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FUNDAMENTOS
CONSTITUCIONAIS DO
DIREITO PENAL
UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra Bárbara Götzinger
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf
345
F921h Frizon, Nelson Natalino
História, teorias e fundamentos constitucionais do
direito Penal. Nelson Natalino Frizon.
Indaial : Uniasselvi, 2011.
107 p. : il.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-471-3
APRESENTAÇÃO...................................................................... 7
CAPÍTULO 1
Direito Penal na História....................................................... 9
CAPÍTULO 2
Direito Penal Internacional................................................ 35
CAPÍTULO 3
Direito Penal Constitucional.............................................. 67
CAPÍTULO 4
As Normas Penais em Processos
Judiciais e Inquéritos Policiais............................................ 91
APRESENTAÇÃO
Prezado(a) Pós-graduando(a), o material que está sendo apresentado a
vocês tem por objeto conhecer um pouco da história do direito penal, os tratados
internacionais e os princípios constitucionais do direito penal brasileiro.
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No quarto capítulo você vai encontrar subsídios para compreender a evolução
do modelo acusatório no processo penal. Na parte das normas penais judiciais
será possível entender a função do Inquérito Penal e como são instauradas as
diferentes formas de ação penal existentes no ordenamento brasileiro.
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C APÍTULO 1
Direito Penal na História
ConteXtualiZaÇÃo
Todas as sociedades desenvolvem uma cultura que disciplina aspectos
normativos, delimitando a existência de padrões, regras e valores que
institucionalizam modelos de conduta. Em um Estado democrático de direito a
lei é considerada como parte nuclear de controle social, elemento material para
prevenir, remediar ou castigar os desvios das normas preestabelecidas. Mas as
adequações nas organizações sociais são o resultado de uma longa história.
O direito penal é o que mais se destaca desde a pré-história, ainda que pouco
sobre o ordenamento jurídico daquele período possa ser aferido. No entanto,
com o surgimento dos primeiros textos jurídicos escritos tornou-se possível
compreender como ocorreu o período de transição. Foi a partir dos costumes
existentes que a lei escrita os regulamentou e os difundiu de forma igual a todos
os membros daquela organização social, fossem nativos ou estrangeiros. Assim,
iniciou-se a regulamentação positiva que foi ocupando o espaço da tradição.
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Com início nos tempos primitivos, o Período da Vingança foi o primeiro indício
de direito penal na humanidade e se prolongou até o século XVIII.
Na Roma antiga, a Lei das XII Tábuas aparece como a primeira codifi cação
de leis a servir como fonte do direito penal. Nenhum Código até hoje foi tão conciso
e tão autoritário e direto quanto o da Lex decemviralis. Mesmo não havendo
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
consenso sobre a forma como foi escrita a Lei que compôs a Lex decemviralis,
sabe-se que continha a organização civil e a criminal. Na parte criminal, destaca-
se a Tábua VII, n. 11 – Se alguém fere alguém, que sofra a lei de Talião, salvo se
houver composição, e a Tábua VIII, que trata Dos delitos (GILISSEN, 1995).
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
à mão dos monarcas, que detinham o poder absoluto. Pode-se afi rmar que foi
um período conturbado, pois a Igreja Cristã sofria com as divisões e o poder dos
Estados Nacionais restava centralizado na mão de um soberano absoluto. O
exemplo mais forte da centralização do poder nas mãos do rei encontra-se na
expressão atribuída a Luis XIV, que diz: “L’État c’est moi” (O Estado sou eu).
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Capítulo 1 DIREITO PENAL NA HISTÓRIA
Nesse período teve início a transação da arbitrariedade, que Nesse período teve
era imposta anteriormente, para a razão, levando à fi xação legal dos início a transação
delitos e das penas, pensamento este muito bem expressado por da arbitrariedade,
Beccaria no livro “Dei Delitti e Delle Pene” (Dos delitos e das penas), que era imposta
tanto que muitos dos ideais expressos por Beccaria nesse livro foram anteriormente, para
a razão, levando à
utilizados na revolução francesa e, consequentemente, na Declaração
fixação legal dos
dos Direitos do Homem. delitos e das penas.
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
d) Período científico
Já Enrico Ferri, que inclusive foi discípulo de Lombroso, faz uma análise
mais social da conduta do criminoso, ao incluir nesse pensamento, além do fator
biológico, o social e o físico, dividindo os criminosos em cinco categorias: o louco,
o nato, o habitual, o passional e o ocasional. Para ele a pena tem a fi nalidade de
proteção social, que se realiza por meio da correção, da intimidação ou mesmo da
eliminação pela pena capital.
Ainda que não se possa especifi car cada uma das demais escolas, ainda
do período denominado científi co citam-se a Terceira Escola, a Escola Moderna
Alemã, a do Neoclassicismo, a do Neopositivismo, a Constitucionalista, a
Programática e a Socialista, que contribuíram e infl uenciaram as inovações
práticas, como o instituto das medidas de segurança, do livramento condicional,
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Capítulo 1 DIREITO PENAL NA HISTÓRIA
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Para o período podem-se considerar certos avanços, uma vez que, além de
abolir a pena de morte, instalou o regime penitenciário de caráter correcional.
Mas no ano de 1984, foi analisado o anteprojeto que teve início com o professor
Francisco de Assis Toledo, da Universidade de Brasília, e que fora publicado em
1981, para receber sugestões. Depois de discutido no Congresso, o projeto foi
aprovado e promulgada a Lei No 7.209 de 11/07/1984; seguindo o
modelo germânico, houve alteração substancial da parte geral. O Código Penal,
desde então, está
O Código Penal, desde então, está sempre sendo adequado às sempre sendo
adequado às
necessidades sociais do Estado Democrático de Direito. As últimas
necessidades
alterações foram as da Lei nº 12.234/05.05.2010. sociais do Estado
Democrático de
As atualizações demonstram a dinâmica das mudanças que Direito. As últimas
a sociedade brasileira vem tendo nas últimas décadas, fruto da alterações foram
as da Lei nº
globalização das informações, e a necessidade de buscar uma forma
12.234/05.05.2010.
mais efi ciente na tentativa de ressocializar aquele que pratica um delito.
Atividade de Estudos:
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
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Capítulo 1 DIREITO PENAL NA HISTÓRIA
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Assim, conclui-se que o direito penal é um conjunto de normas que tipifi cam
um ou vários atos do ser humano como crime. Estabelece, por conseguinte,
medidas de segurança como forma de correção e coerção da sociedade para
esses infratores, tutelando, portanto, a proteção dos valores fundamentais, tais
como: vida, patrimônio, propriedade, liberdade, saúde, etc., através das penas
e do poder de punir do Estado, e estabelecendo também os limites punitivos do
poder público.
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Capítulo 1 DIREITO PENAL NA HISTÓRIA
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Sendo assim, caso um fato social seja defi nido, através de lei, como crime,
posterior a sua consumação, a pessoa que o cometeu não poderá sofrer qualquer
tipo de sanção, no entanto, caso o contrário ocorra, e um fato social juridicamente
defi nido como crime deixa de ser considerado como tal, todos os réus condenados
pela prática desse delito serão benefi ciados e deixarão de ser considerados
condenados. Lembra-se que a fase da arbitrariedade não mais existe.
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Capítulo 1 DIREITO PENAL NA HISTÓRIA
execução, mas no resultado fi nal o fato mais grave absorve os demais, atitude
esta também denominada de concurso formal de crime, elencado no art. 70 do
Código Penal. Como exemplo, na lesão corporal, se o agente resolve matar a
vítima, ele responderá somente por homicídio.
Atividade de Estudos:
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
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Capítulo 1 DIREITO PENAL NA HISTÓRIA
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Como vimos anteriormente, os tipos penais nem sempre eram tipifi cados, ou
seja, nem sempre existiu lei que relacionasse objetivamente uma conduta social
humana como crime. O princípio da legalidade começou a ser levado em conta
no período humanitário da pena, na época do iluminismo, a partir do século XVIII.
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Resta observar que na América Latina, pelo menos na maioria dos países,
tem-se essa classifi cação bipartida dos delitos nos Códigos Penais. Muito embora
em alguns países tal classifi cação ou conceito de crime ou contravenções não
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Capítulo 1 DIREITO PENAL NA HISTÓRIA
esteja previsto no Código Penal (como no caso do Brasil), há uma classifi cação
em crimes de maior potencial ofensivo e crimes de menor potencial ofensivo
(contravenções); não há uma uniformização na nomenclatura, podendo, por
exemplo, ser encontrada a expressão “delitos” em lugar de “crimes” e “faltas” no
lugar de “contravenções”, como é o caso do Código Penal do Paraguai (art. 1º),
Venezuela (art. 1º, inc. 2) e Nicarágua (art. 4º), por exemplo.
Há, também, países que estabelecem uma divisão tripartida nos delitos,
como é o caso do Chile (art. 3º e 4º) e de Honduras (art. 3º), que classifi cam
as infrações penais em crimes, simples delitos e faltas, mas lembra-se que a
tendência atual é pela classifi cação bipartida.
Atividade de Estudos:
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
AlGumas ConsideraÇÕes
Neste Capítulo foi possível recordar alguns tópicos sobre a história do direito
penal, alguns princípios do direito penal e também uma breve análise da teoria
geral do delito.
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
ReFerÊncias
BIBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. São Paulo: Edições Paulinas, 1990.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 13ª edição. São Paulo: Editora
Saraiva, 2009. v.1.
CONDE, Francisco Muñoz. Teoria geral do delito. Porto Alegre: Fabris, 1998.
MIRABETE, Júlio Fabrini. Manual de Direito Penal. 17 ed. São Paulo: Atlas,
2001. v. 1.
PETTA, Nicolina Luiza de; OJETA, Eduardo Aparício Baez. História: uma
abordagem integrada. São Paulo: Moderna, 2001.
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C APÍTULO 2
Direito Penal Internacional
ConteXtualiZaÇÃo
Embora os primeiros princípios do direito internacional tenham surgido com
grandes pensadores como Francisco Suarez, Hugo Grotius, Francisco de Vitória
entre outros, somente em tempos contemporâneos as nações despertaram para
a necessidade de punir os criminosos de guerra e outros que cometem crimes
contra a humanidade.
A violação dos direitos à vida e à dignidade humana fez com que as nações
se organizassem a fi m de estabelecer princípios elementares para que as regras
do direito humanitário fossem respeitadas.
O século XX foi marcado por diversos confl itos que ocasionaram horrores à
população, desde genocídios até tentativas de limpeza étnica, mesmo estando
sob a égide das convenções de Genebra (1854), São Petersburgo (1868) e de
Haia (1899 e 1907), que estabeleciam as leis e costumes da guerra, mas que não
produziam efeitos na prática.
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Os TriBunais Militares
Internacionais: NuremBerG e Tóquio
De fato a Segunda Guerra Mundial contribuiu muito para o
Segunda Guerra
Mundial contribuiu surgimento dos Tribunais Militares Internacionais, em consonância
muito para o com as atrocidades que tinham como responsáveis os governos da
surgimento dos Alemanha em face da Europa, principalmente dos judeus, e do Japão
Tribunais Militares em face da China.
Internacionais
Mas o surgimento dos Tribunais Militares Internacionais não
ocorreu imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. Ainda
durante a mesma se observou a necessidade de punir os responsáveis pelos
crimes cometidos.
Artigo 60 [...]
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Sinopse
40
Capítulo 2 DIREITO PENAL INTERNACIONAL
41
História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Artigo 5º[...]
42
Capítulo 2 DIREITO PENAL INTERNACIONAL
Além de a acusação dever ser clara e concisa, para cada crime imputado ao
acusado, deverá a mesma ser inscrita na língua que o acusado compreenda. O
acusado terá direito somente a um advogado, podendo o Tribunal desaprovar o
advogado escolhido pelo acusado. Se o acusado não tiver advogado e requisitar
a assistência de um profi ssional, o Tribunal poderá nomear um advogado para
ele. E mesmo sem o acusado solicitar, o Tribunal, se assim entender necessário
para a equidade do julgamento, poderá nomear um advogado ao acusado.
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Capítulo 2 DIREITO PENAL INTERNACIONAL
Atividade de Estudos:
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Capítulo 2 DIREITO PENAL INTERNACIONAL
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É cediço que a ONU (Organizações das Nações Unidas) foi criada após
a Segunda Guerra Mundial, mais precisamente em 1945, substituindo assim a
Liga das Nações, com o principal objetivo de evitar novas guerras entre países, e
deveria ser uma plataforma para diálogos.
• Convenção de Genebra relativa à proteção das vítimas dos confl itos armados
internacionais (1977);
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Mas, é bem óbvio pensar que, com a criação da ONU, o principal avanço
na esfera internacional penal foi a maior facilidade na instituição dos tribunais
penais internacionais ad hoc, tendo-se como os de maior notoriedade os Tribunais
Internacionais Penais de Ruanda e da ex-Iugoslávia.
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Capítulo 2 DIREITO PENAL INTERNACIONAL
Demorou meio século para que esta Corte fosse defi nitivamente instituída.
No entanto, é importante salientar que a culpa por tal demora ocorreu devido à
instabilidade política/militar entre os blocos econômicos, durante a Guerra Fria.
Os dois blocos econômicos existentes na época não estavam propensos a instituir
uma justiça penal internacional na qual eles próprios teriam que prestar contas de
seus atos.
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
• nos TMIs, pelo fato de os países vencedores estarem nos territórios dos países
vencidos, a obtenção de provas documentais foi mais facilitada, enquanto que
nos TPIs as provas testemunhais têm mais valia, pela difi culdade de obter
outro meio de prova;
• nos julgamentos dos TMIs não houve limitação geográfi ca, enquanto que os
TPIs são específi cos para determinado confl ito e país;
• nos TMIs os estupros não foram considerados como crimes, no entanto, nos
TPIs foram considerados como crimes contra a humanidade se praticados em
tempos de guerra.
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Capítulo 2 DIREITO PENAL INTERNACIONAL
O Tribunal foi composto para laborar com onze juízes, no entanto, atualmente
está funcionando com 25 (vinte e cinco) juízes, sendo 16 (dezesseis) permanentes
e 9 (nove) juízes provisórios, e uma corte de apelação, que a saber é a mesma do
Tribunal de Ruanda, que será explanado posteriormente.
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
O Tribunal acredita que até 2014 todos os processos sejam concluídos, com
o julgamento, inclusive, de seus recursos.
Sinopse
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Capítulo 2 DIREITO PENAL INTERNACIONAL
O confl ito entre essas duas etnias sempre existiu, mas entre os anos de
1990 a 1994 restou insustentável, visto que a minoria Tutsi atacou o governo de
Uganda com a intenção de depor o então presidente, Juvenal Habyarimana. Em
1991, o presidente Habyarimana terminou sua ditadura militar no país.
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
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Capítulo 2 DIREITO PENAL INTERNACIONAL
/ Países Baixos, onde o “Comitê dos Dez” elaborou referido documento. Até
setembro de 1921, a maioria dos países da Liga das Nações já havia assinado
e ratifi cado o Estatuto da Corte Permanente Internacional de Justiça (CPIJ), que
entrou em vigor naquele mês.
Vale destacar ainda que a CPIJ não deve ser confundida com a Corte
Penal Internacional. Aquela foi a primeira corte permanente para assuntos
internacionais envolvendo os Estados membros e esta é uma corte internacional
para responsabilizar os indivíduos, como pessoas físicas, pelos crimes elencados
no art. 5o do Estatuto de Roma.
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
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Capítulo 2 DIREITO PENAL INTERNACIONAL
Atividade de Estudos:
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
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ONU e os Estados-NaÇÕes
Nesta seção, o objeto de estudo é a relação triangular da Corte Internacional
Penal / ONU / Estados–Nações.
Assim também defendeu Carla Del Ponte, procuradora dos dois Tribunais
Penais Internacionais ad hoc (Iugoslávia e Ruanda), onde se dirigiu ao Conselho
de Segurança da ONU: “É essencial, para o sucesso do Tribunal, que os Estados
não tenham a possibilidade de ditar suas vontades ao procurador no que diz
respeito ao que deve ou não ser objeto de investigações.” (BAZELAIRE, 2004,
p. 91).
De certa forma há uma signifi cativa diferença quando nos direcionamos para
a Corte Penal Internacional, que não possui um limitador espaçotemporal e que
em tese poderia julgar qualquer caso de violação dos crimes de competência
da corte. Em tese, pois os Estados signatários do Estatuto de Roma resolveram
vincular o trabalho do procurador a um exame, validando assim seus atos antes
da continuidade do processo, conforme artigo 15.3 do Estatuto de Roma.
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Com isso, pode-se afi rmar que há certa incoerência entre os crimes de
competência da Corte e que, em tese, há uma universalidade declarada e o
controle estatal da situação no âmbito territorial, prejudicando assim a efetividade
coercitiva da Corte perante aquele Estado.
Muito embora o Estado que tenha ratifi cado o Estatuto de Roma esteja sujeito
à jurisdição da Corte Penal Internacional, esta somente poderá julgar os casos se
realmente fi car caracterizada a inércia estatal para a investigação e o julgamento
dos crimes praticados, de acordo com o art. 19.2, alínea “b” do Estatuto de Roma:
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Capítulo 2 DIREITO PENAL INTERNACIONAL
menos poder militar para impor aos Estados a efetividade de suas sentenças,
fi cando à mercê dos Estados e, como dito anteriormente, do poder coercitivo do
Conselho de Segurança da ONU.
Atividade de Estudos:
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
AlGumas ConsideraÇÕes
Os avanços tecnológicos que ocorreram no século XX possibilitaram
também grandes avanços na organização do direito positivo, em especial, no
âmbito internacional.
também, que trouxe consigo uma gama enorme de crimes que precisam ser
enfrentados por todos.
Em que pese a dualidade bem/mal ainda ser aceita, tal assertiva não
permite aceitar a criminalidade, pois ela não assume a verdadeira identidade.
A criminalidade não benefi cia o convívio social. Contrariando, reforça-se a
perspectiva de que a sociabilidade é necessária para qualquer inovação e
evolução humana. Assim, é certo que o caminho trilhado pelas Nações ainda está
longe de ser o melhor, no entanto, é possível encontrar soluções nos inúmeros
tratados e convenções que já foram assinados e ratifi cados pelas nações.
ReFerÊncias
AMBOS, Kai; CARVALHO, Salo de (org.) O Direito Penal no Estatuto de
Roma: Leituras Sobre os Fundamentos e a Aplicabilidade do Tribunal Penal
Internacional. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2005.
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C APÍTULO 3
Direito Penal Constitucional
ConteXtualiZaÇÃo
No capítulo a seguir serão abordados os aspectos essenciais do Direito Penal
na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, observando de modo
especial os direitos e garantias constitucionais, os princípios penais, limitações e
proibições da pena.
É certo que todo ordenamento jurídico de uma nação civilizada deve estar
amparado na sua constituição vigente. Tal assertiva não poderia ser diferente
no Brasil e, por isso, analisar os direitos e garantias constitucionais permitirá
ao operador do direito compreender que a efi cácia da sanção penal não resulta
exclusivamente da pena que é aplicada ao agente infrator da norma legal.
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Segundo Bonavides:
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Capítulo 3 DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Atividade de Estudos:
a) Princípio da legalidade
Indiferente do
Indiferente do período no qual o princípio da reserva legal surgiu
período no qual o
na história, o fato é que ele teve maior importância social e política princípio da reserva
no período iluminista, sustentando-se na teoria do contrato social legal surgiu na
daquele período. história, o fato é
que ele teve maior
Assim, com a monarquia absolutista decadente e a instalação importância social e
dos regimes democráticos, o princípio da reserva legal fi cou mais política no período
iluminista
forte, passando a integrar os textos constitucionais e penais de grande
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
parte dos países do mundo. Sua necessidade restou mais clarividente através
da Declaração francesa dos direitos do homem e do cidadão, de 1786, a qual
auxiliou o processo de sua universalização.
Embora tal princípio não tenha sido respeitado no período da Alemanha nazista
(1935) e na União Soviética (1822 a 1958), ele atualmente está praticamente
universalizado. Mesmo em alguns países que não o preveem expressamente em
sua legislação, o princípio está sendo garantido através das decisões judiciais.
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Capítulo 3 DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL
• Princípio da irretroatividade
Mas, nem sempre ocorreu dessa forma. Como visto no capítulo 1, nas
sociedades mais remotas somente se levava em consideração a prática do
delito, sem analisar a vontade do agente. Somente no fi m da Idade Média é que
o direito germânico começou a dar uma importância primitiva para a análise da
culpabilidade do agente, isso nas primeiras décadas do século XVI.
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Capítulo 3 DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL
d) Princípio da humanidade
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Capítulo 3 DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL
e) Princípio da pessoalidade
O princípio da
Possuindo um certo vínculo com o princípio da humanidade, o pessoalidade, que
princípio da pessoalidade, que também é conhecido como princípio da também é conhecido
personalidade, está consubstanciado no art. 5º, inciso XLV da CRFB como princípio da
personalidade, está
de 1988: “XLV – Nenhuma pena passará da pessoa do condenado consubstanciado no
[...]” (BRASIL,1988), ou seja, a pena é personalíssima e intransferível, art. 5º, inciso XLV da
devendo ser cumprida tão somente pelo agente do crime, visto que CRFB de 1988: “XLV
a pena é uma questão retributiva quanto ao delito praticado e não – Nenhuma pena
passará da pessoa
uma forma de reparação do mesmo. Caso haja reparação por algum
do condenado.
dano sofrido pela vítima, vale salientar que nesse sentido, sim, há
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
O legislativo se dá através das leis que fi xam, para cada tipo penal, uma ou
mais penas, sendo sempre proporcionais à importância do bem jurídico tutelado e
à periculosidade e gravidade da ofensa perante a sociedade.
Assim, o juiz começa a dar importância não somente para o tipo penal
reprovado pela sociedade, mas para o comportamento da vítima e do acusado
para o caso, os antecedentes criminais do mesmo etc., dando uma certa
proporcionalidade à conduta delitiva e à pena aplicada.
Então, ao mesmo tempo em que o juiz está adstrito às leis penais, também
pode fazer suas “opções”, suas escolhas que melhor se adequarem a cada caso,
havendo assim uma discricionariedade juridicamente vinculada à lei penal.
80
Capítulo 3 DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL
Com a proteção de tais direitos, resta claro que a pena no Brasil não
possui o conceito eminentemente retributivo, mas também elenca o atributo da
ressocialização do acusado.
Atividade de Estudos:
Explique, resumidamente:
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
LimitaÇÕes e ProiBiÇÕes na
ConstituiÇÃo: Pena de Morte,
Pena PerPétua, de Banimento, de
TraBalHos ForÇados e Penas Cruéis
À primeira vista parecem claras a limitação e a proibição da CRFB 1988,
concernentes à pena de morte, pena perpétua, de banimento, de trabalhos
forçados e penas cruéis, porém, ressalta-se que, excetuando as penas de
banimento, de trabalhos forçados e penas cruéis, a proibição e as limitações das
demais não são absolutas e sim relativas.
Não obstante, fi cou em nossa CRFB de 1988, que ratifi cou as convenções
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Capítulo 3 DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL
assinadas anteriormente no seu art. 50º, inciso XLVII alíneas “c”, “d” e “e”, como
também no inciso III do mesmo artigo. Vejamos:
Art. 50 [...]
c) de trabalho forçado;
d) de banimento;
e) cruéis. (BRASIL, 1988).
b) Pena de morte
“Art. 5º [...] XLVII – não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra
declarada, nos termos do art. 84, XIX” (BRASIL, 1988).
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
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Capítulo 3 DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
Atividade de Estudos:
86
Capítulo 3 DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL
AlGumas ConsideraÇÕes
Ao concluir o estudo do capítulo é possível chegar a algumas considerações
muito pertinentes ao direito penal.
ReFerÊncias
BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Emendas constitucionais de revisão. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 25 ago. 2011.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 13ª edição. São Paulo: Editora
Saraiva, 2009. v.1.
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Capítulo 3 DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL
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C APÍTULO 4
As Normas Penais em Processos
Judiciais e Inquéritos Policiais
ConteXtualiZaÇÃo
O processo penal no Brasil, desde o período colonial até os dias atuais, teve
signifi cativas transformações procedimentais.
No início do Brasil colônia, havia a forte infl uência das ordenações. Estas
continham um procedimento sumário no qual o réu não precisava ser citado, não
se seguia qualquer solenidade, as testemunhas não precisavam ser ouvidas em
juízo. Assim o réu podia ser condenado e ter sua sentença executada de imediato.
O procedimento sumário era aplicado para os crimes considerados graves,
sodomia-homossexualismo, assalto à mão armada e outros que o rei considerasse
graves. Assim, por exemplo, se o assaltante à mão armada fosse encontrado, era
já executado. Naquele modelo processual presidia a presunção de culpa. Para se
chegar à presunção de inocência decorreram séculos.
O capítulo que você vai estudar não tem o condão de exaurir os pormenores
históricos, mas certamente lhe dará subsídios para compreender a evolução do
modelo acusatório no processo penal.
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Capítulo 4 AS NORMAS PENAIS EM PROCESSOS
JUDICIAIS E INQUÉRITOS POLICIAIS
daquele que julga: nesse sentido, pode-se verifi car o princípio da ofi cialidade,
em que o Estado cria órgãos para averiguar a persecução penal diversa do
órgão que analisará e julgará o caso. Em consequência disto, verifi ca-se para
esses órgãos o princípio da obrigatoriedade e indisponibilidade da ação penal,
pelo qual os mesmos são obrigados a investigar, processar e julgar os fatos
penalmente relevantes, para garantir a ordem pública da sociedade, sendo
que a desistência da ação somente é possível mediante decisão judicial
devidamente fundamentada.
Assim, diante do que preconiza a CRFB 1988, resta impossível imaginar que
o Brasil adotou sistema diverso do acusatório, no entanto, a Lei nº 11.690, de
09/06/2008, reformou vários dispositivos do Código de Processo Penal, dentre
eles o art. 156, relacionado às provas do processo penal, estabelecendo como
redação o seguinte:
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
a) Inquérito Policial
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Capítulo 4 AS NORMAS PENAIS EM PROCESSOS
JUDICIAIS E INQUÉRITOS POLICIAIS
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História, Teorias e Fundamentos Constitucionais do Direito Penal
• Nos crimes contra a economia popular: 10 (dez) dias para indiciado preso ou
solto (art. 10, §1º da Lei n. 1.521/1951);
• Nos crimes da lei de drogas: prazo de 30 (trinta) dias para indiciado preso e
90 (noventa) dias para indiciado solto (art. 51 da Lei nº 11.343/2006).
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JUDICIAIS E INQUÉRITOS POLICIAIS
A ação penal é:
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Embora seja matéria de direito processual penal, a ação penal tem seus
regramentos básicos nos arts. 100 a 106 do Código Penal.
No artigo 100 do Código Penal, podem-se identifi car os tipos de ações penais
disciplinadas no ordenamento jurídico brasileiro:
100
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processo, ou seja, a vítima não poderá se retratar e o processo será levado até o
fi m, diante do princípio da indisponibilidade.
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quiser desistir da ação, deverá desistir dela por inteiro e não apenas em relação
a algum agente do delito, observando dessa forma na ação penal privada o
princípio da disponibilidade.
Atividade de Estudos:
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AlGumas ConsideraÇÕes
O Direito Penal muito evoluiu, ao longo dos tempos, e isso é mais notado na
forma como são investigados e processados os delitos penais.
A forma para apurar os delitos também possui uma ritualística que favorece
a pessoa do acusado, pois os procedimentos devem seguir os dispositivos legais,
ou poderão ser considerados nulos.
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Além das ações públicas nas quais o titular do direito de agir é do Ministério
Público, que o faz diretamente, por representação ou requisição do Ministro da
Justiça, há duas formas de ação penal privada: a exclusiva e a subsidiária da
ação pública.
ReFerÊncias
BRASIL. Lei nº 11.690, de 9 de junho de 2008. Casa Civil. Altera dispositivos
do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal,
relativos à prova, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11690.htm>. Acesso em: 26 ago. 2011.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 13. ed. São Paulo: Editora Saraiva,
2009. v.1.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2006.