. recursos das EFPC com o objetivo melhora da governança”, defendeu o
No segundo painel do 3º Seminário de aumentar a segurança nos investi- economista do Banco Mundial.
Internacional Funpresp, o economista
líder do Banco Mundial, Heinz Rudolph, Lazlo Kioshi Sacuno Luz, servidor do
defendeu a diversificação de investi- Senado Federal – No Senado, trabalho
mentos como prática de governança. com a reunião de informações para toma-
da de decisão das pessoas. Às vezes elas
Segundo a Associação Brasileira de ficam perdidas e vêm procurar informação
Entidades Fechadas de Previdência de qualidade. Estou aqui para juntar ideias
Complementar (Abrapp), em 2018, e informações para entregar uma decisão
inteligente ao servidor, com base em infor-
73,4% da carteira das EFPC eram in- mações e dados. Existe muita desinforma-
vestidos em renda fixa. ção e isso só se combate com informação
de qualidade, com informações trazidas
por diversos palestrantes, ver como os
outros países lidam com essa situação e
ver o que a gente pode tirar para adaptar à
“A manutenção da taxa nossa realidade, enriquecer o debate.
de juros em patamares de
4,5% a.a. nos dá a possi-
bilidade de pensar que a
carteira de investimentos
não pode ser mais só no
papel público. Precisamos
fazer um esforço para
diversificar a carteira
para ativos como renda Inês Ramos Cavalcanti, servidora do
Banco Central – A informação é funda-
variável e infraestrutura. mental em qualquer setor, e minha parti-
cipação no seminário acontece, acima de
Temos um cenário novo, tudo, porque fui eleita para o Conselho Deli-
berativo da Funpresp, então é importante eu
no qual precisamos de me atualizar nas melhores práticas e de for-
governança nas entida- mas de gestão. É um processo de melhoria.
Temos que nos atualizar para trabalhar na
des que possa ajudar no melhoria contínua do fundo de pensão dos
servidores. A previdência complementar
desenvolvimento de longo é importante para qualquer trabalhador, é
uma renda complementar, porque cada vez
prazo.” - Heinz Rudolph mais temos visto que o INSS é que vai ser
o extra, mas a nossa aposentadoria é que
está nas nossas mãos.
18 19
Revista Funpresp Revista Funpresp

REGULAMENTAÇÃO Outro ponto chave da questão, de no novo cenário regulatório brasilei-


acordo com Coelho, é a implantação, ro. Segundo ele, a entidade criou um
a partir de 2019, dos comitês de au- fundo de trabalho para acompanhar
O titular da Superintendência Na- ditoria nas fundações de previdên- as mudanças na regulamentação das
cional de Previdência Complementar cia complementar. Os grupos, em EFPC, mas a grande aposta – e de-
(Previc), Fábio Coelho, também defen- conjunto com as auditoria internas safio - das fundações nos próximos
deu mudanças nas carteiras com base e independentes de cada EFPC, são anos será a criação dos planos fami-
na queda dos juros e em novas regu- estruturas de controle, monitora- liares de previdência.
lamentações da própria Previc com o mento e fiscalização que visam miti-
objetivo de gerenciar possíveis riscos gar os riscos operacionais resultan-
inerentes a todas as EFPC. tes de fraude ou omissão. A criação
“A gente precisava trazer a cultu- dos comitês é obrigatória para o rol “No caso dos nossos
ra de gerenciamento de risco para os das chamadas entidades sistemati-
fundos de pensão brasileiros e ma- planos convencionais é
camente importantes, definidas pela
pear esses riscos. Isso não significa instrução nº 07/2017. muito fácil convencer os
que eles de fato vão acontecer, mas é participantes porque tem
preciso mitiga-los antes que possam
a paridade. No caso do
nascer”, afirmou. Nesse sentido, Co-
elho alertou que o principal ponto de plano família, como não
“Para um cenário de
atenção é a qualificação dos gestores tem contrapartida, temos
dos fundos de pensão, que passou a pós-reforma da previdên-
que competir com todas
ser obrigatória em 2016. cia, algo que precisa ser
as outras alternativas de
regulamentado, e que já
investimentos existentes.
existe na Funpresp, é a
Acredito que nos próxi-
determinação do patrimô-
mos meses estaremos
nio de afetação dos planos
“São eles que tomam prontos para oferecer
de benefícios. É preciso
as decisões, a diretoria, essa facilidade aos fami-
implementar essa regra
os conselhos deliberativo liares dos nossos empre-
no Brasil para blindar os
e fiscal: as pessoas que gados” – Edécio Ribeiro
planos de benefícios.” -
compõem a governança Brasil
Fábio Coelho
nas fundações. O que fi-
zemos foi colocar um pilar
de habilitação, imple-
Fábio Coelho também aposta nos
mentando a determinação PLANOS FAMÍLIA planos família e diz que o caminho já
que qualquer pessoa que foi aberto para a consolidação desse
for dirigente de fundo de Também palestrante do segundo projeto. “Essa regulamentação será
pensão precisa ter reputa- painel do 3º Seminário Internacional feita em uma discussão posterior à
Funpresp, o diretor-superintendente Reforma da Previdência. Com ela, va-
ção ilibada, conhecimento da Fundação Vale do Rio Doce de Se- mos enxergar um processo de con-
técnico, entre outros re- guridade Social (Valia), Edécio Ribeiro solidação do número de fundos de
quisitos.” – Fábio Coelho Brasil, apresentou a experiência do pensão, com crescimento dos partici-
Para Fábio Coelho, há a necessidade de fundo de pensão do qual está à frente pantes e dos ativos geridos.” •
trazer a cultura do gerenciamento de risco
para os fundos de pensão.

20 21
Revista Funpresp Revista Funpresp

Painel III COMUNICAÇÃO E o mercado ainda está reticente sem gem mais simples. É preciso se importar
PARTICIPAÇÃO entender direito o risco”, afirmou com o participante e fazer ele entender
Cláudio Pires, diretor de Investimen- que o dinheiro é dele e fazer com que ele

CHILE: LIÇÕES PARA A ADOÇÃO DO Os especialistas, no entanto, reco-


nhecem que esse tipo de investimen-
to enfrenta resistência, decorrente
tos da Mongeral Aegon.
Para Wagner Guida, a resistência
deve ser vencida com informação. “A
se interesse muito mais pela Funpresp
ou qualquer fundo”, destacou.
A discussão sobre educação fi-
MODELO DE CAPITALIZAÇÃO NO BRASIL principalmente da complexidade na-
tural do assunto que provoca, con-
gente tem que aprender a se comunicar
com os participantes, e a verdade é que
nanceira e previdenciária ocorre no
momento em que a Funpresp viabi-
sequentemente, um baixo nível de falar com cliente sobre investimento é liza a implementação dos perfis de
A previdência social no Chile vem entretanto, é fazer com que a carteira mente o volume aumentaria”, disse. informação da população em geral chato para eles. Tendemos a ser muito investimentos, previsto para o início
sofrendo mudanças estruturais desde de investimentos tenha a melhor renta- Os demais participantes do 3º sobre o tema. “No Brasil, o merca- técnicos quando falamos de investimen- de 2020. Basicamente, o participante
1981, quando o sistema com três pilares bilidade possível, de modo a aumentar painel defenderam que o Brasil deve do de fundo de pensão aloca 0,5% tos e previdência e a verdade é que falar será automaticamente alocado numa
foi instituído. O modelo de capitalização a poupança previdenciária futura dos aplicar recursos de seus fundos de em fundos offshore. A diversificação com o cliente sobre investimento é cha- carteira conforme sua idade e dispo-
é o que vigora no país vizinho, onde os participantes do fundo. pensão em offshores, uma vez que o lá fora vai ser uma necessidade, mas to para eles. Temos que ter uma lingua- nibilidade a riscos (mais ou menos
trabalhadores têm direito ao benefício O CEO da Itaú Asset Management mercado nacional já conta com regu-
proporcional ao esforço de poupan- no Chile, Wagner Guida, explicou que lamentação e fiscalização eficientes
ça ao longo da vida laboral, diferente no país vizinho a taxa básica de juros para coibir práticas de corrupção.
do mutualismo vigente na previdência de 3% enseja a diversificação dos in- Para o professor-adjunto do Departa-
social no Brasil (veja como funciona a vestimentos: “43% do fundo é inter- mento de Ciências da Computação da “A gente tem que aprender a se comunicar com os participantes. A
previdência no Chile na página 34). nacional, 21% é título público, 21% em Universidade Federal de Minas Gerais
O sistema de capitalização, no en- CDB e 35% em outros tipos. O merca-
verdade é que falar com cliente sobre investimento é chato para eles. Te-
(UFMG), Cristiano Arbex Valle, esse
tanto, já é uma realidade nas entidades do chileno não comporta o tamanho da tipo de investimento é “inevitável”.
mos que ter uma linguagem mais simples. Fazer o participante entender
fechadas de previdência complementar própria indústria de fundo de pensão. “O mercado brasileiro tem condições sobre investimentos não é fácil. Além disso, em geral, o nível de educa-
brasileiras e é uma das propostas de São US$ 240 bilhões em patrimônio, de suportar seu próprio crescimento, ção financeira do latino-americano é muito pobre.” – Wagner Guida
alteração da Reforma da Previdência a internacionalização do investimen- mas algumas características impe-
(Proposta de Emenda à Constituição to vem desde o começo e quando foi dem um crescimento muito grande
06/2019). Um dos desafios do modelo, regulado já era previsto que periodica- dos fundos de pensão aqui”, destacou.

O painel III discutiu


poupança previdenciária,
portfólios e perfis de
investimentos e trouxe
experiências do Itaú, da
Mongeral Aegon Asset e
da UFMG.

22 23
Revista Funpresp Revista Funpresp

conservador). Serão quatro faixas de LIQUIDEZ DOS FUNDOS


investimentos com percentuais de “A gente se baseia num nível de Pelo sistema previdenciário do
alocação da carteira que variam entre risco com base numa simulação. É daí país vizinho, o participante pode tro-
A informação e entendimento ade- que saem as informações que são re- car o tipo de fundo no qual está in-
renda fixa e renda variável. Participan-
quados dos participantes a respeito passadas para o cliente sobre os ris- vestida a reserva individual de previ-
tes mais jovens serão inseridos em
das próprias decisões de investimento cos para ele entender o perfil no qual dência. São cinco fundos, que vão do
perfis com maior risco, enquanto os
é uma proteção a mais, segundo espe- ele está entrando. O risco de liquidez A ao E, de acordo com o maior ou
mais velhos ficarão nas carteiras mais
cialistas, para uma equação ainda difícil é o mais difícil de calcular. Então se o menor risco dos investimentos. Pela
conservadoras. Mas o servidor pode-
de resolver: a exata previsão dos ris- sistema permite esse excesso de tro- legislação chilena, a alteração é co-
rá trocar os perfis se assim desejar,
cos aos quais todos estão sujeitos. Isso cas, isso pode fazer com que a sua es- brada do participante se houver mais
depois de fazer o suitability (teste de
porque a entrada ou saída inesperada timativa de risco informada ao cliente duas mudanças por ano. No entanto,
adequação a risco). Nesse sentido, o
de recursos de uma ou outra carteira esteja equivocada”, explicou Cristiano as entidades pararam de cobrar e, na
desafio é municiar o participante com
pode provocar problemas de liquidez e Arbex Valle, mencionando o modelo prática, é possível trocar de modelo
informações para que ele tome a me-
de flutuação excessiva dos preços dos chileno como um exemplo que pode de fundo a qualquer momento (confi-
lhor decisão sobre onde alocar seus
ativos, apesar de existirem modelos provocar o desequilíbrio entre previ- ra como funciona o sistema previden-
recursos para a aposentadoria.
matemáticos de previsão desses riscos. são e rentabilidade real. ciário no Chile, na página 34).
“O que a gente tem visto das 24 as-
sets que o grupo Mongeral Aegon tem Para tentar reduzir a ocorrência
no mundo é a tentativa de ser proativa de eventos imprevistos pelos mode-
no apoio à decisão de investimento do los de cálculos, Arbex defende uma
cliente final. Ela não toma a responsa- “A Funpresp tem mais de R$ 1,7 bilhão de patrimônio, imagi- maior aproximação entre os estudos
bilidade de delegar a decisão da apli- teóricos feitos no ambiente acadêmi-
na daqui a cinco anos, quando o patrimônio pode ter triplicado co e os modelos de previsão aplicados
cação para o participante porque tem
todo o dever fiduciário. Como conhe- e os perfis de investimentos tenham sido efetivamente adotados na prática. “Tem muita coisa estudada
cedora do mercado de investimentos no dia a dia dos clientes. É preciso ter disciplina e conversa nas universidades, muitos temas que
tem todas as condições de fazer essa franca. O participante só estará tranquilo quando ele tiver edu- estudamos que poderiam potencial-
colocação para o investidor final”, de- mente colaborar com a gestão de re-
cação financeira para saber o perfil dele e saber o que as admi- cursos, a alocação, e isso ainda não
fendeu Cláudio Pires.
nistradoras estão fazendo com o dinheiro dele de uma maneira saiu da academia para chegar à vida
bastante simples.” – Wagner Guida prática. Existe sempre uma distância
entre teoria e prática e, no Brasil, isso
ainda é pouco explorado”, defendeu. •
Chile: apesar de modelo conso-
lidado, comunicação com o par-
ticipante ainda é desafio
Apesar do modelo de previ-
dência chileno existir desde 1981,
a falta de informação ainda é um
obstáculo a ser superado: 67% da
população do país não sabe qual
é o percentual do salário descon-
A diversificação é melhor tado para própria aposentadoria;
para o portfólio e vai promo- 87% não sabe quanto sua enti-
ver o crescimento das cartei-
ras, defende Cláudio Pires. dade escolhida cobra para admi-
nistrar seu fundo de pensão; 41%
diz saber o que é a pensão básica
solidária (PBS), mas apenas 8%
conhece o valor e somente 2%
sabe como obter o benefício.

24 25
Revista Funpresp Revista Funpresp

ENTREVISTA
prática, o agente tira um pouco da li-
CRISTIANO ARBEX VALLE berdade de escolha do modelo, mas
vale ressaltar que modelos não são
necessariamente perfeitos. Eles bus-
Debatedor no painel mas não é tão fácil de assimilar. En-
tende-lo no papel é diferente de ex-
cam fazer o melhor com as regras
estabelecidas, o que não implica que “Devemos buscar todos
III do 3º Seminário perimentar seus efeitos na prática. considerem todos os fatores neces-
os meios disponíveis para
Todos querem um retorno mais alto, sários. Nesta aproximação entre os
Internacional mas muitos não compreendem que, mundos, é um desafio explicar estes repassar estes conceitos
para isso, é necessário aceitar níveis conceitos para o cidadão. O fato de ser
Funpresp, o maiores de risco. Somente o investi- um desafio não o torna menos essen- de forma inequívoca e
professor-adjunto mento em educação financeira pode cial, dado o impacto destas decisões
clara, oferecendo toda a
ajudar a reduzir este desequilíbrio no futuro dos participantes. Devemos
do Departamento entre expectativa e realidade. buscar todos meios disponíveis para assistência para que cada
repassar estes conceitos de forma
de Ciências da Como as pesquisas do meio aca- inequívoca e clara, oferecendo toda a participante possa tomar
Computação da dêmico podem contribuir para a im-
plantação de modelos mais perso-
assistência para que cada participan-
te possa tomar decisões condizentes
decisões condizentes com
UFMG trabalha para nalizados de investimentos para os com seu perfil. seu perfil.” - Cristiano
participantes de fundos de pensão?
transformar cálculos Por que é importante diversi- Arbex Valle
teóricos em prática, Os modelos de decisões de inves-
timento do mundo acadêmico procu-
ficar os investimentos feitos pe-
los fundos de pensão e como isso
como forma de ram otimizar alguma métrica consi- impacta as escolhas individuais de
derada desejável, que pode ser uma cada participante?
tornar as previsões medida de recompensa, de risco, ou
de investimentos dos mesmo um trade-off entre recom-
pensa e risco. Nem sempre, porém,
É não só conhecido, mas também
mensurável, que a diversificação aju-
fundos de pensão mais os portfolios ótimos são desejáveis da a reduzir o risco, seja o risco me-
do ponto de vista prático. Por exem- dido como a volatilidade ou através
seguras e confiáveis. plo, modelos podem sugerir uma ex- de métricas mais recentes como o
posição alta em um ativo que possua Conditional-Value-at-Risk. Este bene-
Por que é preciso investir em uma história recente muito boa, mas fício é limitado quando todos os ativos
educação financeira e previdenciá- onde não há garantia de performan- possuem fatores de risco em comum,
ria aliada à maior oferta de modelos ce similar no futuro. Um gestor ou como é o caso do mercado brasilei-
de investimentos para os partici- participante individual pode não ter ro. Isto justificaria, por exemplo, que
pantes de fundos de pensão? a mesma percepção. O mundo aca- fundos de pensão investissem em ati-
dêmico também estuda como reduzir vos de outros países como forma de
Uma maior oferta de modelos de esta distância de percepções. maximizar este efeito. Quanto maior
investimento traz vantagens, como é o benefício da diversificação, maio-
uma maior flexibilidade para posicio- É possível aproximar esses dois res são os retornos em potencial das
nar os diversos perfis existentes. É mundos e tornar o assunto mais pa- carteiras que podem ser criadas para
crucial, porém, que as pessoas com- latável para o cidadão que busca a um nível desejado de risco. Isto be-
preendam bem as consequências previdência complementar? neficia diretamente os participantes
das suas escolhas para que possam que, quando se posicionam em um
tomar decisões bem informadas. O Modelos matemáticos de tomada determinado perfil de risco, estão re- Cristiano Arbex Valle alerta que todos querem um retorno alto, mas não compreendem que, para isso, é necessário aceitar riscos maiores.
conceito de risco parece simples, de decisão poder ser adaptados. Na cebendo maior potencial de retorno.•

26 27
Revista Funpresp Revista Funpresp

OPINIÃO DO
Marcelo Siqueira, presidente do Conselho
Deliberativo da Funpresp - Sempre vêm à
tona novas iniciativas de alterações do sistema
de previdência do país voltando-se à mesma

ESPECIALISTA
lógica: a ideia que a proteção previdenciária é
de responsabilidade do próprio servidor, jun-
to com seu empregador. Passamos para uma
dimensão na qual ele se sente cada vez mais
responsável pelo custeio dos seus direitos e,
mais do que isso, os servidores começam a
Por que é importante debater a previdência complementar, principalmente do servidor enxergar o valor de ver as suas reservas acu-
muladas, como garantia e lastro de que no fu-
federal, no contexto de reformas que estão acontecendo pelo mundo, e promover a turo esses benefícios serão concedidos. Diante
educação previdenciária? desse cenário, a importância da previdência
complementar se avoluma e se torna extrema-
mente necessário que, de tempos em tempos,
nós consigamos reunir especialistas, do Brasil
e de fora, para juntos encontramos soluções
Wagner Lenhart, secretário de Gestão e de como garantir uma proteção previdenciária
Luís Ricardo Martins, presidente da Asso- efetiva para essa parcela da sociedade.
Desempenho de Pessoal do Ministério da
ciação Brasileira das Entidades Fechadas
Economia - Temos uma situação de conheci-
de Previdência Complementar (Abrapp) – É
mento de todos: um sistema previdenciário que
importante disseminar e discutir temas da pre-
não se sustenta mais. Encontros como esse,
vidência complementar, ainda mais nesse pe-
para debater os temas relacionados à previ-
ríodo de reestruturação. É uma grande janela Fábio Coelho, diretor-superintendente da
dência complementar, de fato vêm em muito
de oportunidade em função do debate que vem Superintendência Nacional de Previdência
boa hora e são extremamente oportunos e ne-
sendo travado sobre a necessária Reforma da Complementar (Previc) - Existe, no Brasil,
cessários. Existem dois pontos fundamentais
Previdência, em especial o crescimento da uma discussão muito forte em torno da ne-
no debate: a necessidade constante de avan-
previdência complementar do servidor público. cessidade da Reforma da Previdência, tendo
çar na governança dos fundos de previdência
O volume que a Funpresp tem em patrimônio em vista o cenário fiscal brasileiro. Isso traz
e, nesse sentido, a Funpresp faz um trabalho
mostra quanto o sistema vem gerindo bem os grandes oportunidades do ponto de vista da
incrível, mas o desafio de melhorar a gover-
seus recursos. As pessoas estão vivendo mais, educação financeira porque o assunto “prepa-
nança deve ser constante para todos os fundos
isso é uma boa notícia, e elas sabem que à luz ração para a aposentadoria” começa a entrar
de previdência. O segundo é a forma como se
da Reforma da Previdência elas vão trabalhar na mesa do cafezinho do brasileiro. Os gesto-
dá a administração dos fundos dos valores que
mais, contribuir por mais tempo e receber um res precisam identificar as características dos
são depositados para que haja bom rendimen-
benefício menor. Nesse sentido, a previdência participantes e endereçar medidas de informa-
to, boa remuneração e, ao mesmo tempo, que
complementar é um grande veículo de incre- ção. Do ponto de vista regulatório, a Previc tem
se tenha segurança e gestão dos recursos das
mento, de conforto no período da inatividade. editado regras de transparência ativa para os
aposentadorias dos participantes.
Solange Vieira, titular da Superintendência fundos de pensão, dando informações para o
de Seguros Privados (Susep) - É superim- participante subsidiar as decisões. É preciso
portante a iniciativa da Funpresp em promover empoderar o participante para que ele tome
a discussão. Temos que conscientizar a popu- suas próprias decisões. Este é o grande de-
lação de que queremos viver mais e viver bem. Helder Molina, presidente da Mongeral – safio do ponto de vista de educação financeira.
E, para isso a gente precisa olhar para o futu- Não teríamos o cenário que temos hoje se a
ro. Nesse sentido, o trabalho que a Funpresp Funpresp não tivesse sido fundada. A Funpresp
tem feito junto aos servidores públicos é fun- é a pedra fundamental para essa transforma-
damental. Tem havido um aumento da preo- ção do cenário da previdência brasileira. Sem
cupação com a própria aposentadoria, temos dúvida, a população como um todo acredita, já Amarildo Vieira, diretor-presidente da Funpresp-Jud - A previdência complementar
vistos jovens discutindo o futuro, a formação hoje, que precisa se preocupar com seu futuro, do servidor público veio para ficar. É o sopro de renovação do sistema de previdência
de poupança. A demanda por previdência com- que o estado não vai prover 100% das suas complementar fechado e de fato é o caminho, a solução que se busca para tornar sus-
plementar tem aumentado no país, mas ainda necessidades. Sem dúvida nenhuma isso está tentável a nossa previdência no longo prazo. E num seminário que traz as experiências
está muito aquém do necessário. A longevida- acontecendo e, cada vez mais, o cidadão bra- de fora, podemos ver que os problemas que eles vivem lá fora são semelhantes aos que
de é um problema mundial, mas no Brasil, a sileiro vai perceber que precisa se preocupar vivemos aqui. Temos um grande desafio, que é municiar essas pessoas de informações
expectativa de vida tem subido mais rápido que com a própria aposentadoria, a exemplo de di- para tomar essa decisão. Quanto maior o debate e mais familiar, mais fácil vai ficar tomar
a de países desenvolvidos, por isso a transfor- versos povos no mundo que já nascem se pre- a decisão. O participante tem que entender e se enxergar na previdência e tomar a de-
mação necessária, para nós, é maior. ocupando com sua aposentadoria e com riscos cisão que mais vá atender aos seus interesses. Quanto mais informação, mais subsídio
de sobrevivência. É um ponto fundamental o ao participante para assegurar o seu próprio futuro.
debate, nada se cria sem educação, sem que
as pessoas se desenvolvam, e qualquer semi-
nário faz com que elas fiquem esclarecidas.
28 29
Revista Funpresp Revista Funpresp

está correndo. Há necessidade de um


ENTREVISTA aprendizado constante. A população
“A gente tem que aprender a se
WAGNER GUIDA comunicar com os participantes e
chilena sabe o que são os perfis de
investimento, ela entende, eles dormem
e acordam olhando para a rentabilidade

O CEO da Itaú Asset beneficiários dos fundos. Esse tipo das suas carteiras. E quem sabe daqui
a dois ou três anos o participante da
Management A.G.F. de discussão é inclusiva e melhora Funpresp também vai acordar e dormir
pensando na rentabilidade do seu plano,
no Chile foi um dos o balanço de risco do fundo. Tem nos perfis que tem, nas opções que pode
painelistas na última que haver um avanço cultural na fazer, em como tomar decisões para
a sua própria reserva previdenciária.
rodada de debates gestão de portfólios no Brasil.” Se o participante não tiver a corre-
ta informação e não souber pelo que
do 3º Seminário - Wagner Guida está optando, a entidade acaba dando
mais problema que solução, mas essa
Internacional Funpresp, conversa não é de hoje pra amanhã.
no qual falou sobre própria aposentadoria. É tão impor-
E a diversificação dos investimentos
passa, necessariamente, por essa
a diversificação dos tante para o servidor público quanto melhora na comunicação com o parti-
para qualquer brasileiro. A Reforma
investimentos dos da Previdência passou a ser assunto
cipante do fundo.

fundos de pensão e da “mesa do cafezinho” do brasilei- O aumento na qualidade da in-


ro e agora ele está começando a se formação entregue ao participante
a implementação dos dar conta da sua responsabilidade de um fundo de pensão traz desa-
em relação à própria aposentadoria.
perfis de investimentos A previdência complementar passa a
fios à entidade da qual ele faz par-
te. Que desafios são esses?
para os participantes. ser um porto seguro.
Quando a gente consegue fazer
A Funpresp vai implantar, no chegar a informação ao participante,
Por que é importante difundir o início de 2020, os perfis de investi- consequentemente ele vai exigir cada
debate sobre a previdência comple- mento para seus participantes. O que vez mais responsabilidade da enti-
mentar? é possível aprender, nesse aspecto, dade, maior investimento em melhor
com o modelo do país vizinho? governança corporativa, melhores
Essa discussão é fundamental, práticas socioambientais. É uma
e é um desafio porque é comum O Chile tem muitas lições que pressão natural. Na Europa os par-
que o participante só comece a se podem ser aprendidas sobre imple- ticipantes demandam isso. Tem que
preocupar com a aposentadoria mentação dos perfis. Acho que a ser o núcleo do processo de inves-
quando está próximo dela. Antes principal delas é como assessorar o timento essa responsabilidade so-
disso, o assunto é muito pouco participante para lidar com os perfis cial com o fundo de previdência. O
tangível, ainda que seja uma reser- de investimentos. Temos que enten- patrimônio dos planos de previdên-
va dele desde a primeira contribui- der o risco do cliente e ter a seguran- cia complementar, principalmente
ção. Não é fácil se comunicar com o ça de que ele entenda os riscos que da Funpresp, vai crescer muito nos
participante, e isso deve ser um próximos anos e dar mais opções ao
processo contínuo. As pessoas têm Para Guida, o maior desafio à diversi- participante não é, necessariamente,
buscado esse conhecimento até ficação das carteiras de um fundo de
pensão é a comunicação com o partici- dar as melhores opções, se ele não
pelas redes sociais. A boa informa- pante, que precisa ser bem informado estiver ciente de todos os aspectos
ção é essencial para a relação com a sobre os riscos dos investimentos. que influenciam as suas escolhas.•

30 31
Revista Funpresp Revista Funpresp

complementar da aposentadoria do
ENTREVISTA setor privado (401k) parece bastante
interessante como lição para o Brasil.
EDUARDO RIOS-NETO No caso chileno o que mais gostei foi
a demonstração de que, a despeito de
todos os eventuais problemas, a capi-
O professor da de capitalização, por influenciar dire-
tamente o resultado da acumulação.
talização apresenta taxas de retorno
razoáveis. As potenciais mazelas da
UFMG e doutor em Já o envelhecimento populacional é cobertura social e do baixo valor de
uma medida de período e reflete a
Demografia pela estrutura etária da população. Pode
aposentadoria parecem paradoxais
com o retorno positivo demonstrado,
“Em uma sociedade que
Universidade de ser medido pela razão de dependên- mas decorrem de uma intermitên- opera em regime de repartição
cia da pessoa idosa ou pela idade cia no período de contribuição, de-
Berkeley, na Califórnia média da população e afeta direta- corrente das taxas de desemprego e que passa por um processo de
mente o equilíbrio previdenciário
(EUA), atuou como do regime de repartição simples. O
e informalização tão características
dos países latino-americanos. Tanto
envelhecimento populacional,
coordenador técnico
envelhecimento populacional é afe- o caso americano quanto o chileno a previdência complementar
tado tanto pela fecundidade quanto apontam para a necessidade de um
do 3º Seminário pela mortalidade. Num esquema de pilar básico de repartição na reforma, é fundamental para facilitar
contribuição definida, a longevidade
Internacional afeta o tempo médio de contribuição
que seja uma espécie de seguro para
incertezas. No caso brasileiro, como
uma transição para um sistema
necessário para uma aposentadoria ainda temos um pilar não contributi- previdenicário equilibrado.” -
Funpresp e avaliou digna e, portanto, a taxa de retorno vo dado pelo benefício de prestação
do fundo de acumulação. Já o en- continuada (BPC) e aposentadoria Eduardo Rios-Neto
as contribuições velhecimento populacional afeta a rural, creio que o pilar básico teria de
dos debates para o razão de dependência do regime
de repartição simples, demandando
equacionar os incentivos contributi-
vos na base da pirâmide, para que o
cenário previdenciário mudança na idade de aposentadoria segmento não contributivo não fosse
ou na alíquota de contribuição para atrativo em comparação ao segmento
brasileiro. manter o sistema equilibrado. contributivo. A despeito desses deta-
lhes relevantes, o seminário apontou
Que ideias debatidas no 3º Se- para um elevado potencial de pou-
Para efeitos de entendimento minário Internacional podem ser pança privada ou coletiva com o ad-
dos estudos previdenciários, qual levadas em consideração para a re- vento da reforma previdenciária.
é a diferença entre a longevidade alidade da previdência brasileira?
e o envelhecimento populacional? Nesse contexto, qual é a impor-
Como esses conceitos impactam O seminário foi importante em vá- tância do debate sobre a previdên-
os estudos e discussões sobre pre- rias dimensões, na análise do caso cia complementar?
vidência? de vários países e na análise da go-
vernança, particularmente os casos No contexto de uma sociedade
A longevidade é uma medida in- americano e chileno. No caso ame- que opera em regime de repartição e
dividual e longitudinal, ela não reflete ricano, destaco tanto a questão do que passa por um processo de en-
uma condição de momento, o que os sistema de pilares múltiplos, como a velhecimento populacional, a previ-
demógrafos chamam de período, ela previdência dos estados. Acho que dência complementar é fundamental
reflete os anos vividos de um indi- muitas lições podem ser tiradas para para facilitar uma transição para o
víduo. Nesse sentido, a longevidade os estados brasileiros, onde pratica- equilíbrio previdenciário, principal-
afeta mais o equilíbrio atuarial da mente todos possuem um passivo de mente levando-se em conta que ela
capitalização individual, sendo extre- aposentados descoberto por um fun- consiste num regime de capitalização Para Rios-Neto, o compartilhamento de experiências internacionais, especialmente dos Estados Unidos e Chile, devem render lições
mamente relevante para os fundos do de capitalização. Além disso, o pilar com contribuição definida. • valiosas para o caso brasileiro.

32 33
Revista Funpresp Revista Funpresp

A PREVIDÊNCIA Suécia
O sistema previdenciário é formado por um regime de repartição simples de

PELO MUNDO
Contribuição Definida Nocional (NDC), chamado de Pensão Baseada em Renda
(Income Pension), e um sistema de Contribuição Definida Capitalizado (FDC), re-
presentado pelas Pensões Prêmio (Premium Pension), que estão relacionados à
renda individual. A contribuição é de 18,5%, sendo 16% destinados ao NDC e 2,5%
ao FDC. Existe ainda o benefício mínimo e o habitacional, destinado aos aposenta-
dos de baixa renda e com despesas de moradia.
Estados Unidos O NDC é um misto entre os regimes de repartição e de capitalização. No NDC, as
contribuições dos trabalhadores ativos continuam financiando os benefícios dos atu-
No país, todos os trabalhadores da iniciativa privada são cobertos pela previdência ais aposentados/pensionistas (regime de repartição), mas os benefícios são calcu-
social, gerida pelo governo federal, além de parte dos servidores públicos de alguns es- lados de acordo com as contribuições pretéritas dos beneficiários, acumuladas com
tados e municípios que, no passado, decidiram se associar ao sistema federal. Os entes base em taxas de juros “virtuais” (regime de capitalização com contas nocionais).
que estão de fora da previdência federal têm fundos próprios de pensão, e a maioria O sistema é complementado por um regime de previdência complementar, que
enfrenta problemas de financiamento inferior ao necessário para custear os benefícios. cobre cerca de 90% dos trabalhadores dos setores públicos e privados. Esses planos
Em alguns estados, os professores têm fundos de pensão separado dos demais servi- são feitos por acordos coletivos entre sindicatos e confederações de empregadores
dores, mas com regras parecidas para aquisição de benefícios. e são “semi-obrigatórios” aos funcionários. Nesses acordos, os empregadores con-
O valor da aposentadoria é calculado por uma fórmula que leva em consideração as tribuem com planos de pensão, fornecendo benefícios complementares ao regime
contribuições feitas pelo trabalhador e a renda média durante os 35 anos em que ele público para aqueles cuja renda supera o teto do sistema estatal.
recebeu os salários mais altos. A maioria dos americanos, tanto funcionários públicos
quanto os da iniciativa privada, se aposenta aos 65 anos.
Para obter benefícios adicionais ao da aposentadoria pública, os trabalhadores devem Japão Reino Unido
contribuir para um plano de pensão complementar – os chamados 401(k) -, ou formar pou-
panças individuais. Atualmente, 2/3 dos americanos acima dos 65 anos de idade dependem Existem três tipos de contribuições Em 2012, o Reino Unido criou o Natio-
basicamente das pensões pagas pelo sistema público. diferentes, chamadas: kosei nenkin, koku- nal Employment Savings Trust, o NEST. O
min nenkin e kyousai nenkin. O primeiro plano é de contribuição definida, público,
deles - kosei nenkin - é o plano de seguro de baixo custo e conta com adesão au-
de pensão do empregado - numa compa- tomática. Com a implementação dele, os
Canadá ração com o Brasil, seria o equivalente à trabalhadores passaram contar com um
Chile contribuição do trabalhador para o INSS.
É financiado pelo pagamento de um im-
fundo de pensão capitalizado com contra-
partida do empregador.
O país adota um teto para o benefício pago na aposentadoria. A previdên-
cia governamental canadense é o Canada Pension Plan (CPP), semelhante à No país vizinho, a previdência tem três camadas: Holanda posto obrigatório a todos os trabalhadores
no Japão.
A adesão automática e obrigatória foi
instituída em 2017. O NEST é um plano adi-
previdência social brasileira. O benefício proporciona uma renda ao contribuin- a primeira, solidária, para trabalhadores que recebem
te e familiares em caso de aposentadoria, morte ou invalidez. A contribuição até um salário mínimo – aproximadamente US$ 500 A previdência na Holanda é composta O kokumin nenkin é o plano de pensão cional criado para complementar os valores
feita ao CPP é obrigatória para o trabalhador com mais de 18 anos que esteja mensais -, financiada pelo pagamento de impostos; a por três pilares. O primeiro é o de reparti- nacional. É uma contribuição facultativa pagos pelos sistemas públicos do país. As
empregado em empresas canadenses. O valor máximo da contribuição é de segunda, obrigatória, financiada pela contribuição in- ção simples, que garante um benefício de que permite ao trabalhador ter uma apo- contribuições de 8% são distribuídas entre
4,95% e a empresa contribui também com a mesma porcentagem. No caso dividual de 10% da remuneração do trabalhador; e a valor uniforme associado ao salário míni- sentadoria maior. Já o kyousai nenkin é o governo, patrões e empregados.
dos autônomos, esse valor deve ser pago duas vezes. O benefício máximo terceira, complementar, com contribuição individual in- mo. O segundo é composto por fundos de a contribuição dos funcionários públicos. Para participar, o trabalhador deve ter
pago pelo governo é limitado a 1,2 mil dólares canadenses mensais. centivada por benefícios fiscais. pensão privados de empresas e indústrias, Ela dá direito a uma pensão proporcional à idade entre 22 e 65 anos e renda míni-
Para se aposentar no país, a idade mínima é 60 anos de idade. Caso Na segunda camada, existem seis entidades fe- integrando contratos de trabalho entre sin- remuneração do servidor e é descontada ma tributável de 8,105 mil libras esterli-
o cidadão opte por esta idade, há uma redução no valor pago da apo- chadas que administram as reservas dos trabalhado- dicatos e empregadores, e é de participa- no próprio contracheque. nas. Caso o trabalhador que não satisfaça
sentadoria, que é de menos 0,6% ao mês antes dos 65 anos. O limite res (AFP). Cada uma possui cinco fundos que dividem ção obrigatória. O terceiro pilar é integrado A aposentadoria no Japão é obtida por esses requisitos queira se filiar ainda há
máximo para dar entrada na aposentadoria é com 70 anos, sendo que os investimentos entre maior e menor aversão a ris- por planos de pensão individuais que têm idade, invalidez ou falecimento. O tem- chance, desde que tenha entre 16 e 75
neste caso o indivíduo consegue um acréscimo de 0,7% ao mês no co. Cada novo entrante deve permanecer na mesma isenção tributária até determinado teto, po mínimo de contribuição é de 25 anos anos e renda de 5,564 mil libras esterlinas
tempo que passou dos 65 anos. entidade gestora por dois anos. Após esse período, a de modo que costuma atrair mais os tra- com idade mínima de 65 anos tanto para (contribuindo com a proporção mínima).
Para o trabalhador que se aposenta mais tarde, com idade avançada, mudança é livre, sem custos, mas limitada a duas alte- balhadores autônomos. Os programas de homens como para mulheres. Para ter As contribuições ao NEST são calcula-
existe ainda o abono de permanência Old Age Security (OAS), que é um rações anuais. No entanto, as gestoras dos fundos não aposentadoria do país são fomentados com direito ao valor integral, é necessário ter das sobre a faixa de renda entre 5,564 e
fundo de pensão dos idosos. Ao contrário do CPP, o trabalhador não têm cobrado as trocas feitas acima desse limite. base no regime de capitalização. contribuído por 40 anos. 42,475 libras esterlinas por ano.
contribui mensalmente para esse benefício. O fundo provém de um valor Se não for cumprido o retorno médio dos últimos
determinado da arrecadação total de impostos e é deste montante que 36 meses, as entidades devem entrar com capital pró-
Fontes: 3º Seminário Internacional Funpresp; Ministério da Economia; Revistas da Abrapp nº 400 e 421; Embaixada do Japão; sites: http://previdenciasimples.com;
são retiradas as contribuições. O OAS é baseado no tempo em que a prio para garantir a rentabilidade mínima do sistema. http://www1.folha.uol.com.br; http://brasil.elpais.com http://www.itiban.tur.br; http://economiasemsegredos.com; http://whatsjap.com.br; http://consultoriabr.com.br;
pessoa viveu no Canadá. Todas as entidades são privadas. http://www.vidaprevidenciaria.com.br; http://revbprev.unifesp.br; http://epocanegocios.globo.com; http://www.anfipmg.org.br; http://www.econ.puc-rio.br.

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