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No entanto, esta evolução não foi assim tão linear. É necessário ter em conta que o
advento de Gutemberg viveu a sua idade de ouro até que um novo meio de comunicação
surgiu, a Rádio. «Na maior parte dos países ocidentais, a imprensa recebe o choque
desta concorrência inédita num momento em que está enfraquecida.» (JEANNENEY,
1996:133). Surge, então, a Rádio como um medium caracterizado pela imediatez, pela
proximidade da voz, pela sua sonoridade simbólica, capaz de distrair e informar, num
momento em que a informação tinha perdido parte da sua credibilidade. Segundo
LAMIZET (1999), depois da II Guerra Mundial, a Rádio veio superar a Imprensa,
quando esta tinha perdido parte do seu prestígio, devido às numerosas marcas de
censura e de desinformação. Foi, efectivamente, neste cenário que a Rádio se afirmou e
começou a fidelizar o seu público.
Como em relação a tudo, as preferências do público divergem, por isso, podem optar
por tirar partido da escrita informativa ou então podem fidelizar-se à informação falada
da Rádio. Actualmente, a nível nacional já conseguimos ter Rádios e Jornais para todos
os gostos, desde os mais sensacionalistas àqueles que tentam ser relativamente isentos.
De qualquer forma a Rádio tem a vantagem de não exigir a deslocação ao quiosque
como acontece com quem quer ler o Jornal, já que as publicações on line, ainda não
atingiram as regalias do público, pelo que não parece ser muito cómodo ler um Jornal
no ecrã ou ter que clicar nos títulos para aceder à notícia completa. Por isso, a Rádio
evidencia-se como um medium à medida das necessidades do público. Segundo
MCLUHAN (1996) as notícias à hora certa, as informações sobre o tráfego e sobre o
tempo, agora servem para enfatizar o poder do rádio de envolver as pessoas umas com
as outras. A Rádio, através da sua linguagem, afecta as pessoas, agita as consciências,
chama a atenção para as necessidades de reter as linhas principais da quantidade de
informação que circula.
Como já foi referido, anteriormente, apenas, irá ser destacada a informação como
elemento comum aos dois media.
O facto de cada indivíduo preferir ouvir as notícias da Rádio ou ler num Jornal tem que
ver com as tendências culturais do público. De qualquer forma, é tarefa dos media lutar
pela fidelização do seu público. No entanto, existe sempre uma identificação entre os
receptores das mensagens mediatizadas por determinado meio de comunicação. Este
processo acontece, porque os media fazem transparecer as suas particularidades através
dos conteúdos transmitidos e da forma como esses mesmos conteúdos chegam até ao
público.
RODRIGUES (1990) defende que os media são técnicas de linguagem, são tecnologias
que se adaptam ao público pelo seu discurso, tendo em conta os diferentes quadros
culturais que pretendem atingir. De certa forma, acaba por se gerar um ciclo vicioso, na
medida em que os media produzem mensagens para captar a atenção do público e este
último procura o ou os meios de comunicação com que melhor se identifica e que
melhor satisfazem as suas necessidades informativas.
Todavia, independentemente, das características técnicas de cada medium, referimo-nos,
por isso, à Rádio e à Imprensa, a escrita é, sem dúvida, uma ferramenta de trabalho
incontornável. Que os Jornais chegam até nós, porque contêm palavras, ou seja, são
escritos, toda a gente sabe. Mas, apesar de não ser visível o trabalho de redacção de uma
Rádio, ele existe e jamais um jornalista ao serviço de uma estação radiofónica edita a
informação sem ter escrito o seu texto previamente. «Código escrito y oral son
inseparables en la rádio.» (HUERTAS BAILÉN & PERONA PAÉZ, 1999:23). No
entanto, escrever para um Jornal e para uma Rádio é totalmente diferente. Em Rádio não
há tempo para pormenores nem para descrições, à excepção de acontecimentos
inesperados. A informação radiofónica visa, em poucas palavras e em pouco tempo,
atingir o ouvinte, ao dizer quem faz o quê, quando e onde e, só caso se justifique irá
explicar como e porquê. Em quatro questões a notícia está dada e o público conhece o
essencial2. Esta é a fórmula mágica para contar a informação ao ouvinte, por forma a
que ele não mude de frequência. Por sua vez, a Imprensa escrita necessita de activar um
maior número de estratégias. Todos nós sabemos como é que um Jornal pode captar a
nossa atenção, a começar pelas «gordas», pelos títulos impactantes, pelo primeiro
parágrafo atractivo com uma boa imagem, bem legendada. São estes os elementos que
nos fazem entrar no corpo da notícia, se isto não acontecer, ou o assunto não nos
interessa ou as estratégias de redacção e gráficas não foram suficientemente chamativas.
Bastam, apenas, estes elementos para notar a diferença entre a escrita impressa e a
escrita para a radiodifusão. Segundo CÁDIMA (1996) a escrita é materializada pelas
diferentes modalidades dos actos de comunicação, isto é, o que na realidade está em
jogo é a tecnologia referida anteriormente, que deve ser activada, no sentido de
representar o real e transmitir um saber de forma inteligível para o público.
Como tem vindo a ser referido, a escrita é tão imprescindível para a Imprensa como o é
para a Rádio, embora de diferentes formas, ou seja, à maneira de cada medium. Os
textos que figuram nos Jornais podem ser irónicos ou meramente informativos, mas
cada um lê à sua maneira, porém, em Rádio alguém lê para os ouvintes com a entoação
pretendida.
É por todas estas razões que RODRIGUES (1990) considera que a actualidade pertence
à Rádio e não à Imprensa:
Por exemplo, um dos elementos que não é comum à Rádio e à Imprensa, contrariamente
à escrita, é o directo. Se por um lado, um Jornal pode evidenciar uma imagem parada,
mas cujo ângulo foi de tal forma escolhido que consegue monopolizar a atenção do
leitor, a Rádio possui uma mais valia, se assim lhe pudermos chamar, ou seja, a
proximidade da voz, mais concretamente dos directos com testemunhas nos locais de
reportagem e com os protagonistas da história relatada na informação. MINC (1994)
sustenta que o directo anestesia o público, subjuga-o e proíbe-lhe, pela sua força,
qualquer espécie de recuo relativamente ao que já ouviu.
Por sua vez, se o directo pertence à Rádio e à Televisão, os títulos, a priori, são pertença
da Imprensa, ainda que os outros media também possam construir os seus próprios
títulos. No entanto, é necessário ter em conta que um título que figura escrito, a negrito
ou com cor, normalmente associado a uma imagem, muitas vezes antecedido pelo ante-
título e precedido pelo lead, não terá, certamente a mesma repercussão no público como
acontece com a voz radiodifundida. RODRIGUES (1990) realça a diferença entre a
plasticidade verbal e a plasticidade gráfica. Esta última caracteriza a Imprensa, sendo
que, muitas vezes, o leitor não está preparado, nem, tão pouco, sensibilizado para
descodificar tal articulação estética e linguística. Por muito que nos custe aceitar a
tradição oral é muito anterior à escrita e esta pode ser uma das causas da maior
facilidade de percepção das mensagens oralizadas. Outra das raízes que nos parece
óbvia, relativamente ao público menos numeroso da Imprensa escrita tem que ver com
as práticas culturais das sociedades. De qualquer forma, esta é uma problemática que se
prende com questões do foro cultural e sociológico, que não cabem na pertinência deste
trabalho de investigação.
«Ce que la radio arrive à réaliser mieux que les médias écrits,
c'est la représentation d'un contact direct entre les acteurs
politiques et ceux qui les écoutent: elle met en scène une forme
de communication intersubjective et privée [...]» (LAMIZET,
1999:34).
De certa forma, a Rádio consegue uma proximidade em relação ao público que não é
acessível à Imprensa. Independentemente de nenhum dos dois meios de comunicação
mostrar a imagem de quem produz a informação, a Rádio, pela força da voz, alcança
uma relação que, no fundo, é de pessoa a pessoa, de ouvido a ouvido. A Rádio usufrui
de uma menor distância em relação ao Jornal impresso. Segundo o autor anteriormente
citado (1999) a informação impressa caracteriza-se por uma distância patente no
processo de leitura, a Rádio consegue abolir essa distância, pela forma de comunicação
fundada na oralidade e na audição.
De acordo com HUERTAS BAILÉN & PERONA PAÉZ (1999) a redacção das notícias
radiodifundidas é composta também ela por quatro fases: planificação ou esquema,
redacção, revisão e re-elaboração. Assim, a primeira fase diz respeito à selecção das
ideias que hão-de fazer o produto final, depois de se traçar esta linha redactorial
prossegue-se à redacção. Quando o texto está escrito deve ser lido para ser feita a
revisão e se o locutor e o redactor não forem a mesma pessoa, o texto deve ser refeito
por quem, efectivamente, vai ler, isto é, deve-se fazer a re-elaboração para que não haja
qualquer tipo de interferências na divulgação da mensagem. Podemos considerar que se
trata de uma forma mais telegráfica de produzir informação, mas talvez, mais eficaz,
pelo facto de se adaptar às rotinas agitadas da sociedade como irá ser referido adiante. A
Imprensa escrita exige outros requisitos como o número de páginas e caracteres que são
necessários e o jornalista pode ter que acrescentar informação depois de confirmadas e
contactadas as fontes, depois de seleccionados todos os elementos que hão-de figurar na
notícia, sujeitando-se ainda à configuração gráfica que há-de estar a cargo de outro
responsável. Esta forma de funcionamento acaba por estar condensada nos minutos de
noticiários radiofónicos, porque pertence a cada medium a sua forma de produção.
Cada media tem um nível de aceitação de acordo com a forma que cativa o público.
Pelo facto de a Televisão usufruir da imagem não significa que o público só seja adepto
daquilo que é visivelmente perceptível, porque muitas pessoas identificam-se mais ou
menos com o Jornal impresso ou com a Rádio. Mais uma vez, é necessário ter em conta
que se trata do background cultural do público. No entanto a palavra verbalizada acaba
por ter um maior impacto no público. Como tem vindo a ser referido, a Rádio poupa-
nos tempo, conta-nos o que acontece à nossa volta e, assim, temos conhecimento do
essencial. RODRIGUES (1990) defende que é na Rádio que os outros media encontram
o seu modelo mais perfeito pela forma como chega ao público, com grande facilidade.
Como todos sabemos, a sociedade habitua-se a um certo comodismo e a Rádio serve
bem estas regalias. Desta forma, o Jornal encontra maiores dificuldades para chegar até
aos leitores, enquanto que a Rádio está praticamente em todo o lado, basta premir um
botão.
Muitas vezes, podemos pensar que a Imprensa é que «tem selo de garantia» pela sua
existência anterior à Rádio. Todavia, a sociedade evolui a um ritmo tal que, a qualquer
momento o que agora é actual e moderno amanhã deixa de o ser. Por isso, os meios de
comunicação tiveram também que se adaptar ao processo evolutivo das sociedades e a
Rádio é talvez o medium que melhor se adapta ao mundo actual. No entanto, conforme
refere Sandra Marinho4 os conteúdos radiodifundidos só passaram a ser fiáveis depois
dos processos de legislação, que surgiram após a vaga de Rádios piratas, ou seja, depois
de 1990. Porém, actualmente a Rádio é tão acreditada como todos os outros media. Este
nível de igualdade prende-se com o ajustamento a que todos os meios de comunicação
devem ceder para não ficarem na retaguarda da modernidade mediática.
De qualquer forma, não é também pelo facto da Imprensa relatar os grandes momentos
da história da humanidade que é portadora da informação mais clara e isenta possível.
«Nem tudo o que é posto à venda sob a forma de papel impresso tem a ver
necessariamente com a Imprensa...» (NOBRE - CORREIA, 1996:207). Quantas vezes
nos passam pela mão Jornais nacionais ou regionais sem qualquer qualidade nem
estatuto, mal redigidos, sensacionalistas, enfim, um atentado à nossa língua e ao nosso
país. Efectivamente, faz falta um órgão capaz de controlar todas as publicações
impressas que circulam com o nome de Jornal. Já que tal não acontece deveria existir
uma auto regulação por parte de cada profissional. Como sustenta MINC (1994), a
autocrítica faz falta num sistema, já que não existe nenhuma lei específica que controle
a liberdade que caracteriza a Imprensa e, como tal, está sempre segura dos seus direitos
e excessos.
Desta forma, os meios de comunicação dão-nos uma imagem do mundo, mas que,
muitas vezes, é a imagem que eles têm do mundo condicionada pelos seus interesses
económicos, políticos e sociais. Certo é que, apesar do conteúdo que transmitem,
os media diferenciam-se da forma como nos transmitem essa informação, ainda que o
modo de a obter possa ser semelhante ou em sistema de complementaridade, mediante o
que a concorrência produz.