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O pensamento de Maquiavel em “Vingadores: Guerra Infinita”

Matheus Passos Silva


Doutorando em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília
Investigador voluntário do CEDIS/Nova Lisboa
Professor licenciado do Centro Universitário UniProjeção
matheuspassos@campus.ul.pt

Resumo: O estudo do fenômeno político-jurídico passa pela leitura e releitura de


inúmeros textos considerados como “clássicos”. Tal fenômeno, entretanto, deve
ultrapassar o estudo meramente em sala de aula. É nesta perspectiva que o cinema
se torna elemento importante na explicação e elucidação de conceitos: inúmeros são
os filmes que lidam com temas acadêmicos, representando-os na tela e permitindo
uma melhor compreensão da teoria político-jurídica. É neste contexto do cinema como
ferramenta pedagógica para a explicação de conceitos fundamentais à Ciência
Política contemporânea e ao Estado moderno que se encaixa a problemática deste
artigo, qual seja, a de explicar os principais aspectos apresentados por Nicolau
Maquiavel em seu livro mais conhecido – “O Príncipe” – tendo-se por base um dos
maiores fenômenos da “cultura pop” atual – o chamado “Universo Cinematográfico
Marvel”, com ênfase em seu mais recente filme intitulado “Vingadores: Guerra Infinita”.
O objetivo geral é mostrar de que maneira as ações realizadas pelo vilão do filme
podem ser analisadas sob uma perspectiva maquiavélica, com ênfase nas
características apresentadas pelo autor florentino referentes ao modelo de “bom
governante”. Para tanto o artigo traz inicialmente ao leitor o enredo central do filme
para em seguida apresentar, de maneira interconectada, os principais argumentos
desenvolvidos pelo autor florentino e as ações do vilão no filme. Ao fim conclui-se que
a obra de Maquiavel continua relevante para a análise do fenômeno político-jurídico
contemporâneo. O artigo se fundamenta no método indutivo e usa como técnica a
pesquisa bibliográfica.
Palavras-chave: Cinema; Marvel; Estudo político-jurídico; Maquiavel; O Príncipe.

Abstract: The study of the political-legal phenomenon involves the reading and re-
reading of numerous texts considered as “classics”. This phenomenon, however,
should go beyond the study in the classroom. It is in this perspective that movies
become an important element in the explanation and elucidation of concepts: there are
many films dealing with academic subjects, representing them on the screen and
allowing a better understanding of legal-political theory. It is in this context of movies
as a pedagogical tool for the explanation of concepts fundamental to contemporary
Political Science and the modern State that comes the problematic of this article: to
explain the main aspects presented by Niccolò Machiavelli in his best-known book –
“The Prince” – based on one of the greatest phenomena of today’s pop culture – the
so-called “Marvel Cinematic Universe”, emphasizing its most recent film entitled
“Avengers: Infinity War”. The main objective is to show how the actions performed by
the villain of the film can be analyzed from a Machiavellian perspective, with emphasis
on the characteristics presented by the Florentine author referring to his model of a
“good ruler”. To achieve such goal the article initially brings the central plot of the film
and then presents, in an interconnected way, the main arguments developed by the
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Florentine author and the actions of the villain in the movie. The conclusion is that
Machiavelli’s work remains relevant for the analysis of the contemporary political-
juridical phenomenon. The article is based on the inductive method and uses
bibliographic research as a technique.
Keywords: Movie theater; Marvel; Political-legal studies; Machiavelli; The Prince.

Introdução

As relações entre Direito, Política e Cinema não são novidade. A utilização de


temas político-jurídicos para fundamentar séries e filmes – sem falar em peças de
teatro e músicas, dentre outras expressões artísticas – é algo relativamente comum.
Empresas de mídia dedicam-se à utilização de tais temas em seus enredos porque
os mesmos são capazes de chamar a atenção da audiência, além de criarem o
necessário engajamento orgânico na divulgação de tais produções.
Para além dos inúmeros filmes e séries que tratam do Direito e da Política já
indicados em outro espaço (SILVA; SOUSA JÚNIOR, 2016, p. 57), vale destacar que
a utilização de obras cinematográficas como fundamento para a análise político-
jurídica tem se difundido cada vez mais por parte de acadêmicos interessados em
reinterpretar a chamada “cultura pop” tendo-se por base sólidos fundamentos teóricos.
Destaca-se aqui, por todos, o renomado professor de Direito Constitucional,
Administrativo e Ambiental da Universidade de Harvard, Cass Robert Sunstein, que
em 2015 publicou o texto intitulado How Star Wars illuminates Constitutional Law1
(“Como Star Wars ilumina o Direito Constitucional”, em tradução livre). Indo além,
Sunstein publicou em 2016 o livro The World According to Star Wars (“O mundo de
acordo com Star Wars”, em tradução livre), que teve grande recepção não apenas no
meio geek, mas também no meio acadêmico.
É nesta perspectiva que o presente texto se apresenta. A proposta é realizar
uma análise do filme “Vingadores: Guerra Infinita” considerando-se o pensamento
político-jurídico do autor florentino Maquiavel, especialmente aquele presente em seu
livro mais conhecido – “O Príncipe”. Buscar-se-á explicar o pensamento do autor de
maneira pedagógica por meio da interpretação das ações do vilão do filme, o qual se
apresenta como um elemento importante da “cultura pop” atual.

O “evento” chamado “Vingadores: Guerra Infinita”

No dia 26 de abril de 2018 estreou no Brasil o filme intitulado “Vingadores:


Guerra Infinita”. O filme, que estreou em vários outros mercados internacionais no dia
seguinte, arrecadou apenas em sua primeira semana de exibição 840 milhões de
dólares de bilheteria mundial2.
Entretanto, não é apenas a quebra de inúmeros recordes no cinema que faz do
filme um verdadeiro “evento”: para o mundo geek, “Vingadores: Guerra Infinita” é a
1 O texto está disponível neste link: <http://newramblerreview.com/images/files/Sunstein-review-of-Taylor.pdf>.
Acesso em 3 de maio de 2018.
2 As informações são do site americano Box Office Mojo. Disponível em
<http://www.boxofficemojo.com/yearly/chart/?view2=worldwide&yr=2018&p=.htm>. Acesso em 3 de maio de 2018.
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culminação de um projeto iniciado pelo Marvel Studios no ano de 2008, quando o
estúdio lançou o filme “Homem de Ferro”. Tal lançamento deu origem ao chamado
“Universo Cinematográfico Marvel” (UCM), em que há uma história central sendo
contada em diversos filmes, sob o prisma de cada um dos super-heróis apresentados
ao longo da década. Significa dizer que, se por um lado cada filme conta uma história
relativamente fechada em si mesma, por outro existem “pontas soltas” em todos os
filmes, conectando-os uns aos outros no UCM.
A história central que encadeia todos os filmes se refere ao principal vilão:
“Thanos”. Tendo sido apresentado brevemente em uma cena pós-créditos do filme
“Vingadores”, de 2012, o personagem reapareceu brevemente em outros filmes,
sempre em cenas pós-créditos, ou foi citado por algum dos outros personagens que
compõem o UCM. O objetivo central de Thanos é um só: obter todas as seis “Joias do
Infinito”, cada qual representando uma característica essencial do Universo (poder,
espaço, tempo, realidade, mente e alma), para utilizá-las por meio da “Manopla do
Infinito”, um artefato capaz de utilizar o poder das “Joias do Infinito”. Uma vez que
todas as joias estiverem inseridas na Manopla – que é somente um instrumento
construído para agrupar as joias, não tendo poder intrínseco algum –, aquele que a
utilizar tornar-se-ia praticamente onipotente. Ainda de acordo com a história ficcional,
Thanos precisará utilizar a “Manopla do Infinito” para eliminar metade dos seres vivos
de todo o Universo, já que apenas assim conseguirá impressionar o amor da sua vida
– a personagem intitulada “Morte”.
O enredo de “Vingadores: Guerra Infinita” corresponde, desta feita, à jornada
final realizada por Thanos para conseguir todas as joias. O “Titã louco”, como é
chamado, finalmente consegue obter todas as seis joias e utiliza o poder da Manopla,
concretizando seu objetivo. Como resultado, ao final do filme metade da Humanidade
foi eliminada com um simples “estalar de dedos” do vilão, enquanto este descansa
satisfeito após ter cumprido o que considera ser sua missão.
Uma vez feita esta breve apresentação de “Vingadores: Guerra Infinita”, passa-
se à análise das ações de Thanos no filme tendo-se como base o pensamento político-
jurídico do autor florentino Nicolau Maquiavel. O foco está no livro “O Príncipe”, obra
seminal que, dentre outras ideias, traz a utilização, pela primeira vez na História, do
conceito de Estado moderno.

Maquiavel e a necessidade de centralização política

Maquiavel é atualmente considerado como o “pai” da Ciência Política moderna.


Seu pequeno livro Dos Principados – título original posteriormente alterado para O
Príncipe – é um dos mais conhecidos na esfera política, sendo constante – e
erroneamente – visto como uma defesa do Estado absolutista. A importância do livro
é tão grande que o nome do seu autor deu origem ao substantivo maquiavelismo e ao
adjetivo maquiavélico, sendo esta a pessoa em que predomina a astúcia, a má-fé e o
oportunismo; é a pessoa ardilosa, que se utiliza de meios nem sempre vistos como
bons tendo em mente unicamente seus fins. Daí também a famosa frase atribuída a
Maquiavel – mas ausente em seu livro O Príncipe –, a de que os fins justificam os
meios, o que mostra, sem sombra de dúvidas, que este autor – e seu livro – é muito
mais citado do que lido.

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A compreensão correta do pensamento de Maquiavel passa pelo entendimento
prévio de dois elementos presentes no momento em que viveu. Maquiavel nasceu em
1469 na cidade de Florença, localizada no centro da península itálica. Seu pai era
advogado e, ainda que não rico, tinha posses suficientes para dar ao filho a educação
clássica tão valorizada à época, garantindo-lhe sólida formação humanística
(GUANABARA, 2009, p. 26). Nesse sentido, como primeiro elemento de influência no
pensamento de Maquiavel tem-se o “Renascimento”, movimento intelectual que
valorizava a redescoberta das referências culturais da Antiguidade clássica que
nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista e naturalista.
O Renascimento foi importante porque, como movimento intelectual que
buscava questionar e criticar o pensamento medieval, permitiu a Maquiavel a ousadia
necessária para criticar o pensamento político teocentrista existente anteriormente:
rompe-se com a ordem teológica previamente existente e em seu lugar instaura-se a
ordem antropocêntrica, na qual o ser humano – e não Deus – se torna o centro de
tudo. O futuro é definido não pela vontade divina, mas sim como resultado das ações
– erros e acertos – do próprio ser humano. É neste contexto que o pensamento político
de Maquiavel encontra base para florescer, pois seu conceito de virtù3, por exemplo,
pressupõe a ação direta do homem em tudo que está ao seu redor.
O segundo elemento importante de contextualização diz respeito à estrutura
política da península itálica à época. Ao norte de Florença estavam o Ducado de Milão
e a República de Veneza, bem como a República de Gênova. A leste e sul da
República de Florença situavam-se os chamados “Estados papais”, controlados pela
Igreja, e mais ao sul situavam-se o Reino de Nápoles e o Reino da Sicília, na ilha de
mesmo nome. Eram Estados soberanos, mas politicamente instáveis em âmbito
interno, sendo tal instabilidade refletida para o âmbito externo, com guerras
constantes entre si. Para piorar a situação, destaque deve ser dado à presença
constante de incursões francesas e espanholas nestes territórios, já que estes dois
países tinham interesses diversos na região (SADEK, 1998, p. 14-6).
O próprio Maquiavel viria a se beneficiar e, em seguida, se tornar vítima das
turbulências da República de Florença. Com a queda de Savonarola (que governou
Florença entre 1494 e 1498), Maquiavel passou a ocupar a Segunda Chancelaria,
cargo do alto escalão da República de Florença, vindo a viajar para várias partes da
Itália e de outros países – tirando daí parte de sua “inspiração” para O Príncipe.
Durante estes anos Maquiavel pôde analisar a política italiana como alguém de fora,
com outros olhos, percebendo sua fragilidade. Exerceu também a função de
estrategista militar, buscando implantar em Florença forças armadas próprias,
vinculadas à República de Florença, de forma que o país baseasse sua força militar
em seus próprios cidadãos e não nos “mercenários” – chamados de condottieri – que
nada mais eram do que soldados que atuavam por meio de contratos com os Estados
italianos – ainda que não houvesse nenhum pudor, por parte dos condottiere, em
mudar de lado caso outro Estado oferecesse um soldo mais elevado. É aí que
Maquiavel escreve a obra Discurso sobre como preparar o estado de Florença às
armas, em 1506, a qual, em conjunto com outros estudos posteriores, fundamentaria
A arte da guerra, de 1521 (GUANABARA, 2009, p. 27).
Com o retorno da família Médici ao poder em Florença em 1512, Maquiavel
perdeu seu cargo, sendo demitido, e foi mantido em uma espécie de prisão domiciliar,

3 Este conceito será apresentado em detalhes mais adiante no texto.


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já que foi proibido de sair da cidade pelo período de um ano. Em 1513 foi preso e
torturado, sob a acusação de ter participado de uma conspiração contra o governo
dos Médici. Resignou-se, então, passando a viver na propriedade de sua família; é a
partir deste momento que escreveu suas principais obras, em especial O Príncipe e
Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, sendo que se considera atualmente
que O Príncipe foi escrito tendo como objetivo sua recontratação como servidor do
estado florentino. Sua estratégia não funcionou e Maquiavel passou a se dedicar à
escrita de seus demais livros, tais como o já citado A arte da guerra e sua peça
Mandrágora. Ainda chegou a trabalhar para Florença, escrevendo, a partir de 1520, a
História de Florença, trabalhando junto aos Médici, que mais uma vez retornavam ao
poder naquele ano; porém, em 1527, nova turbulência política na cidade fez com que
Maquiavel se afastasse definitivamente de seus escritos e viesse a falecer em 21 de
junho daquele ano (SADEK, 1998, p. 17).
É nesse contexto turbulento que Maquiavel irá falar sobre a ideia de Estado,
mas em perspectiva diferente da existente até então. A ideia do Estado como uma
instituição que administra determinado território é antiga, existindo desde os primeiros
grupamentos humanos. Esta ideia perpassou não apenas o período arcaico, como
também – e principalmente – o período antigo, chegando neste momento ao seu
apogeu. O Estado se viu enfraquecido durante a Idade Média, especialmente tendo-
se em vista o fato de que coube à Igreja cristã realizar o papel de Estado durante tal
período. É neste sentido que se fala, a partir do século XV, em “Estado moderno”: sua
função principal – administrar determinado território – continua sendo a mesma, mas
a forma de administrar é diferente4. É neste contexto de diferença que Maquiavel
surge como o primeiro pensador a analisar as relações de poder do momento em que
viveu com base no que era, e não no que deveria ser, análise esta que vai fazer com
que surja este “novo” conceito de Estado – inclusive em termos jurídicos.
É aqui que se percebe que os escritos de Maquiavel em seu livro O Príncipe
não são maquiavélicos. Seu objetivo foi simplesmente o de mostrar aos príncipes o
que era necessário fazer para manter o poder. Assim, ele não tem nada de “malvado”
ou de “ruim”: esta imagem surgiu porque suas ideias vão contra as ideias dominantes
– ou seja, cristãs – de seu tempo. “Maquiavel parece dizer aos príncipes: ‘faça o que
outros já fizeram’, mas escolha com cuidado seus precedentes para ter a certeza de
que você imite os príncipes certos nas circunstâncias certas” (McCLELLAND, 2005,
p. 151). Por tal motivo é difícil compreender ou imaginar o que possa existir no livro
que o transforme em algo tão chocante, tão absurdo: “é possível que O Príncipe de

4 “O Estado moderno é definido como tendo o monopólio da força (ou do poder de decidir em última instância),
atuando em três níveis: jurídico, político e sociológico. No nível jurídico, atua mediante a afirmação do conceito da
soberania, confiando ao Estado o monopólio da produção das normas jurídicas, de forma a não existir direito algum
acima do Estado que possa limitar sua vontade: o Estado adquire, pois, O poder para determinar, mediante leis, o
comportamento dos súditos. Os próprios direitos individuais se apresentam, muitas vezes, apenas como benignas
concessões ou como expressão de autolimitação do poder por parte do Estado. Além disso, a soberania é definida,
em muitos casos, em termos de poder e não de direito: é soberano quem possui a força necessária para ser
obedecido, e não quem recebe este poder de uma lei superior. No nível político, o Estado moderno representa a
destruição do pluralismo orgânico próprio da sociedade corporativista: pela sua atuação constante, desaparecem
todos os centros de autoridade reivindicadores de funções políticas autônomas, tais como as cidades, os Estados,
as corporações, de tal forma que venha a desaparecer toda mediação (política) entre o príncipe, portador de uma
vontade superior, e os indivíduos, reduzidos a uma vida inteiramente particular e tornados todos iguais enquanto
súditos. No nível sociológico, o Estado moderno se apresenta como Estado administrativo, na medida em que existe,
à disposição do príncipe, um novo instrumento operacional, a moderna burocracia, uma máquina que atua de
maneira racional e eficiente com vista a um determinado fim” (BOBBIO, 1998, p. 698).
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Maquiavel seja tão impactante não tanto pelo que ele diz, mas pelo como ele diz”
(McCLELLAND, 2005, p. 152).
Desta forma tem-se que seu livro O Príncipe é uma tentativa de buscar acabar
com a instabilidade política que marcava a Itália de seu tempo – e, para isso, se tornou
o primeiro texto de Ciência Política realista. Para tanto Maquiavel se afastou
intelectualmente daqueles que eram vistos como ícones do pensamento político em
seu tempo: Sócrates, Platão e Aristóteles. Ainda que os filósofos gregos antigos
tenham sido os precursores da filosofia política, Maquiavel buscou analisar a realidade
como ela era, e não como ele gostaria que fosse. É esta diferença de perspectiva no
momento de se analisar a política que fez com que Maquiavel fosse alçado à História
como, talvez, o primeiro dos realistas modernos. É também esta característica que faz
com que ele inicie seu livro falando não apenas a respeito do que deve ser feito para
se conquistar Estados, mas mais importante, como mantê-los, tornando-os estáveis –
e tudo isso por meio da eficácia nas ações humanas, sem abstrações filosóficas e/ou
especulativas sobre tais ações.
Maquiavel nos pergunta: quais características tem – ou deve ter – o bom
governante? Se respondermos a esta pergunta com base em Platão, por exemplo,
teremos que o bom governante é um homem com “alma de ouro”, cuja principal
característica é a sabedoria, e que seja suficientemente virtuoso a ponto de
administrar o Estado buscando sempre o bem para todos (ainda que não se defina
claramente o que significa este bem para todos). Se a pergunta for respondida com
base em São Tomás de Aquino, teremos que o bom governante é aquele que
consegue fazer com que todos caminhem em direção à “Cidade de Deus”. Já para
Maquiavel, o que é o bom governante? Para ele, bom governante é aquele homem –
e não a “natureza”, como seria para os antigos, ou Deus, ou alguém vinculado a Ele,
como seria para os medievais – que mantém a ordem dentro do território, utilizando-
se dos meios disponíveis para tanto.
Ou seja: Maquiavel busca sair do campo do dever ser e entrar no campo do
ser, sem suposições, sem idealizações, sem expectativas de que algo “superior” ao
homem possa solucionar seus problemas. Cabe ao próprio ser humano definir seu
futuro – e é neste sentido que sua visão de Estado pressupõe a centralização do poder
nas mãos do príncipe5: cabe a ele, mais do que a qualquer outro, fazer o necessário
para manter a ordem.
Destaca-se aqui a influência do contexto histórico no pensamento de
Maquiavel. Por que tem ele preocupação com a ordem? Como dito anteriormente, a
Itália estava despedaçada em pequenas cidades-estados; ao contrário, a França e a
Espanha demonstravam uma força que Maquiavel não via na Itália. As próprias
cidades-estados italianas eram instáveis – que o diga sua própria cidade natal,
Florença. Neste contexto o que mantém a ordem não será o respeito a alguma “lei
natural”, como defendiam os antigos; o que mantém a ordem não será o medo de ir
para o inferno em caso de alguma transgressão à lei divina, como defendiam os
medievais; o que mantém a ordem é o uso da força física. Do ponto de vista de
Maquiavel o triunfo do mais forte é o fato essencial da história humana. Os egípcios
foram vencidos pelos romanos por meio da força física; os romanos foram vencidos
pelos “bárbaros” por meio da força física; e na própria época em que vive, o que define
o equilíbrio entre os inúmeros Estados italianos, a França e a Espanha são alianças
5A palavra príncipe deve ser entendida não no sentido do “filho do rei”, mas sim no sentido de governante – mais
ainda, no sentido de Estado propriamente dito.
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que, em última instância, se fundamentam na força física. Assim, tudo se resume em
ter forças suficientes para conquistar e para manter o poder.
A razão primeira e última do príncipe, portanto, é o uso correto dessas forças
porque apenas assim se garante a estabilidade necessária à existência de qualquer
sociedade. Desta forma, a base de todos os Estados são duas: boas leis e boas
armas. Maquiavel afirma que “não se podem ter boas leis onde não existem boas
armas” (MAQUIAVEL, 1996, p. 57), já que de nada adianta a existência de uma boa
lei se não houver capacidade, por parte do Estado, de colocá-la em prática, se
necessário por meio do uso da força física. Fica a pergunta: o que são estas “boas
armas”? Boas armas não são tropas mercenárias (“desunidas, ambiciosas,
indisciplinadas, infiéis, valentes entre amigos e covardes entre inimigos”). Boas armas
são tropas nacionais, ou seja, aquilo que na atualidade chamamos de Forças
Armadas. É necessário relembrar que à época de Maquiavel os exércitos eram
compostos por mercenários, ou seja, soldados que lutavam por aquele que pagasse
mais.
Imagine-se a situação: a República de Florença entraria em guerra com o
Ducado de Modena, e para tanto contrataria mercenários pagando-lhes cem moedas
por dia. O Ducado de Modena, que em um primeiro momento estava perdendo a
guerra, ofereceria cento e cinquenta moedas para aqueles que lutassem a seu lado.
Aqueles mercenários de Florença passariam, agora, a lutar por Modena. Neste
contexto, qual a segurança que Florença teria, a não ser pagar mais? E se Florença
não pudesse cobrir a oferta de Modena? Perderia a guerra. Assim, buscando evitar
tal situação é que Maquiavel propõe as tropas nacionais, ou seja, soldados vinculados
não a um contrato, mas sim ao Estado.
E é aqui que temos um dos primeiros elementos fundamentais do Estado
moderno: a transferência das forças armadas do âmbito pessoal – ou seja, o fim dos
mercenários – para o âmbito institucional com a profissionalização destas forças
armadas. Esta profissionalização, por sua vez, só poderia ocorrer quando houvesse
a centralização do poder político nas mãos do príncipe – ou seja, nas mãos do Estado.
Seriam estes dois elementos – a centralização do poder e o surgimento de tropas
nacionais – os fundamentos da estabilidade em toda e qualquer sociedade. “Se o que
busca é a estabilidade, não se pode adotar a política das boas ações e da moralidade.
[...] Maquiavel inaugura a era do realismo político, desprovido dos mandamentos
religiosos e voltado fortemente para os resultados das ações humanas”
(GUANABARA, 2009, p. 30).

A pessoa do príncipe como o responsável pela estabilidade do Estado

Como todo aquele que se situa em um momento de ruptura, Maquiavel traz


elementos anteriores e, com base neles, cria o novo. É neste sentido que deve ser
entendida a análise de Maquiavel a respeito das características pessoais do
governante: se por um lado ele defende a institucionalização do Estado por meio de
tropas que se vinculem à instituição Estado e não à pessoa do governante, por outro
Maquiavel acredita que o governante deve, sim, ter certas características para que
possa ser um bom governante. Porém, ainda que siga uma ideia semelhante à dos
antigos e dos medievais, Maquiavel, ainda assim, traz novidades nestas
características – e é aqui que entra em cena o nosso personagem principal, Thanos.
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Para os gregos antigos, o bom governante deveria ser virtuoso; para os
medievais, o bom governante deveria ser religioso; para Maquiavel o bom governante
deve ter virtù. “Ora, mas virtù em italiano significa virtude; então Maquiavel defendia
a mesma coisa que os gregos antigos”, dirá o leitor. A resposta a esta frase,
obviamente, é negativa. A virtude grega antiga se assemelha à definição que temos
da palavra “virtude” na atualidade: uma disposição constante que nos induz a exercer
o bem e evitar o mal, ou o conjunto de todas ou qualquer das boas qualidades morais.
Geralmente tem-se que o homem que pensa no próximo é virtuoso, já não o é o
egoísta; tem-se que o homem que leva uma vida sem excessos é virtuoso, sendo que
aquele que gasta seu dinheiro de maneira inconsequente não... E este não é o
entendimento de Maquiavel.
O que Maquiavel faz é alterar o sentido da palavra: para ele tem virtù aquele
que produz resultados certos e determinados; tem virtù aquele que age com
propriedade, com eficácia. A virtù é, portanto, a capacidade própria do príncipe; é sua
sabedoria, sua força de vontade; em uma única palavra, é seu talento para atingir
determinado objetivo. Pode-se imaginar que a virtù esteja relacionada a “coisas boas”,
como sabedoria, justiça, coragem, temperança, honradez, moralidade, religiosidade –
e inclusive estas eram as características virtuosas defendidas pelos contemporâneos
de Maquiavel, que afirmavam que aquele que alcançasse a glória política por outros
meios sofreriam as consequências, inclusive em termos religiosos. Mas para
Maquiavel a virtù significa agir conforme a necessidade, independentemente da ação
ser moralmente “boa” ou “ruim”; a virtù significará, portanto, “a flexibilidade moral
indispensável a qualquer príncipe, que deve ter a mente aberta, pronta a se voltar em
qualquer direção, conforme exijam os desígnios da fortuna” (SKINNER, citado por
GUANABARA, 2009, p. 33), já que certos vícios podem ser necessários à
conservação do Estado, e certas qualidades, ao contrário, poderiam pôr tudo a perder.
Por sua vez, o que significa fortuna? Esta será a contrapartida da virtù.
Enquanto a virtù se refere a características próprias do governante, Maquiavel
descreve a fortuna como algo externo ao príncipe. Por fortuna entende-se, desta
forma, a sorte, o acaso, as oportunidades que a vida traz ao ser humano; em resumo,
todo e qualquer acontecimento alheio à vontade do príncipe. Não que a fortuna seja
ruim: ao contrário, ela é necessária e traz benefícios ao governante; mas este não
deve fundamentar seu governo apenas na fortuna, já que “o que vem fácil, vai fácil”.
Além disso, o governante não pode estar despreparado caso a fortuna lhe traga algum
revés. Para tanto, deve ter a virtù necessária para o controle da fortuna.
[...] É preciso ter em conta o papel do acaso e do imponderável nos
negócios humanos [ou seja, da presença da fortuna]. Eles são
capazes de trazer a glória, mas também a ruína. A conjuntura política,
como a vida, é essencialmente mutável. Exatamente por isso, é
preciso estar atento à mudança dos ventos. Maquiavel atribui essa
qualidade ao homem de virtù que é capaz de construir diques para
conter as inundações provenientes das mudanças. É preciso,
portanto, olhar adiante e precaver-se ante a volatilidade dos tempos.
Para isso, é necessário astúcia política (GUANABARA, 2009, p. 35).
O príncipe que quer manter-se como tal deve, portanto, aprender não a ser
sempre bom, mas sim a ser ou não ser bom conforme a necessidade; deve possuir
certos defeitos ou vícios que podem ser necessários à conservação do Estado; e não
deve nunca se fundamentar apenas na fortuna, ainda que possa usufruir dos
benefícios por ela trazidos.
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O governante não é, pois, simplesmente o mais forte – já que este tem
condições de conquistar, mas não de se manter no poder –, mas
sobretudo o que demonstra possuir virtù, sendo assim capaz de
manter o domínio adquirido e se não o amor, pelo menos o respeito
dos governados (SADEK, 1998, p. 22).
Trazendo o raciocínio de Maquiavel ao principal personagem aqui analisado,
percebe-se que Thanos faz uso tanto da virtù quanto da fortuna – ou seja, age tanto
de forma pensada em relação ao seu objetivo quanto conta com a sorte em
determinados momentos.
De maneira geral pode-se afirmar que a virtù aparece nos momentos em que
Thanos age conscientemente para atingir seu primeiro objetivo – juntar as “Joias do
Infinito”. Isto ocorre, por exemplo, quando ele mata um dos personagens mais
queridos do público – Loki, irmão de Thor – logo aos cinco minutos do filme. Isto, é
claro, sem falar em todos os asgardianos6 que se encontram na espaçonave
juntamente com estes dois personagens. Simplesmente era necessário fazer aquilo
tanto no contexto do filme quanto para o expectador, especialmente porque este,
como dito anteriormente, sabia quem era o Thanos por todos os flashs mostrados em
outros filmes sem efetivamente conhecer sua história.
Mais à frente no filme duas cenas demonstram claramente a ideia de virtù como
sendo “fazer o que é necessário”. Em uma das cenas os exércitos de Thanos estão
dizimando a população do planeta natal da personagem chamada Gamora. Esta,
ainda uma criança, acaba por ser adotada por Thanos, tornando-se sua filha favorita.
Entretanto, apesar da ligação emocional claramente demonstrada entre pai e filha,
Thanos mata Gamora – quando esta já é adulta – com o objetivo de obter a “Joia da
Alma”. Em outra cena Thanos tortura Nebulosa, outra de suas filhas adotivas, para
forçar Gamora a lhe dizer onde se encontra a “Joia da Alma”. Duas ações que, sob a
perspectiva da virtù, são necessárias para atingir seu objetivo final.
Da mesma forma, também a “fortuna” sorri para Thanos. Em determinada cena
ele está sendo atacado ao mesmo tempo por seis heróis diferentes. Os heróis quase
conseguem remover a “Manopla do Infinito” – já com quatro joias – das mãos do Titã
louco. Um dos heróis, entretanto, ao descobrir que Thanos havia matado Gamora –
por quem era apaixonado – perde a razão e começa a bater em Thanos, de maneira
que este consegue, devido à sorte, manter a Manopla em seu poder.
Voltando ao pensamento de Maquiavel, surge aqui outra característica pessoal
do príncipe, associada à ideia de virtù: é o uso das crueldades. De maneira
interessante, Maquiavel fala em “boas crueldades” e em “más crueldades”, ou em
crueldades “bem praticadas” e crueldades “mal praticadas”. As crueldades bem
praticadas são aquelas que são cometidas pelo governante todas de uma vez, pois
assim os súditos7 sofrem tudo de uma vez e depois esquecem que sofreram; por outro
lado, as crueldades mal praticadas são aquelas que se cometem aos poucos, pois os
súditos passam a odiar o príncipe por estarem continuamente sofrendo.

6 Nas histórias da Marvel tanto Thor quanto Loki são príncipes no planeta Asgard. Vale destacar que a mitologia
referente a Asgard se fundamenta fortemente na mitologia viking, para a qual tais deuses – Thor, Loki e o “Pai de
Todos”, Odin, dentre inúmeros outros, realmente existem.
7 No contexto de Maquiavel, assim como a palavra príncipe não deve ser entendida como “filho do rei”, a palavra

súdito não deve ser entendida como alguém que vive em uma monarquia: por súdito entende-se aquele que se
submete ao Estado; em termos atuais, é a mesma coisa que cidadão (ainda que esta palavra traga mais direitos
ao indivíduo que à época de Maquiavel).
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Aqui se destaca o caráter da virtù na concretização das crueldades: o príncipe
deve ter o feeling necessário para saber quando fazer o mal de uma única vez. Por
outro lado, os benefícios advindos do governo do príncipe devem ser mostrados aos
súditos gradativamente, para serem mais bem aproveitados pelo governante. Mate
rapidamente, mas recompense gradualmente: este é, sem dúvida, o pensamento de
Maquiavel.
Ainda no campo da virtù, e também no âmbito das crueldades bem praticadas,
deve o príncipe ofender apenas os impotentes, que não têm condições de ameaçá-lo;
caso seja necessário ofender um “grande”, a ofensa deve ser a maior possível, para
impor temor: “a ofensa que se fizer a um homem deverá ser de tal ordem que não se
tema a vingança” (MAQUIAVEL, 1996, p. 10).
Regressando ao filme, não apenas as cenas já citadas demonstram a
concretização de uma “crueldade bem feita” – quando da morte de Loki ou Gamora
para atingir determinados objetivos. Em outras oportunidades Thanos também faz
uma “crueldade bem feita” – especialmente, e aqui avançando ao fim do filme, quando,
de posse da “Manopla do Infinito” com todas as seis “Joias do Infinito”, Thanos estala
os dedos e elimina metade dos seres vivos do Universo. Na perspectiva do
personagem realiza-se claramente uma crueldade “de uma só vez” objetivando-se um
bem maior – a eliminação da superpopulação com o objetivo de garantir uma vida de
ótima qualidade para aqueles que sobreviverem.
Por outro lado, pode-se afirmar que a tortura de Nebulosa indicada
anteriormente é uma “crueldade mal feita”. Sob a perspectiva de Maquiavel a tortura
é aceitável desde que necessária à consecução de um objetivo. Em um primeiro
momento pode-se imaginar que a ação de Thanos é bem-sucedida; entretanto, vale
destacar que Nebulosa permanece viva ao fim do filme. Significa dizer que a crueldade
foi mal feita, posto que ela poderá, em uma próxima oportunidade, juntar-se a outros
heróis em busca de vingança8.
Maquiavel fala também das relações entre o príncipe e os súditos: estas devem
ser as melhores possíveis. Seria ótimo se o príncipe pudesse ser amado e temido; se
isso for impossível, então o príncipe deve escolher ser temido, já que o amor se esvai,
mas o temor permanece. “Enquanto lhes [aos homens] fizeres bem, pertencem
inteiramente a ti, te oferecem o sangue, o patrimônio, a vida e os filhos, como disse
acima, desde que o perigo esteja distante; mas, quando precisas deles, revoltam-se”
(MAQUIAVEL, 1996, p. 80).
É claro que isto não significa dizer que o príncipe não deva tentar ser amado:
ao contrário, o amor que um povo sente por seu governante faz parte da base de
sustentação que permitirá ao príncipe governar. Não deve, contudo, o príncipe se
fundamentar apenas no amor que seu povo tem por si, pois relacionamentos
fundamentados em amor não são previsíveis (McCLELLAND, 2005, p. 155).
Além disso, os homens receiam muito menos ofender aquele que se faz amar
do que aquele que se faz temer. O temor sustenta-se por medo do castigo, que jamais
abandona o homem; o amor pode se desfazer de acordo com o próprio interesse.
Cabe, portanto, ao príncipe se utilizar de sua virtù para tentar se amado; caso isso
não ocorra, deve utilizá-la para saber a dose certa de temor a impor aos seus súditos.

8 O leitor deve ter em mente a ideia de continuidade que perpassa o Universo Cinematográfico Marvel, conforme
indicado no início do texto. Nesta perspectiva vale destacar que a história atual terminará apenas no próximo filme
“Vingadores 4”, cuja estreia ocorrerá em maio de 2019.
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Contudo, ser temido não significa ser odiado; o ódio é sempre prejudicial ao príncipe,
já que aquele que odeia o outro não se submete ao mesmo por não ter nada a perder.
Deve contudo o príncipe fazer-se temer de modo que, se não
conquistar o amor, pelo menos evitará o ódio; pois é perfeitamente
possível ser temido e não ser odiado ao mesmo tempo, o que
conseguirá sempre que se abstenha de se apoderar do patrimônio e
das mulheres de seus cidadãos e súditos. [...] Sobretudo, deverá
respeitar o patrimônio alheio, porque os homens esquecem mais
rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio
(MAQUIAVEL, 1996, p. 80-1).
Neste aspecto é possível dizer que Thanos errou em suas ações na busca
pelas “Joias do Infinito”. Não que ele devesse buscar o amor da Humanidade – e
mesmo que buscasse, provavelmente não conseguiria. Mas como diz Maquiavel:
deve-se buscar ser temido, não odiado. Ao agir de maneira prepotente, acreditando
ser invencível, Thanos despertou o ódio dos heróis por ele. Se no início do filme existe
uma espécie de “temor respeitoso” por parte dos heróis9, o mesmo não pode ser dito
na segunda metade do filme – quando os heróis preferem lutar até à morte contra o
vilão devido ao ódio por este instigado.
Por fim, mas ainda no campo da virtù, destaca-se a analogia feita por Maquiavel
entre o príncipe e os animais. O príncipe perfeito deve possuir as naturezas de homem
e de animal: como homem, combate pelas leis, regularmente, com lealdade e
fidelidade; como animal, combate pela força (leão) e pela astúcia (raposa). Deve agir
pela força física, ou seja, como um leão, quando esta for necessária, especialmente
no que diz respeito à supressão do dissenso – e isto não porque o príncipe seja
necessariamente mau, mas porque é necessário ser mau para manter o poder. Por
outro lado, em matéria de promessas e de compromissos, o príncipe deve ser raposa,
isto é, não observar a palavra quando observá-la vier a ser-lhe inconveniente e
quando desaparecerem as razões que o fizeram prometer. Tal comportamento,
contudo, deve sempre ser oculto dos demais: o príncipe deve possuir a virtude do
parecer, do fazer crer, da hipocrisia, da dissimulação, sempre tendo em mente o
resultado concreto, que é a manutenção do poder e do Estado.
A um príncipe, portanto, não é necessário ter de fato todas as
qualidades supracitadas, mas é indispensável parecer tê-las. Aliás,
ousarei dizer que, se as tiver e utilizar sempre, serão danosas,
enquanto, se parecer tê-las, serão úteis. Assim, deves parecer
clemente, fiel, humano, íntegro, religioso – e sê-lo, mas com a
condição de estares com o ânimo disposto a, quando necessário, não
o seres, de modo que possas e saibas como tornar-te o contrário. É
preciso entender que um príncipe, sobretudo um príncipe novo, não
pode observar todas aquelas coisas pelas quais os homens são
considerados bons, sendo-lhe frequentemente necessário, para
manter o poder, agir contra a fé, contra a caridade, contra a
humanidade e contra a religião. Precisa, portanto, ter o espírito
preparado para voltar-se para onde lhe ordenarem os ventos da
fortuna e as variações das coisas e, como disse acima, não se afastar
do bem, mas saber entrar no mal, se necessário.

9Um dos heróis mais importantes do UCM, o Homem de Ferro, que geralmente é visto como inteligente, destemido
e capaz de solucionar todos os problemas, afirma em determinada parte do filme que “não sabe o que fazer para
derrotar Thanos”.
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Logo, deve um príncipe cuidar para que jamais lhe escape da boca
qualquer coisa que não contenha as cinco qualidades citadas. Deve
parecer, para os que o virem e ouvirem, todo piedade, todo fé, todo
integridade, todo humanidade e todo religião. Não há nada mais
necessário do que parecer ter esta última qualidade. Os homens, em
geral, julgam as coisas mais pelos olhos que com as mãos, porque
todos podem ver, mas poucos podem sentir (MAQUIAVEL, 1996, p.
84-5).
Agir desta forma é necessário porque o que se considera é o resultado; é aquilo
que, na atualidade, se chama de razão de Estado. Faz-se o que é necessário, mesmo
que o necessário seja voltar atrás nas promessas – aqui, relembre-se o leitor das
“crueldades bem praticadas”: se o governante voltar atrás hoje a respeito de
determinada promessa, haverá revoltas e insatisfações, que entretanto se esvaem
com o tempo. Segundo este ponto de vista, um erro, categoria da técnica, é mais
grave que um crime, categoria da moral: “observemos esse ponto de vista puramente
técnico [...] além do bem e do mal. Bem e mal não são negados, mas isolados em seu
domínio próprio, expulsos do domínio político” (CHEVALLIER, 1998, p. 32).
Cuide pois o príncipe de vencer e manter o estado: os meios serão
sempre julgados honrosos e louvados por todos, porque o vulgo está
sempre voltado para as aparências e para o resultado das coisas, e
não há no mundo senão o vulgo; a minoria não tem vez quando a
maioria tem onde se apoiar (MAQUIAVEL, 1996, p. 85-6).
Daí a atribuição a Maquiavel e ao seu O Príncipe da frase “os fins justificam os
meios” – frase esta ausente do livro e de qualquer outro escrito deste autor, mas que
pode ser interpretada de seus escritos. Destaca-se, contudo, que esta interpretação
é errônea.
Maquiavel não era defensor da ideia de que os fins justificam os meios. Ele não
era um defensor de uma monarquia absolutista nem defensor do absolutismo em si,
como era Thomas Hobbes. Maquiavel era um republicano – talvez nos dias de hoje
pudéssemos chamá-lo de democrata, de defensor da democracia. O leitor deve
sempre ter em mente que Maquiavel veio de uma família florentina com credenciais
republicanas impecáveis e que ele próprio ocupou alto cargo em Florença antes dos
Médici chegarem ao poder – tanto que foi torturado, no período dos Médici, por
possível participação em um complô para que fosse retornado o regime político
anterior, que era republicano. Outro de seus textos, tão famoso quando O Príncipe
mas bem menos lido do que este – os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio
– transborda a defesa ao republicanismo.
Portanto, quando fala em usar a força conforme a necessidade para a
manutenção do Estado, Maquiavel deixa claro que o uso da força não pode ser
arbitrário, não pode ser em excesso – característica esta típica de um sistema
absolutista. Sim, ele defende que o príncipe seja impiedoso e desonesto, mas isto não
significa que o deva ser sempre. O uso da força, ou ainda o uso da máquina estatal,
apenas para benefício próprio – outra característica do absolutismo – não é ideia
sancionada por Maquiavel em seus escritos.
A escolha de uma ou de outra forma institucional [principado ou
república] não depende de um mero ato de vontade ou de
considerações abstratas e idealistas sobre o regime, mas da situação
concreta. Assim, quando a nação encontra-se ameaçada de
deterioração, quando a corrupção alastrou-se, é necessário um
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governo forte, que crie e coloque seus instrumentos de poder para
inibir a vitalidade das forças desagregadoras e centrífugas. O príncipe
não é um ditador; é, mais propriamente, um fundador do Estado, um
agente da transição numa fase em que a nação se acha ameaçada de
decomposição. Quando, ao contrário, a sociedade já encontrou
formas de equilíbrio, o poder político cumpriu sua função regeneradora
e “educadora”, ela está preparada para a República. Neste regime,
que por vezes o pensador florentino chama de liberdade, o povo é
virtuoso, as instituições são estáveis e contemplam a dinâmica das
relações sociais. Os conflitos são fonte de vigor, sinal de uma
cidadania ativa, e portanto são desejáveis (SADEK, 1998, p. 20-21).
Se Maquiavel defende a centralização do poder político nas mãos de um único
líder, não é porque seja a favor de uma ditadura, mas sim porque, em momentos de
crise institucional, de desorganização político-jurídica, de falta de uma figura estatal
central, em momentos de fragilidade – como o era o momento em que viveu –, a
democracia – diríamos nós – não funciona: nestas situações para Maquiavel torna-se
necessário o surgimento de um poder político-jurídico forte, capaz de instituir a ordem
e garantir a estabilidade necessária para que a sociedade se desenvolva. É por este
motivo que, no início do livro O Príncipe, Maquiavel defenda o principado – que
chamaríamos hoje de monarquia –, e não a república: não por ser ele próprio um
monarquista, um defensor de um Estado – e de um líder – absoluto, mas sim por esta
forma de governo ser necessária nas condições ali presentes. O tipo de governo
defendido por Maquiavel em O Príncipe deve ser apenas um episódio, uma etapa
necessária em determinado Estado, saindo de uma situação de ruptura para uma
situação de estabilidade.

Impactos do pensamento de Maquiavel no conceito de Estado

Apesar de ser considerado como o primeiro cientista político moderno – e talvez


mesmo até por este motivo –, Maquiavel não é exatamente um teórico do Estado,
como o será Thomas Hobbes ou os autores de Os artigos federalistas. Em seus
escritos o autor não buscou apresentar uma estrutura específica de o que seria o
Estado; em O Príncipe, livro aqui em análise, não há nem mesmo a definição de o que
seria o Estado. Maquiavel usa a palavra, mas não a define; parte do princípio que o
conceito está dado, sem maiores explicações.
Entretanto, é impossível se falar em Estado moderno sem se falar em
Maquiavel. Mesmo se considerarmos que a ideia de centralização do poder político já
existia bem antes de Maquiavel – por exemplo, Portugal se formou como estado
centralizado já em 1143 –, é com este autor que a palavra “Estado” passa a ser usada
na área político-jurídica com o sentido que atualmente lhe é atribuída. Conforme
afirma Bobbio (1998, p. 426), o elemento central que define o Estado moderno
corresponde à
[...] progressiva centralização do poder segundo uma instância sempre
mais ampla, que termina por compreender o âmbito completo das
relações políticas. Deste processo, fundado por sua vez sobre a
concomitante afirmação do princípio da territorialidade da obrigação
política e sobre a progressiva aquisição da impessoalidade do
comando político, através da evolução do conceito de officium,

Revista Projeção, Direito e Sociedade, v 9, n°1, ano 2018. p 115


nascem os traços essenciais de uma nova forma de organização
política: precisamente o Estado moderno.
A história do surgimento do Estado moderno é a história desta tensão:
do sistema policêntrico e complexo dos senhorios de origem feudal se
chega ao Estado territorial concentrado e unitário através da chamada
racionalização da gestão do poder e da própria organização política
imposta pela evolução das condições históricas materiais.
Percebe-se, portanto, que para haver “Estado moderno” é necessário que o
poder político esteja centralizado nas mãos de uma única pessoa ou instituição, pois
apenas desta maneira é possível garantir o controle da população presente em
determinado território. Como visto, a centralidade do uso da força física nas mãos do
príncipe é, sem dúvida, o tema central do pensamento de Maquiavel em seu livro.
Ao mesmo tempo, e tão importante quanto a centralização da força física nas
mãos do Estado, todo e qualquer Estado não subsiste sem estabilidade política: é este
elemento que irá garantir o próprio controle, o próprio monopólio do uso da força física,
como diria Max Weber, à instituição Estado. Ademais, sem estabilidade política não
há vida em sociedade, já que a desordem política levaria a sociedade,
indubitavelmente, a algum tipo de guerra civil análoga ao estado de natureza
hobbesiano. Desta forma unem-se as duas ideias, que atuam em um círculo virtuoso:
sem centralização política não há estabilidade e sem estabilidade não há
centralização política. Uma apoia a outra na construção desta instituição – o Estado –
que, tanto em termos políticos quanto jurídicos e também econômicos, sociais e
históricos, se tornou a mais importante nos últimos 500 anos.
A unidade de comando, a territorialidade do mesmo, o seu exercício
através de um corpo qualificado de auxiliares “técnicos” são
exigências de segurança e de eficiência para os estratos de população
que de uma parte não conseguem desenvolver suas relações sociais
e econômicas no esquema das antigas estruturas organizacionais e
por outra individuam, com clareza, na persistência do conflito social, o
maior obstáculo à própria afirmação (BOBBIO, 1998, p. 427).
Outra mudança histórico-institucional que deu origem ao Estado moderno foi a
mudança gradativa, mas constante, da dominação pessoal em direção à dominação
política – ou institucional. Mais uma vez recorrendo sinteticamente a Max Weber,
existem três tipos puros de dominação: a carismática – aquela em que o líder
convence seus subordinados por características próprias; a tradicional – aquela em
que o líder dá ordens aos subordinados fundamentando-se na tradição; e a racional-
legal – aquela em que o líder manda e o subordinado obedece porque há uma lei,
legítima a ambos, que faz com que as coisas funcionem deste jeito.
Nesse sentido, a transição do Estado medieval para o Estado moderno passa
da mudança da dominação carismática e tradicional – ou seja, do governo de
conteúdo prevalentemente pessoal – para a dominação racional-legal – uma
soberania de conteúdo marcadamente político. E foi exatamente tal mudança que
Maquiavel desejou quando propôs a criação da milícia própria de Florença, garantindo
que o Estado florentino buscasse o exercício da força física não por elos personalistas
entre dominante e dominado, mas sim por elos cívicos entre o miliciano, o soltado, e
a República florentino.
É só com a fundação política do poder, que se seguiu às lutas
religiosas, que os novos atributos do Estado – mundaneidade,
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finalidade e racionalidade – se fundam para dar a este último a
imagem moderna de única e unitária estrutura organizativa formal da
vida associada, de autêntico aparelho da gestão do poder, operacional
em processos cada vez mais próprios e definidos, em função de um
escopo concreto: a paz interna do país, a eliminação do conflito social,
a normalização das relações de força, através do exercício
monopolístico do poder por parte do monarca, definido como
souverain enquanto é capaz de estabelecer, nos casos controversos,
de que parte está o direito, ou, como se disse, de decidir em casos de
emergência (BOBBIO, 1998, p. 427).
Por fim, vale destacar que Maquiavel introduziu, na análise política, a ideia de
razão de Estado, entendendo-se esta como “[...] a exigência de segurança do Estado,
que impõe aos governantes determinados modos de atuar” (BOBBIO, 1998, p. 1066),
trazendo à tona debate que até então era mascarado: as relações entre a política e a
moral. As duas ações se referem a atividades correlatas – ou seja, àquilo que move a
ação humana, a primeira em sentido coletivo e a segunda em sentido individual. Da
mesma forma, tem-se, de maneira geral, que as ações políticas precisam ser morais,
e que a política sem moral poderia até mesmo ser ilícita. Maquiavel, neste ponto, como
em outros, é inovador, pois mostra que a política – assim como o direito – precisa ser
independente em relação à moral – o que não significa dizer, em absoluto, que precise
ser contrária à moral: é o que se chama de autonomia da política.
[...] o que se chama autonomia da Política não é outra coisa senão o
reconhecimento de que o critério segundo o qual se julga boa ou má
uma ação política (não se esqueça que, por ação política, se entende,
em concordância com o que se disse até aqui, uma ação que tem por
sujeito ou objeto a polis) é diferente do critério segundo o qual se
considera boa ou má uma ação moral. Enquanto o critério segundo o
qual se julga uma ação moralmente boa ou má é o do respeito a uma
norma cuja preceituação é tida por categórica, independentemente do
resultado da ação (“faz o que deves, aconteça o que acontecer”), o
critério segundo o qual se julga uma ação politicamente boa ou má é
pura e simplesmente o do resultado (“faz o que deves, a fim de que
aconteça o que desejas”) (BOBBIO, 1998, p. 961).
Percebe-se, diante do exposto, a riqueza de contribuições de Maquiavel à
Teoria do Estado. Como dito anteriormente, seu pensamento não fala
especificamente sobre determinada estrutura estatal, mas suas análises, ainda que
personalizadas e vinculadas à realidade italiana de sua época, se tornaram
fundamentais para estabelecer os principais elementos que, no decorrer dos últimos
500 anos, se consolidaram como essenciais ao Estado moderno.

Considerações finais

É interessante notar o desenvolvimento histórico da obra de Maquiavel. O livro


O Príncipe teve resultado nulo logo após sua publicação. Maquiavel não conseguiu
seu emprego de volta, e afirma-se que seu livro não despertou interesse algum junto
àquele a quem o mesmo fora dedicado – Lourenço de Médici. “Deve dizer-se que,
entre os numerosos contemporâneos [de Maquiavel] o interesse foi medíocre: sumário
de máximas banais; quem estivesse algo familiarizado com o espetáculo da política
cotidiana nada de novo teria a aprender nesse opúsculo” (CHEVALLIER, 1998, p. 44).
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Apenas após 1550 torna-se O Príncipe efetivamente lido, causando impacto
junto às classes dominantes da época – especialmente junto à Igreja, que o coloca no
Index de livros proibidos. “Todavia, à proporção que aumenta, pela lei da imitação, a
onda de invectivas, os soberanos e primeiros-ministros, arrebatados pelo Poder,
fazem de O Príncipe [...] seu livro de cabeceira” (CHEVALLIER, 1998, p. 46). Muda-
se inclusive a visão negativa de Maquiavel e do próprio livro, que vai ser visto por
Rousseau não como um manual que ensina o governante a governar, mas sim como
um alerta para o cidadão, para que este veja o que o governante faz.
É interessante notar também que o pensamento do autor florentino pode ser
utilizado para análises que, em princípio, parecem destoar do ambiente acadêmico
referente ao estudo de fenômenos político-jurídicos. Da mesma forma, a despeito da
aparente distância entre uma obra de ficção e a realidade, é interessante – e
importante – destacar o papel pedagógico que os filmes desempenham na Academia,
já que podem ser utilizados para exemplificar conceitos que, quando apresentados de
maneira abstrata, podem não ficar tão claros para o alunado.
É assim que esta breve análise das ações de Thanos em “Vingadores: Guerra
Infinita” busca contribuir para o entendimento do pensamento de Maquiavel. Por ter
exposto de maneira contundente as relações entre política e moral – tema não
abordado até então –, O Príncipe passa, então, à história da teoria político-jurídica,
consagrando Maquiavel e elevando-o à categoria dos “grandes” da Ciência Política e
da Teoria do Estado.

Referências

BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. 11 ed. Brasília: Ed. Universidade de Brasília,


1998.
CHEVALLIER, Jean-Jacques. As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias.
8 ed. Rio de Janeiro: Agir, 1998.
GUANABARA, Ricardo. “Há vícios que são virtudes”: Maquiavel, teórico do realismo
político. In: FERREIRA, Lier Pires; GUANABARA, Ricardo; JORGE, Vladimyr
Lombardo (Orgs.). Curso de ciência política: grandes autores do pensamento político
moderno e contemporâneo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. P. 25-47.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
McCLELLAND, J. S. A history of western political thought. Londres, Reino Unido:
Taylor & Francis e-Library, 2005.
SADEK, Maria Tereza. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de
virtù. In: WEFFORT, Francisco Correia (Org.). Os clássicos da política. 10 ed. São
Paulo: Ática, 1998. P. 11-50.
SILVA, Matheus Passos; SOUSA JÚNIOR, Clidenor Carvalho. “Guerra Civil”: deve o
STF ser o nosso super-herói? Projeção, Direito e Sociedade. V. 7, n. 1, 2016. P. 56-
68. ISSN: 2178-6283. Disponível em:
<http://revista.faculdadeprojecao.edu.br/index.php/Projecao2/article/view/630/563>.
Acesso em 3 de maio de 2018.

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