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Enredo s E d i Ç Ã O Ze r o

Revista Digital da Editora Enredos


Especial Virginia Satir - Fevereiro de 2017 - Gratuita

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Virginia Satir:
“a Mãe da Terapia Familiar”
por Alexandre Kassis

Os Três Nascimentos O Valor da autoestima Eu e Virginia


e nossos aprendizados no Modelo de Virginia Satir depoimento
ao longo da vida por Ana Guitián Ruiz de Irene Cardotti
por Eunice Brito

Entrevista de E
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Eva Wieprecht A

Formadora no Modelo Satir e W


Diretora do Instituto Internacional I
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Virginia Satir da Alemanha P
Nosso artista convidado à Jesse Carlock R
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“Nós somos manisfestações da vida, puros em essência e


contendo o mais poderoso ingrediente que existe no Mundo:
o poder de crescer.” Virginia Satir
REVISTA ENREDOS

Enredos
Revista Digital
Edição Zero : Especial Virginia Satir - Fevereiro de 2017
Distribuição Gratuita
Uma publicação da Editora Enredos
Editor: Alexandre Kassis
Contatos: alexandrekassis@editoraenredos.com.br

Colaboradores da Edição:

Alexandre Kassis, Ana Guitián Ruiz, Eunice Brito,


Eva Wieprecht, Irene Cardotti e Jesse Carlock

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REVISTA ENREDOS

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CONTEÚDO
VIRGINIA SATIR: “A MÃE DA TERAPIA FAMILIAR”
POR ALEXANDRE KASSIS

9 OS TRÊS NASCIMENTOS
E NOSSAS APRENDIZAGENS
AO LONGO DA VIDA
POR EUNICE BRITO

12 O VALOR DA AUTOESTIMA
NO MODELO DE VIRGINIA SATIR
POR ANA GUITIÁN RUIZ

15 ENTREVISTA DE EVA WIEPRECHT


À JESSE CARLOCK

27 EU E SATIR
DEPOIMENTO DE IRENE CARDOTTI

29 NOSSO ARTISTA CONVIDADO


EDISON LUFAAC
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Virginia Satir :
“A mãe da Terapia Familiar”
por Alexandre Kassis

Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais. Arteterapêuta


Junguiano. Pós-graduando em Terapia Familiar Sistêmica. É
Practitioner formado e Master Practitioner em formação no
Modelo de Validação Humana de Virginia Satir pelo Instituto
Virginia Satir da Alemanha/Semilla. É fundador e Editor da
Editora Enredos, especializada em obras com temáticas tera-
pêuticas, educacionais,desenvolvimento humano, Literatura
de ficção para adultos e infanto-juvenil.
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“Nós somos manisfestações da vida, puros em essência


e contendo o mais poderoso ingrediente que existe no
Mundo: o poder de crescer.”
Virginia Satir

Sou totalmente encantado pelo Modelo de Validação Humana de Virginia Satir e vivo a
emoção de publicar esta edição especial da Revista Enredos, a primeira, só sobre ela!

Virginia (como ela gostava de ser chamada) nasceu em 1916 em Neillsvile, Wisconsin,
EUA e é conhecida como “a mãe da terapia familiar”, uma das principais pioneiras no
campo e representante da abordagem Simbólico-Experiencial, na tradição da Psicologia
Humanista. Faleceu em 1988, vítima de câncer no pâncreas.

Seu lema emblemático era tornar as pessoas planamente humanas. Seu Modelo ter-
apêutico valoriza cada indivíduo, famílias casais, o ser humano em suas singulari-
dades, seus próprios recursos potenciais para mudança e crescimento e é conhecido
como Modelo Satir, de Validação Humana, Processual, de Transformação, de Cresci-
mento.

Foi professora no Ensino Primário e Secundário , assistente social, terapeuta familiar,


formadora de terapeutas familiares e autora de livros nesse campo. Em seu trabalho,
defendia ser mais prática e professora que pesquisadora e teórica e que todo processo
terapêutico é um processo educacional.

Nos primórdios da construção do campo da Terapia Familiar, dominado por homens,


sobretudo médicos psiquiatras, através de sua experiência e observações, Virginia per-
cebeu a importância do envolvimento da maoria dos membros das familias nos proces-
sos terapêuticos, para ela centrados mais na saúde que na doença, e foi uma das pri-
meiras a atender famílias inteiras em sessões terapêuticas, a despeito de certos dogmas
de fundo médico e psicanalítico que exigiam o atendimento individual em terapia.
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Virginia foi uma das primeiras integrantes do MRI (Mental Research Institute) e em Chicago,
1951, ela deu início ao atendimento a famílias em prática privada.

Em 1955, foi professora em um programa para formação de residentes no Illinois State Psychiatric
Institute.

Em 1959 no MRI, tornou-se a primeira diretora de treinamento, até 1966, quando se tornou dire-
tora do Esalen Institute em Big Sur na Califórnia.

Em 1964, publicou o livro “Terapia do grupo familiar”, sucesso e marco histórico da Terapia Fami-
liar, no qual compartilhou suas reflexões e abordagens práticas de atendimento, baseadas em seus
encontros terapêuticos com muitas famílias.

Em 1977, fundou o Avanta Network, fórum para continuidade e desenvolvimento de seu Mo-
delo, que hoje conta com a participação de membros em diversos países, em vários Institutos pelo
Mundo.

Nos anos 80, focalizou seus esforços em trabalhos com grandes grupos, como facilitadora de
desenvolvimentos dos participantes, sobretudo nos usos de seus mais conhecidos “veículos de
mudança”: a Reconstrução Familiar e a Festa das Partes (temas de artigos nas próximas edições da
Revista Enredos).

Nos últimos anos de vida, continuou a didicar-se à formação de terapeutas em seu Modelo e a mi-
nistrar palestras em diversos países para a promoção da paz mundial e crescimento espiritual dos
seres humanos.
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O Modelo Satir focaliza os indivíduos e suas relações com seus sistemas familiares de origem e
atuais e se insere no contexto de terapias familiares pioneiras centradas em estudos no âmbito
da Comunicação Humana, com atenção especial às emoções. Seu foco é o intrapsíquico, o interin-
dividual e os sistemas interativos humanos, a busca de comunicações funcionais, a consciência e
experiências presentes, as regras e papéis rígidos na família (explícitos e implícitos) que devem ser
compreendidos e modificados para possibilitar o crescimento de todos, a busca de congruência,
responsabilidade pelas próprias escolhas, aumento da autoestima.

Todos são considerados em seus valores únicos, sem hierarquias. Nesse sentido, valoriza as dife-
renças e essência de cada pessoa, como fontes de mudança e crescimento. O processo terapêutico
busca trazer à consciência o poder de cada um na tomada de decisões, baseadas na consciência de
seus próprios recursos internos para o crescimento e na ressignificação pela avaliação realística das
experiências do passado, à luz das experiências presentes.

Na perspectiva de Virginia Satir em Terapia Familiar, a comunicação disfuncional e a supressão das


emoções são os principais fatores de sofrimento para os indivíduos e famílias. Nesse sentido, para
os seres humanos é crucial a promoção da comunicação funcional, de qualidade e congruente, que
pode ser gerada por contatos profundos com seus corpos, sensações, percepções, pensamentos,
sentimentos, emoções, espiritualidades, nas experiências “aqui e agora”, no presente. Defende e
fomenta as “cinco liberdades” do ser humano: de dizer o que pensa, ao invés do que deveria dizer,
de ouvir e ver o que está presente, ao invés do que se deveria ouvir e ver, de sentir o que sente, ao
invés do que deveria sentir, de pedir o que deseja, ao invés de pedir permissão, de correr riscos, ao
invés de escolher estar em segurança. As mudanças são sempre bem-vindas e possíveis.

Em especial no âmbito da família de origem, as aprendizagens insatisfatórias e dolorosas do pas-


sado podem ser ressignificadas e produzir novas aprendizagens e mudanças realísticas, no sentido
de empoderamento, crescimento individual e saúde de todo o sistema (que pode ser o familiar, o
profissional, o social e o político).

Com relação à Formação profissional no Modelo, ela pressupõe o uso self do(a) terapeuta nos pro-
cessos de transformação junto aos clientes, que deve se apresentar em sua humanidade enquanto
facilitador(a) de mudanças e crescimentos, não como autoridade e curador(a) ou solucionador(a)
de problemas. Assim, a formação profissional aponta para a necessidade de comunicação con-
gruente, autoconhecimento, ampliação da consciência, contatos e aceitação de sentimentos e
emoções, transformação e crescimento de cada terapeuta, sendo necessário vivenciar o Modelo
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em profundidade, rumo aos seus próprios desenvolvimentos, pois só poderão buscar poten-
cializar junto aos clientes, certos processos de mudança que já vivenciaram, isto é, tornarem-
se conscientes de seus próprios recursos internos para mudança e crescimento, e usá-los com
liberdade e responsabilidade em relação às suas escolhas pessoais. Desse modo, tornarem-se
congruentes antes de buscarem facilitar a congruência nos outros é uma exigência da formação
de terapeutas no Modelo Satir.

O(a) terapeuta formado(a) no Modelo pode acessar o sistema con-


siderando sua dinâmica, estrutura, padrões de interação/comunica-
ção e formas de adaptação e enfrentamento de seus membros, que
podem ser transformados positivamente, pela ação terapêutica no
fomento da consciência e ação para mudanças no sentido do bem-
-estar, saúde e equilíbrio dos individuos e grupos.

Na minha trajetória de formação como terapeuta familiar, participei dos dois Módulos Practi-
tioner no Modelo de Validação Humana, que foram ministrados por Eva Wieprecht do Instituto
Internacional Virgínia Satir da Alemanha em parceria com a Semilla, cursei o Módulo Master 1 e
cursarei o Master 2 em breve (ver programação dos módulos em 2017, em São Paulo-SP).

As vivências em duplas, trios e coletivas foram realmente profundas, transformadoras, essenci-


ais para a Formação no Modelo Satir e Eva é uma pessoa maravilhosa, com competência, sensibi-
lidade e carinho que dão um toque especial à Formação.

Agora, procuro vivenciar a congruência no meu cotidiano, um estado de consciência no presen-


te, com abertura para meu self e busca da minha harmonia interna, o que melhora com certeza
minha relação comigo mesmo e as minhas interações humanas. Em termos pessoais, uma das
minhas maiores conquistas foi a redescoberta e consciência de ter um corpo. Antes, eu me perce-
bia como uma cabeça pensante, flutuando sem corpo, e hoje integrada ao meu todo. Outras con-
quistas: conseguir dizer sim ou não de modo congruente com meus pensamentos, sentimentos e
percepções presentes, novos e valiosos olhares sobre minha relação com meus pais, em especial,
com demais familiares e outras pessoas.
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Recomendo sinceramente a Formação completa no Modelo Satir, que tem sido muito importante
para meus desafios pessoais e também profissionais, pois foi também inspiradora a ponto de me
levar a participar de um curso Especialização de Terapia Familiar Sistêmica, pelo CEFATEF, hoje
sou professor convidado nessa instituição e em 2017 ministrarei um curso de Extensão sobre
o Modelo Terapêutico Familiar de Virginia Satir e outros cursos congêneres na sede da Editora
Enredos. Tenho estudado em profundidade o Modelo Satir e me convencido a cada dia de seu
valor no campo da Terapia Familiar, de casais, bem como nos desenvolvimentos individuais de
todos os participantes dos sistemas familiares e todos os grupos humanos.

A presente edição da Revista Enredos é uma pesquena homenagem à Virginia Satir e seu legado.
Nas próximas edições publicarei mais artigos sobre o Modelo Satir, dentre outros conteúdos
sobre terapias e desenvolvimento humano.

Felicidade!
Abraços.
Alexandre Kassis
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Os Três Nascimentos
e nossos aprendizados
ao longo da vida
por Eunice Brito

Psicóloga, Consultora, Coach, fundadora da Semilla Treinamento Empresarial e uma das orga-
nizadoras da Formação no Modelo de Validação Humana Virginia Satir no Brasil. Há 30 anos no
segmento de desenvolvimento humano, com diversas formações nacionais e internacionais entre
elas Psicologia Analítica Junguiana, Consultoria Sistêmica Empresarial, Constelações Organi-
zacionais, Coaching Sistêmico, Coaching Integrativo, Coaching com PNL, Coaching Generativo,
Constelação Familiar e Modelo de Validação Humana da Virginia Satir. Atua em consultório com
atendimentos individuais em psicoterapia, coaching e orientação profissional e vocacional. Em
empresas desenvolve projetos de Team Building, desenvolvimento de liderança, sucessão e pro-
cessos de mudança. Contatos: atendimento@semilla.com.br

Como seres humanos, temos uma busca essencial e intrínseca de completude e felicidade, que
nos impulsiona e movimenta na vida, para o reencontro do nosso tesouro interior.

Nessa busca, o grande desafio é nos tornarmos plenamente humanos, fazendo escolhas e capazes
de nos tornarmos totalmente responsáveis por nossas vidas.

Segundo Virginia Satir, uma grande pensadora e terapeuta que influenciou muitas das correntes
de autodesenvolvimento da atualidade, o ser humano tem a possibilidade de ter três nascimen-
tos ao longo da mesma vida.

O primeiro é o momento da concepção, no qual a força da vida na sua exuberância manifesta-se


e nos tornamos um potencial a se desenvolver. Estamos em processo do vir à luz e deixar bril-
har aquilo que, em essência, somos. É o ciclo da semente, que tem o registro da árvore como um
todo, mas ainda não saiu de dentro da terra.

O segundo nascimento é quando nascemos do ventre de nossa mãe e temos a primeira experiên-
cia do lado de fora do útero. Iniciamos uma trajetória na Terra para encontrar e reencontrar pes-
soas, aprender, crescer e evoluir.

Temos uma parte que ao longo dos nossos aprendizados se mantém integra e imaculada, que nos
lembra em diversos momentos que somos um milagre da força vital e que existem recursos para
expressar esta natureza. É a nossa voz interior, o nosso Self.
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Na jornada de aprendizado que realizamos a partir desta entrada no mundo relacional, muitas
coisas acontecem que nos aproximam ou distanciam dessa essência.

O grande desafio da evolução nesta dimensão é nos aproximarmos dessa essência e nos tornar-
mos mais plenamente humanos, fazendo escolhas e respondendo às circunstâncias e aos even-
tos, ao invés de reagirmos a estes. Sendo responsáveis pela vida que recebemos.

O filósofo francês Jean-Paul Sartre escreveu: “Não importa o que fizeram a você, importa o que
você faz do que fizeram a você”.

Não podemos alterar o passado, mas conseguimos mudar os efeitos do mesmo sobre nós. Fazer
o presente de acordo com as nossas escolhas e desenhar o futuro desejado.

Ao assumirmos a responsabilidade pelas próprias escolhas, temos o marco do terceiro nasci-


mento.

Aprendemos com nossos pais, os primeiros seres humanos que servem de modelo para nossa
cami-nhada na Terra. Muitas coisas que descobrimos com eles são frutos de suas experiências e
padrões familiares, que podem ser inclusive disfuncionais.

Portanto, podem ser ressignificados, gerando novos aprendizados que facilitem a expressão real
das nossas potencialidades e do brilho interior. Isto é tornar-se plenamente humano, é ser uma
pessoa na íntegra.

Quando fazemos isso, contribuímos também na espiral de crescimento sistêmico familiar.

É poder viver a experiência de harmonia com corpo, mente, sentimentos, alma e espírito, refleti-
da nas ações de interação consigo e com o outro. A essa experiência damos o nome de congruên-
cia, indivi-duação, evolução etc. Não importa o nome dado, o significado maior é que temos
escolhas de buscar a expressão plena de nosso espírito, do nosso Self, ou seja, daquela dimensão
dentro de nós que é a manifestação da Força vital.

Nesse modelo, afirmamos que os pais são os instrumentos ativadores da vida neste plano,
porque a vida em essência já existe. Ela pertence à dimensão da Força Universal e, como tal, se
manifesta em múltiplas e variadas formas.
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Com os pais, vivemos a experiência de aprendizado nas dimensões do pensar, sentir e fazer,

mas temos a capacidade de aprendermos coisas novas e nos transformamos em quem quere-

mos ser, e não apenas em quem devemos ser. Aceitá-los como pessoas que também estão em

evolução é um passo na direção da inteireza do ser.

A formatação do que devemos pensar, sentir e fazer é útil para que possamos ter a sensação de

pertencimento ao clã, mas também gera a manutenção de padrões familiares, muitas vezes dis-

funcionais, fidelidades que muitas vezes nos impede de manifestar aquilo que realmente somos.

O processo de discriminação entre o que aprendemos e o que somos possibilita compreender-

mos e aceitarmos a história, os eventos e os atores envolvidos, de uma forma onde assumimos

o protagonismo da nossa vida. É uma jornada de descoberta em direção à estrela que somos em

essência.
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O Valor da Autoestima
no Modelo de Virginia Satir
por Ana Guitián Ruiz

Coach, Practitioner formada e Master Practitioner em


formação no Modelo de Validação Humana de Virginia
Satir pelo Instituto Internacional Virginia Satir da Ale-
manha. É uma das organizadoras da formação Satir no
Brasil. Contatos: ana@azcoach.com.br

Há muitos significados para autoestima, alguns até pejorativos, muitas vezes ouvimos al-
guém se referir à outra pessoa como tendo demasiada autoestima, aquela pessoa que se acha.
Porém, de maneira geral há um consenso da importância de se ter uma sensação da nossa
própria relevância, de estarmos conscientes que somos importantes, da nossa autovaloriza-
ção.

Para Virginia Satir, mãe da terapia familiar e expoente da psicologia humanista, a importân-
cia de nutrir e desenvolver a autoestima ocupa um lugar fundamental em seu Modelo. Para
ela cada pessoa é uma manifestação da Força Vital que recebeu o presente maravilhoso de um
Espírito Interno que ela vai chamar de Self. Este é um ponto muito importante, pois todos os
seus modelos, todas as ferramentas, todas as abordagens convergem no sentido de reconec-
tar a pessoa ao Self, ao espírito interno e à força vital. É quando estamos conectados a esses
elementos que nosso senso de autovalor se amplia e nossas ações no mundo vêm de lugar de
centramento e são congruentes.

Ao longo da vida, especialmente no convívio com a nossa tríade de origem, pai e mãe ou
quem quer que tenha nos acolhido e acompanhado na infância e adolescência, verificamos
que dentro de nós vão ocorrendo movimentos que nos afastam desse estado de centramento
e autovalor. Como pequenos seres curiosos, observamos tudo e aprendemos, sugamos como
esponjas todas as informações e estabelecemos um modelo interno de como vamos funcionar,
muitas vezes durante o resto de nossas vidas.

Eu posso ter recebido muitas informações que foram verbalizadas ou não, eram explícitas ou
implícitas. Eu posso ter aprendido que é só trabalhando duro posso alcançar tudo o que quero,
ou ter aprendido que não importa o que faça nunca serei bom o suficiente, ou que é perigoso
expressar aquilo que sinto e quero, ou ainda, que não devo expressar minha indignação e raiva
ou até o oposto: para conseguir o que quero devo usar sempre minha raiva com violência.
Essas podem ter sido mensagens gravadas tão profundamente que eu as levo comigo onde
estiver, nos meus relacionamentos, no meu ambiente profissional, na minha vida em geral.

O importante aqui é entender que tudo isso representa apenas aprendizados e que provavel-
mente nos foram muitos úteis, talvez a única maneira possível, os únicos recursos disponíveis
para conseguíssemos chegar até o dia de hoje. No entanto, isso pode nos ter custado um preço
muito alto, nós fizemos um sacrifício, nos distanciamos daquela Força Vital, do nosso Self,
sacrificamos a nossa autoestima.
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Na aplicação de qualquer ferramenta do Eu posso por exemplo verificar que esse


Modelo Satir, temos então um convite, de aprendizado que me diz que só traba-
lhando duro posso conseguir o que quero,
dar um passo atrás e de uma certa distân- foi muito importante, porém hoje ele me
cia, observar e tomar consciência desses traz um sentido de peso, me distância de
aprendizados. Ao tomar consciência viver meu trabalho e relacionamentos
disso, eu ganho a possibilidade de optar, com prazer, aumenta meus níveis de es-
eu posso escolher agir de uma maneira tresse e prejudica meus relacionamentos.
diferente. Eu posso substituí-lo por outro, como:
- Eu posso relaxar e posso trabalhar duro
quando necessário.
Eu posso considerar esse aprendizado que
tive, muito útil então, naquela época, mas A assim a partir de um novo entendi-
não mais agora e posso agradecer e dizer: mento, para estabelecê-lo e integrá-lo,
- Muito obrigada, mas agora você não me eu procuro fazer um compromisso com
serve mais, vou mandá-lo para o Museu novas práticas e busco recursos que pos-
sam me fortalecer e dar suporte ao longo
da História de minha vida. do meu caminho futuro.
Nesse momento eu abro espaço e posso Esse é um processo de valorização do
renovar meus aprendizados, fazer um Self e desenvolvimento da autoestima.
upgrade com versões mais sintonizadas Pode parecer simples, mas é profundo e
com meu sentido de Self e que valorizem e poderoso.
nutram minha autoestima.

Minha declaração de Eu sei que há aspectos sobre mim que me in-


autoestima, trigam, e outros aspectos que eu não conheço,
mas contanto que eu seja amigável e amoroso
“Eu sou eu”, comigo mesmo, eu posso corajosamente e
por Virginia Satir, do seu livro esperançosamente buscar soluções para os
Sef-Steem enigmas, e maneiras de descobrir mais sobre
mim.

Em todo o mundo, não há ninguém exata- No entanto, eu pareço e soo, tudo o que eu digo
mente como eu. Tudo o que sai de mim é e faço, e tudo o que eu penso e sinto em um
autenticamente eu. Porque só eu o escolhi - Eu determinado momento no tempo, é autentica-
possuo tudo sobre mim. Meu corpo, meus mente mim mesmo.
sentimentos, minha boca, minha voz, todas as Se mais tarde algumas partes da minha aparên-
minhas ações, sejam eles para os outros ou a cia, de como soei, pensei e senti possa vir a
mim mesmo. ser inconveniente, eu posso descartar o que é
Eu possuo minhas fantasias, sonhos, minhas inconveniente, manter o resto, e inventar algo
esperanças, meus medos. Eu possuo todos novo para o que eu tenha descartado.
os meus triunfos e sucessos, todos os meus
fracassos e erros. Porque eu possuo tudo de Eu posso ver, ouvir, sentir, pensar, dizer e
mim, eu posso tornar-me intimamente fami- fazer. Eu tenho as ferramentas para sobre-
liarizado comigo mesmo. viver, estar perto de outras pessoas, para ser
produtivo a dar ordem e sentido ao mundo, às
pessoas e às coisas fora de mim. Eu me possuo,
Ao fazê-lo eu posso me amar e ser amigável e, portanto, eu posso me reordenar.
comigo e todas as minhas partes.
Eu sou eu e ... Eu estou bem.
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Entrevista com Eva Wieprecht


Jesse Carlock (Ph.D.) entrevistou Eva Wieprecht sobre os de-
senvolvimentos do seu trabalho. Eva integrou seu conhecimen-
to incorporado de muitas culturas e diversas linhagens, tais
como: dança, o Modelo Satir, PNL, Coaching Generativo e a
Abordagem Hipnosistêmica, a fim de promover a cura no nível
corporal e ensinar a essência original do Modelo Satir em uma
abordagem de Próxima Geração.

A Doutora Carlock é professora clínica na Wright


State University, School of Professional Psycholo-
gy, em Dayton, Ohio. Ela escreveu o livro Enhancing
Self - Esteem e conduziu entrevistas com os princi-
pais colegas de Virginia Satir, produzindo um DVD
composto dessas entrevistas. Treinada por Virginia
Satir, a Dra. Carlock foi a editora associada do Jor-
nal Satir desde a sua criação até a morte do Dr. Ste-
ven Bentheim no Outono passado. Desde então, a Dra.
Carlock é co-líder junto com o Dr. Honoré France.
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Eva Wieprecht
• Diretora do Instituto Internacional Virginia Satir da Alemanha,
Colônia.
• Trainer Certificada no Programa de Enriquecimento (Enriching
Program) – baseado nos ensinamentos de Virginia Satir, por Sha-
ron Loeschen
• Desenvolveu os Sete Estágios Sistêmicos de Satir
• Desenvolveu as Práticas de Integração do Movimento Somático
(SMIP)
Contatos (texto em Alemão ou Inglês ) :
info@eva-wieprecht.de
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“Se eu pudesse expressar isso em palavras,


não precisaria dançar. ” – Isadora Duncan

Eva, por favor, fale um pouco sobre como você conheceu o Modelo Satir?

Minhas muitas conexões e influências no treinamento de formação do Modelo Satir:

Meu histórico é de gerir um negócio familiar há décadas. Dito isso, sempre me interessei em
encontrar modelos práticos que ajudassem a descrever como os sistemas funcionam, especial-
mente quando você tem que enfrentar o duplo desafio de gerir, de maneira bem-sucedida, um
sistema familiar bem como um negócio e também ter padrões familiares interligados através
dessa tarefa.
Então eu conheci a NLPU na Universidade de Santa Cruz onde a PNL começou. Antes de ser
PNL, era o estudo de experiências subjetivas e Virginia Satir foi uma dos principais modelos,
juntamente com Fritz Perls e Milton Erikson, nos quais a PNL foi baseada.

Minha amiga, mentora e colega Judith de Lozier de fato morou com a Virginia enquanto a
Virginia escreveu o livro Changing with Families ( Mudando com as Famílias), juntamente com
John Grinder e Richard Bandler, os fundadores da PNL.

Outra fonte de estudo é meu professor, amigo e colega, Dr. Stephen Gilligan, que estudou dire-
tamente com a Virgínia e então mais tarde mudou para seguir o caminho de Milton
Erickson e se tornou um dos representantes mais influentes e importantes da Próxi-ma Geração
da Hipnoterapia Ericksoniana.

Outra influência profunda veio através de meus estudos com meu professor alemão, Dr. Gun-
ther Schmidt. Ele desenvolveu a abordagem hipnosistêmica e uniu os estudos dos sistemas fa-
miliares de Virginia Satir e a hipnoterapia Ericksoniana. Através destas fontes também conheci
a “família Satir” e estudei profundamente com Dra. Maria Gomori e Sharon Loeschen.
Todas essas fontes de pessoas que estudaram diretamente com Virginia Satir me deram uma
compreensão muito rica, ampla e profunda do Modelo Satir, bem como a metodologia de uti-
lizar coreografias/imagens/esculturas como um caminho de conscientização, aprendizagem e
transformação.

Eu mesma me tornei a Virginia em várias ocasiões: Eu também tive uma série de encontros
diretos muito originais com Virginia Satir através de uma técnica Ericksoniana chamada identi-
ficação de transe profundo.
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Nesse processo você identifica uma pessoa de seu interesse, no meu caso Virginia Satir, e você
convida a pessoa a incorporar o espírito dela e através da identificação incorporada obtém uma ex-
periência de referência mais profunda de dentro para fora sobre um aspecto de seu interesse. Fiquei
muito intrigada em saber sobre a coragem da Virginia que lhe permitiu tornar-se uma pioneira tão
criativa na área. Eu também fiquei muito interessada em descobrir mais sobre sua fonte criativa,
bem como sua forma única de fazer contato plenamente com cada membro do sistema. O que eu
descobri neste processo foi uma maneira intensa de se conectar energeticamente ao sistema do
cliente e uma curiosidade sem fim sobre a narrativa dos clientes, bem como os detalhes mais delica-
dos de todas as camadas da comunicação não verbal.

Na Ilha de Gabriola, como uma líder ao lado da Dra. Maria Gomori e durante uma en-trevista,
Maria me incentivou a fundar o Instituto Satir alemão e a continuar o trabalho na próxima geração.
Maria me incentivou a fundar o Instituto Satir alemão e a continuar o trabalho na próxima geração.

Então várias fontes a trouxeram para o trabalho de Satir e depois você


trouxe sua experiência com a dança. Você pode falar um pouco mais
sobre isso?

A dança foi o meu primeiro amor e será o meu último:


Minha formação foi como bailarina clássica em balé e dança moderna. Então meu treinamento
original tinha o foco em usar o corpo como uma ferramenta para obter um resultado específico.
Uma mudança inesperada no meu corpo (eu cresci muito e muito tarde), desafios físicos e mais
tarde a pressão familiar e a obrigação de gerir nosso negócio na próxima geração fez eu me desligar
do meu maior amor e recurso, a dança. Abandonei a dança entre meados dos vinte a meados dos
trinta anos. Através de minha ligação com a Judith de Lozier eu redespertei a possibilidade de fazer
mais uso do corpo em contextos aparentemente não relacionados, como coaching ou ensinando.
Observando a Judy como um modelo, me deu o insight que eu posso usar o corpo como um veículo
para a compreensão e uma expressão mais autêntica. Durante o mesmo período eu também estu-
dava ioga profundamente, bem como técnicas de movimento Open Floor como os Cinco Ritmos
através de Deborah Dilts e Johnathan Horan, explorações em dança de contato, Feldenkreis através
de Russel Delman, bem como muitas outras formas voltadas para o movimento.
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Dançar o Modelo Satir e muito mais:

Isto me trouxe o desejo de traduzir todos os muitos princípios e conceitos fundamentais que
aprendi no Modelo Satir, na abordagem Hipnosistêmica, no Coaching Generativo (desenvolvido
por Robert Dilts e Stephen Gilligan) bem como no Transe Generativo (desenvolvido por Stephen
Gilligan) como formas de serem expressas através do corpo. Isto se tornou a Prática de Integração
do Movimento Somático – SMIP (Somatic Movement Integration Practice - SMIP). Eu introduzi a
SMIP em muitos grupos e muitas culturas no mundo nos últimos cinco anos, como Rússia, China,
Espanha, Uruguai, Brasil, Itália, Alemanha e Estados Unidos. Eu criei danças como: Dança da
Crença de Satir, Dança-Postura, Dança do Processo de Mudança, Dança dos Opostos, bem como
padrões universais de movimentos de relacionamentos e gestos universais.

Como a dança impacta a pessoa? O que seus alunos aprendem com esses
tipos de experiências?

Para colocar isso nas palavras da famosa dançarina Isadora Duncan: “Se eu pudesse expressar isso
em palavras eu não precisaria dançar” ou nas palavras de Gabrielle Roth: “Quando você coloca o
corpo em movimento a alma sabe como curar-se”.

Através de meus estudos com o Dr. Stephen Gilligan eu aprendi que pesquisas hoje mostram que
dois elementos-chave criam sintomas crônicos e sofrimento contínuos:

1) O isolamento de um sintoma de seu sistema maior (trauma é um exemplo bem óbvio disso).
2) falta de musicalidade e ritmo.

Se isso é verdade, minha curiosidade vai imediatamente para a ideia, como podemos criar um
espaço comunitário onde as pessoas podem, em segurança, se reconectar com a música e ritmo.

Quando você começa a mover seu corpo, você começa a curar sua mente. Quando eu me expresso
em movimento, podemos começar a encontrar lugares onde o corpo para, onde eu posso me
deparar com paredes invisíveis, onde eu me conecto com o meu self condicionado, e congelo, me
impeço de seguir adiante. Quando você observa crianças pequenas se movendo, elas não param.
O parar de se movimentar começa a acontecer muito mais tarde na vida e isso é aprendido através
do que o existencialista chamaria “a função do olhar” (como a expressão de nosso self (eu) foi
recebida pelos olhos do outro).

Paramos de nos mover livremente em nossos corpos quando aprendemos que alguns movimentos
são aprovados e alguns não. Então quando eu facilito atividades diferentes de movimento Open
Floor (em chão aberto), torna-se muito rapidamente óbvio onde o movimento é restrito, onde
respirar torna-se superficial, onde o movimento para. Através de um coaching muito cuidadoso,
porém direto, ajudo meus clientes a tomar uma decisão consciente de continuar os movimentos, a
respiração, de ampliar e expandir o território conhecido do movimento.
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Muito interessante. Você não precisa envolver a cognição nesses proces-


sos, ou será que a cognição, as percepções, vêm mais tarde?

Com certeza! Você sabe que alguns dos nossos aprendizados são feitos tão cedo, tão implícitos que
eles podem estar muito profundamente enraizados em nossas células e eu posso senti-los intensam-
ente, mas não ser capaz de colocá-los em palavras, pois eles foram aprendidos na época pré-verbal.
Então eu gosto, fortemente, de usar o corpo e as possibilidades do movimento como um veículo para:

-Explorar
-Aprender
-Compreender
-Aceitar
-Reaprender e nesse espaço: mover-se além do território habitual

Se eu uso o meu corpo num nível muito consciente, de uma forma muito cuidadosa e amorosa, para
encontrar os limites da aprendizagem, (não forçando através deles, mas sendo muito cuidadosa)
eu percebo que quando eu permito que isso aconteça, que meus clientes, meu grupo começa a ter,
através da exploração do corpo, através da exploração do movimento, novas percepções, novas sensa-
ções, novos sentimentos, novas formas de dar significado, etc., basicamente, tendo um efeito cascata
desejável sobre o iceberg inteiro.

O nascimento e o desenvolvimento da Dança-Postura:

Isto foi tudo muito inspirado pelo meu querido professor Dr. Gunther Schmidt que usa uma técnica,
que ele chama de Ginástica da Solução do Problema ou Tai Chi da Solução do Problema e o Dr. Stephen
Gilligan que criou uma técnica chamada Modelagem Somática que então se torna uma dança em transe.
A partir dessa ideia eu desenvolvi a Dança-postura. Em Coaching, por exemplo, identifico uma postura
corporal que esteja relacionada com a identificação, com um resultado desejado e então identifico o que
está atrapalhando e tenho isso representado por outra postura corporal que melhor represente essa ex-
pressão. Então nós desenvolvemos uma dança em transe muito lenta e fluida que conectará com fluidez
aqueles estados de ego que anteriormente estavam armazenados separadamente em uma dança fluida,
de forma que a transformação possa ocorrer em um nível somático.
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Daqueles modelos eu tomei então as Posturas de Comunicação desenvolvidas por Virginia Satir,
como representações físicas de padrões arquetípicos que são disparados com o stress (Acusador,
Apaziguador, Computador, Evasivo) e desenvolvi posturas arquetípicas de recursos, que poderiam
ser voluntariamente exploradas e ativadas.

Eu criei:

-Uma postura específica e uma dança-postura das muitas maneiras de ser capaz de expressar a
energia do guerreiro pacífico (Postura de Recurso da Postura do Acusador)

-Uma postura especifica e uma dança-postura das muitas maneiras de ser capaz de expressar a
energia do ser amoroso (Postura de Recurso da Postura do Apaziguador)

-Uma postura específica e uma dança-postura das muitas maneiras de ser capaz de expressar a
energia do rei/rainha/líder (Postura de Recurso da Postura do Computador)

-Uma postura específica e uma dança-postura das muitas maneiras de ser capaz de expressar a
energia do mago (Postura de Recurso da Postura do Evasivo)

Em seguida, como um próximo passo, nos movemos como em uma gangorra entre a Postura de
Estresse e a Postura de Recurso e criamos uma dança em transe fluida entre elas. Tudo isto pode
agora se tornar uma fonte muito poderosa para compreensão, transformação e curas profundas.
Estes desenvolvimentos moldaram minhas Danças-Postura e Dança-Intervenção de Postura de
Estresse.

Novamente, você tem primeiro que ajudar as pessoas a se identifica-


rem com uma postura problema (ex. Acusador), então se mover dessa
postura para uma postura de recurso?
Sim, essa é uma maneira possível de se fazer isso. Por exemplo, eu perguntaria: “Encontre uma
experiência em que estava culpando alguém e desejaria ser capaz de fazer algo diferente. Exagere
ainda mais para que você tenha uma representação física muito clara disso.” Aqui eu convido o
cliente a fazer uma dança muito fluida para explorar o “problema”, já em todas as suas dimensões,
através do corpo, através da dança.

Então isso já prepara o cenário, implica a introdução do movimento?


Sim, com certeza, e depois há outra parte. Quando você toma os elementos do processo interno
que são ativados em um estado específico/estado da mente (como: dar nome a situação, dar
significado, concluir, compará-la com situações semelhantes, postura corporal, coordenação do
corpo, movimento, diálogo interno, imagens internas, senso de idade, respiração, senso de self,
sentido de espaço ao meu redor...) você percebe que a respiração e qualquer tipo de coordenação/
movimento do corpo são os dois elementos condutores que são ativados involuntariamente o
tempo todo, mas que também podem ser voluntariamente/conscientemente ativados e usados
também. Isso nos dá um tremendo recurso para a cura e transformação, sem a necessidade de
compreender todos os detalhes de uma história talvez muito dolorosa ligada a isso.
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Isso para mim é arte na cura! Isto para mim é usar a inteligência estética com o intuito de criar
paz interior.

Se eu mudo a minha coordenação corporal, se eu mudo meus padrões de movimentos corpo-


rais isso também começará a mudar outros padrões em meu processo interno que eventual-
mente criarão um novo mapa cerebral. Através de pesquisas de neuroplasticidade, sabemos ag-
ora que é possível, que podemos criar novos mapas cerebrais. O uso do corpo é um condutor,
um ponto de entrada chave para que isso aconteça. Nova coordenação corporal levará a novos
padrões de pensamento, um novo sentido de self, novos padrões emocionais, basicamente o
iceberg inteiro mudará e eu experimentarei uma capacidade em mim para criar um novo mapa
cerebral que leva a uma vida além dos padrões familiares de aprendizagem e que fortalecerá a
capacidade de viver verdadeiramente as cinco liberdades de Virginia Satir. Isso é muito empol-
gante e cria muita esperança!

Você realmente dá vida à imagem. Como sabemos, o corpo é uma


forma de acessar o inconsciente.

O corpo é o inconsciente criativo:


Sim e isso acontece voluntaria e involuntariamente. Eu também lhe darei uma experiência pes-
soal de referência. Eu pessoalmente estava sofrendo de uma doença crônica chamada colite.
Supostamente você não cura essa doença. Porém, ao longo dos anos, fiquei muito curiosa
sobre o que acontece no corpo em vários estágios da colite, e isto é o que eu descobri. A colite
aguda atinge a pessoa bem no seu centro. Ela cria uma dor enorme no centro do corpo e o que
ela faz é o seguinte. Você se contrai no centro e se fosse descrever como o corpo se parece,
eu diria que mais parece estar em posição fetal. A posição fetal envia um sinal para o mundo
exterior, “Eu preciso de apoio, preciso de cuidados, preciso de abrigo, eu não estou disponível
agora”.

Meu self habitual está agindo no mundo de maneira muito oposta. Costumo estar muito
disponível, costumo conceder muito para o mundo e para os outros, costumo cuidar muito dos
outros. Então, quando você olha para a metáfora física, a representação corporal, você poderia
traduzir o sintoma da colite como uma forma exa-gerada deuma tentativa física de criar um
um limite em relação ao mundo exterior. Você também poderia traduzi-la como uma tenta-
tiva de criar autocuidado. Portanto, já fiz essa relação que podemos traduzir a coordenação
corporal como uma metáfora física do inconsciente criativo. Então estudei com o Dr. Stephen
Gilligan. Eu fiz uma demonstração com ele e nela ele usou a modelagem somática e dança em
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transe como um caminho transformacional, trabalhando na minha questão que foi chamada:
“Eu gostaria de trazer essa parte de trabalho pra fora, mas toda vez que eu tento fazer isso meu
sintoma de colite me impede de fazer isso acontecer.” Após a exploração, meus sintomas de
colite diminuíram drasticamente.

Agora, o que aconteceu na exploração somática?


Criamos uma escultura corporal para visualizar como me pareço quando estou em um estado
interno bom. Depois, criamos outra escultura sobre o que acontece quando eu estou experienci-
ando o sintoma. Então a terceira parte crucial é fazer uma ponte entre os dois
estados através do corpo. A maneira mais direta de fazer isso é continuar o movimento de um
para o outro de forma centrada, sensual, fluida para, basicamente, criar novos caminhos através
do corpo que irão ligar estes diferentes estados de ego um com o outro. De certa forma, é uma
festa das partes que é feita através do movimento do corpo. O resultado dessa exploração espe-
cífica não era sobre “nunca experienciar o sintoma novamente”, mas muito
mais sobre “posso estabelecer uma sensibilidade em mim que me permitirá detectar mais cedo”
quando meu sistema corporal tiver necessidade de reconectar-se interiormente, de autocuidado,
de contemplação, de trabalho interior e não esperar até que o sintoma faça isso acontecer de
maneira muito agressiva, dolorosa, involuntária.

Você começou a perceber os sintomas mais cedo e eram mais bran-


dos de maneira que você pudesse expressar a necessidade antes?

Sim, sem dúvida! Eu encontrei uma maneira de aprender a ouvir sinais mais sutis do corpo di-
zendo “Não” e a aprender a traduzir essas mensagens.

Você tem alguma questão com pessoas que, por exemplo, tiveram
várias experiências traumáticas, que estão desconectadas do corpo.
Você acha isso um desafio? Como você lida com essas pessoas?

Eu considero que para alguém que esteja desconectado do corpo, por qualquer motivo, a aborda-
gem centrada no corpo através do movimento é um excelente recurso para a cura e reconexão.

Quero dizer, porém, que levo essas histórias muito seriamente em consideração e me
concentro em alguns elementos em especial:

-Muito aterramento
-Ritmo lento
-Pequenos blocos de experiências!
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Mantenho meu foco de atenção por um tempo muito longo no início em aterramento; em en-
contrar uma conexão forte com a terra, o chão. Eu coloco uma grande atenção no corpo estando
em um espaço específico no tempo. Um dos mantras que introduzo, por exemplo,
nessas explorações de movimento é: “Eu, aqui, agora”.

Quero também ressaltar sobre sua pergunta, que introduzo o recurso e o veículo do movimento
de muitas maneiras, dependendo do histórico do cliente com movimento, história pessoal e
assim por diante.

-Tenho clientes que se movem livremente no espaço imediatamente.


-Introduzo a ideia de se moverem muito delicadamente e talvez até mesmo quase impercep-
tivelmente ao mundo exterior.
-Introduzo a possibilidade de olharem em volta e assumirem os movimentos que os outros
expressam.
-Introduzo a possibilidade de não se moverem nada e só imaginarem como o corpo potencial-
mente se movimentaria, se optassem por fazer isso.

É difícil no grupo rastrear onde as pessoas estão? Especialmente em


grupos maiores?

Não especificamente. Facilitei pequenos grupos de 7 pessoas na Alemanha e na Itália, grupos


de tamanho médio de 20-50 na Sibéria, China, Uruguai, Canadá, Itália e grupos muito grandes,
por exemplo, de mais de 100 a quase 200 pessoas em Barcelona, Brasil e Rússia. Eu trabalho
com eles da mesma maneira. Quando o grupo se torna maior, me certifico em estabelecer o
enquadramento muito claramente desde o início. Dou ao grupo todas as muitas possibilidades
para explorar. Dou ao grupo informações contextuais em vários pontos do processo. Quero,
porém, ressaltar um aspecto importante, isto é, o terapeuta usar o Self é fundamental aqui.

Eu normalmente trabalho com grupos durante um tempo prolongado. Durante todo esse
período, eu terei experienciado muitos participantes no chão. Considerando isso e a minha
habilidade de observação, bem como a minha experiência em trabalhar com grupos por muitos
anos, rapidamente eu sei onde as pessoas estão, quais podem ser seus limites de aprendizagem
e como isso aparece no corpo, bem como no movimento.

Percebo rapidamente qual pode ser um próximo passo de uma experiência de aprendizagem,
uma parte de expansão para cada participante. Depois, de forma divertida e hábil me conecto
em vários momentos com os participantes em movimento e faço contato com eles para provo-
car através do uso de mim mesma, o que for que possa levá-los a uma nova etapa de aprendiza-
gem em movimento.
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Estou contente que você está mencionando o uso do Self aqui!

Sim, eu uso a mim como uma ferramenta, como um modelo, bastante ativamente no processo.
Curiosamente, tive uma conversa com meu amigo Steve (Dr. Stephen Gilligan) que me disse que
chamou seu interesse e curiosidade o fato de eu fazer algo em movimento que ele conhece e faz
muito conscientemente no trabalho de transe, querendo dizer com isso que ele usa, ativamente,
energias arquetípicas que são necessárias para equilibrar o sistema. Por exemplo, posso usar
algumas brincadeiras se a conversa começar a ficar muito pesada ou séria demais ou trago mais
seriedade e ferocidade quando a conversa precisa de mais definição. Isso também é verdade para
mim. Quando vejo na expressão do movimento que alguns ingredientes de energia estão fal-
tando, provoco esses ingredientes no cliente e basicamente crio um diálogo de movimento entre
nós dois para ajudar o cliente a se mover além dos limites do conhecido e atravessar para um
novo território. Então eu realmente uso o Self muito intencionalmente e várias vezes em cada
sessão. Quero ressaltar que trabalho perto dos limites. Eu não forço as pessoas, eu prefiro pro-
vocar, convidar novas possibilidades. Para isso precisamos primeiro estabelecer um enquadra-
mento que contenha os ingredientes da segurança, curiosidade, proteção e conexão positiva.
Temos que receber cuidadosamente o feedback dos clientes. É uma dança mútua de chamar e re-
sponder que nos permite ir além do conhecido sem pressionar o cliente para um espaço de caos
devastador demais para ele lidar com o seu próprio sentido de self. Temos que cuidadosamente
receber o feedback do cliente. Precisamos calibrar o não verbal. O uso do Self do terapeuta é
uma ferramenta muito importante.

Abordagens corporais eram muito populares durante a era de cres-


cimento humano e agora você não ouve sobre elas muito mais. Você
está contribuindo muito e é muito revigorante para mim que você
traz tudo isso de volta e traz de volta também em conexão com a
abordagem de Satir de forma tão criativa. Você está contribuindo
tanto; estou realmente impressionado e quero lhe agradecer por
isso.

Conclusão:

Nesta entrevista, Eva Wieprecht descreveu seu uso inovador da


dança, movimento e foco no corpo para promover a cura e a apren-
dizagem. Ela descreveu os modelos que ela integrou no seu trabalho,
o Modelo Satir, PNL, Coaching Generativo e a Abordagem Hipno-
sistêmica e seu processo para aplicá-los à terapia de movimento cor-
poral como um caminho para aprendizagem e transformação com
foco nos recursos e na competência.
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Eu e Virginia
Depoimento de Irene Cardotti

Conheci os ensinamentos de Virginia Satir há 25 anos, em 1993, através da


minha formação em Terapia Familiar Sistêmica e revivi seus ensinamentos de
com a querida e competente Eva Wieprecht, através da formação Practitioner no
Modelo de Validação Humana que terminei em 2015. Em 2016 fiz o Master 1 e
em 2017 farei o Master 2. Foi um presente para minha vida pessoal e profissional.

Através de recursos desses ensinamentos pude aprimorar meu trabalho de psico-


terapeuta e consteladora, com mais leveza, amorosidade, profundidade e alegria.

Tenho feito muitas formações e reciclagens com o Bert e Sophie Hellinger, mas
a formação com Eva agrega cada vez mais a forma sutil, profunda e leve de con-
duzir o trabalho, e com tudo isso, essas formações acrescentam e se tornam um
profundo conhecimento interno e consequentemente com grandes mudanças. A
cada momento me sinto mais congruente com a vida e com meu trabalho num
diálogo muito mais humanizado.

Irene Cardotti é Psicoterapeuta,


individual, de grupo, adolescente,
adulto, casal, familiar. Terapeuta
Familiar Sistêmica e Consultora
Organizacional. Psicoterapeuta
em reabilitação ocular (Cinesiote-
rapia Ocular). Professora de visão
do método Self-Healing de Meir
Schneider. Consteladora Familiar
Sistêmica (Bert Hellinger), Con-
stelações Organizacionais e Novas
Constelações Familiares (Champe-
tier de Ribes).

Contatos:
Irene Cardotti irenecardotti@uol.com.br
Site: www.irenecardotti.com.br
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Nosso Artista Convidado

Edison Lufaac é o nome pelo qual é conhe-


cido o artista plástico brasileiro Edison Luiz
Fagundes de Castro. Lufaac nasceu em 1952
em Jundiaí no Estado de São Paulo, Brasil.
Lufaac é autodidata e trabalha com madeira
desde os 10 anos de idade. Primeiro começou
por trabalhar com lápis, depois passou aos
cabos de vassoura. Mais tarde ele vai desco-
brir o mogno, a cerejeira e o cedro.

Edison Lufaac
Contatos: edisonlufaac@terra.com.br

No inicio da sua carreira, influenciado pelos vitrais da igreja matriz que frequentava, os trabalhos
tinham essencialmente um caráter religioso. Mais tarde desenvolveu o seu estilo próprio e o entalhe
ganha um novo significado. Lufaac trabalha quase sempre policromado - mas sem perder a textura
da madeira. Os veios da madeira saltam à vista quando se analisam os seus trabalhos.

Especial no seu trabalho é a interação entre cor e entalhe. Ambos têm um caráter distinto, mas
juntos dão à obra uma personalidade única. Lufaac transforma a essência da madeira de lei numa
pintura de baixo-relevo tridimensional. A combinação de madeira, cor, habilidade e virtuosismo dá
origem a obras de arte muito belas e com um alto nível de exclusividade.

Edison Lufaac vive e trabalha em Jundiaí no Estado de São Paulo, onde ele já fez várias exposições e
tem atualmente obras expostas em diversas galerias. Ele já expôs nos EUA (Pompano Beach, Del Ray
Beach, Boca Raton, New York) e em 1987 em Lisboa, onde começou a odisseia das suas “Portas” (nós
usaremos o termo “Painéis”).

Os trabalhos de Lufaac feitos em mogno são peças únicas e raras na Europa.

Exposições:

Galeria David Morgan Fine Arts - EUA


Galeria Grafit - São Paulo - Rua Avanhagava
Galeria Fenix - Embu das Artes
Galeria Itinerante - Gramado - Rio Grande do Sul
Galeria Finart - São Paulo - Campo Belo
Galeria Sandra Setti - Jundiaí
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Lufaac é também pintor e fotos de algumas de suas telas ilustraram


essa edição da Revista Enredos,
Temos orgulho e somos muito gratos pela sua participação!
Foto de entalhe em madeira
de Edison Lufaac

CLIQUE AQUI PARA CONHECER OUTROS TRABALHOS DE LUFAAC

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