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Universidade Estadual de Feira de Santana

Departamento de Ciências Humanas e Filosofia


Licenciatura em História

Disciplina: CHF 198 – Estudos Afro-Brasileiros


Professora: Fabiana Paixão Viana
Aluno: Eduardo José de Santana Júnior; Rafael Dantas
Data: 21 de Dezembro de 2018

MOBILIZAÇÃO RACIAL NO BRASIL: DILEMAS DA


RESISTÊNCIA

RESUMO: Nesta pequena apresentação, temos como objetivo discutir os


impasses da mobilização racial no Brasil, principalmente entre as décadas de 1970 e 1990,
utilizando como base o texto de Luiz Claudio Barcelos “Mobilização Racial no Brasil:
uma revisão critica” e uma entrevista concedida por Mano Brown, MC do grupo
Racionais MC’s.

Palavras-chave: mobilização racial; Racionais; dilemas da resistência.

Racionais MC’s é um grupo de rap brasileiro que foi fundado em 1988, composto
por Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue, além do DJ KL Jay. A década de 1980, na leitura
de Luiz Claudio Barcelos, foi um período que ainda esteve na onda do movimento “black
soul”, que tomou forma principalmente a partir dos anos 1970.
O “black soul” foi um movimento de caráter principalmente cultural, que visava
garantir formas de lazer à população negra periférica da cidade de São Paulo naquele
período. Esse movimento foi lido como um movimento que conseguiu aglutinar um
grande contingente de pessoas, mas que, não obteve igual importância no campo político.
Ou seja, na década de 1970, em São Paulo, o movimento negro já se movimentava
culturalmente, mas ainda não tinha o que era necessário para instrumentalizar esse
movimento politicamente. (BARCELOS, 1996, p. 12)
Em contrapartida, nessa mesma década de 1970, mais precisamente em 1978, o
Movimento Negro Unificado fora criado, esse movimento, lido por Barcelos como o
“mais nítido projeto de político de mobilização racial contemporânea” (BARCELOS,
1996, p. 13). Essa organização, antes de vir a ser o MNU, era denominada como
Movimento Único Contra a Discriminação Racial. A troca de nome foi um marco no que
diz respeito ao quê se propunha o movimento. A adoção do caráter racial, entendido na
adição do “negro” e a ruptura com os demais movimentos de esquerda, que
necessariamente não tinham como pauta a questão racial, significou também uma menor
participação de diversos outros atores políticos nesse movimento.
Dois aspectos são fundamentais quando falamos no Movimento Negro Unificado:
primeiro, o MNU foi um movimento que entendeu as condições primarias que
perpassavam por seus quadros, todos eram negros e quase todos eram pobres. Ou seja, o
MNU fez a integração entre raça e classe; segundo, o MNU assim como diz o seu nome,
tentou fazer a junção de todos os movimentos negros do período, fossem eles de caráter
cultural, político, étnico ou o que quer que fosse. (BARCELOS, 1998, pp. 198-199)
Sales Augusto dos Santos (2008) coloca que até a década de 1990, os movimentos
negros clássicos, onde o MNU se encontrava, necessitavam de certa metodologia para o
combate ao racismo. O papel do movimento negro clássico foi esse, disseminar a
consciência, principalmente nas periferias dos grandes centros urbanos, que as relações
entre pretos e brancos são extremamente desiguais.
O trabalho que Santos coloca é que, a partir dessa movimentação inicial do
movimento negro na década de 1990 de construção da consciência, as formas de
resistência à discriminação racial por parte do movimento negro tiveram de ser
repensadas, pois essa resistência não encontrou êxito em transformar suas reivindicações
e denúncias em políticas publicas efetivas de combate à descriminação.

Uma das mudanças que foi importante em termos de mobilização negra


contra o racismo no Brasil na década de 1990 foi a reutilização, por
meio do rap, como forma de denunciar e condenar a opressão racial
brasileira. Se, por um lado, o clamor e reivindicação de entidades negras
como, por exemplo, o Movimento Negro Unificado (MNU), por
igualdade racial de direito e de fato, nas décadas anteriores à década de
1990, não conseguiram sensibilizar efetivamente a esfera pública
brasileira para a necessidade de incluir a questão racial na agenda
nacional (Santos, 2007), por outro lado, e até mesmo em função disso,
uma parte importante dos afro-brasileiros, que até então não participava
diretamente da luta anti-racista, passou a fazer coro com os movimentos
sociais negros clássicos, engajando-se no combate contra o racismo.
(SANTOS, 2008, p. 170)

Nesse contexto, de ampliação da consciência e verificação de que suas pautas não


estavam sendo atendidas, de que o racismo enfrentado pelo movimento é estrutural, o
movimento negro agora a partir da expressão cultural - mas não só a partir dela – mobiliza
novas leituras e metodologias de combate e resistência aos “mecanismos e práticas que
levam à reprodução de sua subordinação” (BARCELOS, 1996, P. 187).

Diante da resistência do setor publico em combater o racismo, os Racionais MC’s


contestam o silencio do sistema diante dessa situação, mostrando, numa linguagem
própria do seu estilo musical, o que a sociedade brasileira não queria ver. Ora, segundo
Barcelos, o mito da democracia racial no Brasil ainda está em voga, e as instituições não
pretendem, ou não pretendiam admitir até então, que essa discriminação é real e está
pautada no dia-a-dia do brasileiro médio.

Se a admissão de que o sistema é racista não foi posta em pauta, podemos imaginar
como se seguiu o debate sobre as formas de combate ao racismo pelas instituições. Diante
dessa realidade, os Racionais MC’s chutam a porta das instituições e da sociedade, com
suas letras e postura dizendo “o sistema é racista, e eu vou denunciar!” a letra da música
Capitulo 4 Versículo 3 traduz um pouco dessa revolta:

60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais já sofreram


violência policial;
A cada quatro pessoas mortas pela polícia, três são negras;
Nas universidades brasileiras apenas 2% dos alunos são negros;
A cada 4 horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo;
Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente. (Racionais
MC’s; Música: Capitulo 4 Versículo 3)
Barcelos, em seu artigo nos pergunta, quais as características do movimento
negro? E depois que essa resposta é alcançada, a pergunta muda para “em que medida as
dimensões políticas e culturais interpelam-se mutuamente na prática do movimento
negro”? Barcelos sugere que, não é que o movimento negro não consiga fazer a junção
entre seus movimentos culturais e suas demandas políticas, mas que, o sistema político
brasileiro que não permite que as políticas públicas sejam pautadas em questões
identitárias, pois, como já argumentado, o “mito da democracia racial” ainda está em voga
no Brasil, e permitir políticas que realmente visem à resolução do problema é admitir em
si que o sistema é racista. (BARCELOS, 1996)

“Romper o círculo vicioso que condena a questão racial à invisibilidade tem


caracterizado a atuação do movimento negro” (BARCELOS, 1996, p. 19). Os Racionais
MC’s têm se colocado como um importante porta voz dos setores mais oprimidos pela
discriminação racial no Brasil, e sua insurreição, por meio da música, se apresenta como
uma poderosa ferramenta anti-racista contra a estratégia ou “consenso do silêncio”
(SANTOS, 2008) no que tange à questão racial.

A principal questão proposta pelo discurso de “organização do ódio” – para usar


uma definição da filósofa Djamila Ribeiro – elaborado pelos Racionais, além da evidente
contestação ao status quo, é a articulação da ideia da busca e da construção de uma
identidade afro-brasileira do ponto de vista político, fundamentado em bases culturais.
De acordo com Tarso de Melo:

É inegável que, com suas letras, os Racionais querem chamar o


povo preto à consciência, e o fazem de diversas maneiras, nem
sempre explícitas, durante as três décadas (até aqui!) de existência
do grupo, mas, ao reparar no ‘baile’ que toca sob as letras,
constatamos algo ainda mais brilhante: aqueles quatro jovens,
todos com cerca de 20 anos, sabiam desde o início que chamar à
consciência não poderia ficar apenas nas palavras, mas também
na forma como a cultura negra seria valorizada como um todo
junto às suas letras fortes, com destaque, claro, para a música
negra. (MELO, 2018. Grifos do autor)
Entendemos que o que mais chama a atenção no discurso apresentado pelo grupo
Racionais é o consenso gerado em torno da necessidade de mobilização da realidade. De
um lado, esse discurso denuncia, mais uma vez, a discriminação racial a que a população
negra brasileira está sujeita no dia-a-dia, e, de outro lado, constrói, reconstrói, desenvolve
e dissemina uma consciência dessa discriminação e das desigualdades raciais que ela
produz, de forma mais expressiva e contundente que os movimentos sociais negros antes
da década de 1990.

O discurso altamente racializado da poesia dos Racionais, “palavra que vale um


tiro”, estabelece como alvo, simultaneamente, tanto o mito da democracia racial brasileira
quanto a estratégia do silêncio sobre a questão racial no país, produtora de um verdadeiro
“holocausto urbano”. Mais do que isso, é um tipo de integração cultural à ação política
que funciona como uma arma que atira da periferia contra o centro do sistema. Algo
consciente e intencional. Na leitura do próprio Mano Brown, em entrevista concedida ao
Le Monde Diplomatique Brasil:

E hoje, passados os anos, eu penso: o que um moleque de 21 anos podia


fazer de tão mal contra o sistema, fora aquele rap? Era a arte do blefe:
eu pesava 70 quilos, não tinha dinheiro pra pegar um ônibus e já
ameaçava o sistema. E o sistema acreditou. Entendeu? O que eu poderia
fazer contra, mais, fora aquilo ali? Sei lá, pegar uma arma, virar
assaltante, morrer rápido? Então... a leveza da música, o lado leve, que
ninguém percebia, era a idade que a gente tinha. A gente não tinha
condições de fazer muita coisa fora da música. Hoje em dia eu tenho
condições de fazer muito mais. Até falando de amor. Eu sou muito mais
perigoso.

A organização poética do ódio, dada na composição artística do rap, é um tipo de


ordenação discursiva que ajuda a quebrar a representação do branco sobre o negro, quer
na vida diária, quer no mundo acadêmico, quer nos movimentos culturais que se afirmam.
Assim, considerando-se as formas de resistência e combate anti-racista abordadas pelos
demais seminários apresentados, podemos perceber que ela compõe uma pauta de
reivindicação que vem não somente se ampliando e ampliando suas conquistas, mas
também vem apresentando propostas efetivas de acesso à cidadania plena. Todas as
abordagens apresentadas cumprem um papel específico, nem mais nem menos
importante, no combate ao racismo. Mais do que isso, todas as formas de luta contra o
racismo no brasil, seja ele expresso no cinema, na mídia, no corpo ou nos padrões
estéticos, vêm contribuindo para negar o discurso do branco sobre o negro ou para quebrar
o monopólio branco sobre a representação do negro no Brasil, monopólio que
historicamente vinha colocando as lutas e as reivindicações do movimento negro à
margem do espaço público.

REFERÊNCIAS

BARCELOS, Luiz Cláudio. Mobilização racial no Brasil: uma revisão crítica. Afro-Ásia.
N. 17. 1996. pp. 187-210.
MELO, Tarso de. Sobrevivendo no inferno: ainda e sempre. Cult, Nº 241, dez. 2018.
RACIONAIS MC’S. Sobrevivendo no Inferno. Cosa Nostra Fonográfica, 1997.
SANTOS, Sales Augusto dos. Os rappers e o ‘rap consciência’: novos agentes e
instrumentos na luta anti-racismo no Brasil na década de 1990. Sociedade e Cultura, v.
11, n. 2, jul/dez. 2008. Pp. 169-182.
Jornal Le Monde Diplomatique Brasil. Entrevista: Mano Brown – vídeo, música e texto.
Um sobrevivente no inferno. 08 de janeiro de 2018. Disponível em
http://diplomatique.org.br/um-sobrevivente-do-inferno/. Acesso em: 21/12/2018.

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