Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Mauro Schiavi
1
Palestra apresentada no 49º Congresso Brasileiro de Direito do Trabalho, realizado pela LTr em
24.06.2009.
1
Conforme o referido dispositivo constitucional, ao
sindicato cabe a defesa dos direitos individuais e coletivos da categoria. No
aspecto coletivo, a legitimação do sindicato é própria para a defesa da categoria
por mandamento constitucional, podendo defender os interesses concretos e
abstratos da categoria. Para a defesa de direitos individuais homogêneos, o
sindicato o faz na qualidade de substituto processual, ou seja: defende em nome
próprio direito alheio (art. 6o, do CPC), sendo, atualmente, o entendimento do
Supremo Tribunal Federal que a legitimidade do sindicato para a defesa dos
direitos individuais homogêneos da categoria é ampla.
2
a existência de um devido processo legal coletivo que disciplina o acesso à
jurisdição coletiva, bem como o procedimento das ações coletivas no âmbito do
judiciário. Esse devido processo legal coletivo é decorrência do próprio princípio
da inafastabilidade da jurisdição previsto no artigo 5º, XXXV, da CF.
3
sentença normativa (arts. 873 a 875, da CLT); c) de extensão: que têm por
objeto estender as cláusulas fixadas na sentença normativa para toda a categoria
(arts. 868 a 871, da CLT).
4
dispondo sobre a questão. Em razão disso, a Justiça do Trabalho detém a
competência constitucional para criar normas por meio da chamada sentença
normativa.
5
Nesse sentido é o artigo 219 do Regimento Interno do
TST: Frustrada, total ou parcialmente, a autocomposição dos interesses coletivos em
negociação promovida diretamente pelos interessados ou mediante intermediação
administrativa do órgão competente do Ministério do Trabalho, poderá ser ajuizada a
ação de dissídio coletivo. § 1.º Na impossibilidade real de encerramento da
negociação coletiva em curso antes do termo final a que se refere o art. 616, § 3.º, da
CLT, a entidade interessada poderá formular protesto judicial em petição escrita,
dirigida ao Presidente do Tribunal, a fim de preservar a data-base da categoria. § 2.º
Deferida a medida prevista no item anterior, a representação coletiva será ajuizada no
prazo máximo de trinta dias, contados da intimação, sob pena de perda da eficácia do
protesto.
6
Recusando-se qualquer das partes à negociação
coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar
dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir
o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho,
bem como as convencionadas anteriormente.
7
reivindicações da coletividade representada. Se o adversário recusa a arbitragem
privada e também a jurisdicional, o conflito se mantém e os interesses dos
trabalhadores, de melhores condições de salário e de trabalho, com apoio na
ordem econômica, fundada na valorização do trabalho e social, que tem como
base o primado do trabalho e como objetivo o bem-estar e a justiça social, são
lesados, sem que se permita o acesso ao Poder Judiciário para defendê-las, como
assegura a Constituição, no inciso XXXV do art. 5o”. (TRT – 2a R. – AC
2005001595 – 21.7.2005 – DCE – SDC – DOE SP – Pj – 9.8.2005 – Relator José
Carlos da Silva Arouca).
8
entes sindicais ou a empresa decidam sobre a melhor forma de solução dos
conflitos.
9
como locução que engloba tanto os requisitos de validade como os pressupostos
processuais stricto sensu (somente aqueles concernentes à existência do
processo)” (Pressupostos Processuais e condições da ação: juízo de
admissibilidade do processo. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 105-106).
Os pressupostos processuais são requisitos de
existência e validade da relação jurídica processual. Enquanto as condições da
ação são requisitos para viabilidade do julgamento de mérito, os pressupostos
processuais estão atrelados à validade da relação jurídica processual. Por isso, a
avaliação dos pressupostos processuais deve anteceder às condições da ação.
Dispõe o art. 267, IV do CPC:
“Extingue-se o processo, sem resolução do mérito:
(...) IV – quando se verificar a ausência de
pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo”.
O Tribunal Superior do Trabalho firmou
jurisprudência nesse sentido, entretanto, não tem exigido que o requisito deva ser
preenchido quando do ingresso da ação.
Nesse sentido, destacam-se as seguintes ementas:
Dissídio coletivo – Falta de comum acordo. Em que
pesem as posições contrárias em defesa do princípio da inafastabilidade da
jurisdição (art. 5º, inciso XXXV, da CRFB), não se pode desconsiderar que a
Emenda nº 45/04 impôs a observância de comum acordo para o ajuizamento de
dissídio coletivo. Por conseguinte, o não-cumprimento dessa exigência impõe a
extinção do processo sem julgamento do mérito por ausência de pressuposto
válido e regular do feito. (TRT 12ª R – Seção Especializada 1 – Rel. Juiz
Garibaldi T. P. Ferreira – Doc. nº 1068010 em 07.01.09 – DC nº
588/2007.000.12.00-0) (RDT nº 03 - março de 2009).
DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA
ECONÔMICA. AUSÊNCIA DE COMUM ACORDO. PRESSUPOSTO
PROCESSUAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO. Conforme a jurisprudência
firmada pela Seção Especializada em Dissídios Coletivos do Tribunal Superior
do Trabalho, a partir da exigência trazida pela Emenda Constitucional nº 45/05
10
ao art. 114, § 2º, da Constituição Federal, o comum acordo constitui pressuposto
processual para o ajuizamento do dissídio coletivo de natureza econômica. No
caso concreto, verifica-se que o não-preenchimento desse requisito, ora renovado
em preliminar, foi expressamente indicado por alguns dos suscitados desde a
contestação, o que implica óbice ao chamamento desta Justiça Especializada para
exercício de seu Poder Normativo. Assim, reformando a decisão do Tribunal
Regional que rejeitou a preliminar de ausência de comum acordo, em relação aos
suscitados que renovaram a arguição, julga-se extinto o processo, sem resolução
de mérito, a teor do art. 267, IV, do CPC, ressalvadas as situações fáticas já
constituídas, nos termos do art. 6º, § 3º, da Lei nº 4.725/65. Recursos ordinários
aos quais se dá provimento. AUSÊNCIA DE COMUM ACORDO.
INOVAÇÃO RECURSAL. CONCORDÂNCIA TÁCITA. Ao interpretar o
art. 114, § 2º, da Constituição da República, esta Corte Superior tem admitido a
hipótese de concordância tácita com o ajuizamento do dissídio coletivo,
consubstanciada na inexistência de oposição expressa do suscitado à instauração
da instância no momento oportuno, e a qual não se desconstitui mediante a
arguição tardia e inovatória em sede de recurso ordinário. LEGITIMIDADE
PASSIVA. CATEGORIA DIFERENCIADA. Em face da Lei nº 7.410/85 e da
Norma Regulamentar nº 27 do Ministério do Trabalho e Emprego, os técnicos de
segurança do trabalho constituem categoria profissional diferenciada, na forma
do art. 511, § 3º, da CLT, o que lhes permite ajuizar dissídio coletivo econômico,
a fim de serem fixadas condições de trabalho específicas, a despeito da
diversidade das atividades econômicas desenvolvidas pelas empregadoras, de
forma que a legitimidade passiva não se sujeita à correspondência entre as
categorias econômica e profissional. Recursos ordinários conhecidos e
parcialmente providos. (TST - Processo: RODC - 20244/2007-000-02-00.2
Data de Julgamento: 11/05/2009, Relator Ministro: Walmir Oliveira da Costa,
Seção Especializada em Dissídios Coletivos, Data de Divulgação: DEJT
29/05/2009.
RECURSOS ORDINÁRIOS. DISSÍDIO
COLETIVO. AUSÊNCIA DE COMUM ACORDO. ART. 114, § 2º, DA
11
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004.
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. A
discordância dos Suscitados com o ajuizamento do dissídio coletivo,
oportunamente manifestada em contestação, determina o decreto de extinção do
processo sem resolução do mérito, por ausência de pressuposto processual:
comum acordo previsto no art. 114, § 2º, da Constituição Federal, com a redação
conferida pela Emenda Constitucional nº 45/2004. Inconstitucionalidade dessa
exigência, ante o disposto no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, que não se
verifica. Precedentes desta Corte. Recursos ordinários aos quais se dá
provimento. (TST Processo: RODC - 20315/2007-000-02-00.7 Data de
Julgamento: 13/04/2009, Relator Ministro: Fernando Eizo Ono, Seção
Especializada em Dissídios Coletivos, Data de Divulgação: DEJT 30/04/2009.
RECURSO ORDINÁRIO. FALTA DE COMUM
ACORDO. ART. 114, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 45/2004. Hipótese em que se configura a falta do
comum acordo exigido no art. 114, § 2º, da Constituição Federal, com a redação
conferida pela Emenda Constitucional nº 45/2004. Expressa e oportuna
discordância dos suscitados com a instauração do dissídio coletivo. Dissídio
coletivo extinto, sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, IV, do CPC.
Recurso ordinário a que se dá provimento (TST - Processo: RODC - 2521/2007-
000-04-00.4 Data de Julgamento: 13/04/2009, Relatora Ministra: Kátia
Magalhães Arruda, Seção Especializada em Dissídios Coletivos, Data de
Divulgação: DEJT 24/04/2009.
12
Nesse sentido é a posição abalizada de Pedro Carlos
Sampaio Garcia:
13
Não obstante, a lei não pode ser interpretada de forma
literal2, pois este método de interpretação é o primeiro recurso de que se vale o
intérprete, não podendo ser descartados os demais meios de interpretação,
principalmente, os sistemático e teleológico.
2
Dizia o jurista Alípio Silveira que interpretação literal é para leigos.
14
Assim, não há necessidade do comum acordo ser
prévio ao ajuizamento do dissídio, podendo tal condição da ação ser preenchida
no curso do processo, inclusive de forma tácita, pela não oposição do suscitado.
O Tribunal não pode declarar de ofício a falta do comum acordo, devendo este
ser invocado em defesa pelo próprio suscitado, sob conseqüência de preclusão
15
09/10/2008, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Seção Especializada
em Dissídios Coletivos, Data de Divulgação: DEJT 24/10/2008).
16
sejam utilizados pelo julgador a razoabilidade e a eqüidade. Aduz o referido
dispositivo: “Nos dissídios sobre estipulação de salários, serão estabelecidas
condições que, assegurando justos salários aos trabalhadores, permitam também
justa retribuição às empresas interessadas”.
Quanto ao limite máximo do poder normativo, ou
seja, o seu teto, sempre houve divergências e discussões acaloradas.
17
vazio legislativo, e sujeitas à supremacia da lei formal (art. 114, § 2o, da
Constituição). Recursos de que não se conhece no concernente à cláusula
(reajuste salarial), por ausência e pressupostos de admissibilidade, e, ainda, no
que toca às cláusulas 52a (multa pela falta de pagamento de dia de trabalho), 59a
(abrigos para a proteção dos trabalhadores), 61a (fornecimento de listas de
empregados), 63a (fixação de quadro de aviso), visto não contrariarem os
dispositivos constitucionais contra elas invocados, especialmente o § 2o do art.
114” (STF, Reclamação n. 197.911-9. Rel. Min. Octávio Gallotti, DJU 7.11.97)
É bem verdade que a referida decisão do Supremo
Tribunal Federal, seguida por outros acórdãos na mesma linha, esvaziaram em
muito os limites do poder normativo, uma vez que, por ser este uma verdadeira
atividade legislativa, deve atuar no chamado branco da lei, não podendo invadir
matérias reguladas pela lei, nem regulamentar matérias que a Constituição
reservou para a lei ordinária. Também, à luz do art. 766, da CLT, o poder
normativo deve estar balizado pelo justo salário e também a justa retribuição da
empresa. Desse modo, na sentença normativa, o Tribunal se valerá de regras de
equidade e razoabilidade, para encontrar um equilíbrio entre a pretensão do
trabalhador (classe trabalhadora) e as possibilidades do capital (empregador).
18
Mostra-se polêmica a seguinte questão: se um dos
sindicatos recusar-se à negociação, à arbitragem e ao dissídio, como resolver o
impasse?
Partindo-se da premissa da necessidade do comum
acordo, se houver discordância do suscitado, o Tribunal não poderá julgar o
dissídio coletivo de natureza econômica. O ordenamento jurídico trabalhista não
prevê mecanismos de solução deste impasse. O conflito prolongado pode gerar
litigiosidade contida e desembocar em greve sem precedentes.
Na Espanha e em Portugal, quando a greve perdura
por lapso de tempo considerável, sem consenso, há a obrigatoriedade de
instauração de arbitragem compulsória. Esta solução é possível de ser aplicada
no Direito Brasileiro, embora não haja tradição, pois o direito comparado é fonte
do direito material e processual do trabalho, conforme disciplina no artigo 8º, da
CLT, “in verbis”:
As autoridades administrativas e a Justiça do
Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o
caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e
normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de
acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira
que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse
público.
19
“Se o sindicato profissional for fraco e não tiver
densidade suficiente para impor pressão por meio da greve, poderá instaurar o
dissídio coletivo de natureza econômica no Tribunal, suscitando, de foram
incidental, o suprimento judicial do ‘comum acordo’, por meio de tutela
específica, com fulcro no art. 461 do Código de Processo Civil, que trata das
obrigações de fazer, bem como com fundamento em imposição de uma condição
meramente potestativa do empregador, na denegação do aludido comum acordo.
Restaria, dessa forma, superado o óbice do ‘comum acordo’ para que o Tribunal
conhecesse do dissídio coletivo de natureza econômica” (Dissídio Coletivo e
emenda constitucional n. 45/04. Considerações sobre as teses jurídicas da
exigência do comum acordo. In: Revista do Advogado, Ano XXVI, Julho de
2006, n. 86, São Paulo, AASP, p. 22).
20
atendendo ao mandamento constitucional previsto no art. 93, IX, da Constituição
Federal.
21
vai ainda mais longe em relação a tais pagamentos já efetuados pelo empregador
com base em sentença normativa regional, quando impede a repetição do
indébito se houver reforma da decisão pelo TST” (Processo Coletivo do
Trabalho. 3ª ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 211).
22
do Tribunal Superior do Trabalho poderá, desde que relevante o fundamento,
atribuir efeito suspensivo ao recurso ordinário, nos termos do art. 14, da Lei n.
10.192/01.
Dispõe o artigo 14, da Lei 10.192/01:
“O recurso interposto de decisão normativa da Justiça
do Trabalho terá efeito suspensivo, na medida e extensão conferidas em
despacho do Presidente do Tribunal Superior do Trabalho”.
Mesmo diante do que dispõe o referido dispositivo
legal, pensamos que o recurso ordinário terá efeito apenas devolutivo. O efeito
suspensivo depende de manifestação expressa do Presidente do TST.
Pensa de forma diversa Carlos Henrique Bezerra leite:
“(...)o recurso ordinário interposto da sentença normativa terá sempre efeito
suspensivo, cabendo ao Presidente do Tribunal ad quem (TST) em despacho
(rectius, em decisão fundamentada), estabelecer, discricionariamente, as
conseqüência concretas do feito suspensivo, como, por exemplo, indicas as
cláusulas que podem produzir efeito de imediato e as que deverão aguardar o
trânsito em julgado da decisão a ser proferida pela SDC” (Curso de Direito
processual do Trabalho. 7ª Edição. São Paulo: LTr, 2009, p. 984).
Se o dissídio for de competência originária do TST, o
recurso cabível é o de embargos para o próprio TST, que recebem o nome de
embargos infringentes, tendo por objeto modificar a decisão proferida pelo TST
em dissídios coletivos não unânimes, conforme o art. 894, I, a, da CLT c/c. art.
2o da Lei n. 7.701/88 que assim dispõe:
“Compete à seção especializada em dissídios
coletivos ou seção normativa: (...) II – em última instância julgar: c) embargos
infringentes interpostos contra decisão não unânime proferida em processo de
dissídio coletivo de sua competência originária, salvo se a decisão atacada estiver
em consonância com precedente jurisprudencial do Tribunal Superior do
Trabalho ou da Súmula de sua jurisprudência predominante”.
Desse modo, os embargos de divergência são cabíveis
para a seção de Dissídios Coletivos do TST, quando a decisão proferida pelo
23
Tribunal Superior do Trabalho em dissídios coletivos de sua competência
originária, ou rever ou estender as sentenças normativas, não unânimes, salvo se
a decisão recorrida estiver em consonância com precedente jurisprudencial do
TST ou Súmula.
24