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COORDENAÇÃO DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO

Disciplina: Literatura e Estudos Culturais


Professor: João Batista de Morais Neto
Aluna: Daniella Ferreira Bezerra (20172996090056);

Com base na leitura dos textos “A cor da pele”, de Silviano Santiago, e “Notas
sobre a literatura brasileira afro-descendente”, de Eduardo Assis Duarte, esclareça
como o conceito de literatura afrodescendente se associa aos poemas em questão.
RESPOSTA:
A poesia de Adão Ventura e de Jorge de Lima ecoa de forma múltipla. Ambos
autores são reconhecidamente notados pelas diferentes vozes que se manifestam no
conjunto de suas obras, ficando nítido um antes e um depois, quer dizer, os autores ora
trabalham num tema específico, ora trabalham noutro. Ventura, por exemplo, publicou
seis livros de poesia, mas foi no segundo momento de sua produção literária, com obra
como A cor da pele (1980), que a questão da afrodescendência se tornou mais visceral
em sua escrita, com posicionamentos fortes e combativos sobre o lugar ocupado pelo
negro na história e na sociedade como um todo. Inclusive, é com seu amadurecimento
literário que Ventura se revela ao leitor não por trás de metáforas rasas e doces, como o
são os eufemismos, ou de forma romântica, pelo contrário, o autor procura escancarar o
tema de forma honesta e crítica, construindo, assim, uma estética peculiar e
objetivamente preocupada em desconstruir os estereótipos criados em torno da
identidade negra, conforme pontua Silviano Santiago.O poeta Adão Ventura denuncia
através do seu texto poético a falsa cordialidade brasileira, a máscara cruel do
colonizador que ainda nos persegue – são os nossos fantasmas, como diria J. Lacan.
Jorge de Lima, por sua vez, apresenta uma variedade e riqueza de vozes que se
confundem em diversos momentos de sua trajetória literária. Primeiro, porque começou
a publicar ainda muito jovem, segundo pelas transições de movimentos literários que o
acompanharam – parnasianismo, modernismo e depois traços bem acentuados do
regionalismo, como explica o crítico Fábio de Souza Andrade, professor da USP.
Assim, ora o autor de Invenção de Orfeu se volta para a inspiração mística e católica,
ora mergulha nos poemas negros com profundidade e consciente dos problemas reais
vivenciados pela população negra de sua época. No entanto, não é um ecletismo (de
temas, matéria, estilo etc.) oportunista que o move, como ressalta Andrade, mas um
mosaico consciente de articulação discursiva, sobretudo do ponto de vista estético,
temático.
Dito isto, vemos no poema Flash back, de Ventura, e Ancila Negra, de Lima, a
presença de elementos linguísticos, ideológicos e estéticos manuseados, trabalhados em
prol de uma posição não apenas literária, mas também política – a identidade negra.
Conforme nos diz Silviano (1982, p. 121), a poesia de Adão Ventura nessa obra
especificamente foge à regra, por isso o autor se destaca por trabalhar a temática de
forma diferenciada do estilo convencional. Ventura rompe aí com o vocabulário, por
exemplo. Vejamos como o sentido do texto é construído quando ele diz “África noites
viajadas em navios/ e correntes”, fazendo referência direta ao tráfico negreiro, mas isso
é uma leitura ainda superficial, o autor nos chama a atenção para o sofrimento diário
marcado na vida e na história de todos aqueles que, por não se enquadrarem no perfil
hegemônico, sofre continuamente, sendo tolhido dos seus direitos, sonhos e liberdade –
é o negro escravizado, mas ainda assim sonhador, e o sonho, o desejo, a lembrança do
reino deixado para trás é o escape do tormento.
A temática de ambos os poemas faz relação direta à representação do negro na
sociedade. Seja metaforizando, seja descrevendo gestos e acontecimentos, os textos
sinalizam claramente preocupação (ou importância) em se falar não apenas da cor da
pele, mas da identidade desses sujeitos, de sua complexidade no campo social.
Certamente, Jorge de Lima, por exemplo, através da memória e/ou imaginação ressalta
o papel que a mulher negra ocupou/ocupa no corpo social, diante de uma sociedade
paternalista “Tuas mãos negras me alisando/ os teus lábios roxos me bubuiando”, “Há
muita coisa a recalcar/ ó linda mucama negra”, “Há muita coisa a recalcar e esquecer”
etc. etc. etc.
É importante destacarmos, ainda, que os autores, desse modo, muito mais que
problematizar a questão étnico-racial através dos seus textos, disputam a centralidade do
poder ao questionar esteticamente as posições sociais ocupadas e mais ainda a
construção subjetivas de novas identidades no campo social. Diante dessa constatação
de exclusão, somos levados a questionar esse sistema de produção e tentar empreender
sua democratização, tanto nas representações, quanto no próprio ato de fazer, na
produção dessas representações, como ainda nos sugere Silviano Santiago.
Sendo assim, o conceito de afro-descendente está mutuamente presente nos
poemas explorados, uma vez que há uma ruptura com o sistema literário tradicional,
sobretudo na temática dos textos. Ventura e Lima dão voz e vez aqueles que foram
durante muitos anos explorados, massacrados e excluídos, e, assim, denunciam também
uma sociedade universalista, essencialista, racista, injusta e antidemocrática – essas já
são inferências que o posicionamento dos autores nos faz pensar.
Por outro lado, definir uma literatura não é tarefa fácil, trata-se de algo complexo
e ainda problemático dentro das teorias literárias. Como sabemos, há diversas
divergências sobre este ou aquele tipo de literatura: literatura feminista, literatura afro-
brasileira, literatura gay etc. No entanto, tomando como referência os textos
referenciados, de Silviano Santiago e de Eduardo Assis Duarte, fica claro os aspectos
definidos pelos autores para se conceituar determinada obra ou autor a partir das
distinções em comparação a outras formas de se produzir um texto literário: os
elementos linguísticos (vocabulário, metáforas, estrutura, estilo etc.), os temas
abordados e como são abordados, entre outras questões paradigmáticas. O fato é que o
sentimento humano deve ser contemplado em cada um desses projetos estéticos senão
corre-se um sério risco de a literatura ficar em segundo plano. A obra literária se
diferencia das demais por justamente problematizar a vida e o mundo a seu modo, bem
peculiar, tocando o leitor aonde quer que ele esteja. É ver a vida com outros olhos como
diria algum poeta.
A tradição literária quase sempre preservou um determinado cânon estético,
dando preferência para determinadas obras, grupos, estilos, gêneros que melhor
refletissem seus mais diversos interesses, excluindo escancaradamente (ou de forma
arbitrária e sutil) todos aqueles livros, autores, estilos, temas etc. que não se
enquadrassem no perfil desejado, cristalizado e já sacralizado pelo pensamento
hegemônico. Nesse sentido, é interessante assinalar, antes de tudo, que os Estudos
Culturais, através dos estudos desenvolvidos pelo Centro de Estudos Culturais
Contemporâneos, da Universidade de Birmingham, na Inglaterra,
questionavainicialmente essas questões entre cultura e democracia. Concentravam-se na
análise da cultura, compreendida como forma global de vida ou como experiência
vivida de um grupo social. Dentre as diversas posições teóricas e epistemológicas, os
Estudos Culturais concebem a cultura, sobretudo como campo de luta em torno da
significação social. Ora, como sabemos, a cultura é um campo de produção de
significados no qual os diferentes grupos sociais, situados em posições diferenciais de
poder, lutam pela imposição de seus significados à sociedade mais ampla, como
problematizam, por exemplo, T. Eagleton, J. Butler, S. Hall, H. Bhabha, F. Fanon, J.
Culler, entre outros.
É através desses primeiros questionamentos que surgem autores comprometidos
com a temática e se começa intelectualmente a analisar o complexo movimento das
relações de poder entre as diferentes nações, grupos, raças etc. que constituem a herança
econômica, política e cultural da conquista colonialista e se começa a investigar como
determinados lugares e sujeitos são construídos como subalternos em relação aos que
são tidos como superiores e desenvolvidos.Assim, o século XX surge com a derrocada
da modernidade, cujos princípios cartesianos foram tremendamente abalados, ainda
mais com as revelações da física quântica – um outro universo se abriu
assustadoramente devido sua complexidade, tendo, por exemplo, a concepção de sujeito
versus objeto revista pela filosofia e pela psicanálise. Vai, então, surgindo as vozes que
durante muitos anos foram silenciadas, as vozes e a representatividade daqueles
excluídos, massacrados e execrados pela história escrita (e vivida) sob a perspectiva dos
“conceitos pretensamente universais – qual seja, o lugar da cultura branca, masculina,
ocidental e cristã, de onde provêm os fundamentos que ainda hoje sustentam o cânone e,
mesmo, concepções estreitas de literatura, arte e civilização”, como critica Eduardo de
Assis Duarte em seu texto aqui estudado. No mais, é isso. Ficam essas provocações para
mais um (futuro) debate.

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