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Círculo Iniciático de Hermes

CODEX HERMETICUM 00

PREPARAÇÃO DO POSTULANTE AO CÍRCULO INICIÁTICO DE HERMES

Ser um Adepto, conhecer segredos e desvendar mistérios. O desejo de saber mais,


não ser apenas mais um rosto na multidão, vem motivando pessoas que buscam através do
conhecimento oculto, um controle maior de sua vida e do mundo em que vive.
Segundo a magia tradicional, o Homem (Ser Humano) foi criado por Deus para
dominar sobre todas as coisas existentes (anjos, demônios e todos os seres e coisas
criados), tornando-se desta forma, senhor do universo, semelhante a Deus.

As técnicas mágicas ocidentais buscam essa libertação da alma do indivíduo,


mudando sua condição de joguete do destino a de Senhor do Mundo. Muitos são os
caminhos: Xamanismo, Druidismo, Hermetismo, Thelema, Rosacrucianismo, Maçonaria,
enfim, os métodos são variados, como se desejassem atender a todos os gostos. Realmente
pode-se dizer que, para cada indivíduo, existe uma escola específica.

A iniciação que o postulante está em vias de realizar marca uma passagem, uma
mudança de estado perante o mundo e o grupo ao qual ele está pretendendo ingressar.
O iniciando torna-se, nesse momento, o ator central de um drama ritualístico que ilustra, de
maneira simbólica, a passagem de sua condição de profano para membro do grupo.

Para iniciar-se ao Círculo Iniciático de Hermes, o postulante deve preparar-se,


cumprindo as etapas básicas que permitirão seu ingresso no grupo.

O QUE O POSTULANTE DEVE SABER ANTES DE SER INICIADO AO CIH

1. Deve escolher um nome


Nas Organizações Iniciáticas tradicionais, aquele que se torna um iniciado muda de
nome, como se estivesse deixando para trás uma vida que teve anteriormente, e
adquirindo agora uma nova vida. O CIH aceita essa prática também no intuito de
que se pratique em seu seio a verdadeira fraternidade. Em nossa vida comum,
podemos encontrar pessoas das mais diversas origens e condições sociais.
Como somos uma organização fraternal, as condições financeiras ou a posição
social de nossos membros não é importante. Por isso, escolhemos um nome que
nos represente, indicando nossos interesses ou nossa natureza enquanto indivíduos.
O nome pode ser uma palavra, como: Parsifal, Arcturus, Obi Wan.
Ou pode ser um lema: Perdurabo, Anúbis do Leste, Deo Duce Comitê Ferro.
Esse nome também é uma forma de proteção, pois como é dito num dos rituais
“com nomes e palavras despertam-se e se redespertam todos os poderes”.

2. Deve buscar o real motivo de seu ingresso ao CIH

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Círculo Iniciático de Hermes
Antes da iniciação o postulante deve meditar e questionar-se sobre o motivo que o
trouxe às portas da iniciação. Em nenhum momento, seus motivos devem ser apenas
a curiosidade ou o interesse passageiro na escola. O caminho da iniciação e duro e
penoso. Os que são motivados por pensamentos superficiais e tolos, não a poderão
compreender em sua plenitude ou aproveitar sua profunda sabedoria.

3. Tranqüilizar sua mente e seu espírito


Os dias que precedem a iniciação são talvez tão importantes quanto a própria
iniciação. Nesses dias, o estudante deve manter-se tranqüilo, tentando evitar
preocupações de qualquer natureza que possam deixa-lo angustiado ou sem a
devida atenção ao ritual para o qual está se preparando. Deite-se mais cedo, durma
o bastante para estar descansado e com as forças em dia.

4. Cuide de seu corpo


Tenha uma alimentação equilibrada, evitando comidas pesadas ou que possam lhe
fazer mal. Mantenha sua higiene pessoal em dia. O ato de banhar-se representa não
só uma limpeza externa, mas também interna. No banho, imagine que todas as
impurezas estão indo embora com a água do banho. No dia da iniciação use roupas
confortáveis e calçados idem. Evite roupas apertadas ou que ainda não esteja
habituado.

5. Elimine todas as dúvidas antes da iniciação


Provavelmente, você tem contato com alguém do CIH. Antes da iniciação, são
feitas algumas reuniões para esclarecer aos iniciandos todas as dúvidas e
expectativas. Em casa, anote num caderno todas as suas dúvidas. Nas reuniões,
pergunte até que todas sua perguntas tenham sido respondidas.

Esperamos que você possa aproveitar sua iniciação ao máximo, vindo a ser ma is
uma brilhante estrela no corpo de Nut, a filha de pálpebras azuis do céu poente.

Que o que recebemos nos mantenha na busca da QUINTA-ESSÉNCIA, a Pedra


Filosofal, a verdadeira Sabedoria, a Felicidade Perfeita, o SUMMUM BONUM.

Frater Goya

Khabs Am Pekht ♦ Konx Om Pax ♦ Luz em Extensão

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Círculo Iniciático de Hermes
CODEX HERMETICUM 01

PORQUE O CÍRCULO INICIÁTICO DE HERMES NÃO É UMA RELIGIÃO E


NÃO É CONFLITANTE COM NENHUMA DAS RELIGIÕES TRADICIONAIS

Este texto deve ser lido e mantido à disposição de todos os membros, visitantes ou
curiosos sobre as práticas de nossa escola, uma vez que busca esclarecer, evitando erros de
interpretação ou má explanação. Deve ser lido e/ou distribuído obrigatoriamente nos discursos
introdutórios àqueles que desejam se tornar membros do Círculo Iniciático de Hermes.
Este documento não é definitivo, isto é, ele não encerra-se na última linha, mas pode
ser acrescentado e alterado pelo Supremo Conselho, para ser fiel aos princípios da
Organização, assim como às fontes Tradicionais.

1º) Da Natureza do Círculo Iniciático de Hermes:


Por ser uma organização não-sectária, não-religiosa, de cunho cultural e social, o
C:.I:.H:., deve manter suas portas abertas a pessoas oriundas das mais diversas religiões ou
crenças, sem qualquer distinção entre elas.

2º) Suporte Tradicional:


Para que qualquer pessoa possa ser iniciada na verdadeira Tradição (definindo
Tradição como sinônimo de Lei Perennis, Sophia Perennis ou ainda Al-Hikmat al-illahia,
sendo estes um certo número de princípios metafísicos que é comum a todas as religiões), ela
deve, necessariamente, estar ligada a alguma religião Tradicional. O Círculo Iniciático de
Hermes reconhece apenas 4 Grandes Religiões Tradicionais. São elas:
a) O Cristianismo – representado aqui apenas pela Igreja Católica Apostólica
Romana e pelo Cristianismo Ortodoxo;
b) Budismo – ou seja, o Budismo Tradicional, com suas práticas exotéricas.
(Não é incluído aqui qualquer tipo de “Budismo” que não tenha base
religiosa, prometendo Zen’s de fim-de-semana);
c) O Judaísmo – Para o judeu praticante e consciente de suas obrigações e
práticas (Mitsvót);
d) O Islam – como corpo tradicional.

Nenhuma escola iniciática pode exigir para si o título de “Tradicional” se não estiver
ligada a nenhuma das tradições supra-mencionadas. Qualquer escola que se julgue no direito
de assim proceder, só poderá conduzir o estudante a um caminho de erro e loucura, pois sendo
o esoterismo uma parte interior do exoterismo (representado pelas Grandes Religiões),
conforme será explicado adiante, é tentar chegar ao interior de um país sem passar por suas
fronteiras. Tais escolas iludem assim o estudante, sem realmente poder oferecer algo que
possa dar algum tipo de “resposta séria” ao mesmo. O que, muitas vezes acontece é que, o
estudante é levado a acreditar num sincretismo absurdo, uma caricatura mal feita da Tradição,
que terminará por desvia -lo de uma vez por todas de todo e qualquer tipo de Salvação.
Nas palavras de Olavo de Carvalho, em sua obra, Fronteiras da Tradição: “Quem não
tem uma religião, quem não está submetido voluntariamente a uma Lei Revelada, não está em
Tradição nenhuma...”

3º) Porque apenas 4 Grandes Religiões Tradicionais:

Última Revisão - 4/8/2003 - 19:29 - Pág. 1


Círculo Iniciático de Hermes
São designadas Religiões Tradicionais, aquelas que possuem um Corpo Integral de
ritos e normas que são o ponto de junção entre a Inteligência e o Infinito. O revigoramento
periódico entre a Inteligência e o Infinito, que é sua origem, denomina-se revelação, quando
desse contato surgem um rito e uma norma destinada a possibilitar esse contato para um
grande número de pessoas1.

Não se pode separar esoterismo e exoterismo, porque eles são a vida e o corpo,
respectivamente, de uma Tradição. Cada Tradição é constituída de 3 elementos
imprescindíveis:
1) Uma Doutrina sobre o infinito, sobre o que é Absoluto e o que é Relativo;
2) Um corpo de Ritos que ajudam o homem a incorporar a verdade da doutrina na sua
forma de existência, de modo a harmonizar o conhecimento e o ser.
3) Um corpo de Símbolos (por exemplo, a arte Sacra) que ajudam a mente a chegar à
intelecção das verdades veiculadas pela Doutrina e corporificadas pelos ritos. As
chamadas ciências tradicionais, como a Alquimia e a Astrologia, (...) fazem parte do
corpo de símbolos de uma tradição. O simbolismo Astrológico, por sua universalidade,
foi bem assimilado pelo esoterismo cristão e muçulmano, de modo que seu estudo é
um bom instrumento auxiliar para quem deseje penetrar no universo destas tradições.

Todas as falsas tradições podem ser facilmente identificadas pelo fato de dispensarem
todo exoterismo e se pretenderem superiores a todas as religiões, às quais, no entanto, elas
imitam e das quais roubam elementos simbólicos e rituais 2.
Portanto, quem realmente deseja seguir uma via de conhecimento espiritual, deve
integrar-se a uma das 4 Grandes Religiões Tradicionais, supra-citadas.

4º) Exoterismo e Esoterismo:


O exoterismo conduz àquilo que as religiões denominam de “salvação da alma após a
morte”, e o esoterismo conduz à chamada “libertação”. Pretender chegar a um esoterismo
sem passar por um exoterismo torna-se tão impossível quanto chegar ao interior de um
país sem passar por suas fronteiras e percorrer seu território. Se alguém desligado de um
exoterismo tem por acaso a felicidade de contactar um mestre espiritual autêntico, a
primeira coisa que este vai fazer é manda-lo aprender e praticar o exoterismo3.
O Círculo Inic iático de Hermes, respeitando a Tradição, sempre incentiva aos seus
estudantes que pratiquem as normas e os ritos básicos de sua religião, pois sem isso, o
estudante não poderá obter nenhum benefício de sua filiação.

5º) Síntese e Sincretismo:


Entende-se por síntese, a união de várias partes que formam um todo harmônico, sem
“quebras”, que permitem uma continuidade do conhecimento.
Sincretismo é a união de várias partes que, necessariamente, não são harmônicas
entre si.
Muitas organizações pretensamente tradicionais, utilizam-se de elementos da tradição,
criando um sincretismo que confunde e dispersa o estudante, deixando-o assim a mercê de
uma desestrutura de tal monta, que os prejuízos produzidos por elas só pode ser corrigido
depois de muito custo.

1
Carvalho, Olavo de, Fronteiras da Tradição, Nova Stella, São Paulo, 1986, p.18.
2
Idem, pp. 19 e 20.
3
Idem, pp. 11 e 12.
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Círculo Iniciático de Hermes
O Círculo Iniciático de Hermes busca, em seu material de estudo e suas práticas, uma
síntese que permitirá ao estudante seguir seus estudos sem maiores prejuízos para sua mente
e seu espírito, pois não é conflitante com nenhuma das fontes da verdadeira tradição.

6º) Das Práticas e Estudos do Círculo Iniciático de Hermes:


Nenhum de nossos estudos ou práticas são contrários aos Deveres Civis, Morais ou
Religiosos de nossos membros. Ninguém é levado a fazer ou a dizer algo que não esteja de
acordo com seus princípios pessoais.

7º) Respeito à Individualidade e Aspectos Fraternais:


No Círculo Iniciático de Hermes, os aspectos individuais e fraternais são levados em
consideração, pois, cada pessoa é diferente e merece tratamento particular, conforme suas
necessidades. O aspecto fraternal da organização é sempre incentivado, pois como grupo,
todos devem participar e confraternizar entre si, pois mentes afins, sugerem corações afins.
Mente e coração devem andar juntos, propiciando um ambiente favorável à amizade e a
comunhão de nossos membros.

8º) A necessidade da Crença em um Deus:


Para aproveitar ao máximo sua filiação e em consonância com os princípios
tradicionais, é imprescindível ao membro a crença em Deus, segundo professado por sua
religião de origem. Os estudos tradicionais exigem essa crença, uma vez que sua ausência
invalida toda a prática exotérica e esotérica, deixando portanto a filiação sem sentido nesse
caso.

9º) Todos os deuses são aspectos do Deus Único:


Embora na Antiguidade tivessem existido religiões politeístas, estudos mais recentes
demonstram que na verdade, grande parte desses povos eram, na verdade, monoteístas, sendo
o seu panteão na verdade, aspectos divinos de um Deus Único e não deuses separados da
Divindade Original. Dessa forma, os diversos aspectos da Divindade eram melhor
compreendidos.
É necessário ter uma religião para entrar no CIH?
Antes que vire confusão, deixem-me explicar. Esse texto possui um sentido de ser.
Na ocasião em que foi escrito, havia no grupo pessoas de várias religiões: Judeus, Batistas,
Católicos Ortodoxos e pessoas que não seguiam nada. Alguns desses membros entraram em
conflito religioso, de participar de um grupo esotérico e continuar indo à igreja. Então, o texto
foi elaborado para exemplificar que não havia necessidade ou importância nesse conflito, já
que o CIH não é uma religião ou pretende tirar as pessoas da sua crença pessoal.Inclusive,
cito um caso curioso, que um de nossos membros que vivia esse conflito levou o citado texto
ao responsável pela sua igreja e o tal sacerdote elogiou a iniciativa e disse que ele poderia
continuar no grupo sem represálias da religião dele. Curioso, não?
Segundo motivo: Como tem sido discutido na lista, e em várias outras, as pessoas
dizem que a religião isso, a religião aquilo, aí trocam, por exemplo, o catolicismo por Thelema e
viram cuspidores de cruz, ou satanistas, esses na verdade, verdadeiros doutores em doutrina
católica, que vencem qualquer beata. Logo, o objetivo principal do texto ou a moral da história,
é que o CIH não quer que nenhum insatisfeito com sua religião a substitua pelo CIH. Se você
é insatisfeito com sua religião, é problema seu que deve ser resolvido por você, e não pelo
CIH, pela OTO, ou qualquer outro grupo que seja. E que se você tem sua religião, e está
contente com ela, ótimo.

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Círculo Iniciático de Hermes
Continue praticando sua religiosidade. A magia não tem nada de contraditório com
sentimento religioso. Existem casos famosos de religiosos que eram grandes místicos, que
podem atestar isso.
E sugerimos no texto que a pessoa tenha uma religião justamente para evitar que o
sentimento religioso do indivíduo seja direcionado a uma religião, e não à um grupo esotérico.
Como diz um certo texto sagrado: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é e Deus".
Para terminar: O CIH não é uma religião. Quem tem problemas com Deus, que
resolva com ele. Aqui, o que fazemos é magia.

Os itens relacionados acima representam o ponto de vista do Círculo Iniciático de


Hermes com respeito à Religiosidade de seus membros, esclarecendo de uma vez por todas,
que não é uma religião e que, ao contrário do que muitos imaginam por desconhecimento,
incentivamos nossos membros a terem uma vida religiosa ativa na comunidade onde ele se
encontra inserido, para que possa desfrutar a totalidade de sua afiliação como membro.

Khabs Am Pekht ♦ Konx Om Pax ♦ Luz em Extensão

Última Revisão - 4/8/2003 - 19:29 - Pág. 4


Círculo Iniciático de Hermes
CODEX HERMETICUM 02

ORGANIZAÇÕES ESOTÉRICAS – PROPOSTAS E SUA LEGITIMIDADE


por Frater Goya (Anderson Rosa)

O objetivo deste material é oferecer ao estudante uma visão geral de como


funcionam a maioria das Organizações Esotéricas e como avalia-las para obter um bom
resultado de sua afiliação. Não utilizaremos o nome de nenhuma organização em especial,
para que ninguém se sinta pessoalmente atingido1 . Tentamos no decorrer do texto manter
uma imparcialidade, para que o leitor possa tirar suas próprias conclusões ao final.
Esse texto pode ser distribuído à vontade desde que não seja alterado, nem
rasurado, acrescido ou diminuído em qualquer uma de suas partes e seja citada sua
origem e autor.

LEGITIMIDADE DAS ORGANIZAÇÕES

Há muito tempo, em especial a partir da segunda metade do séc. XIX e primeira


metade do séc.XX, tornou-se moda reinvidicar para si antiguidade como sinônimo de
vínculo com a Tradição. Embora essas duas sejam distintas2 , os criadores dessas
organizações parecem ignorar isso e misturar tudo isso num único cesto, tornando igual
aquilo que não se mistura.
Todos queriam originar-se do Egito, descenderem de Salomão, Atlântida, Lemúria e
outras coisas. Poeticamente, isso soa bastante interessante, mas na prática, ninguém
consegue provar sua origem “antiqüíssima”.
Acreditamos que isso se baseia num outro sentido do velho adágio “Santo de casa
não faz milagre”3 , onde o que é mais longe, desconhecido e antigo, oferece mais garantias
do que aquilo que é novo e está mais próximo. Algumas organizações chegaram ao cúmulo
de incluir o título “Antigo” em sua razão social e nome fantasia, como se isso lhe servisse
de garantia de idade.
Atualmente assistimos brigas e discussões sobre legitimidade desta ou daquela
organização. Normalmente, ouvimos uma frase muito parecida com: “Nós, da organização
XYZ, somos uma linhagem direta de ..., que agora se estabelece em...” e por aí segue.
A mesma regra aplica-se às patentes de graus que circulam mundo afora. Muitos se
dizem descendentes diretos de Tutmés III, Thutankamon, Salomão (de novo!), Crowley e
outros bichos mais. Não é um papel que irá dizer qual o verdadeiro grau está o indivíduo, e
sim seus resultados práticos. O papel aceita tudo, inclusive verdades e mentiras. Existem
muitas organizações sérias cujos resultados não são discutíveis, que não possuem qualquer
vínculo com organizações “documentadas” ou tampouco descendem de Moisés.

1
Nos reservamos o direito de fugir a essa regra citando a Teosofia e a Golden Dawn, que tem sua história
mais que publicada, não sendo portanto nenhuma ofensa e sim um comentário que exemplifica uma situação.
2
Antiguidade refere-se a tempo, idade. É portanto, uma referência temporal. Tradição pode ser definida como
um certo conjunto de símbolos comuns a todas as religiões, sendo um sinônimo de Sophia Perenis. Para mais
detalhes, veja o CODEX 01 ou ainda, o livro de Olavo de Carvalho entitulado “Fronteiras da Tradição”.
3
Ver a introdução ao Livro da Lei, de Aleister Crowley, pelo Círculo Iniciático de Hermes.

Av. Visconde de Guarapuava, 3950 Ap. 03- Curitiba - Paraná


Fone/Fax: (041)323-4299 E-Mail: goya@rosacruz.com.br
Círculo Iniciático de Hermes
Organizações como a Teosofia, e a Golden Dawn entre outras, tiveram como
origem de sua derrocada, uma mentira. Na Teosofia, as falsas cartas dos mestres. Na
Golden Dawn, os documentos falsos de Ana Sprengel.
Deve-se ter como ponto pacífico, manter a verdade a qualquer preço desde sua
origem. O que dá validade a uma organização é o cumprimento de sua proposta original e
não os papéis que ela possui. De nada adianta ter os ditos papéis e não saber usa-los.
Sugerimos a leitura do livro “O Homem que sabia Javanês” para meditarem a esse respeito.
Isso nos leva ao ponto seguinte.

A VALIDADE DOS SISTEMAS PROPOSTOS

Em magia, o que realmente importa, é o resultado. Se funciona, o restante deixa de


ser importante. É algo como: “os fins justificam os meios”. Não interessa se foi um acesso
inconsciente ou foi um Anjo que lhe respondeu. O que vale é que você atingiu seu objetivo.
Os mistificadores, àqueles que se interessam somente em manter a pessoa sob seu
jugo, criam uma série de empecilhos, regras e todo um conjunto de coisas que tem como
objetivo final aprisionar a mente e o espírito do estudante (e na maioria das vezes a carteira
também).
Esses elementos tentam criar um pseudo-academicismo num terreno não acadêmico
e pretendem com isso validar seu sistema.
A validade de cada sistema só pode ser avaliada após ser experimentada (processo
empírico) ou devidamente observada. Como diz a Bíblia: “A árvore se conhece pelos
frutos. ” ou ainda “assemelha-se a um bolo. Nada se sabe sobre seu sabor até prova-lo.”
Como foi dito logo acima, a observação das propostas da organização e seus membros mais
antigos são uma boa medida de sua real utilidade.
Se uma organização se diz fraterna, não é de se espantar que seus membros não
saibam nada mais que o nome (muitas vezes apenas o primeiro) de outros membros e esses
não mantenham nenhuma amizade externa a ordem?
Um modo bastante fácil de se avaliar isso é observando a relação entre aquilo que a
organização propõe e seus membros mais antigos. Por exemplo: a organização propõe paz e
tranqüilidade num estágio avançado e seus membros mais antigos são vítimas de neuroses e
depressões? Há uma inconsistência aí, não?
No meio Thelemico, cuja principal divisa é: “Faze o que tu queres será toda a Lei.”,
o que mais se percebe são pessoas que fazem a vontade de terceiros. Será essa sua
verdadeira vontade, fazer a vontade do outro? Cremos que não.
Esse é um exemplo, mas ocorre num sem número de organizações rosacruzes,
templárias, gnósticas, maçons, thelemicas, entre outras mais.
O que nos leva ao próximo tópico.

FINALIDADE DE UMA ORGANIZAÇÃO ESOTÉRICA

Tudo já foi publicado. Engana-se aquele que acredita que entrando numa
organização será dono de um poder ainda não revelado ao mundo dos homens, que está de

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posse de um Chefe Secreto. Todos os mistérios já foram revelados. Nada há para se
descobrir ou se escrever.
Se isso é um fato, qual a utilidade de uma organização esotérica?
No processo de aprendizagem, é muito fácil se perder e ficar andando em círculos
quando se está sozinho. Devido à grande quantidade de material, é quase impossível a um
único indivíduo julgar o que é de boa qualidade e ignorar o restante. Logo, uma
organização tem como principal objetivo separar, agrupar e distribuir esse material de
forma coerente, garantindo o aprendizado do candidato. Servem como placas na beira de
uma estrada, orientando o caminho do andarilho. Não se deve confundir a organização com
a estrada, que é o processo iniciático. O candidato deve percorrer a estrada em toda sua
extensão, observando as placas constantes no caminho. Se ele segue o que lhe é indicado,
chega a seu destino. Mas da mesma forma que na vida real, quando se desrespeita a
sinalização, muito facilmente se pode ficar acidentado à beira do caminho.
Logo, percebemos que a organização deve oferecer ao candidato condições para que
ele atinja seu objetivo, mas respeitando seu livre-arbítrio e vontade pessoais, para permitir
um aprendizado de qualidade.

CONCLUSÃO

O que sugerimos aqui é para que os estudantes questionem suas organizações


certificando-se que podem chegar ao objetivo pretendido. Para as organizações, que possam
estruturar seus grupos de forma a oferecer o que há de melhor dentro de cada uma,
respeitando as demais. Para que as várias organizações se conheçam entre si, sabendo
salientar as semelhanças e não as diferenças de cada sistema. Somos todos irmãos, não é
isso que dizem? Portanto, de pé e à ordem meus irmãos, pois é chegada a alvorada e o
trabalho nos espera.

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CODEX HERMETICUM 03

A História do C:.I:.H:.
Por Frater GOYA
"Faça de Sua Evolução a Evolução do Seu Mundo."

Em 3 de março 1623, surgiram em Paris cartazes estranhos com estranhos dizeres que diziam mais
ou menos assim:

“Nós, delegados da Irmandade da Rosacruz, fazemos uma estada visível e invisível nesta cidade, pela graça
do Altíssimo em direção ao qual se dirige o coração dos justos. Nós mostramos e ensinamos sem livros ou
sinais, falamos todas as formas de linguagem nos países onde moramos, a fim de libertar os homens,
nossos semelhantes, do erro e da morte.”

Muitos consideraram isso uma brincadeira, mas Serge Hutin escreveu: “Atribuía-se aos rosacruzes os
seguintes segredos: a transmutação dos metais, o prolongamento da vida, o conhecimento do que se passa em
locais distantes, a aplicação da ciência oculta na descoberta daquilo que está escondido e oculto.” Mais do que
uma fraternidade regularmente constituída ou agremiação, o Rosacrucianismo é uma corrente de pensamento.
Muitos homens de várias épocas e até de hoje em dia podem ser considerados rosacruzes sem participar de
nenhuma organização estabelecida ou reconhecida como tipicamente rosacruz.

Através dos séculos que se seguiram, várias organizações assumiram para si mesmas o título de
ROSACRUZ. Isso não passa de erro e engano, pois rosacruz não designa uma organização mas uma corrente
de pensamento. Um homem torna-se um rosacruz por sua postura diante do mundo e não pelos livros que lê
ou pela religião que professa. Os verdadeiros rosacruzes de outrora foram homens que mudaram seu tempo e
avançaram no conhecimento humano. Apesar de Ter características principalmente intelectuais, o
rosacrucianismo é prático, pois conhecimento sem prática ou aplicação, torna-se uma coisa vã e tola. Através
de documentos como “Fama Fraternitatis”, “Confessio Fraternitatis” e as “Bodas Alquímicas de Christian
Rosencreutz” criou-se o mito da escola rosacruz. Tais documentos descreviam uma nova realidade, ainda hoje
utópica, e que inspiraram muitas das escolas que ainda hoje existem sob a égide rosacruz.

Principalmente no século XIX floresceram muitas organizações ditas rosacruzes, onde podemos
citar: A Ordem Kabalística da Rosacruz, Societas Rosacruciana in Anglia, L’Ordre du Graal et de la Rose-
Croix Catholique e a Hermetic Order of the Golden Dawn ou Ordem Hermética da Aurora Dourada. A Ordem
Hermética da Aurora Dourada foi uma organização cuja influência no desenvolvimento do Ocultismo desde
seu renascimento no quarto final do século XIX, foi muito maior do que a maioria das pessoas pode chegar a
suspeitar. Resta pouca ou nenhuma dúvida que a Aurora Dourada é, ou melhor foi, até bem pouco tempo, a
única depositária do conhecimento mágico, a única ordem oculta de autêntico valor que o Ocidente conheceu
em nossa época. Um bom número de outras organizações Ocultas devem o pouco conhecimento mágico que
possuem a infiltrações da própria Ordem e de alguns membros renegados. Os membros da Aurora Dourada
eram recrutados dentre todas as classes sociais e incluíam representantes tanto das profissões dignas, como
das artes e ciências, para não mencionar os ramos do comércio e dos filósofos. Havia médicos, psicólogos,
clérigos, artistas e filósofos. E homens e mulheres comuns, humildes e desconhecidos, vindos de cada um dos
caminhos da vida, receberam inspiração de sua fonte de sabedoria; e indubitavelmente, muitos reconheceriam
e admitiriam com satisfação a enorme dívida que com a Ordem contraíram através de seus ensinamentos. A
Ordem Hermética da Aurora Dourada como organização preferiu seguir o exemplo de seu misterioso pai (o
mitológico Christian Rosencreutz), e sempre ocultou-se atrás de uma roupagem de impenetrável mistério.
Seus ensinamentos e seus métodos de instrução foram guardados com graves penas ligadas aos mais terríveis
votos de modo a manter este segredo seguro. E tão bem foram estes votos cumpridos, com uma ou duas
exceções, que o grande público não sabe aproximadamente nada sobre a Ordem Hermética da Aurora
Dourada, seus ensinamentos ou a natureza e quantia de seus afiliados. Após o ano de 1900, a Ordem

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Círculo Iniciático de Hermes
Hermética da Aurora Dourada deixou de existir na sua forma original, sendo dividida em diversos
seguimentos, a saber: A Ordem de São Rafael, a Stella Matutina, Alpha-Omega, A Luz Interior, Builders of
the Adytum.

Mais tarde, a Ordem Hermética da Aurora Dourada retorna de seu silêncio em diversas Lojas
espalhadas pelo mundo enviando seus ensinamentos místicos aos Adeptos Associados. Paralelamente a estas
Lojas Místicas, surgem as Lojas Mágicas, que praticam o Ritual Original da Aurora Dourada conforme foi
ensinado através dos Chefes Superiores e entre essas Lojas Mágicas, encontra-se o Círculo Iniciático de
Hermes. Nas Lojas Místicas faz-se apenas o aprendizado do místico, apenas o domínio do intelectual; e nas
Lojas Mágicas, do aprendizado Mágico, vindo o estudante assim a dominar e a moldar a sua própria
realidade, conforme os ensinamentos de Hermes.

Em 1993, através de contatos com Adeptos das Lojas Mágicas de outros países, chegaram às mãos
do atual Imperator do Círculo Iniciático de Hermes, Frater Goya, documentos contendo os rituais,
ensinamentos e práticas utilizados nas Lojas Mágicas da Aurora Dourada. Inicialmente, os poucos membros
foram se reunindo num Círculo Mágico, dando origem por fim, em 5 de março de 1997, ao Círculo Iniciático
de Hermes. Ao conhecimento original da Aurora Dourada, foram inseridos elementos de Hermetismo e de
Magia Thelêmica, de forma que o Círculo Iniciático de Hermes possui atualmente como base de seus
ensinamentos o que de melhor de produziu nos últimos 300 anos no Ocultismo Ocidental.

A linhagem rosacruz atravessou os séculos e persistirá ainda por muito tempo. Através de nosso
trabalho diário, manteremos a chama do mais puro rosacrucianismo acesa dentro de cada Frater e Soror que
comunga de nossos objetivos e ações. Sempre que de alguma forma, o rosacrucianismo foi ameaçado de
extinção, ele deixou a vista dos homens comuns, para surgir em seguida em outro local, com forças
renovadas. A derrocada de muitas supostas organizações verdadeiramente rosacruzes em todo o mundo,
demonstra com propriedade essa afirmação.

Não diremos se somos ou não uma fraternidade de rosacruzes. Criar bandeiras é muito fácil, mas
fazer delas parte de sua conduta é muito difícil. Como dissemos acima o rosacrucianismo é uma linha de
pensamento e não uma organização. O que verdadeiramente buscamos é inspiração em nossos irmãos do
passado e do presente para desenvolver uma conduta rosacruz, e não uma organização rosacruz, pois o
pensamento não pode ser aprisionado por regras e estatutos. O rosacrucianismo torna-se, por essa
característica essencial, a forma mais sublime de manifestação do espírito humano. Muito trabalho ainda deve
ser feito. Através dos estudos de nossos Fratres e Sorores estamos ampliando ainda mais as fronteiras do
Ocultismo. Tudo já está criado, mas ainda falta muito a ser descoberto. O Véu que oculta a verdadeira face da
deusa Ísis se torna mais transparente a cada momento que passa.

O Círculo Iniciático de Hermes não possui mensalidade instituída, e cada membro contribui de
acordo com as definições que lhe serão participadas quando for de direito. O Círculo Iniciático de Hermes não
visa nenhum tipo de lucro que não seja o de engrandecer e praticar a Grande Obra, permitir a seus membros
meios de atingir um nível melhor de humanização, e ensinar e praticar o respeito ao Criador. Não é uma
Religião ou Seita, mas um grupo de estudiosos e praticantes da Ciência de Hermes.

“Como um prelúdio ao que sucederá mais adiante, haverá agora uma reforma geral, tanto de coisas
divinas como humanas, conforme desejamos, e outros esperam. Pois, é natural que, antes do nascer do Sol,
surja a AURORA, ou alguma claridade, ou divina luz, no Céu; e, entretanto, alguns, que darão seus
nomes, se reunirão para aumentar o número e o respeito de nossa FRATERNIDADE, dando feliz e tão
desejado começo aos nossos Cânones Filosóficos, para nós prescritos pelo nosso irmão R.C., participando
então dos nossos tesouros (que nunca se esgotam ou corrompem), com toda humildade, e amor que os
alivie do labor e das misérias deste mundo, de modo que não caminhem tão cegamente no conhecimento
das maravilhosas obras de Deus.” - FAMA FRATERNITATIS (1614).

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Fone/Fax: (041)323-4299 E-Mail: goya@rosacruz.com.br
Círculo Iniciático de Hermes

Principais datas da História dos Rosacruzes

1378 Fundação da Confraria da Rosacruz, por Christian Rosencreutz

1507 Restabelecimento da Ordem à Paris para a Fundação do “Sodalitium” de Agrippa 1541 Morte de
Paracelso, Monarca Secretorum, Reorganizador da Ordem 1559 Barnaud começa seus esforços para reunir os
alquimistas disseminados à Rosa-Cruz

1570 Ressurgimento da Associação dos Irmãos Magos, sob o nome de “Irmandade da Rosa-Cruz de Ouro”

1591 Visita de Barnaud aos Países Baixos para fundar um centro Rosacruz

1592 Fundação nos Países Baixos da R.C. Societas por Isaacus Hollandus

1601 Apelo de Barnaud aos Mestres do Hermetismo para tornar conhecida sua arte à Henrique VI e ao
Príncipe Maurice 1604 Restabelecimento da Confraria da Rosa-Cruz na Alemanha

1605 Morte de H. Kunrath, autor de Amphiteatrum Sapientiae

1606 Reunião da Confraria com a “Militia Crucifera Evangelica”

1614-1615 Dispersão dos manifestos Rosacruzes Fama e Confessio Fraternitatis, sob a direção de Andreae

1615 Fundação do Capítulo R.C. de Cassel por Maurice

1614-1616 Visita de Michel Maier à Fludd na Inglaterra

1619 Publicação de Turris Babel de Andreae, ridicularizando a Fama

1620 Influência exercida em certa época da Rosa-Cruz sobre a Maçonaria para a instituição de uma seção
especulativa Cooperação de Sir Francis Bacon, que é considerado um Chefe da Rosa-Cruz Inglesa.

1622 Manifestação da atividade dos centros Rosacruzes nos Países Baixos, em Amsterdã, em Warmond e em
Haya, onde eles se encontraram com o Príncipe Frederic-Henry, em seu palácio

1623 Nova permanência dos Rosacruzes em Paris

1624 Morte de Boehme, que escreveu textos filosóficos sobre os sistemas dos Rosacruzes

1625 Condenação dos Rosacruzes pela Faculdade de Teologia de Leyde

1628 Condenação de Torrentius e Coppens em Harlem

1644 Morte de J.B. Van Helmont, que se esforçou em cessar a divisão entre a Rosa-Cruz Mística e a Rosa-
Cruz Naturalista

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1645 Fundação, em Londres do 1º Colégio Invisível da Rosa-Cruz pelos naturalistas, sob a direção de Boyle,
com a colaboração de Locke e Sir Wren, reconhecido em

1662 por Charles II como “Sociedade Real”

1650 Morte de Descartes que passou por iniciado Rosa-Cruz

1666 Estabelecimento das regras da Rosa-Cruz de Ouro

1671 Morte de Comenius, ascendente espiritual da Franco-Maçonaria moderna

1710 Publicação por Sincerus Renatus das Regras da Rosa-Cruz de Ouro

1716 Morte de Leibniz, secretário de uma declaração de associação Rosa-Cruz em Nuremberg

1747 Fundação em Arras, do “Capítulo Primordial da Rosa-Cruz Jacobita”, que serviu de modelo ao Grau de
Rosa-Cruz na Maçonaria Escocesa

1750 Introdução do Grau Rosa-Cruz na Franco-Maçonaria Holandesa

1757 Estabelecimento da nova Ordem da Rosa-Cruz de Ouro na Alemanha

1782 Iniciação do Príncipe-Herdeiro Frederic-Guillaume, o futuro rei Frederico II, como Rosa-Cruz em
Berlim

1784 Morte do Conde de Saint-Germain, chefe dos Rosacruzes franceses

1787 Introdução do Grau de Rosa-Cruz Teórico na Franco-Maçonaria Russa

1788 Fundação em Amsterdã, do Capítulo “David et Jonathan, et Jésus-Christ” e “Credentes vivent ab illo”

1803 Construção do Capítulo suprêmo dos Graus elevados em Haye

1804 Fundação em Paris do “Rito Escocês Antigo e Aceito” em 33 Graus, na qual o Grau Rosa-Cruz é
representado como 18º

1865 Fundação da “Societas Rosicruciana in Anglia”

1873 Morte de Sir Bulwer Lytton, Grande Patrono do Metropolitan College

1874 Morte do Ocultista Francês Eliphas Levi, iniciado na Rosa-Cruz em Frankfurt

1879 Fundação da “Societas Rosicruciana in U.S.A.”

1888 Fundação em Keighley da “Hermetic Order of The Golden Dawn” Fundação em Paris por Stanislas de
Guaita da “Ordem Kabalística da Rosa-Cruz” Conferência Internacional dos Rosacruzes-Franco-Maçons em
Bruxelas

1890 Fundação em Paris por Sar Péladan da “Ordem du Graal e da Rosa-Cruz Católica”

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1898 Aleister Crowley é iniciado na Hermetic Order of Golden Dawn.

1900 Fundação das Escolas Alemãs da Rosa-Cruz sob a direção do Dr. Steiner

1907 Fundação da A:.A:. (Astrum Argentum).

1909 Fundação por Max Heindel, da “Fraternidade Rosacruz” em Seattle Fundação em Londres de uma
Associação Rosa-Cruz “Equinox Group”, editando um órgão do mesmo nome

1912 Fundação em Londres por Mme. Besant, Mme. Russak e H. Wedgwood da “Ordem do Templo da Rosa-
Cruz”. Crowley é convidado por Theodore Reuss, a chefiar a seção inglesa da O.T.O.

1915 Fundação em Nova Iorque, por Spencer Lewis, da “American Rosae Crucis Society”

1919 Morte do Dr. W. J. Westcott, Supremus Magus da “Societas Rosicruciana in Anglia”

1921-1922 Os ideais rosacruzes são propagados pelos membros da Antiga Ordem dos Rosacruzes na revista
Licht en Waarheid e Eenheid na Holanda, e tardiamente fundam a Lotus Blaelter na Alemanha

1925 Crowley torna-se Chefe Internacional da O.T.O.

1939 Morte de H. Spencer Lewis. Seu filho, Ralph M. Lewis, assume como Imperator da AMORC

1987 Morre Ralph M. Lewis. Gary L. Stewart assume como Imperator da AMORC

1990 Boatos de desvio de fundos da AMORC fazem com que Gary L. Stewart seja afastado da AMORC,
porém, mantendo seu cargo de Imperator.

1993 Sai a decisão da Justiça Americana a favor de G.L.Stewart, que deixa a AMORC e une-se a um grupo
chamado ARC (Antiga Rosa-Cruz), hoje conhecida como CR+C (Confraternidade Rosae + Crucis) Em
Curitiba, o grupo de iniciados reúne-se para a primeira iniciação do Círculo Iniciático de Hermes.

1997 Iniciam-se as atividades do Círculo Iniciático de Hermes como entidade formal, e ocorre a Segunda
Iniciação do C:.I:.H:., junto com a definição dos Oficiais que formarão o Supremo Conselho. É fundado o
Templo Temenos.

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CODEX HERMETICUM 04 – Publicação Classe E

A História da Aurora Dourada


por Frater Goya

A Golden Dawn (ou Aurora Dourada), foi a segunda sociedade ocultista mais
importante do século passado (a primeira foi a Sociedade Teosófica de H.P. Blavatsky).
Foi criada em 1880 por quatro membros da S.R.I.A. (Societas Rosecruciana in Anglia)
chamados:
A.F.A. Woodford, membro do Clero Anglicano e Maçon;
William Wynn Westcott, médico legista;
W.R. Woodman, médico;
Samuel Liddell Mac Gregor Mathers, estudioso de ocultismo.
A principal proposta da Ordem Hermética da Aurora Dourada, era colocar em
prática os Rituais e Ensinamentos da Magia, fortemente influenciados pelos textos de John
Dee, Eliphas Levi e Francis Barret, entre outros.
Sua reivindicação era a de ser a verdadeira herdeira dos primórdios do
rosacrucianismo e dos princípios de Cristian Rosenkreutz (misterioso pai do
rosacrucianismo), baseando-se num misterioso conjunto de manuscritos cifrados, oriundos
de Westcott. De posse desses documentos cifrados, encontraram em meio a estes, uma carta
com o endereço da Fraülein Ana Sprengel (Sapiens Dominabitur Astris = O Sábio Será
Governado pelas Estrelas) originária de Nuremberg. Mais tarde descobriu-se que esses
documentos foram na verdade, criados por eles.
Esses manuscritos estavam em inglês arcaico, transcritos num código "secreto"
inventado no séc. XVI pelo Abade Trithemius. Nesses manuscritos encontram-se os rituais
e a estrutura hierárquica básica da organização.
Através de um grande volume de cartas remetidas pelos dois lados, o quarteto de
magos foi instruído de forma a preencher os rituais esboçados nos manuscritos cifrados.
Em 1887 Ana Sprengel deu ao grupo, que até então estava subordinado à ela,
autoridade suficiente para poderem abrir a primeira Loja (ou Templo) da Aurora Dourada,
o Templo de Ísis-Urânia. Logo após a fundação do Templo foi anunciada a morte de Ana
Sprengel.
A Aurora Dourada era fundamenta em Graus de aprimoramento, onde o estudante
evoluía de acordo com suas aptidões. O recrutamento de novos membros era feito na
maioria das vezes por cooptação, através de um padrinho, que iria cuidar de sua evolução
dentro da organização e de sua diligência nos estudos.
A divisão dos Graus era baseada na Árvore da Vida, proveniente da Qabalah. São
onze Graus divididos em três classes cada. A partir do Sexto Grau, ao que nos parece, reúne
não seres humanos, mas entidades ou seres superiores.
A Grade de Estudos era bastante exigente em relação ao estudante, que, para passar
de um Grau a outro necessitava provar seu domínio do Grau ao qual estava preste a
abandonar.

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Círculo Iniciático de Hermes
Partindo de rituais do Pentagrama, Armas Mágicas, Talismãs, conversas com Anjos
e Artes Divinatórias, pretendiam dar ao estudante o domínio do mundo em que este vivia.
A partir de 1892, Mathers começou a chefiar a Aurora Dourada praticamente
sozinho, alegando que era iluminado por Mestres Secretos, os quais lhe davam plenos
poderes para tanto. Criou-se então a Ordem Interna (Rubrae Rosae et Aurae Crucis =
R.R.A.C.).
Os rituais da Ordem eram bem construídos pelo profundo conhecimento que
Mathers tinha do ocultismo e eram plenos de poesia e filosofia. Seus efeitos sobre o espírito
humano eram inegáveis assim como seus resultados.
Em 1898, Aleister Crowley ingressa na Aurora Dourada, tornando-se discípulo de
Alan Bennett. Por seu talento com as artes esotéricas e pela sua perspicácia, adquiriu o
respeito de Mathers. Por esse mesmo motivo além de sua independência nos estudos,
surgiram atritos com outros membros da ordem. Em 1899, os membros de Londres
recusaram-se a dar a Crowley o ingresso na Ordem Interna. Essa atitude contribuiu para a
desagragação da Ordem conforme veremos a seguir.
Mathers havia se mudado para Paris com sua esposa Moina, para fundar um ramo
continental da organização e lá conferiu a Crowley o grau de Adeptus Minor. Isso causou
furor nos membros de Londres que votaram a expulsão de Mathers da Chefia da
Organização.
A partir de 1900, a história da Aurora Dourada parecia estar chegando ao fim.
Mathers troca insultos com vários membros da Ordem. Expulsou Florence Farr de seu
posto de segunda no comando da organização. Mathers então manda Aleister Crowley a
Londres para reprimir os rebeldes.
Após vários episódios bastante dramáticos e alguns até tragicômicos, Mathers foi
afastado da Ordem. Depois do ano de 1900, a Ordem Hermética da Aurora Dourada deixou
de existir na sua forma original, sendo dividida em diversos seguimentos, a saber: A Ordem
de São Rafael, A Stella Matutina, Alpha-Omega, A Luz Interior, Builders of the Adytum.
A organização tentou reerguer-se através das mãos de outros grandes nomes do
ocultismo, como Yeats, e A.E. Waite, mas seus esforços não conseguiram manter nem uma
pálida lembrança dos dias de glória daquela que seria conhecida mais tarde como a maior
Sociedade Rosacruz de todos os tempos.
A Ordem separou-se em várias facções que lutavam entre si pelo posto de
verdadeira herdeira da Ordem Hermética da Aurora Dourada.
Hoje ainda existem várias Lojas e Templos espalhados pelo mundo que se dizem
descendentes daqueles quatro magos. A verdade de sua herança, apenas o tempo será capaz
de dizer.
A Aurora Dourada foi o centro onde reuniram-se grandes cabeças da época, sendo
que, da totalidade, podemos citar com segurança:
Maud Gonna, musa inspiradora de William Butler Yeats;
William Butler Yeats, poeta, nobel de literatura de 1924;
Jean-Marc Bride, pai de Maud Gonna, político;
Florence Farr, atriz, conselheira de Bernard Shaw;
William Peck, astrônomo;

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Gérard Kelly, presidente da Real Academia;
Arthur Machen, escritor;
Bram Stocker, escritor, autor de Drácula;
Violet Wirth, ou seja, Dion Fortune, escritora;
Sam Rohmer, escritor;
Edita Montés, condessa de Landsfeld, filha bastarda de Luís I da Baviera, e de Lola
Montés;
Bulwer Lytton, escritor de Zanoni;
Aleister Crowley, mago, fundador da Astrum Argentum, mais tarde O.H.O. da O.T.O

"Como um prelúdio ao que sucederá mais adiante, haverá agora uma


reforma geral, tanto de coisas divinas como humanas, conforme
desejamos, e outros esperam. Pois, é natural que, antes do nascer do
Sol, surja a AURORA, ou alguma claridade, ou divina luz, no Céu; e,
entretanto, alguns, que darão seus nomes, se reunirão para aumentar o
número e o respeito de nossa FRATERNIDADE, dando feliz e tão
desejado começo aos nossos Cânones Filosóficos, para nós prescritos
pelo nosso irmão R.C., participando então dos nossos tesouros (que
nunca se esgotam ou corrompem), com toda humildade, e amor que
os alivie do labor e das misérias deste mundo, de modo que não
caminhem tão cegamente no conhecimento das maravilhosas obras
de Deus." - FAMA FRATERNITATIS (1614).

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CODEX HERMETICUM 05

A História do Círculo Iniciático de Hermes

O ano é 1982. Após ler uma curta biografia publicada numa revista planeta sobre a
Golden Dawn, Anderson Rosa (Frater Goya) ouve pela primeira vez os nomes de Aleister
Crowley, Mac Gregor Mathers, Ordem Hermética da Aurora Dourada, entre outros. O autor
da reportagem menciona no final do texto que os documentos originais haviam sido
perdidos no começo do Século XX. Na sua cabeça, ele alimentava uma vaga esperança de
poder encontrar os ditos documentos de alguma forma. Mas por onde começar? (Mais tarde
descobriria que na verdade a reportagem não era de boa origem e as informações estavam
erradas).
Tentou a revista, não conseguiu nada. Livrarias, ninguém havia ouvido nada a
respeito. Pessoas de suposto conhecimento esotérico. Nada ainda. Em outros livros sobre os
mais diversos assuntos encontrou informações desencontradas. Crowley “O homem mais
perverso da terra”. Aurora Dourada (escola esotérica vitoriana). Alguns nomes de livros
que não eram na época (estamos falando em Curitiba na década de 80) disponíveis
facilmente no Brasil, foi buscando a informação correta, onde pudesse encontrar a fonte da
magia.
Durante quase 10 anos pouca coisa ajuntou ao material original. Em 1990 encontrou
num sebo um exemplar da “Magia Sagrada de Abra-Melin, o Mago” de Mac Gregor
Mathers. No ano seguinte, uma cópia do Livro da Lei. Começava a progredir. Em 1991,
através de um membro da corrente Osho, descobre o Tarot de Crowley. Deixemos agora
que o próprio Anderson Rosa descreva seu encontro com o Tarot de Crowley: “Em 1991,
tive em minhas mãos pela primeira vez o Tarot de Crowley. Enquanto mexia com mãos
trêmulas aquele maço de lâminas, pude perceber que Crowley realmente dera ao Tarot sua
vida e sua obra. As lâminas pareciam vivas nas minhas mãos e ao fundo ouvia a voz do
guia na escuridão. Desde então, o Tarot de Thoth tem sido um companheiro inseparável
em meus estudos e ao qual dedico grande tempo para tentar desvelar as palavras ocultas
do velho companheiro que, na minha mente e no meu coração, ainda permanece vivo.
Ainda naquele ano e no seguinte, estive duas vezes num mosteiro franciscano onde
pude encontrar quietude suficiente para estudar mais profundamente o Tarot. Numa dessas
vezes, algo realmente fantástico aconteceu. Numa determinada noite, estava dormindo e,
em sonho, pude ver a carta de número XIV – A Arte, como se estivesse projetada na parede
de um grande salão. Ao me aproximar, percebi que a carta se movia. Fascinado, cheguei
ainda mais perto e, no local onde normalmente se encontra o nome da carta, havia uma
espécie de degrau que usei para entrar nela. Os movimentos eram lentos e graciosos. A
figura central da carta ia me apresentando todos os outros símbolos num balé maravilhoso
que se fixou em minha alma.” – Tarot - O Templo Vivente, Um Guia Seguro Para o Tarot
de Crowley Associado a Qabalah e a Astrologia, pág. 01, Curitiba, 2000.
Agora, mais que nunca precisava encontrar alguém que lhe desse orientação sobre
Aleister Crowley, Thelema e Golden Dawn. Ouvira falar de Marcelo Motta, mas não foi
possível contatar o mestre que falecera em 1987. Em Curitiba, poucos conheciam Crowley,
e os que conheciam, diziam preferir não conhecer. Isso aguçou ainda mais a curiosidade de
Anderson, que partiu de uma vez por todas, na busca da verdadeira Vontade.
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Em 1993 já havia tornado o Tarot parte de sua vida, como pudemos ver no texto
acima. Foi então convidado pelo Mestre da Loja Curitiba AMORC, a fazer um curso de
Tarot para os membros. Nessa época Anderson ainda era membro ativo nessa organização e
aceitou a tarefa. O curso foi muito bem aproveitado. Nele, foram passados os primeiros
conceitos sobre Thelema e Magick em Curitiba, uma vez que os seguidores do Osho que
ensinavam o Tarot Divinatório, nada sabiam sobre esses assuntos. Isso começou a gerar
certa polêmica dentro da AMORC. Durante o curso inúmeras pessoas que não eram
membros da AMORC tornaram-se. Curiosamente, Anderson foi acusado de estar levando
membros da AMORC para seu consultório de Astrologia, o que era ridículo pelo que
falamos acima, de alunos tornarem-se membros da AMORC e não o contrário. Movidos
pela ignorância, alguns membros o pressionaram para acabar com o Curso de Tarot, pois
Crowley era um Mago Maldito e nada de bom poderia vir daí. Ao invés de parar o Curso, e
já que estava sendo acusado de aliciamento, Anderson resolveu fazer jus a fama. Pegou a
turma inteira e levou para o consultório de Astrologia.
Nesse meio tempo, uma amiga, vinda do México, lhe trouxe os quatro volumes da
obra “The Golden Dawn” de Israel Regardie, e ele começou imediatamente a estudar os
métodos da Golden Dawn. O Curso de Tarot estava acabando, mas os alunos se recusavam
a deixar a sala de aula e pediam mais.
Foi assim que, em 1994, nos meses de Março e Abril, Frater Goya, junto com outros
membros, realizou a primeira iniciação do Círculo Iniciático de Hermes, seguindo os rituais
indicados por Regardie. No entanto, para realizar a cerimônia, era necessário uma equipe.
Então, alguns amigos próximos, que também estavam ligados ao ocultismo de alguma
forma, se dispuseram a auxiliar para formar a primeira equipe de iniciação ao Círculo
Iniciático de Hermes. Nessa época, o grupo ainda não tinha um nome formal e se reunia
quando necessário utilizando o nome da Golden Dawn.
Em 1995, ainda participa de uma derradeira atividade na AMORC, a convite de um
antigo Mestre de Loja. Era um pequeno grupo de estudos de Qabalah que estava se
reunindo tentando encontrar o caminho para a Tradição. Então participou de algumas
reuniões num período que não foi superior a três meses. Após a dissolução deste grupo de
estudo, alguns de seus membros o procuraram na tentativa de formar um novo grupo que
permitisse avançarem em seus estudos.
Esse momento foi crucial na história do Círculo Iniciático de Hermes (que ainda nesse
momento se auto-denominava apenas “Uma Loja Independente da Golden Dawn”).
Haviam dois caminhos que poderiam ser seguidos: podia-se formar um novo grupo de
estudos genérico, com ênfase na Qabalah, ou um grupo que seguisse a estrutura de alguma
ordem esotérica tradicional, e que permitisse a transmissão da iniciação entre seus
membros, dispensando ainda os conhecimentos de forma ordenada, de acordo com as
necessidades do grupo.
Em 1996, Anderson abandona a AMORC, para se dedicar exclusivamente ao trabalho
Magicko. Na AMORC torna-se persona non grata, por seu envolvimento com Thelema.
O grupo continuou, novos cursos aconteceram. O trabalho era muito para uma única
pessoa, e querer realizar tal tarefa sozinho, só poderia produzir algo que não frutificasse
como o esperado. Então, mais uma vez, ele contatou várias pessoas entre amigos ligados ao
ocultismo e alunos, e os trabalhos de tradução e criação de material para o grupo
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começaram. Alguns recusaram, acreditando que seria um absurdo tentar “fundar” uma
ordem esotérica a partir do nada. Outros, sentiram-se um tanto inseguros demais para
abandonar suas “carreiras” em outras ordens. Mas no final, algumas pessoas aceitaram o
desafio e resolveram assumir por seu próprio risco e conta, a árdua tarefa de erigir uma
organização a partir de praticamente nada.
No início, apenas a confiança no conhecimento pessoal de cada um foi o que manteve
acesa a chama do conhecimento oculto nos corações de cada estudante. Muitas foram as
noites de tradução e de pesquisa, onde os Fratres Searthn e Frater Parsiphal se revezavam
diante do computador, resultando no final de um ano, em quase 500 páginas de material
para estudo. Aos poucos, o grupo foi amadurecendo e aumentando.
Era necessário um nome. Nessa altura do campeonato, através de diversos meios,
souberam que haviam ramos ativos da Golden Dawn em diversas partes do mundo. Usar
esse nome poderia gerar problemas futuros com direitos autorais. Alguns membros em
especial Frater Gladius Ferius, lembraram que usar esse nome entre outras coisas poderia
atrair à organização que estavam montando um futuro semelhante à antiga ordem. Foram
estudados vários nomes, com sugestões vindas de diversas pessoas, até se optar pelo nome
definitivo: Círculo Iniciático de Hermes.
Quando o grupo adquiriu uma certa estabilidade, fundou-se formalmente o Círculo
Iniciático de Hermes em 05 de Março de 1997, com seu estatuto e Ata de Fundação
próprios. Aqueles que tinham um conhecimento ant erior de ocultismo, foram eleitos pelo
grupo para fazerem parte do Supremo Conselho. O Conselho logo começava suas
atividades de mesclar Thelema e Magick com Golden Dawn. Em 24 de julho de 1997,
aconteceu a primeira iniciação utilizando o nome oficial do grupo. Participaram dela
membros da iniciação de 1994.
O C:.I:.H:. engloba novas camadas, indo de Ordem Externa e Círculo de Palestras
(passando pela Escola Menphis) a Ordem Interna.
Apenas o material de Regardie e o Livro da Lei (entre outros poucos), se mostraram
deficientes para o desenvolvimento do grupo. Nesse momento, com página na Internet, o
Círculo Iniciático de Hermes começou a se tornar conhecido. Com o auxílio da grande rede,
podemos até chama-la de arquivo Akásico, mais material foi chegando. Contatos com
outros grupos de Thelema finalmente foram feitos. No final de 1999, a Hermetic Order of
the Golden Dawn reconhece as atividades do C:.I:.H:. (não sem bastante luta para aceitar o
contato do C:.I:.H:. com Thelema e Magick) como sendo o braço da G:.D:. no Brasil.
O gosto por Thelema aumenta no grupo. São realizados contatos com pessoas ligadas
ao Kalifado e a ordens não vinculadas ao Kalifado. Ainda sem tomar uma posição, o
C:.I:.H:. começa a ter vida própria, isolado (ainda nesse momento) do movimento
Thelemico existente no eixo Rio-São Paulo.
Em 2000, o Supremo Conselho do C:.I:.H:., onde hoje Anderson Rosa ocupa a posição de
Imperator, resolve mesclar definitivamente Thelema com Golden Dawn. Os ritos de uma
com a Magicka da outra. Os Graus de estudo são reestruturados para comportar ambas sem
conflito. No final do ano, o C:.I:.H:. vincula-se a UR-OTO e estreita as relações no eixo
Rio-São Paulo. Hoje o Círculo Iniciático de Hermes possui sua própria linhagem, vinda
desde 1994, que garante a seus membros a fidelidade da ordem para com eles, e vice-versa.
Nos arquivos da Ordem constam todos os membros já iniciados e sua descendência.
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Outras informações sobre o C:.I:.H:.

Livros Editados pelo CIH


Curso de Runas.................................................. 1991..................................Ed. pelo Autor
Gramática Hierog. do Egípcio Clássico ............... 1991..................................Ed. pelo Autor
Tarot, O Templo Vivente .................................... 1995..................................Ed. pelo Autor
Curso Breve de Qabalah..................................... 1997..................................C:.I:.H:.
Novos Estudos sobre a Reencarnação ................ 2001..................................Ainda inédito
Livro do Neófito................................................. 1997..................................C:.I:.H:.
Mitologia Básica................................................. 2001..................................C:.I:.H:.
Introdução à Astrologia ....................................... 2001..................................C:.I:.H:.
Introdução à Alquimia ......................................... 2001..................................C:.I:.H:.

Conselho do CIH em 1997


Anderson Rosa................................................... Imperator...........................Fr. Goya
Rubens Marcondes Weber ................................. Praemonstrator...................Fr. Alkadir
Fernando Luiz Borges......................................... Cancellarius........................Fr.Gladius Ferius
Clélia Regina Pereira........................................... Conselheira ........................Sr. Liberta

Atualmente Estão no Conselho do CIH (2003)


Anderson Rosa................................................... Imperator...........................Fr. Goya
Sérgio Fernando F. de Lima................................ Praemonstrator...................Fr. Searthn
Gabriel Salata..................................................... Cancellarius........................Fr. Jibril
Ana Claudia Bastian Machado ............................ Conselheira........................Sr. Coatlicue

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CODEX HERMETICUM 06 – Publicação Classe E

Como se Estuda Magia (Parte I)


por Frater Goya

Muitas pessoas chegam ao C:.I:.H:. e a outras organizações na expectativa de


aprender “Magia”. Mas o que é Magia, como funciona, o que pode fazer por mim enquanto
indivíduo e enquanto cidadão, isso se ensina, se aprende? Essas são perguntas que
tentaremos responder satisfatoriamente ao estudante nesse ensaio. Devemos lembrá-lo
porém, que esse documento é um guia, não uma verdade absoluta. O que isso quer dizer?
Que embora sejam regras que se aplicam na grande maioria dos casos, existem exceções a
elas e principalmente, sua experiência individual irá validá-las no percurso de sua jornada
como estudante do oculto.

1)O que é Magia?


Para responder essa pergunta, usaremos uma expressão de Aleister Crowley que
define muito bem o assunto: “Magia é a Arte ou Ciência de causar mudanças com a
força da Vontade” . Arte? Ciência? Magia é uma arte, pois o Mago molda ou esculpe o
universo conforme sua Vontade. É uma Ciência, porque se funciona, pode ser repetida
inúmeras vezes para obter o mesmo resultado1 . E a Vontade, o que é? É o desejo real do
ser humano de fazer alguma coisa. Não deve ser confundida com a Vontade corporal,
mundana, pois é a Vontade do Espírito. Logo, a Magia pode ser também definida como
o despertar da Verdadeira Vontade, através de métodos específicos, usados para atingir
este fim.

Papus diz a mesma coisa dando um exemplo interessante: utilizando o triângulo


como forma da manifestação, ele diz: “Poder todos tem. O que nem todos tem é
Vontade. Se você tem poder, aliado à Vontade, ocorre a manifestação que é o resultado
dessa soma”. Logo teremos a equação: Manifestação = Poder + Vontade

1
Embora os resultados possam ser atingidos, nem sempre é pelo mesmo caminho. Segundo os acadêmicos
isso demonstra que a Magia não é uma ciência, o que é um engano. Pois, embora os meios possam variar os
resultados devem ser obtidos da mesma forma. Em outro lugar falaremos mais sobre esses experimentos e
suas variações. Podemos citar aqui à título de exemplo, o trabalho de Armand Barbaux, entitulado “O Ouro da
Milésima Manhã”. Barbaux, segundo o livro, auxiliado por seu filho, conseguiu produzir o ouro potável. O
processo foi bastante simples. Segundo o Mutus Liber (Livro Mudo), o componente principal da Pedra
Filosofal está o tempo todo sob nossos olhos e não o percebemos. Pensando um pouco, Barbaux percebeu que
esse elemento era a terra. Junto então algumas porções de terra, colheu o orvalho noturno (o leite da virgem),
tudo isso sempre seguindo as ilustrações do Mutus Liber. Mas então, se recolher alguma terra, misturar o
orvalho e cozinhá-los como ele fez, eu consigo repetir a experiência? A resposta é um sonoro NÃO. O que
acontece, conforme foi explicado acima, é que Barbaux não pegou terra pura e simples. Ele pegou a terra
magnetizada por determinadas forças planetárias (sob determinados auspícios astrológicos) que já não era
mais terra, mas sim uma determinada energia aprisionada na terra. A mesma coisa foi feita com o orvalho. Os
exemplos que poderíamos dar são muitos, mas acreditamos que apenas esse será o suficiente para os fazer
entender esse princípio.

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2)Quantos tipos de Magia existem?
Na verdade, existe um único tipo de Magia. O que existe são variações de
intensidade de estudo e profundidade. Outra coisa que define o tipo da Magia é sua
aplicação. Quem diz que existe Magia branca, preta, cor-de-rosa ou cinza, não sabe o
que está falando. Muitas pessoas ditas “entendedoras” do assunto, falam em nome da
Magia Negra, Magia dos 7 Raios, e mais um monte de outras coisas. Na verdade o que
acontece, é que são pessoas que estão mais preocupadas com caras e bocas do que com
o verdadeiro conhecimento mágico. Nas diferentes intensidades de Magia, podemos
destacar os 3 principais, embora existam outros: A feitiçaria, mais simples e voltada
principalmente à adoração dos elementos. A Alta Magia, normalmente ritualizada e
extremamente simbólica. Por último, a Teurgia, parte mais alta da Árvore Mágica, onde
já se opera livre dos rituais e onde o Ser Humano ocupa o seu lugar de direito na
criação, que é o de Senhor de Toda a Criação.
Segundo os tradicionalistas, a Magia tem como objetivo principal, devolver ao Ser
Humano a glória de dias passados. Na própria Bíblia, ao se contar a história da criação
do Homem, se diz que o Homem (aqui a palavra Homem designa o gênero humano,
homem e mulher, não apenas indivíduos do sexo masculino), foi criado com o intuito
de governar sobre todas as coisas criadas. Ao sair do estado paradisíaco, o Homem com
o tempo foi se esquecendo de sua origem divina e perdendo sua força e seu lugar na
ordem do universo. Conforme foi dito logo acima, a Magia é um meio para se retomar
essa posição.

3)Existe alguma escola para isso?


Sim. Existem algumas escolas que ensinam Magia. Mas deve-se filtrar muito bem a
escola, pois dessa escolha pode depender sua felicidade futura. Existem escolas nas
mais variadas formas e tamanhos. No estudo da Magia, pode-se separar as escolas
primeiro em dois grandes grupos:

Escolas de Misticismo (Caminho da Espada Flamejante): Aqui se encontram os


místicos de fim de semana, pessoas que gostam do assunto, mas não querem se
envolver em excesso. Pode-se obter algum progresso, mas o conhecimento é superficial
e não é completo. A Espada passa apenas sobre alguns caminhos da Etz Chaim, Árvore
das Vidas dos Qabalistas, deixando uma boa parte de fora. Existem muitas escolas que
praticam apenas essa categoria de estudos, mas uma boa parte tenta se vender como
uma Escola de Ocultismo. As Escolas de Misticismo representam quase 95% do
montante de Escolas de Magia. Mas na verdade, são apenas “viveiros”, que tem como
principal objetivo separar o joio do trigo, escolhendo os melhores estudantes que irão
ingressar nas Escolas de Ocultismo.

Escolas de Ocultismo (Caminho da Serpente da Sabedoria): Esse caminho é muito


mais rígido e normalmente ninguém entra diretamente nessas escolas. A Serpente da
Sabedoria passa por todos os caminhos da Etz Chaim, dando ao estudante um acesso a

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coisas que antes ele acreditava existirem apenas em descrições fantasiosas. Muito mais
compensador, porém, muito mais perigoso (pois quem pretende aprender a Magia
aposta a Vida), esse caminho na atualidade ocupa algo em torno de 2% dos últimos 5%
das Escolas de Magia. Nesses 5%, 3 são responsáveis em preparar o estudante para os
outros 2%. De cada 100 pessoas que entram nessas escolas, apenas umas duas ou três
conseguem terminar todo o trajeto (sendo bastante otimista). Conforme diz Eliphas Levi
em seu Dogma e Ritual da Alta Magia: “No caminho das Altas Ciências, não convém
empenhar-se temerariamente. Mas uma vez em caminho, é preciso chegar ou perecer.
Duvidar é ficar louco, voltar para trás é precipitar-se num abismo”.

4) Validade das Escolas


Muitos ouvem dizer que Magia não pode ser aprendida, que se nasce ou não Mago.
Isso é uma verdade apenas parcial e errônea, que tem como objetivo apenas iludir o
estudante e mantê-lo em rédea curta. Algumas pessoas nascem com o dom da Magia.
Outras, a grande maioria diga-se de passagem, precisam aprender a desenvolvê-la. Se
dependêssemos apenas dos Magos naturais para poder estudar, há muito a Magia teria
deixado de existir. Pois, por século, apenas uma meia dúzia de Magos naturais estaria
sobre a face da terra, de onde podemos concluir que numa caça às bruxas bem feita,
exterminaria os Magos do planeta em pouquíssimo tempo. O que seria da música por
exemplo, se tivéssemos de esperar o nascimento de um Mozart para poder ouvir boa
música ou aprender a tocar algum instrumento? Muito provavelmente, se isso fosse
verdade, talvez nem instrumentos musicais teríamos, pois ninguém saberia tocá-los o
que tornaria uma incoerência a sua produção.
As verdadeiras Escolas de Magia procuram despertar o processo Mágico dentro do
estudante. Muitas vezes, o despertar de um Mago por uma Escola tem tanta efetividade
quanto o despertar de um Mago natural.

Como saber se é uma boa escola?


1) A coisa mais importante ao ser humano é a liberdade. Qualquer grupo ou indivíduo
que se coloque acima disso, está tentando fazer de você um escravo mental.
2) Nenhum grupo deve interferir na sua crença religiosa. Sua crença e prática religiosa
como indivíduo não deve ser contraditória com seus estudos ocultos. Uma organização
verdadeiramente tradicional (são muito poucas) trata de outros assuntos. Sobre esse
tema ver o CODEX – 01 “O C:.I:.H:. Não é uma Religião”.
3) Nenhum grupo "fraternal" afasta as pessoas. Principalmente de sua família. Se o seu
grupo exclui sua família ou grupo social, cuidado. Não é por gostar de ocultismo que
você precisa se envergonhar disso. É como dizia um colega: “Se você sai com alguém
que jamais apresentaria para sua família, boa coisa não deve ser”. Alguns grupos
podem ser contra a participação da família nas atividades do grupo, mas isso não deve
ser uma regra geral.
4) Nenhum grupo esotérico o aliena de suas atividades. Não é porque gosto de
ocultismo que devo abandonar o trabalho, os estudos ou a família. A Grande Obra nos
espera no escritório, em casa, e não somente em meio aos cadinhos e grimórios. Ela está

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nas pequenas e nas Grandes Coisas. Separar a vida oculta da vida diária normalmente
só gera erro e arrependimento. Não devemos ter dois comportamentos diferentes, por
exemplo, um em casa ou no trabalho e outro na prática Mágica.
5) Todo o conhecimento adquirido tem que poder ser utilizado na prática. Se você não
consegue aplicá-los no seu dia-a-dia, então alguma coisa está errada. Algumas pessoas
tem um falso moralismo que lhes faz afirmar que aquilo que se aprende não se usa. Aí
vem a famosa pergunta: Se você aprende algo que não pode ser aplicado na sua vida
diária, qual o objetivo? Conforme dito acima, a Magia é um meio de libertar o homem
da escravidão do mundo profano. Se você não pode aplicar essa máxima, o estudo perde
a validade.
6) Todo grupo estruturado precisa de uma fonte de renda. Agora, quando o dinheiro fala
mais alto que aquilo que se ensina, deve-se questionar a seriedade do grupo. Ou do
membro. Grupos menores com poucas pessoas conseguem se organizar com pouco ou
nenhum gasto direto. Grupos maiores precisam da contribuição de seus membros para
manter uma estrutura.

5)Sexo e Magia
Algumas escolas fazem distinção do sexo (masculino ou feminino). Embora
pessoalmente não concorde com essa distinção ela deve ser respeitada. As escolas que
fazem essa distinção tem regras particulares de conduta, muitas vezes envolvendo
celibato, e normalmente indicam a vida monástica como alternativa de vida.
Pessoalmente não sou a favor dessas escolas, pois elas em última estância elas negam
ao estudante o seu complemento natural (que é o sexo oposto).
Segundo algumas correntes tradicionalistas, o ser humano só é completo quando
encontra sua outra parte (aqui sempre se referindo a uma relação heterossexual) e
consegue levar essa relação adiante. A comparação comum é que no início dos tempos
os dois eram um só, e depois foram separados.
Essa afirmação é concordante com a feita acima no texto, em que o homem busca
seu lugar de direito na hierarquia do mundo, e entre as coisas que deve fazer para
restaurar essa ordem, está a condição de voltar a ser uno. Nos ritos em que acontece
essa separação entre homem e mulher, a reconciliação torna-se impossível, sem ferir a
essência dos ensinamentos. Embora devamos ressaltar aqui que, não havendo essa
reconciliação, o indivíduo fica impossibilitado de ser uno definitivamente.
Os Ritos Unificadores (aqueles que não fazem distinção entre os sexos)
normalmente trabalham as características de ambos, às vezes separado, às vezes junto, e
no final do desenvolvimento, os homens irão desenvolver características femininas, e as
mulheres características masculinas, podendo assumir uma característica andrógina e
até hermafrodita.

6)O Que se Espera do Estudante


Não é apenas o estudante que deve filtrar as escolas até encontrar uma que possa lhe
acrescentar algo. Ele deve perguntar a si mesmo: O que posso fazer pela escola? Esse
caminho é de mão dupla. Você deve obter algo da escola e dar algo em troca. Essa

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relação é dinâmica e nunca estática. Não existe escola que apenas cobre sem dar nada
em troca tampouco existe escola que apenas dê o conhecimento sem exigir algo do
estudante. Mesmo que a escola cobre apenas disciplina, esta é essencial para o avanço
do estudante. Pessoas que esperam resolver problemas kármicos2, problemas
mentais, familiares e coisas do gênero, não devem se envolver com o esoterismo.
Existem hoje profissionais extremamente bem preparados para lidar com essas
situações. As Escolas Mágicas não precisam de mais um problema. Parafraseando
Homero: “Os deuses não farão pelos homens o que estes não fizerem por si mesmos”.

7)O Tutor
Qualquer sistema que se preze deverá ter a figura de um tutor. Este recebe em várias
organizações muitos nomes, como: padrinho, tutor, monitor, mestre, etc. Um tutor não
deve ter mais que dois ou três adeptos sobre sua tutela, para que o ensino seja feito com
qualidade. Qualquer número acima disso é um risco assumido pelo tutor e pelo
estudante. Os tutores podem ser de dois tipos basicamente: escolhido pelo estudante ou
sorteado pelo grupo. Obrigatoriamente o tutor é de um grau superior ao de seu discípulo
e é quase exclusivamente sua a responsabilidade do desenvolvimento do estudante. Se o
estudante não atinge as metas estabelecidas para aquele grau, deve -se avaliar: O que
faltou para ele atingir? Ele recebeu as instruções que deveria receber? Praticou-as?
Anotou suas dúvidas? Qual foi sua participação nas atividades do grupo? E assim por
diante. E o tutor tem a obrigação de ajudar seu discípulo a seguir sempre mais alto. O
estudante jamais deve ficar sem uma resposta.

8)Os meios usados para ensinar


Cada grupo possui seu próprio método que vai desde tradição oral, até cursos em
multimídia. Esses últimos podem ser uma alternativa moderna mas tradicionalmente
não são levadas em consideração, uma vez que a iniciação só pode ser efetivada
pessoalmente (falaremos sobre isso no próximo tópico). Os métodos mais comuns são:
a)Contato mental: Algumas pessoas alegam receber instruções do seu tutor ou mestre
diretamente em pensamento. Embora seja possível, nunca foi comprovado a eficácia
desse sistema, nem se conhece alguém que tenha percorrido todo o caminho
baseado unicamente nesse método.
b)Tradição oral: nenhum material escrito, ou gravado é entregue ao estudante. Este irá
aos encontros e receberá as instruções pessoalmente de boca a ouvido.

2
Sobre o Karma, iremos publicar em breve um texto entitulado “Novos Estudos sobre a Reencarnação”. Mas
aquele que acredita que está com algum débito kármico, jamais consegue realizar a verdadeira Vontade. Pois,
como fazer a minha Vontade se sobre mim carrego o peso de vidas passadas? Ou ainda: Como fazer a minha
Vontade se posso ter de pagar algo na minha próxima vida? E se não der certo? Esses são problemas que
serão abordados nesse novo ensaio. Acreditamos que o sistema Kardecista desviou do caminho correto os
últimos duzentos anos (mais precisamente 144 anos, se consideramos como início do Kardecismo a primeira
Edição do “Livro dos Espíritos” em 18 de abril de 1857) se de vida oculta no Ocidente. Tal erro só poderá ser
reparado depois de um longo caminho de correção na direção da libertação do Espírito Humano. “Vós sois
livres. Aqueles que dizem em contrário disso, querem apenas aprisionar vossa alma e embaçar vossa
Vontade, impedindo-vos de voar. Ah, Ícaro, como é doce a sensação de voar alto...” – Anderson Rosa

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c)Tradição escrita: o estudante recebe algum material ou mesmo todo por escrito,
através de apostilas, livros ou monografias. Esse método só pode ser validado se for
usado junto com uma exigência prática, onde o material escrito será apenas um guia
e não o objetivo do ensinamento. Se isso acontece, corre-se o risco de se tornar um
curso de Magia por correspondência.
d)Tradição mista: utiliza diversos meios (oral, escrito, mental) para transmitir o
conhecimento. Atualmente poucos grupos usam esse método com eficácia e
equilíbrio, sem se deixar levar pelas facilidades do método escrito.

Uma boa escola tenta explorar os vários métodos, de acordo com o material a ser
passado ao estudante. Nesses casos, a figura do tutor é de fundamental importância,
pois ele irá acompanhar de perto o estudante e irá avaliar seu desempenho na
organização.

O Diário
Todo grupo que se preza deve exigir do estudante a manutenção de um diário, onde
serão anotadas todas suas experiências pessoais com a Magia. Esse diário é de uso
exclusivo do estudante, embora possa ser examinado pelo seu tutor ou chefe do grupo
quando necessário. Aconselha -se anotar no diário a data, a hora, o local, e as posições
planetárias do Sol da Lua e o dia da semana, para futura referência.

O Que Anotar?
Tudo é importante. Seja um pensamento, as práticas, um sonho, uma queixa, um
desejo, tudo é importante e deve ser anotado com o maior número de detalhes possível.
O diário deve ser um retrato fiel da anotação a que se refere.

9)O Processo de Iniciação


Ser aceito num grupo fechado normalmente é um poderoso excitante para o espírito
humano. Mas ele envolve forças poderosas que irão modificar definitivamente a vida do
estudante. Normalmente, antes de entrar num grupo, o candidato deverá passar por um
processo probatório onde será testado até a exaustão em sua intenção, lealdade e
dedicação com a instituição que deseja se iniciar.

Qual o objetivo da Iniciação:


Uma iniciação, como o próprio nome indica, marca o começo de uma nova vida.
Nos meios tradicionais (pode-se incluir aqui a Maçonaria, o Rosacrucianismo, a Gnose,
a Golden Dawn, a O:.T:.O:., etc.) é uma dramatização de uma morte simbólica que
conduz o iniciando a uma “nova vida”. Marca também a aceitação do Candidato pelo
grupo. Mais importante que tudo isso, são os vários quesitos que uma iniciação (para
ser efetiva ou legítima) deve atender:
1º) Toda iniciação deve conter os símbolos inerentes ao grupo;

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2º) Deve conter os conhecimentos básicos referentes ao grupo, de forma que, se o
estudante lembrar-se apenas dos rituais, esses devem conter a verdade central do grupo,
de forma resumida ou integral.
3º) Os rituais devem oferecer uma visão estruturada do universo conforme este é
percebido pelo grupo, ou ainda, deve oferecer um conjunto de leis naturais cuja
obediência possa causar o que se chama “libertação”.
4º) Um conceito de vida e morte próprio do grupo, incluindo o post-mortem. Vale
lembrar que atualmente, muitos grupos começam na primeira iniciação falando da
morte ou transição, para depois simplesmente ignorar o tema, como se fosse incômodo
ou desnecessário tratar desse assunto. Incômodo porque como ocidentais, ainda não
elaboramos muito nossa relação com a morte. Para nós ela ainda exibe apenas seu rosto
deformado. E desnecessário porque na atual confusão reinante no meio
esotérico/ocultista, teorias sobre pós-morte é o que não falta. E na esmagadora maioria
delas, são apenas variações pobres da versão kardecista da reencarnação. Como muitas
pessoas seguem mais de um caminho no intuito de terem uma visão “universalista”
(falaremos sobre isso mais adiante), acabam fazendo um sincretismo perigoso de
crenças capaz de levar a loucura um monge tibetano. Se é assim, o que acontece com
nossos místicos (não ouso chamá-los de ocultistas, com medo que minha língua cáia ou
meus dedos murchem) que não enlouquecem? Será que não? Se é assim, por que existe
um grande hiato no século XX de grandes escritores ocultistas, salvagardados algumas
mentes brilhantes quase desapercebidas na vastidão do vazio?

A bem da verdade, a única que merece ser chamada iniciação, é a cerimônia que
marca a entrada do indivíduo no grupo. As conseqüentes são apenas cerimônias de
passagem de grau. Chamá-las de iniciações é dar a elas um status que definitivamente
elas não tem. Ou pior: é ignorar tudo que foi descrito acima.

Se um grupo ou vários não consegue(m) cumprir esses quesitos, então não são
grupos dignos do nome Magia. Na atualidade creio que cabem nos dedos de uma mão
os grupos que conseguem manter essa unidade sem se deixar corromper pelas propostas
“New Age”.

10) Mestres e Hierarquias


É amplamente disseminado entre a gente comum, ou profanos, que o aquele que não
nasceu como Mago não tem verdadeiro poder, ou que alguém de determinada linha de
estudo é mais poderoso que outro, e por aí seguem as coisas absurdas. Essas pessoas
nada mais são que perpetuadores de superstições.
Os graus de estudo normalmente, embora possa ter inúmeras variações, seguem
uma estrutura básica conforme descrita abaixo:
a)Aprendiz, Companheiro e Mestre ou Druida, Bardo e Merlin – segundo uma
estrutura trina.
b)Neophyto, Artifex, Philosophus e Adeptus Iluminati – segundo uma estrutura
quaternária.

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c)Uma estrutura septenária, como as 7 fases do trabalho alquímico (Calcinatio,
Sublimatio, Solutio, Putrefatio, Distilatio, Coagulatio, Tinctur).
d)Estrutura em 10 Graus – seguindo a sequência da Árvore das Vidas da Qabalah.

Hierarquias entre grupos


“Há um Deus de viver em um cão? Não! E se por acaso um
Deus nasce no seio de uma alcatéia, e pedem-lhe que roa ossos
como o resto, que esperais, senão que o Deus ultrajado se retire
para o meio de seus semelhantes ou, num acesso de cólera,
dizime os cães insolentes até que, assustados, parem de
importuná-lo e comecem a obedecê-lo como é próprio?”
– Marcelo Motta, Chamando os Filhos do Sol.

Um iniciado pode reconhecer outro do mesmo grau independente de sua linha de


estudo. Embora cada linha de estudo tenha uma estrutura que lhe é própria conforme
mostrado no item anterior, pode-se tabular os graus entre as ordens, o que facilita o
reconhecimento dos graus correspondentes entre si.
Tecnicamente, um iniciado deve, por seus próprios meios conseguir “perceber” o
grau de outro adepto. Se não consegue, é porque ele ainda não atingiu o grau do outro.
Ou seja, pessoas que possuem o mesmo grau, independente da organização ou
movimento que fazem parte, se reconhecem entre si. Ou dito de outro modo, o que está
acima sempre reconhece os do mesmo grau e aqueles abaixo dele.

Desafio entre Magos


Muita gente se pavoneia de ser ultra poderoso, Mago completo e coisas assim. Mas
na hora “H”, correm se esconder para chorar escondido num canto como criança que
fez coisa errada. Para que um desafio entre Magos tenha validade deve-se seguir
algumas regras:
1º) Se você não consegue perceber qual o grau de desenvolvimento daquele que você
está querendo de desafiar, não faça isso. Ele pode estar muito acima de você na
hierarquia. E você irá descobrir de maneira bastante amarga o por quê não se desafia
alguém mais forte que você.
2º) Se você é o mais forte, não desafie o mais fraco. Isso é covardia.
3º) Chefes de grupos só podem combater outros chefes de grupos. Caso um membro de
outro grupo o desafie, ele será representado por um membro correspondente do seu
próprio grupo. Caso contrário arrisca-se cair no 2º item.
4º) De preferência o duelo deve ser assistido por membros dos dois grupos envolvidos
para garantir uma luta justa.
5º) Jamais desafie alguém sem ter motivos para isso. O retorno pode ser bastante
amargo.
6º) Uma vez aceito o desafio, este deve ser levado adiante até que um dos dois tenha
vencido o seu opositor. Nenhum dos dois poderá desistir no meio da contenda. E quem

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perder deverá arcar com as responsabilidades dos seus atos, sejam elas quais forem.
Inclusive a morte.

11)A totalidade e a especialização


Até o início do século XX um Mago legítimo era alguém que dominava as ciências
ocultas com mestria. Conhecia Tarot, Astrologia, Alquimia, Geomancia, Projeção,
Técnicas Corporais, Qabalah, etc. Depois do início do séc. XX com a decadência das
Escolas de Ocultismo, virou mania se especializar em alguma coisa. Ouvimos alguém
dizer: “Sou Tarólogo(a), e não sei nada de astrologia. Se quiser saber algo, tenho um
amigo(a) que...”. Isso é um dos maiores disparates do ocultismo moderno. Todas essas
ciências estão intimamente ligadas umas às outras. Valorizar apenas uma é como
valorizar as mãos e deixar morrer o resto do corpo. Para ser um Mago real e não apenas
no nome, deve-se ter domínio sobre todas as áreas do conhecimento mágico a que se
propôs estudar. Isso nos leva ao próximo tópico.

12)Universalidade e Alienação
O Mago legítimo deve dominar o conhecimento de sua época. Deve ter um
conhecimento universal, e não saber um pouco de cada coisa, como costumamos ver.
Esse tipo de atitude só aumenta a confusão e conduz hostes inteiras de estudantes ao
erro, à desgraça e a condenação eterna de suas faculdades mentais. Fazer cursos de fim-
de-semana sobre Kundalini, Tarot, e Wicca (só pra citar os mais comuns), é assinar a
ficha do sanatório. O processo da Magia Wicca não é aprendido num ou mesmo vários
fins-de-semana. É o processo de uma vida. A mesma regra serve para o Tarot e para a
Kundalini. Mexer com essas energias sem estar preparado é como dar a uma criança de
3 anos uma arma carregada e engatilhada. É só esperar pelo inevitável. E depois vem as
lamentações: “Pois é... Essa tal de Magia tem uma carga pesada, um amigo meu ficou
louco.” Ficou ou já era, de mexer com o que não conhecia?

13)Sexualidade e Magia
Como foi dito no início do texto, existem grupos que separam homens e mulheres.
Em alguns os homens mandam e as mulheres obedecem. Em outros o inverso. Na
grande maioria das vezes, essas escolas (admitimos que algumas tem um motivo que
justifique essa conduta) servem apenas para que os opressores do sexo oposto mostrem
suas garras e dominem aqueles que na vida real não conseguem. Ou seja: homens
frustrados com o sexo oposto que tentam dominá-lo pela força, colocando as mulheres
em posição de desvantagem justificada (????) pela Magia. Ou no caso das mulheres,
senhoras e senhoritas que tem dificuldades de relacionamento ou levam uma vida que
não lhes satisfaz em um ou vários aspectos e que literalmente escravizam (em alguns
grupos os homens são realmente denominados “escravos”) o sexo oposto. Tanto no
primeiro como no segundo caso, fica um alerta: É um tipo de relação sado-masoquista,
onde a mulher que procura um grupo de tendência masculinizada na verdade não tem
nada a aprender ali, apenas sofre em silêncio e acha que isso era seu destino. E o
homem que procura um grupo feminilizado também só busca um sofrimento que lhe dá

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um prazer que não irá lhe dar qualquer outro benefício além da ilusão de ser um escravo
obediente.

Conclusão:

Conforme foi dito no início do texto, ele não é definitivo nem tampouco verdadeiro.
Mas serve como uma lâmpada guia na escuridão que marca o caminho das Ciências
Ocultas. Não pretendemos dizer que esta ou aquela organização ou pessoa seja o
“verdadeiro” mestre, mas auxiliar o estudante na tentativa de encontrar um grupo onde
possa realmente se desenvolver sem ter que se preocupar onde estão levando sua alma. Na
próxima parte desse CODEX iremos abordar as diferenças entre Magia Prática e Magia
Teórica.

Khabs Am Pekht ♦ Konx Om Pax ♦ Luz em Extensão

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CODEX HERMETICUM 06 – Publicação Classe E

Como se Estuda Magia (Parte II)


por Frater Goya

Na primeira parte deste ensaio comentamos principalmente sobre os tipos de Magia,


iniciações e coisas do gênero. Nesta seqüência, pretendemos explanar mais claramente a
finalidade do estudo mágico e suas diversas formas. Declaramos para os devidos fins que
nosso objetivo ao longo deste ensaio não é o de favorecer ou denegrir qualquer ordem ou
linha de pensamento, mas oferecer ao estudante um guia que diminua o impacto do estudo
mágico de forma segura e que garanta um resultado satisfatório. Aos que por ventura
possam se sentir ofendidos por nossas palavras só podemos nos desculpar antecipadamente
por inadvertidamente derrubar a muralha de mentiras que sustentam a maioria dos
movimentos ditos mágicos existentes na atualidade. Mas a própria história já reservou a
eles um lugar adequado no seu desenrolar. O esquecimento.

Como se estuda a teoria da Magia1 :

Vamos nos concentrar em explicar como funciona o processo de aprendizado


individual do estudante mágico. Esse estudo individual é dividido em duas fases:

1) Aprendizagem: Assimilação e memorização de informações de base ou elementares da


disciplina a ser estudada.
2) Pesquisa: a partir dos dados fundamentais de uma ciência, investigar os dados, criticá-
los e criar novas propostas.

O Estudo fundamental da Magia consiste em: leituras, apontamentos e memorização.


Mais importante que ler, é saber escolher um bom livro (Non pas lire, mais élire = não
ler, mas escolher). Atualmente sobram textos na internet que vão das coisas mais
elementares às mais sofisticadas. Existem pessoas que parecem colecionar textos que não
servem para nada mais que ocupar espaço no disco rígido do computador. Não é necessário
ler tudo o que se encontra, mas saber encontrar o que realmente importa.

Como escolher um bom livro?


1º) Uma leitura de reconhecimento
- Verifique o frontispício observando:
- Nome do autor – Verifique se o autor é conhecido;
- Ainda sobre o autor – veja se o livro tem alguma informação adicional, como uma
pequena biografia do autor, outros trabalhos já escritos e/ou publicados ou a
publicar, etc.
- Subtítulo – Veja se o subtítulo é sugestivo;
1
Adaptação livre de Boff , Clodovis, Teoria do Método Teológico, Ed. Vozes.

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- Quantidade de edições – um bom livro possui várias edições;
- Editora – Se é uma editora que tem tradição na edição do assunto escolhido;
- Leia o índice: tem-se aí uma idéia da estrutura da matéria e sua organização;
- Leia a introdução, algo do meio do livro e depois a conclusão: assim você pode ter
uma idéia do estilo do autor, e verificar se ele manteve a unidade da obra.
- Folheie o livro, buscando idéias aleatórias, para ver se estas lhe despertam o
interesse.

Existem dois tipos de leitura:

1. A leitura interpretativa: que busca saber o que o autor quis dizer.


Regras da hermenêutica2 :

- Esclareça palavras ou conceitos difíceis: nem tudo vem mastigado. Aliás, o mais
comum em se tratando de textos esotéricos, é a presença de palavras específicas a
um determinado grupo ou assunto, o que exige do estudante um conhecimento
prévio. Se você está estudando para ter esse conhecimento, busque um glossário ou
algo do gênero que possa lhe esclarecer os termos mais difíceis.
- Explicite as entrelinhas: Como no item anterior, determinados autores escondem
muito conhecimento atrelado a experiências práticas. Logo, se você apenas lê o
texto, sem ter realizado algum tipo de experimento, ou conhecer assuntos aos quais
o autor se refere, fica quase impossível saber o que o autor esconde num
determinado livro. Por exemplo: ler livros de Aleister Crowley não faz ninguém um
Thelemita3 de verdade. É muito mais fácil pegar alguns autores anteriores, como
Papus, Eliphas Levi, Francis Barret, assim como um conhecimento mínimo de
mitologia (grega, egípcia e hindú), filosofia, sejam desejáveis. Com esse
conhecimento prévio é muito mais fácil entender os escritos de Crowley. Essa regra
aplica-se não somente a ele, mas a quase todos os autores de ocultismo. Comece
com coisas fáceis e depois procure as mais difíceis. Começar pelas mais difíceis só
vai fazer com que você perca mais tempo tentando decifrar algo que está oculto nas
entrelinhas.
- Situe o texto no meio sociocultural: Não podemos nunca nos esquecer que o autor
de algum livro vivia num determinado local e numa determinada época (condição
espacial e temporal) e que seus textos estão sujeitos não só às condições em que
vivia, como às limitações da época. Em outro lugar comentamos as falhas de
Eliphas Levi e de escritores da época com relação à interpretação dos deuses e mitos
egípcios. Isso aconteceu porque quando esses deuses e mitos foram pesquisados
mais a fundo, esses autores já haviam morrido. Logo, estudar esses textos, sem

2
Hermenêutica pode ser definida como interpretação das palavras, ou como no nosso caso específico,
interpretação dos textos sagrados.
3
Thelema é a palavra grega que quer dizer Vontade. É aplicada no caso de Crowley como sendo a verdadeira
Vontade, conforme é descrita no Liber Al Vel Legis, Sub Figura 220, ou Livro da Lei (como é conhecido).
Thelemitas são aqueles que adotam o Livro da Lei como regra de conduta.

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situá-los numa ordem cronológica com eventos paralelos, pode causar uma grande
confusão na interpretação de determinado conhecimento.
- Identifique a idéia central e suas derivadas: Muitos autores são recorrentes.
Escrevem um ou vários livros em torno de uma idéia central, para justificar sua
escrita. Perceber isso pode economizar a leitura de livros que querem dizer a mesma
coisa só que de um jeito diferente.

Saber o que ler ou não, pode economizar muito tempo e dores de cabeça ao estudante.
Existem pessoas que são consumidores (ou melhor compradores) compulsivos de livros,
cds, arquivos de internet e outras coisas. Mas se questionadas sobre o conteúdo daquilo que
adquiriram, nem sequer sabem a que se refere o dito livro. Daí, presume-se que estão
comprando o livro pela capa. É preciso ler com qualidade.
Se formos atrás do que os leitores andam lendo, chegaremos à conclusão de que o
ocultismo não deve ser realmente levado à sério. A falta de critério na escolha dos livros
beira o absurdo. Quando é feita a fatídica pergunta: “O que você gosta de ler?” , a resposta
quase sempre é um trágico: “leio de tudo um pouco”.
À primeira vista posso estar parecendo um tanto radical, mas vamos a um exemplo: o 7
é um número sagrado, entre outras coisas, porque representa as 7 entradas do espírito: 2
olhos, 2 narinas, 2 ouvidos e 1 boca.
Logo, o que entra por uma dessas portas, atinge diretamente o espírito.
Seguindo: se pergunto “O que você gosta de comer?”, alguns até podem responder:
“Como de tudo, exceto isso, aquilo e aquele outro”. O que demonstra algum tipo de filtro,
porque ao se comer realmente de tudo, você pode comer algo que não lhe faça bem. É
preciso ser mais claro?
Agora, quando se diz: “Leio de tudo...”, muitas vezes alimentamos o espírito com o que
não se deve, indo de receitas da Dona Benta à Bíblia Satânica.
Voltamos ao princípio: “Não ler, mas escolher”.
Faça a si mesmo essa pergunta: “Se não como porcaria, porque leio porcaria?”
Um estudo teórico com qualidade, pode ser fonte de profundas reflexões e conclusões,
quase tão profundas e válidas como pelo processo prático.

2. Leitura Crítica: Examina a solidez das idéias propostas. Reflexão crítico-analítica.


- Julgue os pressupostos do texto: avalie o propósito da obra. Todo autor quer
passar uma idéia ou conjunto de idéias que justificam sua obra.
- Prove a coerência do autor: Veja se o autor consegue ser consistente ao longo de
toda a obra e responde às perguntas propostas no início da obra.
- Relacione o contexto cultural: O autor do texto é originário de algum lugar e vive
em algum lugar. Portanto, devemos considerar o contexto em que ele está inserido.
Autores russos por exemplo, terão uma visão diferente de autores brasileiros sobre
um mesmo assunto.
- Confronte as teorias do autor comparando-o a outros autores: Existem temas
que são comuns a diversos autores. Tente explorar as diferentes formas de enfocar o
mesmo problema sob diversas óticas até chegar a uma conclusão satisfatória.

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- Discuta as conseqüências concretas da teoria na prática: Conforme já foi dito no
CODEX anterior, a magia deve ser colocada em prática. Às vezes nos deparamos
com teorias fantásticas, mas sem aplicabilidade nenhuma. Dê preferência a teorias
que você mesmo possa verificar de forma prática.

As Anotações
“Lectionem sine calamo temporis perditionem
puta”
“Leitura sem caneta reputa perda de tempo”

Tudo deve ser anotado. Se algo chamou sua atenção ou não ficou muito claro, anote.
Se foi importante, será uma ótima referência futura. Se ficaram dúvidas, podem ser
esclarecidas mais tarde.

O que deve ser anotado?


- Resumos das idéias mais importantes ou úteis
- Frases expressivas, literalmente e com precisão
- Idéias pessoais suscitadas pela leitura.

Como deve ser anotado?


- use os 4 c´s: curtas, claras, corretas, completas.

Essas regras baseiam-se exclusivamente num estudo teórico, baseado em material


escrito. Para outros métodos, deve-se adequar essas regras.
O estudo teórico da Magia é a base para uma boa prática. É comum ver pessoas que
menosprezam o estudo teórico como se essa classe de estudante fosse possuidora de alguma
deformidade espiritual. Tentamos aqui explicar os métodos do estudo teórico e não criticá-
lo.

Sobre Interpretação simbólica

Os símbolos são elementos criados pelo homem para expressar algo superior a ele
mesmo, aquilo que pertence à ordem transcendental. Porém, aquele que baseia seu estudo
apenas pelo estudo dos mitos e símbolos, afasta-se da verdade.
A psicologia e a psicanálise limitaram os símbolos tradicionais como expressões do
inconsciente ou do subconsciente, entendendo-se subconsciente como o conjunto dos
prolongamentos do inconsciente4. Atribuir símbolos tradicionais ao subconsciente é
demonstrar a falta de conhecimento da estrutura da mente humana. O supraconsciente é o

4
Conforme cita Guénon no seu texto “Tradição e Inconsciente”, publicado na revista Études Tradicionalles,
jul. – ago. 1949.

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contato direto com aquilo que denominamos por tradição5. Já o subconsciente é o reflexo
“macaqueado” do supraconsciente, uma vez que não há aí uma compreensão desses
símbolos. Para explicar da melhor forma possível essa distinção entre o supraconsciente e o
subconsciente iremos usar o mito egípcio de Thoth-Hermes que sempre era acompanhado
de seu babuíno.
Segundo o mito egípcio, o deus Thoth-Hermes era acompanhado por um babuíno,
que fazia o contato entre a divindade e o homem. Thoth era o juiz dos deuses, o inventor da
escrita e da magia. O deus representava o contato humano-divindade no seu aspecto mais
amplo. Já o babuíno cumpria uma função luciferiana de fazer com que o homem perdesse
ou esquecesse de sua origem divina. Explicamos: Na lenda que nos remete à invenção do
Tarot e da Escrita (essa lenda justifica ambas criações), diz-se que “os deuses estavam
muito preocupados naqueles tempos, pois o homem não lembrava mais qual era a sua
origem. Não lembrava mais do seu período celeste, enquanto o tempo e o mundo ainda não
existiam como se conhece hoje.
Logo, os deuses reuniram-se, buscando uma solução para esse problema, quando o
deus Thoth sugeriu que, uma vez que o ser humano esquece de tudo, mas não esquece do
próprio vício ou de cometer erros, que então se preservasse essa sabedoria em um vício.
A idéia teve aceitação geral e então os deuses criaram um jogo de lâminas em que
toda sabedoria estava contida, preservada. Por elas passariam milhares de olhos que
ignorariam seu real significado, mas em compensação, abririam-se essas para aquele que
estivesse de posse da sabedoria necessária para conhecer seu significado. Como está
escrito na Bíblia: “Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, que veja e que ouça...”.
Assim, nascia o Tarot. Todo o simbolismo mágico de origem celeste, preservado em
um maço de 78 lâminas, que traz em si mesmo, a semente do mortal e do imortal, da
virtude e do vício. Esse é o Tarot 6.”
Vamos ao que interessa. Segundo alguns estudiosos do oculto a grande obra
luciferiana seria condenar o homem ao esquecimento de sua origem divina. Thoth-Hermes
representava o contato direto do homem com a divindade, e o babuíno cumpria a função do
esquecimento dessa mesma divindade. Pelos relatos conhecidos, muitas vezes o deus não se
comunicava diretamente com o homem, e para isso usava o babuíno, que ao transmitir a
mensagem fazia de forma distorcida, no intuito de confundir o homem.
Usando essa relação mitológica podemos explicar o funcionamento do
supraconsciente e do subconsciente. Quando falamos de simbolismo e de magia, nos
referimos ao supraconsciente, que seria esse contato com a divindade, de natureza solar. O
que os psicólogos em geral definem como subconsciente refere-se à natureza lunar do
babuíno de apenas repetir algo sem julgar seu significado.
Para se chegar à compreensão completa de um símbolo (se é que isso é possível) é
necessário que o estudante possua determinadas qualidades sem as quais ele jamais poderá
compreender a profundidade de seu significado.

5
Sobre o significado da palavra Tradição, veja o CODEX 01 – O C:.I:.H:. Não é Uma Religião.
6
Rosa, Anderson – Taro t o Templo Vivente – Um Guia Seguro para o Tarot de Crowley Associado à
Qabalah e à Astrologia, Curitiba, 2000.

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“O entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do intérprete que
possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os símbolos serão para ele mortos, e
ele um morto para eles.
A primeira é a simpatia; não direi a primeira em tempo, mas a primeira conforme
vou citando, e cito por graus de simplicidade. Tem o intérprete que sentir simpatia pelo
símbolo que se propõe interpretar.
A segunda é a intuição. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe, porém não criá-
la. Por intuição se entende aquela espécie de entendimento com que se sente o que está
além do símbolo, sem que se veja.
A terceira é a inteligência. A inteligência analisa, decompõe, reconstrói noutro
nível o símbolo; tem, porém, que fazê-lo depois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi
erudição, como poderia no exame dos símbolos, é o de relacionar no alto o que está de
acordo com a relação que está embaixo. Não poderá fazer isto se a simpatia não tiver
lembrado essa relação, se a intuição a não tiver estabelecido. Então a inteligência, de
discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo poderá ser interpretado.
A quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de outras
matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionado com
vários outros símbolos, pois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição, como
poderia ter dito, pois a erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura é uma
síntese; e a compreensão é uma vida. Assim certos símbolos não podem ser bem entendidos
se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de símbolos diferentes.
A quinta é a menos definível. Direi talvez, falando a uns, que é a graça, falando a
outros, que é a mão do Superior Incógnito, falando a terceiros, que é o Conhecimento e a
Conversação do Santo Anjo da Guarda, entendendo cada uma destas coisas, que são a
mesma da maneira como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo7 .”

A Magia Prática

A Magia prática é talvez o meio mais difícil de se estudar magia, pois ele não exclui o
estudo teórico, mas inclui o mesmo na sua razão de ser.
A Magia prática pura, atualmente é extremamente rara e muito difícil de ser
encontrada. Sua compreensão baseia-se numa visão mágica do mundo. Ao contrário do que
se pode pensar num primeiro momento, não é uma visão anímica do mundo, como poderia
definir Freud, mas a compreensão que o universo como um todo pulsa e transpira vida,
mesmo na morte. Os magos antigos tentaram explicar essa percepção através da criação de
mitos, e enganam-se aqueles que nisso tem uma percepção rasa que eles significariam
energias da natureza.
Conceitos puros de um universo vivo são abstratos demais no entanto, sendo
necessário vestí-los com uma roupagem mais facilmente aceita por nossa mente objetiva.
Os mitos verdadeiros (aqueles que são fruto de uma percepção do espírito) são universais e

7
Aqui utilizamos um texto do Ir. Marcelo Motta, que acreditamos sintetizar aquilo que é necessário saber
sobre o estudo dos símbolos.

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aplicáveis em qualquer época ou nacionalidade, transcendendo portanto o tempo e o
espaço.
Um grande número de pessoas confunde esse estudo dos símbolos com a prática
mágica. Podemos exemplificar isso com a esmagadora maioria dos astrólogos da
atualidade. Normalmente são estudiosos fascinados pelo autoconhecimento, tentando
desvendar a alma por seus símbolos, mas nunca a viram de frente. Debruçados sobre livros
com páginas amareladas pelo tempo, jamais olham para o céu. Muitos são capazes de olhar
para o céu na tela de um computador, mas nunca ao ar livre, com medo de serem
esmagados pelas estrelas. Aos estudiosos de astrologia que porventura se sentirem
ofendidos pelo exposto acima, antes de condenarem o autor do ensaio, respondam a si
mesmos:

a) Alguma vez já tentei observar o movimento das estrelas durante seu curso pela abóbada
noturna e consegui identificar pelo menos um planeta?
b) Sou capaz de identificar as fases da lua sem recorrer a uma efeméride ou a um
calendário?
c) Qual é o signo que ascende no horizonte exatamente neste momento? (Olhando para o
horizonte sem qualquer instrumento).
d) Sou capaz de identificar a constelação do meu signo solar?
e) Quanto tempo passei no último ano olhando a dança dos astros?

A lista segue...

Se você respondeu negativamente a mais de uma pergunta, você é um astrólogo de


gabinete, um teórico.

Não vamos nos deixar enganar e dizer que a teoria não tem validade, porque tem. E
muita. Veja o texto mais acima, de como estudar a teoria. O que devemos perceber é que
muitas pessoas confundem a teoria com a prática. Isso deve ser mudado.

Babuínos de Thoth, reverenciam o sol esquecendo-se de si mesmos. Qual é o ritmo de


sua dança? Muitos se entregam aos braços de um deus morto que sequer pode abraçá-los.
Morto como seus seguidores, pelos quais já não pode fazer mais nada.

Como então desenvolver a prática da Magia?

A prática da Magia pode ser entendida como a observação da natureza. Não quero
que isso seja entendido como é atualmente, que a magia da natureza é sair por aí abraçando
árvores e pisando descalço na grama. O processo todo demanda num longo processo de
observação das coisas da natureza:
- Plantas. Suas cores, seu crescimento, a energia que delas emana, etc.
- Astros. As estrelas, planetas, seu movimento e sua influência.
- Animais. Reprodução, crescimento, grupos, etc.

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- Enfim, a magia é o conhecimento do universo que nos rodeia.

Se a Prática da Magia é o conhecimento da natureza, qual a necessidade dos rituais?

Os rituais existem devido ao esquecimento das coisas divinas conforme descrito


acima. Os rituais são fórmulas dramatizadas que tem como objetivo demonstrar um
conhecimento de determinada natureza. O ritual em si, não tenta falar direto ao consciente,
mas diretamente ao espírito ou supraconsciente.
É muito comum aos rituais irem do sublime ao absurdo num piscar de olhos. Isso
acontece porque o ritual precisa burlar as armadilhas do consciente e da razão para atingir
diretamente o espírito.
Qual a necessidade de burlar o racional? A mente racional bloqueia diretamente
todas as manifestações do espírito, e no caso do estudo mágico este é exatamente o
objetivo, contatar o espírito diretamente.
Quanto mais próximo de uma verdade está um ritual, mais eficaz ele será. Não
importa aqui a sofisticação ou simplicidade, desde que ele esteja próximo da verdade que
deseja representar.
Os rituais que se aproximam da natureza ou feitos ao ar livre, normalmente têm uma
eficácia muito grande. Mas, cuidado. Ficar dançando em volta de um caldeirão só traz
como resultado tontura. Hoje em dia o que não faltam são pseudo xamãs e pseudo druidas,
que na verdade são um arremedo dos originais. É preciso muito cuidado antes de se unir a
um grupo desses.

Conclusão:

Conforme foi dito no início do texto, ele não é definitivo nem tampouco verdadeiro.
Mas serve como uma lâmpada guia na escuridão que marca o caminho das Ciências
Ocultas. Não pretendemos dizer que esta ou aquela organização ou pessoa seja o
“verdadeiro” mestre, mas auxiliar o estudante na tentativa de encontrar um grupo onde
possa realmente se desenvolver sem ter que se preocupar onde estão levando sua alma. O
melhor guia em ambos os casos, na Magia Teórica e na Magia Prática, é o bom-senso. No
próximo Codex iremos abordar o espinhoso tema do Karma.

Khabs Am Pekht ♦ Konx Om Pax ♦ Luz em Extensão

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CODEX HERMETICUM 06 – Publicação Classe E

Como se Estuda Magia (Parte III)


por Frater Goya

Sobre o Diário

Todo grupo que se preza deve exigir do estudante a manutenção de um diário, onde
serão anotadas todas suas experiências pessoais com a Magia. Esse diário é de uso
exclusivo do estudante, embora possa ser examinado pelo seu tutor ou chefe do grupo
quando necessário. Aconselha -se anotar no diário a data, a hora, o local, e as posições
planetárias do Sol da Lua e o dia da semana, para futura referência.

O Que Anotar?

Tudo é importante. Seja um pensamento, as práticas, um sonho, uma queixa, um desejo,


tudo é importante e deve ser anotado com o maior número de detalhes possível. O diário
deve ser um retrato fiel da anotação a que se refere.
No diário não se anotam apenas sonhos, mas toda e qualquer atividade mágicka
(meditações, pentagramas, rituais, etc.). Essas anotações formarão seu Grimório.

As Anotações
“Lectionem sine calamo temporis perditionem
puta”
“Leitura sem caneta reputa perda de tempo”

Tudo deve ser anotado. Se algo chamou sua atenção ou não ficou muito claro, anote.
Se foi importante, será uma ótima referência futura. Se ficaram dúvidas, podem ser
esclarecidas mais tarde.

O que deve ser anotado?


- Resumos das idéias mais importantes ou úteis
- Frases expressivas, literalmente e com precisão
- Idéias pessoais suscitadas pela leitura.

Como deve ser anotado?

- use os 4 c´s: curtas, claras, corretas, completas.

Essas regras baseiam-se exclusivamente num estudo teórico, baseado em material escrito.
Para outros métodos, deve-se adequar essas regras.
O estudo teórico da Magia é a base para uma boa prática. É comum ver pessoas que
menosprezam o estudo teórico como se essa classe de estudante fosse possuidora de alguma

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deformidade espiritual. Tentamos aqui explicar os métodos do estudo teórico e não criticá-
lo.

A Obrigatoriedade do Diário

O Diário não é uma questão de vontade. Pra começo de conversa: como o estudante espera
validar quaisquer de suas práticas, sendo que o método usado para validar a magia é
empírico, sem qualquer anotação que comprove as mudanças ou que forneça dados
consistentes sobre sua evolução?

Como deve ser o Diário

O diário deve ser a parte, anotado com cuidado, num caderno especialmente preparado para
isso. Uma das opções mais práticas para um Diário é usar um caderno do tipo fichário, com
folhas soltas que podem facilmente ser mudadas de posição para se incluir algo entre elas,
como uma gravura, por exemplo. Outra opção pode ser a utilização de um Caderno Ata
com folhas numeradas.

Leia-se abaixo uma citação que Crowley faz do diário em Magi(k):

“...A caligrafia do Livro deve ser firme, clara e bela. Na fumaça do incenso é difícil ler os conjuros.
E enquanto tenta ler as palavras por entre a fumaça, ele desaparecerá, e terás de escrever aquela
terrível palavra: Fracasso.
Mas não existe nem uma só folha do livro na qual não apareça esta palavra; mas enquanto é
seguida por uma nova afirmação, ainda nem tudo está perdido, já que desta maneira no Livro a
palavra Fracasso perde toda a sua importância, da mesma maneira que a palavra Êxito não deve
ser empregada jamais, porque esta é a última palavra que deve-se escrever no livro, e é seguida
por um ponto.
Este ponto não se deve escrever em nenhum outro lugar do Livro; porque o escrever neste Livro
segue eternamente; não há forma de encerrar este diário até que haja alcançado a meta. Que cada
página deste Livro esteja repleta de música, porque é um Livro de Encantamentos!” - Magi(K)

Dos Objetivos

O objetivo do diário é justamente ajudar a tornar uno aquilo que é destroçado e


desorientado, justamente usando o acúmulo de conhecimento. Pode um estudante médio se
auto-avaliar e saber desde quando deixou de ser desorientado para ser uno? Onde acaba o
calor e começa o frio? A única referência válida para essa avaliação é o Diário por
confrontação de idéias.
Seu Diário será tua prova.

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O Diário com instrumento de passagem de Grau

Abaixo segue um trecho do Liber E. Essas regras são as que adotamos de comum acordo
entre o Conselho. Desrespeitar essas regras é cobrar dos outros aquilo que nós não fazemos.
O Diário, a partir do Artifex é um dos itens principais da passagem de grau. Somente as
anotações realizadas serão consideradas, seguindo o protocolo do Diário descrito
anteriormente. Não serão aceitas afirmações verbais. Elas se espalham no vento. Sem
diário, sem passagem de Grau. Isso vale para todos. Desde o Supremo Conselho até o
Neófito, sem exceções.
Desconsiderar esse trabalho é ignorar tudo aquilo que fazemos como estudiosos do oculto.

Trecho do Liber E, concernente ao diário:


Liber E vel Exercitiorum

SVB FIGVRA IX

Publicação Classe B

Tradução: Fr. Parsival XIº (Marcelo Ramos Motta)

1. É absolutamente necessário que todos os experimentos sejam anotados em detalhe durante ou


imediatamente após, a prática.
2. É muito importante anotar as condições físicas e mentais do experimentador ou
experimentadores.
3. A hora e o local de todos os experimentos devem ser anotados; também o estado do tempo
(sol, chuva, umidade, frio, secura, etc.), e em geral todas as condições que poderiam
concebivelmente ter alguma influência sobre o resultado dos experimentos, quer como causas
corroborantes (ou positivas) ou fontes de erro (ou negativas).
4. A A.’.A.’. não tomará notícia oficial de quaisquer experimentos que não sejam assim
conscienciosamente anotados.
5. Não é necessário nesse estágio que declaremos por completo o propósito compreendido por
aqueles que não se tornarem peritos nestas práticas elementares.
6. O experimentador é aconselhado a usar sua própria inteligência e iniciativa, e a não confiar
em qualquer pessoa ou pessoas, por mais distintas ou sábias, mesmo entre nós mesmos.
7. O relatório dos experimentos deve ser redigido de maneira a tor nar-se útil e informativo aos
que o lerem.
8. O livro John St. John publicado no primeiro número do Equinócio é um exemplo deste tipo de
relatório redigido por um estudante muito avançado. Não é tão simples quanto desejaríamos, mas
exemplifica o método.
9. Quanto mais objetivo e ordeiro o relatório, tanto melhor. Porém, as emoções devem ser
anotadas, sendo parte das condições do experimento.

Khabs Am Pekht ♦ Konx Om Pax ♦ Luz em Extensão

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carreira advocatícia. Após vislumbrar o que acontecia no seu país de origem, abandona tudo e
retorna a Índia que tornou-se seu lar até sua morte. Alguém pode contestar o fato de Gandhi ser
auto-iniciado? Ou será que preferem fazer dele membro de alguma organização por
correspondência ou descendente de Salomão? Falando em ordens por correspondência e self -
iniciados, podemos ainda citar aquelas que mandam você imaginar um iniciador atrás do estudante
falando palavras sagradas (que você não sabe quais são) e que “astralmente” fazem da inocente
vítima um iniciado... Se Gandhi foi um auto-iniciado, por que não posso sê-lo? Pode. E isso é o que
nos propomos a explicar mais adiante.

4) Ordens de tradição secundária e ordens sem tradição alguma. Segundo René Guénon,
as tradições primárias são aquelas que nos conectam a um Centro Supremo2 e as tradições
secundárias são aquelas que estão subordinadas à primeira, cumprindo o papel de guardiões daquela
primeira evitando que ela se perca para sempre. Atualmente podemos dizer com uma grande
margem de segurança que não atuam em nosso planeta ordens de tradição primária, visto que essa
não possui organização ou corpo físico que a represente, estando num nível diferenciado de
existência e é representada por uma ordem secundária, mas que infelizmente, também não atuam no
mundo contemporâneo.

5) Iniciação em ordens esotéricas. As ordens esotéricas atuais possuem um ritual de


iniciação meramente simbólico, que tem como objetivo marcar um determinado momento na vida
do estudante. Existe muito material escrito sobre o tema, porém sem profundidade suficiente para
abarcar esse tema com perfeição. Sugerimos ao leitor uma nova leitura do CODEX 06 – Parte I, que
tem bem definido como se processa a iniciação num grupo esotérico, e quais são os objetivos da
mesma. Devemos completar, porém, que a iniciação de um grupo esotérico é apenas uma vagas
referência à grande iniciação feita pelo indivíduo. Mais adiante seremos mais claros e o leitor
poderá compreender o processo como um todo.

O que é Iniciação

Podemos definir a iniciação como “um evento físico que tenta refletir um evento
espiritual”. Ou ainda como “um evento físico que reflete uma ruptura espiritual”. O que é então
um evento ou ruptura espiritual? É mais simples do que se pensa. Um evento ou ruptura espiritual é
algum fato importante ocorrido na vida de uma determinada pessoa e que muda para sempre esse
indivíduo. A partir do momento em que ocorre essa ruptura, ocorrem profundas mudanças que a
partir daí moldarão um novo caráter no indivíduo.

Como podemos definir essas rupturas ?

Essas rupturas acontecem na maior parte dos casos naturalmente. Ao contrário do que se
pensa, as iniciações acontecem na maior parte das vezes, na vida diária e não em um templo ou
numa organização. As chamadas rupturas espirituais são marcas, ou melhor características surgidas
em nosso desenvolvimento pessoal. Somos influenciados em nossa vida pelo ambiente que nos
rodeia. É impossível dissociar o ambiente do indivíduo, pois nenhum homem é uma ilha. E mesmo
que o fosse, seria influenciado por correntes distantes. Embora nem todas as mudanças possam ser

2
Analogicamente, do ponto de vista cosmogônico, o “Centro do Mundo” é o ponto original em que é
proferido o Verbo Criador, assim como o próprio Verbo.

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CODEX HERMETICUM 06 – Publicação Classe A

Como se Estuda Magia (Parte IV)


por Frater Goya (Anderson Rosa)

Da Iniciação

Por vários séculos, o tema iniciação foi exaustivamente abordado, mas não esgotado.
Psicólogos, místicos, antropólogos, filósofos e mais uma quantidade expressiva de profissionais
vasculharam o assunto, mas sem responder o que de fato acontece, ou mesmo o que realmente é
uma iniciação.
O mesmo será complementado na medida em que for necessário, até que consiga responder
adequadamente às perguntas dos estudantes que nos procuram. Sua distribuição é autorizada desde
não haja alteração em seu conteúdo (pois é um texto de Classe A), só podendo ser distribuído
integralmente e que seja citada sua fonte.
Nesse ensaio, tentaremos abordar o tema, usando palavras e exemplos claros, que definam o
fato para o leigo e para o buscador. Para chegar ao tema iniciação, devemos antes esclarecer alguns
pontos obscuros que permeiam essa questão.

1) Quem é o iniciado? É aquele que atravessa ou sobrevive a um ritual de iniciação.

2) Pode -se chegar a ser um iniciado sem pertencer a uma ordem esotérica? Sim. Embora
muitos iniciados tenham vínculos diretos com alguma escola dita iniciática, outros sempre se
mantiveram à margem ou totalmente isolados. Um ótimo exemplo desse isolamento é Merlin, mago
e conselheiro do Rei Artur. Na versão original da história (Morte D’Artur – Sir Thomas Malory,
1485, Caxton), Merlin seria o filho de uma bruxa com um demônio, lembrando os Nefilim
bíblicos1 ... Alguns escritores modernos querem fazer dele um druida. Aqui devemos lembrar que
nunca se encontrou qualquer fonte que comprove essa teoria. E que o druidismo nunca deixou
qualquer testemunho escrito que ateste o fato, nem mesmo sua forte tradição oral.
Essa tentativa de trazer Merlin ao druidismo é fruto do revival pagão a partir da segunda
metade do séc. XIX. Nada melhor publicitariamente falando, que trazer o mais ilustre dos magos
(mesmo sendo uma lenda) da Idade Média às suas fileiras (do neo-paganismo).
Além de Merlin podemos citar inúmeros pseudo-iniciados em ordens esotéricas, e que não
possuem qualquer comprovação documental. Para citar alguns: Moisés, Akhenaton, Francis Bacon,
Thomas Edson, Napoleão, Salomão e até Jesus. A lista é quase infinita. Alguns desses podem ter
feito parte de alguma organização esotérica, mas o que é certo é que nunca fizeram parte das
organizações que usam seus nomes e obras como item publicitário.

3) É possível ser auto-iniciado? Sim. Mas antes de comentar isso, é preciso estabelecer a
diferença entre ser auto-iniciado dos iniciados automaticamente. Hoje em dia, com tantos self -
services, temos também self -iniciados... Embora a distinção seja bastante óbvia, nunca é demais
comentar. O auto-iniciado é aquele que após algum momento marcante na sua trajetória de vida,
percebe-se com uma nova identidade, muitas vezes oposta ao comportamento que levava antes do
“trauma”. Entre esses, podemos citar, por exemplo, Gandhi, que era um jovem com uma promissora

1
Os Nefilim seriam os filhos de mortais com seres celestes, e são citados na Bíblia em Gen. 6, 4. Seriam os
Gigantes, ou Titãs Orientais.

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caso contrário, corremos o risco de assistirmos a um filme com atores ruins que não transmitem
emoção alguma. No final dizemos: “Não gostei. Esse filme não me disse nada”.
Quanto mais próximo a uma ruptura real, mais efetiva é a iniciação. Vivemos num mundo
em que tudo tem que ser politicamente correto, nenhum limite pode ser excedido. Quem perde? O
estudante. Sem ser atingido diretamente no seu espírito, pode apenas dizer o que acha que
aconteceu, sendo que na verdade, não aconteceu nada, uma vez que a iniciação foi apenas
simbólica.
Se uma iniciação secundária é acompanhada de uma ruptura real (uma grande perda, um
filho, etc...) mais ela irá ficar gravada no espírito do estudante. Ou, caso não haja paralelo, ela
funcionará como catalisador, trazendo mais para perto um evento real. É por esse motivo que se
costuma dizer que a iniciação ajuda a “queimar karma”. Não entraremos aqui na existência ou não
do karma. Isso será discutido num outro momento. O que verdadeiramente acontece, é que após
uma iniciação efetiva, algumas coisas que deveriam acontecer num período, por exemplo, de dez
anos, acontecem em dois. Por que isso acontece? Para que o estudante possa se liberar das tarefas
mundanas e se dedicar às tarefas espirituais. Mas devemos alertar que àqueles que buscam a
iniciação tentando apressar eventos da vida, fazem o sentido inverso, sem qualquer resultado. Por
que? Essa “queima” é uma conseqüência, e não um objetivo.

A iniciação efetiva e a iniciação ritualística são simultâneas?

Dificilmente. Mas na maioria dos casos uma indica a proximidade da outra. A iniciação
efetiva pode acontecer um pouco antes ou um pouco depois da iniciação ritualística. Isso pode ser
confirmado pelo axioma que a iniciação ritualística é um reflexo3 de um evento espiritual.
Entretanto, devemos alertar que não existe uma obrigatoriedade de relação entre um evento
espiritual e uma iniciação ritualística.

Existe um limite de idade para ser iniciado?

Sim. Embora não exista nenhuma limitação efetiva, sugerimos que se evitem iniciações
abaixo de 18 ou até 25 anos e acima dos 50. Por que? Uma pessoa que se encontra abaixo de 18
anos, ainda não possui vivência suficiente que lhe ofereça subsídios suficientes para elaborar uma
ruptura desse nível, embora existam exceções. O oposto ocorre acima dos 50. Alguém que já atingiu
essa idade, na maioria dos casos, já foi moldada pela vida e possui uma sabedoria interna que lhe
atende em quase todos os casos.
No caso de um jovem ser iniciado num grupo esotérico, isso deverá servir como um meio
de melhor orientar o desenvolvimento do jovem na direção correta. Mas devemos alertar que essa
orientação não seja uma canga, ou cabresto que se sobreponha à vontade do estudante. Nada há
mais perigoso que a restrição. Muitas vezes a restrição é usada como sinônimo de disciplina, o que
é um erro. A disciplina refere-se ao modo de se realizar algo, enquanto a restrição limita os atos do
espírito.
No caso de uma pessoa com mais de 50 anos, o processo deve ser de correção de rota,
arrumando aqui e ali o que o hábito fez crescer errado. Na maioria dos casos, o mestre ou a ordem
fará o papel de um jardineiro que acerta “as pontas” para a planta florir devidamente. Em alguns
casos, essa poda pode significar a derrubada de galhos inteiros, na tentativa de salvar o resto da
planta.

3
Enquanto reflexo, indica proximidade do objeto refletido. Nesse caso, uma ruptura espiritual.

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identificadas ou quantificadas, elas nos moldam, dando ao ser uma forma mais humana. São as
cicatrizes de nossa existência. Um velho ditado diz: “Aquele que não tem nenhuma cicatriz não
viveu”. Logo, as nossas cicatrizes espirituais são as marcas das nossas iniciações. Apenas vivendo
plenamente se alcança o status de Homem Superior.

Qual a natureza dessas rupturas?

Essas rupturas são marcadas por momentos de grande tensão na vida. Segundo alguns
psicólogos, as principais dores que um ser humano médio suporta durante sua vida são: 1º a perda
de um ente querido (cônjuge, parentes, amigos, etc.), 2º o desemprego e 3º a separação de um casal.
Aqui já temos alguns pontos que poderiam ser definidos como “iniciações”, já que após sua
ocorrência, o ser humano nunca mais volta ao estado anterior. No caso das mulheres, podemos
ainda acrescentar como momentos verdadeiramente iniciáticos a perda da virgindade e o
nascimento de um filho. São momentos bem definidos fisicamente, já que a iniciação é marcada
por um evento físico, e que depois deles, nada mais é como antes. A iniciação é um caminho sem
volta.
O melhor exemplo para definir uma ruptura espiritual talvez seja o nascimento do primeiro
filho. A mulher nunca mais será a mesma depois da gestação, mesmo que não lhe nasça o filho
(aborto natural ou induzido). Para um casal, o nascimento de um filho é o ponto de partida de um
novo estágio no relacionamento. Um belo dia, embora esperado, surge um novo ser, que nunca mais
irá embora (pelo menos por um bom tempo).
Quase todas as religiões marcam a existência do ser humano em períodos que representam a
evolução espiritual do ser. Nascimento, casamento, morte, são momentos espirituais que mudam a
pessoa em antes e depois do evento. A Igreja Católica, por exemplo, nos diz que existem 7
momentos importantes na vida. São eles: batismo, crisma, eucaristia, confissão, ordenação,
matrimônio e unção dos enfermos. O que é um sacramento segundo o catolicismo? Um sacramento
é um sinal corpóreo instituído por Cristo para dar a graça divina. Isso guarda semelhança com a
definição que demos mais acima da iniciação: “um evento físico que tenta refletir um evento
espiritual”.

Essas iniciações individuais são diferentes das esotéricas?

Antes de tentar se fazer qualquer distinção, é necessário se perguntar qual o real objetivo de
uma iniciação esotérica. As iniciações em grupos podem ser de dois tipos: aquela que marca a
entrada de um novo membro no grupo, ou aquela que tenta reproduzir essa ruptura espiritual. O
primeiro caso é o que acontece na esmagadora maioria. O segundo caso, é o que citamos acima,
quando descrevemos as ordens secundárias.
No caso de uma ordem secundária autêntica, o objetivo maior é dar ao estudante
ferramentas para se retornar àquela unidade anterior, onde o Ser Humano era senhor do universo
que o cercava. Toda a estrutura do estudo ocultista tem esse único objetivo: Fazer retornar à
unidade aquilo que se encontra separado. Logo, uma verdadeira iniciação esotérica tenta reproduzir
essas rupturas, como a emoção da morte de um ente querido por exemplo, de maneira artificial.
Uma iniciação desse tipo só tem valor efetivo quando se produz essa ruptura. O grande problema
atualmente, é que a iniciação se tornou tão simbólica, psicológica, que se perdeu a finalidade
primeira. Temos hoje um simbolismo tão longínquo em relação à origem, que sequer nos
lembramos dela. Não basta apenas ser uma ruptura simbólica. Tem que ser uma ruptura efetiva,

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Qual a utilidade de uma iniciação esotérica?

Mais acima dissemos que as iniciações que realmente importam são aquelas que ocorrem
naturalmente na vida. Se assim é, qual a utilidade de uma iniciação num grupo esotérico? Essa
iniciação, quando bem realizada, ajuda o estudante a adquirir um maior controle de sua vida e num
curto espaço de tempo realizar aquilo que levaria um grande período de tempo para ser feito. Isso
nos remete ao papel de uma organização esotérica, que é o de orientar o estudante, e não de viver
por ele.
Logo, iniciar ou não numa ordem esotérica é algo que deve ser avaliado pelo próprio
estudante. A única observação que fazemos é que o buscador não se ache auto-suficiente em todas
as instâncias. Perceber suas limitações é o primeiro passo para superá-las. A entrada numa ordem,
pode facilitar o surgimento das rupturas espirituais. Isso é o esperado. Se não acontece, a ausência
de mudança é um indicador de fracasso.
O que o estudante não deve jamais esperar, é que após a iniciação, ele solte raios pelas
mãos ou ache pessoas e objetos perdidos. Esse não é o objetivo final da iniciação.

Como identificar se fui iniciado?

O estudante poderá identificar facilmente a ocorrência da iniciação avaliando o antes e o


depois da iniciação. Se houve uma mudança no seu comportamento ou na sua personalidade,
ocorreu a iniciação. Caso contrário, foi apenas um momento como tantos outros.

Conclusão:

Diante do exposto, podemos perceber que a iniciação numa ordem esotérica, só tem valor se
estabelece um paralelo com as iniciações ocorridas em determinados períodos de vida. Atualmente
não existem organizações de Tradições secundárias, capazes de realizar uma ruptura espiritual por
meios artificiais. O melhor meio de ser iniciado é viver a vida em sua plenitude, sabendo observar a
cada momento, as mudanças ocorridas, que podem ou não ser geradas por fatores externos.
Qualquer grupo que se pronuncie como iniciador, deve obrigatoriamente ser capaz de reproduzir em
ritual essas rupturas. Se elas não acontecem, o ritual é inválido. Acreditar que é superior ás
circunstâncias e que não precisa ser iniciado em lugar nenhum é o primeiro passo para uma queda.
Entregar-se cegamente a um grupo qualquer, também é uma queda. Qualquer grupo que exija
cumprimento cego às suas exigências é um grupo de escravocratas espirituais.
As outras partes desse CODEX podem ser encontradas em: www.rosacruz.com.br

Ank ♦ Usa ♦ Semb

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CODEX HERMETICUM 06 – Publicação Classe A

Como se Estuda Magia (Parte V)


por Frater Goya (Anderson Rosa)

Faze o que queres, há de ser o todo da Lei.

Ordens Esotéricas e seus trabalhos

Essa parte do CODEX 06 – Como se Estuda Magia, tem como principal objetivo fornecer
explicações sobre a natureza, hierarquia e trabalho das ordens esotéricas. O que falaremos a seguir
não é definitivo nem aplicável em todos os casos. Mas certamente, serve de guia para a grande
maioria das chamadas Ordens Esotéricas. À medida que novas informações sobre o tema forem
surgindo, esse Codex será ampliado e atualizado, de forma a atender as necessidades dos estudantes.
Dica: Este documento deve ser lido em parceria com o Codex 01 – O CIH Não é uma
Religião, a primeira parte do Codex 06 – Como se Estuda Magia e com o Codex 02 – Legitimidade
das Ordens Esotéricas.

Qual a finalidade de uma Ordem Esotérica?

Os grupos esotéricos surgiram num período da história da humanidade, normalmente


vinculados com as guildas de ofícios e grupos religiosos. No primeiro caso, temos grupos como a
maçonaria, que na sua fundação era um grupo de pedreiros-livres (franc-maçons) que ao final de
seus trabalhos se reuniam para discutir questões operativas e também preparar novos profissionais.
Isso marcou profundamente essa organização que ainda hoje guarda nos três primeiros graus,
sua correspondência com a antiga função. Temos aí: Aprendizes – os novos irmãos de trabalho, que
aprendem as bases da operação; Companheiros – irmãos mais adiantados que conhecem a base e se
preparam para avançar adiante, ajudando os Aprendizes na busca do conhecimento e apoiando os
Mestres no que necessário for; e temos os Mestres (de obra ou de ofício) – que dominam
completamente os graus precedentes e agora usam seu conhecimento de modo a transformar a
natureza com suas criações. É necessário salientar aqui que esse é o ideal primordial dessa
organização, mas atualmente, nem sempre isso é seguido à risca, fazendo que a maçonaria atual
pouco faça na prática além de preservar esses nomes.
O segundo tipo de ordem, as confrarias religiosas, são formadas por mestres avançados e por
aqueles religiosos que, percebendo a profundidade real da religião, buscam avançar mais
profundamente, chegando ao esoterismo da mesma. As religiões por definição passam à sociedade
aquilo que convencionamos denominar exoterismo. Ao se passar por determinado limite, chegamos
ao esoterismo. Nesse ponto, o fiel se torna o Adepto. Absorvido pela parte mais interna da religião,
ele irá aprender os mistérios professados pela mesma.
A partir daí podemos deduzir que a principal função de uma Ordem Esotérica é preparar o
estudante para um conhecimento mais aprofundado do mundo em que vive. Ou seja: toda Ordem
Esotérica é uma escola.

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Um ponto importante a se considerar sob esse aspecto é que a Ordem Esotérica não fará nada
pelo indivíduo, que ele não faça por si mesmo. Como é dito na Odisséia, “Os deuses não farão pelos
homens o que eles devem fazer por si mesmos”.
Podemos fazer uma analogia com uma estrada. O estudo da magia é a estrada, que deve ser
percorrida inteiramente, para que se chegue a algum lugar. O estudante é aquele que percorre essa
estrada, buscando um destino (ou objetivo) específico. E a Ordem Esotérica é representada nesse
esquema como as placas que indicam o caminho a ser percorrido. Continuando nessa linha de
raciocínio, o estudante é quem de fato, percorre a estrada. As placas indicam os perigos adiante,
condições do caminho, velocidade ideal para se percorrer determinado percurso (Ex: perigo adiante,
curva estreita à direita, velocidade máxima permitida 100Km/h. Ou dito de outro modo: perigo de
obsessão, estude os assuntos na ordem prevista e estabeleça um ritmo para seus estudos). Mas quem
faz ou não o caminho é o estudante. Da mesma forma que mesmo usar uma estrada bem sinalizada
não indica que você chegará ao seu objetivo (existem inúmeras variáveis para que isso aconteça),
estar numa Ordem Esotérica muitas vezes pode não legar a lugar algum.
Complementando a informação acima: Uma Ordem Esotérica é uma escola cujo objetivo é
orientar o estudante para que ele atinja seus objetivos com o menor número de acidentes de trajeto
possíveis.

Quais os métodos usados para passar o conhecimento?

Os métodos mais comuns utilizados são dois:


1) Iniciação – cujos objetivos e métodos são descritos nas primeiras partes desse Codex. E
normalmente as ordens que utilizam esse método possuem graus a serem atingidos pelos
estudantes que serão descritos mais adiante.
2) Revelação Espiritual – Em algumas ordens, a iniciação é substituída por uma revelação
de cunho espiritual (normalmente uma visão transcendental), que causa uma ruptura na
vida do estudante, acabando por gerar a necessidade de ir além do que os olhos vêem.
Nesses grupos, normalmente não há graus, mas apenas a condição de pupilo e mestre. O
estudante permanece nessa condição até que seu conhecimento e suas práticas
corroborem o status de mestre.

Percebe-se ainda no segundo caso, uma certa hierarquia, embora menos evidenciada ou
valorizada publicamente que a primeira opção. De toda a forma, alguns pontos devem ser
considerados para uma melhor compreensão do tema:
1) Qualquer um dos dois métodos acima estabelece uma rígida disciplina para o
estudante. Nenhuma ordem esotérica é uma democracia. Embora muitos grupos se
digam abertos e democráticos, na prática o que acontece é que os graus superiores
ou chefes da ordem são as cabeças que realmente decidem a evolução da mesma.
Isso pode parecer complicado e até enganoso, mas deve -se entender aqui que a
priori, o fundador (ou fundadores) do grupo são pessoas que já trilharam o
caminho que agora propõe como eficaz e portanto, estão aptos a tomar decisões
que prevalecem sobre as escolhas do grupo como um todo.

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2) A disciplina não pode ser questionada. Toda Ordem Esotérica digna desse nome
possui seu sistema disciplinar bem definido. Isso vai das coisas mais básicas, como
colocar o estudante numa condição de serviçal (isso é muito comum em ordens
orientais e na maioria dos grupos cristãos) para que ele aprenda a maestria
servindo, como também pode ser mais sofisticada, fazendo que o estudante muitas
vezes se submeta a uma vontade superior à sua, normalmente a do seu mestre.
Considerando aqui que o estudante não conhece (se fosse conhecedor não seria um
estudante, mas um mestre), ele deve aprender da forma mais difícil possível, o que
nos leva ao próximo ponto.
3) Não existe aprendizado fácil e sem dor ou perdas de alguma espécie.
Desconhecemos até o presente momento, formas eficazes de aprendizado em que o
estudante não precise de esforço ou não tenha nenhum tipo de perda. Qualquer
grupo que proponha um sistema baseado apenas em festa sem nenhuma dedicação
mais profunda, provavelmente não conduzirá o estudante de forma segura. A
dispersão e a falta de dedicação são armadilhas que induzem ao erro facilmente.
Na grande maioria das vezes, os principais problemas enfrentados pelos estudantes
abrangem: fadiga física extrema, esgotamento psicológico, o rompimento com
conhecimentos ou crenças adquiridos previamente, e por aí segue.
4) O inferior jamais se sobrepõe ao superior. Embora seja bem difundida a frase “o
aluno supera o mestre”, na verdade isso só acontece quando o estudante já trilhou
a maior parte de sua trajetória pelo caminho do oculto se submetendo às premissas
anteriores. Ninguém nasce sabendo. Todas as pessoas precisam ser preparadas e
lapidadas em maior ou menor grau. E por mais que se saiba, alguém sempre saberá
mais que você. Logo, ao estudante a melhor regra é: Se você espera superar seu
mestre, siga-lhe os passos . E a contra-regra é: Separar-se do guia é a melhor
forma de ser corrompido e se perder durante a jornada.
5) Toda Ordem Esotérica é dogmática em maior ou menor grau. A partir do
momento que se estabelece uma disciplina rígida, agregados a isso vem os
dogmas, ou normas absolutas que não devem ser questionadas. Isso em si já
guarda um profundo segredo, que embora óbvio, não é percebido pela grande
maioria. O estudante antes de tudo deve obedecer; depois deve aprender; depois
praticar e somente então adaptar. Tudo o que há antes da adaptação é dogma.
6) A liberdade do estudante é restrita. Se ainda não foi dito de forma clara o
suficiente, na prática, o estudante possui uma liberdade apenas restrita. Essa
restrição pode advir do instrutor, da escola, do conhecimento ou de todos
simultaneamente. Embora essa condição seja temporária, ela é de suma
importância para o desenvolvimento do estudante, e essa regra corrobora a
anterior.

Ordens Externas e Ordens Internas

É muito comum na atualidade se ouvir falar em ordens externas que captam um número muito
grande de membros que depois são filtrados para adentrarem nas ordens denominadas internas. O
que isso quer dizer?
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Da mesma forma que não existem meios de se chegar a um esoterismo sem passar por um
exoterismo 1 , não há meios de se tornar membro de uma ordem interna sem haver passado antes por
uma ordem externa. O caso mais famoso dessa regra é o rosacrucianismo. Devido ao mau uso do
termo “Rosacruz” por ordens espúrias, tem-se atribuído a essa palavra o valor de uma ordem.
Rosacruz é uma palavra que designa um Grau obtido dentro de uma Ordem Interna, e não uma
organização. É um disparate usar essa palavra de forma tão errada como tem sido feita nas últimas
décadas. É bem sabido entre os iniciados que o uso indevido do termo rosacruz indica a falta de
seriedade de ditas organizações, que tentam se promover abusando da ignorância dos estudantes.
Como foi dito em outro lugar2 , uma pessoa pode ser um rosacruz sem nunca ter passado por uma
Organização dita como tal. Logo, rosacruz se refere a um Grau atingido pelo indivíduo na sua
evolução pessoal, e não a uma organização específica.
O Círculo Iniciático de Hermes pretende com suas práticas, auxiliar seus membros a atingirem o
Grau de Rosacruzes, mas o C:.I:.H:. não é um grupo rosacruz como as citadas ordens acima, que
iniciam membros baseados numa mentira. Quando usamos o termo rosacruz publicamente estamos
expressando nosso mais íntimo desejo, de nos tornarmos rosacruzes pela nossa evolução, e não em
benefício próprio.

Uma Ordem Esotérica traz algum benefício ao Estudante?

Sim. Entre eles podemos destacar


Qualidade x Quantidade – Qual é o melhor?

É um clichê bastante batido, mas que goza de grande popularidade. Quanto menor o número de
membros melhor é o grupo. Mas será isso verdade, ou aquilo que é válido? Nem sempre. O que
acontece é que muitas vezes grupos pequenos são tão mal organizados quanto os grandes e o
estudante é quem sofre com isso. O melhor nesse caso é que cada grupo buscasse um ponto de
equilíbrio entre quantidade e qualidade. Os estudantes deveriam poder optar por grupos bem
estruturados3 que possam realmente levar a algum lugar, além do bolso de uns poucos.
Quem se apóia na premissa que quanto menor melhor, acredita em conversa de desocupados,
que preguiçosamente se espraiam nas estradas da vida, fazendo os incautos estudantes acreditarem
que a estrada é que corre enquanto o estudante fica parado. Menos pessoas significam menos
trabalho. E é bastante óbvio que muitos usam o esoterismo para esconder sua incompetência em
outras áreas da vida. O verdadeiro mestre havendo necessidade cria condições para melhor atender.
Ele não limita os membros. Expande a si mesmo se necessário for.

1
Ver o CODEX 01 – O CIH Não é uma Religião.
2
Ver o CODEX 03 – A História do Rosacrucianismo.
3
Leia-se aqui bem estruturado não apenas como grupos organizados financeiramente ou que ostentam arquiteturas
fabulosas. Isso só faz bem ao olho, mas se o material e a orientação dadas ao estudante não forem de boa qualidade, o
dinheiro não o fará. Dinheiro não compra a evolução de ninguém. Grupos bem estruturados são aqueles que oferecem ao
estudante um suporte na hora em que isso for realmente necessário. Voltando a analogia da estrada, onde você se sente
mais seguro? Numa estrada de terra mas que conduz a algum lugar de forma segura, onde você encontra poucas
referências mas úteis para conduzi-lo a seu destino, ou numa estrada bem cuidada, com muitos avisos mas que na
verdade não lhe dão a informação que você precisa?
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Acreditar que apenas os grupos menores sobreviverão é condenar a magia ao esquecimento. É
fazer o jogo do adversário. É se colocar numa posição de recuo e permanecer acuado, fazendo o
oposto da proposta mágica, que é fazer o homem retornar ao seu lugar de direito, como senhor da
Criação. Acreditar que poucos serão os escolhidos é negar a humanidade esperança de salvação, já
que a mesma agora é tragada junta naufragando com as religiões estabelecidas pelos irmãos negros.
A Lei é para todos. Nesse ponto, mesmo o profeta se enganou4 , pois ele ignorava aquilo que estava
acima dele.

Conclusão

Podemos concluir pelo exposto acima, que muito se tem falado sobre ordens esotéricas e seu
trabalho, mas pouco de esclarecedor pode ser realmente filtrado pelo estudante comum, pois muitos
não sabem ler as entrelinhas de tão intricada estrutura. Se filiar a uma ordem esotérica muitas vezes
acaba sendo a maneira menos traumática se estudar esoterismo, embora não seja a única, nem
tampouco a melhor. Os estudantes que lerem essas linhas poderão usar esse conhecimento para
saber qual é seu caminho pessoal. Não desejamos com isso engrossar nossas fileiras, mas sim
esclarecer aqueles que ainda sonham com ordens que caem do céu e com super-magos. Magos esses
que são incapazes de mudar a si mesmos, quanto mais mudar a realidade a seu redor. As outras
partes desse CODEX podem ser encontradas em: www.rosacruz.com.br

Em L.L.L.L.,
Fr. Goya

Amor é a lei, amor sob Vontade.


Ank ♦ Usa ♦ Semb

4
Referência feita a Liber Al Vel Legis – SVB FIGURA CCXX - I,10 “Que meus servidores sejam poucos e secretos,
eles regerão os muitos e os conhecidos”.
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CODEX HERMETICUM 06d – Publicação Classe A

Como se Estuda Magia (Parte VI)


por Frater Goya (Anderson Rosa)

Questões a se considerar sobre a Fé do Magista

Cada Codex produzido por mim para os estudantes e curiosos da magia tem como objetivo
principal responder a questões que são mais freqüentes e que muitas vezes não são respondidas
prontamente ou ainda são desvirtuadas pela grande maioria dos autores. Não buscamos de forma
alguma sermos a principal fonte ou a melhor, mas desejamos sim, ser uma fonte organizada o
suficiente para que o estudante encontre nela ao menos o início de suas pesquisas.
Especificamente hoje, conversei algum tempo com um Frater de nossa ordem e falávamos
principalmente sobre as falhas e dificuldades existentes no caminho do magista. Devo alertar aqui
que nosso Frater já tem algum tempo de ordem e que essas questões surgiram depois de muito
tempo de conversa, seguindo uma linha de pensamento que nem sempre é a primeira, ou aquela que
surge nos primeiros passos no caminho. Ele mesmo experimentou diversas vicissitudes antes de
surgir a pergunta na sua mente. E a pergunta foi:

Por que os estudantes de magia enfrentam tantas dificuldades?

No início de sua jornada, e em quase toda ela, para ser mais sincero, ocorrem o que
denominamos ordália. Quando alguém decide viajar conscientemente nos Caminhos do Dragão1, ela
tende a acelerar o que seria o caminho natural em seu desenvolvimento. Como exemplo, podemos
dizer que fatos que deveriam ocorrer num prazo natural de 10 anos podem ocorrer em dois. Isso
assusta a maioria dos estudantes, que se vêem inundados por situações que parecem cair do céu.
Mas podemos adiantar que isso é justamente um estímulo, pois ao findar esse processo, ele saltará
de nível de consciência, se vendo livre daquilo que futuramente iria lhe atrapalhar.
A grande questão que acaba surgindo daí, é que muitos estudantes, quase todos na verdade,
se vêem em constantes ordálias ao longo de sua jornada. Mas se logo acima afirmei que se veria
livre delas, como isso acontece? Em verdade, é preciso avisar que as ordálias vão se sofisticando e
mudando de natureza na medida em que o estudante também evolui. Ou seja, cada grau possui suas
ordálias específicas, inerentes a ele.
Mas muitos estudantes, devido ao sistema vigente na maioria das escolas esotéricas2 , são
apenas “passados” de grau, ou seja, é um ritmo quase automático, sem qualquer critério sério, que
realmente verifique se o estudante se encontra realmente apto a passar a um novo estado de
consciência. Logo, o que acontece, é que a maioria das ordens e grupos de estudo não se preocupa
com o estado real do estudante e sua evolução, se omitindo por completo do seu desenvolvimento.
Ou seja, muitos daqueles que supostamente estão em graus avançados de determinadas ordens

1
Ver o Codex 13 – O Mapa da Consciência, disponível em http://www.rosacruz.com.br .
2
Ver o Codex 02 – A Legitimidade das Ordens Esotéricas, disponível em http://www.rosacruz.com.br .
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apenas acumulam ordálias ao longo do tempo de estudo. Isso pode ser facilmente verificado quando
muitos religiosos e críticos ao movimento esotérico argumentam que “a magia só atrapalha a vida.
Foi só fulano ou cicrano se meter com isso que a vida dele ficou cheia de problemas”.
Por outro lado, tem os depoimentos de religiosos que argumentam a seu favor: “Bastou eu
negar a magia, abraçar Jesus (ou Buda, Maomé, ou qualquer outra religião), e minha vida andou
pra frente”. Ou ainda: “Esses crentes fazem as coisas por pura fé em Deus e FUNCIONA!”.
Deveria ser exatamente assim com magia. Mas o Aprendiz começa a achar que entende o
mundo, que é tudo puro pensamento, e que basta pensar. Enquanto o aprendiz pensa, o crente3 faz.
Eis aí o segredo do sucesso deles.
Os Aprendizes passam muito tempo tentando entender o universo. Enquanto isso, o crente
diz: “Deus está ali? Ok, vamos lá”. E faz acontecer. Enquanto isso, os Aprendizes magistas ficam
discutindo ainda se precisa ou não usar arma, ou ainda, senão é tudo psicológico.
O crente vê alguma coisa com o canto de olho, e ou é Jesus ou Satanás. O Aprendiz pata-
tenra, vê com o canto do olho, e acha que é a visão periférica, que é alguma manifestação da psique
dele, ou que estava com sujeira no olho. Fica mais preocupado em negar do que em resolver.
Esse é o maior segredo da magia ocidental. FAZER. Se o Aprendiz passar mais tempo
FAZENDO do que JULGANDO, ele perceberá que o caminho fica extremamente mais fácil de se
conduzir.

Falta de motivação

Quanto mais o estudante caminha, quanto mais ele avança, mais motivação ele precisa,
embora devesse ser ao contrário. Com o passar do tempo ele deveria se sentir mais motivado, mais
empolgado, mas na verdade, mais ele se sente cansado e desestimulado. O fardo parece pesar sobre
ele.
Costumo comparar esse trecho da jornada como se estivesse voltando por um caminho que já
se seguiu anteriormente. Quando se faz uma jornada, o caminho de ida pode ser doloroso, mas o que
poucos pensam é que é preciso VOLTAR. Quando se faz o caminho de volta, a distância parece ter
dobrado de tamanho. Por que isso acontece? Justamente porque o corpo está cansado da caminhada.
Os estudantes costumam subestimar as coisas, ignorar o Dragão Serpente4 . Parece que as
coisas mais simples da vida ganham um novo sentido e ficam muito mais complicadas. Será isso
uma verdade?
Não é mais difícil, mas sim, muito mais fácil. O que acontece então? Por que tudo parece
mais complicado?
Todo Aprendiz (ou Neófito) de magista se acha bom demais, acha-se grande como vida,
conhecedor da sua Verdadeira Vontade5 . Acha-se bom o suficiente para fazer as coisas sem
supervisão. Mas o que acaba acontecendo? O estudante entra pelo caminho errado e se vê em palpos
de aranha numa tremenda complicação.

3
Usamos aqui o termo crente para designar aquele que possui um sistema firme de crenças, seja de qual religião ele for.
4
Ver o Codex 13 – O Mapa da Consciência, disponível em http://www.rosacruz.com.br .
5
Ver o Codex 08 – O que é Thelema, disponível em http://www.rosacruz.com.br .
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Magia atrai problemas ao estudante?

A resposta é um sonoro NÃO! Mas então o que acontece?


Muitas pessoas tendem a buscar uma solução mágica para a vida. Não desejam resolver as
suas questões pessoais, mas apenas resolvê-las por um passe de mágica. Queimar os problemas com
bolas de fogo, afastar inimigos com o vento do espírito, vencer debates com a espada da língua.
Tudo isso é prometido aos estudantes, mas na prática, apenas sortilégios e superstição.
Logo, o incauto estudante se liga a um grupo que nada mais deseja do que aumentar os
lucros de algum espertalhão. Disfarça sua real intenção (a de fugir de si mesmo) com um interesse
pelo estudo, e entra no mundo da magia. Devo interromper a narrativa para dizer que muitas vezes
esse desejo é até sincero em parte, mas quando as exigências da magia começam a surgir, o
estudante vai se desestimulando e começa a pular de galho em galho, na tentativa de um caminho
mais fácil, até que finalmente, se volta novamente para a religião, normalmente fundamentalista, que
lhe resolva os problemas que ele traz na bagagem.
O ciclo poderia ser visto da seguinte forma:

ORIGEM -> Alguma religião cristã de grande aceitação e tradicional, como o Catolicismo
Romano, o Luteranismo ou a Igreja Batista6. O nosso postulante aqui provavelmente é filho de
pessoas seguidoras da fé, mas como foi batizado ainda criança, muitas vezes está descontente com a
religião de origem, pois esta não lhe responde a contento seus principais anseios.
CAMINHADA -> Normalmente, no Brasil, a porta de entrada é o Espiritismo Kardecista,
ou alguma religião Afro (hoje também influenciadas pelo kardecismo em muitos lugares). Depois,
quando o estudante não encontra amparo em seu desespero nesses lugares, acaba buscando grupos
esotéricos. Quando não avança como imaginava, segue sua busca.
DESTINO -> Deixa a “farsa” da magia7 e se volta para uma solução mais fácil,
normalmente sendo bem recebido em religiões fundamentalistas ou em pseudo-racionalismos, como
ateísmo ou alguma fuga científica. E aí chegamos no ponto que nos interessa:

6
Isso falamos baseados na realidade Brasileira. Em outros países, outros exemplos podem ser tomados.
7
Devemos aqui perguntar se o problema foi a “farsa” mágica ou a “farsa” do próprio estudante, que só buscou uma fuga
fácil pros seus problemas?
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Por que os fundamentalistas conseguem sucesso em suas práticas e o magista não?

Essa questão é resolvida justamente pelo principal ingrediente de toda a jornada. A FÉ. Se
observarmos com calma e clareza suficientes, perceberemos que ao longo da jornada, que leva
muitos anos, pelo menos nessa forma comum, indiretamente, o estudante vai forçosamente
aprendendo o segredo da DISCIPLINA. Depois de tanto tentar de tudo, fazendo mal e porcamente
as práticas, ao longo dos anos aprende que a DEDICAÇÃO pode lhe dar algo que até o momento
não teve. E então, ele se entrega pela FÉ a sugestão religiosa ou científica.
Logo, quando ele aceita sua nova religião com o coração aberto, ele vê se operarem
MILAGRES diante de seus olhos. Será essa nova religião tão forte?
Atualmente muitos dos estudantes recentes de magia, ou Neófitos como são chamados,
tentam trazer um ar de ciência a magia, e ao invés de VIVENCIAR A EXPERIÊNCIA, tentam ver
nela apenas efeitos da psique humana, não passando de um bando de psicólogos safados8 , sem
experiência, técnica ou conhecimento suficientes. Aí justificam tudo que lhes acontece deve ser
julgado e condenado pela sua razão.
A felicidade do crente seja qual for sua religião, é que ele simplesmente tem Fé de que tudo o
que aconteceu foi obra divina, o que nos leva ao próximo degrau de nossa escada.

A Magia como Artigo de Fé

Podemos concluir então que a FÉ é talvez o primeiro item essencial para o estudo da Magia e
para a vida do ser humano em geral. Se separarmos o ser humano de sua fé, seja ela qual for: fé em
Deus, fé em si mesmo, fé nas ciências exatas, fé na psicologia ou apenas fé na razão, não se pode
retirar a fé sem destruir o ser onde ela habita.
A razão e a civilidade (além das leis é claro) nos impedem de matar outro ser humano. Mas
pela fé um homem pode matar outro ser humano, mesmo que este seja seu filho. Pela fé a
humanidade foi conduzida a momentos de conflito violentíssimos. Podemos citar entre eles:
• A Inquisição;
• A II Guerra Mundial (fé no poder do Estado);
• As atuais disputas por Jerusalém entre Judeus e Palestinos.
Pela fé mudamos o comportamento de uma pessoa, pela fé amamos ou odiamos. Pela fé
fazemos filhos ou os evitamos, pela fé deixamos até mesmo de comer, que a meu ver seria uma
das necessidades mais básicas do ser humano. Pela fé nos deixamos matar9 .
Logo, é a FÉ em algo que nos conduz a um caminho suave e verdadeiro. Seja qual for o
objeto da fé, essa crença é que torna a existência mais suave.
Mas fazer isso não seria ignorar a razão e a inteligência, que é o que nos separa dos animais?

8
Na prática esses pseudo-cientistas-magistas, não fazem bem nem um nem outro. Não sabem o suficiente de psicologia
pra interpretarem o que lhes acontece, não levam a sério o suficiente suas práticas mágicas, e portanto, a todos os lados
(o da psicologia e o da magia), só criam vergonha para os estudantes sérios. Não devemos misturar psicologia e magia,
sob o risco de termos uma magia psicológica ou uma psicologia mágica, o que seria danoso para ambas as partes.
9
Para aqueles que acham essa expressão muito forte sugerimos a leitura da história das religiões e seus mártires. Não
apenas do cristianismo, mas também do islã, do budismo e do hinduísmo.
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Devemos aqui lembrar que a fé não é apenas uma crença pura e simples, mas pode ser
dividida por suas características em diversos pontos como:

• A Fé como conhecimento: exige não somente uma simples percepção intelectual de


algumas verdades, mas uma atitude permanente de abertura ao MISTÉRIO DA
EXISTÊNCIA, para que à luz dele, o homem seja capaz de compreender os sinais
pelos quais o universo se torna acessível. O conhecimento é um momento essencial da
fé, porque inclui a aceitação do conteúdo revelado como verdadeiro.
• A Fé como obediência: a fé não pára no conhecimento da verdade revelada. Não
basta um processo reflexivo meramente racional, mas é necessária uma conversão
interior e radical, a fé comporta um verdadeiro movimento da vontade, uma
atividade do homem que livremente se submete à uma vontade superior a sua, divina ou
não. É uma entrega pessoal a existência, a qual compromete o homem todo e as esferas
de sua realidade; compreende, portanto, a existência na sua totalidade e
supõe a esperança e o amor como duas formas de realização.
• A Fé, opção fundamental do homem: é uma decisão total que empenha
irrevogavelmente a liberdade do homem, e que, embora parecendo inconsistente com a
Verdadeira Vontade, na verdade é um cumprimento desta . A opção fundamental é uma
opção absoluta que torna o resto relativo; unifica toda a existência; dá sentido aos atos
e atitudes; tem momentos fortes, mas não se esgota neles; é definitiva, não
provisória, mas pode progredir ou regredir. É uma atitude pessoal que imprime uma
orientação nova e definitiva à vida do homem; surge no mais profundo da liberdade que é
internamente convidado pelo próprio universo. Ao aceitar as exigências dessa nova
Existência, o homem não vê nelas mandamentos impostos, mas o convite a uma
coerência na vida.
• Fé Viva: A fé não é simples confissão de verdades, mas também uma relação pessoal
com o Universo. Esta relação pessoal leva a aceitar e reconhecer a verdade revelada ( fides
quae = conteúdo) e a acolher a salvação que ele realiza (fides qua = confiança). Portanto a
fé implica um compromisso vital e dinâmico, uma decisão livre que compromete o agir do
homem, sua liberdade, para adequar sua existência ao universo que o cerca. Somente
assim a fé se torna viva.
• A Fé não é um ato irracional: não anula a razão; exige que o homem justifique perante
si mesmo e perante sua razão a decisão de crer. A fé irracional seria fé inumana porque
não respeitaria a natureza mesma do ser humano. Não é simples salto no escuro - temos
que levar em conta a luz da inteligência para poder compreender e discernir os sinais de
credibilidade. Mas a fé não se baseia unicamente na luz da razão. A razão permite discernir
os sinais de credibilidade e justificar a opção livre de crer, mas é o sentimento de
completitude e união com o Universo ou Deus que faz ver nesses sinais uma vocação
pessoal à fé. A fé nasce não de um impulso irracional, mas de um discernimento.
• Imanência e Transcendência da Fé: Diferentes autores viam que a fé não podia
deixar de lado a razão, mas ao mesmo tempo, entendiam que também não se podia
reduzi-la a uma conclusão de um raciocínio. São Tomás diz: “o acesso à fé se
fundamenta unicamente em Deus e exige a iluminação interior da graça; mas a
opção livre da fé não pode ser privada da luz da razão”. A fé é transcendente, pois está

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fundamentada no Universo ou em Deus mesmo e é suscitada por uma iluminação interior.
A fé é imanente enquanto a opção da fé esta condicionada (não determinada) pela
intervenção da razão.
• Inculturação como aspecto negativo: uma fé que não se faz cultura é uma fé que
não foi plenamente aceita, não totalmente pensada e não vivida fielmente. A fé não
existe a não ser em uma cultura: vive-se a fé a partir de uma cultura. Ela tende a se
inculturar. Assumir a cultura já existente como um todo, como um projeto de vida de um
povo: deve-se evitar tanto a aculturação quanto o arqueologismo cultural.

Conclusão:

A fé é para o ser humano um artigo essencial durante sua existência, e também para aqueles
que desejam estudar a magia com profundidade. Tentar separar essa fé, conforme descrita acima
dos estudos, tentando dar um ar racional à existência, não é ser racional, mas sim trocar um deus
por outro. E dessa forma, se estaria fazendo justamente aquilo que um homem já condenou num
determinado momento: “Não se pode adorar ao mesmo tempo a dois senhores. Se fazendo isso,
irá se irritar sempre um dos senhores, e o final do adorador é trágico”.
Logo, podemos tentar traduzir a fé como o sentimento de unidade com o universo, seja ela
qual for. Portanto, como diz o ditado: Ora et Labora 10 .

Em L.L.L.L.,
Fr. Goya
Curitiba, segunda-feira, 01 de março de 2004.
Anno IVxi Sol 11° Pisces, Luna 13° Cancer Dies Lunæ

Ank ♦ Usa ♦ Semb

10
Ora e trabalha.
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CODEX HERMETICUM 06 – Publicação Classe E

Como se Estuda Magia (parte 7)


por Frater Goya (Anderson Rosa)

O Papel do Mestre e do Discípulo

Participando de várias listas na internet, percebe-se a cada dia comportamentos


sintomáticos que vão desde a aceitação cega daquilo que se lê, ou à completa negação. Esse
comportamento típico da adolescência (de negar tudo ao pé da letra ou aceitar tudo ao pé da
letra), torna-se quase um padrão na grande maioria das listas.

Isso favorece o nascimento de gurus de correio eletrônico e de seguidores


imbecilizados posando de intelectualóides. Mas afinal, qual seria o papel do Mestre e do
discípulo? Existem Mestres Ascencionados? Posso confiar em alguém que se diz Mestre e
ainda vive no mundo físico? Essas com certeza são perguntas que muitas vezes aparecem
na cabeça de todo estudante. Vamos tentar respondê-las na medida do possível nesse
pequeno ensaio.

Quem é o Mestre?

Por definição, Mestre: O que é perito ou versado numa ciência ou arte1 . Portanto, o
Mestre seria alguém que se dedicou a um determinado ofício, ciência ou arte, até atingir um
grau suficiente de instrução que lhe permita ensinar, ou guiar ao aprendiz.

Todo Mestre foi um dia aprendiz. Ninguém nasce Mestre. O aprendizado nunca é
um caminho fácil, mas ao contrário, é um caminho exigente e difícil, cujo preço é para a
maioria das pessoas, impossível de pagar.

Note-se que falamos aqui de um tipo de Mestre específico. O Mestre de uma ordem
esotérica. Supõe-se portanto, que o Mestre ou Guia, tenha passado por todas as trilhas
previamente, as mesmas pelas quais levará seu discipulado. Logo, aqueles Mestres que
levam o título sem ter nada praticado na verdade não se encaixam aqui sendo uma vergonha
para seu discipulado. Mas voltaremos a eles mais adiante. Não percamos tempo.

A Formação do Mestre

Como alguém se torna Mestre? Em tese, qualquer pessoa pode tornar-se um Mestre,
e por vários meios, embora a trajetória seja basicamente a mesma. No processo de
formação do Mestre, nem sempre ele possui a idéia clara de que é um Mestre já no início.
1
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda – Mini Aurélio Século XXI, 2001, Editora Nova Fronteira.

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Mas o fato de não ter consciência imediata disso, não quer dizer que ele ainda não seja um
Mestre.

Normalmente, no decorrer dessa jornada, o estudante primeiro responde a um


Chamado (anseio) pessoal, que o leva a buscar certo caminho. Esse anseio muitas vezes é
um desejo exagerado já na infância por coisas que são inapropriadas para a idade. Aqui
estamos falando daqueles que desde de cedo acabam encontrando sua vocação,
normalmente no final da primeira infância (a partir dos 7 anos).

Depois disso, acabam buscando informações por conta própria, sendo difícil
encontrar na história desses estudantes precoces um tutor assim em tão tenra idade.
Normalmente a juventude desses buscadores acaba sendo bastante solitária e até podemos
dizer marginal, pois em grande parte dos casos demonstra um recolhimento voluntário.

Então, na vida adulta, após os 21 anos no Ocidente, é que acontecem as grandes


reviravoltas. Normalmente nessa fase é marcada por grandes conflitos pessoais, um desejo
incessante de crescer, e uma disparidade entre o que se pensa e o que se vive. Lembramos
aqui que em nossos dias ninguém é educado desde a infância para ser Mestre. Logo,
quando a fase de amadurecimento ocorre, há um choque entre aquilo que veio aprendido na
família de origem, e aquilo que é aprendido por outros meios, sejam eles espirituais ou não.

E normalmente, no período ao redor dos 30 anos (alguns por motivos óbvios


preferem apontar os 332 ), tem uma grande virada ou amadurecimento de sua carreira
mágica.

Adiante disso, só podemos dizer que normalmente o caminho segue mais tranqüilo,
a menos que ocorra algum tipo de virada na jornada pessoal. Normalmente é difícil que
alguém se torne Mestre além dos 45, 50 anos. Isso nos leva adiante.

Um Mestre deve ter uma vida perfeita?

Deveria, mas não tem. Muitas pessoas têm o conceito errôneo de que por ser
Mestre, o indivíduo deve ter uma vida perfeita. Devemos aqui lembrar que a pessoa pode

2
Em muitos lugares, os 33 anos adquirem um valor especial, como a idade de Jesus Cristo quando morreu, ou
em Dante, como citamos abaixo. 33 anos era designado como Meio da Jornada da Vida, uma vez que a
expectativa era de 66 anos. Vamos a Dante: “Quando eu me encontrava na metade do caminho de nossa vida,
me vi perdido em uma selva escura, e a minha vida não mais seguia o caminho certo. Ah, como é difícil
descrevê-la! Aquela selva era tão selvagem, cruel, amarga, que a sua simples lembrança me traz de volta o
medo. Creio que nem mesmo a morte poderia ser tão terrível. Mas, para que eu possa falar do bem que dali
resultou, terei antes que falar de outras coisas, que do bem, passam longe.

Eu não sei como fui parar naquele lugar sombrio”. – Dante Alighieri, A Divina Comédia, Inferno.

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ser um Mestre, mas o cônjuge, os filhos, ou os parentes necessariamente não o são, e
tampouco o são o Chefe do Trabalho, os credores e por aí vai.

Mas se ele é Mestre, como não consegue resolver as questões diárias? Não
devemos nos esquecer que um Mestre é alguém preparado para determinadas áreas do
conhecimento. Ele é um especialista, logo, por ser um Mestre no lado esotérico não faz dele
um terapeuta familiar, ou um especialista em finanças. O Mestre é alguém que vive no
nosso plano físico e portanto limitado às nossas leis e regras como qualquer um de nós. A
grande diferença é que ele aproveita muito melhor as chances da sua vida. O verdadeiro
Mestre busca o equilíbrio em tudo o que faz, e o alcança na maioria das vezes.

E como dissemos adiante, nem sempre os familiares (que são os que estão mais
próximos a ele) são Mestres também. Voltaremos a esse tema quando falarmos do
Discipulado.

Um Mestre é alguém Teórico?

Sim e não. O verdadeiro Mestre é aquele que possui habilidades teóricas e práticas.
Alguém que sabe passar (logos/teoria) aquilo que se pratica (práxis/prática). Toda prática,
leva ao estabelecimento de uma teoria. Por exemplo, o melhor jeito de bater num prego,
para que consiga pregar no menor número de marteladas possível. Levando assim, à Teoria
do Martelo. Logo, quando for ensinar alguém, vou passar a Teoria do Martelo e a Prática
do Martelar...

A grande dificuldade existente hoje, é que muitas pessoas apenas lêem, não
praticam, e se dizem grandes conhecedores, pois analisaram todas as possibilidades na sua
mente “racional”.

Devemos lembrar que essas pessoas “racionais” são as mesmas que não conseguem
sustentar uma conversa sob qualquer tema até o final, as mesmas que esquecem metade da
lista do supermercado, e as mesmas que tem dificuldades nos caixas eletrônicos. Sendo na
verdade, racionais de meia-tigela, que querem bater num determinado artista na rua porque
o personagem dele é mau na novela, e é a mesma pessoa racional que se diz elevada
espiritualmente e espanca os filhos quando chega em casa nervosa do trabalho. E se dizem
racionais...

Mestres Secretos e Mestres Conhecidos

Tradicionalmente existem pelo menos dois tipos de Mestre. Existe o Mestre Secreto
ou Desconhecido e o Mestre Conhecido.

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O Mestre Desconhecido, deve ser entendido como alguém a quem o aprendiz
apenas tem acesso e que pede sigilo, ou ainda a uma egregóra3 , como Jesus, Buda, etc. No
segundo caso, o aprendiz absorve de alguma forma o conhecimento fornecido pela egrégora
tentando assim obter o que se chama tecnicamente de “revelação”.

Muitos adoram usar o termo Mestre como alguém inacessível, porque é importante
para eles justificarem sua incompetência em seguir qualquer estudo diligente seja sozinho
ou em grupo. Logo, ele cria uma figura idealizada de Mestre Oculto, distante, invisível e
em outro plano, porque é incapaz de admitir a si mesmo que apesar de ser um incompetente
total naquilo que se propôs, outros podem ser bons alunos e praticantes, chegando a algum
tipo de mestria de fato.

Surge aí então, o Mestre Conhecido, que é aquele que se mostra publicamente.


Talvez nesse ponto é que surjam as grandes dificuldades de se saber quem é quem. Muitas
pessoas buscam a mestria como um auto-reconhecimento, um motivo do que se orgulhar.
De fato, não há mal algum em se orgulhar de um trabalho bem-feito, mas algumas pessoas
acham que o título lhes garante status, o que não é verdade. Um dos pontos mais facilmente
observáveis nos falsos Mestres, é a dificuldade de tê-los disponíveis e a aura de mistério
que fazem questão de exalar. Poses, caras e bocas, fazem deles seres inatingíveis. Mas
esses, que apenas se fazem de mestres sem verdadeiramente o ser, são descobertos
facilmente após algum tempo de convívio. Vamos ao Mestre de fato, aquele que realmente
nos interessa.

Normalmente, o Mestre Conhecido pertence a alguma escola esotérica. Sobre a


validade das Ordens Esotéricas, sugiro a leitura do CODEX 02 – A Validade das Ordens
Esotéricas. Existem ordens e ordens. Algumas são apenas viveiros das quais se tiram as
melhores peças para as ordens internas, essas últimas sim afastadas do público, mas é
importante observar que se não houvessem ordens externas, muitas pessoas deixariam de
poder estudar.

Com relação a pseudos-mestres, eu não me preocupo com eles, uma vez que
também é cheio de pseudo-alunos. E aqueles que se mostram, talvez seja importante
considerar: A missão de alguns pode ser justamente a de aparecer ao maior número
possível, para que as pessoas possam ser encaminhadas. Talvez essas pessoas não sejam O

3
Escrita com 'e' minúsculo, egrégora é a alma coletiva, feito da multidão de almas humanas, nas quais ela
repousa e sem as quais cessaria de existir. Comumente falando, toda forma de coletividade supõe uma
egrégora. Exemplos: a egrégora do Estado, de uma cidade, de uma família . . . Na magia, a egrégora adquire
uma coesão, em conseqüência de ritos, a ponto de tornar-se uma entidade. A teoria da egrégora explica a
parcialidade de numerosos profetas que vêm em segundo plano. Acreditando profetizar em nome de Deus,
profetizam apenas em nome da egrégora de sua igreja ou seita. Após séculos, religiosos e religiosas
anunciaram (como Nostradamus fez) a vinda, para a França, de um grande monarca que restabeleceria
evidentemente a fé católica e assistiria à conversão dos próprios judeus . . . A egrégora de uma religião é
mágica, pois é cimentado e mantido pelos ritos e preces dos fiéis - dois tipos de atos, de configuração mágica.
No entanto, a magia, como ciência, sabe criar metodicamente as egrégoras. – N.A.

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Mestre, mas são guias que indicam o caminho ao Mestre final. Ou seja, todos têm a sua
função, os ocultos e os visíveis. Mesmo que alguns sejam apenas risíveis no máximo.

Como já foi dito acima, o Mestre é alguém que percorre um longo caminho em
direção à perfeição de si mesmo, porque acredita que este é seu papel, ou ainda, também
pode ser colocado nessa situação por forças externas a ele. E em especial, o Mestre
Conhecido, aquele que se expõe, quando é um Mestre realmente, é alguém que faz das
tripas coração para atender seu discipulado. O que nos leva ao tópico seguinte.

O Discipulado

Se existe a figura do Mestre, é porque existe a figura do discípulo. Mas quem é esse
personagem? Por definição, o discípulo é aquele que recebe ensino de alguém, ou segue as
idéias e doutrinas de outrem 4.

Nos sonhos de todos os Mestres habita o discípulo perfeito. Disciplinado, estudioso,


dedicado. Essas são as qualidades mais almejadas por todo Mestre que pretende fazer sua
doutrina vingar. Porém, na prática, se existem falsos mestres, existem ainda mais falsos
discípulos. Devemos lembrar ainda que para cada falso Mestre, existe um sem número de
falsos discípulos. E que mesmo os verdadeiros mestres ainda acabam aceitando os piores
discípulos.

O discípulo padrão via de regra (confesso que eu mesmo fui um no meu tempo), é
preguiçoso, procrastinador, e orgulhoso. Acredita que sabe tudo sobre tudo. Conhece todas
as coisas, menos a sua própria ignorância.

O mais curioso de se observar hoje na internet, é a imensa quantidade de pessoas


que como discípulos confessos, agem na prática como mestres... Ou seja, aquelas pessoas
que ao invés de aprender, simplesmente metralham críticas a tudo e a todos ao redor, sem
ao menos medir o disparate dos argumentos expostos.

Os únicos meios pelos quais os discípulos podem verdadeiramente progredir são


através da dedicação pessoal, disciplina e por opção. Devemos sempre nos lembrar que
tornar-se discípulo é uma opção. Ninguém faz isso com uma arma apontada na cabeça.
Logo, uma vez que se decidiu por aprender de um Mestre, é o discípulo que deve esforçar-
se por manter-se ao lado do Mestre. “Para ilustrar essa idéia, os taoístas usam uma
metáfora e dizem que o mestre taoísta é aquele que pesca com um anzol completamente
reto e o discípulo é o peixe que deve se esforçar para manter-se agarrado ao anz ol reto”,
diz Oscar Maron.

4
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda – Mini Aurélio Século XXI, 2001, Editora Nova Fronteira.

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As pessoas costumam dar a si mesmas um valor que muitas vezes não tem. A isso
chama-se auto-importância.

Conclusão

Os Mestres e as escolas existem, para que os ensinamentos possam ser passados


adiantes, através de um discipulado. É como uma geração pai-filho. O pai que ama
verdadeiramente seu filho, deixa-lhe um legado para que este possa crescer com segurança
e se manter no mundo vindouro quando seu pai lhe faltar. Da mesma forma, quando o filho
se torna pai, irá repassar os mesmos ensinamentos, conforme recebeu a seu próprio filho,
acrescido de sua experiência individual.
Se animais e homens fazem isso, por que as Escolas Esotéricas fariam diferente? A
passagem de informação Mestre – Discípulo apenas reflete a própria natureza. Logo, longe
de ser um processo de domínio e aprisionamento, é um instrumento de libertação
verdadeiro.

Em L.L.L.L.,
Fr. Goya

Ank ♦ Usa ♦ Semb

Eu estava escrevendo toda uma outra forma de abordagem do tema Mestre e discípulo,
quando de uma hora para outra, ouvi a Voz da Fera. Voltei-me, e a Fera me fez sentar sobre uma
pedra, enquanto, enrodilhando-se ao meu redor e sussurrando em meu ouvido:
“Eu sei porque seu coração está inquieto... Mas digo que isso não tem motivos para
acontecer.”
“Como não? – retruquei. – Como orientá-los, quando eu mesmo me sinto perdido? Meu
coração fica aflito, porque não vejo saída ou resposta nem para mim, como então orientar os
outros?”
“Todas essas dúvidas ocorrem porque você não soube como olhar. É fácil se confundir
quando apenas se olha mas não Vê.”
“Como assim? Eu acredito que consiga ver. Até pouco tempo realmente eu não via, mas há
dois anos eu comecei a ver mais claramente.”
“Isso é o que você acredita. Mas Ver é mais que apenas perceber com o olhar. Deixe-me
mostrar.” – De sua boca saiu uma névoa, e quando esta se dissipou, a paisagem ao redor havia
mudado. “O que você vê agora?”
“Vejo um Homem e o filho do Homem. Ambos brincam perto de uma árvore, e deitam e
rolam sobre a grama. Há sorriso no rosto dos dois. Seus olhos brilham e a criança está feliz.
Quando a criança se levanta, cresce. Quando o adulto se abaixa, vira criança. Não entendo.”
“Você não entende porque não vê corretamente. Olhe de novo”

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Olhei novamente e a imagem mudou. “Ambos se parecem com fibras de luz. Hora brancas,
hora douradas, passando pelo âmbar. Na medida em que se misturam, as cores mudam, indo de
uma para outra, e voltando para a primeira. Ainda não compreendo.”
“Você agora Viu como as coisas são realmente. Mas no entanto, sua mente ainda está
embotada. É preciso que deixe as coisas passarem por você. Vou explicar.” – Deu uma grande
volta ao meu redor, e quando passou por mim, pude ver o peito imenso, com escamas douradas
que cintilavam o sol.
Com uma grande baforada, deixou sua cabeça repousar ao meu lado enquanto dizia:
“A energia transforma a si mesma. Tudo vem, passa, e então retorna para a origem. Tudo
muda, e no entanto permanece o mesmo. Este é o ciclo da eterna mudança. Ele é a própria
permanência.”
“Como pode ser mudança e permanência ao mesmo tempo?”
“Nada pode estar completamente imóvel, pois isso seria morrer. Como a energia não pode
ser extinta, ela está sempre mudando, mesmo que imperceptivelmente. Essa é a única
permanência. Estar sempre em movimento. Eis a única constante verdadeira. A constante
mudança.”
“O Homem que brinca com o Filho do Homem, são como o Mestre e seu Discípulo. Para
que a relação seja verdadeira, ambos devem permanecer em contato e em alegria. Quando se
separam, aparece a tristeza.
Olhando de longe como você olhava agora pouco, é quase impossível perceber a
verdadeira natureza deste relacionamento. O Filho depende do Pai. Mas o Pai também depende do
Filho. Pois, se o Filho não está lá, como continuar sendo chamado de Pai?
Da mesma forma, um Filho que insiste em permanecer como Filho infinitamente, morre,
pois não há sentido em continuar vivendo. A fruta que permanece verde no pé, um dia apodrece.
Quando o Filho levanta, ele está na verdade mostrando ao Pai que pode ficar de pé por
suas próprias pernas, e portanto aprendeu a lição do Pai.”
“Mas isso é óbvio. Todos os Filhos se levantam, e alguns até mesmo voltam-se contra o
Pai.”
“Eis o engano. O Filho que não aprende, não se levanta. Depende eternamente, como os
cães e os porcos, de alguém que os alimente. É incapaz de alimentar a si mesmo. Logo, suas
pernas são fracas, e quando se levanta, consegue apenas quebrar as suas próprias pernas na
altura da coxa, ou nos joelhos. E então, não consegue mais andar.
Da mesma forma, o Discípulo que se levanta antes do tempo tem as pernas fracas e
também não agüenta com o próprio peso. Levanta-se com orgulho, mas cai com humilhação. O
Discípulo é em tudo semelhante ao milho. As espigas cujo milho não frutifica se erguem orgulhosas
em direção ao céu. Mas quando se tira a casca, o milho está ruim e estragado. No entanto, a
espiga farta, que frutifica, volta -se para a Terra com humildade, e ao se tirar a casca, é cheia de
grãos, dourados como o Sol. Por ter o Sol em si, não precisa se esticar buscando fora.
O Mestre é em tudo semelhante ao Sol por sua vez. Mesmo que para quem está sob o céu
pareça cinzento, o Sol sempre está lá, acima de tudo, e aquecendo a todos. Quem está abaixo,
sente frio e acredita estar abandonado. Isso ocorre porque este ainda não sabe se alçar acima das
nuvens. Quando perceber que pode subir mais alto, irá perceber que o Sol está sempre lá.
Como o Sol, o Mestre sempre dá, e mesmo que tudo se mova e mude abaixo dele, ainda
assim ele continua iluminando. Porque seu trabalho é iluminar e aquecer, e não julgar.
Muitas vezes o Discípulo não compreende a jornada do Sol, pois nem sempre o inferior
acompanha o superior em tudo. Quando isso acontece, o Discípulo estará em trevas, e sua única
chance de sucesso é lembrar -se que como o Sol no seu jornadear, sempre retorna sem que
precisemos fazer nada, o Mestre também irá banhá-lo com sua Luz.”

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“Isso tudo me parece bonito, mas não vejo como fazer isso. Tudo que você fala me
confunde, pois tento aproximar-me do meu Filho, mas ele foge.”
“Essa é a natureza do Filho. Rebelar-se contra o Pai. Mas isso apenas quer fazer com que
as forças permaneçam em eterno equilíbrio. Quando o Filho puxa, o Pai cede. Quando o Pai puxa, o
Filho cede. É assim que deve ser.
Quando o Filho do Homem torna-se Homem, e o Homem torna-se Filho do Homem, o ciclo
está completo. Um ensina, o outro aprende. Não há nada além disso. O papel do Homem é fazer
crescer o Filho do Homem. Quando este cresce, torna-se Homem, e surge um novo Filho. Quando
o Filho do Homem percebe que é o próprio Homem, o ciclo completa-se.”
“E como o Filho do Homem torna-se Homem?”
A Fera ergueu-se e abriu as imensas asas, tornando noite o dia. Em suas asas surgiram
pontos brilhantes semelhantes a estrelas. Quando fechou suas asas e olhou para mim, me senti nu,
quente e frio ao mesmo tempo. A Fera falou:
“As estações começam e terminam sem que ninguém diga como fazer. Todas as coisas
alinham-se naturalmente, quando seguem as evoluções naturais do ser. Dessa forma, quando
estiver pronto, o Filho do Homem se erguerá sem perguntar, e sem se orgulhar. Fará mas não sabe
por que fará. Da mesma forma, o Homem se dobrará sobre si mesmo nesse dia, mas não saberá
por que. Quando isso ocorrer, então o ciclo estará completo.”
Nesse momento, a Fera virou-se novamente e vi então suas costas. A sua pele escamosa
brilhava com o brilho vermelho do pôr-do-sol. Sua cabeça ergueu-se no horizonte e dela saiam
chifres assemelhando-se às coroas dos reis e do Sol. Meu coração enterneceu-se com essa visão.
Tentei me levantar, mas apenas pude contemplar e meu peito encheu-se de paz.
A Fera colocou-me sobre suas costas e retornei para onde estou agora. Mas sinto-me
estranho, algo melancólico talvez, pois sinto que sobre aquela pedra meu coração ficou.

Em L.L.L.L.,
Fr. Goya
Curi tiba, sexta-feira, 27 de maio de 2005 e.v. 13:56
Em iv13 Sol 6° Gemini, Luna 29° Capricórnio Dies Veneris

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CODEX HERMETICUM 07 – Publicação Classe A

O que acontece após a morte?


por Frater Goya (Anderson Rosa)

Muitos membros do C:.I:.H:. e pessoas que não pertencem à nossa organização nos
perguntam freqüentemente se possuímos uma doutrina ou mesmo uma teoria para a
reencarnação. Por vários anos nos abstivemos de fazer qualquer comentário sobre o assunto
por acreditar que essa definição parte da crença individual, mas nunca de um grupo.
Devemos admitir que o tempo demonstrou o contrário. Na verdade as pessoas acabam
pedindo que justamente um grupo ou organização lhes ofereça uma resposta. Talvez porque
acreditem que esse assunto não poderá ser abarcado por uma única mente pensante, a
menos que seja através de uma “revelação”, ou talvez porque prefiram dar crédito a outros
além de si mesmos. Isso, porém, é uma questão por demais extensa para que possa ser
tratada aqui. Deixaremos essa pergunta para ser respondida no futuro e em outro lugar que
não aqui.
Este ensaio não pretende de modo algum ser definitivo no estudo da matéria
proposta. Na realidade ele surgiu da necessidade de se explicar um assunto extremamente
polêmico que é a reencarnação.
Este ensaio trata no decorrer de seu desenvolvimento, da metafísica - das doutrinas
do absoluto e suas emanações, conforme diz o livro VI da Metafísica1 , “a metafísica é uma
teologia, tratando principalmente de Deus e do divino”; sendo este um documento
especulativo com fins didáticos. É um texto para ser lido por aqueles que anseiam mais
informações sobre sua origem e destino nesta vida.
No decorrer da sua existência, o Ser busca respostas para sua origem e para seu
destino após a morte do corpo físico. Existem inúmeras teorias sobre o assunto, e o nosso
objetivo é tentar trazer ao leitor destas páginas uma explicação lógica para sua existência.
Não pretendemos em nenhum momento no desenvolvimento da obra atacar ou denegrir
movimentos religiosos, seitas ou filosofias de outros. O que buscamos é apenas uma
explicação que pode satisfazer os buscadores que não encontraram respostas em outros
lugares, ou se encontraram não ficaram satisfeitos com o que viram e ouviram.
No decorrer da vida sempre somos colocados em situações inusitadas, que exigem a
todo o momento uma explicação para o que não pode e não deve ser explicado. Muitas
vezes já estivemos diante de situações onde a lógica não se encaixava, ou talvez a nossa
visão do mundo e da vida não permitisse que percebêssemos a lógica daquele instante. O
que será descrito a seguir é fruto da pesquisa pessoal do autor e sua interpretação desses
instantes.
Se no transcorrer da leitura for encontrado algum erro, devemos advertir desde o
momento que a obra é resultado da pesquisa pessoal do autor que é humano, e, portanto
passível de errar. Pedimos desde já desculpas àqueles que encontrarem falhas em nosso
trabalho e também àqueles que possam se sentir ofendidos pelas opiniões presentes neste
breve ensaio.
1
Aristóteles, Metaf. VI, c.1, 1026 a 21-23.

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De onde viemos?

O espírito se origina diretamente da fonte criadora, que é Deus. Devemos imaginar


aqui essa fonte como emanando energia infinitamente a partir de si, e essa energia é
distribuída a todos os lugares do universo, dando origem às coisas. Hoje sabemos que cada
tipo de energia possui um determinado comprimento de onda e uma freqüência, que
determina sua natureza.
Da mesma forma que por similaridade ou simpatia, uma corda de violão dedilhada
faz vibrar a caixa acústica do instrumento produzindo o som, o espírito vibrando numa
determinada freqüência irá fazer ressoar o corpo material, produzindo o efeito que
chamamos de vida.

O Tempo de Permanência do Espírito no Corpo

O tempo da permanência no corpo, ou, melhor dizendo, da duração da vida, é o


tempo da duração da nota divina em nosso corpo. Enquanto o corpo ainda vibrar ao som do
espírito viverá. Quando o som silenciar, o corpo morrerá. Existem meios de saber a duração
máxima de uma vida? Isso não podemos dizer com nenhuma precisão, o que podemos dizer
é que até o presente momento, nenhum ser humano ainda tocou uma obra inteira... Nossa
existência dura apenas alguns acordes. Mas sabemos que com o passar do tempo e avanços
da humanidade em todos os campos, já permitem que a expectativa de vida seja maior do
que era na Idade Média, por exemplo.

A tríplice divisão que compõe o Homem

O Homem é composto de três partes, a saber:


1. Corpo: O Corpo é o Templo do espírito. Sua função é evoluir segundo as regras do
espírito, que são dadas, conforme os ditames de Deus.
2. Alma: É o que une a carne ao espírito. Pelos Espíritas ela é designada por perispírito.
Em algumas tradições também é designada por duplo. A sua duração após a morte é de
sete anos. Até sete anos após a morte do corpo, o ser ainda pode ser trazido do mundo
dos mortos, através da Magia Sagrada de Abra-Melin, o Mago # .
3. Espírito: É o que anima o ser. O Espírito é imortal e retorna a Deus após o desligamento
do corpo.

A Qabalah também possui termos e definições para Corpo-Alma-Espírito, que são:

Corpo: “Nephesch”, a parte animal;


Alma: “Neschamah”, as Aspirações Superiores;
Espírito: “Ruach”, a Mente ou o Espírito.

#
Sobre isso veja mais abaixo o tópico intitulado “O que acontece com o Corpo-Alma-Espírito após a morte”.

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Sobre a Vinda do Espírito

O Espírito penetra no corpo humano através das narinas, no instante do nascimento.


Na qabalah esta a primeira respiração do homem é o Aleph, que marca a entrada do espírito
no Corpo. Por isso, desse ponto de vista, o conceito legal de aborto não é válido, já que
aquele corpo antes do nascimento não possui espírito. Já possui alma, mas o espírito entrará
apenas no momento do nascimento. O espírito, portanto, entraria no ser com o primeiro
alento ou respiração.

A função do Espírito no Homem

O Espírito têm como principal função na composição do Ser Humano, a de ensinar ao


corpo, que é apenas matéria grosseira, a perfeição das coisas do espírito.

A contribuição do Espírito na Matéria

A matéria, por ser física e grosseira, é a que mais precisa de cuidados em sua
evolução. No Plano Evolucionário Divino, a matéria como é conhecida pelo homem através
de sua percepção física e intelectual, ocupa a parte mais inferior da cadeia de existências.
Sendo o Espírito o reflexo imediato de Deus e o aspecto mais Divino da Natureza
conhecida pelo homem, é atribuída a ele (o Espírito) a tarefa de auxiliar a evolução da
matéria em sua jornada rumo à perfeição. Cabe ao Espírito a tarefa de Tutor da Matéria
enquanto esta ainda não consiga perceber sua própria evolução.
A evolução da matéria ocorre através de sucessivas gerações sem sucesso até que,
num determinado momento ocorre a mudança. O Espírito contribuirá com a matéria pelo
ensinamento de sua perfeição e pela Palavra Divina, a propagação do Verbo. Como um
professor adverte seu aluno na medida em que este se desvia dos seus ensinamentos, da
mesma forma o Espírito advertirá a matéria de suas faltas. Enquanto houver um Espírito
próximo à matéria e o Sopro Divino animando esta, nem tudo estará perdido. Mas, quando
a matéria deixar de ouvir seu tutor e renegar sua origem, então esta deixará de ser o que é
para se tornar o nada, desaparecerá.

O que acontece com o Corpo-Alma-Espírito após a morte

A Magia oferece uma breve noção dos caminhos percorridos pela trindade Corpo-
Alma-Espírito.
“Um homem que acaba de morrer divide-se em três partes, a saber: O Corpo
regressa a Terra, a Alma2 a Deus ou ao Demônio, e o Espírito tem seu período
determinado por seu Criador, quer dizer, o Número Sagrado de Sete Anos, durante os
quais lhe é permitido vagar aqui e ali em qualquer direção.”3
2
Aqui Abraão, o Judeu, estabelece uma variação de Corpo-Alma-Espírito, onde a Alma volta para Deus e o
Espírito é temporário. Para uma definição de Corpo-Alma-Espírito, ver o capítulo 13.
3
A Sagrada Magia de Abra-Melin - O Mago, S.L.Mac Gregor Mathers.

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A definição acima é um tanto impressionante, embora apenas meio verdadeira, e
vamos atualizá-la.
No momento da morte, o corpo, tal como um vidro de éter aberto, deixa sair de si o
espírito, que retorna diretamente ao Grande Oceano Primordial. A alma ainda fica por
algum tempo circulando pelo mundo, se permitindo muitas vezes ser vista como um
fantasma, uma visagem, ou uma aparição apenas. Depois de algum tempo a alma, como o
corpo se decompõe, deixando de existir para sempre.

O Retorno do espírito para Deus

Quando o corpo encerra suas atividades, o Espírito alça vôo em direção a seu
Criador. A limitação do Espírito é o corpo, da mesma forma que um líquido é limitado por
seu recipiente. Uma vez que, quando da entrada do Espírito no corpo, que se dá na ocasião
do nascimento, o Espírito é retirado do Grande Mar Universal, no final da existência física,
este retorna para sua origem, que é Deus.

O que é Karma

Karma é um conceito hindú que segundo o Bhagavad-Gitã 4 , pode ser interpretado


por:

1. Ação material executada com as regulações escriturais;


2. Ação referente ao desenvolvimento do corpo material;
3. Qualquer ação material que incorra numa reação subseqüente;
4. A reação material em que se incorre devido às atividades fruitivas (reguladas pelo
Karma Kãnda, divisão dos Vedas que trata das atividades fruitivas executadas com
o propósito da purificação gradual do materialista grosseiramente envolvido).

Estas definições ilustram de forma evidente, o total desconhecimento de um assunto


que está na boca de milhares de pessoas que erguem uma bandeira sem saber ao menos sua
cor. A sombra do Karma que nos persegue tal qual uma maldição vida após vida é aterrador
e nos tira o sono. Será que meu espírito jamais irá descansar? De acordo com as definições
acima posso dormir tranqüilo, pois o Karma refere-se ao corpo, e não ao espírito.
Logo, aproveitamos para declarar que terminantemente, não existe nenhuma conta
passada a ser paga e sequer futura. Tudo o que fazemos deverá ser acertado aqui e agora. Se
sofremos é por conseqüência de nossos atos, e atribuir isso a uma vida passada é uma
admirável escapatória, mas nunca uma verdade.

4
O Bhagavad-Gitã Como Ele É; A.C. Bhaktivedanta Swan Prabupãda, 1986, edição completa, Fundação
Bhaktivedanta Book Trust. , pág.738.

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O que é Dharma

Outro conceito hindú que segundo o Bhagavad-Gitã pode ser traduzido como a
“capacidade de se prestar serviço, que é a qualidade essencial do ser vivo”.5

A volta ao Corpo ou Reencarnação

Uma das idéias que hoje estão disseminadas com maior força no mundo Ocidental é
a reencarnação. Esta idéia baseia-se no fato de o Ser Humano ser obrigado a percorrer uma
longa trajetória até Deus, em sucessivas encarnações, aonde ele irá se aperfeiçoando até
chegar a perfeição e finalmente, a Deus. Há diversas formas de se explicar à necessidade da
Reencarnação. As mais comuns baseiam-se na Lei do Karma (ver o tópico - O que é
Karma). A pessoa possui débitos ou créditos de acordo com seu comportamento no
decorrer de sua existência física. As penalidades ocorrerão em sua próxima vida, e os
créditos lhe auxiliarão a subir mais um degrau em direção a Deus.
O Número de Encarnações é variável também. Alguns dizem que são 7, outros 9,
outros 12 e até 144, ou ainda sem uma quantidade certa. As antigas religiões do mundo, em
sua maioria citam a imortalidade da Alma ou do Espírito como sendo o fim da existência
humana. Podemos tomar como exemplo os Egípcios, que em nenhum momento de seu
Livro dos Mortos6 colocam a idéia de reencarnação e sim de Ressurreição.
Citamos ainda Marie-Louise Von Franz que diz em seu livro A Alquimia e a
Imaginação Ativa: “Por um lado, os egípcios tinham um panteão com muitos deuses. Mas
por outro, eles acreditavam que havia uma única Divindade cósmica, que era às vezes
identificada com Atum, ou com Nun, ou com o deus Rá numa forma diferente, ou com o
Osíris cósmico, por vezes também chamado a Alma Bá do Universo. Há diferentes nomes,
de acordo com as diferentes províncias no Egito, mas a idéia básica é a de que há uma
espécie de espírito cósmico que reina sobre todos os diversos deuses do panteão egípcio,
um deus que é o espírito do universo que tudo penetra, que reina sobre todos os outros
deuses e os pode absorver. O morto iria, gradativamente, transformando-se naquele deus.
Ele tomava parte num grande processo mitológico que era, por assim dizer, um espelho da
situação cósmica global em que o egípcio acreditava viver.”

A morte é o fim da peregrinação terrestre do Homem, do tempo de graça e de


misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrestre segundo o projeto
divino e para decidir o seu destino último. Quando tiver terminado “o único curso da nossa

5
O Bhagavad-Gitã Como Ele É; A.C. Bhaktivedanta Swan Prabupãda, 1986, edição completa, Fundação
Bhaktivedanta Book Trust. , pág.734.
6
O Livro dos Mortos era uma coletânea de textos religiosos que em sua maioria tratavam de receitas através
das quais a alma permaneceria íntegra no mundo inferior ou o mundo dos mortos. O nome original do Livro
dos Mortos é o Per-en-Ru, ou o Livro do Sair à Luz.

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7
vida terrestre” , não voltaremos mais a outras vidas terrestres. “Os Homens devem morrer
uma só vez” (Hb 9, 27). Não existe “reencarnação” depois da morte8 .

Conceito do Grande Oceano Primordial

Para explicar o conceito do Grande Oceano Primordial, diremos que quando uma
pessoa nasce, é como se pegássemos um copo de água desse grande oceano. Ali dentro
habita um espírito. Quando o corpo morre, ele voltará a esse Grande Oceano que a tudo
permeia. Após retornar a esse oceano, aquele espírito perderá sua individualidade e irá se
misturar com o Grande Oceano.

A perda da individualidade

Quando do advento da morte física, a personalidade-alma retorna ao Grande Oceano


Primordial e aí permanece até ser lançada novamente sobre a terra. Porém, como a
individualidade foi perdida, ela não terá memória de sua vida pregressa.

Das lembranças de “outras vidas”

Através de anos de estudos sobre a genética, já se sabe hoje, que a memória é


passada geração após geração através do DNA e que podemos ter acesso a essa de
memória. Como acessar estas lembranças ainda são especulações, mas nada impede,
porém, que a suposta lembrança de “outras vidas” não seja apenas uma forma de recuperá-
las.
Quando somos submetidos a determinadas pressões, reagimos de maneiras adversas,
conforme nossa estrutura mental e física. Logo, é possível que um indivíduo em
determinado momento de sua vida seja colocado em uma situação diante da qual ele não
consegue reagir prontamente, e, num momento posterior a resposta lhe venha na forma de
sonhos e visões. Quando nos recordamos de eventos passados que aparentemente não
fazem parte de nossa existência atual, somos levados a crer que:

1. Ou são apenas sonhos e até alguma forma de delírio;


2. Ou são visões de uma outra existência;

No caso da primeira hipótese, não é um grande problema, pois tende a desaparecer


naturalmente ou num caso mais agudo, pode ser eliminado com a ajuda de um profissional
qualificado (médicos, psiquiatras ou psicólogos). Já no segundo caso, o assunto é mais
delicado, pois todo mundo já viveu uma experiência semelhante e no intuito de ajudar,
apenas complica ainda mais a situação já grave.

7
Lumen Gentium 48.
8
Catecismo da Igreja Católica, 1993, Editora Vozes Edições Paulinas Ed. Loyola, Editora Ave-Maria, pág.
245.

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Se não é uma lembrança de outra encarnação, o que é?
Bem, se nossas lembranças incluem as de nossos antepassados, nada impede que,
por mais remota que seja a lembrança, ela venha à tona. Como essas lembranças fazem
parte de nossa carga hereditária, nossa mente muitas vezes não consegue distinguir o que
são nossas lembranças efetivas ou de nossos antepassados. Traumas mentais e físicos
também podem ser explicados dessa maneira.

Mas quando a lembrança envolve outros locais onde a pessoa viveu em outra
encarnação incluindo parentes e lugares que ela e nenhum antepassado supostamente
esteve antes?
Essa questão é muito interessante e é usada atualmente por muitos profissionais da
área da Regressão para justificar seu trabalho. Mas o que realmente acontece nesse caso é
que por algum motivo por nós ignorado, e muitas vezes involuntariamente, acessamos
memórias de nossos antepassados, mas isso não quer dizer que sejam memórias de “vidas
passadas” nossas. Mas sim, daqueles que nos antecederam (pais, avós, bisavós, etc.), e
também, embora em menor grau, podem ser memórias que estavam já dissolvidas no
Grande Oceano Primordial, e foram inseridas no corpo da pessoa que está tendo a
recordação.

E no caso dos Lamas Tibetanos, que após a morte de um Lama, um deles sonha ou
tem uma “visão” de onde o espírito do monge reencarnou?
Neste caso, podemos observar o caso do espírito retornar ao Grande Oceano
Primordial, onde, ao ser depositado, sua personalidade se dilui para fazer parte do todo. Ao
se constituir um novo ser, uma parte deste oceano é retirada para preencher o corpo, e pode,
desta forma, captar traços de uma ou mais personalidades, em maior ou menor grau.

Como a crença no Karma afeta aquele que pratica sua Verdadeira Vontade
(Thelema)?
Talvez essa seja uma das perguntas mais importantes que possa ser feita por um
estudante que esteja trilhando o caminho da descoberta da Verdadeira Vontade. Para um
estudante de Thelema, a crença no Karma e a teoria da Reencarnação soam estranhas para
não dizer esdrúxulas.
Por quê? O maior impedimento de um estudante de Thelema em relação a
reencarnação vem do fato de você atrair karma “positivo ou negativo”... Como você poderá
realizar sua Verdadeira Vontade e cumprir a Lei da Liberdade e do Amor se ainda está
preso a débitos anteriores? Somente para aquele que existe a possibilidade de ser livre é que
ele se libertará. Se a teoria da reencarnação estiver certa, o estudante jamais poderá fazer
sua vontade, pois estará eternamente em débito consigo mesmo carregando os grilhões do
passado.
Evoco aqui a Marcelo Ramos Motta que disse: “Todo ser humano que sofre, sofre
por sua própria culpa, e no momento em que sofre. Os vossos erros passados determinam
as vossas condições de manifestação; mas a essências do vosso íntimo, o fogo interno que

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queima no coração da estrela caída, está sempre presente em vós; está sempre presente em
vós a possibilidade da Pedra Filosofal, que transmuta o pesado, penoso chumbo de
Saturno no belo, luminoso Rubi e Ouro do Sol”9 . A partir desse pequeno trecho podemos
perceber a verdadeira natureza do estudante. Transformar a si mesmo no Ouro Solar.

O sofrimento conduz à evolução? E fazer o bem?


Na verdade existe um profundo mistério na vida humana, que é saber se o bem
conduz a Deus e à vida eterna ou não, e se o sofrimento purga os pecados. Em verdade vos
digo que não é nem pelo bem ou pelo sofrimento e tampouco pelo mal que se chega ao
Criador. Se assim fosse, os bons sempre teriam uma existência compensadora. Mas na
prática sabemos que isso não ocorre. E pelo mal, também sabemos que no final, este
sempre pagará pelos pecados cometidos.
Novamente, peço auxílio a Marcelo Motta: “Muito vos tem sido dito a respeito das
razões para a encarnação do mundo. Muito vos tem falado da “divina redenção da Dor”.
Tem-vos sido dito que este mundo é um vale de lágrimas, um antro de demônios que se
encarnam para expiar os seus pecados. Somente o sofrimento, dizem-vos, traz a luz e a
libertação.
Eu vos digo que tudo isso está acabado.
Faze o que tu queres há de ser o todo da lei”.
Então o que fazer? Para chegar a Deus a pessoa deverá viver plenamente sua vida de
acordo com sua própria Vontade (isso é claro, após descobri-la). Somente vivendo
plenamente sua existência, o ser humano poderá retornar até Deus. Num outro momento
iremos detalhar o processo de viver plenamente. Aquele que faz o bem aguardando uma
recompensa final estará barganhando com Deus. Mas advirto-os que Deus não negocia. O
bem deverá ser feito de acordo com sua natureza mais pura, livre de julgamentos ou
desejos.

Se o espírito volta imediatamente a Deus após a Morte, o que aparece aos chamados
médiuns?
Segundo nossas pesquisas somos levados a acreditar que as forças captadas pelos
médiuns nada mais são do que restos daquela alma que ainda possam permanecer por
algum tempo após a morte. Nos casos em que se diz haver falado com um espírito cujo
corpo morreu há 200 anos acreditamos que isso seja uma ilusão ou até mesmo uma alma
que está se fazendo passar por uma alma de outra pessoa. Mas com certeza, não é a energia
original.

Os seres humanos evoluem em grupos?


Sob certo aspecto sim. Aproveitando o conceito do Grande Oceano Primordial,
podemos nitidamente ver ali ilhas, que seriam os agrupamentos humanos num determinado
local. Quando o copo (nosso corpo físico) deixa cair a água, essa cairá obviamente próximo
a ele ou à ilha onde este se encontrava. Logo, é natural que os espíritos, mesmo

9
Ramos Motta, Marcelo. Chamando os Filhos do Sol, Rio de Janeiro, 1962.

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mergulhados no Grande Oceano Primordial ainda permaneçam próximos uns aos outros.
Sua dissolução total dependerá das correntes marítimas que são responsáveis pelo
movimento das águas. Quanto mais perto da ilha, menor a influência das correntes e,
portanto mais demorada sua dissolução. Logo, ao se pego um novo copo (ou corpo) daquela
água, as chances de pegar partes de um mesmo grupo são bastante altas. Para impedir, no
entanto que essa água fique estagnada, existe uma outra energia que se encarrega de levar
essa água aleatoriamente a outros pontos. Essa energia chama-se Caos. Ele é o tempero do
mundo que impede que a energia cesse de fluir e a água apodreça. Isso justifica o fato de
muitas vezes uma pessoa se sentir “um estranho no ninho”, como se fosse de outro lugar
que não aquele mesmo onde se encontra.

Outras perguntas sobre o pós-mortem

Algumas pessoas não interessam a classe social nas quais se encontram, tem um ar
aristocrático sem ser superior ou pedante, por quê?
Isso pode estar demonstrando a própria natureza do espírito...

Mas, os espíritos têm diversidade? Não seriam todos iguais por serem divinos?
Na verdade são iguais, mas a matéria em que estão contidos não. Da mesma forma
que se você põe um tecido cobrindo uma lâmpada. Quanto mais sofisticado, normalmente
mais fino (como a seda, por exemplo) permitindo assim que vejamos a luz com mais
clareza... Até que, quando o tecido ou a matéria for mais próximo ainda do divino, ela não
oferecerá obstáculos para a luz, que será vista em toda sua majestade.

É um pouco confusa essa teoria, não? Eu diria que ela parece muito com a do
espiritismo, só que mais refinada.
De fato, a diferença básica da nossa para o espiritismo é que não usamos o karma e
quem evolui é a matéria e não a alma... Como foi dito no início do texto, estamos dando
uma revisada geral no conceito de evolução pós-mortem e não criticando essa ou aquela
doutrina. Apenas revendo conceitos.

A diversidade de pessoas e a familiaridade entre elas se deve ao Grande Mar?


Exato. O conceito em si é bastante simples e prático... A confusão se dá quando
você tenta encaixar ele com sistemas anteriores que nem sempre são bem montados...

Retomando a pergunta do início, existem pessoas que tem maior contato com seu
espírito, sua alma, e, portanto refinaram seu corpo, sua matéria, sendo vistas como
mais "iluminadas" ou até superiores, com ares de princesa e de reis?
O tal Grande Mar não é homogêneo, e sendo assim, às vezes uma pessoa vem com um
conjunto melhorado, e outra vem com um modelo mais antigo... Isso é certo?
Imagine ilhas com terrenos irregulares. Elas representam a matéria enquanto viva ou
o mundo onde vivemos... Quando o copo quebra, é mais fácil você jogar o conteúdo no
meio do oceano ou nas margens?

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Nas margens.
Se você fizer uma maquete e usar tintas de várias cores para representar várias
pessoas, verá que elas tendem a ficar próximo a ilha... Mas e quando se misturam?
Misturam-se pela ação das marés. Assim, aquelas que estão em locais onde a maré tem
difícil acesso, ficarão menos misturadas com o todo... Mas aí entra um outro agente
interessante. O Caos. De tempos em tempos alguma anomalia aleatória, varre a costa
levando aquela porção a um outro ponto, distante, sem nenhuma ligação com o original...
(um ciclone ou tempestade pode fazer isso, ou mesmo uma ressaca do mar).
É por isso que se diz que os espíritos "evoluem" em grupos... Embora na verdade,
seja a matéria quem evolui. E o caos justifica os casos onde num local de pessoas ditas
"atrasadas" aparece um iluminado do nada... É totalmente aleatório.

Então seguindo a linha desse raciocínio, pode -se dizer que as encarnações acontecem
dentro de um grupo.
Também poderiam ser por isso. Mas se você apenas observar a natureza, verá que é
assim que ela se comporta... Não há necessidade de elementos externos como influências
astrológicas. Mas um meteoro, por exemplo, se chocando com a terra, é um evento
aleatório. Nunca esqueça do caos... E por que se necessita do caos? Por que ele impede que
a água fique ali estagnada e só um grupo evolua, ou que ela simplesmente apodreça.

Então desse ponto de vista, nas pessoas de hoje que julgamos serem iluminadas é
possível que um pouco do espírito de antigos iluminados esteja encarnado nela, mas
não como um pedaço enorme colado, e sim como um novo ser?
Exatamente.

Faz sentido... E faz sentido crer no que dizem dos poderes dos iluminados... Afinal,
eles por estarem em contato direto com seu espírito podem operar ações que os outros
não conseguem e dessa maneira operam os "milagres". E sobre as iniciações10? Elas
realmente refletem essa vida após a morte?
A primeira iniciação é o julgamento da alma, quando o espírito pode ser destruído
completamente ou ganhar a imortalidade. Quando você termina a primeira delas, você
passou desse risco. A segunda fala do começo da jornada pelo Duat11 , já no caminho de
retorno à unidade divina. A terceira fala da fundição das 9 partes em uma, ou da aquisição
das 2 qualidade superiores da alma (no caso de você trabalhar com 3 camadas12, ganha mais
duas) e a quarta, fala da unidade com a divindade, ou do ponto de vista da magia sexual,
por isso ela está no 4º grau, a criação da criança do abismo, onde os dois lados se fundem

10
Nesse caso estamos nos referindo diretamente às quatro iniciações conforme praticadas pelo Círculo
Iniciático de Hermes, e essa definição não se aplica diretamente a nenhum outro grupo ou organização
ocultista conhecida por nós, na atualidade. (Nota do Autor)
11
Duat ou mundo inferior dos egípcios.
12
Corpo, Alma e Espírito.

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num só (veja a carta XIV - Arte dos Arcanos maiores do Tarot de Thoth de Aleister
Crowley) e então se torna o Deus mesmo...

O que acontece em seguida?


Aí vem uma mão e pega um copo com aquela água, dando origem a uma nova
vida... É o nascimento de uma nova criança no nosso mundo... Ou seja, o ciclo de
iniciações fala do que acontece num período entre vidas. Por isso esse conceito se aplica
apenas ao C:.I:.H:.. Existe um problema bastante grave, é que nenhuma ordem consegue
terminar o processo, pois normalmente só sabem o que acontece logo depois da morte...

Essa nova vida corresponde a você e mais uma pessoa terem pegado o copo e
desaguado em um pré-invólucro dentro de uma mulher? (Por que isso já é feito, mas
não pela mão humana...)
Se você trabalha com esse conceito que estamos tentando desenvolver, fica claro o
que existe após a morte, e então você tem a jornada completa da iniciação... Logo, o
iniciado assume completamente a sua jornada e sabe como agir... Ele facilita esse retorno...

Fale um pouco mais sobre essa nova criança.


No conceito que é dado pela Magia Sexual o objetivo final, é acabar com a
dualidade homem/mulher e criar um ser andrógino (manifestação física da divindade
plena)... Isso no mundo físico... Na morte, você volta a Deus ou a fonte, se mistura
completamente, e quando isso acontece, aí surge um novo ser num outro corpo... Fazemos
isso quando engravidamos uma mulher... O sexo da criança só é definido após o terceiro ou
quarto mês. Até então ela pode ser qualquer um dos dois. É nesse ponto em que a matéria
nos faz ficarmos separados do estado de unidade divino. Ela de certa forma “separa” o que
antes era único.

Mas ter a consciência destruída não é concreto. E não é por causa do ego e sim
por uma forma de recompensa.
O que seria concreto? Esse tipo de discussão é extremamente lúdica. No fundo, ela é
apenas para servir de descanso para o cérebro depois de um dia conturbado. Como diria
Don Juan, no final do caminho do feiticeiro, basta dizer: tudo isso realmente não importa.
Só importará no momento final, e aí será tarde de mais. Ou ainda, usando as palavras do
Merlin do filme Excalibur com relação ao futuro, mas que cabe nessa questão: “O futuro é
como um bolo. Você pode vê-lo, percebê-lo, mas não sabe o gosto que tem até que
experimente o bolo. E então, será tarde demais”.
Sobre a recompensa: Que recompensa? Como diria Einstein: “Deus não joga dados
com o Universo”. Esperar uma recompensa sobre um comportamento que se tem
é um mau hábito adquirido na infância. "Faça isso que lhe dou uma bala..."
- Devemos viver como homens que somos, não como crianças mimadas. E o que um
homem faz? Age como em que agir. Quem acha que sendo bom, terá recompensa no final,
está jogando com Deus, e como disse acima, Deus não joga.

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Só pra dar alguma coisa pra coçar seu cérebro, vou transcrever um trecho de um
livro do Castañeda que trata sobre isso. Aproveito para dizer que se você comparar com os
textos que joguei num e-mail anterior supostamente escrito por Hermes Trismegisto, em
nenhum momento ele contradiz textos como os clássicos do hermetismo ou do budismo. E
já que falamos nisso, devo dizer que essas duas fontes (hermetismo/bud ismo) talvez sejam
as fontes de pesquisa menos alteradas a que temos acesso atualmente. É claro que o mesmo
vale para o judaísmo e o islamismo.
Mas vamos ao trecho:
- Talvez eu deva expor a coisa de outro modo disse ele. - O que recomendo que
você faça é notar que não temos nenhuma garantia de que nossas vidas continuem
indefinidamente. Acabei de dizer que a mudança vem de repente e inesperadamente, bem
como a morte. O que pensa que podemos fazer a respeito?
Pensei que Dom Juan estivesse fazendo uma pergunta retórica, mas ele fez um gesto
com as sobrancelhas, pedindo que eu respondesse.
- Viver o mais felizes que pudermos falei.
- Certo! Mas você conhece alguém que viva feliz? Meu primeiro impulso foi
dizer que sim; achei que podia citar uma porção degente que eu conhecia como exemplos.
Mas, pensando bem, eu sabia que meu esforço seria uma tentativa vã para me exonerar.
- Não respondi. - Não conheço de fato. Pois eu conheço disse Dom Juan. -
Há pessoas que têm muito cuidado com a natureza de seus atos. Sua felicidade é agir com a
plena consciência de que não tem tempo; portanto, seus atos têm um poder especial; têm
um sentimento de...
Dom Juan parecia estar procurando os termos. Coçou as têmporas e sorriu. Então,
de repente, levantou-se, como se tivesse terminado a conversa. Pedi-lhe que concluísse o
que estava me dizendo. Sentou-se e franziu os lábios.
- Os atos têm poder disse ele. - Especialmente quando a pessoa que age sabe que
aqueles atos são sua última batalha. Há uma estranha felicidade em se agir com o pleno
conhecimento de que o que quer que se esteja fazendo pode bem ser o último ato sobre a
terra. Recomendo que você reconsidere sua vida e veja seus atos sob essa luz.
Discordei dele. A felicidade, para mim, era supor que havia uma continuidade
inerente em meus atos e que eu poderá continuar a fazer, à vontade, aquilo que estivesse
fazendo no momento, especialmente se gostasse daquilo. Disse-lhe que meu desacordo não
era banal, mas vinha da convicção de que o mundo e eu tínhamos uma continuidade
determinável.
Dom Juan pareceu divertir-se com meus esforços para dar sentido às minhas
palavras. Riu, sacudiu a cabeça, coçou os cabelos e por fim, quando falei de uma
"continuidade determinável", atirou o chapéu no chão, pisoteando-o. Acabei rindo da
palhaçada dele. Você não tem tempo, meu amigo falou. - É essa a desgraça dos seres
humanos. Nenhum de nós tem tempo suficiente, e sua continuidade não tem significado
neste mundo assombroso e misterioso. "Sua continuidade só o torna tímido", disse ele.
"Seus atos não podem ter o discernimento, o poder, a força compulsiva que têm os atos de
um homem que sabe que está travando sua última batalha na terra. Em outras palavras, sua
continuidade não o torna feliz nem poderoso".

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Confessei que tinha medo de pensar que ia morrer e acusei-o de me causar muita
apreensão com sua preocupação e conversas constantes sobre a morte. Mas nós todos
vamos morrer disse ele. Apontou para uns morros ao longe.
-Há alguma coisa ali esperando por mim, por certo; e eu irei ter lá, também, por
certo. Mas talvez você seja diferente e a morte não esteja esperando por você de todo. Ele
riu diante de meu gesto de desespero. Não quero pensar nisso, Dom Juan. Por que não? Não
tem significado. Se está lá for a esperando por mim, por que hei de me preocupar com isso?
Não disse que você deve preocupar-se. Então o que devo fazer? Utilizá-la. Concentre sua
atenção no elo entre você e sua morte, sem remorsos, nem tristeza, nem preocupação.
Focalize sua atenção sobre o fato de que você não tem tempo e deixe que seus atos sigam
de acordo. Deixe que cada um de seus atos sigam de acordo. Deixe que cada um de seus
atos seja sua última batalha na terra. Só nessas condições é que tais atos terão seu devido
poder. Senão eles serão, enquanto você viver, os atos de um homem tímido. E é assim tão
terrível ser um homem tímido? Não. Não é se você for imortal, mas, se você vai morrer,
não há tempo para timidez, simplesmente porque esta o leva a agarrar-se a alguma coisa
que só existe em sua imaginação. Acalma-o quando tudo está quieto, mas então o mundo
assombroso e misterioso abre a boca para você, como abrirá para todos nós, e, nesse
momento, compreenderá que seus métodos seguros não lhe deram nada disso. Ser tímido
impede que examinemos e exploremos nossa situação de homens.
- Não é natural viver com a idéia constante da morte, Dom Juan.
- Nossa morte está esperando e este mesmo ato que praticamos agora pode bem ser
nossa última batalha na terra replicou, numa voz solene. - Eu a chamo "batalha" porque é
um conflito. A maioria das pessoas passa de um ato a outro sem qualquer conflito nem
pensamento. Um caçador, ao contrário, avalia cada ato; e como tem um conhecimento
íntimo de sua morte, procede sabiamente, como se cada ato fosse sua última batalha. Só um
tolo deixaria de perceber a vantagem que um caçador leva sobre seus semelhantes. Um
caçador dá à sua última batalha o devido respeito. É mais que natural que seu último ato na
terra seja o que há de melhor nele. É agradável, assim. Amortece seu medo.
- Tem razão concordei. - Só que é difícil de aceitar.
- Você vai levar anos para convencer-se e depois levará anos para agir de
acordo. Só espero que você tenha tempo para isso.

Mas é fútil e desesperançoso você não ter uma certeza. Prefiro acreditar que
continuarei, diferente é claro, mas continuarei com pelo menos minha consciência.
Discordo de você. Na verdade ele fala que temos que conviver com nossas
incertezas e fazer o melhor em toda e qualquer ocasião. Confortável é achar que se tem a
eternidade a seu dispor e que tudo pode ser feito amanhã. Se você prefere acreditar na
consciência, é uma parte sua. Como disse, para mim, realmente não importa. Quando
chegar a hora as cartas serão viradas. E independente de quem estiver certo, seja qual for a
opinião, será tarde demais. O que é realmente necessário é fazer o que tem que ser feito. E
isso para mim é uma regra que levo a ferro e fogo. Já se perguntou alguma fez porque eu
sento na frente do micro ou mesmo fazendo algo prático e não paro até considerar
terminado pelo menos temporariamente?

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Faço isso porque desde que nascemos o relógio entra em contagem regressiva. E
pode ser que nem mesmo seu próximo e-mail seja respondido. Quem poderá antecipar o
próximo segundo? Logo, prefiro passar isso antes que sequer seja passado adiante.

Eis aqui um trecho de um texto que foi lido no livro: "Meditações sobre os 22
Arcanos Maiores do Tarot": “Eis um exemplo de argumento por analogia: André e
formado por matéria, energia e consciência. Como a matéria não desaparece com
sua morte, mas somente muda de forma, e como a energia não desaparece, mas
somente se modifica, também a sua consciência não pode simplesmente desaparecer,
mas deve apenas mudar a sua forma e o seu modo (ou plano) de atividade. Logo,
André é imortal.
Esse argumento funda-se na fórmula de Hermes Trismegisto: o que está em
baixo (matéria, energia) e como o que esta em cima (consciência). Ora, se existe a lei
de conservação da matéria e da energia, deve existir também, necessariamente, a lei
da conservação da consciência ou imortalidade”.
Usando o mesmo exemplo para explicar o erro do autor do citado livro, basta fazer a
seguinte analogia: A matéria se modifica, muda de forma. Uma pessoa que morre e se
decompõe, pode virar uma flor, certo? A matéria foi conservada, mas a pessoa ainda pode
ser chamada assim? Ou agora a chamamos apenas flor? Em qual das flores que ela deu
origem se encontra a pessoa? Numa? Em todas?
Existe sim a conservação da energia e do espírito, mas até quando persiste aquela
consciência? Já que o corpo se decompôs e se tornou outra coisa, usando a mesma analogia,
não poderia a consciência se tornar outra coisa, ou pelo menos outra consciência?
O raciocínio do autor foi deveras simplista para explicar assunto tão complexo, e
demonstra até mesmo ignorância dos outros textos clássicos do hermetismo, como os
trechos que coloquei abaixo.

Trechos de alguns textos clássicos do Hermetismo:

“O destino da alma imortal é unir-se a Deus e contemplá-lo na eternidade, Deus é a


origem da alma, que, enclausurada no corpo e no mundo, deve passar pela morte mística, a
fim de retornar a seu princípio. A criação das almas, de que se ocupa o Koré Kosmou, é
semelhante a um processo alquímico que, em momentos sucessivos, as distribui em
diversas categorias, pois, embora sejam eternas, as almas são todas diferentes umas das
outras”. - Koré Kosmou

Explicação por Fr. Goya: O próprio texto nos fala em suas entrelinhas o raciocínio
básico. “O destino da alma imortal é unir-se a Deus... - quando se fala em união, quer dizer,
tornar uno. A unidade não admite divisão, pois se assim o fosse, seria uma díade, e não
mais unidade. “Deve retornar a seu princípio” - Reforça o trecho anterior.”é semelhante a
um processo alquímico que, em momentos sucessivos, as distribui em diversas categorias,
pois, embora sejam eternas, as almas são todas diferentes umas das outras” - No processo
alquímico acontecem diversas uniões e novas separações, isso cria o movimento eterno dos

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ciclos da vida. E o trecho final pode até sugerir essa perda da personalidade. “embora sejam
eternas, as almas são todas diferentes umas das outras”.

“Ora, os elementos, graças aos quais a matéria inteira tomou forma, são em número
de quatro: fogo, água, terra e ar; um mundo, uma alma, um Deus.

Os gêneros de seres que acabo de mencionar ocupam todo o espaço até os lugares
próprios dos gênero dos quais os indivíduos, todos sem exceção, são imortais. Pois o
indivíduo é uma parte do gênero – o homem é parte da humanidade – e necessariamente
segue a qualidade de seu gênero. E, se bem que todos os gêneros sejam imortais, os
indivíduos não são todos imortais. No caso da divindade, o gênero e os indivíduos são
imortais; nas outras raças de viventes, o gênero é imortal e os indivíduos são mortais, mas
nem por isso cessa a eternidade do gênero que desenvolve sua duração pela fecundidade
reprodutora. Destarte, os indivíduos são mortais, os gêneros não o são: o homem é mortal, a
humanidade é imortal.” - Livro Sagrado Dedicado a Asclépio, Hermes Trismegisto.

Explicação por Fr. Goya: Pelo exposto acima, pode-se concluir que à exceção dos
seres pertencentes ao gênero divindade, onde gênero e indivíduo são imortais, os restantes
são imortais apenas no gênero, mas mortais enquanto indivíduo.

A necessidade de ter uma consciência eterna, só revela a necessidade relativa ao ego, que
não consegue ver além do próprio umbigo. É a dificuldade de aceitar que o homem não é o
fim último da criação. Essa pretensão de ser eterno como indivíduo faz com que o homem
esqueça da sua função. Reger a obra D'Aquele a quem nada senão o silêncio pode
expressar. De maestro quer se tornar compositor, mas falta-lhe a inspiração necessária para
isso e o máximo que consegue é macaquear o criador, sendo motivo de riso e de pena,
diante do tribunal dos deuses.

Cito ainda abaixo, mais um trecho do texto a Asclépio:

“A alma e todas as crenças que a ela se referem, segundo as quais a alma é imortal por
natureza, ou que haverá de obter a imortalidade, conforme ensinei, serão apenas motivos de
riso; mais ainda: serão vistas como pura vanidade. Inclusive, creia-me, será um crime
capital, segundo os textos da lei, o estar dedicado à religião do espírito”.

Conclusão
Como dissemos no início, o objetivo desse texto é induzir a reflexão. Com ele não
pretendemos converter ninguém ou destruir crenças pré-existentes. Mas oferecer ao
estudante sincero material suficiente para uma reflexão profunda. Está feito.

Ank ♦ Usa ♦ Semb

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CODEX HERMETICUM 08 – Publicação Classe E

O que é Thelema?
por Frater Goya

Faze o que queres há de ser o todo da Lei.

A pedido do Felipe Almeida, resolvi aceitar o desafio de tentar explicar a leigos o


que é Thelema. Talvez alguns pensem que irão encontrar aqui extensas citações das obras
de Crowley ou de seus seguidores. Não pretendo fazer isso. Vou tentar elucidar a questão a
partir de uma experiência pessoal, que não pode ser repetida ou avaliada por outrem. Mas
servirá como um primeiro contato a esse assunto tão em moda ultimamente.
Já antecipo que muitos irão tentar contradizer ou atacar o que direi aqui, mas devo
avisá-los de antemão que isso de nada adiantará, pois como disse, é uma experiência e uma
visão pessoal. Não estou buscando uma verdade que sirva para todos, mas uma que sirva
para mim. Logo, esse texto é muito mais um compartilhamento de experiências e
observações ao longo dos últimos 15 anos de estudo, do que um tratado de Thelema.
Thelema, é uma palavra oriunda do grego e quer dizer Vontade. É de praxe: todo
mundo que tenta encontrar ou começa a estudar Thelema se depara no primeiro instante de
sua busca com a expressão “Faze o que tu queres, há de ser o todo da Lei!”. Ainda não
cheguei a uma conclusão se isso traz benefício ou cria mais confusão entre os recém-
chegados.
Quando inquiridos, os pseudo thelemitas, sobre o assunto as respostas mais comuns
são: Thelema é o despertar da Verdadeira Vontade; ou – Thelema é a lei da liberdade. Até
aí, não é problema. O problema começa quando avaliamos essas afirmações.
Se descobrir qual é a Vontade já é complicado, imaginem descobrir qual é a
verdadeira! E liberdade? Qual seria o conceito mais adequado? Será aquele já gasto “minha
liberdade acaba onde começa a sua?”

Limites da Vontade e da Liberdade

É muito comum você ouvir a seguinte questão: “Se fazer o que quero é da Lei, então
posso fazer tudo. E se minha vontade for beber todas? E se quiser matar alguém?”
Antes de mais nada é preciso dizer que a Verdadeira Vontade não tem nada haver
com isso. “Mas o que é então?” – Respondendo sem estar fugindo da questão – Se você
precisa perguntar o que é, então ainda não descobriu. Essas afirmações de justificar a Lei
pelos excessos é um subterfúgio infantil que tentam ridicularizar o que deveria ser sagrado.
Qual é então o limite da Lei? É o bom senso. Ou seja, fazer aquilo que é contra sua
natureza ou contra a de outrem, é uma deturpação da Lei. Em nenhum momento se afirma
que a Lei se justifica pelo excesso. Quando no livro da Lei se fala em excesso, é no sentido
de superar suas próprias limitações. (veja em AL II, 7-72 Mas excede! excede! Esforça-te

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sempre por mais! e se tu és verdadeiramente meu - e não duvides disto, e se tu és sempre
prazeroso! - morte é a coroa de tudo.)
Mas devemos nos lembrar de Ícaro, que com suas asas de cera tentou alcançar o sol.
“Quem tiver olhos de ver e ouvidos de ouvir, que veja e que ouça.”

Aspectos Sociais da Lei de Thelema

A Lei da Vontade e do Amor, não é apenas uma norma de conduta individual, mas
também social. Desde o séc. XIX até a primeira metade do séc. XX, a sociedade ocidental
tinha uma cultura socialista, onde o estado gerenciava o cidadão. Esse conceito baseia-se na
premissa que a sociedade é quem gerencia e forma o indivíduo. A proposta de Thelema é
exatamente o oposto. O indivíduo é o gerador e gerente da sociedade. No modelo anterior, a
maior virtude do indivíduo, é a obediência. No modelo proposto por Thelema, a
contribuição/colaboração do indivíduo é que conta.
Apesar do modelo aparentemente solitário (todo homem e toda mulher é uma
estrela), é a soma desses indivíduos que gera uma sociedade. Grupos de estrelas viram
constelações, grupos de constelações viram galáxias e assim sucessivamente. Ao mesmo
tempo que a unidade é o mínimo de percepção do indivíduo, ninguém está só. Por mais
solitário que pareça estar, faz parte de um grupo maior. A própria individualidade é uma
ilusão. Como uma pedra atirada n’água, nossos atos afetam diretamente o universo próximo
a nós. Engana-se quem se vê como indivíduo isolado do mundo, assim como também
engana aquele que só realiza algo pelo bem da maioria. Ambos perdem.

Abandonando o Livro da Lei

No final do Livro da Lei, o autor propõe que o livro seja destruído ou jogado fora,
sob pena de se tornar um foco de pestilência. Na verdade, essa é a pista mais importante
que o estudante no caminho de Thelema pode ter. Após a primeira leitura deste livro
mágicko, ele perde sua magia e se torna um texto comum. Basear sua vida pelo Livro da
Lei, é ignorar todo seu conteúdo. Ou seja: Se você faz exatamente aquilo que está escrito
no livro da Lei, você não estará fazendo a sua Vontade, mas a Vontade de Crowley.
Se você não apreende o caminho para a Verdadeira Vontade na primeira leitura, não
pegará nem mesmo na centésima. Como disse, depois da primeira vez, ele se transforma
apenas num livro comum, para referência de estudo, não de prática mágicka.
Ao terminar de ler o livro, guarde-o bem. De preferência esqueça onde guardou.
Depois, descubra sua Verdadeira Vontade e pratique-a. Esse é o segredo. A aceitação da
Lei de Thelema não transforma o Livro da Lei numa espécie de Bíblia, mas fazê-lo é
condenar a si mesmo.

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[No CIH tentamos fazer cópias auto-destrutivas1 do Livro da Lei, para que ao
terminar, o livro se auto-destruísse, evitando assim que o leitor se tornasse um foco de
pestilência, conforme advertem os comentários de Crowley no final da obra. O processo é
bastante difícil, pois tivemos várias idéias a respeito e os vários experimentos quase
reduziram a zero o número de membr os do nosso grupo. Por exemplo: tentamos fazer uma
cópia envenenada que, por intoxicação matariam o leitor, evitando a disseminação da
pestilência causada pela exposição excessiva ao livro. O problema é que perdemos 13
irmãos na leitura teste da obra. Deixávamos o irmão lendo o livro na biblioteca e no dia
seguinte, ele aparecia morto sobre o livro. Com o passar do tempo (e dos irmãos)
observamos que todos faleciam no final do seguinte texto: “Eu sou único & conquistador.
Eu não sou dos escravos que perecem. Sejam eles danados & mortos! Amém” – AL II, 49.
Depois de vários incidentes, decidimos mudar a tática. Fomos ao plano B.
Tentamos colocar explosivos e um aviso que, ao final da leitura informasse que o
livro explodiria em 10 segundos. Mas também não deu certo. O primeiro explodiu no rosto
do leitor, deixando um cadáver sem cabeça sobre a mesa. O segundo, ao ser folheado
descompromissadamente por um leitor, explodiu ao passar pela última página. Outro, caiu
aberto sobre a página derradeira e levou outros tantos membros que estavam ao redor.
Por explosão perdemos 31 membros. Tivemos que acusar os terroristas de terem explodido
livros-bomba em nossas sedes, o que quase causou um incidente internacional.
Tentamos então uma derradeira alternativa (Plano C), que era as letras do livro
irem se apagando se à medida que iam sendo lidas. Também não deu certo. Em alguns
casos, o livro ao ser aberto estava inteiramente em branco. Depois, começava em branco e
ia se escrevendo à medida em que era observado (criamos um livro exibicionista). Mas
também alguns membros aí deram sua vida à causa. Um deles, frater muito apreciado na
ordem por sua dedicação, adormeceu com o livro sobre o peito e pela manhã, metade do
seu corpo havia sido apagado. Outro, que tinha uma memória fotográfica, ao ler o livro
teve sua memória apagada. E assim foi ainda com vários membros. Dessa forma,
perdemos 7x7 membros. No todo, até o momento (somando os planos A, B e C), perdemos
93 membros. Antes de chegarmos aos 418, pretendemos encontrar a fórm ula que fará com
que o livro desapareça, deixando o leitor, para que este continue suas práticas mágickas.]

Como praticar a Verdadeira Vontade?

Num de nossos encontros aqui no CIH, perguntamos aos membros, qual era a
Verdadeira Vontade de cada um. Das respostas dadas, uma em especial merece mais
atenção: Um membro respondeu – “A minha vontade é ter maior estabilidade financeira,
para poder me dedicar mais aos estudos.” Para muitos essa resposta pode parecer ideal, mas
na verdade ela mostra o desconhecimento do que é Vontade.

1
Devemos aqui informa r ao leitor que esse trecho entre colchetes é um texto de humor. Nada disso aconteceu.
É apenas para refrescar sua mente, que no momento irá se apagar, apag, ap...

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Primeiro: ter mais estabilidade financeira é um meio (já que permitirá ao estudante
continuar seus progressos), e não um fim. Logo, ter mais dinheiro ou estabilidade é um
meio para se alcançar a Verdadeira Vontade, e não a vontade em si.
Segundo: Se você se questiona (assim como acontece com a maioria das pessoas)
profundamente sobre sua Verdadeira Vontade, poderá perceber que o dinheiro muitas vezes
nem mesmo entrará como facilitador para execução de sua vontade.
Chegamos ao ponto. Antes de tentar definir algo e rotular como sendo a Verdadeira
Vontade, devemos nos questionar talvez até usando aquele método escoteiro de projetar os
próximos 10 anos de vida. O quero estar fazendo daqui a 10 anos? Ou ainda: Como me vejo
na velhice? O que me trará paz? Quando feitas com a devida profundidade, essas perguntas
podem desencadear um processo devastador no indivíduo. Uma vez que não costumamos
nos imaginar num espaço de tempo maior que 5 anos (essa é a média), pensar em 10, 20
anos ou numa vida, balança qualquer um.
Respondidas essas perguntas, sobra colocar mãos à obra. Vamos a um exemplo
prático: “Imagine uma pessoa que depois de fazer todas essas perguntas, descobre que
gostaria de saber todas as línguas latinas. Como executar esse projeto? Alguns podem dizer:
“Viu? O dinheiro é primordial nessa questão”. Não é. Funciona apenas como um
facilitador. Nosso estudante precisa manter uma casa, filhos, carro, e mais uma série de
coisas, antes de começar a pensar em seu projeto de execução da Verdadeira Vontade.
Mais que dinheiro, precisa de dedicação. Não é só pagando um professor que se
garante o aprendizado de uma língua. Nosso estudante precisa se dedicar. E com dedicação
suficiente, consegue inclusive evitar gastos excessivos com professores e pode comprar
mais livros ou até mesmo viajar a outros países usando suas economias para poder aprender
a língua. “Mas ganho pouco!” – disse alguém. Mesmo ganhando pouco, através de um
pequeno sacrifício, você pode economizar para comprar um livro novo de línguas a cada
dois meses. Pode comprar livros usados, que normalmente são metade do preço. E por aí
segue. Percebendo qual é sua Verdadeira Vontade, Criando condições adequadas, tudo
pode ser feito. Mas o problema é que muitas vezes enxergamos os problemas maiores do
que eles realmente são. Embora não seja este um texto de auto-ajuda, muitos irão vestir a
carapuça. Vestir não é o problema. O problema é descobrir que a tal carapuça esquenta bem
as orelhas e não querer mais tirar.
Descobrir a Verdadeira Vontade, muitas vezes é até fácil, mas não deixa de ser
doloroso, pois muitas vezes implica em enfrentar direto nossas limitações e isso não é
agradável.

Derrotismo: O Inimigo Número Um da Verdadeira Vontade

“Faça o que queres, há de ser o todo da Lei.”

É muito interessante observarmos os estudantes de Thelema. Tanto os iniciantes


quanto os supostamente mais “adiantados”, parecem discordar sobre as aplicações da
Verdadeira Vontade (Vontade=Thelema, em grego). Uns dizem que é a liberdade total,

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outros que é uma liberdade restrita, iniciática. Não é esse o objetivo desse texto. Sobre o
que é Thelema, já foi excessivamente visto no Codex-08, Descobrindo Thelema.
O que queremos demonstrar aqui, é a existência de um inimigo invisível, que é forte
o suficiente para reduzir a zero qualquer chance de sucesso: Esse inimigo chama-se
DERROTISMO. Mas o que é, como opera?
O derrotismo é um sentimento normalmente aprendido, fruto de milênios de cultura
formada em seu nome. Curiosamente apesar do nome, ele é o único que obtém sucesso
pleno quanto entra em qualquer empreitada. Muitas vezes, o derrotismo ganha outros
nomes: prudência, coerência, realismo, etc. Mas o resultado, independente do nome, é
sempre o mesmo: FRACASSO.
Se ele é tão ruim, por que ainda não foi exterminado? Simplesmente porque ele é
tão contagiante quanto um bocejo, e basta alguém mencionar uma expressão derrotista que
a sala inteira explode num estrondoso abanar de cabeças e murmúrios que tornam qualquer
argumento contra impossível.
É comum o derrotismo vir acompanhado do sarcasmo e do cinismo, seus amigos
íntimos e companheiros de farra.

Como diagnosticar um derrotista

É muito fácil perceber um derrotista padrão. Basta alguém levantar uma idéia, um
projeto, e logo surgem as acertivas padrão do derrotista:
“Isso não vai funcionar...”
“Veja bem, é preciso avaliar...”
“Tente ver pelo outro lado...”
“A coisa não é tão fácil...”
A lista é longa...

E logo depois desse início, desfiam uma série de razões pelas quais o projeto
proposto não funcionaria, SEM AO MENOS TENTAR!!!!
Normalmente, podemos dizer depois de muito observar desses elementos, que eles
se ocultam num pseudo conhecimento de tudo e de todos, exceto da sua própria ignorância.
Colocam as pessoas, as circunstâncias, Deus e o mundo contra qualquer coisa além do seu
sentimento miserável de derrota e auto-piedade.
O derrotista ainda tenta se passar por pioneiro e investigador das possibilidades,
dizendo:
“Todos os dias eu tento, mas existe sempre alguma coisa que me atrapalha...”
“Eu tenho tantas coisas para fazer que não me sobra tempo...”
“Bem que eu gostaria de fazer, mas tenho outras coisas pra me ocupar...”
“Eu tentei, mas você sabe, a família tira todo nosso tempo...”
“Você acha fácil? Tente gerenciar uma casa e fazer isso pra ver se dá certo...”
“Já analisei e fui atrás de tudo isso, mas não vi ninguém que tenha dado certo...”

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Certa vez, ao receber uma chuvarada de impossibilidades dos estudantes de porquê
não estudavam ou praticavam os rituais básicos do seu Grau, resolvi fazer aquilo que
segundo eles era impossível.

Qual não foi a minha surpresa, ao perceber que do meu dia, esses rituais básicos, se
feitos um a um na seqüência, ocupariam extraordinários 20 minutos! Ou seja, concluímos
daí que pode ser tudo, menos falta de tempo.

O derrotista crônico, que sempre tenta abortar qualquer projeto, mesmo os seus
próprios, perde prazos, responde errado, e sempre tem uma desculpa na ponta da língua
para justificar sua falta.

É preciso se aprender de uma vez por todas, que os deuses não farão pelos homens o
que estes devem fazer por si mesmos. Quando se lida com Thelema, aprendemos que não
existem limites, que tudo é possível e que não há derrota a não ser em nós mesmos.

Como fazer a Verdadeira Vontade, se diante dela coloco o Fracasso e a


Derrota?
“ Nada de extraordinário foi realizado, exceto
por aqueles que acreditaram que algo dentro
deles era superior às circunstâncias”.
- Autor Desconhecido.

Uma vez contaminado não resta alternativa a não ser combater com rapidez e
violência esse sentimento, antes que ele tome conta de seu ser por completo. No Codex 08,
já havíamos falado que é extremamente complicado trabalhar com a Verdadeira Vontade,
pois a maioria das pessoas nem mesmo sabem que isso existe. Mas para o estudante de
Thelema, o derrotismo pode ser um tiro de misericórdia numa vontade moribunda. Por que
digo isso?
No cristianismo (especificamente falando, já que é a religião dominante no mundo),
as pessoas são criadas num sentimento que é um misto de humilhação e conformismo, que
acaba por violentar toda e qualquer manifestação da Verdadeira Vontade. Alguns poderão
querer me corrigir dizendo que o cristianismo fala em humildade, e não em humilhação.
Concordaria com isso se não fosse o amplo exemplo que temos no mundo atual onde os
excluídos sociais (em grande parte vinculados à alguma facção do cristianismo) são
habituados a verem a si mesmos como os escolhidos de Deus, enquanto os que estão acima
deles limpam as botas em suas esposas e filhos. Será isso humildade? Acho que não.
Visto que o cristianismo é uma das maiores religiões do mundo, somos
bombardeados com seus conceitos em rádios, tv’s, livros, jornais, etc. apelando para um
sentimento “cristão” que existe em cada um de nós. Onde isso entra em relação à Vontade e
o Derrotismo?

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Esse ponto é primordial para o combate ao Derrotismo, pois todos os dias nos
acostumamos a ouvir algo do tipo: “São coisas da vida...”; “É uma pena, mas fazer o
quê?...” De tanto ouvir isso, achamos o sofrimento, a miséria, as doenças como algo normal
e certo da humanidade. Quando na verdade não é. O homem foi criado para reinar sobre a
natureza, e não para ser um joguete na mão do destino.
Descobrir a Verdadeira Vontade e praticá-la, é essencial para sairmos do estado
animal em que nos encontramos para um estado verdadeiramente humano. Mas isso não
acontecerá até que nos livremos da escória cultural que nos é infligida e façamos aquilo que
é esperado de nós. E o que se espera?
Que se cumpra nossa Vontade, e nada mais além disso. Quando começo um projeto
pelos seus obstáculos, ao invés de uma visão realista, estou tendo um comportamento
fracassado. Por que salientar apenas os defeitos? Será que não posso começar salientando
as qualidades? Pode parecer simplista e até ridículo, mas essa simples mudança de atitude
perante si mesmo e o mundo fará diferença.
Não se deixe contaminar por esse sentimento e saiba que ninguém pode lhe fazer ser
menos do que você é, a menos que você permita. “Tu não tens direito a não ser fazer a tua
Vontade. Faze aquilo e nenhum outro dirá não.” (AL, I,42-43).
Quando alguém lhe disser: “Isso não vai funcionar...” - Faça. E mostre ao mundo
que sua crença é superior a toda derrota que lhe querem enfiar goela abaixo. Os escravos
servirão!(Al,II,58).
No mundo só existem dois tipos de pessoas. Quem faz poeira e quem come poeira.
Você está de que lado?

Tolerância: Ou, os limites do desconfiômetro


“Faça o que queres, há de ser o todo da Lei.”

Existem muitas palavras interessantes no dicionário. É curioso observar que


algumas adquirem um significado especial quando vistas mais de perto. Recentemente, em
outros textos falamos sobre Vontade (Thelema) e Derrotismo (Fracasso). Neste ensaio,
temos como objetivo falar sobre algo tão importante quanto os dois anteriores que é
Tolerância.

Tolerar, entre outras coisas, pode ser interpretado como admitir, aquiescer, boa
disposição para ouvir com paciência opiniões opostas às suas, ou ainda, uma atitude de
quem reconhece aos outros o direito de manifestar diferenças de conduta e de opinião,
mesmo sem aprová-las. Observado sob a luz de Thelema se torna o contraponto da mesma
e tão importante quanto a Lei. Por que?

É hábito comum entre os Thelemitas, para não dizer conduta unânime, usar o “Faça
o que queres, há de ser o todo da Lei” traduzido como: “o que importa é minha opinião e

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minha conduta, o outro que se adapte à minha Vontade”. Ou, como alguns preferem,
“minha liberdade acaba onde começa a do outro”2 . Será mesmo?

Partindo da premissa que a menor parte concebida para o Ser Humano é ele mesmo,
é natural admitir que este se sinta o centro do Universo, ou como dizia Pitágoras, “O
Homem é a medida de todas as coisas”. Essa visão no entanto, pode induzir a erros, tais
como: o MEU espaço, a MINHA opinião, a MINHA casa, a MINHA vontade. Será que
realmente possuímos tudo isso? Ou será que acreditamos naquilo que é mais confortável?

Em nome daquilo que é “MEU” (terrível palavra essa), criamos conceitos e


preconceitos, nos tornando reguladores do mundo, cerceando os outros como perfeitos
juizes, que na realidade, não somos. Proibimos falar alto demais, rápido demais, calar,
beber, fumar. Onde termina o saudável e começa a insanidade?

Quando usamos expressões como: “Não admito tal coisa”, “Você não tem esse
direito”, “Eu sou mais importante”, estamos infringindo o limite do bom senso. TODOS
sem exceção tem tanto direitos como deveres em relação ao mundo que o cerca. A criação
de padrões de comportamento, longe de ser um regulador saudável daquilo que é aceito ou
não pela maioria, se transforma no martelo do juízo que condena a tudo e a todos. Não
existe preconceito até que se estabeleça algo como tal.
O objetivo aqui é justamente estender a questão do que deve se interpretar como o
“nosso limite”. Nenhum homem é uma ilha, e portanto, vive em conjunto com outros
homens3 , devendo se ajustar ao convívio dos demais.

Para que não haja uma interpretação errônea do que é a liberdade thelêmica,
devemos entender definitivamente, que a restrição é o grande inimigo4 . A história nos dá
inúmeros exemplos que os grandes limitadores são ao mesmo tempo, os maiores libertinos.
Todo aquele que tenta induzir o comportamento de outros segundo suas próprias regras, é
um inimigo da Vontade, pois esta se baseia num perfeito equilíbrio entre as partes onde
cada um sabe a parte que lhe cabe realizar.
Usar seus critérios para estabelecer regras de condutas aos outros é perder o critério
daquilo que é bom para si mesmo. Podemos citar inúmeros exemplos na sociedade humana
onde vários problemas poderiam ser contornados se a tolerância fosse devidamente
observada.

É impressionante como na história recente da raça humana se estabeleceram certos


conceitos como: ser diferente é sinal de exclusão e marginalização. Ser gordo é ser feio. Ser
fumante é ser doente. Ser homossexual é ser ridicularizado. E por aí seguem os exemplos...

2
Observando sob esse ângulo, vemos que aquilo que devia libertar se torna uma prisão, limitando àqueles que
estão fora do “nosso” limite. Ou seja: tudo aquilo que não sou eu, deve estar para o lado de lá. Existe melhor
definição de limite?
3
Aqui o termo homem se aplica ao Ser Humano enquanto espécie, não ao ser do sexo masculino.
4
“A palavra de pecado é restrição, ó homem” – Liber Al (1, 41)

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Antes de prosseguir devemos esclarecer no entanto, que os exemplos citados não
devem servir para induzir excessos como: Se sou fumante, posso fumar 15 maços de
cigarro por dia e está tudo bem. Obviamente, o equilíbrio é quem conduz ao caminho da
perfeição. Todos os excessos conduzem à imperfeição.

Tolerar o outro, é respeitar a escolha alheia, mesmo que nos desagrade, mostrando
um respeito que vai além do nosso próprio umbigo. Alguns poderiam usar um subterfúgio
infantil e dizer: “Então eu devia aceitar um criminoso que sente no meu lado e ficar tudo
bem?” Ou ainda: “Devo tolerar tudo que é errado?”.

Obviamente a regra de ouro aqui é o bom senso. Ninguém deve aceitar algo que lhe
desagrade profundamente, mas ao mesmo tempo, não deve usar isso como premissa para
impor a SUA vontade a alguém.

Muitos conflitos poderiam ser evitados se a palavra tolerância existisse em ambos


os lados, porque também devemos salientar aqui, não pode existir apenas em um deles. Pois
a tolerância unilateral significa imposição disfarçada.

Em Luz, Vida, Amor e Liberdade,

Fr. Goya
“O Amor é a Lei, Amor sob Vontade”

Ankh ♦ Usa ♦ Semb

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CODEX HERMETICUM 09 – Publicação Classe A

Dos Direitos e Deveres dos Membros do C:.I:.H:.


Por Frater Goya

Ao entrar numa organização como o C:.I:.H:., o membro adquire direitos e


obrigações, como acontece numa escola qualquer do mundo profano. Esse CODEX tem
como objetivo esclarecer quais são eles, para que não haja nenhuma dúvida sobre o assunto.

Dos Direitos

Todo membro do C:.I:.H:., possui direitos que são específicos e inalienáveis. São
eles:
• Direito a freqüentar as reuniões, caso haja um grupo estabelecido em sua
cidade;
• Direito a receber as instruções por todos os meios disponíveis utilizados pelo
C:.I:.H:., que são: Documentação Impressa (apostilas e demais
complementos concernentes ao Grau), e-mail e internet, contato telefônico;
• Direito a ser instruído por um Tutor, cuja descrição será dada mais abaixo,
que zelará por sua evolução na instituição;
• Direito a reconhecimento de sua Iniciação, na forma de Carta Patente do
Grau, com validade legal;
• Direito a freqüentar reuniões em Lojas ou Grupos de Estudos fora de sua
cidade, quando estiver em viagem.
• Incorrer nas ordálias rituais, e, se nelas passar, ser promovido ao próximo
Grau;
• Receber as bençãos do Grau de Neófito;
• Receber a palavra semestral do C:.I:.H:. a fim de manter-me na regularidade;
• Ser reconhecido em todos os Corpos Afiliados ao C:.I:.H:. em território
nacional ou estrangeiro, pelo Grau em que me encontro.

Das Obrigações do Membro

Ser Iniciado como Membro do C:.I:.H:., traz também obrigações que devem ser
observadas pelo Estudante. São elas:

• Permanecer no Grau de Neófito pelo período necessário, não excedendo o


dobro estipulado para o Grau em que o Estudante se encontra. Decorrido
esse tempo o Membro automaticamente poderá ser desligado da organização
sem qualquer justificativa, afora sua própria falta;
• Passar de Grau somente depois de ter satisfeito os requerimentos
estabelecidos no Compromisso do Grau e da Ordem;

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• Que, caso venha a desistir do processo Iniciático que hora participa junto ao
C:.I:.H:., ao qual se colocou de livre e espontânea vontade, de que não será
restituído de quaisquer contribuições, doações ou taxas pagas;
• Esforçar-se para comparecer às reuniões de Instrução, a não ser em caso de
doença, ou motivos de força maior. Caso não haja um corpo de Instruções
em sua cidade, mesmo assim manterá contato com os demais membros, por
telefone, e-mails, ou outro meio qualquer de comunicação, objetivando que
as instruções não se interrompam;
• Que será examinado(a) no Currículo do Grau;
• Que passará ao Tutor designado para ele, em períodos regulares, um Diário,
conforme prescrito no CODEX 06b, com as informações de suas práticas, e
que a omissão dessa tarefa, automaticamente impedirá sua passagem ao
próximo Grau;
• Que zelará pelo patrimônio da loja e tentará ampliá-lo por meios legais;
• Que seu progresso no C:.I:.H:. não dependerá de favores pessoais,
contribuições financeiras, ou de qualquer outra natureza, mas pela qualidade
e quantidade do trabalho e empenho enquanto Membro;
• Se revelar por quaisquer meios existentes (livros, jornais, panfletos, revistas,
rádio, televisão, cartazes, carta pessoal, disquetes, cd-roms, ou quaisquer
outros meios criados ou a criar), os rituais, material privado, nomes dos
membros ou do movimento interno do C:.I:.H:., sem o conhecimento prévio,
por escrito, do Supremo Conselho (representados por Imperator,
Praemonstrator e Cancellarius), reconhecer que não só incorrerá nas
penalidades previstas nas leis de direito autoral brasileiras, como estará
sujeito a uma multa estabelecida pela Carta Patente do Grau em que se
encontra. Este parágrafo tem validade mesmo quando o Membro não for
mais participante do C:.I:.H:..

Os Oficiais

Ser Oficial do C:.I:.H:., em quaisquer das funções adotadas pela Organização é mais
um acúmulo de deveres do que um Direito ou prêmio por atuação.
• Além dos Direitos e Obrigações de Membro, os Oficiais Ritualísticos do
C:.I:.H:., assumem a obrigação de manter um nível de comparecimento
ainda maior que o Membro comum, e de manter a todo custo a harmonia do
grupo, de acordo com sua função.
• O não comparecimento sem justificativa aceita, e que seja recorrente,
implicará em suspensão ou mesmo exclusão do Grupo, de acordo com o
nível da falta cometida.

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• Aos Oficiais também será cobrado um comportamento exemplar, que sirva
como modelo para os Estudantes que almejam um dia serem Oficiais do
C:.I:.H:..
• Aos Oficiais é terminantemente proibido qualquer tipo de conflito com
outros Oficiais ou com os membros da Loja em que atua, assim como de
outras Lojas.

O Tutor

Um Tutor não deve ter mais que dois ou três adeptos sobre sua tutela, para que o
ensino seja feito com qualidade. Qualquer número acima disso é um risco assumido
pelo Tutor e pelo estudante.
O Tutor no C:.I:.H:. é sorteado pelo grupo, imediatamente após a Iniciação.
Obrigatoriamente o Tutor é de um grau superior ao de seu discípulo e é quase
exclusivamente sua a responsabilidade do desenvolvimento do estudante. Se o
estudante não atinge as metas estabelecidas para aquele grau, deve-se avaliar: O que
faltou para ele atingir? Ele recebeu as instruções que deveria receber? Praticou-as?
Anotou suas dúvidas? Qual foi sua participação nas atividades do grupo? E assim por
diante. E o Tutor tem a obrigação de ajudar seu discípulo a seguir sempre mais alto. O
estudante jamais deve ficar sem uma resposta. O Tutor deverá sempre receber material
que lhe auxilie a responder as questões propostas por seus Discípulos, desde que sejam
concernentes ao Grau em que ambos se encontram. Não devem ser poupados meios
para que isso aconteça.

Conclusão

Essas instruções serão complementadas por um código de conduta interno, a ser


passado para os Membros. A validade dela é imediata, não podendo ser alterada por
qualquer meio ou dispositivo a partir da sua publicação.

Templo Temenos, 11 de abril de 2002.

Frater Goya
IMPERATOR
CÍRCULO INICIÁTICO DE HERMES

Khabs Am Pekht ♦ Luz em Extensão

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CODEX HERMETICUM 13 – Publicação Classe D

A DESCRIÇÃO DA SERPENTE E DO DRAGÃO QUE SE DOBRAM SOBRE


SI MESMOS, OU, O MAPA DA CONSCIÊNCIA.
por Frater Goya (Anderson Rosa)

Para se ter a visão do Mapa da Consciência, medite sobre a seguinte imagem:

“O Homem, para ser homem,


é calculado em suas partes:
Quatro são os elementos,
Os Graus e os Mundos;
Os Quatro vem de três
Que vem dar o equilíbrio,
Trazendo à manifestação,
Um corpo, uma alma ou mente, um espírito.
Esses três vieram de dois,
Que se unem onde deviam estar separados –
Esses dois são laços,
São a vida e a morte.
Aquele que souber com o que se parecem
E souber como atá-los e desatá-los,
Será uno com a divindade.
Ele será o único, o todo;
E estando em tudo, ele não será Nada”.
Goya, 24 de setembro de 2003, 23:00h
Com auxílio do Anjo,
Que veio em meu ouvido
Com sua voz doce
Que fez a caneta dançar
Sobre a pista de papel.

1
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Para se ter o Mapa da Consciência, é necessário ver não como um plano, mas como
dimensões e direções a serem tomadas. Mais do que Graus, a suposição é de que o Magista percorre
um caminho cujo objetivo não está abaixo, ou acima, mas no centro. Logo, as partes são vistas não
como uma escada (como na visão da Escada de Jacó), mas como as partes de um todo sobrepostas e
mescladas entre si.
A idéia de Graus vem apenas como um auxiliar nessa visão tão peculiar que o Magista deve
ter do material a ser estudado. Se observarmos, por exemplo, a Serpente (um dos símbolos do
Conhecimento Oculto e da Sabedoria Divina) podemos ver que esta enrosca-se sobre si mesma,
ficando difícil ao observador perceber exatamente quantas são as voltas, onde acaba e onde começa
o corpo do Animal. A obviedade da cauda e da cabeça são apagadas ao se deparar com o corpo do
animal, pois tem-se a idéia clara de início e fim, mas não do caminho a ser percorrido. E em
determinadas espécies, mesmo a cabeça se confunde com a cauda.
Como já foi dito pelos Qabalistas, o Caminho da Serpente é certamente o mais completo e o
mais doloroso, pois embora passando por todas as Sefirot e por todos os caminhos, é sem dúvida
mais perigoso. Devemos lembrar que a Serpente não pode ser simplesmente esticada ou percorrida
sem se ter o perigo do veneno mortal de suas presas. A Serpente aqui, ganha a dimensão do Dragão
Oriental, que nunca era visto completamente, mas apenas parcialmente, ora a cauda, ora a cabeça e
o peito, ora o torso e as asas gigantescas. Animal fabuloso representa o ápice do poder e do
conhecimento.
A imagem que teremos dos Graus do C:.I:.H:., será exatamente dessa forma, um animal
fabuloso, enroscado sobre si mesmo, com partes abaixo, e partes acima, nem sempre apenas numa
direção, mas em várias, o que torna claro que o conhecimento completo da Fera só se fará ao
completar a Jornada na boca da Besta. E então só resta ao Iniciado ser tragado pela Fera e tornar-se
parte do organismo desta, onde na troca de pele que ocorre a cada estação, o velho dará lugar ao
novo, e o Iniciado, do interior surge como pele resplandecente, de cores variadas, as suas cores. E
ao Adepto tornado Serpente ou Dragão, deverá devorar também tanto o incauto que dele se
aproxima desatento, como o próximo Iniciado, e ambos se tornarão um só, vítima e predador, para
cumprir o Ciclo das Esferas.
A seguir, daremos, tanto quanto possível, a descrição da Fera, até onde nós mesmos a
percorremos. Mas que não pensem o incauto ou o Neófito, que pela descrição poderá pintar a Fera
completamente, pois lhe faltam cores na sua paleta e seu lápis ainda é sem ponta. Ao invés de
Artista, estes são apenas crianças com as mãos sujas de tinta, mas as cores são de criança, não cores
de Artista. E como crianças, o incauto e o Neófito só farão borrões sem sentido no papel. A pintura
só se completará na vida adulta. Não antes.

Fr. Goya
ANKh, USA, SEMB

Fundiram-se depois, como se


de cera quente
Fossem feitos, mesclando suas
cores,
Nem um nem outro parecia
mais o que fora antes.

DANTE, A Divina Comédia,


Canto XXV, Inferno

A figura ao lado é de William Blake,


para ilustrar seu Poema,
JERUSALEM.
2
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DESCRIÇÃO DA FERA

A Fera1 possui quatro partes. Infinitas são limitadas apenas pelo crescimento da Fera.
Cada vez maior, ela nunca diminui ou simplifica. Ela apenas aumenta e multiplica. À medida em
que o tempo passa, a Fera fica maior, mais pesada, mas também mais ágil. Não devemos confundir
a Fera com nossos paralelos, pois sua existência se dá na Eternidade, não no mundo finito. O
Tempo, que para nós é mortal, para a Fera é um Aliado.
As partes da Fera podem ser vistas ao longe, mas o Incauto que se aproxima, por não
conhecer sua natureza, apenas acha que pode calcular o tamanho e a forma finais daquilo que
avista. Na distância, ele olha, mas não vê claramente, e pensa que a Fera adormece. Mas não sabe
ele, que a Fera apenas está imóvel, esperando a hora certa de atacar aquele que se aproxima sem
cuidados ou o devido respeito. Com um único movimento de sua cauda, ou ainda, cuspindo veneno,
ela pode eliminar facilmente o Incauto.
Dessa forma, o que o Aspirante deve buscar primeiro, é saber qual a natureza da Fera,
e como ele poderá se aproximar sem por ela ser eliminado.
Com o auxílio de um mapa, o Incauto se torna nesse momento um Buscador. Mas
semelhante aos caçadores de tesouros (a maioria teve um fim deveras triste), ao chegar, ele não
sabe muito bem o que pedir. O Atendente então, deverá ser um Guia responsável, e que possa dar
ao novo Buscador o equipamento necessário. Este equipamento deverá conter:
Algo sobre a natureza da Fera, que instrua ao Buscador nas formas de aproximação.
Deverá ter também ter algo sobre a localização da Fera, e como esta poderá ser
encontrada.
Terá algo também sobre como se defender do Ataque da Serpente, e de como
diferenciar os vários tipos de Bestas, que não são a Fera, mas que se parecem muito com ela.
Aprenderá a andar e a falar mas tudo mantendo o silêncio, para que a Fera não se
levante contra ele.
Tudo isso ocorrerá por Seis Luas, até que ele esteja apto a seguir jornada em direção
à Fera. Mas mesmo assim deverá ser avisado, que caso ele não tenha se detido o suficiente nas
instruções, será destroçado. Nesse caso, é sábio não seguir adiante. Todavia o Buscador poderá
levar ainda outras Seis Luas, até aprender devidamente a se apresentar para a Fera.
Assim preparado o Buscador avança em direção onde ele julga ter visto algo da figura
que nunca pode ser vista em sua plenitude. Nesse momento, embora ele acredite de forma contrária,
ainda será acompanhado pelos seus Guias. Ele não os verá, e por isso acredita que não estão ali.
Mas durante toda a jornada pelas espirais da Fera, ele estará protegido. Só estará sozinho em
determinados momentos, onde a passagem é única.
Quando estiver prestes a realmente se aproximar da Fera, outras feras surgirão. Mas
elas são apenas imagens enganadoras, pois a Fera é uma só. Se o Buscador tiver ainda algo de
Incauto, ele será levado, afastado do caminhar correto por elas, pois mesmo sendo enganadoras
essas imagens obedecem à Fera, embora inconscientes disso.
O tempo que será tomado não será superior a um instante, mas devido à torção da
realidade, gerada pela presença da Fera (visto que esta habita na imortalidade), ou ele achará que
menos tempo ainda passou, ou pior, acreditará que passou tempo demais, e nesse caso, pode ficar
preso para sempre nas espirais eternas que formam o tempo como conhecemos.
Ao se aproximar o suficiente da Fera, o Buscador estará perto da cauda (ou da cabeça,
já que ambas são iguais, como alertamos previamente). A atitude mais sábia a tomar é não olhar de
1
O leitor atento deve ter se percebido que de certo ponto em diante, nos referimos ao ser apenas como “a Fera”. Isso foi
feito, pois se o nome for pronunciado diante de ouvidos não preparados, estes verterão sangue, e se for lida na sua
forma original, seus olhos serão cegados imediatamente! – Fr. Goya

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Círculo Iniciático de Hermes
frente, não buscar, não apalpar. A Fera irá envolvê-lo, e se ele suportar a aproximação de tamanha
força, poderá seguir viagem. Qualquer movimento em falso fará a Fera se voltar imediatamente
contra ele, e o Buscador, em vias de ser Iniciado, será destruído para sempre!
Na primeira volta, ou no primeiro anel espiralado, o Buscador se sentirá desnorteado,
pois o Norte é uma falsa direção. Ele deverá se deixar levar, pois agora ele será Orientado, como é
certo que ocorra. Ele terá consciência como nunca teve antes, e isso pode deixá -lo em choque ou
despertá-lo. Acreditará que está subindo, mas na verdade estará descendo, pois se conseguir voltar
a cabeça para cima, verá que as estrelas se afastam dele. A cada passo dado nas espirais da Fera,
o terreno ficará mais incerto, e ele cairá presa dos seus próprios passos. Se as Seis Luas lhe foram
suficientes, ele saberá como pisar.
A Fera se move mais uma vez, e ele sente como se tudo perdesse sentido. Não há mais
como voltar, pois seus passos não são firmes suficientes para terem marcado caminho, e mesmo que
voltasse, seria apenas para sofrer, pois seu mundo não existe mais! Seus Guias irão instruí-lo no
correto proceder, e a ele será dado uma Armadura, entre outras defesas que lhe serão úteis nesse
momento. Sem posição de ataque, sua melhor atitude é aprender a usar a defesa.

William Blake, JERUSALEM

A Fera vigiará a todo o momento, e a ele parecerá que ela se afeiçoou. Mas que ele
não se engane, pois aqui certas relações são invertidas, e um gesto singelo pode ser risco de morte
próxima. Todavia, a Fera pode mesmo ter desejado revelar certos segredos. Para Ela 2, esses
segredos são apenas brinquedos, que ela usa para distrair um pouco mais sua Vítima. Enquanto
brinca, ela decide qual é o final que será dado a esse Incauto que se julga Buscador. Então, sem
que o Buscador perceba, Ela falará, e dirá coisas sobre seu movimento e sobre aqueles que vivem
em suas entranhas. Num discurso sem som, murmurante como o Vento, tudo que importa será
revelado. Mas o Buscador ainda não está pronto o suficiente. E nesse momento, Ela poderá se
voltar contra ele. Aspirar o hálito que vem da Criatura Gigantesca poderá ser fatal. Ele tentará
correr. Mas se fizer isso irá tropeçar, e qualquer movimento brusco lhe custará caro. Tão caro que
certamente o preço será mais do que deseja pagar em qualquer momento. Será sábio aquele que
esperar.
A Fera se move novamente. Se for rápido e esperto o suficiente, ele poderá ver o brilho
do olhar da Fera, e saberá qual é a direção verdadeira da cabeça. Mas é vital que recorde que à Fera
nunca se olhe diretamente. Fazendo isso, ele se condenará para sempre, pois ao olho se segue a
boca, e esta pode ser sua última visão, a da sua própria morte.
2
Chamo-a de Ela, não porque é fêmea, mas porque é Fera. – Fr. Goya

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Círculo Iniciático de Hermes
Com a segunda volta da Fera, o Buscador se vê agora ainda mais perdido que antes.
Diante dele um número sem fim de curvas se mostram em eterno movimento. Sem saber por onde
deve ir, e sem sequer calcular onde uma curva se une a outra, ao Buscador só é dado uma opção:
permanecer caminhando. Com passos hesitantes, ele deve permanecer em movimento, pois se
parar, será esmagado pela volta anterior que lhe roça o calcanhar. Ele nunca se livrará dela
totalmente, e essa volta anterior sempre estará ali, para ajudá-lo a seguir caminho ou para
esmagá-lo impiedosamente. A Fera se voltará mais uma vez a ele, e se gostar do que vir, irá lhe
apresentar o mundo das cores e das formas. Mas ele apenas acreditará que é um Artista, pois o
final da jornada está tão longe dele como estava no início. Não está sequer no meio do trajeto. E
como a Fera se move continuamente, ele nunca sabe se está indo ou voltando, e por isso apenas
segue. Mesmo porque, essa é a única direção a seguir. À sua armadura serão acrescentadas armas,
e os Guias, sob a orientação da Fera, irão lhe ensinar como usá-las.

William Blake, JERUSALEM

A Fera se move mais uma vez. O Buscador se desequilibra e cai. Quando se levanta
novamente, o cenário que está à sua frente lhe deixa mais perturbado do que o anterior. Em nenhum
momento anterior a esse ele se sentiu tão só. Diante dele, uma gigantesca planície desértica se
espraia, e ele sabe que a Fera continua lá, embora não consiga descobrir onde realmente ela se
encontra. Ele não tem mais medo, pois está com armadura e carrega armas suficientes para se
defender. A única coisa contra a qual nada disso adianta é a Fera.
Alguma coisa lhe diz por instinto (ou será novamente a voz sibilante da Fera?), qual
direção tomar. Ao se voltar para o lado, ele percebe que não está sozinho. Na verdade nunca
esteve, mas essa é a primeira vez que tem certeza disso. O Ser que ele encontra lhe é seu
conhecido, e há um brilho de reconhecimento mútuo quando os olhares se cruzam. Ele não está só,
mas os que o acompanham não são seus amigos. E orientado por este Ser, ele será capaz de
enfrentá-los com as armas que recebeu. No final da batalha terá perdido todas as armas e a
armadura, embora esteja com ele, não será mais vista. Depois da batalha, a planície será tão
desolada quanto antes, e com o olhar ao longe, o vento lhe trará sua única opção possível, que será
a de fazer daquele local, um novo Paraíso. Não há mais armas ou ensinamentos, a Fera se cala e
nenhum movimento Dela é percebido. Tudo com o que poderá contar é consigo mesmo e com o que
já aprendeu antes.

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Círculo Iniciático de Hermes

William Blake, JERUSALEM

A Fera se mostra novamente, num outro movimento. O olhar do Buscador está mais
aguçado do que antes, e ele sabe realmente que ela está ali. No corpo, sente a Fera se enroscar. O
brilho pálido da luz cria uma doce ilusão, e a Fera se transmuta em Amante.
Nesse momento, o Buscador percebe então o jogo do qual foi peão. A Fera lhe
conduzira no único intuito de preservar a si mesma. Mas quando percebe isso, ele também
descobre que não há o que possa ser feito, porque ele é uno com ela. Começa ali a Dança da Vida,
cujo ritmo ele aprendeu ao caminhar sobre as espirais da Fera. Ele torna-se consciente então, do
porquê nunca vira o final da Fera.
Sobre a Dança da Vida não deverei comentar aqui tão abertamente como foi feito até
agora. Deixo aqui que outro fale apenas o suficiente, para que não seja revelado o que deve ser
descoberto por cada um.
“Ela não dá à luz por vias naturais e não concebe pelo coito comum que distende o
útero; mas assim que sente a excitação sexual, a obscena fêmea provoca o macho, que ela quer
sugar com a boca bem aberta; o macho introduz a cabeça de língua tripla na garganta de sua
companheira e, todo em fogo, dardeja-lhe seus beijos, ejaculando por esse coito bucal o veneno da
geração. Ferida pela violência da volúpia, a fêmea fecundada rompe o pacto de amor, dilacera
com os dentes o pescoço do macho e, enquanto este morre, engole o esperma infundido em sua
saliva. O sêmen assim aprisionado custará à mãe a sua vida: quando se to rnarem adultos,
estreitos corpúsculos, começarão a arrastar-se em sua morna caverna, a sacudir o útero com as
suas vibrações... Como não há saída para o parto, o ventre da mãe é dilacerado pelo esforço dos
fetos em direção à luz, e os intestinos rasgados lhes abrem a porta... Os pequenos répteis
rastejam em torno do cadáver natal, lambem-no — uma geração órfã ao nascer... Como os
nossos partos mentais...”
- Gourmont, Rémy de, Lê Latin Mystique. Les poètes de l’antiphonaire et la symbolique
au Moyen Age, Paris, 1913.

A minha parte está feita.


Fr. Goya
ANKh, USA, SEMB
Anno IVxi Sol 3° Libra, Luna 15° Libra Dies Veneris
Curitiba, sexta-feira, 26 de setembro de 2003 e.v. 21:27

M. Maier, ATALANTA FUGIENS

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