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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 1ª VARA

DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ALTAMIRA DO ESTADO DO PARÁ

Proc. Ref. 2008.39.03.000248-0

APELADO: SELEONE CARLOS DE MOURA

APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

SELEONE CARLOS DE MOURA, já devidamente qualificado


nos autos do processo em epígrafe, por intermédio de seus advogados in
fine signatários, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
apresentar CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO, com fulcro no art. 600,
caput, do Código de Processo Penal.

Requer, por fim, sejam remetidos os autos ao Egrégio Tribunal


Regional Federal da 1ª Região.

Termos em que, pede e espera deferimento.

Altamira, 17 de abril de 2019.

Cândido Lima Júnior


OAB/PA 25.926-A

Ângelo Sousa Lima


OAB/PA 26.226
CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO

Apelante: Ministério Público Federal

Apelado: Seleone de Carlos Moura

Egrégio Tribunal Regional Federal,

Colenda Turma,

Doutos Desembargadores Federais,

Excelentíssimo Senhor Relator,

A respeitável sentença prolatada pelo Ilustre Magistrado a quo


não deve ser modificada, senão para melhorar a situação do Apelado, em
que pese o inconformismo manifestado pelo Apelante, pelas razões de fato
e fundamentos de direito a seguir escandidos.

I – BREVE RELATO DOS FATOS

Trata-se aqui de Ação Penal em desfavor do Apelado, que foi


denunciado e processado pela suposta prática dos delitos tipificados pelo
art. 149, por vinte e três vezes c/c § 2º, I, por duas vezes; do art. 297, §
4º, e do art. 203, § 1º, todos do Código Penal Brasileiro.

A denúncia teve como base Relatório de Fiscalização do


Ministério do Trabalho e Emprego após autuação ocorrida no período de
19 a 26 de outubro de 2007, que aconteceu na Fazenda Serra Dourada,
situada no município de Novo Repartimento, de propriedade do Apelado.
A ação de fiscalização foi realizada pelo Grupo Especial de
Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho, acompanhados de agente
da Polícia Federal e de membro do Ministério Público do Trabalho, através
da qual afiram que foram encontrados 23 (vinte e três) trabalhadores
laborando em condições degradantes, análogas à escravidão.

Alega ainda o Ministério Público que o Apelado frustrou os


direitos trabalhistas e previdenciários assegurados aos empregados,
omitindo-se do das obrigações de anotar a CTPS dos trabalhadores e em
documentos contábeis que deveriam ser remetidos à Previdência Social.

Cumpre destacar que a propriedade do Apelado possui


dimensão territorial de 20 (vinte) alqueires, sendo de pequeno porte e,
consequentemente, absolutamente inviável a manutenção de 23 (vinte e
três) trabalhadores naquela terra.

Destaque-se que os fatos alegados pelo MPF em sede de


denúncia não se coadunam com a realidade, isto porque, conforme
amplamente sustentado pelo Apelado em sua defesa, este último apenas
contratou terceiro para serviço de empreita, não possuindo qualquer
vínculo com os trabalhadores encontrados em sua terra.

O Ilustre Magistrado a quo, ao prolatar a sentença, em que pese


seu indiscutível saber jurídico, declarou extinta a punibilidade em
relação ao delito tipificado no art. 203, § 1º do Código Penal, e condenou
o Apelado pelo crime do art. 149 do CP ao quantum de 06 (seis) anos e 02
(dois) meses de reclusão e pagamento de cem dias-multa, bem como
condenou-o pela crime previsto no art. 297, § 4º do CP a uma sanção de
02 (dois) anos e 06 (seis) meses de reclusão.
Ocorre que, a respeitável sentença merece ser reformada, senão
para absolver o acusado, no mínimo para que sejam reduzidas
drasticamente às sanções impostas, já que o MM. Juiz a quo levou em
conta na dosimetria causas de aumento que não deveriam incidir, bem
com fixou as penas-base dos delitos imputados acima do mínimo legal,
mais um erro, visto que inexistem circunstâncias judiciais ou pessoais
desfavoráveis ao réu que ensejem a fixação exacerbada da pena-base.

II – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

II.a – Da possibilidade de reformatio in mellius

Insta ressaltar a possibilidade de aplicação da reformatio in


mellius em caso de recurso de apelação da acusação, notadamente em
virtude de uma interpretação literal do art. 617 do Código de Processo
Penal, que proíbe única e exclusivamente o agravamento da situação do
acusado quando somente este tenha apelado, não mencionado o órgão
acusatório.

Neste sentindo, inclusive, Tourinho Filho, com sua sapiência


costumeira, ao tratar justamente desta questão e com ampla menção à
doutrina estrangeira, estabelece, in verbis:

“se o Ministério Público apela para agravar a pena,


nada obsta possa o órgão ad quem agravá-la, mantê-la,
diminuí-la ou, então, absolver o réu. Se este foi
condenado pelo órgão de 1º grau por uma infração e
absolvido por outra, num simultaneus processus,
havendo apenas recurso do Ministério Público
objetivando convolar a absolvição em condenação,
nada impede possa o Tribunal, entendendo que a
condenação foi iníqua, proferir decisão absolutória,
malgrado a regra do tantum devolutum quantum
appelatum ..explica-se tal particularidade. É que o
Estado, por intermédio de seu órgão oficial acusatório,
que é o Ministério Público, não teria, como não tem,
nenhum interesse na manutenção de uma sentença
iníqua”.

Neste norte, inclusive, cumpre destacarmos a jurisprudência


pátria :

STJ-0615654) PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. CAUSA DE
DIMINUIÇÃO DE PENA DO ART. 33, § 4º, DA LEI Nº
11.343/2006. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO PARA
APLICAÇÃO DE FRAÇÃO DIVERSA DO MÁXIMO.
MANIFESTA ILEGALIDADE VERIFICADA. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO. REFORMATIO IN MELLIUS.
POSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 7/STJ.
AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Verificado, de plano, na
decisão impugnada, ao ser restabelecida a condenação do
agravado pelo crime de tráfico de drogas, que não houve a
indicação de qualquer elemento concreto para a incidência
da redução do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, no
patamar diverso do máximo, é possível a esta Corte o
redimensionamento da pena, diante da manifesta
ilegalidade evidenciada, sem qualquer violação do
entendimento firmado na Súmula 7/STJ. 2. Esta Corte
firmou compreensão no sentido de que "é admitida
a reformatio in mellius, em sede de recurso exclusivo
da acusação, sendo vedada somente
a reformatio in pejus". (REsp 628.971/PR, Rel. Ministro
OG FERNANDES, SEXTA TURMA, DJe 12.04.2010.) 3.
Agravo regimental não provido. (AgRg no Recurso Especial
nº 1.186.155/PR (2010/0053367-1), 5ª Turma do STJ, Rel.
Ribeiro Dantas. j. 05.05.2016, DJe 18.05.2016) (grifos
nossos).

STJ-040558) RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL.


RECURSO EXCLUSIVO DA ACUSAÇÃO. OCORRÊNCIA
DA REFORMATIO IN MELLIUS. POSSIBILIDADE.
INEXISTÊNCIA DE VEDAÇÃO LEGAL. 1. O art. 617 do
Código de Processo Penal veda, tão somente,
a reformatio in pejus, sendo admissível
a reformatio in mellius na hipótese sob exame, em que o
Tribunal a quo, ao julgar o recurso da acusação, reconheceu
a insubsistência do conjunto probatório e absolveu o réu,
com fulcro no art. 386, inciso VI, do Código de Processo
Penal. 2. Recurso especial desprovido. (Recurso Especial nº
753396/RS (2005/0080601-2), 5ª Turma do STJ, Rel. Laurita
Vaz. j. 11.04.2006, unânime, DJ 08.05.2006).
Nesta senda, percebe-se que se encontra pacificada pelo
Superior Tribunal de Justiça a possibilidade de aplicação do instituto da
reformatio in mellius em caso de recurso da acusação, visto que inexiste
vedação legal pelo Código de Processo Penal.

II.b – Da absolvição do apelado

O art. 386, V, VI e VII do Código de Processo Penal, ao elencar


as possibilidades de absolvição do acusado, estabelece, ipsis litteris, que:

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na


parte dispositiva, desde que reconheça:

[...]

V – não existir prova de ter o réu concorrido para a


infração penal;

[...]

VII – não existir prova suficiente para a condenação.

Nesse desiderato, no tocante às hipóteses dos incisos V e VII


supra expendidos, a absolvição do réu ocorre com base na insuficiência
de provas, seja a respeito de o réu ter concorrido para o crime, seja em
relação à falta de provas em geral.

Nestes incisos vigora o princípio do in dubio pro reo, que é, na


realidade, uma manifestação, no que toca à valoração da prova pelo
julgador, do princípio da presunção de inocência ou da não culpabilidade,
previsto pelo art. 5º, LVII, da Constituição Federal.
No caso ora discutido, importa ressaltar que nos autos do
processo em epígrafe não existem provas suficientes de que o Apelado
concorreu para a infração penal, dado que a responsabilidade por
quaisquer atividades ilícitas encontradas em suas terras era do
empreiteiro contratado para prestar serviços.

Em que pese a denúncia ter sido oferecida única e


exclusivamente em desfavor do apelado, um erro perpetrado pelo Parquet,
àquele contratou serviço de empreita de terceiro e este último era o único
responsável por angariar funcionários para cumprir com a empreitada.

Nesse interim, não há que se falar em responsabilidade do


apelado, isto porque tal imputação importaria em condenar o Réu com
base em responsabilidade objetiva do agente, o que não é aceito pelo
ordenamento jurídico brasileiro.

Lênio Streck, do alto de seu notável saber jurídico, ao tratar do


tema aqui posto, dispõe que “nenhum delito admite responsabilidade
penal objetiva. Somente o caso concreto é que pode levar ao
enquadramento. Direito penal não pune tabula rasa. Um Estado
Democrático de Direito não convive com responsabilidade penal objetiva. O
Estado jamais se exime de provar que há um bem jurídico concreto em
perigo.

Destarte, imputar objetivamente responsabilidade penal ao


apelado simplesmente por ser o proprietário da terra onde foram
encontrados os trabalhadores importaria em olvidarmos a presunção
constitucional de inocência e passarmos a presumir culpabilidade do
agente com base exclusivamente na propriedade da terra.
É fundamental destacar que a natureza dos serviços a serem
prestados pelos trabalhadores que atuavam nas terras do apelado, era de
“roço”, ou seja, não se trata de atividade econômica que visa ao lucro, ao
contrário, o apelado desembolsou alto valor monetário para contratar os
serviços do empreiteiro.

Uma espécie de terceirização dos serviços, notadamente uma


modalidade muito utilizada na região, já que tratam-se de serviços
temporários, sem prazo, que dependem única e exclusivamente da
agilidade do empreiteiro em concluir o trabalho.

E, assim como na terceirização, é discutível a responsabilidade


trabalhista do empregador, talvez até mesmo uma responsabilidade civil.
Contudo, ao entrarmos na esfera penal, não podemos admitir que
subsistam condenações com base em uma objetividade que não é cabível
a esta seara do direito.

O Estado, representado pelo Ministério Público Federal, não


pode presumir. Tem o dever constitucional de provar a culpabilidade do
agente. E mais, a obrigação estatal se perfaz em apresentar prova cabal
da existência da infração penal e da responsabilidade do réu, sem as
quais não pode existir sentença condenatória.

Nesta toada, é imprescindível destacar que, in casu, não


existem nos autos do processo elementos suficientes ou provas cabais de
ter o apelado cometido a infração penal, de tal maneira que sua
absolvição é impositiva ao Estado, com fulcro no princípio da presunção
de inocência constitucional e no art. 386, V e VII do Código de Processo
Penal.
II.c – Da dosimetria da pena aplicada do crime previsto no art. 149
do Código Penal

O Juízo a quo, ao analisar o conjunto probatório dos autos


epigrafados, reconheceu a materialidade e autoria do crime tipificado no
art. 149, § 2º do Código Penal, que supostamente teria vitimado 23 (vinte
e três) trabalhadores, sendo dois adolescentes, aplicando pena de 06
(seis) anos e 02 (dois) meses de reclusão como reprimenda.

Entretanto, percebe-se que a pena imposta pelo Juízo de 1º


Grau é injusta, exacerbada e inadequada para o caso concreto que se
discute. A sentença de base dispõe da seguinte maneira:

“ [...] Em relação ao crime tipificado no art. 149 do Código


Penal, a culpabilidade, considerada como grau de
reprovação à conduta praticada, é exacerbada na espécie,
diante da estrutura e poder econômico do réu, quer com todo
conhecimento e Poder Econômico explorou deliberadamente
os trabalhadores. Não possui registro de maus
antecedentes; conduta social aparentemente dentro da
normalidade; a personalidade não pode ser aquilatada
pelos elementos constantes dos autos; motivos e
circunstâncias do crime inerentes à espécie; as
consequências do crime não ultrapassam a normalidade
típica; não que se falar no caso em comportamento da
vítima.
Assim, fixo a sua pena base em 02 (dois) anos e 09 (nove)
meses de reclusão” [...]

Destarte, em que pese o acerto do Juízo a quo no que diz


respeito à maioria das circunstâncias judiciais e extrajudiciais incidentes
na primeira fase de dosimetria da pena, ao analisar a culpabilidade do
agente, considerada como grau de reprovação da conduta praticada,
houve erro do Ilustríssimo Magistrado, devendo este ser prontamente
corrigido por este Egrégio Tribunal Regional Federal.
Notadamente, ao considerar a culpabilidade elevada em virtude
da estrutura e Poder Econômico do apelado, o Nobre Magistrado
desconsiderou a natureza do serviço prestado pelos trabalhadores.

Isto porque os trabalhadores que foram encontrados na


Fazenda de propriedade do apelado, prestavam serviço de “roço”, serviço
este que não importa em exploração de atividade econômica, mas
unicamente tem o caráter de manutenção da própria terra.

Através do serviço prestado o Apelado não iria auferir lucro,


justamente o contrário, teve que desembolsar grande quantia dinheiro
para pagar o empreiteiro contratado para realizar o trabalho, àquele
mesmo que é o verdadeiro responsável por trazer os trabalhadores para
realizar serviço de sua competência.

Desta forma, em virtude de tal valoração errônea por parte do


Magistrado, acabou por majorar erradamente a pena base do apelado, de
tal maneira que o erro deve ser imediatamente reparado, passando-se a
considerar a culpabilidade dentro da normalidade do próprio tipo penal,
fixando-se assim a pena base em 02 (dois) anos de reclusão.

A posteriori, destaque-se que o Juízo de base também não


considerou a atenuante genérica do art. 66 do Código Penal, visto que o
apelado reparou o dano e cumpriu com todos os encargos trabalhistas
devidos.

Neste sentido, a jurisprudência é pacífica no reconhecimento


da aplicação da atenuante genérica nestas situações, conforme vejamos:

PENAL. REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE


ESCRAVO. BENS JURÍDICOS TUTELADOS. DIGNIDADE E
LIBERDADE DO TRABALHADOR. CONDIÇÕES
DEGRADANTES. CRIME CONFIGURADO. FALTA DE
ANOTAÇÃO EM CTPS. FALSIDADE DEMONSTRADA. PENA
DE MULTA. CONCURSO FORMAL. SOMA DAS SANÇÕES.
ATENUANTE GENÉRICA. RECONHECIMENTO. 1. A nova
redação do art. 149 do Código Penal, ao discriminar
expressamente as ações que configuram o tipo, acabou por
proteger dois bens jurídicos distintos, a saber: a dignidade
e a liberdade do trabalhador. O primeiro, por meio das
condutas trabalho forçado, jornada exaustiva e sujeição a
condições degradantes de trabalho e, o segundo, através de
restrições à liberdade, seja em razão de dívida contraída,
seja por meio do cerceamento de transporte, vigilância
ostensiva ou retenção de documentos ou objetos pessoais.
Doutrina. 2. Nesse contexto, a demonstração cabal das
péssimas condições dos alojamentos e das instalações
sanitárias, bem como a falta de equipamentos de proteção
individual em número adequado, é suficiente para
configurar o delito de redução a condição análoga à de
escravo, na modalidade sujeição a condições degradantes
de trabalho. 3. A emissão de vales para compra em mercado
sem vínculo com o réu e sem demonstração da efetiva
restrição da locomoção dos empregados em razão das
dívidas contraídas subsume-se, em tese, ao tipo previsto no
art. 203, § 1º, I, do Código Penal (frustração de direito
assegurado por lei trabalhista). 4. Configura o delito
descrito no art. 297, § 4º, do Código Penal, a falta de
registro, nas respectivas carteiras de trabalho, dos
contratos daqueles que prestavam serviços ao denunciado.
5. No caso de concurso formal, afigura-se imprescindível a
fixação de cada uma das penas, notadamente porque as
multas são aplicadas distinta e integralmente. Inteligência
do art. 72 do Código Penal. 6. A circunstância de o réu
ter, logo após a fiscalização, reparado, na forma do
possível, o dano causado, seja quitando os débitos
trabalhistas, seja firmando Termo de Ajustamento de
Conduta, autoriza o reconhecimento da atenuante
genérica prevista no art. 66 do Código Penal. (processo:
5001045-51.2010.404.7211 UF: SC, data da decisão:
04/09/2012; Orgão Julgador: OITAVA TURMA)

Neste sentido, aplicando-se a redução de 1/6 em virtude da


atenuante, restaria uma pena de prisão fixada em 1 (um) ano e 08 (oito)
meses de reclusão.

Contudo, o Juízo a quo ainda deixou de considerar a causa de


diminuição da pena do arrependimento posterior, prevista no art. 16 do
Código Penal, conforme vejamos:
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave
ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa,
por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de
um a dois terços.

O apelado cumpriu com todos os cargos trabalhistas que lhe


foram impostos pelo Grupo de Fiscalização, VOLUNTARIAMENTE.

Importante ressaltar que a figura do arrependimento posterior


não exige espontaneidade, apenas voluntariedade, de tal sorte que o fato
de o apelado ter cumprido com todos os encargos que lhe foram impostos,
de forma a reparar o dano e minorar as consequências do delito, de forma
voluntária, deve ser reconhecido e, consequentemente, a pena deve ser
reduzida de um a dois terços, nos termos do que impõe a lei.

Destarte, em virtude de ter cumprido com absolutamente tudo


que lhe foi imposto e solicitado pelo Grupo de Fiscalização, à época, bem
como pagou todos os direitos que eram devidos aos trabalhadores, ainda
que não fossem de sua responsabilidade, deve incidir a diminuição de
dois terços à pena imposta, resultando assim em uma pena imposta de
06 (seis) meses e 20 (vinte) dias de reclusão.

No tocante à causa de aumento de pena observada e aplicada


pelo Juízo de base, prevista no art. 149, § 2º, I do CP, mais uma vez nos
deparamos com um equívoco de dosimetria, que não merece prosperar.

Importa ressaltar que os menores que foram encontrados junto


ao grupo de trabalhadores não exerciam qualquer atividade laboral,
estavam apenas acompanhando seus pais e, por esta razão, não há que
se falar na causa de aumento imposta, devendo esta ser
desconsiderada por este Egrégio Tribunal.
Desta forma, aplicando-se a causa de aumento do concurso
formal, em virtude da orientação jurisprudencial de que seja adotado o
critério da quantidade de infrações praticadas, deve-se majorar a pena
imposta pela metade.

Desta forma, aumentando-se o quantum de 08 (oito) meses de


reclusão pela metade, teríamos como resultado uma pena final de 10
(dez) meses de reclusão para o delito tipificado pelo art. 149, caput,
do Código Penal, devendo esta ser a sanção final imposta.

II.d – Da dosimetria de pena aplicada em relação ao crime do art.


297, § 4º do Código Penal

O Juízo a quo, ao analisar o conjunto probatório dos autos


epigrafados, reconheceu a materialidade e autoria do crime tipificado no
art. 297, § 4º, condenado o apelado ao quantum de 02 (dois) anos e 06
(seis) meses de reclusão como reprimenda.

Contudo, percebe-se que a pena imposta pelo Juízo de 1º Grau


é injusta, exacerbada e inadequada para o caso concreto que se discute.
A sentença de base dispõe da seguinte maneira:

“ Em relação ao crime tipificado no art. 297, § 4º do CP, a


culpabilidade, considerada como grau de reprovação à
conduta do réu, verifico que é elevada à espécie, diante da
estrutura e poder econômico do réu. Não possui registro de
maus antecedentes; conduta social aparentemente
dentro da normalidade; a personalidade não pode ser
aquilatada pelos elementos constantes dos autos; os
motivos e circunstâncias do crime são inerentes; as
consequências do crime não ultrapassaram a
normalidade típica; não há falar no caso concreto em
comportamento da vítima”.
Note-se que, na prolação da sentença pelo Douto Magistrado de
primeiro grau, este considerou a culpabilidade do agente como elevada à
espécie, dado o suposto poderio econômico do réu, fato este que não
condiz com a realidade.

E mais, a natureza das atividades prestadas pelos


trabalhadores não era econômica, ao contrário, tratava-se apenas de
“roço”, limpeza de terra, sem quaisquer ganhos lucrativos por parte do
apelado.

Desta forma, não há que se falar em elevado grau de


culpabilidade, devendo-se a pena base ser fixada no mínimo legal de 02
(dois) anos de reclusão.

Nesse desiderato, embora não existam agravantes e


atenuantes, no que se refere às causas de diminuição da pena, o Juízo a
quo deixou de considerar àquela prevista pelo art. 16 do Código Penal, o
arrependimento posterior.

Insta ressaltar que o apelado cumpriu com todos os encargos


trabalhistas que lhe foram impostos, VOLUNTARIAMENTE, na busca de
reparar o dano, mesmo não sendo responsável pelos trabalhadores que
foram encontrados em sua Fazenda.

Desta forma, na forma do apregoa o dispositivo do Código


Penal, já colacionado anteriormente, deve incidir a redução de pena de
dois terços, resultando assim em uma pena privativa de liberdade de 08
(oito) meses de reclusão.
II.e – Do concurso material de crimes

Nesta senda, se este Egrégio Tribunal considerar que o apelado,


mediante mais de uma ação ou omissão, praticou crimes diversos,
aplicariam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade
cominadas, motivo pelo qual devem ser somadas as reprimendas,
totalizando o quantum de 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão
como sanção final imposta.

III – DA SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR


RESTRITIVA DE DIREITOS

O art. 44 do Código Penal, ao tratar da substituição da pena,


estabelece que:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são


autônomas e substituem as privativas de liberdade,
quando:

I – aplicada pena privativa de liberdade não superior


a quatro anos e o crime não for cometido com
violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que
seja a pena aplicada, se o crime for culposo;

II – o réu não for reincidente em crime doloso;

III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta


social e a personalidade do condenado, bem como os
motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente.

No presente caso, dado que o réu cumpre todos os requisitos


impostos por lei e, conforme já amplamente demonstrado no corpo destas
contrarrazões, impõe-se a substituição da pena privativa de liberdade por
pena restritiva de direitos.

IV – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, são as presentes contrarrazões para requerer


que seja conhecido e improvido o presente recurso, devendo a sentença
a quo ser reformada para MELHORAR A SITUAÇÃO DO RÉU, nos termos
dispostos acima.

Altamira, 17 de abril de 2019.

Cândido Lima Júnior


OAB/PA 25.926-A

Ângelo Sousa Lima


OAB/PA 26.226

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