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11/05/2019 O AMOR E A DOR DE CARRASCOZA

O AMOR E A DOR DE CARRASCOZA


O Estado de S. Paulo · 28 abril 2019 · João Prata

Relações afetivas são um tema recorrente na literatura do paulista João Anzanello


Carrascoza. Em Elegia do Irmão, o autor explora o amor fraterno, tema pouco explorado
em sua obra. No romance, Carrascoza conta a vida de Mara, de 29 anos, que se descobre
portadora de uma doença sem cura. As lembranças emergem sob o ponto de vista do irmão,
que num primeiro momento precisa lidar com a trágica notícia e depois superar o luto. O
autor conversou com o Estado sobre o processo criativo da nova obra, as di culdades en-
frentadas por conciliar duas pro ssões pouco valorizadas no País (Carrascoza, além de es-
critor, é também professor universitário) e a visão otimista sobre o atual momento da lite-
ratura nacional: “Tem um mapa se mexendo e isso é bom.”

Por que escrever sobre a relação entre irmãos?


Questão de necessidade. Os laços afetivos aparecem muito na minha obra, sobretudo de pai
e lho, mãe e lho. De irmãos, não sei por que, não tinha trabalhado muito. Talvez os ou-
tros laços fossem mais obsessivos como escritor.
A história é contada do ponto de vista da perda. Seu livro anterior, de certa forma, serviu de
inspiração?
O Catálogo de Perdas, que é de contos, tinha muitos depoimentos de narradores contando
suas perdas. Acontece que para dar ideia de pluralidade tinha também uma situação de ir-
mão falando sobre irmão. A capa do livro é de uma irmã contando sobre um irmão. É um
conto muito duro. Me veio a ideia de que poderia trabalhar com esse sentimento, esse tipo
de ligação fraternal. Até por uma questão existencial. Lá em casa nós somos seis irmãos.
Estamos todos vivos, com 50 e poucos anos o mais novo. A gente se vê pouco porque mora-
mos em cidades diferentes, mas quando se vê é muito forte. Estamos envelhecendo e uma
hora não serão mais seis.
O livro é dividido em duas partes: antes e depois da perda. Por que fazer essa separação?
Queria trabalhar com a celebração da vida, não a morte propriamente dita. Minha ideia é de
como lidar com a notícia de quando alguém muito querido vai partir e a pessoa vai se pre-
parar. Ainda há a presença dessa pessoa, mas ela já está se ausentando. Você tem de elabo-
rar essa dor, entendê-la e continuar a vivência. Em outro momento ela não está mais pre-
sente e você vai se lembrar dela por meio da evocação. Você vai fazer mergulhos nas me-
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mórias mais profundas. Quando você está junto de uma pessoa, por mais que a nitude es-
teja próxima, você ainda está com ela. Quando ela parte, a sua vida muda, se metaboliza, e
isso não é do dia para noite. É preciso ir lá no fundo e conseguir se recompor aos poucos,
porque o luto tem um tempo para acontecer.
Você optou também por fragmentar o romance em capítulos não lineares...
É como vem a memória. Não dá para lembrar o que você viveu com uma pessoa como um
todo. Você vai aos poucos recordando fatos vividos. É meio que um caleidoscópio. O capítu-
lo lá da frente ganha outra força quando lê o capítulo da primeira parte. E o capítulo da pri-
meira parte às vezes é ressigni cado por um trecho contado lá na frente. A ideia é que o li-
vro, como uma pessoa, fosse construído aos poucos.
Em nenhum momento você diz qual é a doença de Mara, embora descreva os sintomas de-
la.
Justamente para não demarcar demais. Quando naliza o tipo há todo cenário imaginário.
Isso não importa. O que importa é que vai acabar, não precisa entrar em detalhes. O que in-
teressava era essa evocação.
Vivemos tempos difíceis, de raiva. Escrever sobre afeto de certa forma é transformador?
É um sentimento muito próprio, do meu momento, de olhar para os meus irmãos. Olhar
para as pessoas e pensar que existem coisas boas. O lado social se dá inicialmente na sua
casa. Você é um ser coletivo que tem individualidades e isso se aprende em casa, depois
com os amigos, vizinhos, as pessoas nas ruas, o mundo. Queria falar sobre entendimento
do outro. Como viver as diferenças no mesmo lugar para depois aprender a conviver com
essas diferenças lá fora, sem precisar se digladiar porque pensa diferente. Foi uma tentati-
va de entrar em conexão com o outro.
• Suas duas pro ssões, professor e escritor, vêm sofrendo ultimamente. De que forma essa
onda de desvalorização da educação e da cultura te atinge?
Até nos dá mais força para continuar a luta. Você vai trabalhar de qualquer forma, é da sua
natureza trabalhar para salvar a educação. Não se é professor porque se quer, mas porque
se deseja aprender e, desejando aprender, você partilha seus aprendizados. Se você escreve,
é porque está ali sentindo sua existência e compartilhando com quem está ao redor. E tem
o mundo a sua frente. Se tiver uma cerca, você vai. Se não tiver, você vai também, porque a
linguagem é o limite. É claro que a gente se preocupa com a questão prosaica, mundana.
Pode di cultar formar pessoas com dimensão profunda da existência. Mas ao mesmo tem-
po aciona nosso mecanismo de resistência. A gente luta não só como professor universitá-
rio, mas como cidadão.
O que tem chamado sua atenção hoje na literatura?
Tem uma paleta muito colorida, diversa. Tem autores há bastante tempo trabalhando. Vie-
ram outras gerações que estão sendo reconhecidas por prêmios, traduções, em grandes
editoras. Há uma pluralidade e uma abertura para as minorias. Vejo literatura da periferia,
ascensão de editoras pequenas, que lembram vozes esquecidas, vozes estreantes. Ao mes-
mo tempo tem a crise do mercado editorial. Tem um mapa se mexendo. Pontos que se
acendem, que se apagam. Está tendo movimento – e isso é muito bom.
Em seu novo romance, autor aborda o afeto entre irmãos por meio da gura de uma doente
terminal, cuja presença se esvai ao longo da narrativa

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