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Virginia Satir:
“a Mãe da Terapia Familiar”
por Alexandre Kassis
Entrevista de E
V
Eva Wieprecht A
Enredos
Revista Digital
Edição Zero : Especial Virginia Satir - Fevereiro de 2017
Distribuição Gratuita
Uma publicação da Editora Enredos
Editor: Alexandre Kassis
Contatos: alexandrekassis@editoraenredos.com.br
Colaboradores da Edição:
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REVISTA ENREDOS
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CONTEÚDO
VIRGINIA SATIR: “A MÃE DA TERAPIA FAMILIAR”
POR ALEXANDRE KASSIS
9 OS TRÊS NASCIMENTOS
E NOSSAS APRENDIZAGENS
AO LONGO DA VIDA
POR EUNICE BRITO
12 O VALOR DA AUTOESTIMA
NO MODELO DE VIRGINIA SATIR
POR ANA GUITIÁN RUIZ
27 EU E SATIR
DEPOIMENTO DE IRENE CARDOTTI
Virginia Satir :
“A mãe da Terapia Familiar”
por Alexandre Kassis
Sou totalmente encantado pelo Modelo de Validação Humana de Virginia Satir e vivo a
emoção de publicar esta edição especial da Revista Enredos, a primeira, só sobre ela!
Virginia (como ela gostava de ser chamada) nasceu em 1916 em Neillsvile, Wisconsin,
EUA e é conhecida como “a mãe da terapia familiar”, uma das principais pioneiras no
campo e representante da abordagem Simbólico-Experiencial, na tradição da Psicologia
Humanista. Faleceu em 1988, vítima de câncer no pâncreas.
Seu lema emblemático era tornar as pessoas planamente humanas. Seu Modelo ter-
apêutico valoriza cada indivíduo, famílias casais, o ser humano em suas singulari-
dades, seus próprios recursos potenciais para mudança e crescimento e é conhecido
como Modelo Satir, de Validação Humana, Processual, de Transformação, de Cresci-
mento.
Virginia foi uma das primeiras integrantes do MRI (Mental Research Institute) e em Chicago,
1951, ela deu início ao atendimento a famílias em prática privada.
Em 1955, foi professora em um programa para formação de residentes no Illinois State Psychiatric
Institute.
Em 1959 no MRI, tornou-se a primeira diretora de treinamento, até 1966, quando se tornou dire-
tora do Esalen Institute em Big Sur na Califórnia.
Em 1964, publicou o livro “Terapia do grupo familiar”, sucesso e marco histórico da Terapia Fami-
liar, no qual compartilhou suas reflexões e abordagens práticas de atendimento, baseadas em seus
encontros terapêuticos com muitas famílias.
Em 1977, fundou o Avanta Network, fórum para continuidade e desenvolvimento de seu Mo-
delo, que hoje conta com a participação de membros em diversos países, em vários Institutos pelo
Mundo.
Nos anos 80, focalizou seus esforços em trabalhos com grandes grupos, como facilitadora de
desenvolvimentos dos participantes, sobretudo nos usos de seus mais conhecidos “veículos de
mudança”: a Reconstrução Familiar e a Festa das Partes (temas de artigos nas próximas edições da
Revista Enredos).
Nos últimos anos de vida, continuou a didicar-se à formação de terapeutas em seu Modelo e a mi-
nistrar palestras em diversos países para a promoção da paz mundial e crescimento espiritual dos
seres humanos.
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O Modelo Satir focaliza os indivíduos e suas relações com seus sistemas familiares de origem e
atuais e se insere no contexto de terapias familiares pioneiras centradas em estudos no âmbito
da Comunicação Humana, com atenção especial às emoções. Seu foco é o intrapsíquico, o interin-
dividual e os sistemas interativos humanos, a busca de comunicações funcionais, a consciência e
experiências presentes, as regras e papéis rígidos na família (explícitos e implícitos) que devem ser
compreendidos e modificados para possibilitar o crescimento de todos, a busca de congruência,
responsabilidade pelas próprias escolhas, aumento da autoestima.
Todos são considerados em seus valores únicos, sem hierarquias. Nesse sentido, valoriza as dife-
renças e essência de cada pessoa, como fontes de mudança e crescimento. O processo terapêutico
busca trazer à consciência o poder de cada um na tomada de decisões, baseadas na consciência de
seus próprios recursos internos para o crescimento e na ressignificação pela avaliação realística das
experiências do passado, à luz das experiências presentes.
Com relação à Formação profissional no Modelo, ela pressupõe o uso self do(a) terapeuta nos pro-
cessos de transformação junto aos clientes, que deve se apresentar em sua humanidade enquanto
facilitador(a) de mudanças e crescimentos, não como autoridade e curador(a) ou solucionador(a)
de problemas. Assim, a formação profissional aponta para a necessidade de comunicação con-
gruente, autoconhecimento, ampliação da consciência, contatos e aceitação de sentimentos e
emoções, transformação e crescimento de cada terapeuta, sendo necessário vivenciar o Modelo
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em profundidade, rumo aos seus próprios desenvolvimentos, pois só poderão buscar poten-
cializar junto aos clientes, certos processos de mudança que já vivenciaram, isto é, tornarem-
se conscientes de seus próprios recursos internos para mudança e crescimento, e usá-los com
liberdade e responsabilidade em relação às suas escolhas pessoais. Desse modo, tornarem-se
congruentes antes de buscarem facilitar a congruência nos outros é uma exigência da formação
de terapeutas no Modelo Satir.
Na minha trajetória de formação como terapeuta familiar, participei dos dois Módulos Practi-
tioner no Modelo de Validação Humana, que foram ministrados por Eva Wieprecht do Instituto
Internacional Virgínia Satir da Alemanha em parceria com a Semilla, cursei o Módulo Master 1 e
cursarei o Master 2 em breve (ver programação dos módulos em 2017, em São Paulo-SP).
Recomendo sinceramente a Formação completa no Modelo Satir, que tem sido muito importante
para meus desafios pessoais e também profissionais, pois foi também inspiradora a ponto de me
levar a participar de um curso Especialização de Terapia Familiar Sistêmica, pelo CEFATEF, hoje
sou professor convidado nessa instituição e em 2017 ministrarei um curso de Extensão sobre
o Modelo Terapêutico Familiar de Virginia Satir e outros cursos congêneres na sede da Editora
Enredos. Tenho estudado em profundidade o Modelo Satir e me convencido a cada dia de seu
valor no campo da Terapia Familiar, de casais, bem como nos desenvolvimentos individuais de
todos os participantes dos sistemas familiares e todos os grupos humanos.
A presente edição da Revista Enredos é uma pesquena homenagem à Virginia Satir e seu legado.
Nas próximas edições publicarei mais artigos sobre o Modelo Satir, dentre outros conteúdos
sobre terapias e desenvolvimento humano.
Felicidade!
Abraços.
Alexandre Kassis
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Os Três Nascimentos
e nossos aprendizados
ao longo da vida
por Eunice Brito
Psicóloga, Consultora, Coach, fundadora da Semilla Treinamento Empresarial e uma das orga-
nizadoras da Formação no Modelo de Validação Humana Virginia Satir no Brasil. Há 30 anos no
segmento de desenvolvimento humano, com diversas formações nacionais e internacionais entre
elas Psicologia Analítica Junguiana, Consultoria Sistêmica Empresarial, Constelações Organi-
zacionais, Coaching Sistêmico, Coaching Integrativo, Coaching com PNL, Coaching Generativo,
Constelação Familiar e Modelo de Validação Humana da Virginia Satir. Atua em consultório com
atendimentos individuais em psicoterapia, coaching e orientação profissional e vocacional. Em
empresas desenvolve projetos de Team Building, desenvolvimento de liderança, sucessão e pro-
cessos de mudança. Contatos: atendimento@semilla.com.br
Como seres humanos, temos uma busca essencial e intrínseca de completude e felicidade, que
nos impulsiona e movimenta na vida, para o reencontro do nosso tesouro interior.
Nessa busca, o grande desafio é nos tornarmos plenamente humanos, fazendo escolhas e capazes
de nos tornarmos totalmente responsáveis por nossas vidas.
Segundo Virginia Satir, uma grande pensadora e terapeuta que influenciou muitas das correntes
de autodesenvolvimento da atualidade, o ser humano tem a possibilidade de ter três nascimen-
tos ao longo da mesma vida.
O segundo nascimento é quando nascemos do ventre de nossa mãe e temos a primeira experiên-
cia do lado de fora do útero. Iniciamos uma trajetória na Terra para encontrar e reencontrar pes-
soas, aprender, crescer e evoluir.
Temos uma parte que ao longo dos nossos aprendizados se mantém integra e imaculada, que nos
lembra em diversos momentos que somos um milagre da força vital e que existem recursos para
expressar esta natureza. É a nossa voz interior, o nosso Self.
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Na jornada de aprendizado que realizamos a partir desta entrada no mundo relacional, muitas
coisas acontecem que nos aproximam ou distanciam dessa essência.
O grande desafio da evolução nesta dimensão é nos aproximarmos dessa essência e nos tornar-
mos mais plenamente humanos, fazendo escolhas e respondendo às circunstâncias e aos even-
tos, ao invés de reagirmos a estes. Sendo responsáveis pela vida que recebemos.
O filósofo francês Jean-Paul Sartre escreveu: “Não importa o que fizeram a você, importa o que
você faz do que fizeram a você”.
Não podemos alterar o passado, mas conseguimos mudar os efeitos do mesmo sobre nós. Fazer
o presente de acordo com as nossas escolhas e desenhar o futuro desejado.
Aprendemos com nossos pais, os primeiros seres humanos que servem de modelo para nossa
cami-nhada na Terra. Muitas coisas que descobrimos com eles são frutos de suas experiências e
padrões familiares, que podem ser inclusive disfuncionais.
Portanto, podem ser ressignificados, gerando novos aprendizados que facilitem a expressão real
das nossas potencialidades e do brilho interior. Isto é tornar-se plenamente humano, é ser uma
pessoa na íntegra.
É poder viver a experiência de harmonia com corpo, mente, sentimentos, alma e espírito, refleti-
da nas ações de interação consigo e com o outro. A essa experiência damos o nome de congruên-
cia, indivi-duação, evolução etc. Não importa o nome dado, o significado maior é que temos
escolhas de buscar a expressão plena de nosso espírito, do nosso Self, ou seja, daquela dimensão
dentro de nós que é a manifestação da Força vital.
Nesse modelo, afirmamos que os pais são os instrumentos ativadores da vida neste plano,
porque a vida em essência já existe. Ela pertence à dimensão da Força Universal e, como tal, se
manifesta em múltiplas e variadas formas.
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Com os pais, vivemos a experiência de aprendizado nas dimensões do pensar, sentir e fazer,
mas temos a capacidade de aprendermos coisas novas e nos transformamos em quem quere-
mos ser, e não apenas em quem devemos ser. Aceitá-los como pessoas que também estão em
A formatação do que devemos pensar, sentir e fazer é útil para que possamos ter a sensação de
pertencimento ao clã, mas também gera a manutenção de padrões familiares, muitas vezes dis-
funcionais, fidelidades que muitas vezes nos impede de manifestar aquilo que realmente somos.
mos e aceitarmos a história, os eventos e os atores envolvidos, de uma forma onde assumimos
o protagonismo da nossa vida. É uma jornada de descoberta em direção à estrela que somos em
essência.
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O Valor da Autoestima
no Modelo de Virginia Satir
por Ana Guitián Ruiz
Há muitos significados para autoestima, alguns até pejorativos, muitas vezes ouvimos al-
guém se referir à outra pessoa como tendo demasiada autoestima, aquela pessoa que se acha.
Porém, de maneira geral há um consenso da importância de se ter uma sensação da nossa
própria relevância, de estarmos conscientes que somos importantes, da nossa autovaloriza-
ção.
Para Virginia Satir, mãe da terapia familiar e expoente da psicologia humanista, a importân-
cia de nutrir e desenvolver a autoestima ocupa um lugar fundamental em seu Modelo. Para
ela cada pessoa é uma manifestação da Força Vital que recebeu o presente maravilhoso de um
Espírito Interno que ela vai chamar de Self. Este é um ponto muito importante, pois todos os
seus modelos, todas as ferramentas, todas as abordagens convergem no sentido de reconec-
tar a pessoa ao Self, ao espírito interno e à força vital. É quando estamos conectados a esses
elementos que nosso senso de autovalor se amplia e nossas ações no mundo vêm de lugar de
centramento e são congruentes.
Ao longo da vida, especialmente no convívio com a nossa tríade de origem, pai e mãe ou
quem quer que tenha nos acolhido e acompanhado na infância e adolescência, verificamos
que dentro de nós vão ocorrendo movimentos que nos afastam desse estado de centramento
e autovalor. Como pequenos seres curiosos, observamos tudo e aprendemos, sugamos como
esponjas todas as informações e estabelecemos um modelo interno de como vamos funcionar,
muitas vezes durante o resto de nossas vidas.
Eu posso ter recebido muitas informações que foram verbalizadas ou não, eram explícitas ou
implícitas. Eu posso ter aprendido que é só trabalhando duro posso alcançar tudo o que quero,
ou ter aprendido que não importa o que faça nunca serei bom o suficiente, ou que é perigoso
expressar aquilo que sinto e quero, ou ainda, que não devo expressar minha indignação e raiva
ou até o oposto: para conseguir o que quero devo usar sempre minha raiva com violência.
Essas podem ter sido mensagens gravadas tão profundamente que eu as levo comigo onde
estiver, nos meus relacionamentos, no meu ambiente profissional, na minha vida em geral.
O importante aqui é entender que tudo isso representa apenas aprendizados e que provavel-
mente nos foram muitos úteis, talvez a única maneira possível, os únicos recursos disponíveis
para conseguíssemos chegar até o dia de hoje. No entanto, isso pode nos ter custado um preço
muito alto, nós fizemos um sacrifício, nos distanciamos daquela Força Vital, do nosso Self,
sacrificamos a nossa autoestima.
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Em todo o mundo, não há ninguém exata- No entanto, eu pareço e soo, tudo o que eu digo
mente como eu. Tudo o que sai de mim é e faço, e tudo o que eu penso e sinto em um
autenticamente eu. Porque só eu o escolhi - Eu determinado momento no tempo, é autentica-
possuo tudo sobre mim. Meu corpo, meus mente mim mesmo.
sentimentos, minha boca, minha voz, todas as Se mais tarde algumas partes da minha aparên-
minhas ações, sejam eles para os outros ou a cia, de como soei, pensei e senti possa vir a
mim mesmo. ser inconveniente, eu posso descartar o que é
Eu possuo minhas fantasias, sonhos, minhas inconveniente, manter o resto, e inventar algo
esperanças, meus medos. Eu possuo todos novo para o que eu tenha descartado.
os meus triunfos e sucessos, todos os meus
fracassos e erros. Porque eu possuo tudo de Eu posso ver, ouvir, sentir, pensar, dizer e
mim, eu posso tornar-me intimamente fami- fazer. Eu tenho as ferramentas para sobre-
liarizado comigo mesmo. viver, estar perto de outras pessoas, para ser
produtivo a dar ordem e sentido ao mundo, às
pessoas e às coisas fora de mim. Eu me possuo,
Ao fazê-lo eu posso me amar e ser amigável e, portanto, eu posso me reordenar.
comigo e todas as minhas partes.
Eu sou eu e ... Eu estou bem.
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Eva Wieprecht
• Diretora do Instituto Internacional Virginia Satir da Alemanha,
Colônia.
• Trainer Certificada no Programa de Enriquecimento (Enriching
Program) – baseado nos ensinamentos de Virginia Satir, por Sha-
ron Loeschen
• Desenvolveu os Sete Estágios Sistêmicos de Satir
• Desenvolveu as Práticas de Integração do Movimento Somático
(SMIP)
Contatos (texto em Alemão ou Inglês ) :
info@eva-wieprecht.de
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Eva, por favor, fale um pouco sobre como você conheceu o Modelo Satir?
Meu histórico é de gerir um negócio familiar há décadas. Dito isso, sempre me interessei em
encontrar modelos práticos que ajudassem a descrever como os sistemas funcionam, especial-
mente quando você tem que enfrentar o duplo desafio de gerir, de maneira bem-sucedida, um
sistema familiar bem como um negócio e também ter padrões familiares interligados através
dessa tarefa.
Então eu conheci a NLPU na Universidade de Santa Cruz onde a PNL começou. Antes de ser
PNL, era o estudo de experiências subjetivas e Virginia Satir foi uma dos principais modelos,
juntamente com Fritz Perls e Milton Erikson, nos quais a PNL foi baseada.
Minha amiga, mentora e colega Judith de Lozier de fato morou com a Virginia enquanto a
Virginia escreveu o livro Changing with Families ( Mudando com as Famílias), juntamente com
John Grinder e Richard Bandler, os fundadores da PNL.
Outra fonte de estudo é meu professor, amigo e colega, Dr. Stephen Gilligan, que estudou dire-
tamente com a Virgínia e então mais tarde mudou para seguir o caminho de Milton
Erickson e se tornou um dos representantes mais influentes e importantes da Próxi-ma Geração
da Hipnoterapia Ericksoniana.
Outra influência profunda veio através de meus estudos com meu professor alemão, Dr. Gun-
ther Schmidt. Ele desenvolveu a abordagem hipnosistêmica e uniu os estudos dos sistemas fa-
miliares de Virginia Satir e a hipnoterapia Ericksoniana. Através destas fontes também conheci
a “família Satir” e estudei profundamente com Dra. Maria Gomori e Sharon Loeschen.
Todas essas fontes de pessoas que estudaram diretamente com Virginia Satir me deram uma
compreensão muito rica, ampla e profunda do Modelo Satir, bem como a metodologia de uti-
lizar coreografias/imagens/esculturas como um caminho de conscientização, aprendizagem e
transformação.
Eu mesma me tornei a Virginia em várias ocasiões: Eu também tive uma série de encontros
diretos muito originais com Virginia Satir através de uma técnica Ericksoniana chamada identi-
ficação de transe profundo.
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Nesse processo você identifica uma pessoa de seu interesse, no meu caso Virginia Satir, e você
convida a pessoa a incorporar o espírito dela e através da identificação incorporada obtém uma ex-
periência de referência mais profunda de dentro para fora sobre um aspecto de seu interesse. Fiquei
muito intrigada em saber sobre a coragem da Virginia que lhe permitiu tornar-se uma pioneira tão
criativa na área. Eu também fiquei muito interessada em descobrir mais sobre sua fonte criativa,
bem como sua forma única de fazer contato plenamente com cada membro do sistema. O que eu
descobri neste processo foi uma maneira intensa de se conectar energeticamente ao sistema do
cliente e uma curiosidade sem fim sobre a narrativa dos clientes, bem como os detalhes mais delica-
dos de todas as camadas da comunicação não verbal.
Na Ilha de Gabriola, como uma líder ao lado da Dra. Maria Gomori e durante uma en-trevista,
Maria me incentivou a fundar o Instituto Satir alemão e a continuar o trabalho na próxima geração.
Maria me incentivou a fundar o Instituto Satir alemão e a continuar o trabalho na próxima geração.
Isto me trouxe o desejo de traduzir todos os muitos princípios e conceitos fundamentais que
aprendi no Modelo Satir, na abordagem Hipnosistêmica, no Coaching Generativo (desenvolvido
por Robert Dilts e Stephen Gilligan) bem como no Transe Generativo (desenvolvido por Stephen
Gilligan) como formas de serem expressas através do corpo. Isto se tornou a Prática de Integração
do Movimento Somático – SMIP (Somatic Movement Integration Practice - SMIP). Eu introduzi a
SMIP em muitos grupos e muitas culturas no mundo nos últimos cinco anos, como Rússia, China,
Espanha, Uruguai, Brasil, Itália, Alemanha e Estados Unidos. Eu criei danças como: Dança da
Crença de Satir, Dança-Postura, Dança do Processo de Mudança, Dança dos Opostos, bem como
padrões universais de movimentos de relacionamentos e gestos universais.
Como a dança impacta a pessoa? O que seus alunos aprendem com esses
tipos de experiências?
Para colocar isso nas palavras da famosa dançarina Isadora Duncan: “Se eu pudesse expressar isso
em palavras eu não precisaria dançar” ou nas palavras de Gabrielle Roth: “Quando você coloca o
corpo em movimento a alma sabe como curar-se”.
Através de meus estudos com o Dr. Stephen Gilligan eu aprendi que pesquisas hoje mostram que
dois elementos-chave criam sintomas crônicos e sofrimento contínuos:
1) O isolamento de um sintoma de seu sistema maior (trauma é um exemplo bem óbvio disso).
2) falta de musicalidade e ritmo.
Se isso é verdade, minha curiosidade vai imediatamente para a ideia, como podemos criar um
espaço comunitário onde as pessoas podem, em segurança, se reconectar com a música e ritmo.
Quando você começa a mover seu corpo, você começa a curar sua mente. Quando eu me expresso
em movimento, podemos começar a encontrar lugares onde o corpo para, onde eu posso me
deparar com paredes invisíveis, onde eu me conecto com o meu self condicionado, e congelo, me
impeço de seguir adiante. Quando você observa crianças pequenas se movendo, elas não param.
O parar de se movimentar começa a acontecer muito mais tarde na vida e isso é aprendido através
do que o existencialista chamaria “a função do olhar” (como a expressão de nosso self (eu) foi
recebida pelos olhos do outro).
Paramos de nos mover livremente em nossos corpos quando aprendemos que alguns movimentos
são aprovados e alguns não. Então quando eu facilito atividades diferentes de movimento Open
Floor (em chão aberto), torna-se muito rapidamente óbvio onde o movimento é restrito, onde
respirar torna-se superficial, onde o movimento para. Através de um coaching muito cuidadoso,
porém direto, ajudo meus clientes a tomar uma decisão consciente de continuar os movimentos, a
respiração, de ampliar e expandir o território conhecido do movimento.
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Com certeza! Você sabe que alguns dos nossos aprendizados são feitos tão cedo, tão implícitos que
eles podem estar muito profundamente enraizados em nossas células e eu posso senti-los intensam-
ente, mas não ser capaz de colocá-los em palavras, pois eles foram aprendidos na época pré-verbal.
Então eu gosto, fortemente, de usar o corpo e as possibilidades do movimento como um veículo para:
-Explorar
-Aprender
-Compreender
-Aceitar
-Reaprender e nesse espaço: mover-se além do território habitual
Se eu uso o meu corpo num nível muito consciente, de uma forma muito cuidadosa e amorosa, para
encontrar os limites da aprendizagem, (não forçando através deles, mas sendo muito cuidadosa)
eu percebo que quando eu permito que isso aconteça, que meus clientes, meu grupo começa a ter,
através da exploração do corpo, através da exploração do movimento, novas percepções, novas sensa-
ções, novos sentimentos, novas formas de dar significado, etc., basicamente, tendo um efeito cascata
desejável sobre o iceberg inteiro.
Isto foi tudo muito inspirado pelo meu querido professor Dr. Gunther Schmidt que usa uma técnica,
que ele chama de Ginástica da Solução do Problema ou Tai Chi da Solução do Problema e o Dr. Stephen
Gilligan que criou uma técnica chamada Modelagem Somática que então se torna uma dança em transe.
A partir dessa ideia eu desenvolvi a Dança-postura. Em Coaching, por exemplo, identifico uma postura
corporal que esteja relacionada com a identificação, com um resultado desejado e então identifico o que
está atrapalhando e tenho isso representado por outra postura corporal que melhor represente essa ex-
pressão. Então nós desenvolvemos uma dança em transe muito lenta e fluida que conectará com fluidez
aqueles estados de ego que anteriormente estavam armazenados separadamente em uma dança fluida,
de forma que a transformação possa ocorrer em um nível somático.
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Daqueles modelos eu tomei então as Posturas de Comunicação desenvolvidas por Virginia Satir,
como representações físicas de padrões arquetípicos que são disparados com o stress (Acusador,
Apaziguador, Computador, Evasivo) e desenvolvi posturas arquetípicas de recursos, que poderiam
ser voluntariamente exploradas e ativadas.
Eu criei:
-Uma postura específica e uma dança-postura das muitas maneiras de ser capaz de expressar a
energia do guerreiro pacífico (Postura de Recurso da Postura do Acusador)
-Uma postura especifica e uma dança-postura das muitas maneiras de ser capaz de expressar a
energia do ser amoroso (Postura de Recurso da Postura do Apaziguador)
-Uma postura específica e uma dança-postura das muitas maneiras de ser capaz de expressar a
energia do rei/rainha/líder (Postura de Recurso da Postura do Computador)
-Uma postura específica e uma dança-postura das muitas maneiras de ser capaz de expressar a
energia do mago (Postura de Recurso da Postura do Evasivo)
Em seguida, como um próximo passo, nos movemos como em uma gangorra entre a Postura de
Estresse e a Postura de Recurso e criamos uma dança em transe fluida entre elas. Tudo isto pode
agora se tornar uma fonte muito poderosa para compreensão, transformação e curas profundas.
Estes desenvolvimentos moldaram minhas Danças-Postura e Dança-Intervenção de Postura de
Estresse.
Isso para mim é arte na cura! Isto para mim é usar a inteligência estética com o intuito de criar
paz interior.
Meu self habitual está agindo no mundo de maneira muito oposta. Costumo estar muito
disponível, costumo conceder muito para o mundo e para os outros, costumo cuidar muito dos
outros. Então, quando você olha para a metáfora física, a representação corporal, você poderia
traduzir o sintoma da colite como uma forma exa-gerada deuma tentativa física de criar um
um limite em relação ao mundo exterior. Você também poderia traduzi-la como uma tenta-
tiva de criar autocuidado. Portanto, já fiz essa relação que podemos traduzir a coordenação
corporal como uma metáfora física do inconsciente criativo. Então estudei com o Dr. Stephen
Gilligan. Eu fiz uma demonstração com ele e nela ele usou a modelagem somática e dança em
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transe como um caminho transformacional, trabalhando na minha questão que foi chamada:
“Eu gostaria de trazer essa parte de trabalho pra fora, mas toda vez que eu tento fazer isso meu
sintoma de colite me impede de fazer isso acontecer.” Após a exploração, meus sintomas de
colite diminuíram drasticamente.
Sim, sem dúvida! Eu encontrei uma maneira de aprender a ouvir sinais mais sutis do corpo di-
zendo “Não” e a aprender a traduzir essas mensagens.
Você tem alguma questão com pessoas que, por exemplo, tiveram
várias experiências traumáticas, que estão desconectadas do corpo.
Você acha isso um desafio? Como você lida com essas pessoas?
Eu considero que para alguém que esteja desconectado do corpo, por qualquer motivo, a aborda-
gem centrada no corpo através do movimento é um excelente recurso para a cura e reconexão.
Quero dizer, porém, que levo essas histórias muito seriamente em consideração e me
concentro em alguns elementos em especial:
-Muito aterramento
-Ritmo lento
-Pequenos blocos de experiências!
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Mantenho meu foco de atenção por um tempo muito longo no início em aterramento; em en-
contrar uma conexão forte com a terra, o chão. Eu coloco uma grande atenção no corpo estando
em um espaço específico no tempo. Um dos mantras que introduzo, por exemplo,
nessas explorações de movimento é: “Eu, aqui, agora”.
Quero também ressaltar sobre sua pergunta, que introduzo o recurso e o veículo do movimento
de muitas maneiras, dependendo do histórico do cliente com movimento, história pessoal e
assim por diante.
Eu normalmente trabalho com grupos durante um tempo prolongado. Durante todo esse
período, eu terei experienciado muitos participantes no chão. Considerando isso e a minha
habilidade de observação, bem como a minha experiência em trabalhar com grupos por muitos
anos, rapidamente eu sei onde as pessoas estão, quais podem ser seus limites de aprendizagem
e como isso aparece no corpo, bem como no movimento.
Percebo rapidamente qual pode ser um próximo passo de uma experiência de aprendizagem,
uma parte de expansão para cada participante. Depois, de forma divertida e hábil me conecto
em vários momentos com os participantes em movimento e faço contato com eles para provo-
car através do uso de mim mesma, o que for que possa levá-los a uma nova etapa de aprendiza-
gem em movimento.
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Sim, eu uso a mim como uma ferramenta, como um modelo, bastante ativamente no processo.
Curiosamente, tive uma conversa com meu amigo Steve (Dr. Stephen Gilligan) que me disse que
chamou seu interesse e curiosidade o fato de eu fazer algo em movimento que ele conhece e faz
muito conscientemente no trabalho de transe, querendo dizer com isso que ele usa, ativamente,
energias arquetípicas que são necessárias para equilibrar o sistema. Por exemplo, posso usar
algumas brincadeiras se a conversa começar a ficar muito pesada ou séria demais ou trago mais
seriedade e ferocidade quando a conversa precisa de mais definição. Isso também é verdade para
mim. Quando vejo na expressão do movimento que alguns ingredientes de energia estão fal-
tando, provoco esses ingredientes no cliente e basicamente crio um diálogo de movimento entre
nós dois para ajudar o cliente a se mover além dos limites do conhecido e atravessar para um
novo território. Então eu realmente uso o Self muito intencionalmente e várias vezes em cada
sessão. Quero ressaltar que trabalho perto dos limites. Eu não forço as pessoas, eu prefiro pro-
vocar, convidar novas possibilidades. Para isso precisamos primeiro estabelecer um enquadra-
mento que contenha os ingredientes da segurança, curiosidade, proteção e conexão positiva.
Temos que receber cuidadosamente o feedback dos clientes. É uma dança mútua de chamar e re-
sponder que nos permite ir além do conhecido sem pressionar o cliente para um espaço de caos
devastador demais para ele lidar com o seu próprio sentido de self. Temos que cuidadosamente
receber o feedback do cliente. Precisamos calibrar o não verbal. O uso do Self do terapeuta é
uma ferramenta muito importante.
Conclusão:
Eu e Virginia
Depoimento de Irene Cardotti
Tenho feito muitas formações e reciclagens com o Bert e Sophie Hellinger, mas
a formação com Eva agrega cada vez mais a forma sutil, profunda e leve de con-
duzir o trabalho, e com tudo isso, essas formações acrescentam e se tornam um
profundo conhecimento interno e consequentemente com grandes mudanças. A
cada momento me sinto mais congruente com a vida e com meu trabalho num
diálogo muito mais humanizado.
Contatos:
Irene Cardotti irenecardotti@uol.com.br
Site: www.irenecardotti.com.br
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Edison Lufaac
Contatos: edisonlufaac@terra.com.br
No inicio da sua carreira, influenciado pelos vitrais da igreja matriz que frequentava, os trabalhos
tinham essencialmente um caráter religioso. Mais tarde desenvolveu o seu estilo próprio e o entalhe
ganha um novo significado. Lufaac trabalha quase sempre policromado - mas sem perder a textura
da madeira. Os veios da madeira saltam à vista quando se analisam os seus trabalhos.
Especial no seu trabalho é a interação entre cor e entalhe. Ambos têm um caráter distinto, mas
juntos dão à obra uma personalidade única. Lufaac transforma a essência da madeira de lei numa
pintura de baixo-relevo tridimensional. A combinação de madeira, cor, habilidade e virtuosismo dá
origem a obras de arte muito belas e com um alto nível de exclusividade.
Edison Lufaac vive e trabalha em Jundiaí no Estado de São Paulo, onde ele já fez várias exposições e
tem atualmente obras expostas em diversas galerias. Ele já expôs nos EUA (Pompano Beach, Del Ray
Beach, Boca Raton, New York) e em 1987 em Lisboa, onde começou a odisseia das suas “Portas” (nós
usaremos o termo “Painéis”).
Exposições: