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O modelo baseado em processo da regulação da emoção apresentado por Gross e colaboradores é muito

influente (p. ex., Gross & Thompson, 2007; ver Fig. 15.7). Os processos básicos envolvidos na geração da
emoção são mostrados ao longo da linha horizontal. De maneira relevante, presume-se que a intensidade
emocional em geral aumenta ao longo do tempo, conforme se desloca da esquerda para direita. A Figura
15.7 também incorpora a hipótese crucial de que as estratégias de regulação da emoção podem ser
utilizadas em vários pontos no tempo. Por exemplo, os indivíduos com ansiedade social podem regular seu
estado emocional evitando situações potencialmente estressantes (seleção da situação). Indivíduos
socialmente ansiosos podem utilizar outras estratégias de regulação da emoção. Por exemplo, eles podem
alterar as situações sociais solicitando a um amigo para acompanhá-los (modificação da situação). De modo
alternativo, eles podem utilizar processos de atenção, se concentrando ou se distraindo de seus
pensamentos (direcionamento da atenção). Indivíduos socialmente ansiosos também podem usar a
avaliação para reinterpretar a situação atual (alteração cognitiva). Por exemplo, indivíduos socialmente
ansiosos podem dizer a si mesmos que a maioria das pessoas é amigável e não as julgará de forma dura se
elas disserem ou fizerem algo inadequado. Finalmente, existe a modulação de respostas. Por exemplo,
acredita-se com frequência que devemos expressar nossos sentimentos de raiva para “colocá-los para fora”.
Infelizmente, expressar a raiva a aumenta em vez de diminuí-la, porque ajuda a relembrar os pensamentos
raivosos (Bushman, 2002). Outra forma de modulação de resposta envolve a supressão de comportamento
expresso de forma emocional (p. ex., esconder seus pensamentos raivosos).

Estratégias envolvendo escolha de situações, modificação de situações, desenvolvimento da atenção e


alteração cognitiva são todas fundamentadas em antecedentes – eles ocorrem antes que as avaliações
produzam uma resposta emocional completa. Todavia, estratégias de modulação de respostas são
fundamentadas em respostas – elas ocorrem depois de as respostas emocionais terem sido produzidas.

Distração Estratégia utilizada para a regulação da emoção na qual os indivíduos removem a atenção do
processamento emocional e se concentram na informação neutra.

Reavaliação Estratégia utilizada na regulação da emoção na qual os indivíduos elaboram as informações


emocionais de um evento antes de alterarem seu significado.

Quais são as estratégias mais eficazes de emoção-regulação? Em uma metanálise (ver Glossário), Augustine
e Hemenover (2009) distinguiram entre estratégias cognitivas (envolvendo o pensamento) e estratégias
comportamentais (envolvendo ações físicas). As estratégias cognitivas (especialmente a reavaliação e a
distração) foram mais eficazes do que as estratégias comportamentais. Pacientes com transtornos de
ansiedade ou depressão maior apresentam dificuldades na regulação da emoção (p. ex., Campbell-Sills &
Barlow, 2007). O papel de várias estratégias de regulação da emoção na alteração dos sintomas de
ansiedade e depressão ao longo do tempo foi avaliado em uma revisão metanalítica por Aldao e
colaboradores (2010). A aceitação, a resolução de problemas e a reavaliação apresentaram efeitos
benéficos sobre a ansiedade e a depressão. Entretanto, a ruminação (pensamento obsessivo sobre
determinados temas) e a evitação aumentaram os sintomas de ansiedade e depressão.

Os participantes que receberam imagens muito negativas utilizaram a reavaliação (reinterpretar a figura
mais positivamente) ou a distração (lembrar de uma cadeia de seis letras). A reavaliação foi associada a
aumentos maiores na ativação nas regiões do córtex pré-frontal medial e temporal anterior (associadas ao
processamento do significado afetivo). Ela também foi mais eficaz na redução dos afetos negativos. Isso
sugere que a reavaliação foi associada a um controle maior do estado emocional do indivíduo.

Neurobiologia das emoções


É consenso que a emoção tem um papel importante no direcionamento do comportamento e na
sobrevivência das espécies. Ela prepara o organismo para a ação: por exemplo, fugir, atacar ou consumar o
ato sexual. As ações humanas são guiadas e motivadas por necessidades biológicas, em primeira instância,
e, em segundo lugar, por objetivos sociais e cognitivos. Para atingir tais objetivos ou necessidades, são
desenvolvidos planos de ação. A emoção constitui, nesse contexto, um subproduto da tradução de estados
internos e condições ambientais externas que podem ser benéficos ou ameaçadores à execução dos planos
e à concretização dos objetivos. Portanto, ela tem caráter motivacional e adaptativo, orienta novos
comportamentos e ações adequadas e pode contribuir para o bem-estar do indivíduo ou para o sofrimento,
como nos casos extremos de doenças psiquiátricas. propõe que as emoções circulam em um espaço afetivo
bidimensional, definido pelas dimensões emocionais da valência e do alerta. A valência se refere à
agradabilidade de um estímulo. Se o estímulo for considerado muito agradável, será ativado um sistema
motivacional apetitivo ou de aproximação; entretanto, se desagradável, ativará um sistema motivacional
defensivo, aversivo. Já o alerta se refere à intensidade da ativação (metabólica e/ou neural) do sistema
aversivo ou apetitivo e varia entre os extremos “calmo” e “alertante”. A neurobiologia da emoção busca a
compreensão dessa experiência fundamental do ser humano por meio da integração do comportamento e
do funcionamento do sistema nervoso (para revisão, ver Dalgleish, 2004). A análise histórica da
neurociência da emoção reflete a complexidade em se estabelecer a interface entre a subjetividade e a
objetividade da vivência emocional.

HISTÓRICO DA NEUROCIÊNCIA DA EMOÇÃO

Em 1872, após 34 anos de estudo, Darwin publicou o livro A expressão das emoções no homem e nos
animais, em que relatou a correspondência entre as emoções humanas e animais. A partir disso, propôs a
existência de um conjunto de emoções básicas que transcendem as espécies e a variação cultural. Tais
propostas influenciaram a neurociência da emoção da época ao promover estudos com animais e a busca
de substratos correspondentes entre as diferentes emoções. Na sequência, Willian James publicou o artigo
“O que é uma emoção?” (1884), em que propôs que as emoções não são nada mais do que experiências
corporais, isto é, reações fisiológicas que ocorrem em resposta a um estímulo. Assim, para cada emoção,
ocorreria uma mudança específica no corpo. Os substratos neuroanatômicos subjacentes às emoções
seriam as áreas sensoriais do córtex, capazes de detectar os estímulos, e as áreas motoras, responsáveis
por gerar as respostas somáticas. Concomitante a James, Carl Lange publicou um trabalho semelhante
(1885), que originou a chamada teoria da emoção de James-Lange. Essa teoria foi duramente criticada por
Walter Cannon (1927), o qual demonstrou que a ablação do córtex cerebral de animais não prejudicava o
comportamento emocional, assim como as respostas corporais e autonômicas não se diferenciavam nos
estados emocionais diversos. No mesmo sentido, propôs-se que a simples alteração fisiológica do
organismo pela administração de hormônios não gerava emoções e que essas respostas fisiológicas são
lentas para conseguirem gerar as emoções. Em associação com Philip Bard, Cannon propôs que o
hipotálamo seria o centro emocional do cérebro e que o córtex cerebral seria capaz de controlar a
expressão emocional do hipotálamo. Em 1937, James Papez propôs um esquema de conexões neurais da
emoção, que se tornou bastante conhecido como o circuito de Papez. Nele haveria um circuito ascendente
que transformaria sensações em percepções, pensamentos e memórias, pela ativação talâmico-cortical
(principalmente do córtex cingulado), ativando diversas estruturas nesse percurso. Tal circuito seria
responsável por gerar as emoções, via ativação tálamo-corpos mamilares e tálamo-córtex cingulado. Assim,
a ativação do córtex cingulado seria responsável pela experiência emocional. Em seguida, observou-se que
nem todas as estruturas do circuito estariam necessariamente envolvidas na emoção. De acordo com
Klüver e Bucy (1939), após a remoção bilateral dos lobos temporais de macacos, ocorreram alterações
comportamentais emblemáticas – perda da reação emocional, hiperoralidade, hipersexualidade, aumento
do comportamento exploratório e alteração na dieta –, o que levou Paul McLean (1949) a postular o papel
de estruturas do lobo temporal na emoção. Com base nas ideias de Papez e de Cannon e Bard, McLean
propôs a divisão do cérebro emocional em três partes (cérebro triuno): uma porção primitiva, formada pelo
estriado e pelos núcleos da base, responsável por emoções primitivas como o medo e a agressão; uma
porção antiga, denominada de cérebro visceral ou límbico, envolvendo o circuito de Papez, acrescido da
amígdala e do córtex pré-frontal, responsável por um incremento de respostas emocionais de medo e por
emoções sociais; e uma terceira porção mais recente evolutivamente, o neocórtex, caracterizada por
realizar a integração entre emoção e cognição. Desse modo, houve um retorno às ideias de Willian James
de que a experiência emocional envolve a integração entre sensações corporais e eventos externos que
alteram o estado do corpo. Essa integração ocorreria na segunda porção do cérebro emocional – o sistema
límbico. A participação da amígdala e do córtex pré-frontal (CPF) na experiência emocional mereceu
destaque em estudos posteriores, realizados por Joseph LeDoux (1994) e António Damásio (1994),
respectivamente. Sob a ótica da neurobiologia da emoção, três elementos da experiência emocional são
abordados: a percepção emocional subjetiva, a reação emocional e a memória emocional desses eventos.
PERCEPÇÃO EMOCIONAL A percepção subjetiva de estímulos emocionais pode estar alterada em alguns
estados psicopatológicos ou em pacientes com lesões cerebrais. Indivíduos com esquizofrenia, por
exemplo, tendem a avaliar figuras neutras com escores mais elevados de alerta. No transtorno bipolar,
constata-se um prejuízo no reconhecimento de faces alegres e tristes Pacientes com depressão maior
tendem a avaliar figuras e faces negativas como mais negativas do que o grupo-controle (Gur et al, 1992), e
aqueles com anedonia atribuem escores mais baixos, isto é, consideram mais desagradáveis as figuras
positivas e neutras do que seus controles. sugeriram que a percepção emocional em indivíduos com essas
patologias pode estar associada a alterações estruturais e funcionais de regiões cerebrais específicas. No
caso da esquizofrenia, são observadas tanto redução do volume como hipoatividade da amígdala e da
ínsula, assim como hipoatividade do nucleus accumbens e redução de volume do tálamo em resposta a um
estímulo emocional. No transtorno bipolar, há aumento do volume da amígdala e do núcleo caudado e
hiperfuncionalidade da amígdala, do tálamo, do córtex temporal direito, do estriado ventral e dos núcleos
da base durante a percepção de faces emocionais. Na depressão maior, constatam-se menor volume da
amígdala e do estriado ventral e hiperfuncionalidade da amígdala, do estriado ventral, da ínsula e do
tálamo diante de um estímulo emocional. No mesmo sentido, estudos eletrofisiológicos e de neuroimagem
funcional de pacientes com lesões cerebrais, evidenciam o papel da amígdala e do córtex pré-frontal na
avaliação do conteúdo emocional de um estímulo .Pacientes com lesão de amígdala podem apresentar
alterações na percepção de conteúdos emocionais. demonstrou que a informação sobre o estímulo
emocional (EE), por exemplo, a visão de uma cobra, é transmitida rapidamente por um circuito direto, que
vai do tálamo ao núcleo basolateral da amígdala (em cerca de 12 ms), e também por um circuito mais
longo, envolvendo o córtex, capaz de discriminações mais sutis sobre a natureza de um estímulo (em cerca
de 19 ms). A informação que toma esta última via leva um pouco mais de tempo para alcançar a amígdala,
enquanto a via direta permite alertar rapidamente o sistema de controle do medo, em caso de perigo. Do
ponto de vista da sobrevivência, é melhor reagir de forma imediata ao perigo em potencial como se fosse
um fato real do que deixar de reagir. O tempo que a amígdala economiza ao agir com base na informação
talâmica, em vez de esperar pela informação cortical, pode significar a diferença entre a vida e a morte.
Mais vale confundir um galho com uma cobra do que não esboçar reação diante de uma serpente real. Em
crianças autistas, observa-se pouco contato social, isolamento social, condutas sociais inadequadas,
dificuldade em realizar atividades em grupo, dificuldade no contato social e em colocar-se no lugar do
outro quanto às emoções, demonstrações inadequadas de afeto ou indiferença afetiva (Gadia & Tuchman,
2005). Assim, levando-se em consideração os estudos relatados, podemos concluir que o funcionamento
da amígdala está fortemente associado ao processamento de estímulos emocionais, sejam eles agradáveis
ou desagradáveis, a fim de avaliar o ambiente quanto à periculosidade para o organismo e prepará-lo para
a reação adequada. A amígdala responde com rapidez ao estímulo emocional, mesmo sem a consciência
sobre ele e independentemente do foco atencional (para revisão, ver Morrison & Salzman, 2010).
Entretanto, o funcionamento da amígdala não é o único determinante no processamento da percepção
emocional. Pacientes com lesão unilateral nessa estrutura podem apresentar incremento de memória para
eventos de estímulos que variam em valência, isto é, desagradáveis ou agradáveis em detrimento de
estímulos neutros (Phelps, LaBar, & Spencer, 1997). Nos dias atuais, sabe-se que outras áreas cerebrais,
como o lobo temporal medial e o córtex pré-frontal, participam da percepção e da avaliação de eventos
com conteúdo emocional. O envolvimento do córtex pré-frontal na experiência emocional advém da
observação do paciente Phineas Gage, em 1848, que, após sofrer uma perfusão do lobo frontal por uma
barra de ferro, começou a apresentar exclusivamente alterações comportamentais, de personalidade e
humor, sem prejuízo em funções cognitivas, como memória e raciocínio. Mais recentemente,
pesquisadores atribuíram ao córtex pré-frontal, de forma mais específica à porção ventromedial, o papel de
processar códigos ou marcadores somáticos referentes às emoções vividas previamente. Entende-se por
marcadores somáticos as reações fisiológicas relacionadas a eventos do passado emocionalmente
significativos. Na ocorrência de um conhecido estado somático, o córtex pré-frontal o avalia e propicia
decisões mais rápidas e efetivas, a fim de evitar possíveis consequências negativas (para uma revisão, ver
Crocker et al., 2013). Outros estudos (entre eles, Dolcos, LaBar, & Cabeza, 2004) observaram que o córtex
pré-frontal esquerdo, mais precisamente a região dorsolateral, está especialmente associado ao
processamento de emoções agradáveis e a região ventrolateral direita, às desagradáveis. Tais achados
demonstram haver uma lateralização no processamento das emoções da parte dessa estrutura. REAÇÃO
EMOCIONAL

Após a avaliação de um estímulo com conteúdo emocional que pode ser ameaçador à homeostase do
organismo, ocorrem respostas fisiológicas e comportamentais que visam a sua defesa. Entre as principais
respostas fisiológicas, destaca-se a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHS), do sistema
simpático-adrenomedular e do sistema imunológico (para revisão, ver Sapolsky, Romero, & Munck, 2000).
Na presença de um estresse físico ou psicológico, ocorre, de início, uma rápida reação de ativação do
sistema nervoso autonômico (SNA) simpático. Por meio da medula das glândulas suprarrenais, dá-se a
liberação dos hormônios adrenalina e noradrenalina, que provocam os sintomas característicos de estresse
– por exemplo, sudorese e taquicardia (Sapolsky et al., 2000). A atividade eletrodérmica da pele, ou
condutância, é uma das medidas mais utilizadas nos estudos de psicofisiologia. Consiste em avaliar a
resposta de sudorese em locais de grande concentração de glândulas sudoríparas, como a região palmar
das mãos, que é responsiva a estímulos psicologicamente significativos. O comando dessa resposta provém
do sistema nervoso central, via ativação do hipotálamo, embora a ação seja realizada pelo SNA, de modo
mais preciso, por inervações simpáticas colinérgicas. Estudos de neuroimagem (como o de Tranel, 2000)
apontam que a ativação de determinadas áreas cerebrais, tais como o córtex pré-frontal ventromedial, a
região parietal inferior direita e o cingulado anterior, estão envolvidas na avaliação da significância de
estímulos e associadas à eliciação da resposta eletrodérmica da pele. Quando o estímulo tem significado
emocional, há, ainda, a ativação da amígdala e do córtex orbitofrontal, juntamente com as áreas já
mencionadas. Bradley e Lang (2007) descreveram que ocorre um aumento de condutância da pele em caso
de estímulos alertantes, sejam eles agradáveis ou desagradáveis, tais como figuras e sons. Isso sugere que
tal reação manifesta-se tanto em situações defensivas como apetitivas e prepara o indivíduo para a ação de
“luta ou fuga”. A resposta cardíaca é outra variável avaliada em estudos de psicofisiologia. É modulada pelo
SNA simpático e/ou parassimpático, que determinará a aceleração ou a desaceleração dos batimentos
cardíacos frente a um estímulo. Sabe-se que, em reação a figuras aversivas ou desagradáveis, ocorre uma
desaceleração cardíaca inicial mais acentuada se comparada à exposição a figuras neutras e/ou agradáveis.
Essa desaceleração indica que houve aumento da atenção, da percepção sensorial e da orientação ao
estímulo, similar à bradicardia de medo que animais apresentam frente aos predadores. Essa bradicardia
inicial é independente do nível de alerta atribuído ao estímulo. Na sequência, ocorre uma aceleração
cardíaca, que prepara o organismo para a ação, dependendo da avaliação do estímulo e do consequente
estado motivacional para tal (Ribeiro, Teixeira-Silva, Pompéia, & Bueno, 2007). A segunda reação do
organismo, mais lenta, refere-se à ativação do eixo HHS. Nesse processo, o núcleo paraventricular do
hipotálamo é estimulado e libera hormônio liberador de corticotrofina (CRH), que, por sua vez, atuando na
hipófise, liberando o hormônio adrenocorticotrofina (ACTH). Este, então, atua no córtex das glândulas
suprarrenais para a liberação dos glicocorticoides endógenos: o cortisol nos humanos e a corticosterona
nos animais (Sapolsky et al., 2000). Os glicocorticoides atravessam facilmente a barreira hematencefálica e
atingem receptores localizados por todo o encéfalo, com predominância no hipocampo, no córtex pré-
frontal, na amígdala e nas áreas corticais orbitofrontais. Essas estruturas contribuem para a ocorrência de
um feedback negativo do próprio eixo HHS, ou seja, a presença de altos níveis de glicocorticoides propicia a
diminuição do funcionamento do eixo, com exceção da amígdala, que oferece um feedback positivo.

MEMÓRIA EMOCIONAL

Quanto à memória, sabe-se que as experiências com conteúdo emocional são mais bem recordadas do que
as vivências não emocionais. Os eventos emocionais recordados com mais vividez e detalhes podem ser
positivos ou negativos, referentes a acontecimentos públicos ou autobiográficos. A sensação de recordar
eventos passados “como se fossem ontem” vem acompanhada por uma alta confiança de que o conteúdo
de que se recorda é, de fato, verdadeiro. O extremo desse efeito é descrito no fenômeno da “memória de
lampejo” (flashbulb memory), que consiste na recordação vívida, detalhada e quase fotográfica de um
evento emocional (Cahill et al., 1996). Possivelmente, os eventos emocionais são mais lembrados por
serem importantes para o indivíduo, o que garante maior atenção, retenção e recordação em experiências
futuras. No mesmo sentido, a experiência emocional persiste por um tempo maior na memória
operacional, permitindo, assim, a reverberação ou a reciclagem dos eventos a serem codificados (Reisberg
& Heuer, 2004). Uma explicação adicional propõe que o alerta reforça a codificação de aspectos centrais do
estímulo por meio de mecanismos de atenção não intencionais, ao mesmo tempo em que tende a diminuir
a codificação de detalhes periféricos dos estímulos (Burke, Heuer, & Reisberg, 1992). Cahill e McGaugh
(1998) sugerem que os eventos emocionais são mais bem lembrados porque provocam um alerta no
organismo que está relacionado à liberação de hormônios suprarrenais (adrenalina e cortisol). A adrenalina
estimula receptores β-adrenérgicos que se localizam em projeções aferentes ao núcleo do trato solitário no
tronco cerebral, importante região de liberação de noradrenalina, que, por sua vez, estimula o
funcionamento da amígdala (para uma revisão, ver Roozendal, McEwen, & Chattarji, 2009). Já o cortisol
liberado atinge receptores no hipocampo, no córtex pré-frontal e na amígdala, locais que participam da
formação das memórias declarativa, operacional e emocional, respectivamente. Entretanto, sabe-se que a
ação do cortisol na memória obedece ao padrão de uma curva em “U” invertido (para revisão, ver Lupien
et al., 2005), de modo que níveis baixos de cortisol não beneficiam a formação de memória, porém altos
níveis (além do nível ideal) prejudicam sua formação (Fig. 8.1). Figura 8.1 Curva em “U” invertido.
Representa a ação do cortisol sobre a memória. Fonte: Lupien e colaboradores (2005). Estudos com
animais e humanos, de fato, destacam o papel da amígdala na consolidação da memória de eventos
emocionais. O efeito facilitador dos hormônios do estresse na memória depende, de forma mais específica,
da ativação do núcleo basolateral da amígdala (para revisão, ver Paré, 2003). A ativação desse núcleo afeta
a plasticidade sináptica e facilita a ocorrência da “potenciação a longo prazo” (long-term potentiation) no
hipocampo, estrutura relacionada com a consolidação da memória declarativa. No mesmo sentido, a
amígdala pode incrementar a codificação de memória episódica dependente do hipocampo por priorizar a
percepção e a atenção dos eventos emocionais (Phelps, 2004). Estudos demonstraram que indivíduos com
comprometimento da amígdala, seja por lesão, seja por doença de Alzheimer ,não se beneficiam do
conteúdo emocional de figuras na recordação. Entretanto, pacientes amnésicos, sem lesão dessa estrutura,
apresentam incremento de memória por conteúdo emocional. É indiscutível que a emoção potencializa a
recordação. Entretanto, em determinadas situações, a relação entre emoção e memória pode mudar de
forma significativa. Em experiências de extrema intensidade emocional e valência negativa, a emoção pode
promover amnésia sobre o evento ocorrido. Uma possível explicação desse fenômeno decorre da
exacerbada liberação de hormônios do estresse que prejudica a formação da memória. Do mesmo modo,
mecanismos de defesa do psiquismo, como a dissociação ou a repressão, que inibem a recuperação
consciente de uma experiência emocional, são alternativas para explicar o fenômeno da amnésia
traumática . Diversos estudos também têm demonstrado que homens e mulheres diferem bastante no que
diz respeito à memória emocional .Por exemplo, mulheres recordam-se mais rapidamente e em maior
quantidade das memórias emocionais em um dado período de tempo e relatam que essas memórias são
mais ricas, vívidas e intensas. Ainda que a memória emocional seja considerada uma memória implícita, a
valência emocional pode afetar a memória explícita, agindo, por meio da amígdala, em áreas de
consolidação da memória, como o hipocampo. Sendo assim, é muito importante considerar, em uma
avaliação neuropsicológica, esses aspectos emocionais, uma vez que há implicação tanto para lidar com o
estresse do cotidiano, de modo a obter uma melhor qualidade de vida do paciente, como para o caso de
uma reabilitação neuropsicológica.

A autorregulação emocional tem sido considerada um componente da inteligência emocional, que por sua
vez diz respeito às habilidades que as pessoas possuem de identificar, nomear e agir em relação aos
próprios sentimentos e aos de outras pessoas (Goleman, 2006). Foram desenvolvidos estudos que
investigam a relação entre os dois construtos em diversos contextos, tais como clínico, hospitalar, esportivo
e acadêmico (Espinoza-Venegas, Sanhueza-Alvarado, Ramírez-Elizondo, & Sáez-Carrillo, 2015; Isaza-Zapata
& Calle-Piedrahitta, 2016; Ruiz, Salazar, & Caballo, 2012; Teques, Llorca-Ramón, Bueno-Carrera, Pais-
Ribeiro, & Teques, 2015). Além de se relacionar com a inteligência emocional, associações com suporte
social e estilos parentais também vêm sendo pesquisadas (Gaspar & Matos, 2015; Pinto, Carvalho, & Sá,
2014).

A autorregulação emocional tem sido avaliada predominantemente por meio dos modelos conceituais
adotados no desenvolvimento da Difficulties in Emotion Regulation Scale (DERS, de Gratz & Roemer, 2004)
e do Emotional Regulation Questionnaire (ERQ, de Gross & John, 2003), de forma que instrumentos foram
construídos e adaptados em vários países (Cabello, José M., Fernández-Berrocal, & Gross, 2012; Muñoz-
Martínez, Vargas, & Hoyos-González, 2016; Porro, Andrés, & Rodrígues-Espínola, 2012). A DERS investiga as
dificuldades de regulação das próprias emoções (desregulação emocional). Os quatro fatores possuem
itens que identificam: a) capacidade de tomar consciência e compreender as emoções; b) aceitar as
próprias emoções; c) controle dos comportamentos impulsivos de modo a se guiar para que determinados
objetivos sejam alcançados; d) acesso a estratégias de autorregulação emocional percebidas como efetivas.
A ausência de qualquer uma dessas habilidades poderia indicar dificuldades na regulação das emoções
(Gratz & Roemer, 2004). Por sua vez, o modelo desenvolvido por Gross e John (2003) possui dois fatores
que se aplicam a emoções negativas e positivas e que indicam controle das emoções, de forma que os
pensamentos são modificados diante da situação vivenciada (estratégias de reavaliação das emoções) e o
controle emocional no qual o indivíduo não expressa algumas emoções (supressão das emoções).
A regulação emocional é definida como a habilidade de manter, aumentar ou diminuir um ou mais
componentes da resposta emocional, incluindo os sentimentos, comportamentos e respostas fisiológicas
que constituem as emoções (Gross, 2002). Refere-se ainda à capacidade de compreender e aceitar sua
experiência emocional de modo a utilizar estratégias saudáveis para manejar as emoções quando
necessário. Situações como se submeter ao vestibular, exame de habilitação para dirigir ou entrevista de
emprego requerem tolerância e habilidade para lidar com emoções que muitas vezes podem ser
desconfortáveis. As pessoas que não conseguem desenvolver habilidades flexíveis e efetivas de regulação
emocional podem experimentar emoções excessivas e persistentes, capazes de interferir na busca de
objetivos de vida.

Modulação das emoções

Aprendemos a regular nossas emoções no decorrer da nossa infância e adolescência. Parte da nossa
socialização tem a ver com a capacidade de treinarmos uns com os outros, iniciando pela família.
Expressões como “é feio ter raiva”, “meninos não podem sentir medo, chorar” são comumente
encontradas na educação das crianças e caracterizam um ambiente invalidante. Estas experiências as levam
a evitar ou suprimir estas emoções, sentir culpa por tê-las, não as ensinando a rotular, regular a excitação e
tolerar a perturbação emocional. Além disso, as impedem de confiar em suas próprias respostas
emocionais como reflexos de interpretações válidas dos acontecimentos (Linehan, 2010).

Desenvolver habilidade de regular e modular as emoções consiste em: 1) Inibir o comportamento


inapropriado relacionado às emoções intensas; 2) Realizar ações coordenadas com a finalidade de
conseguir uma meta independente da emoção experimentada; 3) Regular a ativação fisiológica presente na
vivência emocional e 4) Retomar o foco da atenção na presença das emoções intensas.

As nossas experiências emocionais são indispensáveis para a formação da nossa identidade. São elas que
nos tornam únicos e nos diferenciam uns dos outros. Por este motivo é importante que estejamos atentos
ao reconhecimento destas emoções e, sobretudo, ao que elas nos comunicam, sem julgamento, mas sim
com aceitação.

Por fim, convido-os a realizar um breve exercício: Pense em uma situação atual que tenha gerado uma
reação emocional. Agora, descreva esta situação, quando, onde, com quem estavas? Quais interpretações
tu fizestes desta situação? Observe suas sensações corporais, expressão facial, postura. O que teve vontade
de fazer, dizer neste momento? O que de fato fizestes? Agora, reflita. Quais efeitos (pensamentos, outras
emoções, memória) esta emoção teve sobre você? Qual foi a sua função?

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