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CODEX HERMETICUM 00
A iniciação que o postulante está em vias de realizar marca uma passagem, uma
mudança de estado perante o mundo e o grupo ao qual ele está pretendendo ingressar.
O iniciando torna-se, nesse momento, o ator central de um drama ritualístico que ilustra, de
maneira simbólica, a passagem de sua condição de profano para membro do grupo.
Esperamos que você possa aproveitar sua iniciação ao máximo, vindo a ser ma is
uma brilhante estrela no corpo de Nut, a filha de pálpebras azuis do céu poente.
Frater Goya
Este texto deve ser lido e mantido à disposição de todos os membros, visitantes ou
curiosos sobre as práticas de nossa escola, uma vez que busca esclarecer, evitando erros de
interpretação ou má explanação. Deve ser lido e/ou distribuído obrigatoriamente nos discursos
introdutórios àqueles que desejam se tornar membros do Círculo Iniciático de Hermes.
Este documento não é definitivo, isto é, ele não encerra-se na última linha, mas pode
ser acrescentado e alterado pelo Supremo Conselho, para ser fiel aos princípios da
Organização, assim como às fontes Tradicionais.
Nenhuma escola iniciática pode exigir para si o título de “Tradicional” se não estiver
ligada a nenhuma das tradições supra-mencionadas. Qualquer escola que se julgue no direito
de assim proceder, só poderá conduzir o estudante a um caminho de erro e loucura, pois sendo
o esoterismo uma parte interior do exoterismo (representado pelas Grandes Religiões),
conforme será explicado adiante, é tentar chegar ao interior de um país sem passar por suas
fronteiras. Tais escolas iludem assim o estudante, sem realmente poder oferecer algo que
possa dar algum tipo de “resposta séria” ao mesmo. O que, muitas vezes acontece é que, o
estudante é levado a acreditar num sincretismo absurdo, uma caricatura mal feita da Tradição,
que terminará por desvia -lo de uma vez por todas de todo e qualquer tipo de Salvação.
Nas palavras de Olavo de Carvalho, em sua obra, Fronteiras da Tradição: “Quem não
tem uma religião, quem não está submetido voluntariamente a uma Lei Revelada, não está em
Tradição nenhuma...”
Não se pode separar esoterismo e exoterismo, porque eles são a vida e o corpo,
respectivamente, de uma Tradição. Cada Tradição é constituída de 3 elementos
imprescindíveis:
1) Uma Doutrina sobre o infinito, sobre o que é Absoluto e o que é Relativo;
2) Um corpo de Ritos que ajudam o homem a incorporar a verdade da doutrina na sua
forma de existência, de modo a harmonizar o conhecimento e o ser.
3) Um corpo de Símbolos (por exemplo, a arte Sacra) que ajudam a mente a chegar à
intelecção das verdades veiculadas pela Doutrina e corporificadas pelos ritos. As
chamadas ciências tradicionais, como a Alquimia e a Astrologia, (...) fazem parte do
corpo de símbolos de uma tradição. O simbolismo Astrológico, por sua universalidade,
foi bem assimilado pelo esoterismo cristão e muçulmano, de modo que seu estudo é
um bom instrumento auxiliar para quem deseje penetrar no universo destas tradições.
Todas as falsas tradições podem ser facilmente identificadas pelo fato de dispensarem
todo exoterismo e se pretenderem superiores a todas as religiões, às quais, no entanto, elas
imitam e das quais roubam elementos simbólicos e rituais 2.
Portanto, quem realmente deseja seguir uma via de conhecimento espiritual, deve
integrar-se a uma das 4 Grandes Religiões Tradicionais, supra-citadas.
1
Carvalho, Olavo de, Fronteiras da Tradição, Nova Stella, São Paulo, 1986, p.18.
2
Idem, pp. 19 e 20.
3
Idem, pp. 11 e 12.
Última Revisão - 4/8/2003 - 19:29 - Pág. 2
Círculo Iniciático de Hermes
O Círculo Iniciático de Hermes busca, em seu material de estudo e suas práticas, uma
síntese que permitirá ao estudante seguir seus estudos sem maiores prejuízos para sua mente
e seu espírito, pois não é conflitante com nenhuma das fontes da verdadeira tradição.
1
Nos reservamos o direito de fugir a essa regra citando a Teosofia e a Golden Dawn, que tem sua história
mais que publicada, não sendo portanto nenhuma ofensa e sim um comentário que exemplifica uma situação.
2
Antiguidade refere-se a tempo, idade. É portanto, uma referência temporal. Tradição pode ser definida como
um certo conjunto de símbolos comuns a todas as religiões, sendo um sinônimo de Sophia Perenis. Para mais
detalhes, veja o CODEX 01 ou ainda, o livro de Olavo de Carvalho entitulado “Fronteiras da Tradição”.
3
Ver a introdução ao Livro da Lei, de Aleister Crowley, pelo Círculo Iniciático de Hermes.
Tudo já foi publicado. Engana-se aquele que acredita que entrando numa
organização será dono de um poder ainda não revelado ao mundo dos homens, que está de
CONCLUSÃO
A História do C:.I:.H:.
Por Frater GOYA
"Faça de Sua Evolução a Evolução do Seu Mundo."
Em 3 de março 1623, surgiram em Paris cartazes estranhos com estranhos dizeres que diziam mais
ou menos assim:
“Nós, delegados da Irmandade da Rosacruz, fazemos uma estada visível e invisível nesta cidade, pela graça
do Altíssimo em direção ao qual se dirige o coração dos justos. Nós mostramos e ensinamos sem livros ou
sinais, falamos todas as formas de linguagem nos países onde moramos, a fim de libertar os homens,
nossos semelhantes, do erro e da morte.”
Muitos consideraram isso uma brincadeira, mas Serge Hutin escreveu: “Atribuía-se aos rosacruzes os
seguintes segredos: a transmutação dos metais, o prolongamento da vida, o conhecimento do que se passa em
locais distantes, a aplicação da ciência oculta na descoberta daquilo que está escondido e oculto.” Mais do que
uma fraternidade regularmente constituída ou agremiação, o Rosacrucianismo é uma corrente de pensamento.
Muitos homens de várias épocas e até de hoje em dia podem ser considerados rosacruzes sem participar de
nenhuma organização estabelecida ou reconhecida como tipicamente rosacruz.
Através dos séculos que se seguiram, várias organizações assumiram para si mesmas o título de
ROSACRUZ. Isso não passa de erro e engano, pois rosacruz não designa uma organização mas uma corrente
de pensamento. Um homem torna-se um rosacruz por sua postura diante do mundo e não pelos livros que lê
ou pela religião que professa. Os verdadeiros rosacruzes de outrora foram homens que mudaram seu tempo e
avançaram no conhecimento humano. Apesar de Ter características principalmente intelectuais, o
rosacrucianismo é prático, pois conhecimento sem prática ou aplicação, torna-se uma coisa vã e tola. Através
de documentos como “Fama Fraternitatis”, “Confessio Fraternitatis” e as “Bodas Alquímicas de Christian
Rosencreutz” criou-se o mito da escola rosacruz. Tais documentos descreviam uma nova realidade, ainda hoje
utópica, e que inspiraram muitas das escolas que ainda hoje existem sob a égide rosacruz.
Principalmente no século XIX floresceram muitas organizações ditas rosacruzes, onde podemos
citar: A Ordem Kabalística da Rosacruz, Societas Rosacruciana in Anglia, L’Ordre du Graal et de la Rose-
Croix Catholique e a Hermetic Order of the Golden Dawn ou Ordem Hermética da Aurora Dourada. A Ordem
Hermética da Aurora Dourada foi uma organização cuja influência no desenvolvimento do Ocultismo desde
seu renascimento no quarto final do século XIX, foi muito maior do que a maioria das pessoas pode chegar a
suspeitar. Resta pouca ou nenhuma dúvida que a Aurora Dourada é, ou melhor foi, até bem pouco tempo, a
única depositária do conhecimento mágico, a única ordem oculta de autêntico valor que o Ocidente conheceu
em nossa época. Um bom número de outras organizações Ocultas devem o pouco conhecimento mágico que
possuem a infiltrações da própria Ordem e de alguns membros renegados. Os membros da Aurora Dourada
eram recrutados dentre todas as classes sociais e incluíam representantes tanto das profissões dignas, como
das artes e ciências, para não mencionar os ramos do comércio e dos filósofos. Havia médicos, psicólogos,
clérigos, artistas e filósofos. E homens e mulheres comuns, humildes e desconhecidos, vindos de cada um dos
caminhos da vida, receberam inspiração de sua fonte de sabedoria; e indubitavelmente, muitos reconheceriam
e admitiriam com satisfação a enorme dívida que com a Ordem contraíram através de seus ensinamentos. A
Ordem Hermética da Aurora Dourada como organização preferiu seguir o exemplo de seu misterioso pai (o
mitológico Christian Rosencreutz), e sempre ocultou-se atrás de uma roupagem de impenetrável mistério.
Seus ensinamentos e seus métodos de instrução foram guardados com graves penas ligadas aos mais terríveis
votos de modo a manter este segredo seguro. E tão bem foram estes votos cumpridos, com uma ou duas
exceções, que o grande público não sabe aproximadamente nada sobre a Ordem Hermética da Aurora
Dourada, seus ensinamentos ou a natureza e quantia de seus afiliados. Após o ano de 1900, a Ordem
Mais tarde, a Ordem Hermética da Aurora Dourada retorna de seu silêncio em diversas Lojas
espalhadas pelo mundo enviando seus ensinamentos místicos aos Adeptos Associados. Paralelamente a estas
Lojas Místicas, surgem as Lojas Mágicas, que praticam o Ritual Original da Aurora Dourada conforme foi
ensinado através dos Chefes Superiores e entre essas Lojas Mágicas, encontra-se o Círculo Iniciático de
Hermes. Nas Lojas Místicas faz-se apenas o aprendizado do místico, apenas o domínio do intelectual; e nas
Lojas Mágicas, do aprendizado Mágico, vindo o estudante assim a dominar e a moldar a sua própria
realidade, conforme os ensinamentos de Hermes.
Em 1993, através de contatos com Adeptos das Lojas Mágicas de outros países, chegaram às mãos
do atual Imperator do Círculo Iniciático de Hermes, Frater Goya, documentos contendo os rituais,
ensinamentos e práticas utilizados nas Lojas Mágicas da Aurora Dourada. Inicialmente, os poucos membros
foram se reunindo num Círculo Mágico, dando origem por fim, em 5 de março de 1997, ao Círculo Iniciático
de Hermes. Ao conhecimento original da Aurora Dourada, foram inseridos elementos de Hermetismo e de
Magia Thelêmica, de forma que o Círculo Iniciático de Hermes possui atualmente como base de seus
ensinamentos o que de melhor de produziu nos últimos 300 anos no Ocultismo Ocidental.
A linhagem rosacruz atravessou os séculos e persistirá ainda por muito tempo. Através de nosso
trabalho diário, manteremos a chama do mais puro rosacrucianismo acesa dentro de cada Frater e Soror que
comunga de nossos objetivos e ações. Sempre que de alguma forma, o rosacrucianismo foi ameaçado de
extinção, ele deixou a vista dos homens comuns, para surgir em seguida em outro local, com forças
renovadas. A derrocada de muitas supostas organizações verdadeiramente rosacruzes em todo o mundo,
demonstra com propriedade essa afirmação.
Não diremos se somos ou não uma fraternidade de rosacruzes. Criar bandeiras é muito fácil, mas
fazer delas parte de sua conduta é muito difícil. Como dissemos acima o rosacrucianismo é uma linha de
pensamento e não uma organização. O que verdadeiramente buscamos é inspiração em nossos irmãos do
passado e do presente para desenvolver uma conduta rosacruz, e não uma organização rosacruz, pois o
pensamento não pode ser aprisionado por regras e estatutos. O rosacrucianismo torna-se, por essa
característica essencial, a forma mais sublime de manifestação do espírito humano. Muito trabalho ainda deve
ser feito. Através dos estudos de nossos Fratres e Sorores estamos ampliando ainda mais as fronteiras do
Ocultismo. Tudo já está criado, mas ainda falta muito a ser descoberto. O Véu que oculta a verdadeira face da
deusa Ísis se torna mais transparente a cada momento que passa.
O Círculo Iniciático de Hermes não possui mensalidade instituída, e cada membro contribui de
acordo com as definições que lhe serão participadas quando for de direito. O Círculo Iniciático de Hermes não
visa nenhum tipo de lucro que não seja o de engrandecer e praticar a Grande Obra, permitir a seus membros
meios de atingir um nível melhor de humanização, e ensinar e praticar o respeito ao Criador. Não é uma
Religião ou Seita, mas um grupo de estudiosos e praticantes da Ciência de Hermes.
“Como um prelúdio ao que sucederá mais adiante, haverá agora uma reforma geral, tanto de coisas
divinas como humanas, conforme desejamos, e outros esperam. Pois, é natural que, antes do nascer do Sol,
surja a AURORA, ou alguma claridade, ou divina luz, no Céu; e, entretanto, alguns, que darão seus
nomes, se reunirão para aumentar o número e o respeito de nossa FRATERNIDADE, dando feliz e tão
desejado começo aos nossos Cânones Filosóficos, para nós prescritos pelo nosso irmão R.C., participando
então dos nossos tesouros (que nunca se esgotam ou corrompem), com toda humildade, e amor que os
alivie do labor e das misérias deste mundo, de modo que não caminhem tão cegamente no conhecimento
das maravilhosas obras de Deus.” - FAMA FRATERNITATIS (1614).
1507 Restabelecimento da Ordem à Paris para a Fundação do “Sodalitium” de Agrippa 1541 Morte de
Paracelso, Monarca Secretorum, Reorganizador da Ordem 1559 Barnaud começa seus esforços para reunir os
alquimistas disseminados à Rosa-Cruz
1570 Ressurgimento da Associação dos Irmãos Magos, sob o nome de “Irmandade da Rosa-Cruz de Ouro”
1591 Visita de Barnaud aos Países Baixos para fundar um centro Rosacruz
1592 Fundação nos Países Baixos da R.C. Societas por Isaacus Hollandus
1601 Apelo de Barnaud aos Mestres do Hermetismo para tornar conhecida sua arte à Henrique VI e ao
Príncipe Maurice 1604 Restabelecimento da Confraria da Rosa-Cruz na Alemanha
1614-1615 Dispersão dos manifestos Rosacruzes Fama e Confessio Fraternitatis, sob a direção de Andreae
1620 Influência exercida em certa época da Rosa-Cruz sobre a Maçonaria para a instituição de uma seção
especulativa Cooperação de Sir Francis Bacon, que é considerado um Chefe da Rosa-Cruz Inglesa.
1622 Manifestação da atividade dos centros Rosacruzes nos Países Baixos, em Amsterdã, em Warmond e em
Haya, onde eles se encontraram com o Príncipe Frederic-Henry, em seu palácio
1624 Morte de Boehme, que escreveu textos filosóficos sobre os sistemas dos Rosacruzes
1644 Morte de J.B. Van Helmont, que se esforçou em cessar a divisão entre a Rosa-Cruz Mística e a Rosa-
Cruz Naturalista
1747 Fundação em Arras, do “Capítulo Primordial da Rosa-Cruz Jacobita”, que serviu de modelo ao Grau de
Rosa-Cruz na Maçonaria Escocesa
1782 Iniciação do Príncipe-Herdeiro Frederic-Guillaume, o futuro rei Frederico II, como Rosa-Cruz em
Berlim
1788 Fundação em Amsterdã, do Capítulo “David et Jonathan, et Jésus-Christ” e “Credentes vivent ab illo”
1804 Fundação em Paris do “Rito Escocês Antigo e Aceito” em 33 Graus, na qual o Grau Rosa-Cruz é
representado como 18º
1888 Fundação em Keighley da “Hermetic Order of The Golden Dawn” Fundação em Paris por Stanislas de
Guaita da “Ordem Kabalística da Rosa-Cruz” Conferência Internacional dos Rosacruzes-Franco-Maçons em
Bruxelas
1890 Fundação em Paris por Sar Péladan da “Ordem du Graal e da Rosa-Cruz Católica”
1900 Fundação das Escolas Alemãs da Rosa-Cruz sob a direção do Dr. Steiner
1909 Fundação por Max Heindel, da “Fraternidade Rosacruz” em Seattle Fundação em Londres de uma
Associação Rosa-Cruz “Equinox Group”, editando um órgão do mesmo nome
1912 Fundação em Londres por Mme. Besant, Mme. Russak e H. Wedgwood da “Ordem do Templo da Rosa-
Cruz”. Crowley é convidado por Theodore Reuss, a chefiar a seção inglesa da O.T.O.
1915 Fundação em Nova Iorque, por Spencer Lewis, da “American Rosae Crucis Society”
1921-1922 Os ideais rosacruzes são propagados pelos membros da Antiga Ordem dos Rosacruzes na revista
Licht en Waarheid e Eenheid na Holanda, e tardiamente fundam a Lotus Blaelter na Alemanha
1939 Morte de H. Spencer Lewis. Seu filho, Ralph M. Lewis, assume como Imperator da AMORC
1987 Morre Ralph M. Lewis. Gary L. Stewart assume como Imperator da AMORC
1990 Boatos de desvio de fundos da AMORC fazem com que Gary L. Stewart seja afastado da AMORC,
porém, mantendo seu cargo de Imperator.
1993 Sai a decisão da Justiça Americana a favor de G.L.Stewart, que deixa a AMORC e une-se a um grupo
chamado ARC (Antiga Rosa-Cruz), hoje conhecida como CR+C (Confraternidade Rosae + Crucis) Em
Curitiba, o grupo de iniciados reúne-se para a primeira iniciação do Círculo Iniciático de Hermes.
1997 Iniciam-se as atividades do Círculo Iniciático de Hermes como entidade formal, e ocorre a Segunda
Iniciação do C:.I:.H:., junto com a definição dos Oficiais que formarão o Supremo Conselho. É fundado o
Templo Temenos.
A Golden Dawn (ou Aurora Dourada), foi a segunda sociedade ocultista mais
importante do século passado (a primeira foi a Sociedade Teosófica de H.P. Blavatsky).
Foi criada em 1880 por quatro membros da S.R.I.A. (Societas Rosecruciana in Anglia)
chamados:
A.F.A. Woodford, membro do Clero Anglicano e Maçon;
William Wynn Westcott, médico legista;
W.R. Woodman, médico;
Samuel Liddell Mac Gregor Mathers, estudioso de ocultismo.
A principal proposta da Ordem Hermética da Aurora Dourada, era colocar em
prática os Rituais e Ensinamentos da Magia, fortemente influenciados pelos textos de John
Dee, Eliphas Levi e Francis Barret, entre outros.
Sua reivindicação era a de ser a verdadeira herdeira dos primórdios do
rosacrucianismo e dos princípios de Cristian Rosenkreutz (misterioso pai do
rosacrucianismo), baseando-se num misterioso conjunto de manuscritos cifrados, oriundos
de Westcott. De posse desses documentos cifrados, encontraram em meio a estes, uma carta
com o endereço da Fraülein Ana Sprengel (Sapiens Dominabitur Astris = O Sábio Será
Governado pelas Estrelas) originária de Nuremberg. Mais tarde descobriu-se que esses
documentos foram na verdade, criados por eles.
Esses manuscritos estavam em inglês arcaico, transcritos num código "secreto"
inventado no séc. XVI pelo Abade Trithemius. Nesses manuscritos encontram-se os rituais
e a estrutura hierárquica básica da organização.
Através de um grande volume de cartas remetidas pelos dois lados, o quarteto de
magos foi instruído de forma a preencher os rituais esboçados nos manuscritos cifrados.
Em 1887 Ana Sprengel deu ao grupo, que até então estava subordinado à ela,
autoridade suficiente para poderem abrir a primeira Loja (ou Templo) da Aurora Dourada,
o Templo de Ísis-Urânia. Logo após a fundação do Templo foi anunciada a morte de Ana
Sprengel.
A Aurora Dourada era fundamenta em Graus de aprimoramento, onde o estudante
evoluía de acordo com suas aptidões. O recrutamento de novos membros era feito na
maioria das vezes por cooptação, através de um padrinho, que iria cuidar de sua evolução
dentro da organização e de sua diligência nos estudos.
A divisão dos Graus era baseada na Árvore da Vida, proveniente da Qabalah. São
onze Graus divididos em três classes cada. A partir do Sexto Grau, ao que nos parece, reúne
não seres humanos, mas entidades ou seres superiores.
A Grade de Estudos era bastante exigente em relação ao estudante, que, para passar
de um Grau a outro necessitava provar seu domínio do Grau ao qual estava preste a
abandonar.
O ano é 1982. Após ler uma curta biografia publicada numa revista planeta sobre a
Golden Dawn, Anderson Rosa (Frater Goya) ouve pela primeira vez os nomes de Aleister
Crowley, Mac Gregor Mathers, Ordem Hermética da Aurora Dourada, entre outros. O autor
da reportagem menciona no final do texto que os documentos originais haviam sido
perdidos no começo do Século XX. Na sua cabeça, ele alimentava uma vaga esperança de
poder encontrar os ditos documentos de alguma forma. Mas por onde começar? (Mais tarde
descobriria que na verdade a reportagem não era de boa origem e as informações estavam
erradas).
Tentou a revista, não conseguiu nada. Livrarias, ninguém havia ouvido nada a
respeito. Pessoas de suposto conhecimento esotérico. Nada ainda. Em outros livros sobre os
mais diversos assuntos encontrou informações desencontradas. Crowley “O homem mais
perverso da terra”. Aurora Dourada (escola esotérica vitoriana). Alguns nomes de livros
que não eram na época (estamos falando em Curitiba na década de 80) disponíveis
facilmente no Brasil, foi buscando a informação correta, onde pudesse encontrar a fonte da
magia.
Durante quase 10 anos pouca coisa ajuntou ao material original. Em 1990 encontrou
num sebo um exemplar da “Magia Sagrada de Abra-Melin, o Mago” de Mac Gregor
Mathers. No ano seguinte, uma cópia do Livro da Lei. Começava a progredir. Em 1991,
através de um membro da corrente Osho, descobre o Tarot de Crowley. Deixemos agora
que o próprio Anderson Rosa descreva seu encontro com o Tarot de Crowley: “Em 1991,
tive em minhas mãos pela primeira vez o Tarot de Crowley. Enquanto mexia com mãos
trêmulas aquele maço de lâminas, pude perceber que Crowley realmente dera ao Tarot sua
vida e sua obra. As lâminas pareciam vivas nas minhas mãos e ao fundo ouvia a voz do
guia na escuridão. Desde então, o Tarot de Thoth tem sido um companheiro inseparável
em meus estudos e ao qual dedico grande tempo para tentar desvelar as palavras ocultas
do velho companheiro que, na minha mente e no meu coração, ainda permanece vivo.
Ainda naquele ano e no seguinte, estive duas vezes num mosteiro franciscano onde
pude encontrar quietude suficiente para estudar mais profundamente o Tarot. Numa dessas
vezes, algo realmente fantástico aconteceu. Numa determinada noite, estava dormindo e,
em sonho, pude ver a carta de número XIV – A Arte, como se estivesse projetada na parede
de um grande salão. Ao me aproximar, percebi que a carta se movia. Fascinado, cheguei
ainda mais perto e, no local onde normalmente se encontra o nome da carta, havia uma
espécie de degrau que usei para entrar nela. Os movimentos eram lentos e graciosos. A
figura central da carta ia me apresentando todos os outros símbolos num balé maravilhoso
que se fixou em minha alma.” – Tarot - O Templo Vivente, Um Guia Seguro Para o Tarot
de Crowley Associado a Qabalah e a Astrologia, pág. 01, Curitiba, 2000.
Agora, mais que nunca precisava encontrar alguém que lhe desse orientação sobre
Aleister Crowley, Thelema e Golden Dawn. Ouvira falar de Marcelo Motta, mas não foi
possível contatar o mestre que falecera em 1987. Em Curitiba, poucos conheciam Crowley,
e os que conheciam, diziam preferir não conhecer. Isso aguçou ainda mais a curiosidade de
Anderson, que partiu de uma vez por todas, na busca da verdadeira Vontade.
Av. Visconde de Guarapuava, 3950 Cj. 03
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Círculo Iniciático de Hermes
Em 1993 já havia tornado o Tarot parte de sua vida, como pudemos ver no texto
acima. Foi então convidado pelo Mestre da Loja Curitiba AMORC, a fazer um curso de
Tarot para os membros. Nessa época Anderson ainda era membro ativo nessa organização e
aceitou a tarefa. O curso foi muito bem aproveitado. Nele, foram passados os primeiros
conceitos sobre Thelema e Magick em Curitiba, uma vez que os seguidores do Osho que
ensinavam o Tarot Divinatório, nada sabiam sobre esses assuntos. Isso começou a gerar
certa polêmica dentro da AMORC. Durante o curso inúmeras pessoas que não eram
membros da AMORC tornaram-se. Curiosamente, Anderson foi acusado de estar levando
membros da AMORC para seu consultório de Astrologia, o que era ridículo pelo que
falamos acima, de alunos tornarem-se membros da AMORC e não o contrário. Movidos
pela ignorância, alguns membros o pressionaram para acabar com o Curso de Tarot, pois
Crowley era um Mago Maldito e nada de bom poderia vir daí. Ao invés de parar o Curso, e
já que estava sendo acusado de aliciamento, Anderson resolveu fazer jus a fama. Pegou a
turma inteira e levou para o consultório de Astrologia.
Nesse meio tempo, uma amiga, vinda do México, lhe trouxe os quatro volumes da
obra “The Golden Dawn” de Israel Regardie, e ele começou imediatamente a estudar os
métodos da Golden Dawn. O Curso de Tarot estava acabando, mas os alunos se recusavam
a deixar a sala de aula e pediam mais.
Foi assim que, em 1994, nos meses de Março e Abril, Frater Goya, junto com outros
membros, realizou a primeira iniciação do Círculo Iniciático de Hermes, seguindo os rituais
indicados por Regardie. No entanto, para realizar a cerimônia, era necessário uma equipe.
Então, alguns amigos próximos, que também estavam ligados ao ocultismo de alguma
forma, se dispuseram a auxiliar para formar a primeira equipe de iniciação ao Círculo
Iniciático de Hermes. Nessa época, o grupo ainda não tinha um nome formal e se reunia
quando necessário utilizando o nome da Golden Dawn.
Em 1995, ainda participa de uma derradeira atividade na AMORC, a convite de um
antigo Mestre de Loja. Era um pequeno grupo de estudos de Qabalah que estava se
reunindo tentando encontrar o caminho para a Tradição. Então participou de algumas
reuniões num período que não foi superior a três meses. Após a dissolução deste grupo de
estudo, alguns de seus membros o procuraram na tentativa de formar um novo grupo que
permitisse avançarem em seus estudos.
Esse momento foi crucial na história do Círculo Iniciático de Hermes (que ainda nesse
momento se auto-denominava apenas “Uma Loja Independente da Golden Dawn”).
Haviam dois caminhos que poderiam ser seguidos: podia-se formar um novo grupo de
estudos genérico, com ênfase na Qabalah, ou um grupo que seguisse a estrutura de alguma
ordem esotérica tradicional, e que permitisse a transmissão da iniciação entre seus
membros, dispensando ainda os conhecimentos de forma ordenada, de acordo com as
necessidades do grupo.
Em 1996, Anderson abandona a AMORC, para se dedicar exclusivamente ao trabalho
Magicko. Na AMORC torna-se persona non grata, por seu envolvimento com Thelema.
O grupo continuou, novos cursos aconteceram. O trabalho era muito para uma única
pessoa, e querer realizar tal tarefa sozinho, só poderia produzir algo que não frutificasse
como o esperado. Então, mais uma vez, ele contatou várias pessoas entre amigos ligados ao
ocultismo e alunos, e os trabalhos de tradução e criação de material para o grupo
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Círculo Iniciático de Hermes
começaram. Alguns recusaram, acreditando que seria um absurdo tentar “fundar” uma
ordem esotérica a partir do nada. Outros, sentiram-se um tanto inseguros demais para
abandonar suas “carreiras” em outras ordens. Mas no final, algumas pessoas aceitaram o
desafio e resolveram assumir por seu próprio risco e conta, a árdua tarefa de erigir uma
organização a partir de praticamente nada.
No início, apenas a confiança no conhecimento pessoal de cada um foi o que manteve
acesa a chama do conhecimento oculto nos corações de cada estudante. Muitas foram as
noites de tradução e de pesquisa, onde os Fratres Searthn e Frater Parsiphal se revezavam
diante do computador, resultando no final de um ano, em quase 500 páginas de material
para estudo. Aos poucos, o grupo foi amadurecendo e aumentando.
Era necessário um nome. Nessa altura do campeonato, através de diversos meios,
souberam que haviam ramos ativos da Golden Dawn em diversas partes do mundo. Usar
esse nome poderia gerar problemas futuros com direitos autorais. Alguns membros em
especial Frater Gladius Ferius, lembraram que usar esse nome entre outras coisas poderia
atrair à organização que estavam montando um futuro semelhante à antiga ordem. Foram
estudados vários nomes, com sugestões vindas de diversas pessoas, até se optar pelo nome
definitivo: Círculo Iniciático de Hermes.
Quando o grupo adquiriu uma certa estabilidade, fundou-se formalmente o Círculo
Iniciático de Hermes em 05 de Março de 1997, com seu estatuto e Ata de Fundação
próprios. Aqueles que tinham um conhecimento ant erior de ocultismo, foram eleitos pelo
grupo para fazerem parte do Supremo Conselho. O Conselho logo começava suas
atividades de mesclar Thelema e Magick com Golden Dawn. Em 24 de julho de 1997,
aconteceu a primeira iniciação utilizando o nome oficial do grupo. Participaram dela
membros da iniciação de 1994.
O C:.I:.H:. engloba novas camadas, indo de Ordem Externa e Círculo de Palestras
(passando pela Escola Menphis) a Ordem Interna.
Apenas o material de Regardie e o Livro da Lei (entre outros poucos), se mostraram
deficientes para o desenvolvimento do grupo. Nesse momento, com página na Internet, o
Círculo Iniciático de Hermes começou a se tornar conhecido. Com o auxílio da grande rede,
podemos até chama-la de arquivo Akásico, mais material foi chegando. Contatos com
outros grupos de Thelema finalmente foram feitos. No final de 1999, a Hermetic Order of
the Golden Dawn reconhece as atividades do C:.I:.H:. (não sem bastante luta para aceitar o
contato do C:.I:.H:. com Thelema e Magick) como sendo o braço da G:.D:. no Brasil.
O gosto por Thelema aumenta no grupo. São realizados contatos com pessoas ligadas
ao Kalifado e a ordens não vinculadas ao Kalifado. Ainda sem tomar uma posição, o
C:.I:.H:. começa a ter vida própria, isolado (ainda nesse momento) do movimento
Thelemico existente no eixo Rio-São Paulo.
Em 2000, o Supremo Conselho do C:.I:.H:., onde hoje Anderson Rosa ocupa a posição de
Imperator, resolve mesclar definitivamente Thelema com Golden Dawn. Os ritos de uma
com a Magicka da outra. Os Graus de estudo são reestruturados para comportar ambas sem
conflito. No final do ano, o C:.I:.H:. vincula-se a UR-OTO e estreita as relações no eixo
Rio-São Paulo. Hoje o Círculo Iniciático de Hermes possui sua própria linhagem, vinda
desde 1994, que garante a seus membros a fidelidade da ordem para com eles, e vice-versa.
Nos arquivos da Ordem constam todos os membros já iniciados e sua descendência.
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Círculo Iniciático de Hermes
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Embora os resultados possam ser atingidos, nem sempre é pelo mesmo caminho. Segundo os acadêmicos
isso demonstra que a Magia não é uma ciência, o que é um engano. Pois, embora os meios possam variar os
resultados devem ser obtidos da mesma forma. Em outro lugar falaremos mais sobre esses experimentos e
suas variações. Podemos citar aqui à título de exemplo, o trabalho de Armand Barbaux, entitulado “O Ouro da
Milésima Manhã”. Barbaux, segundo o livro, auxiliado por seu filho, conseguiu produzir o ouro potável. O
processo foi bastante simples. Segundo o Mutus Liber (Livro Mudo), o componente principal da Pedra
Filosofal está o tempo todo sob nossos olhos e não o percebemos. Pensando um pouco, Barbaux percebeu que
esse elemento era a terra. Junto então algumas porções de terra, colheu o orvalho noturno (o leite da virgem),
tudo isso sempre seguindo as ilustrações do Mutus Liber. Mas então, se recolher alguma terra, misturar o
orvalho e cozinhá-los como ele fez, eu consigo repetir a experiência? A resposta é um sonoro NÃO. O que
acontece, conforme foi explicado acima, é que Barbaux não pegou terra pura e simples. Ele pegou a terra
magnetizada por determinadas forças planetárias (sob determinados auspícios astrológicos) que já não era
mais terra, mas sim uma determinada energia aprisionada na terra. A mesma coisa foi feita com o orvalho. Os
exemplos que poderíamos dar são muitos, mas acreditamos que apenas esse será o suficiente para os fazer
entender esse princípio.
5)Sexo e Magia
Algumas escolas fazem distinção do sexo (masculino ou feminino). Embora
pessoalmente não concorde com essa distinção ela deve ser respeitada. As escolas que
fazem essa distinção tem regras particulares de conduta, muitas vezes envolvendo
celibato, e normalmente indicam a vida monástica como alternativa de vida.
Pessoalmente não sou a favor dessas escolas, pois elas em última estância elas negam
ao estudante o seu complemento natural (que é o sexo oposto).
Segundo algumas correntes tradicionalistas, o ser humano só é completo quando
encontra sua outra parte (aqui sempre se referindo a uma relação heterossexual) e
consegue levar essa relação adiante. A comparação comum é que no início dos tempos
os dois eram um só, e depois foram separados.
Essa afirmação é concordante com a feita acima no texto, em que o homem busca
seu lugar de direito na hierarquia do mundo, e entre as coisas que deve fazer para
restaurar essa ordem, está a condição de voltar a ser uno. Nos ritos em que acontece
essa separação entre homem e mulher, a reconciliação torna-se impossível, sem ferir a
essência dos ensinamentos. Embora devamos ressaltar aqui que, não havendo essa
reconciliação, o indivíduo fica impossibilitado de ser uno definitivamente.
Os Ritos Unificadores (aqueles que não fazem distinção entre os sexos)
normalmente trabalham as características de ambos, às vezes separado, às vezes junto, e
no final do desenvolvimento, os homens irão desenvolver características femininas, e as
mulheres características masculinas, podendo assumir uma característica andrógina e
até hermafrodita.
7)O Tutor
Qualquer sistema que se preze deverá ter a figura de um tutor. Este recebe em várias
organizações muitos nomes, como: padrinho, tutor, monitor, mestre, etc. Um tutor não
deve ter mais que dois ou três adeptos sobre sua tutela, para que o ensino seja feito com
qualidade. Qualquer número acima disso é um risco assumido pelo tutor e pelo
estudante. Os tutores podem ser de dois tipos basicamente: escolhido pelo estudante ou
sorteado pelo grupo. Obrigatoriamente o tutor é de um grau superior ao de seu discípulo
e é quase exclusivamente sua a responsabilidade do desenvolvimento do estudante. Se o
estudante não atinge as metas estabelecidas para aquele grau, deve -se avaliar: O que
faltou para ele atingir? Ele recebeu as instruções que deveria receber? Praticou-as?
Anotou suas dúvidas? Qual foi sua participação nas atividades do grupo? E assim por
diante. E o tutor tem a obrigação de ajudar seu discípulo a seguir sempre mais alto. O
estudante jamais deve ficar sem uma resposta.
2
Sobre o Karma, iremos publicar em breve um texto entitulado “Novos Estudos sobre a Reencarnação”. Mas
aquele que acredita que está com algum débito kármico, jamais consegue realizar a verdadeira Vontade. Pois,
como fazer a minha Vontade se sobre mim carrego o peso de vidas passadas? Ou ainda: Como fazer a minha
Vontade se posso ter de pagar algo na minha próxima vida? E se não der certo? Esses são problemas que
serão abordados nesse novo ensaio. Acreditamos que o sistema Kardecista desviou do caminho correto os
últimos duzentos anos (mais precisamente 144 anos, se consideramos como início do Kardecismo a primeira
Edição do “Livro dos Espíritos” em 18 de abril de 1857) se de vida oculta no Ocidente. Tal erro só poderá ser
reparado depois de um longo caminho de correção na direção da libertação do Espírito Humano. “Vós sois
livres. Aqueles que dizem em contrário disso, querem apenas aprisionar vossa alma e embaçar vossa
Vontade, impedindo-vos de voar. Ah, Ícaro, como é doce a sensação de voar alto...” – Anderson Rosa
Uma boa escola tenta explorar os vários métodos, de acordo com o material a ser
passado ao estudante. Nesses casos, a figura do tutor é de fundamental importância,
pois ele irá acompanhar de perto o estudante e irá avaliar seu desempenho na
organização.
O Diário
Todo grupo que se preza deve exigir do estudante a manutenção de um diário, onde
serão anotadas todas suas experiências pessoais com a Magia. Esse diário é de uso
exclusivo do estudante, embora possa ser examinado pelo seu tutor ou chefe do grupo
quando necessário. Aconselha -se anotar no diário a data, a hora, o local, e as posições
planetárias do Sol da Lua e o dia da semana, para futura referência.
O Que Anotar?
Tudo é importante. Seja um pensamento, as práticas, um sonho, uma queixa, um
desejo, tudo é importante e deve ser anotado com o maior número de detalhes possível.
O diário deve ser um retrato fiel da anotação a que se refere.
A bem da verdade, a única que merece ser chamada iniciação, é a cerimônia que
marca a entrada do indivíduo no grupo. As conseqüentes são apenas cerimônias de
passagem de grau. Chamá-las de iniciações é dar a elas um status que definitivamente
elas não tem. Ou pior: é ignorar tudo que foi descrito acima.
Se um grupo ou vários não consegue(m) cumprir esses quesitos, então não são
grupos dignos do nome Magia. Na atualidade creio que cabem nos dedos de uma mão
os grupos que conseguem manter essa unidade sem se deixar corromper pelas propostas
“New Age”.
12)Universalidade e Alienação
O Mago legítimo deve dominar o conhecimento de sua época. Deve ter um
conhecimento universal, e não saber um pouco de cada coisa, como costumamos ver.
Esse tipo de atitude só aumenta a confusão e conduz hostes inteiras de estudantes ao
erro, à desgraça e a condenação eterna de suas faculdades mentais. Fazer cursos de fim-
de-semana sobre Kundalini, Tarot, e Wicca (só pra citar os mais comuns), é assinar a
ficha do sanatório. O processo da Magia Wicca não é aprendido num ou mesmo vários
fins-de-semana. É o processo de uma vida. A mesma regra serve para o Tarot e para a
Kundalini. Mexer com essas energias sem estar preparado é como dar a uma criança de
3 anos uma arma carregada e engatilhada. É só esperar pelo inevitável. E depois vem as
lamentações: “Pois é... Essa tal de Magia tem uma carga pesada, um amigo meu ficou
louco.” Ficou ou já era, de mexer com o que não conhecia?
13)Sexualidade e Magia
Como foi dito no início do texto, existem grupos que separam homens e mulheres.
Em alguns os homens mandam e as mulheres obedecem. Em outros o inverso. Na
grande maioria das vezes, essas escolas (admitimos que algumas tem um motivo que
justifique essa conduta) servem apenas para que os opressores do sexo oposto mostrem
suas garras e dominem aqueles que na vida real não conseguem. Ou seja: homens
frustrados com o sexo oposto que tentam dominá-lo pela força, colocando as mulheres
em posição de desvantagem justificada (????) pela Magia. Ou no caso das mulheres,
senhoras e senhoritas que tem dificuldades de relacionamento ou levam uma vida que
não lhes satisfaz em um ou vários aspectos e que literalmente escravizam (em alguns
grupos os homens são realmente denominados “escravos”) o sexo oposto. Tanto no
primeiro como no segundo caso, fica um alerta: É um tipo de relação sado-masoquista,
onde a mulher que procura um grupo de tendência masculinizada na verdade não tem
nada a aprender ali, apenas sofre em silêncio e acha que isso era seu destino. E o
homem que procura um grupo feminilizado também só busca um sofrimento que lhe dá
Conclusão:
Conforme foi dito no início do texto, ele não é definitivo nem tampouco verdadeiro.
Mas serve como uma lâmpada guia na escuridão que marca o caminho das Ciências
Ocultas. Não pretendemos dizer que esta ou aquela organização ou pessoa seja o
“verdadeiro” mestre, mas auxiliar o estudante na tentativa de encontrar um grupo onde
possa realmente se desenvolver sem ter que se preocupar onde estão levando sua alma. Na
próxima parte desse CODEX iremos abordar as diferenças entre Magia Prática e Magia
Teórica.
- Esclareça palavras ou conceitos difíceis: nem tudo vem mastigado. Aliás, o mais
comum em se tratando de textos esotéricos, é a presença de palavras específicas a
um determinado grupo ou assunto, o que exige do estudante um conhecimento
prévio. Se você está estudando para ter esse conhecimento, busque um glossário ou
algo do gênero que possa lhe esclarecer os termos mais difíceis.
- Explicite as entrelinhas: Como no item anterior, determinados autores escondem
muito conhecimento atrelado a experiências práticas. Logo, se você apenas lê o
texto, sem ter realizado algum tipo de experimento, ou conhecer assuntos aos quais
o autor se refere, fica quase impossível saber o que o autor esconde num
determinado livro. Por exemplo: ler livros de Aleister Crowley não faz ninguém um
Thelemita3 de verdade. É muito mais fácil pegar alguns autores anteriores, como
Papus, Eliphas Levi, Francis Barret, assim como um conhecimento mínimo de
mitologia (grega, egípcia e hindú), filosofia, sejam desejáveis. Com esse
conhecimento prévio é muito mais fácil entender os escritos de Crowley. Essa regra
aplica-se não somente a ele, mas a quase todos os autores de ocultismo. Comece
com coisas fáceis e depois procure as mais difíceis. Começar pelas mais difíceis só
vai fazer com que você perca mais tempo tentando decifrar algo que está oculto nas
entrelinhas.
- Situe o texto no meio sociocultural: Não podemos nunca nos esquecer que o autor
de algum livro vivia num determinado local e numa determinada época (condição
espacial e temporal) e que seus textos estão sujeitos não só às condições em que
vivia, como às limitações da época. Em outro lugar comentamos as falhas de
Eliphas Levi e de escritores da época com relação à interpretação dos deuses e mitos
egípcios. Isso aconteceu porque quando esses deuses e mitos foram pesquisados
mais a fundo, esses autores já haviam morrido. Logo, estudar esses textos, sem
2
Hermenêutica pode ser definida como interpretação das palavras, ou como no nosso caso específico,
interpretação dos textos sagrados.
3
Thelema é a palavra grega que quer dizer Vontade. É aplicada no caso de Crowley como sendo a verdadeira
Vontade, conforme é descrita no Liber Al Vel Legis, Sub Figura 220, ou Livro da Lei (como é conhecido).
Thelemitas são aqueles que adotam o Livro da Lei como regra de conduta.
Saber o que ler ou não, pode economizar muito tempo e dores de cabeça ao estudante.
Existem pessoas que são consumidores (ou melhor compradores) compulsivos de livros,
cds, arquivos de internet e outras coisas. Mas se questionadas sobre o conteúdo daquilo que
adquiriram, nem sequer sabem a que se refere o dito livro. Daí, presume-se que estão
comprando o livro pela capa. É preciso ler com qualidade.
Se formos atrás do que os leitores andam lendo, chegaremos à conclusão de que o
ocultismo não deve ser realmente levado à sério. A falta de critério na escolha dos livros
beira o absurdo. Quando é feita a fatídica pergunta: “O que você gosta de ler?” , a resposta
quase sempre é um trágico: “leio de tudo um pouco”.
À primeira vista posso estar parecendo um tanto radical, mas vamos a um exemplo: o 7
é um número sagrado, entre outras coisas, porque representa as 7 entradas do espírito: 2
olhos, 2 narinas, 2 ouvidos e 1 boca.
Logo, o que entra por uma dessas portas, atinge diretamente o espírito.
Seguindo: se pergunto “O que você gosta de comer?”, alguns até podem responder:
“Como de tudo, exceto isso, aquilo e aquele outro”. O que demonstra algum tipo de filtro,
porque ao se comer realmente de tudo, você pode comer algo que não lhe faça bem. É
preciso ser mais claro?
Agora, quando se diz: “Leio de tudo...”, muitas vezes alimentamos o espírito com o que
não se deve, indo de receitas da Dona Benta à Bíblia Satânica.
Voltamos ao princípio: “Não ler, mas escolher”.
Faça a si mesmo essa pergunta: “Se não como porcaria, porque leio porcaria?”
Um estudo teórico com qualidade, pode ser fonte de profundas reflexões e conclusões,
quase tão profundas e válidas como pelo processo prático.
As Anotações
“Lectionem sine calamo temporis perditionem
puta”
“Leitura sem caneta reputa perda de tempo”
Tudo deve ser anotado. Se algo chamou sua atenção ou não ficou muito claro, anote.
Se foi importante, será uma ótima referência futura. Se ficaram dúvidas, podem ser
esclarecidas mais tarde.
Os símbolos são elementos criados pelo homem para expressar algo superior a ele
mesmo, aquilo que pertence à ordem transcendental. Porém, aquele que baseia seu estudo
apenas pelo estudo dos mitos e símbolos, afasta-se da verdade.
A psicologia e a psicanálise limitaram os símbolos tradicionais como expressões do
inconsciente ou do subconsciente, entendendo-se subconsciente como o conjunto dos
prolongamentos do inconsciente4. Atribuir símbolos tradicionais ao subconsciente é
demonstrar a falta de conhecimento da estrutura da mente humana. O supraconsciente é o
4
Conforme cita Guénon no seu texto “Tradição e Inconsciente”, publicado na revista Études Tradicionalles,
jul. – ago. 1949.
5
Sobre o significado da palavra Tradição, veja o CODEX 01 – O C:.I:.H:. Não é Uma Religião.
6
Rosa, Anderson – Taro t o Templo Vivente – Um Guia Seguro para o Tarot de Crowley Associado à
Qabalah e à Astrologia, Curitiba, 2000.
A Magia Prática
A Magia prática é talvez o meio mais difícil de se estudar magia, pois ele não exclui o
estudo teórico, mas inclui o mesmo na sua razão de ser.
A Magia prática pura, atualmente é extremamente rara e muito difícil de ser
encontrada. Sua compreensão baseia-se numa visão mágica do mundo. Ao contrário do que
se pode pensar num primeiro momento, não é uma visão anímica do mundo, como poderia
definir Freud, mas a compreensão que o universo como um todo pulsa e transpira vida,
mesmo na morte. Os magos antigos tentaram explicar essa percepção através da criação de
mitos, e enganam-se aqueles que nisso tem uma percepção rasa que eles significariam
energias da natureza.
Conceitos puros de um universo vivo são abstratos demais no entanto, sendo
necessário vestí-los com uma roupagem mais facilmente aceita por nossa mente objetiva.
Os mitos verdadeiros (aqueles que são fruto de uma percepção do espírito) são universais e
7
Aqui utilizamos um texto do Ir. Marcelo Motta, que acreditamos sintetizar aquilo que é necessário saber
sobre o estudo dos símbolos.
a) Alguma vez já tentei observar o movimento das estrelas durante seu curso pela abóbada
noturna e consegui identificar pelo menos um planeta?
b) Sou capaz de identificar as fases da lua sem recorrer a uma efeméride ou a um
calendário?
c) Qual é o signo que ascende no horizonte exatamente neste momento? (Olhando para o
horizonte sem qualquer instrumento).
d) Sou capaz de identificar a constelação do meu signo solar?
e) Quanto tempo passei no último ano olhando a dança dos astros?
A lista segue...
Não vamos nos deixar enganar e dizer que a teoria não tem validade, porque tem. E
muita. Veja o texto mais acima, de como estudar a teoria. O que devemos perceber é que
muitas pessoas confundem a teoria com a prática. Isso deve ser mudado.
A prática da Magia pode ser entendida como a observação da natureza. Não quero
que isso seja entendido como é atualmente, que a magia da natureza é sair por aí abraçando
árvores e pisando descalço na grama. O processo todo demanda num longo processo de
observação das coisas da natureza:
- Plantas. Suas cores, seu crescimento, a energia que delas emana, etc.
- Astros. As estrelas, planetas, seu movimento e sua influência.
- Animais. Reprodução, crescimento, grupos, etc.
Conclusão:
Conforme foi dito no início do texto, ele não é definitivo nem tampouco verdadeiro.
Mas serve como uma lâmpada guia na escuridão que marca o caminho das Ciências
Ocultas. Não pretendemos dizer que esta ou aquela organização ou pessoa seja o
“verdadeiro” mestre, mas auxiliar o estudante na tentativa de encontrar um grupo onde
possa realmente se desenvolver sem ter que se preocupar onde estão levando sua alma. O
melhor guia em ambos os casos, na Magia Teórica e na Magia Prática, é o bom-senso. No
próximo Codex iremos abordar o espinhoso tema do Karma.
Sobre o Diário
Todo grupo que se preza deve exigir do estudante a manutenção de um diário, onde
serão anotadas todas suas experiências pessoais com a Magia. Esse diário é de uso
exclusivo do estudante, embora possa ser examinado pelo seu tutor ou chefe do grupo
quando necessário. Aconselha -se anotar no diário a data, a hora, o local, e as posições
planetárias do Sol da Lua e o dia da semana, para futura referência.
O Que Anotar?
As Anotações
“Lectionem sine calamo temporis perditionem
puta”
“Leitura sem caneta reputa perda de tempo”
Tudo deve ser anotado. Se algo chamou sua atenção ou não ficou muito claro, anote.
Se foi importante, será uma ótima referência futura. Se ficaram dúvidas, podem ser
esclarecidas mais tarde.
Essas regras baseiam-se exclusivamente num estudo teórico, baseado em material escrito.
Para outros métodos, deve-se adequar essas regras.
O estudo teórico da Magia é a base para uma boa prática. É comum ver pessoas que
menosprezam o estudo teórico como se essa classe de estudante fosse possuidora de alguma
A Obrigatoriedade do Diário
O Diário não é uma questão de vontade. Pra começo de conversa: como o estudante espera
validar quaisquer de suas práticas, sendo que o método usado para validar a magia é
empírico, sem qualquer anotação que comprove as mudanças ou que forneça dados
consistentes sobre sua evolução?
O diário deve ser a parte, anotado com cuidado, num caderno especialmente preparado para
isso. Uma das opções mais práticas para um Diário é usar um caderno do tipo fichário, com
folhas soltas que podem facilmente ser mudadas de posição para se incluir algo entre elas,
como uma gravura, por exemplo. Outra opção pode ser a utilização de um Caderno Ata
com folhas numeradas.
“...A caligrafia do Livro deve ser firme, clara e bela. Na fumaça do incenso é difícil ler os conjuros.
E enquanto tenta ler as palavras por entre a fumaça, ele desaparecerá, e terás de escrever aquela
terrível palavra: Fracasso.
Mas não existe nem uma só folha do livro na qual não apareça esta palavra; mas enquanto é
seguida por uma nova afirmação, ainda nem tudo está perdido, já que desta maneira no Livro a
palavra Fracasso perde toda a sua importância, da mesma maneira que a palavra Êxito não deve
ser empregada jamais, porque esta é a última palavra que deve-se escrever no livro, e é seguida
por um ponto.
Este ponto não se deve escrever em nenhum outro lugar do Livro; porque o escrever neste Livro
segue eternamente; não há forma de encerrar este diário até que haja alcançado a meta. Que cada
página deste Livro esteja repleta de música, porque é um Livro de Encantamentos!” - Magi(K)
Dos Objetivos
Abaixo segue um trecho do Liber E. Essas regras são as que adotamos de comum acordo
entre o Conselho. Desrespeitar essas regras é cobrar dos outros aquilo que nós não fazemos.
O Diário, a partir do Artifex é um dos itens principais da passagem de grau. Somente as
anotações realizadas serão consideradas, seguindo o protocolo do Diário descrito
anteriormente. Não serão aceitas afirmações verbais. Elas se espalham no vento. Sem
diário, sem passagem de Grau. Isso vale para todos. Desde o Supremo Conselho até o
Neófito, sem exceções.
Desconsiderar esse trabalho é ignorar tudo aquilo que fazemos como estudiosos do oculto.
SVB FIGVRA IX
Publicação Classe B
4) Ordens de tradição secundária e ordens sem tradição alguma. Segundo René Guénon,
as tradições primárias são aquelas que nos conectam a um Centro Supremo2 e as tradições
secundárias são aquelas que estão subordinadas à primeira, cumprindo o papel de guardiões daquela
primeira evitando que ela se perca para sempre. Atualmente podemos dizer com uma grande
margem de segurança que não atuam em nosso planeta ordens de tradição primária, visto que essa
não possui organização ou corpo físico que a represente, estando num nível diferenciado de
existência e é representada por uma ordem secundária, mas que infelizmente, também não atuam no
mundo contemporâneo.
O que é Iniciação
Podemos definir a iniciação como “um evento físico que tenta refletir um evento
espiritual”. Ou ainda como “um evento físico que reflete uma ruptura espiritual”. O que é então
um evento ou ruptura espiritual? É mais simples do que se pensa. Um evento ou ruptura espiritual é
algum fato importante ocorrido na vida de uma determinada pessoa e que muda para sempre esse
indivíduo. A partir do momento em que ocorre essa ruptura, ocorrem profundas mudanças que a
partir daí moldarão um novo caráter no indivíduo.
Essas rupturas acontecem na maior parte dos casos naturalmente. Ao contrário do que se
pensa, as iniciações acontecem na maior parte das vezes, na vida diária e não em um templo ou
numa organização. As chamadas rupturas espirituais são marcas, ou melhor características surgidas
em nosso desenvolvimento pessoal. Somos influenciados em nossa vida pelo ambiente que nos
rodeia. É impossível dissociar o ambiente do indivíduo, pois nenhum homem é uma ilha. E mesmo
que o fosse, seria influenciado por correntes distantes. Embora nem todas as mudanças possam ser
2
Analogicamente, do ponto de vista cosmogônico, o “Centro do Mundo” é o ponto original em que é
proferido o Verbo Criador, assim como o próprio Verbo.
Da Iniciação
Por vários séculos, o tema iniciação foi exaustivamente abordado, mas não esgotado.
Psicólogos, místicos, antropólogos, filósofos e mais uma quantidade expressiva de profissionais
vasculharam o assunto, mas sem responder o que de fato acontece, ou mesmo o que realmente é
uma iniciação.
O mesmo será complementado na medida em que for necessário, até que consiga responder
adequadamente às perguntas dos estudantes que nos procuram. Sua distribuição é autorizada desde
não haja alteração em seu conteúdo (pois é um texto de Classe A), só podendo ser distribuído
integralmente e que seja citada sua fonte.
Nesse ensaio, tentaremos abordar o tema, usando palavras e exemplos claros, que definam o
fato para o leigo e para o buscador. Para chegar ao tema iniciação, devemos antes esclarecer alguns
pontos obscuros que permeiam essa questão.
2) Pode -se chegar a ser um iniciado sem pertencer a uma ordem esotérica? Sim. Embora
muitos iniciados tenham vínculos diretos com alguma escola dita iniciática, outros sempre se
mantiveram à margem ou totalmente isolados. Um ótimo exemplo desse isolamento é Merlin, mago
e conselheiro do Rei Artur. Na versão original da história (Morte D’Artur – Sir Thomas Malory,
1485, Caxton), Merlin seria o filho de uma bruxa com um demônio, lembrando os Nefilim
bíblicos1 ... Alguns escritores modernos querem fazer dele um druida. Aqui devemos lembrar que
nunca se encontrou qualquer fonte que comprove essa teoria. E que o druidismo nunca deixou
qualquer testemunho escrito que ateste o fato, nem mesmo sua forte tradição oral.
Essa tentativa de trazer Merlin ao druidismo é fruto do revival pagão a partir da segunda
metade do séc. XIX. Nada melhor publicitariamente falando, que trazer o mais ilustre dos magos
(mesmo sendo uma lenda) da Idade Média às suas fileiras (do neo-paganismo).
Além de Merlin podemos citar inúmeros pseudo-iniciados em ordens esotéricas, e que não
possuem qualquer comprovação documental. Para citar alguns: Moisés, Akhenaton, Francis Bacon,
Thomas Edson, Napoleão, Salomão e até Jesus. A lista é quase infinita. Alguns desses podem ter
feito parte de alguma organização esotérica, mas o que é certo é que nunca fizeram parte das
organizações que usam seus nomes e obras como item publicitário.
3) É possível ser auto-iniciado? Sim. Mas antes de comentar isso, é preciso estabelecer a
diferença entre ser auto-iniciado dos iniciados automaticamente. Hoje em dia, com tantos self -
services, temos também self -iniciados... Embora a distinção seja bastante óbvia, nunca é demais
comentar. O auto-iniciado é aquele que após algum momento marcante na sua trajetória de vida,
percebe-se com uma nova identidade, muitas vezes oposta ao comportamento que levava antes do
“trauma”. Entre esses, podemos citar, por exemplo, Gandhi, que era um jovem com uma promissora
1
Os Nefilim seriam os filhos de mortais com seres celestes, e são citados na Bíblia em Gen. 6, 4. Seriam os
Gigantes, ou Titãs Orientais.
Dificilmente. Mas na maioria dos casos uma indica a proximidade da outra. A iniciação
efetiva pode acontecer um pouco antes ou um pouco depois da iniciação ritualística. Isso pode ser
confirmado pelo axioma que a iniciação ritualística é um reflexo3 de um evento espiritual.
Entretanto, devemos alertar que não existe uma obrigatoriedade de relação entre um evento
espiritual e uma iniciação ritualística.
Sim. Embora não exista nenhuma limitação efetiva, sugerimos que se evitem iniciações
abaixo de 18 ou até 25 anos e acima dos 50. Por que? Uma pessoa que se encontra abaixo de 18
anos, ainda não possui vivência suficiente que lhe ofereça subsídios suficientes para elaborar uma
ruptura desse nível, embora existam exceções. O oposto ocorre acima dos 50. Alguém que já atingiu
essa idade, na maioria dos casos, já foi moldada pela vida e possui uma sabedoria interna que lhe
atende em quase todos os casos.
No caso de um jovem ser iniciado num grupo esotérico, isso deverá servir como um meio
de melhor orientar o desenvolvimento do jovem na direção correta. Mas devemos alertar que essa
orientação não seja uma canga, ou cabresto que se sobreponha à vontade do estudante. Nada há
mais perigoso que a restrição. Muitas vezes a restrição é usada como sinônimo de disciplina, o que
é um erro. A disciplina refere-se ao modo de se realizar algo, enquanto a restrição limita os atos do
espírito.
No caso de uma pessoa com mais de 50 anos, o processo deve ser de correção de rota,
arrumando aqui e ali o que o hábito fez crescer errado. Na maioria dos casos, o mestre ou a ordem
fará o papel de um jardineiro que acerta “as pontas” para a planta florir devidamente. Em alguns
casos, essa poda pode significar a derrubada de galhos inteiros, na tentativa de salvar o resto da
planta.
3
Enquanto reflexo, indica proximidade do objeto refletido. Nesse caso, uma ruptura espiritual.
Essas rupturas são marcadas por momentos de grande tensão na vida. Segundo alguns
psicólogos, as principais dores que um ser humano médio suporta durante sua vida são: 1º a perda
de um ente querido (cônjuge, parentes, amigos, etc.), 2º o desemprego e 3º a separação de um casal.
Aqui já temos alguns pontos que poderiam ser definidos como “iniciações”, já que após sua
ocorrência, o ser humano nunca mais volta ao estado anterior. No caso das mulheres, podemos
ainda acrescentar como momentos verdadeiramente iniciáticos a perda da virgindade e o
nascimento de um filho. São momentos bem definidos fisicamente, já que a iniciação é marcada
por um evento físico, e que depois deles, nada mais é como antes. A iniciação é um caminho sem
volta.
O melhor exemplo para definir uma ruptura espiritual talvez seja o nascimento do primeiro
filho. A mulher nunca mais será a mesma depois da gestação, mesmo que não lhe nasça o filho
(aborto natural ou induzido). Para um casal, o nascimento de um filho é o ponto de partida de um
novo estágio no relacionamento. Um belo dia, embora esperado, surge um novo ser, que nunca mais
irá embora (pelo menos por um bom tempo).
Quase todas as religiões marcam a existência do ser humano em períodos que representam a
evolução espiritual do ser. Nascimento, casamento, morte, são momentos espirituais que mudam a
pessoa em antes e depois do evento. A Igreja Católica, por exemplo, nos diz que existem 7
momentos importantes na vida. São eles: batismo, crisma, eucaristia, confissão, ordenação,
matrimônio e unção dos enfermos. O que é um sacramento segundo o catolicismo? Um sacramento
é um sinal corpóreo instituído por Cristo para dar a graça divina. Isso guarda semelhança com a
definição que demos mais acima da iniciação: “um evento físico que tenta refletir um evento
espiritual”.
Antes de tentar se fazer qualquer distinção, é necessário se perguntar qual o real objetivo de
uma iniciação esotérica. As iniciações em grupos podem ser de dois tipos: aquela que marca a
entrada de um novo membro no grupo, ou aquela que tenta reproduzir essa ruptura espiritual. O
primeiro caso é o que acontece na esmagadora maioria. O segundo caso, é o que citamos acima,
quando descrevemos as ordens secundárias.
No caso de uma ordem secundária autêntica, o objetivo maior é dar ao estudante
ferramentas para se retornar àquela unidade anterior, onde o Ser Humano era senhor do universo
que o cercava. Toda a estrutura do estudo ocultista tem esse único objetivo: Fazer retornar à
unidade aquilo que se encontra separado. Logo, uma verdadeira iniciação esotérica tenta reproduzir
essas rupturas, como a emoção da morte de um ente querido por exemplo, de maneira artificial.
Uma iniciação desse tipo só tem valor efetivo quando se produz essa ruptura. O grande problema
atualmente, é que a iniciação se tornou tão simbólica, psicológica, que se perdeu a finalidade
primeira. Temos hoje um simbolismo tão longínquo em relação à origem, que sequer nos
lembramos dela. Não basta apenas ser uma ruptura simbólica. Tem que ser uma ruptura efetiva,
Mais acima dissemos que as iniciações que realmente importam são aquelas que ocorrem
naturalmente na vida. Se assim é, qual a utilidade de uma iniciação num grupo esotérico? Essa
iniciação, quando bem realizada, ajuda o estudante a adquirir um maior controle de sua vida e num
curto espaço de tempo realizar aquilo que levaria um grande período de tempo para ser feito. Isso
nos remete ao papel de uma organização esotérica, que é o de orientar o estudante, e não de viver
por ele.
Logo, iniciar ou não numa ordem esotérica é algo que deve ser avaliado pelo próprio
estudante. A única observação que fazemos é que o buscador não se ache auto-suficiente em todas
as instâncias. Perceber suas limitações é o primeiro passo para superá-las. A entrada numa ordem,
pode facilitar o surgimento das rupturas espirituais. Isso é o esperado. Se não acontece, a ausência
de mudança é um indicador de fracasso.
O que o estudante não deve jamais esperar, é que após a iniciação, ele solte raios pelas
mãos ou ache pessoas e objetos perdidos. Esse não é o objetivo final da iniciação.
Conclusão:
Diante do exposto, podemos perceber que a iniciação numa ordem esotérica, só tem valor se
estabelece um paralelo com as iniciações ocorridas em determinados períodos de vida. Atualmente
não existem organizações de Tradições secundárias, capazes de realizar uma ruptura espiritual por
meios artificiais. O melhor meio de ser iniciado é viver a vida em sua plenitude, sabendo observar a
cada momento, as mudanças ocorridas, que podem ou não ser geradas por fatores externos.
Qualquer grupo que se pronuncie como iniciador, deve obrigatoriamente ser capaz de reproduzir em
ritual essas rupturas. Se elas não acontecem, o ritual é inválido. Acreditar que é superior ás
circunstâncias e que não precisa ser iniciado em lugar nenhum é o primeiro passo para uma queda.
Entregar-se cegamente a um grupo qualquer, também é uma queda. Qualquer grupo que exija
cumprimento cego às suas exigências é um grupo de escravocratas espirituais.
As outras partes desse CODEX podem ser encontradas em: www.rosacruz.com.br
Essa parte do CODEX 06 – Como se Estuda Magia, tem como principal objetivo fornecer
explicações sobre a natureza, hierarquia e trabalho das ordens esotéricas. O que falaremos a seguir
não é definitivo nem aplicável em todos os casos. Mas certamente, serve de guia para a grande
maioria das chamadas Ordens Esotéricas. À medida que novas informações sobre o tema forem
surgindo, esse Codex será ampliado e atualizado, de forma a atender as necessidades dos estudantes.
Dica: Este documento deve ser lido em parceria com o Codex 01 – O CIH Não é uma
Religião, a primeira parte do Codex 06 – Como se Estuda Magia e com o Codex 02 – Legitimidade
das Ordens Esotéricas.
Percebe-se ainda no segundo caso, uma certa hierarquia, embora menos evidenciada ou
valorizada publicamente que a primeira opção. De toda a forma, alguns pontos devem ser
considerados para uma melhor compreensão do tema:
1) Qualquer um dos dois métodos acima estabelece uma rígida disciplina para o
estudante. Nenhuma ordem esotérica é uma democracia. Embora muitos grupos se
digam abertos e democráticos, na prática o que acontece é que os graus superiores
ou chefes da ordem são as cabeças que realmente decidem a evolução da mesma.
Isso pode parecer complicado e até enganoso, mas deve -se entender aqui que a
priori, o fundador (ou fundadores) do grupo são pessoas que já trilharam o
caminho que agora propõe como eficaz e portanto, estão aptos a tomar decisões
que prevalecem sobre as escolhas do grupo como um todo.
É muito comum na atualidade se ouvir falar em ordens externas que captam um número muito
grande de membros que depois são filtrados para adentrarem nas ordens denominadas internas. O
que isso quer dizer?
Av. Visconde de Guarapuava, 3950 Ap. 03- Curitiba - Paraná
Fone/Fax: (041)323-4299 E-Mail: goya@rosacruz.com.br
Círculo Iniciático de Hermes
Da mesma forma que não existem meios de se chegar a um esoterismo sem passar por um
exoterismo 1 , não há meios de se tornar membro de uma ordem interna sem haver passado antes por
uma ordem externa. O caso mais famoso dessa regra é o rosacrucianismo. Devido ao mau uso do
termo “Rosacruz” por ordens espúrias, tem-se atribuído a essa palavra o valor de uma ordem.
Rosacruz é uma palavra que designa um Grau obtido dentro de uma Ordem Interna, e não uma
organização. É um disparate usar essa palavra de forma tão errada como tem sido feita nas últimas
décadas. É bem sabido entre os iniciados que o uso indevido do termo rosacruz indica a falta de
seriedade de ditas organizações, que tentam se promover abusando da ignorância dos estudantes.
Como foi dito em outro lugar2 , uma pessoa pode ser um rosacruz sem nunca ter passado por uma
Organização dita como tal. Logo, rosacruz se refere a um Grau atingido pelo indivíduo na sua
evolução pessoal, e não a uma organização específica.
O Círculo Iniciático de Hermes pretende com suas práticas, auxiliar seus membros a atingirem o
Grau de Rosacruzes, mas o C:.I:.H:. não é um grupo rosacruz como as citadas ordens acima, que
iniciam membros baseados numa mentira. Quando usamos o termo rosacruz publicamente estamos
expressando nosso mais íntimo desejo, de nos tornarmos rosacruzes pela nossa evolução, e não em
benefício próprio.
É um clichê bastante batido, mas que goza de grande popularidade. Quanto menor o número de
membros melhor é o grupo. Mas será isso verdade, ou aquilo que é válido? Nem sempre. O que
acontece é que muitas vezes grupos pequenos são tão mal organizados quanto os grandes e o
estudante é quem sofre com isso. O melhor nesse caso é que cada grupo buscasse um ponto de
equilíbrio entre quantidade e qualidade. Os estudantes deveriam poder optar por grupos bem
estruturados3 que possam realmente levar a algum lugar, além do bolso de uns poucos.
Quem se apóia na premissa que quanto menor melhor, acredita em conversa de desocupados,
que preguiçosamente se espraiam nas estradas da vida, fazendo os incautos estudantes acreditarem
que a estrada é que corre enquanto o estudante fica parado. Menos pessoas significam menos
trabalho. E é bastante óbvio que muitos usam o esoterismo para esconder sua incompetência em
outras áreas da vida. O verdadeiro mestre havendo necessidade cria condições para melhor atender.
Ele não limita os membros. Expande a si mesmo se necessário for.
1
Ver o CODEX 01 – O CIH Não é uma Religião.
2
Ver o CODEX 03 – A História do Rosacrucianismo.
3
Leia-se aqui bem estruturado não apenas como grupos organizados financeiramente ou que ostentam arquiteturas
fabulosas. Isso só faz bem ao olho, mas se o material e a orientação dadas ao estudante não forem de boa qualidade, o
dinheiro não o fará. Dinheiro não compra a evolução de ninguém. Grupos bem estruturados são aqueles que oferecem ao
estudante um suporte na hora em que isso for realmente necessário. Voltando a analogia da estrada, onde você se sente
mais seguro? Numa estrada de terra mas que conduz a algum lugar de forma segura, onde você encontra poucas
referências mas úteis para conduzi-lo a seu destino, ou numa estrada bem cuidada, com muitos avisos mas que na
verdade não lhe dão a informação que você precisa?
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Círculo Iniciático de Hermes
Acreditar que apenas os grupos menores sobreviverão é condenar a magia ao esquecimento. É
fazer o jogo do adversário. É se colocar numa posição de recuo e permanecer acuado, fazendo o
oposto da proposta mágica, que é fazer o homem retornar ao seu lugar de direito, como senhor da
Criação. Acreditar que poucos serão os escolhidos é negar a humanidade esperança de salvação, já
que a mesma agora é tragada junta naufragando com as religiões estabelecidas pelos irmãos negros.
A Lei é para todos. Nesse ponto, mesmo o profeta se enganou4 , pois ele ignorava aquilo que estava
acima dele.
Conclusão
Podemos concluir pelo exposto acima, que muito se tem falado sobre ordens esotéricas e seu
trabalho, mas pouco de esclarecedor pode ser realmente filtrado pelo estudante comum, pois muitos
não sabem ler as entrelinhas de tão intricada estrutura. Se filiar a uma ordem esotérica muitas vezes
acaba sendo a maneira menos traumática se estudar esoterismo, embora não seja a única, nem
tampouco a melhor. Os estudantes que lerem essas linhas poderão usar esse conhecimento para
saber qual é seu caminho pessoal. Não desejamos com isso engrossar nossas fileiras, mas sim
esclarecer aqueles que ainda sonham com ordens que caem do céu e com super-magos. Magos esses
que são incapazes de mudar a si mesmos, quanto mais mudar a realidade a seu redor. As outras
partes desse CODEX podem ser encontradas em: www.rosacruz.com.br
Em L.L.L.L.,
Fr. Goya
4
Referência feita a Liber Al Vel Legis – SVB FIGURA CCXX - I,10 “Que meus servidores sejam poucos e secretos,
eles regerão os muitos e os conhecidos”.
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Círculo Iniciático de Hermes
CODEX HERMETICUM 06d – Publicação Classe A
Cada Codex produzido por mim para os estudantes e curiosos da magia tem como objetivo
principal responder a questões que são mais freqüentes e que muitas vezes não são respondidas
prontamente ou ainda são desvirtuadas pela grande maioria dos autores. Não buscamos de forma
alguma sermos a principal fonte ou a melhor, mas desejamos sim, ser uma fonte organizada o
suficiente para que o estudante encontre nela ao menos o início de suas pesquisas.
Especificamente hoje, conversei algum tempo com um Frater de nossa ordem e falávamos
principalmente sobre as falhas e dificuldades existentes no caminho do magista. Devo alertar aqui
que nosso Frater já tem algum tempo de ordem e que essas questões surgiram depois de muito
tempo de conversa, seguindo uma linha de pensamento que nem sempre é a primeira, ou aquela que
surge nos primeiros passos no caminho. Ele mesmo experimentou diversas vicissitudes antes de
surgir a pergunta na sua mente. E a pergunta foi:
No início de sua jornada, e em quase toda ela, para ser mais sincero, ocorrem o que
denominamos ordália. Quando alguém decide viajar conscientemente nos Caminhos do Dragão1, ela
tende a acelerar o que seria o caminho natural em seu desenvolvimento. Como exemplo, podemos
dizer que fatos que deveriam ocorrer num prazo natural de 10 anos podem ocorrer em dois. Isso
assusta a maioria dos estudantes, que se vêem inundados por situações que parecem cair do céu.
Mas podemos adiantar que isso é justamente um estímulo, pois ao findar esse processo, ele saltará
de nível de consciência, se vendo livre daquilo que futuramente iria lhe atrapalhar.
A grande questão que acaba surgindo daí, é que muitos estudantes, quase todos na verdade,
se vêem em constantes ordálias ao longo de sua jornada. Mas se logo acima afirmei que se veria
livre delas, como isso acontece? Em verdade, é preciso avisar que as ordálias vão se sofisticando e
mudando de natureza na medida em que o estudante também evolui. Ou seja, cada grau possui suas
ordálias específicas, inerentes a ele.
Mas muitos estudantes, devido ao sistema vigente na maioria das escolas esotéricas2 , são
apenas “passados” de grau, ou seja, é um ritmo quase automático, sem qualquer critério sério, que
realmente verifique se o estudante se encontra realmente apto a passar a um novo estado de
consciência. Logo, o que acontece, é que a maioria das ordens e grupos de estudo não se preocupa
com o estado real do estudante e sua evolução, se omitindo por completo do seu desenvolvimento.
Ou seja, muitos daqueles que supostamente estão em graus avançados de determinadas ordens
1
Ver o Codex 13 – O Mapa da Consciência, disponível em http://www.rosacruz.com.br .
2
Ver o Codex 02 – A Legitimidade das Ordens Esotéricas, disponível em http://www.rosacruz.com.br .
http://www.rosacruz.com.br - E-Mail: goya@rosacruz.com.br
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apenas acumulam ordálias ao longo do tempo de estudo. Isso pode ser facilmente verificado quando
muitos religiosos e críticos ao movimento esotérico argumentam que “a magia só atrapalha a vida.
Foi só fulano ou cicrano se meter com isso que a vida dele ficou cheia de problemas”.
Por outro lado, tem os depoimentos de religiosos que argumentam a seu favor: “Bastou eu
negar a magia, abraçar Jesus (ou Buda, Maomé, ou qualquer outra religião), e minha vida andou
pra frente”. Ou ainda: “Esses crentes fazem as coisas por pura fé em Deus e FUNCIONA!”.
Deveria ser exatamente assim com magia. Mas o Aprendiz começa a achar que entende o
mundo, que é tudo puro pensamento, e que basta pensar. Enquanto o aprendiz pensa, o crente3 faz.
Eis aí o segredo do sucesso deles.
Os Aprendizes passam muito tempo tentando entender o universo. Enquanto isso, o crente
diz: “Deus está ali? Ok, vamos lá”. E faz acontecer. Enquanto isso, os Aprendizes magistas ficam
discutindo ainda se precisa ou não usar arma, ou ainda, senão é tudo psicológico.
O crente vê alguma coisa com o canto de olho, e ou é Jesus ou Satanás. O Aprendiz pata-
tenra, vê com o canto do olho, e acha que é a visão periférica, que é alguma manifestação da psique
dele, ou que estava com sujeira no olho. Fica mais preocupado em negar do que em resolver.
Esse é o maior segredo da magia ocidental. FAZER. Se o Aprendiz passar mais tempo
FAZENDO do que JULGANDO, ele perceberá que o caminho fica extremamente mais fácil de se
conduzir.
Falta de motivação
Quanto mais o estudante caminha, quanto mais ele avança, mais motivação ele precisa,
embora devesse ser ao contrário. Com o passar do tempo ele deveria se sentir mais motivado, mais
empolgado, mas na verdade, mais ele se sente cansado e desestimulado. O fardo parece pesar sobre
ele.
Costumo comparar esse trecho da jornada como se estivesse voltando por um caminho que já
se seguiu anteriormente. Quando se faz uma jornada, o caminho de ida pode ser doloroso, mas o que
poucos pensam é que é preciso VOLTAR. Quando se faz o caminho de volta, a distância parece ter
dobrado de tamanho. Por que isso acontece? Justamente porque o corpo está cansado da caminhada.
Os estudantes costumam subestimar as coisas, ignorar o Dragão Serpente4 . Parece que as
coisas mais simples da vida ganham um novo sentido e ficam muito mais complicadas. Será isso
uma verdade?
Não é mais difícil, mas sim, muito mais fácil. O que acontece então? Por que tudo parece
mais complicado?
Todo Aprendiz (ou Neófito) de magista se acha bom demais, acha-se grande como vida,
conhecedor da sua Verdadeira Vontade5 . Acha-se bom o suficiente para fazer as coisas sem
supervisão. Mas o que acaba acontecendo? O estudante entra pelo caminho errado e se vê em palpos
de aranha numa tremenda complicação.
3
Usamos aqui o termo crente para designar aquele que possui um sistema firme de crenças, seja de qual religião ele for.
4
Ver o Codex 13 – O Mapa da Consciência, disponível em http://www.rosacruz.com.br .
5
Ver o Codex 08 – O que é Thelema, disponível em http://www.rosacruz.com.br .
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Magia atrai problemas ao estudante?
ORIGEM -> Alguma religião cristã de grande aceitação e tradicional, como o Catolicismo
Romano, o Luteranismo ou a Igreja Batista6. O nosso postulante aqui provavelmente é filho de
pessoas seguidoras da fé, mas como foi batizado ainda criança, muitas vezes está descontente com a
religião de origem, pois esta não lhe responde a contento seus principais anseios.
CAMINHADA -> Normalmente, no Brasil, a porta de entrada é o Espiritismo Kardecista,
ou alguma religião Afro (hoje também influenciadas pelo kardecismo em muitos lugares). Depois,
quando o estudante não encontra amparo em seu desespero nesses lugares, acaba buscando grupos
esotéricos. Quando não avança como imaginava, segue sua busca.
DESTINO -> Deixa a “farsa” da magia7 e se volta para uma solução mais fácil,
normalmente sendo bem recebido em religiões fundamentalistas ou em pseudo-racionalismos, como
ateísmo ou alguma fuga científica. E aí chegamos no ponto que nos interessa:
6
Isso falamos baseados na realidade Brasileira. Em outros países, outros exemplos podem ser tomados.
7
Devemos aqui perguntar se o problema foi a “farsa” mágica ou a “farsa” do próprio estudante, que só buscou uma fuga
fácil pros seus problemas?
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Por que os fundamentalistas conseguem sucesso em suas práticas e o magista não?
Essa questão é resolvida justamente pelo principal ingrediente de toda a jornada. A FÉ. Se
observarmos com calma e clareza suficientes, perceberemos que ao longo da jornada, que leva
muitos anos, pelo menos nessa forma comum, indiretamente, o estudante vai forçosamente
aprendendo o segredo da DISCIPLINA. Depois de tanto tentar de tudo, fazendo mal e porcamente
as práticas, ao longo dos anos aprende que a DEDICAÇÃO pode lhe dar algo que até o momento
não teve. E então, ele se entrega pela FÉ a sugestão religiosa ou científica.
Logo, quando ele aceita sua nova religião com o coração aberto, ele vê se operarem
MILAGRES diante de seus olhos. Será essa nova religião tão forte?
Atualmente muitos dos estudantes recentes de magia, ou Neófitos como são chamados,
tentam trazer um ar de ciência a magia, e ao invés de VIVENCIAR A EXPERIÊNCIA, tentam ver
nela apenas efeitos da psique humana, não passando de um bando de psicólogos safados8 , sem
experiência, técnica ou conhecimento suficientes. Aí justificam tudo que lhes acontece deve ser
julgado e condenado pela sua razão.
A felicidade do crente seja qual for sua religião, é que ele simplesmente tem Fé de que tudo o
que aconteceu foi obra divina, o que nos leva ao próximo degrau de nossa escada.
Podemos concluir então que a FÉ é talvez o primeiro item essencial para o estudo da Magia e
para a vida do ser humano em geral. Se separarmos o ser humano de sua fé, seja ela qual for: fé em
Deus, fé em si mesmo, fé nas ciências exatas, fé na psicologia ou apenas fé na razão, não se pode
retirar a fé sem destruir o ser onde ela habita.
A razão e a civilidade (além das leis é claro) nos impedem de matar outro ser humano. Mas
pela fé um homem pode matar outro ser humano, mesmo que este seja seu filho. Pela fé a
humanidade foi conduzida a momentos de conflito violentíssimos. Podemos citar entre eles:
• A Inquisição;
• A II Guerra Mundial (fé no poder do Estado);
• As atuais disputas por Jerusalém entre Judeus e Palestinos.
Pela fé mudamos o comportamento de uma pessoa, pela fé amamos ou odiamos. Pela fé
fazemos filhos ou os evitamos, pela fé deixamos até mesmo de comer, que a meu ver seria uma
das necessidades mais básicas do ser humano. Pela fé nos deixamos matar9 .
Logo, é a FÉ em algo que nos conduz a um caminho suave e verdadeiro. Seja qual for o
objeto da fé, essa crença é que torna a existência mais suave.
Mas fazer isso não seria ignorar a razão e a inteligência, que é o que nos separa dos animais?
8
Na prática esses pseudo-cientistas-magistas, não fazem bem nem um nem outro. Não sabem o suficiente de psicologia
pra interpretarem o que lhes acontece, não levam a sério o suficiente suas práticas mágicas, e portanto, a todos os lados
(o da psicologia e o da magia), só criam vergonha para os estudantes sérios. Não devemos misturar psicologia e magia,
sob o risco de termos uma magia psicológica ou uma psicologia mágica, o que seria danoso para ambas as partes.
9
Para aqueles que acham essa expressão muito forte sugerimos a leitura da história das religiões e seus mártires. Não
apenas do cristianismo, mas também do islã, do budismo e do hinduísmo.
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Círculo Iniciático de Hermes
Devemos aqui lembrar que a fé não é apenas uma crença pura e simples, mas pode ser
dividida por suas características em diversos pontos como:
Conclusão:
A fé é para o ser humano um artigo essencial durante sua existência, e também para aqueles
que desejam estudar a magia com profundidade. Tentar separar essa fé, conforme descrita acima
dos estudos, tentando dar um ar racional à existência, não é ser racional, mas sim trocar um deus
por outro. E dessa forma, se estaria fazendo justamente aquilo que um homem já condenou num
determinado momento: “Não se pode adorar ao mesmo tempo a dois senhores. Se fazendo isso,
irá se irritar sempre um dos senhores, e o final do adorador é trágico”.
Logo, podemos tentar traduzir a fé como o sentimento de unidade com o universo, seja ela
qual for. Portanto, como diz o ditado: Ora et Labora 10 .
Em L.L.L.L.,
Fr. Goya
Curitiba, segunda-feira, 01 de março de 2004.
Anno IVxi Sol 11° Pisces, Luna 13° Cancer Dies Lunæ
10
Ora e trabalha.
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Círculo Iniciático de Hermes
CODEX HERMETICUM 06 – Publicação Classe E
Quem é o Mestre?
Por definição, Mestre: O que é perito ou versado numa ciência ou arte1 . Portanto, o
Mestre seria alguém que se dedicou a um determinado ofício, ciência ou arte, até atingir um
grau suficiente de instrução que lhe permita ensinar, ou guiar ao aprendiz.
Todo Mestre foi um dia aprendiz. Ninguém nasce Mestre. O aprendizado nunca é
um caminho fácil, mas ao contrário, é um caminho exigente e difícil, cujo preço é para a
maioria das pessoas, impossível de pagar.
Note-se que falamos aqui de um tipo de Mestre específico. O Mestre de uma ordem
esotérica. Supõe-se portanto, que o Mestre ou Guia, tenha passado por todas as trilhas
previamente, as mesmas pelas quais levará seu discipulado. Logo, aqueles Mestres que
levam o título sem ter nada praticado na verdade não se encaixam aqui sendo uma vergonha
para seu discipulado. Mas voltaremos a eles mais adiante. Não percamos tempo.
A Formação do Mestre
Como alguém se torna Mestre? Em tese, qualquer pessoa pode tornar-se um Mestre,
e por vários meios, embora a trajetória seja basicamente a mesma. No processo de
formação do Mestre, nem sempre ele possui a idéia clara de que é um Mestre já no início.
1
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda – Mini Aurélio Século XXI, 2001, Editora Nova Fronteira.
Depois disso, acabam buscando informações por conta própria, sendo difícil
encontrar na história desses estudantes precoces um tutor assim em tão tenra idade.
Normalmente a juventude desses buscadores acaba sendo bastante solitária e até podemos
dizer marginal, pois em grande parte dos casos demonstra um recolhimento voluntário.
Adiante disso, só podemos dizer que normalmente o caminho segue mais tranqüilo,
a menos que ocorra algum tipo de virada na jornada pessoal. Normalmente é difícil que
alguém se torne Mestre além dos 45, 50 anos. Isso nos leva adiante.
Deveria, mas não tem. Muitas pessoas têm o conceito errôneo de que por ser
Mestre, o indivíduo deve ter uma vida perfeita. Devemos aqui lembrar que a pessoa pode
2
Em muitos lugares, os 33 anos adquirem um valor especial, como a idade de Jesus Cristo quando morreu, ou
em Dante, como citamos abaixo. 33 anos era designado como Meio da Jornada da Vida, uma vez que a
expectativa era de 66 anos. Vamos a Dante: “Quando eu me encontrava na metade do caminho de nossa vida,
me vi perdido em uma selva escura, e a minha vida não mais seguia o caminho certo. Ah, como é difícil
descrevê-la! Aquela selva era tão selvagem, cruel, amarga, que a sua simples lembrança me traz de volta o
medo. Creio que nem mesmo a morte poderia ser tão terrível. Mas, para que eu possa falar do bem que dali
resultou, terei antes que falar de outras coisas, que do bem, passam longe.
Eu não sei como fui parar naquele lugar sombrio”. – Dante Alighieri, A Divina Comédia, Inferno.
Mas se ele é Mestre, como não consegue resolver as questões diárias? Não
devemos nos esquecer que um Mestre é alguém preparado para determinadas áreas do
conhecimento. Ele é um especialista, logo, por ser um Mestre no lado esotérico não faz dele
um terapeuta familiar, ou um especialista em finanças. O Mestre é alguém que vive no
nosso plano físico e portanto limitado às nossas leis e regras como qualquer um de nós. A
grande diferença é que ele aproveita muito melhor as chances da sua vida. O verdadeiro
Mestre busca o equilíbrio em tudo o que faz, e o alcança na maioria das vezes.
E como dissemos adiante, nem sempre os familiares (que são os que estão mais
próximos a ele) são Mestres também. Voltaremos a esse tema quando falarmos do
Discipulado.
Sim e não. O verdadeiro Mestre é aquele que possui habilidades teóricas e práticas.
Alguém que sabe passar (logos/teoria) aquilo que se pratica (práxis/prática). Toda prática,
leva ao estabelecimento de uma teoria. Por exemplo, o melhor jeito de bater num prego,
para que consiga pregar no menor número de marteladas possível. Levando assim, à Teoria
do Martelo. Logo, quando for ensinar alguém, vou passar a Teoria do Martelo e a Prática
do Martelar...
A grande dificuldade existente hoje, é que muitas pessoas apenas lêem, não
praticam, e se dizem grandes conhecedores, pois analisaram todas as possibilidades na sua
mente “racional”.
Devemos lembrar que essas pessoas “racionais” são as mesmas que não conseguem
sustentar uma conversa sob qualquer tema até o final, as mesmas que esquecem metade da
lista do supermercado, e as mesmas que tem dificuldades nos caixas eletrônicos. Sendo na
verdade, racionais de meia-tigela, que querem bater num determinado artista na rua porque
o personagem dele é mau na novela, e é a mesma pessoa racional que se diz elevada
espiritualmente e espanca os filhos quando chega em casa nervosa do trabalho. E se dizem
racionais...
Tradicionalmente existem pelo menos dois tipos de Mestre. Existe o Mestre Secreto
ou Desconhecido e o Mestre Conhecido.
Muitos adoram usar o termo Mestre como alguém inacessível, porque é importante
para eles justificarem sua incompetência em seguir qualquer estudo diligente seja sozinho
ou em grupo. Logo, ele cria uma figura idealizada de Mestre Oculto, distante, invisível e
em outro plano, porque é incapaz de admitir a si mesmo que apesar de ser um incompetente
total naquilo que se propôs, outros podem ser bons alunos e praticantes, chegando a algum
tipo de mestria de fato.
Com relação a pseudos-mestres, eu não me preocupo com eles, uma vez que
também é cheio de pseudo-alunos. E aqueles que se mostram, talvez seja importante
considerar: A missão de alguns pode ser justamente a de aparecer ao maior número
possível, para que as pessoas possam ser encaminhadas. Talvez essas pessoas não sejam O
3
Escrita com 'e' minúsculo, egrégora é a alma coletiva, feito da multidão de almas humanas, nas quais ela
repousa e sem as quais cessaria de existir. Comumente falando, toda forma de coletividade supõe uma
egrégora. Exemplos: a egrégora do Estado, de uma cidade, de uma família . . . Na magia, a egrégora adquire
uma coesão, em conseqüência de ritos, a ponto de tornar-se uma entidade. A teoria da egrégora explica a
parcialidade de numerosos profetas que vêm em segundo plano. Acreditando profetizar em nome de Deus,
profetizam apenas em nome da egrégora de sua igreja ou seita. Após séculos, religiosos e religiosas
anunciaram (como Nostradamus fez) a vinda, para a França, de um grande monarca que restabeleceria
evidentemente a fé católica e assistiria à conversão dos próprios judeus . . . A egrégora de uma religião é
mágica, pois é cimentado e mantido pelos ritos e preces dos fiéis - dois tipos de atos, de configuração mágica.
No entanto, a magia, como ciência, sabe criar metodicamente as egrégoras. – N.A.
Como já foi dito acima, o Mestre é alguém que percorre um longo caminho em
direção à perfeição de si mesmo, porque acredita que este é seu papel, ou ainda, também
pode ser colocado nessa situação por forças externas a ele. E em especial, o Mestre
Conhecido, aquele que se expõe, quando é um Mestre realmente, é alguém que faz das
tripas coração para atender seu discipulado. O que nos leva ao tópico seguinte.
O Discipulado
Se existe a figura do Mestre, é porque existe a figura do discípulo. Mas quem é esse
personagem? Por definição, o discípulo é aquele que recebe ensino de alguém, ou segue as
idéias e doutrinas de outrem 4.
O discípulo padrão via de regra (confesso que eu mesmo fui um no meu tempo), é
preguiçoso, procrastinador, e orgulhoso. Acredita que sabe tudo sobre tudo. Conhece todas
as coisas, menos a sua própria ignorância.
4
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda – Mini Aurélio Século XXI, 2001, Editora Nova Fronteira.
Conclusão
Em L.L.L.L.,
Fr. Goya
Eu estava escrevendo toda uma outra forma de abordagem do tema Mestre e discípulo,
quando de uma hora para outra, ouvi a Voz da Fera. Voltei-me, e a Fera me fez sentar sobre uma
pedra, enquanto, enrodilhando-se ao meu redor e sussurrando em meu ouvido:
“Eu sei porque seu coração está inquieto... Mas digo que isso não tem motivos para
acontecer.”
“Como não? – retruquei. – Como orientá-los, quando eu mesmo me sinto perdido? Meu
coração fica aflito, porque não vejo saída ou resposta nem para mim, como então orientar os
outros?”
“Todas essas dúvidas ocorrem porque você não soube como olhar. É fácil se confundir
quando apenas se olha mas não Vê.”
“Como assim? Eu acredito que consiga ver. Até pouco tempo realmente eu não via, mas há
dois anos eu comecei a ver mais claramente.”
“Isso é o que você acredita. Mas Ver é mais que apenas perceber com o olhar. Deixe-me
mostrar.” – De sua boca saiu uma névoa, e quando esta se dissipou, a paisagem ao redor havia
mudado. “O que você vê agora?”
“Vejo um Homem e o filho do Homem. Ambos brincam perto de uma árvore, e deitam e
rolam sobre a grama. Há sorriso no rosto dos dois. Seus olhos brilham e a criança está feliz.
Quando a criança se levanta, cresce. Quando o adulto se abaixa, vira criança. Não entendo.”
“Você não entende porque não vê corretamente. Olhe de novo”
Em L.L.L.L.,
Fr. Goya
Curi tiba, sexta-feira, 27 de maio de 2005 e.v. 13:56
Em iv13 Sol 6° Gemini, Luna 29° Capricórnio Dies Veneris
Muitos membros do C:.I:.H:. e pessoas que não pertencem à nossa organização nos
perguntam freqüentemente se possuímos uma doutrina ou mesmo uma teoria para a
reencarnação. Por vários anos nos abstivemos de fazer qualquer comentário sobre o assunto
por acreditar que essa definição parte da crença individual, mas nunca de um grupo.
Devemos admitir que o tempo demonstrou o contrário. Na verdade as pessoas acabam
pedindo que justamente um grupo ou organização lhes ofereça uma resposta. Talvez porque
acreditem que esse assunto não poderá ser abarcado por uma única mente pensante, a
menos que seja através de uma “revelação”, ou talvez porque prefiram dar crédito a outros
além de si mesmos. Isso, porém, é uma questão por demais extensa para que possa ser
tratada aqui. Deixaremos essa pergunta para ser respondida no futuro e em outro lugar que
não aqui.
Este ensaio não pretende de modo algum ser definitivo no estudo da matéria
proposta. Na realidade ele surgiu da necessidade de se explicar um assunto extremamente
polêmico que é a reencarnação.
Este ensaio trata no decorrer de seu desenvolvimento, da metafísica - das doutrinas
do absoluto e suas emanações, conforme diz o livro VI da Metafísica1 , “a metafísica é uma
teologia, tratando principalmente de Deus e do divino”; sendo este um documento
especulativo com fins didáticos. É um texto para ser lido por aqueles que anseiam mais
informações sobre sua origem e destino nesta vida.
No decorrer da sua existência, o Ser busca respostas para sua origem e para seu
destino após a morte do corpo físico. Existem inúmeras teorias sobre o assunto, e o nosso
objetivo é tentar trazer ao leitor destas páginas uma explicação lógica para sua existência.
Não pretendemos em nenhum momento no desenvolvimento da obra atacar ou denegrir
movimentos religiosos, seitas ou filosofias de outros. O que buscamos é apenas uma
explicação que pode satisfazer os buscadores que não encontraram respostas em outros
lugares, ou se encontraram não ficaram satisfeitos com o que viram e ouviram.
No decorrer da vida sempre somos colocados em situações inusitadas, que exigem a
todo o momento uma explicação para o que não pode e não deve ser explicado. Muitas
vezes já estivemos diante de situações onde a lógica não se encaixava, ou talvez a nossa
visão do mundo e da vida não permitisse que percebêssemos a lógica daquele instante. O
que será descrito a seguir é fruto da pesquisa pessoal do autor e sua interpretação desses
instantes.
Se no transcorrer da leitura for encontrado algum erro, devemos advertir desde o
momento que a obra é resultado da pesquisa pessoal do autor que é humano, e, portanto
passível de errar. Pedimos desde já desculpas àqueles que encontrarem falhas em nosso
trabalho e também àqueles que possam se sentir ofendidos pelas opiniões presentes neste
breve ensaio.
1
Aristóteles, Metaf. VI, c.1, 1026 a 21-23.
#
Sobre isso veja mais abaixo o tópico intitulado “O que acontece com o Corpo-Alma-Espírito após a morte”.
A matéria, por ser física e grosseira, é a que mais precisa de cuidados em sua
evolução. No Plano Evolucionário Divino, a matéria como é conhecida pelo homem através
de sua percepção física e intelectual, ocupa a parte mais inferior da cadeia de existências.
Sendo o Espírito o reflexo imediato de Deus e o aspecto mais Divino da Natureza
conhecida pelo homem, é atribuída a ele (o Espírito) a tarefa de auxiliar a evolução da
matéria em sua jornada rumo à perfeição. Cabe ao Espírito a tarefa de Tutor da Matéria
enquanto esta ainda não consiga perceber sua própria evolução.
A evolução da matéria ocorre através de sucessivas gerações sem sucesso até que,
num determinado momento ocorre a mudança. O Espírito contribuirá com a matéria pelo
ensinamento de sua perfeição e pela Palavra Divina, a propagação do Verbo. Como um
professor adverte seu aluno na medida em que este se desvia dos seus ensinamentos, da
mesma forma o Espírito advertirá a matéria de suas faltas. Enquanto houver um Espírito
próximo à matéria e o Sopro Divino animando esta, nem tudo estará perdido. Mas, quando
a matéria deixar de ouvir seu tutor e renegar sua origem, então esta deixará de ser o que é
para se tornar o nada, desaparecerá.
A Magia oferece uma breve noção dos caminhos percorridos pela trindade Corpo-
Alma-Espírito.
“Um homem que acaba de morrer divide-se em três partes, a saber: O Corpo
regressa a Terra, a Alma2 a Deus ou ao Demônio, e o Espírito tem seu período
determinado por seu Criador, quer dizer, o Número Sagrado de Sete Anos, durante os
quais lhe é permitido vagar aqui e ali em qualquer direção.”3
2
Aqui Abraão, o Judeu, estabelece uma variação de Corpo-Alma-Espírito, onde a Alma volta para Deus e o
Espírito é temporário. Para uma definição de Corpo-Alma-Espírito, ver o capítulo 13.
3
A Sagrada Magia de Abra-Melin - O Mago, S.L.Mac Gregor Mathers.
Quando o corpo encerra suas atividades, o Espírito alça vôo em direção a seu
Criador. A limitação do Espírito é o corpo, da mesma forma que um líquido é limitado por
seu recipiente. Uma vez que, quando da entrada do Espírito no corpo, que se dá na ocasião
do nascimento, o Espírito é retirado do Grande Mar Universal, no final da existência física,
este retorna para sua origem, que é Deus.
O que é Karma
4
O Bhagavad-Gitã Como Ele É; A.C. Bhaktivedanta Swan Prabupãda, 1986, edição completa, Fundação
Bhaktivedanta Book Trust. , pág.738.
Outro conceito hindú que segundo o Bhagavad-Gitã pode ser traduzido como a
“capacidade de se prestar serviço, que é a qualidade essencial do ser vivo”.5
Uma das idéias que hoje estão disseminadas com maior força no mundo Ocidental é
a reencarnação. Esta idéia baseia-se no fato de o Ser Humano ser obrigado a percorrer uma
longa trajetória até Deus, em sucessivas encarnações, aonde ele irá se aperfeiçoando até
chegar a perfeição e finalmente, a Deus. Há diversas formas de se explicar à necessidade da
Reencarnação. As mais comuns baseiam-se na Lei do Karma (ver o tópico - O que é
Karma). A pessoa possui débitos ou créditos de acordo com seu comportamento no
decorrer de sua existência física. As penalidades ocorrerão em sua próxima vida, e os
créditos lhe auxiliarão a subir mais um degrau em direção a Deus.
O Número de Encarnações é variável também. Alguns dizem que são 7, outros 9,
outros 12 e até 144, ou ainda sem uma quantidade certa. As antigas religiões do mundo, em
sua maioria citam a imortalidade da Alma ou do Espírito como sendo o fim da existência
humana. Podemos tomar como exemplo os Egípcios, que em nenhum momento de seu
Livro dos Mortos6 colocam a idéia de reencarnação e sim de Ressurreição.
Citamos ainda Marie-Louise Von Franz que diz em seu livro A Alquimia e a
Imaginação Ativa: “Por um lado, os egípcios tinham um panteão com muitos deuses. Mas
por outro, eles acreditavam que havia uma única Divindade cósmica, que era às vezes
identificada com Atum, ou com Nun, ou com o deus Rá numa forma diferente, ou com o
Osíris cósmico, por vezes também chamado a Alma Bá do Universo. Há diferentes nomes,
de acordo com as diferentes províncias no Egito, mas a idéia básica é a de que há uma
espécie de espírito cósmico que reina sobre todos os diversos deuses do panteão egípcio,
um deus que é o espírito do universo que tudo penetra, que reina sobre todos os outros
deuses e os pode absorver. O morto iria, gradativamente, transformando-se naquele deus.
Ele tomava parte num grande processo mitológico que era, por assim dizer, um espelho da
situação cósmica global em que o egípcio acreditava viver.”
5
O Bhagavad-Gitã Como Ele É; A.C. Bhaktivedanta Swan Prabupãda, 1986, edição completa, Fundação
Bhaktivedanta Book Trust. , pág.734.
6
O Livro dos Mortos era uma coletânea de textos religiosos que em sua maioria tratavam de receitas através
das quais a alma permaneceria íntegra no mundo inferior ou o mundo dos mortos. O nome original do Livro
dos Mortos é o Per-en-Ru, ou o Livro do Sair à Luz.
Para explicar o conceito do Grande Oceano Primordial, diremos que quando uma
pessoa nasce, é como se pegássemos um copo de água desse grande oceano. Ali dentro
habita um espírito. Quando o corpo morre, ele voltará a esse Grande Oceano que a tudo
permeia. Após retornar a esse oceano, aquele espírito perderá sua individualidade e irá se
misturar com o Grande Oceano.
A perda da individualidade
7
Lumen Gentium 48.
8
Catecismo da Igreja Católica, 1993, Editora Vozes Edições Paulinas Ed. Loyola, Editora Ave-Maria, pág.
245.
Mas quando a lembrança envolve outros locais onde a pessoa viveu em outra
encarnação incluindo parentes e lugares que ela e nenhum antepassado supostamente
esteve antes?
Essa questão é muito interessante e é usada atualmente por muitos profissionais da
área da Regressão para justificar seu trabalho. Mas o que realmente acontece nesse caso é
que por algum motivo por nós ignorado, e muitas vezes involuntariamente, acessamos
memórias de nossos antepassados, mas isso não quer dizer que sejam memórias de “vidas
passadas” nossas. Mas sim, daqueles que nos antecederam (pais, avós, bisavós, etc.), e
também, embora em menor grau, podem ser memórias que estavam já dissolvidas no
Grande Oceano Primordial, e foram inseridas no corpo da pessoa que está tendo a
recordação.
E no caso dos Lamas Tibetanos, que após a morte de um Lama, um deles sonha ou
tem uma “visão” de onde o espírito do monge reencarnou?
Neste caso, podemos observar o caso do espírito retornar ao Grande Oceano
Primordial, onde, ao ser depositado, sua personalidade se dilui para fazer parte do todo. Ao
se constituir um novo ser, uma parte deste oceano é retirada para preencher o corpo, e pode,
desta forma, captar traços de uma ou mais personalidades, em maior ou menor grau.
Como a crença no Karma afeta aquele que pratica sua Verdadeira Vontade
(Thelema)?
Talvez essa seja uma das perguntas mais importantes que possa ser feita por um
estudante que esteja trilhando o caminho da descoberta da Verdadeira Vontade. Para um
estudante de Thelema, a crença no Karma e a teoria da Reencarnação soam estranhas para
não dizer esdrúxulas.
Por quê? O maior impedimento de um estudante de Thelema em relação a
reencarnação vem do fato de você atrair karma “positivo ou negativo”... Como você poderá
realizar sua Verdadeira Vontade e cumprir a Lei da Liberdade e do Amor se ainda está
preso a débitos anteriores? Somente para aquele que existe a possibilidade de ser livre é que
ele se libertará. Se a teoria da reencarnação estiver certa, o estudante jamais poderá fazer
sua vontade, pois estará eternamente em débito consigo mesmo carregando os grilhões do
passado.
Evoco aqui a Marcelo Ramos Motta que disse: “Todo ser humano que sofre, sofre
por sua própria culpa, e no momento em que sofre. Os vossos erros passados determinam
as vossas condições de manifestação; mas a essências do vosso íntimo, o fogo interno que
Se o espírito volta imediatamente a Deus após a Morte, o que aparece aos chamados
médiuns?
Segundo nossas pesquisas somos levados a acreditar que as forças captadas pelos
médiuns nada mais são do que restos daquela alma que ainda possam permanecer por
algum tempo após a morte. Nos casos em que se diz haver falado com um espírito cujo
corpo morreu há 200 anos acreditamos que isso seja uma ilusão ou até mesmo uma alma
que está se fazendo passar por uma alma de outra pessoa. Mas com certeza, não é a energia
original.
9
Ramos Motta, Marcelo. Chamando os Filhos do Sol, Rio de Janeiro, 1962.
Algumas pessoas não interessam a classe social nas quais se encontram, tem um ar
aristocrático sem ser superior ou pedante, por quê?
Isso pode estar demonstrando a própria natureza do espírito...
Mas, os espíritos têm diversidade? Não seriam todos iguais por serem divinos?
Na verdade são iguais, mas a matéria em que estão contidos não. Da mesma forma
que se você põe um tecido cobrindo uma lâmpada. Quanto mais sofisticado, normalmente
mais fino (como a seda, por exemplo) permitindo assim que vejamos a luz com mais
clareza... Até que, quando o tecido ou a matéria for mais próximo ainda do divino, ela não
oferecerá obstáculos para a luz, que será vista em toda sua majestade.
É um pouco confusa essa teoria, não? Eu diria que ela parece muito com a do
espiritismo, só que mais refinada.
De fato, a diferença básica da nossa para o espiritismo é que não usamos o karma e
quem evolui é a matéria e não a alma... Como foi dito no início do texto, estamos dando
uma revisada geral no conceito de evolução pós-mortem e não criticando essa ou aquela
doutrina. Apenas revendo conceitos.
Retomando a pergunta do início, existem pessoas que tem maior contato com seu
espírito, sua alma, e, portanto refinaram seu corpo, sua matéria, sendo vistas como
mais "iluminadas" ou até superiores, com ares de princesa e de reis?
O tal Grande Mar não é homogêneo, e sendo assim, às vezes uma pessoa vem com um
conjunto melhorado, e outra vem com um modelo mais antigo... Isso é certo?
Imagine ilhas com terrenos irregulares. Elas representam a matéria enquanto viva ou
o mundo onde vivemos... Quando o copo quebra, é mais fácil você jogar o conteúdo no
meio do oceano ou nas margens?
Então seguindo a linha desse raciocínio, pode -se dizer que as encarnações acontecem
dentro de um grupo.
Também poderiam ser por isso. Mas se você apenas observar a natureza, verá que é
assim que ela se comporta... Não há necessidade de elementos externos como influências
astrológicas. Mas um meteoro, por exemplo, se chocando com a terra, é um evento
aleatório. Nunca esqueça do caos... E por que se necessita do caos? Por que ele impede que
a água fique ali estagnada e só um grupo evolua, ou que ela simplesmente apodreça.
Então desse ponto de vista, nas pessoas de hoje que julgamos serem iluminadas é
possível que um pouco do espírito de antigos iluminados esteja encarnado nela, mas
não como um pedaço enorme colado, e sim como um novo ser?
Exatamente.
Faz sentido... E faz sentido crer no que dizem dos poderes dos iluminados... Afinal,
eles por estarem em contato direto com seu espírito podem operar ações que os outros
não conseguem e dessa maneira operam os "milagres". E sobre as iniciações10? Elas
realmente refletem essa vida após a morte?
A primeira iniciação é o julgamento da alma, quando o espírito pode ser destruído
completamente ou ganhar a imortalidade. Quando você termina a primeira delas, você
passou desse risco. A segunda fala do começo da jornada pelo Duat11 , já no caminho de
retorno à unidade divina. A terceira fala da fundição das 9 partes em uma, ou da aquisição
das 2 qualidade superiores da alma (no caso de você trabalhar com 3 camadas12, ganha mais
duas) e a quarta, fala da unidade com a divindade, ou do ponto de vista da magia sexual,
por isso ela está no 4º grau, a criação da criança do abismo, onde os dois lados se fundem
10
Nesse caso estamos nos referindo diretamente às quatro iniciações conforme praticadas pelo Círculo
Iniciático de Hermes, e essa definição não se aplica diretamente a nenhum outro grupo ou organização
ocultista conhecida por nós, na atualidade. (Nota do Autor)
11
Duat ou mundo inferior dos egípcios.
12
Corpo, Alma e Espírito.
Essa nova vida corresponde a você e mais uma pessoa terem pegado o copo e
desaguado em um pré-invólucro dentro de uma mulher? (Por que isso já é feito, mas
não pela mão humana...)
Se você trabalha com esse conceito que estamos tentando desenvolver, fica claro o
que existe após a morte, e então você tem a jornada completa da iniciação... Logo, o
iniciado assume completamente a sua jornada e sabe como agir... Ele facilita esse retorno...
Mas ter a consciência destruída não é concreto. E não é por causa do ego e sim
por uma forma de recompensa.
O que seria concreto? Esse tipo de discussão é extremamente lúdica. No fundo, ela é
apenas para servir de descanso para o cérebro depois de um dia conturbado. Como diria
Don Juan, no final do caminho do feiticeiro, basta dizer: tudo isso realmente não importa.
Só importará no momento final, e aí será tarde de mais. Ou ainda, usando as palavras do
Merlin do filme Excalibur com relação ao futuro, mas que cabe nessa questão: “O futuro é
como um bolo. Você pode vê-lo, percebê-lo, mas não sabe o gosto que tem até que
experimente o bolo. E então, será tarde demais”.
Sobre a recompensa: Que recompensa? Como diria Einstein: “Deus não joga dados
com o Universo”. Esperar uma recompensa sobre um comportamento que se tem
é um mau hábito adquirido na infância. "Faça isso que lhe dou uma bala..."
- Devemos viver como homens que somos, não como crianças mimadas. E o que um
homem faz? Age como em que agir. Quem acha que sendo bom, terá recompensa no final,
está jogando com Deus, e como disse acima, Deus não joga.
Mas é fútil e desesperançoso você não ter uma certeza. Prefiro acreditar que
continuarei, diferente é claro, mas continuarei com pelo menos minha consciência.
Discordo de você. Na verdade ele fala que temos que conviver com nossas
incertezas e fazer o melhor em toda e qualquer ocasião. Confortável é achar que se tem a
eternidade a seu dispor e que tudo pode ser feito amanhã. Se você prefere acreditar na
consciência, é uma parte sua. Como disse, para mim, realmente não importa. Quando
chegar a hora as cartas serão viradas. E independente de quem estiver certo, seja qual for a
opinião, será tarde demais. O que é realmente necessário é fazer o que tem que ser feito. E
isso para mim é uma regra que levo a ferro e fogo. Já se perguntou alguma fez porque eu
sento na frente do micro ou mesmo fazendo algo prático e não paro até considerar
terminado pelo menos temporariamente?
Eis aqui um trecho de um texto que foi lido no livro: "Meditações sobre os 22
Arcanos Maiores do Tarot": “Eis um exemplo de argumento por analogia: André e
formado por matéria, energia e consciência. Como a matéria não desaparece com
sua morte, mas somente muda de forma, e como a energia não desaparece, mas
somente se modifica, também a sua consciência não pode simplesmente desaparecer,
mas deve apenas mudar a sua forma e o seu modo (ou plano) de atividade. Logo,
André é imortal.
Esse argumento funda-se na fórmula de Hermes Trismegisto: o que está em
baixo (matéria, energia) e como o que esta em cima (consciência). Ora, se existe a lei
de conservação da matéria e da energia, deve existir também, necessariamente, a lei
da conservação da consciência ou imortalidade”.
Usando o mesmo exemplo para explicar o erro do autor do citado livro, basta fazer a
seguinte analogia: A matéria se modifica, muda de forma. Uma pessoa que morre e se
decompõe, pode virar uma flor, certo? A matéria foi conservada, mas a pessoa ainda pode
ser chamada assim? Ou agora a chamamos apenas flor? Em qual das flores que ela deu
origem se encontra a pessoa? Numa? Em todas?
Existe sim a conservação da energia e do espírito, mas até quando persiste aquela
consciência? Já que o corpo se decompôs e se tornou outra coisa, usando a mesma analogia,
não poderia a consciência se tornar outra coisa, ou pelo menos outra consciência?
O raciocínio do autor foi deveras simplista para explicar assunto tão complexo, e
demonstra até mesmo ignorância dos outros textos clássicos do hermetismo, como os
trechos que coloquei abaixo.
Explicação por Fr. Goya: O próprio texto nos fala em suas entrelinhas o raciocínio
básico. “O destino da alma imortal é unir-se a Deus... - quando se fala em união, quer dizer,
tornar uno. A unidade não admite divisão, pois se assim o fosse, seria uma díade, e não
mais unidade. “Deve retornar a seu princípio” - Reforça o trecho anterior.”é semelhante a
um processo alquímico que, em momentos sucessivos, as distribui em diversas categorias,
pois, embora sejam eternas, as almas são todas diferentes umas das outras” - No processo
alquímico acontecem diversas uniões e novas separações, isso cria o movimento eterno dos
“Ora, os elementos, graças aos quais a matéria inteira tomou forma, são em número
de quatro: fogo, água, terra e ar; um mundo, uma alma, um Deus.
Os gêneros de seres que acabo de mencionar ocupam todo o espaço até os lugares
próprios dos gênero dos quais os indivíduos, todos sem exceção, são imortais. Pois o
indivíduo é uma parte do gênero – o homem é parte da humanidade – e necessariamente
segue a qualidade de seu gênero. E, se bem que todos os gêneros sejam imortais, os
indivíduos não são todos imortais. No caso da divindade, o gênero e os indivíduos são
imortais; nas outras raças de viventes, o gênero é imortal e os indivíduos são mortais, mas
nem por isso cessa a eternidade do gênero que desenvolve sua duração pela fecundidade
reprodutora. Destarte, os indivíduos são mortais, os gêneros não o são: o homem é mortal, a
humanidade é imortal.” - Livro Sagrado Dedicado a Asclépio, Hermes Trismegisto.
Explicação por Fr. Goya: Pelo exposto acima, pode-se concluir que à exceção dos
seres pertencentes ao gênero divindade, onde gênero e indivíduo são imortais, os restantes
são imortais apenas no gênero, mas mortais enquanto indivíduo.
A necessidade de ter uma consciência eterna, só revela a necessidade relativa ao ego, que
não consegue ver além do próprio umbigo. É a dificuldade de aceitar que o homem não é o
fim último da criação. Essa pretensão de ser eterno como indivíduo faz com que o homem
esqueça da sua função. Reger a obra D'Aquele a quem nada senão o silêncio pode
expressar. De maestro quer se tornar compositor, mas falta-lhe a inspiração necessária para
isso e o máximo que consegue é macaquear o criador, sendo motivo de riso e de pena,
diante do tribunal dos deuses.
“A alma e todas as crenças que a ela se referem, segundo as quais a alma é imortal por
natureza, ou que haverá de obter a imortalidade, conforme ensinei, serão apenas motivos de
riso; mais ainda: serão vistas como pura vanidade. Inclusive, creia-me, será um crime
capital, segundo os textos da lei, o estar dedicado à religião do espírito”.
Conclusão
Como dissemos no início, o objetivo desse texto é induzir a reflexão. Com ele não
pretendemos converter ninguém ou destruir crenças pré-existentes. Mas oferecer ao
estudante sincero material suficiente para uma reflexão profunda. Está feito.
O que é Thelema?
por Frater Goya
É muito comum você ouvir a seguinte questão: “Se fazer o que quero é da Lei, então
posso fazer tudo. E se minha vontade for beber todas? E se quiser matar alguém?”
Antes de mais nada é preciso dizer que a Verdadeira Vontade não tem nada haver
com isso. “Mas o que é então?” – Respondendo sem estar fugindo da questão – Se você
precisa perguntar o que é, então ainda não descobriu. Essas afirmações de justificar a Lei
pelos excessos é um subterfúgio infantil que tentam ridicularizar o que deveria ser sagrado.
Qual é então o limite da Lei? É o bom senso. Ou seja, fazer aquilo que é contra sua
natureza ou contra a de outrem, é uma deturpação da Lei. Em nenhum momento se afirma
que a Lei se justifica pelo excesso. Quando no livro da Lei se fala em excesso, é no sentido
de superar suas próprias limitações. (veja em AL II, 7-72 Mas excede! excede! Esforça-te
A Lei da Vontade e do Amor, não é apenas uma norma de conduta individual, mas
também social. Desde o séc. XIX até a primeira metade do séc. XX, a sociedade ocidental
tinha uma cultura socialista, onde o estado gerenciava o cidadão. Esse conceito baseia-se na
premissa que a sociedade é quem gerencia e forma o indivíduo. A proposta de Thelema é
exatamente o oposto. O indivíduo é o gerador e gerente da sociedade. No modelo anterior, a
maior virtude do indivíduo, é a obediência. No modelo proposto por Thelema, a
contribuição/colaboração do indivíduo é que conta.
Apesar do modelo aparentemente solitário (todo homem e toda mulher é uma
estrela), é a soma desses indivíduos que gera uma sociedade. Grupos de estrelas viram
constelações, grupos de constelações viram galáxias e assim sucessivamente. Ao mesmo
tempo que a unidade é o mínimo de percepção do indivíduo, ninguém está só. Por mais
solitário que pareça estar, faz parte de um grupo maior. A própria individualidade é uma
ilusão. Como uma pedra atirada n’água, nossos atos afetam diretamente o universo próximo
a nós. Engana-se quem se vê como indivíduo isolado do mundo, assim como também
engana aquele que só realiza algo pelo bem da maioria. Ambos perdem.
No final do Livro da Lei, o autor propõe que o livro seja destruído ou jogado fora,
sob pena de se tornar um foco de pestilência. Na verdade, essa é a pista mais importante
que o estudante no caminho de Thelema pode ter. Após a primeira leitura deste livro
mágicko, ele perde sua magia e se torna um texto comum. Basear sua vida pelo Livro da
Lei, é ignorar todo seu conteúdo. Ou seja: Se você faz exatamente aquilo que está escrito
no livro da Lei, você não estará fazendo a sua Vontade, mas a Vontade de Crowley.
Se você não apreende o caminho para a Verdadeira Vontade na primeira leitura, não
pegará nem mesmo na centésima. Como disse, depois da primeira vez, ele se transforma
apenas num livro comum, para referência de estudo, não de prática mágicka.
Ao terminar de ler o livro, guarde-o bem. De preferência esqueça onde guardou.
Depois, descubra sua Verdadeira Vontade e pratique-a. Esse é o segredo. A aceitação da
Lei de Thelema não transforma o Livro da Lei numa espécie de Bíblia, mas fazê-lo é
condenar a si mesmo.
Num de nossos encontros aqui no CIH, perguntamos aos membros, qual era a
Verdadeira Vontade de cada um. Das respostas dadas, uma em especial merece mais
atenção: Um membro respondeu – “A minha vontade é ter maior estabilidade financeira,
para poder me dedicar mais aos estudos.” Para muitos essa resposta pode parecer ideal, mas
na verdade ela mostra o desconhecimento do que é Vontade.
1
Devemos aqui informa r ao leitor que esse trecho entre colchetes é um texto de humor. Nada disso aconteceu.
É apenas para refrescar sua mente, que no momento irá se apagar, apag, ap...
É muito fácil perceber um derrotista padrão. Basta alguém levantar uma idéia, um
projeto, e logo surgem as acertivas padrão do derrotista:
“Isso não vai funcionar...”
“Veja bem, é preciso avaliar...”
“Tente ver pelo outro lado...”
“A coisa não é tão fácil...”
A lista é longa...
E logo depois desse início, desfiam uma série de razões pelas quais o projeto
proposto não funcionaria, SEM AO MENOS TENTAR!!!!
Normalmente, podemos dizer depois de muito observar desses elementos, que eles
se ocultam num pseudo conhecimento de tudo e de todos, exceto da sua própria ignorância.
Colocam as pessoas, as circunstâncias, Deus e o mundo contra qualquer coisa além do seu
sentimento miserável de derrota e auto-piedade.
O derrotista ainda tenta se passar por pioneiro e investigador das possibilidades,
dizendo:
“Todos os dias eu tento, mas existe sempre alguma coisa que me atrapalha...”
“Eu tenho tantas coisas para fazer que não me sobra tempo...”
“Bem que eu gostaria de fazer, mas tenho outras coisas pra me ocupar...”
“Eu tentei, mas você sabe, a família tira todo nosso tempo...”
“Você acha fácil? Tente gerenciar uma casa e fazer isso pra ver se dá certo...”
“Já analisei e fui atrás de tudo isso, mas não vi ninguém que tenha dado certo...”
Qual não foi a minha surpresa, ao perceber que do meu dia, esses rituais básicos, se
feitos um a um na seqüência, ocupariam extraordinários 20 minutos! Ou seja, concluímos
daí que pode ser tudo, menos falta de tempo.
O derrotista crônico, que sempre tenta abortar qualquer projeto, mesmo os seus
próprios, perde prazos, responde errado, e sempre tem uma desculpa na ponta da língua
para justificar sua falta.
É preciso se aprender de uma vez por todas, que os deuses não farão pelos homens o
que estes devem fazer por si mesmos. Quando se lida com Thelema, aprendemos que não
existem limites, que tudo é possível e que não há derrota a não ser em nós mesmos.
Uma vez contaminado não resta alternativa a não ser combater com rapidez e
violência esse sentimento, antes que ele tome conta de seu ser por completo. No Codex 08,
já havíamos falado que é extremamente complicado trabalhar com a Verdadeira Vontade,
pois a maioria das pessoas nem mesmo sabem que isso existe. Mas para o estudante de
Thelema, o derrotismo pode ser um tiro de misericórdia numa vontade moribunda. Por que
digo isso?
No cristianismo (especificamente falando, já que é a religião dominante no mundo),
as pessoas são criadas num sentimento que é um misto de humilhação e conformismo, que
acaba por violentar toda e qualquer manifestação da Verdadeira Vontade. Alguns poderão
querer me corrigir dizendo que o cristianismo fala em humildade, e não em humilhação.
Concordaria com isso se não fosse o amplo exemplo que temos no mundo atual onde os
excluídos sociais (em grande parte vinculados à alguma facção do cristianismo) são
habituados a verem a si mesmos como os escolhidos de Deus, enquanto os que estão acima
deles limpam as botas em suas esposas e filhos. Será isso humildade? Acho que não.
Visto que o cristianismo é uma das maiores religiões do mundo, somos
bombardeados com seus conceitos em rádios, tv’s, livros, jornais, etc. apelando para um
sentimento “cristão” que existe em cada um de nós. Onde isso entra em relação à Vontade e
o Derrotismo?
Tolerar, entre outras coisas, pode ser interpretado como admitir, aquiescer, boa
disposição para ouvir com paciência opiniões opostas às suas, ou ainda, uma atitude de
quem reconhece aos outros o direito de manifestar diferenças de conduta e de opinião,
mesmo sem aprová-las. Observado sob a luz de Thelema se torna o contraponto da mesma
e tão importante quanto a Lei. Por que?
É hábito comum entre os Thelemitas, para não dizer conduta unânime, usar o “Faça
o que queres, há de ser o todo da Lei” traduzido como: “o que importa é minha opinião e
Partindo da premissa que a menor parte concebida para o Ser Humano é ele mesmo,
é natural admitir que este se sinta o centro do Universo, ou como dizia Pitágoras, “O
Homem é a medida de todas as coisas”. Essa visão no entanto, pode induzir a erros, tais
como: o MEU espaço, a MINHA opinião, a MINHA casa, a MINHA vontade. Será que
realmente possuímos tudo isso? Ou será que acreditamos naquilo que é mais confortável?
Quando usamos expressões como: “Não admito tal coisa”, “Você não tem esse
direito”, “Eu sou mais importante”, estamos infringindo o limite do bom senso. TODOS
sem exceção tem tanto direitos como deveres em relação ao mundo que o cerca. A criação
de padrões de comportamento, longe de ser um regulador saudável daquilo que é aceito ou
não pela maioria, se transforma no martelo do juízo que condena a tudo e a todos. Não
existe preconceito até que se estabeleça algo como tal.
O objetivo aqui é justamente estender a questão do que deve se interpretar como o
“nosso limite”. Nenhum homem é uma ilha, e portanto, vive em conjunto com outros
homens3 , devendo se ajustar ao convívio dos demais.
Para que não haja uma interpretação errônea do que é a liberdade thelêmica,
devemos entender definitivamente, que a restrição é o grande inimigo4 . A história nos dá
inúmeros exemplos que os grandes limitadores são ao mesmo tempo, os maiores libertinos.
Todo aquele que tenta induzir o comportamento de outros segundo suas próprias regras, é
um inimigo da Vontade, pois esta se baseia num perfeito equilíbrio entre as partes onde
cada um sabe a parte que lhe cabe realizar.
Usar seus critérios para estabelecer regras de condutas aos outros é perder o critério
daquilo que é bom para si mesmo. Podemos citar inúmeros exemplos na sociedade humana
onde vários problemas poderiam ser contornados se a tolerância fosse devidamente
observada.
2
Observando sob esse ângulo, vemos que aquilo que devia libertar se torna uma prisão, limitando àqueles que
estão fora do “nosso” limite. Ou seja: tudo aquilo que não sou eu, deve estar para o lado de lá. Existe melhor
definição de limite?
3
Aqui o termo homem se aplica ao Ser Humano enquanto espécie, não ao ser do sexo masculino.
4
“A palavra de pecado é restrição, ó homem” – Liber Al (1, 41)
Tolerar o outro, é respeitar a escolha alheia, mesmo que nos desagrade, mostrando
um respeito que vai além do nosso próprio umbigo. Alguns poderiam usar um subterfúgio
infantil e dizer: “Então eu devia aceitar um criminoso que sente no meu lado e ficar tudo
bem?” Ou ainda: “Devo tolerar tudo que é errado?”.
Obviamente a regra de ouro aqui é o bom senso. Ninguém deve aceitar algo que lhe
desagrade profundamente, mas ao mesmo tempo, não deve usar isso como premissa para
impor a SUA vontade a alguém.
Fr. Goya
“O Amor é a Lei, Amor sob Vontade”
Dos Direitos
Todo membro do C:.I:.H:., possui direitos que são específicos e inalienáveis. São
eles:
• Direito a freqüentar as reuniões, caso haja um grupo estabelecido em sua
cidade;
• Direito a receber as instruções por todos os meios disponíveis utilizados pelo
C:.I:.H:., que são: Documentação Impressa (apostilas e demais
complementos concernentes ao Grau), e-mail e internet, contato telefônico;
• Direito a ser instruído por um Tutor, cuja descrição será dada mais abaixo,
que zelará por sua evolução na instituição;
• Direito a reconhecimento de sua Iniciação, na forma de Carta Patente do
Grau, com validade legal;
• Direito a freqüentar reuniões em Lojas ou Grupos de Estudos fora de sua
cidade, quando estiver em viagem.
• Incorrer nas ordálias rituais, e, se nelas passar, ser promovido ao próximo
Grau;
• Receber as bençãos do Grau de Neófito;
• Receber a palavra semestral do C:.I:.H:. a fim de manter-me na regularidade;
• Ser reconhecido em todos os Corpos Afiliados ao C:.I:.H:. em território
nacional ou estrangeiro, pelo Grau em que me encontro.
Ser Iniciado como Membro do C:.I:.H:., traz também obrigações que devem ser
observadas pelo Estudante. São elas:
Os Oficiais
Ser Oficial do C:.I:.H:., em quaisquer das funções adotadas pela Organização é mais
um acúmulo de deveres do que um Direito ou prêmio por atuação.
• Além dos Direitos e Obrigações de Membro, os Oficiais Ritualísticos do
C:.I:.H:., assumem a obrigação de manter um nível de comparecimento
ainda maior que o Membro comum, e de manter a todo custo a harmonia do
grupo, de acordo com sua função.
• O não comparecimento sem justificativa aceita, e que seja recorrente,
implicará em suspensão ou mesmo exclusão do Grupo, de acordo com o
nível da falta cometida.
O Tutor
Um Tutor não deve ter mais que dois ou três adeptos sobre sua tutela, para que o
ensino seja feito com qualidade. Qualquer número acima disso é um risco assumido
pelo Tutor e pelo estudante.
O Tutor no C:.I:.H:. é sorteado pelo grupo, imediatamente após a Iniciação.
Obrigatoriamente o Tutor é de um grau superior ao de seu discípulo e é quase
exclusivamente sua a responsabilidade do desenvolvimento do estudante. Se o
estudante não atinge as metas estabelecidas para aquele grau, deve-se avaliar: O que
faltou para ele atingir? Ele recebeu as instruções que deveria receber? Praticou-as?
Anotou suas dúvidas? Qual foi sua participação nas atividades do grupo? E assim por
diante. E o Tutor tem a obrigação de ajudar seu discípulo a seguir sempre mais alto. O
estudante jamais deve ficar sem uma resposta. O Tutor deverá sempre receber material
que lhe auxilie a responder as questões propostas por seus Discípulos, desde que sejam
concernentes ao Grau em que ambos se encontram. Não devem ser poupados meios
para que isso aconteça.
Conclusão
Frater Goya
IMPERATOR
CÍRCULO INICIÁTICO DE HERMES
1
Círculo Iniciático de Hermes
Para se ter o Mapa da Consciência, é necessário ver não como um plano, mas como
dimensões e direções a serem tomadas. Mais do que Graus, a suposição é de que o Magista percorre
um caminho cujo objetivo não está abaixo, ou acima, mas no centro. Logo, as partes são vistas não
como uma escada (como na visão da Escada de Jacó), mas como as partes de um todo sobrepostas e
mescladas entre si.
A idéia de Graus vem apenas como um auxiliar nessa visão tão peculiar que o Magista deve
ter do material a ser estudado. Se observarmos, por exemplo, a Serpente (um dos símbolos do
Conhecimento Oculto e da Sabedoria Divina) podemos ver que esta enrosca-se sobre si mesma,
ficando difícil ao observador perceber exatamente quantas são as voltas, onde acaba e onde começa
o corpo do Animal. A obviedade da cauda e da cabeça são apagadas ao se deparar com o corpo do
animal, pois tem-se a idéia clara de início e fim, mas não do caminho a ser percorrido. E em
determinadas espécies, mesmo a cabeça se confunde com a cauda.
Como já foi dito pelos Qabalistas, o Caminho da Serpente é certamente o mais completo e o
mais doloroso, pois embora passando por todas as Sefirot e por todos os caminhos, é sem dúvida
mais perigoso. Devemos lembrar que a Serpente não pode ser simplesmente esticada ou percorrida
sem se ter o perigo do veneno mortal de suas presas. A Serpente aqui, ganha a dimensão do Dragão
Oriental, que nunca era visto completamente, mas apenas parcialmente, ora a cauda, ora a cabeça e
o peito, ora o torso e as asas gigantescas. Animal fabuloso representa o ápice do poder e do
conhecimento.
A imagem que teremos dos Graus do C:.I:.H:., será exatamente dessa forma, um animal
fabuloso, enroscado sobre si mesmo, com partes abaixo, e partes acima, nem sempre apenas numa
direção, mas em várias, o que torna claro que o conhecimento completo da Fera só se fará ao
completar a Jornada na boca da Besta. E então só resta ao Iniciado ser tragado pela Fera e tornar-se
parte do organismo desta, onde na troca de pele que ocorre a cada estação, o velho dará lugar ao
novo, e o Iniciado, do interior surge como pele resplandecente, de cores variadas, as suas cores. E
ao Adepto tornado Serpente ou Dragão, deverá devorar também tanto o incauto que dele se
aproxima desatento, como o próximo Iniciado, e ambos se tornarão um só, vítima e predador, para
cumprir o Ciclo das Esferas.
A seguir, daremos, tanto quanto possível, a descrição da Fera, até onde nós mesmos a
percorremos. Mas que não pensem o incauto ou o Neófito, que pela descrição poderá pintar a Fera
completamente, pois lhe faltam cores na sua paleta e seu lápis ainda é sem ponta. Ao invés de
Artista, estes são apenas crianças com as mãos sujas de tinta, mas as cores são de criança, não cores
de Artista. E como crianças, o incauto e o Neófito só farão borrões sem sentido no papel. A pintura
só se completará na vida adulta. Não antes.
Fr. Goya
ANKh, USA, SEMB
A Fera1 possui quatro partes. Infinitas são limitadas apenas pelo crescimento da Fera.
Cada vez maior, ela nunca diminui ou simplifica. Ela apenas aumenta e multiplica. À medida em
que o tempo passa, a Fera fica maior, mais pesada, mas também mais ágil. Não devemos confundir
a Fera com nossos paralelos, pois sua existência se dá na Eternidade, não no mundo finito. O
Tempo, que para nós é mortal, para a Fera é um Aliado.
As partes da Fera podem ser vistas ao longe, mas o Incauto que se aproxima, por não
conhecer sua natureza, apenas acha que pode calcular o tamanho e a forma finais daquilo que
avista. Na distância, ele olha, mas não vê claramente, e pensa que a Fera adormece. Mas não sabe
ele, que a Fera apenas está imóvel, esperando a hora certa de atacar aquele que se aproxima sem
cuidados ou o devido respeito. Com um único movimento de sua cauda, ou ainda, cuspindo veneno,
ela pode eliminar facilmente o Incauto.
Dessa forma, o que o Aspirante deve buscar primeiro, é saber qual a natureza da Fera,
e como ele poderá se aproximar sem por ela ser eliminado.
Com o auxílio de um mapa, o Incauto se torna nesse momento um Buscador. Mas
semelhante aos caçadores de tesouros (a maioria teve um fim deveras triste), ao chegar, ele não
sabe muito bem o que pedir. O Atendente então, deverá ser um Guia responsável, e que possa dar
ao novo Buscador o equipamento necessário. Este equipamento deverá conter:
Algo sobre a natureza da Fera, que instrua ao Buscador nas formas de aproximação.
Deverá ter também ter algo sobre a localização da Fera, e como esta poderá ser
encontrada.
Terá algo também sobre como se defender do Ataque da Serpente, e de como
diferenciar os vários tipos de Bestas, que não são a Fera, mas que se parecem muito com ela.
Aprenderá a andar e a falar mas tudo mantendo o silêncio, para que a Fera não se
levante contra ele.
Tudo isso ocorrerá por Seis Luas, até que ele esteja apto a seguir jornada em direção
à Fera. Mas mesmo assim deverá ser avisado, que caso ele não tenha se detido o suficiente nas
instruções, será destroçado. Nesse caso, é sábio não seguir adiante. Todavia o Buscador poderá
levar ainda outras Seis Luas, até aprender devidamente a se apresentar para a Fera.
Assim preparado o Buscador avança em direção onde ele julga ter visto algo da figura
que nunca pode ser vista em sua plenitude. Nesse momento, embora ele acredite de forma contrária,
ainda será acompanhado pelos seus Guias. Ele não os verá, e por isso acredita que não estão ali.
Mas durante toda a jornada pelas espirais da Fera, ele estará protegido. Só estará sozinho em
determinados momentos, onde a passagem é única.
Quando estiver prestes a realmente se aproximar da Fera, outras feras surgirão. Mas
elas são apenas imagens enganadoras, pois a Fera é uma só. Se o Buscador tiver ainda algo de
Incauto, ele será levado, afastado do caminhar correto por elas, pois mesmo sendo enganadoras
essas imagens obedecem à Fera, embora inconscientes disso.
O tempo que será tomado não será superior a um instante, mas devido à torção da
realidade, gerada pela presença da Fera (visto que esta habita na imortalidade), ou ele achará que
menos tempo ainda passou, ou pior, acreditará que passou tempo demais, e nesse caso, pode ficar
preso para sempre nas espirais eternas que formam o tempo como conhecemos.
Ao se aproximar o suficiente da Fera, o Buscador estará perto da cauda (ou da cabeça,
já que ambas são iguais, como alertamos previamente). A atitude mais sábia a tomar é não olhar de
1
O leitor atento deve ter se percebido que de certo ponto em diante, nos referimos ao ser apenas como “a Fera”. Isso foi
feito, pois se o nome for pronunciado diante de ouvidos não preparados, estes verterão sangue, e se for lida na sua
forma original, seus olhos serão cegados imediatamente! – Fr. Goya
3
Círculo Iniciático de Hermes
frente, não buscar, não apalpar. A Fera irá envolvê-lo, e se ele suportar a aproximação de tamanha
força, poderá seguir viagem. Qualquer movimento em falso fará a Fera se voltar imediatamente
contra ele, e o Buscador, em vias de ser Iniciado, será destruído para sempre!
Na primeira volta, ou no primeiro anel espiralado, o Buscador se sentirá desnorteado,
pois o Norte é uma falsa direção. Ele deverá se deixar levar, pois agora ele será Orientado, como é
certo que ocorra. Ele terá consciência como nunca teve antes, e isso pode deixá -lo em choque ou
despertá-lo. Acreditará que está subindo, mas na verdade estará descendo, pois se conseguir voltar
a cabeça para cima, verá que as estrelas se afastam dele. A cada passo dado nas espirais da Fera,
o terreno ficará mais incerto, e ele cairá presa dos seus próprios passos. Se as Seis Luas lhe foram
suficientes, ele saberá como pisar.
A Fera se move mais uma vez, e ele sente como se tudo perdesse sentido. Não há mais
como voltar, pois seus passos não são firmes suficientes para terem marcado caminho, e mesmo que
voltasse, seria apenas para sofrer, pois seu mundo não existe mais! Seus Guias irão instruí-lo no
correto proceder, e a ele será dado uma Armadura, entre outras defesas que lhe serão úteis nesse
momento. Sem posição de ataque, sua melhor atitude é aprender a usar a defesa.
A Fera vigiará a todo o momento, e a ele parecerá que ela se afeiçoou. Mas que ele
não se engane, pois aqui certas relações são invertidas, e um gesto singelo pode ser risco de morte
próxima. Todavia, a Fera pode mesmo ter desejado revelar certos segredos. Para Ela 2, esses
segredos são apenas brinquedos, que ela usa para distrair um pouco mais sua Vítima. Enquanto
brinca, ela decide qual é o final que será dado a esse Incauto que se julga Buscador. Então, sem
que o Buscador perceba, Ela falará, e dirá coisas sobre seu movimento e sobre aqueles que vivem
em suas entranhas. Num discurso sem som, murmurante como o Vento, tudo que importa será
revelado. Mas o Buscador ainda não está pronto o suficiente. E nesse momento, Ela poderá se
voltar contra ele. Aspirar o hálito que vem da Criatura Gigantesca poderá ser fatal. Ele tentará
correr. Mas se fizer isso irá tropeçar, e qualquer movimento brusco lhe custará caro. Tão caro que
certamente o preço será mais do que deseja pagar em qualquer momento. Será sábio aquele que
esperar.
A Fera se move novamente. Se for rápido e esperto o suficiente, ele poderá ver o brilho
do olhar da Fera, e saberá qual é a direção verdadeira da cabeça. Mas é vital que recorde que à Fera
nunca se olhe diretamente. Fazendo isso, ele se condenará para sempre, pois ao olho se segue a
boca, e esta pode ser sua última visão, a da sua própria morte.
2
Chamo-a de Ela, não porque é fêmea, mas porque é Fera. – Fr. Goya
4
Círculo Iniciático de Hermes
Com a segunda volta da Fera, o Buscador se vê agora ainda mais perdido que antes.
Diante dele um número sem fim de curvas se mostram em eterno movimento. Sem saber por onde
deve ir, e sem sequer calcular onde uma curva se une a outra, ao Buscador só é dado uma opção:
permanecer caminhando. Com passos hesitantes, ele deve permanecer em movimento, pois se
parar, será esmagado pela volta anterior que lhe roça o calcanhar. Ele nunca se livrará dela
totalmente, e essa volta anterior sempre estará ali, para ajudá-lo a seguir caminho ou para
esmagá-lo impiedosamente. A Fera se voltará mais uma vez a ele, e se gostar do que vir, irá lhe
apresentar o mundo das cores e das formas. Mas ele apenas acreditará que é um Artista, pois o
final da jornada está tão longe dele como estava no início. Não está sequer no meio do trajeto. E
como a Fera se move continuamente, ele nunca sabe se está indo ou voltando, e por isso apenas
segue. Mesmo porque, essa é a única direção a seguir. À sua armadura serão acrescentadas armas,
e os Guias, sob a orientação da Fera, irão lhe ensinar como usá-las.
A Fera se move mais uma vez. O Buscador se desequilibra e cai. Quando se levanta
novamente, o cenário que está à sua frente lhe deixa mais perturbado do que o anterior. Em nenhum
momento anterior a esse ele se sentiu tão só. Diante dele, uma gigantesca planície desértica se
espraia, e ele sabe que a Fera continua lá, embora não consiga descobrir onde realmente ela se
encontra. Ele não tem mais medo, pois está com armadura e carrega armas suficientes para se
defender. A única coisa contra a qual nada disso adianta é a Fera.
Alguma coisa lhe diz por instinto (ou será novamente a voz sibilante da Fera?), qual
direção tomar. Ao se voltar para o lado, ele percebe que não está sozinho. Na verdade nunca
esteve, mas essa é a primeira vez que tem certeza disso. O Ser que ele encontra lhe é seu
conhecido, e há um brilho de reconhecimento mútuo quando os olhares se cruzam. Ele não está só,
mas os que o acompanham não são seus amigos. E orientado por este Ser, ele será capaz de
enfrentá-los com as armas que recebeu. No final da batalha terá perdido todas as armas e a
armadura, embora esteja com ele, não será mais vista. Depois da batalha, a planície será tão
desolada quanto antes, e com o olhar ao longe, o vento lhe trará sua única opção possível, que será
a de fazer daquele local, um novo Paraíso. Não há mais armas ou ensinamentos, a Fera se cala e
nenhum movimento Dela é percebido. Tudo com o que poderá contar é consigo mesmo e com o que
já aprendeu antes.
5
Círculo Iniciático de Hermes
A Fera se mostra novamente, num outro movimento. O olhar do Buscador está mais
aguçado do que antes, e ele sabe realmente que ela está ali. No corpo, sente a Fera se enroscar. O
brilho pálido da luz cria uma doce ilusão, e a Fera se transmuta em Amante.
Nesse momento, o Buscador percebe então o jogo do qual foi peão. A Fera lhe
conduzira no único intuito de preservar a si mesma. Mas quando percebe isso, ele também
descobre que não há o que possa ser feito, porque ele é uno com ela. Começa ali a Dança da Vida,
cujo ritmo ele aprendeu ao caminhar sobre as espirais da Fera. Ele torna-se consciente então, do
porquê nunca vira o final da Fera.
Sobre a Dança da Vida não deverei comentar aqui tão abertamente como foi feito até
agora. Deixo aqui que outro fale apenas o suficiente, para que não seja revelado o que deve ser
descoberto por cada um.
“Ela não dá à luz por vias naturais e não concebe pelo coito comum que distende o
útero; mas assim que sente a excitação sexual, a obscena fêmea provoca o macho, que ela quer
sugar com a boca bem aberta; o macho introduz a cabeça de língua tripla na garganta de sua
companheira e, todo em fogo, dardeja-lhe seus beijos, ejaculando por esse coito bucal o veneno da
geração. Ferida pela violência da volúpia, a fêmea fecundada rompe o pacto de amor, dilacera
com os dentes o pescoço do macho e, enquanto este morre, engole o esperma infundido em sua
saliva. O sêmen assim aprisionado custará à mãe a sua vida: quando se to rnarem adultos,
estreitos corpúsculos, começarão a arrastar-se em sua morna caverna, a sacudir o útero com as
suas vibrações... Como não há saída para o parto, o ventre da mãe é dilacerado pelo esforço dos
fetos em direção à luz, e os intestinos rasgados lhes abrem a porta... Os pequenos répteis
rastejam em torno do cadáver natal, lambem-no — uma geração órfã ao nascer... Como os
nossos partos mentais...”
- Gourmont, Rémy de, Lê Latin Mystique. Les poètes de l’antiphonaire et la symbolique
au Moyen Age, Paris, 1913.