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MESTRADO EM FUTEBOL - DA FORMAÇÃO À ALTA

COMPETIÇÃO

Detecção e Orientação de Talentos

Identificação e selecção de talentos no futebol: da


teoria à prática

Docentes: Prof. Dr. João Valente, Prof. Dr. Luís


Massuça

Discente: João Rangel nº 21805055

5 de Maio de 2019
INDICE
1) Introdução – 3
1.1) Detecção, selecção, identificação e desenvolvimento – 4
1.2) Indivíduo talentoso e indivíduo dotado – 4
2) Pré-requisitos de recrutamento – 6
2.1) Índices físicos e fisiológicos – 6
2.2) Índices psicológicos, perceptual-cognitivos, sociológicos – 6
2.3) Índices técnico-táticos – 6
3) Etapas de preparação desportiva – 7
3.1) Petizes – 7
3.2) Traquinas – 7
3.3) Benjamins – 8
3.4) Infantis – 8
4) Conclusão – 9
5) Referências - 10

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1) INTRODUÇÃO

O presente trabalho académico diz respeito ao tema de “A percepção do treinador


de futebol quanto à tomada de decisão – caso de estudo de treinadores de formação de
nível distrital”, realizado no âmbito da Unidade Curricular de “Desenvolvimento de
Competências Psicológicas”, do Mestrado em Futebol – da formação ao Alto
Rendimento da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

A capacidade antecipatória e de tomada de decisão é um factor crucial na


performance desportiva e diferenciador entre jogadores mais e menos capacitados (Costa
et al., 2002; Roca et al., 2013). O Futebol, enquanto modalidade pertencente à categoria
dos jogos desportivos colectivos, é caracterizado pela oposição entre duas equipas, com
objectivos idênticos. Esta disposição exige uma coordenação intra-equipa com base
numa estratégia colectiva (Araújo, 2009). Como descrevem Costa et al. (2002):” Os
Jogos Desportivos Colectivos caracterizam-se pela aciclicidade técnica, solicitações
morfológico-funcionais diversas e intensa actividade psíquica num contexto
permanentemente variável, de cooperação-oposição, com uma importância capital dos
aspectos estratégico-tácticos, onde a tomada de decisão precede a execução”.

As afirmações dos autores supracitados vêm indiciar a importância que a dimensão


táctica ganha nos jogos desportivos colectivos. Mahlo, em 1969, define o conceito de
“acto táctico”, onde dá especial enfâse ao processo de decisão durante o jogo, processo
esse que resulta da exploração da situação presente com o objectivo de encontrar a
melhor solução para cada momento (Araújo, 2009). Costa et al. (2002) dão especial
enfâse ao processo cognitivo que antecede a acção táctica no jogo, referindo que “as
acções tácticas distinguem-se das restantes acções desportivas, porque o seu
desenvolvimento dá lugar a processos intelectuais muito mais alargados e
qualitativamente superiores.”

No estudo dos processos cognitivos nos jogos desportivos colectivos, a tomada de


decisão tem sido considerada um processo resultante das representações mentais
baseadas nas memórias armazenadas. Esta visão “tradicional” é baseada no modelo do
computador e do processamento de informação e fundamenta-se numa perspectiva
racionalista. “As teorias tradicionais da psicologia têm enfatizado essencialmente os

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constrangimentos organísmicos, tentando compreender a tomada de decisão como um
processo racional normativo.” (Araújo, 2006).

No entanto, esta perspectiva tradicional tem vindo a ser substituída por perspectivas
ecológicas da tomada de decisão. Nesta visão ecológica, o comportamento decisional no
jogo resulta duma adaptação aos constrangimentos impostos pelo ambiente do mesmo.
(Araújo, 2006). Como refere Araújo (2006, página 44): “Os padrões racionais e os
modelos formais de tomada de decisão podem ser apropriados para o desempenho de
condições específicas, mas falham ao não terem em atenção os efeitos dos
constrangimentos da tarefa e do ambiente que influenciam a tomada de decisão em
tarefas naturais, nem conseguem modelar adequadamente as características
adaptativas no contexto natural”.

É na óptica da evolução dos modelos e perspectivas explicativas da tomada de


decisão no Futebol que se desenvolve o presente trabalho académico. Com o objectivo
de avaliar a importância atribuída ao treino decisional, por parte dos treinadores, o
presente trabalho académico propõe-se a produzir informação sobre os padrões
ideológicos dos treinadores de formação, na operacionalização dos seus métodos de
treino, no que diz respeito à forma como é encarado o treino da decisão no contexto da
modalidade de Futebol.

2) Revisão de Literatura – Estado da Arte

2.1) Características da tomada de decisão do jogador

De forma a compreender aprofundadamente o tema em questão, é necessária a


compreensão daquilo que são as questões-chave tratadas neste trabalho académico. Desta
forma, Araújo (2006) define os conceitos “acção” e “decisão” como:

- Acção: interacção funcional entre o indivíduo e o seu ambiente com um


determinado propósito. É uma relação funcional com o ambiente, um modo selectivo de
usar recursos para um dado fim. Como actividade cognitiva que é, revela o quanto o
sistema cognitivo está intrinsecamente ligado ao sistema motor.

- Decisão: tipo específico de acção. Mais do que dependente da capacidade do

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indivíduo, está condicionada pelo que o contexto permite fazer. Desta forma, tomar
decisões é permitir e desencadear mudanças num curso de interação com contexto,
visando um objectivo.

A associação destes dois conceitos fica ainda mais explícita quando Pérez (2012)
refere o papel intuitivo que está por trás da tomada de decisão. Ao questionar-se “como
seria a vida quotidiana se cada pessoa tivesse constantemente de reflectir antes de tomar
uma decisão?”, o autor afirma que o rendimento da tomada de decisão dos desportistas
de nível de expertise está dependente de complexas operações cognitivas num curto
espaço de tempo, o que incita a concluir, com elevada probabilidade, que estes não
reflectem no que estão a fazer, mas sim, que simplesmente actuam de forma intuitiva. O
autor afirma, ainda, que a competência para levar a cabo decisões em contexto desportivo
se prende com conceitos de “Inteligência Prática” ou “Inteligência Contextual
Desportiva”.

Costa et al. (2002) fundamentam a visão do autor previamente referido. Os


mesmos afirmam que a tomada de decisão táctica “consiste na capacidade de tomar
decisões rápidas e tacticamente exactas, constituindo uma das mais importantes
capacidades do atleta. Ela determina muitas vezes o sucesso dos jogos técnico-tácticos e
é frequentemente responsável pelas diferenças na performance individual [...] Nos JDC
acção é sinónimo de tomada de decisão, porque cada situação requer uma nova
solução”. Os mesmos autores referem que o verdadeiro jogador é um indivíduo
conhecedor, não necessariamente em termos académicos, mas um conhecedor a dois
níveis:

- conhecimento declarativo: conceito relativo ao tipo de conhecimento do


regulamento da modalidade, aspectos posicionais dos jogadores, estratégias dos
momentos ofensivos e defensivos.

- conhecimento processual: conceito relativo ao conhecimento de como escolher


a acção mais acertada, no momento certo. “Constitui a realização dum comportamento
que dificilmente explicamos.”

Ainda relativamente a dois aspectos muito importantes da temática da decisão no


desporto, Costa et al. (2002) concluem que inteligência e conhecimento, apesar de dois
conceitos relacionados e que interactuam entre sí, diferem e são também específicos. Os
autores definem o conceito de inteligência como “uma confluência de requisitos e

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capacidades, tratando-se [...] duma conjugação de capacidades de compreensão,
atenção, velocidade e memorização que relacionadas permitem ao sujeito desempenhar
determinadas tarefas com maior precisão e acuidade”. Os autores referem que apesar de
factores como a inteligência geral serem importantes na performance do desportista, não
é directa a relação entre o coeficiente de inteligência dum jogador e o seu êxito desportivo.
Inclusivé, na sua investigação, os autores concluem que os jogadores que demonstraram
níveis mais elevados de conhecimento específico do jogo não são os que apresentaram
maiores níveis de inteligência geral, pelo que fundamentam a ideia de Pérez (2012) de
que a inteligência do Futebol é específica e contextual. Os autores concluem, ainda, que
jogadores com maior experiência e nível competitivo mais elevado apresentam maiores
índices de conhecimento específico do jogo, o que, novamente, relaciona a ideia de que
a inteligência do jogo é específica e depende do contexto competitivo do atleta.

Na mesma linha de raciocínio, Roca et al. (2013) definem a tomada de decisão


como o uso de “skills” percepto-cognitivas que permitem ao jogador, através dos seus
sentidos, avaliar o contexto e decidir conforme o conhecimento que possuem: “it has been
reported that experts have superior perceptual-cognitive skills compared with novices,
enabling them to use vision and other senses to identify and recognize information in the
environment for integration with existing knowledge to select and execute decisions.”
Segundo o mesmo autor, esses skils são:

a) Postural cue usage (uso de sinais posturais): capacidade de percepcionar


informação visual do corpo do adversário/colega de equipa, antecipando o
acontecimento.

b) Pattern recognition (reconhecimento de padrões): capacidade de identificar


padrões com os quais familiariza como resultado da sua experiência.

c) Situational probabilities (probabilidades situacionais): capacidade de prever


um conjunto de potenciais opções que possam ocorrer em qualquer situação
de jogo.

2.2) Modelos ecológicos da tomada de decisão

Compreendendo a natureza específica e contextual da tomada de decisão no

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Futebol, há uma discordância com a argumentação dos modelos tradicionais, tal como
estes são descritos na parte introdutória do presente trabalho. Segundo Araújo (2006),
estes fundamentam-se em teorias de processamento de informação e focam-se
unicamente nos “constrangimentos organísmicos” do indivíduo. No entanto, o mesmo
autor, na linha de raciocínio apresentado no ponto anterior do presente trabalho, afirma
que “a noção de tempo e contexto são fundamentais para a compreensão de como o
desportista resolve, pela sua acção, a situação com que se depara [...] onde os diferentes
componentes em interacção fazem emergir uma solução. Este emergir de soluções deve-
se à exploração das propriedades do ambiente, bem como às características
morfológicas e funcionais do praticante.” (Araújo, 2006, página 4). Existem algumas
limitações nos modelos tradicionais, referidas pelo autor: “Cognição e acção podem ser
descritos em termos de atractores, estabilidade, transições, acoplamentos, bifurcações,
etc. Na abordagem tradicional, os conceitos básicos são as representações simbólicas e
as suas manipulações algorítmicas. Contudo, percepção, cognição e acção formam um
processo singular, sem distinguir o que as pessoas “sabem” daquilo que elas “fazem”.
A abordagem dinâmica enfatiza também que qualquer acto é sempre emergente num
dado contexto, está sempre embutido num ambiente e encarnado num corpo.” (Araújo,
2006, página 5).

Assim, o estudo da tomada de decisão foi evoluindo, influenciado nas noções de


psicologia ecológica, das quais se destacam as teorias de Brunswik e Gibson:

- Teoria do funcionalismo probabilístico de Brunswik: modelo que refere relações


probabilísticas entre duas estruturas: proximal – pistas ou informações detectáveis pelo
indivíduo; distal – estado concreto do ambiente. O autor deste modelo argumentava que
o indivíduo não é capaz de percepcionar a componente distal directamente, mas deve
antes percepcionar o ambiente através de indicadores proximais. (exemplo:”inferir se o
adversário chega à bola, com base na velocidade percepcionada”) (Araújo, 2006, página
51).

- Teoria da percepção directa de Gibson: modelo que as ciências do desporto mais têm
seguido. Numa altura em que muitas teorias da percepção defendiam que os indivíduos
são incapazes de ter uma percepção directa dos seus ambientes, percepcionando-os,
apenas, através de representações mentais, Gibson propõe uma relação directa entre a
estrutura distal e proximal. O autor afirma que a percepção pode ser directa “se houver
uma relação de um para um (directa) entre uma invariante e um proporcionador [...] Se

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o praticante seguir visualmente a bola, correndo de modo a que anule a aceleração da
bola na sua retina, ele poderá agarrá-la. Isto acontece porque o praticante estava
afinado a manter ou aumentar o focus de expansão da bola na retina, sendo esta uma
invariante” (Araújo, 2006, página 52).

2.3) Abordagens de ensino do treino da tomada de decisão

Araújo (2009) propõe, naquele que é um processo cíclico e contínuo, 3 fases para
o desenvolvimento da tomada de decisaõ no desporto:

1) Exploração dos graus de liberdade: “a variabilidade de comportamentos durante a


exploraç ão do contexto facilita a selecç ão da informaç ão relevante”. O autor afirma que
o processo de tomada de decisaõ ocorre pela exploraçaõ do ambiente e pela detecçaõ de
affordances, pelo que é possível perceber uma visaõ positiva na experienciaçaõ do
próprio jogador da infinidade de possibilidades de acçaõ como caminho de descoberta do
mesmo às soluções e decisões correctas. “A finalidade deste processo é desenvolver no
jogador a capacidade de explorar as variáveis informacionais que ligam a informaç ão
ao movimento para se obter um objectivo.”

2) Descobrir soluçoẽ s e estabilizá-las: “os jogadores começ am a descobrir


acoplamentos entre a informaç ão e acç ão”. O autor afirma que, nesta fase, o importante
é uma “afinaçaõ perceptiva” – melhor detecçaõ da informaçaõ relevante para que se
alcance o objectivo.

3) Potenciação dos graus de liberdade: “quando o jogador está a usar a informaç ão
que é relevante para atingir o objectivo, pode haver situaç ões em que objectivo não é
atingido. Isto acontece devido a pequenas variaç ões no sistema de acç ão [...]” Assim, o
autor defende que nesta fase de desenvolvimento do processo decisional é fundamental
uma “calibraç ão” do sistema perceptivo-motor, desenvolvendo os acoplamentos
informação-acção já existentes, permitindo “muito mais flexibilidade e criatividade na
resolução de problemas particulares que emergem durante o jogo”.

O mesmo autor (2006) fundamenta-se na Abordagem Baseada nos


Constrangimentos (ABC) como forma de aquisição de habilidades decisionais no
desporto. Esta abordagem foca-se na coordenação e mudanças de coordenação, que

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surgem na evolução da aprendizagem duma modalidade desportiva, e que se revelam a
um nível intra-indíviduo, entre o executante e um objecto externo (como uma bola, por
exemplo) ou entre dois ou mais executantes (coordenação intra-equipa, por exemplo).
Esta abordagem supõe o surgimento da coordenação de movimentos através de
constrangimentos, podendo estes ser de três tipos – praticante, ambiente e tarefa - que
organizam os graus de liberdade do corpo formando, assim, a aprendizagem. “Pela ABC,
a aquisição de habilidades pode ser vista como o processo de agrupar uma paisagem de
atractores funcionalmente ligados e onde o sistema de movimento estabilize durante o
desempenho de uma dada tarefa. [...] Normalmente, os atletas desenvolvem um
repertório ou paisagem de atractores funcionais estáveis para satisfazer os
constrangimentos dos ambientes complexos.” (Araújo, 2006, página 305).

Desta forma, o autor propõe que o treino decisional seja estruturado em cinco passos:

1) Compreender como decidem os atletas: o treinador deve conhecer os


fundamentos teórico-práticos da tomada de decisão.
2) Diagnosticar como decidem os atletas: selecionar situações mais importantes
para treinar, com base no passado, de forma a preparar o presente e futuro
3) Basear-se em princípios na construção das tarefas de treino: utilizando a
abordagem baseada nos constrangimentos (ABC)
4) Realizar acções de reavaliação e controlo: estar atentos a possíveis
indicadores de sucesso/fracasso dos métodos de treino aplicados, tais como o
desempenho, estabilidade da coordenação e empenho dos atletas.
5) Refinar o treino: continuamente, o treinador deve procurar reajustar e
aperfeiçoar o seu treino, e não actuar com base em pressupostos da
mentalidade “tradicional”, devendo evitar a repetição duma rotina
previamente planificada.

Vickers (2000) desenha um modelo de treino decisional assente em três acções principais:

1) Definir as decisões e skills específicos que os atletas da modalidade treinada


têm de ter em contexto de competição.

2) Descrever, desenhar e selecionar os exercícios que mais se adequam a essas


decisões e skills necessários.

3) Selecção de uma ou mais ferramentas que proporcionem uma melhor

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aprendizagem dentro desse mesmo exercício (p.e. demonstração de filmagens
da própria performance; exemplificação prática da acção desejada).

Assim, é com base na argumentação da importância do trabalho decisional,


explicitada nestes modelos, principalmente por Araújo (2006), quando este indica, como
primeiro ponto no seu modelo, o conhecimento sobre os fundamentos teórico-práticos na
tomada de decisão por parte do treinador, que o presente trabalho académico pretende
conhecer a realidade relativamente à importância que esta componente tem nos métodos
de treino dos treinadores de formação do contexto desportivo onde se encontram inseridos
os autores do presente de trabalho, ou seja, no contexto distrital de Lisboa e Setúbal.

MÉTODO
Participantes

Participaram no estudo 31 treinadores de futebol, todos eles treinadores de formação, de


equipas entre os sub-13 e os sub-19, de nível distrital de Lisboa e Setúbal. O presente
estudo foi efectuado através de um questionário online criado no Survey Monkey.

Instrumento

Os treinadores aceitaram preencher, de forma voluntária, um questionário que tinha como


objetivo perceber o quanto esses treinadores utilizavam técnicas de decisão durante os
seus treinos. O instrumento de estudo foi aplicado no segundo semestre do Mestrado,
entre Maio e Junho de 2019. O título do questionário foi: “És um treinador decisional?”.

Este questionário foi criado através de uma adaptação de um questionário presente em


Vickers (2000). O questionário é composto por 10 perguntas, onde os treinadores tinham
de responder “Verdadeiro” ou “Falso” a questões relacionadas com o treino, de forma a
perceber o papel que as técnicas de decisão têm no processo de treino destes treinadores.

Os treinadores que responderam “Falso” a 7 ou mais questões, foram considerados


treinadores que usavam com regularidade técnicas de decisão durante os seus treinos. Os
treinadores que responderam “Falso” entre 4 a 6 questões foram considerados treinadores
que usavam algumas técnicas de decisão durante as suas sessões de treino. Os treinadores

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que responderam “Falso” a 3 ou menos questões foram considerados treinadores que
quase nunca utilizavam técnicas de decisão durante os seus treinos.

Em baixo, na Figura 1, as 5 primeiras perguntas do questionário que efetuámos e na


Figura 2, as últimas 5 perguntas do questionário.

Figura 1 – 5 primeiras perguntas do questionário

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Figura 2 – 5 últimas perguntas do questionário

RESULTADOS

Como já referimos anteriormente, o nosso questionário tinha como objetivo perceber a


importância atribuída ao treino decisional, por parte dos treinadores de escalões de
formação, entre os sub-13 e sub-19, no contexto distrital de Lisboa e Setúbal. Como tal,
com base em um questionário de Vickers (2000), realizámos um questionário com 10
perguntas, com respostas de verdadeiro ou falso, de forma a perceber melhor a forma de
pensamento destes treinadores.

Dos 31 treinadores que responderam ao questionário, 19 (61,3%), responderam “Falso”


entre 4 a 6 questões, que, de acordo com a nossa avaliação, são treinadores que por vezes
utilizam técnicas de decisão durante o seu processo de treino.

Por seu turno, 11 dos inquiridos (35,4%), responderam “Falso” a 7 ou mais questões,
enquadrando-se assim num tipo de treinadores que usa com regularidade técnicas decisão
nos seus treinos.

Por último, apenas 1 dos treinadores (3,2%), respondeu “Falso” a 3 ou menos questões.

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Assim sendo, este treinador foi considerado um treinador que raramente utiliza técnicas
de decisão nas suas sessões de treino.

De seguida, mostramos um gráfico com os resultados que aqui falámos.

TÉCNICAS DE DECISÃO NO TREINO


Treinadores que usam com regularidade técnicas de decisão
Treinadores que usam por vezes técnicas de decisão
Treinadoes que raramente usam técnicas de decisão

3%

36%

61%

Figura 3- Gráfico Técnicas de decisão no treino

DISCUSSÃO

Analisando os resultados obtidos, podemos verificar que a maioria dos treinadores que
responderam ao inquérito (61,3%) responderam “Falso” entre 4 a 6 perguntas do nosso
questionário. De acordo com a nossa avaliação e como já referido, estes treinadores usam
por vezes técnicas de decisão durante o seu processo de treino, ou seja, são treinadores
que se encontram algo “divididos” entre a abordagem a adoptar nas suas sessões de treino.
Por um lado colocam-se do lado da visão “tradicional” do processo da tomada de decisão,
em que, tal como referido na revisão de literatura, afirma que este é um processo
resultante das representações mentais baseadas nas memórias armazenadas, mas por outro
lado também defendem as perspetivas ecológicas da tomada de decisão, onde se afirma
que o jogo resulta de uma adaptação aos constrangimentos impostos pelo ambiente do
mesmo (Araújo, 2006).

Por seu turno, 11 dos inquiridos, (35,4%), responderam “Falso” a 7 ou mais questões, o
que os coloca no patamar dos treinadores que utilizam técnicas de decisão no treino com

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regularidade. Estes treinadores têm grande inclinação para o “lado” das perspetivas
ecológicas da tomada de decisão, onde a aprendizagem e coordenação de movimentos,
de acordo com Araújo (2006), surgem através de constrangimentos, sendo eles de três
tipos: praticantes, ambientes e tarefa. Nesta perspetiva, o desenvolvimento da tomada de
decisão do desporto deve ter 3 fases: exploração dos graus de liberdade; descobrir
soluções e estabilizá-las; potenciação dos graus de liberdade (Araújo, 2006). Este tipo de
treino faz uso não só das capacidades motoras e memórias armazenadas do atleta, mas
apela também, constantemente, à capacidade de cognição do atleta de forma a realizar a
sua ação e decisão de acordo com o ambiente que o envolve. Neste tipo de treino é
essencial a realização de ações de reavaliação e controlo de treino, para que este possa
ser constantemente refinado, de forma a alcançar o constante progresso e evolução.

Em sentido oposto, apenas 1 inquirido respondeu “Falso” a 3 ou menos questões.


Assim sendo, de acordo com a nossa avaliação, este treinador acredita mais na perspetiva
tradicional da tomada de decisão, usando muito poucas técnicas de decisão nas suas
sessões de treino. Esta perspetiva tradicional fundamenta-se em teorias de processamento
de informação, focando-se unicamente nos “constrangimentos organísmicos” do
indivíduo (Araújo, 2006). O mesmo autor refere que este modelo tem algumas limitações,
como referido por nós anteriormente no presente trabalho.

Conclusão

Este trabalho teve como objetivo avaliar a importância atribuída ao treino decisional , por
parte dos treinadores de escalões de formação, entre os sub-13 e sub-19, no contexto
distrital de Lisboa e Setúbal. Depois da revisão de literatura efetuada e de analisados os
resultados obtidos, podemos concluir que estes treinadores pendem mais para uma visão
ecológica da tomada de decisão, em detrimento de uma perspetiva tradicional da mesma.
Estes treinadores “acreditam” que para além das representações mentais baseadas nas
memórias armazenadas, é importante também ter em conta o contexto em que a decisão
está inserido, contexto esse que pode ser muito diferente de jogo para jogo, de treino para
treino, o que levará a serem tomadas decisões diferentes. Como tal, as sessões de treino
e os exercícios de treino devem ser estruturados de forma a melhorar a capacidade
decisional dos atletas, tendo como base uma abordagem baseada nos constrangimentos.
Em investigações futuras seria interessante fazer este questionário a treinadores de
contexto de campeonato nacional ou até mesmo seniores.

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Referencias:

15
Araújo, D. (2006) Tomada de decisão no desporto. FMH edições
Araújo, D. (2009) O desenvolvimento da competência táctica no desporto: o papel dos
constragimentos no comportamento decisional. Motriz, Rio Claro 15(3):537-540
Araújo, D., Hritovski, R., Seifert, L., Carvalho, J., Davids, K. (2017) Ecological
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Exercise Psychology. 10:1-25
Costa, J.C., Garganta, J., Fonseca, A., Botelho, M. (2002) Inteligência e conhecimento
específico em jovens futebolistas de diferentes níveis competitivos. Revista Portuguesa
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Perez, L.M.R. (2012) Si quieres decidir bien, no pienses, actua. El papel de los procesos
intituitvos en el deporte. Revista Gymnasium, 1(5):119-138
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