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As
galáxias constituem-se de um número incontável de estrelas que produzem energia e brilho de alta intensidade.
Espaços interestelares de densidade variável são denominados “buracos negros”, de forte energia gravitacional,
capazes de atrair e digerir qualquer matéria que se aproxime (Fig. 21.1). A Via Láctea é a galáxia na qual se
situam nosso sistema solar e nosso planeta, disperso entre milhares de outras galáxias.
Há 15 bilhões de anos toda a matéria e energia resumiam-se a um ponto com espaço relativamente pequeno,
densidade e temperatura extremamente altas e com a matéria e a energia indistinguíveis. A partir desse ponto sem
tempo ou espaço determinável houve a explosão que os físicos denominam Big Bang. A partir daí, a temperatura e a
densidade da energia foram decrescendo, constituindo-se a matéria. As primeiras galáxias surgiram há 12 bilhões de
anos, e a nossa Via Láctea, há cerca de 4,6 bilhões de anos. O espaço consistia em uma substância diferente, conhecida
como “energia negra”, que fez o universo se expandir em velocidades variáveis e não homogêneas.
Uma nebulosa resultante de uma estrela supernova sintetizou os elementos pesados que hoje constituem o Sol
e seus planetas (Fig. 21.2-A). Com seu material em grande parte no estado líquido, cada planeta evoluiu para um
núcleo metálico constituído essencialmente de Fe e Ni. Os meteoritos são fragmentos de matéria sólida
proveniente do espaço. A maioria, por serem muito pequenos, volatiliza-se pelo atrito ao atingirem a atmosfera
terrestre, os maiores impactam com a Terra produzindo grandes crateras. As idades determinadas em meteoritos,
entre 4,0 e 4,6 bilhões de anos, estão muito próximas daquelas obtidas de amostras coletadas na Lua. Essas
pesquisas indicam que os materiais da Lua e dos meteoritos foram formados juntamente com a Terra na mesma
sequência da evolução do Sistema Solar (Fig. 21.2-B).
Entre 4.600 m.a. e 3.800 m.a. (Éon Hadeano) a Terra evoluiu de uma massa muito quente, sacudida por
explosões, para uma fina crosta que retém a atmosfera composta de dióxido de carbono, amoníaco, metano,
nitrogênio e vapor d’água. Durante essa fase o crescimento do campo gravitacional da Terra passa a atrair para o
seu centro os elementos mais pesados, enquanto os mais leves sobem à superfície (Fig. 21.3). No Éon seguinte, o
Arqueano, que se estende até 2.500 m.a., embora a Terra ainda permanecesse muito quente, teve início a
formação dos continentes. No final do Éon houve grande redução das atividades vulcânicas e talvez da queda de
meteoritos (Fig. 21.5). O mineral mais antigo, o zircão, tem idade de aproximadamente 4 bilhões de anos. As
rochas mais antigas que se conhecem hoje, as quais ocorrem na Groenlândia, têm idade de 3,8 bilhões de anos. No
Brasil ocorrem rochas dessas idades em diversas regiões (Fig. 21.4). Naquela época já havia mares habitados
pelas cianobactérias (células procariotas sem núcleo, datadas de 3.500 m.a.) que se acumulavam em camadas
concêntricas de carbonato de cálcio denominadas estromatólitos. Algumas acumulações constituíram recifes de
estromatólitos, sendo posteriormente substituídos em sua totalidade por recifes de corais.
Figura 21.1 A figura mostra aglomerados de galáxias entremeadas por filamentos de matéria escura. (Foto: NASA/ESA.)
Figura 21.2-A Núcleo remanescente de uma supernova que explodiu 330 anos atrás. (Foto: NASA/CXC/UNAM.)
Figura 21.2-B Meteorito de 15 toneladas de ferro e níquel foi parte de antigo planeta. (Foto: João Vianna. Reprodução do
Museu de História Natural de Nova York.)
Figura 21.3 A Terra há 3 bilhões de anos, com uma atmosfera de dióxido de carbono, amoníaco, metano, nitrogênio e vapor
d’água, era atingida por meteoritos quando teve início a formação dos continentes.
Termo informal que compreende os três primeiros Éons desde a formação da Terra até o início do Cambriano.
Designam-se Hadeano os primeiros 600 milhões de anos da Terra, quando da formação de um núcleo de ferro
rodeado por um manto, cujo resfriamento levou à formação de uma crosta com permanentes mudanças. A
desintegração de elementos radioativos, como o urânio, resultou na formação do mineral mais antigo que se
conhece, o zircão, há 4.400 m.a.
O Arqueano, Éon de mais longa duração, abrange o tempo transcorrido entre 4.000 m.a. e 2.500 m.a., caracterizado
por intensos vulcanismos e a formação do maior volume da crosta terrestre. A formação dos primeiros oceanos e a
combinação do dióxido de carbono com os gases da atmosfera primitiva (amônia, sulfeto de hidrogênio e hidrogênio)
deram lugar aos primeiros compostos orgânicos. Com eles, surgiram as primeiras formas de vida anaeróbia, os
procariotas (células sem núcleo e assexuadas), os quais obtinham sua energia a partir do hidrogênio e seu carbono do
dióxido de carbono, gerando por meio de sua respiração o gás metano. Compostos grafitosos de 3.800 m.a. foram
encontrados na Groenlândia. O registro dos primeiros procariotas, as cianobactérias, data de 3.500 m.a., quando
começaram a sintetizar a luz solar e a produzir oxigênio. Seu modo de vida colonial propiciou grandes depósitos
dessas cianobactérias, intercaladas com depósitos de carbonato de cálcio, formando grandes recifes conhecidos
como estromatólitos.
Figura 21.4 Websterito, rocha com mais de 2 bilhões de anos. Barra Velha, SC. (Foto do Autor.)
Figura 21.5 Meteorito de 150.000 toneladas atingiu a Terra há 50.000 anos, produzindo uma depressão de 1.200 metros de
diâmetro por 180 metros de profundidade no Arizona, Estados Unidos. (Foto: NASA.)
No Éon Proterozoico (2.500 m.a.-542 m.a.), a história da acumulação do oxigênio na atmosfera está registrada
nas listras vermelhas da calcedônia e na formação da hematita, também bandada, onde é possível observar as
variações periódicas nos níveis de oxigênio produzido pelas bactérias. O excesso de oxigênio produzido
possivelmente foi uma das causas da extinção desses organismos primitivos.
Níveis estáveis de oxigênio foram alcançados há 2.000 m.a., evidenciados nos arenitos e argilitos continentais
avermelhados, ausentes em rochas mais antigas.
A filtração de raios solares pela camada de ozônio recém-formada possibilitou a evolução dos protistas
(células com núcleo) nos primitivos oceanos. Evidências indicam que o metabolismo aeróbio (fotossíntese)
ocorreu há 2.200 m.a. Os estromatólitos tornam-se mais abundantes no início do Éon, declinando no final (700
m.a.). Micro-organismos com parede orgânica, os acritarcos, com importância bioestratigráfica, estão registrados
em folhelhos e siltitos com idade de 1.400 m.a.
Rodínia foi o primeiro supercontinente formado (1.100 m.a.), fragmentando-se no final do Proterozoico (750
m.a.), proporcionando o aparecimento do oceano Pantalássico, conjugado com o avanço de macroplacas
(resultantes da fragmentação) em direção às regiões polares, formando-se a primeira e mais extensa glaciação
conhecida. No final do Proterozoico essas placas continentais uniram-se para formar um novo continente no
hemisfério sul, o Pannotia, com elevações de montanhas.
No decorrer desse tempo, organismos monocelulares mais complexos evoluíram para dar origem às plantas e
aos animais multicelulares no final do Proterozoico, incluindo-se aqui a conhecida Fauna de Ediacara, nome que
originou a denominação do último período do Éon, o Ediacarano, cuja idade situa-se entre 575 m.a. e 542 m.a. Os
fósseis ediacaranos são de animais de corpo mole, diversificados, e extinguiram-se no final do período.
21.2.1Era Paleozoica
Figura 21.6 Distribuição dos continentes no período Cambriano. (Fonte: Paleomap Project, http://scotese.com.)
Período ordoviciano (488 m.a.-443 m.a.)
Com duração de aproximadamente 44 milhões de anos, foi uma fase de enorme biodiversidade. O nome
ordoviciano provém de uma tribo celta que habitava a região de Gales, conhecida como Ordovices.
Com a movimentação das placas litosféricas formaram-se mares pouco profundos onde foram depositadas
rochas calcárias e sedimentos finos e escuros, ricos em graptólitos, animais de esqueleto quitinofosfático, bons
indicadores bioestratigráficos de temperatura e profundidade da água naquele tempo (Fig. 21.7). Organismos que
sobreviveram à crise do Cambriano, como alguns trilobitas, sofreram novas adaptações, e novas formas surgiram,
extinguindo-se no Permiano. Fato importante na evolução dos organismos foi o aparecimento dos ostracodermes,
peixes sem mandíbulas e com carapaça externa. Outra evidência dos primitivos cordados são os conodontes,
muito utilizados na datação das rochas.
Figura 21.7 Graptozoário da formação Trombetas, Siluriano da Bacia do Amazonas. (Foto: Sérgio F. Beck.)
No final do período uma glaciação com registros em diversas regiões da Terra alterou o ecossistema e
extinguiu 60 % da vida marinha. O continente de Gondwana atingiu o polo sul e cobriu-se de geleiras, caindo as
temperaturas e baixando o nível do mar, enquanto em outras regiões formaram-se grandes depósitos de
evaporitos. Em sedimentos continentais surgiram as primeiras plantas não vasculares, com talos e sem folhas.
Nesse período surgiram as primeiras plantas com sistema vascular primitivo, que conduzia água e alimento
das raízes às folhas, as licophitas. Apareceram também os artrópodes aquáticos, aracnídeos e miriápodes.
Figura 21.13 Paisagem do Permiano Superior habitada pelo réptil Dinocephalium. (Museu de Cape Town, África.)
Figura 21.14 Bivalve da Formação Rio Bonito, Permiano da Bacia do Paraná. (Foto: Sérgio F. Beck.)
Figura 21.16 Raro esqueleto de um dinossauro do Triássico (L’herrerasaurus eschigualastensis). (Museu de Tucuman,
Argentina. Foto: J. F. Bonaparte.)
Em ambas as fronteiras temporais citadas, com mudanças climáticas e extinções, ocorreram alguns dos
maiores eventos vulcânicos do planeta, com extravasamento de centenas de milhares de quilômetros quadrados de
lavas. O vulcanismo relacionado com o evento (Permotriássico) produziu lavas e nuvens de poeira e gases
lançados na atmosfera em grandes quantidades. As consequências para a vida foram um resfriamento global
decorrente da obstrução da luz do Sol e, depois, um aquecimento provocado pelos gases na atmosfera,
responsáveis pelo efeito estufa.
Em diversos períodos da história da Terra, erupções vulcânicas de fissura, caracterizadas por grandes volumes de
rochas máficas, cobriram extensas áreas dos continentes e também dos mares a partir da expansão dos assoalhos
oceânicos, provenientes do afastamento das placas, sob a denominação de grandes províncias ígneas. A Sibéria
foi palco também desses acontecimentos no final do Período Permiano, início do Triássico, há cerca de 252 a 247
milhões de anos. Segundo pesquisadores que estudaram aquela região, os gases e as nuvens de poeira
provenientes das atividades extrusivas dos vulcões causaram inicialmente uma diminuição da temperatura sobre a
Terra, mas a longo prazo o gás carbônico fez o planeta se aquecer. Análises do peso atômico do oxigênio contido
nos fósseis daquela época permitiram calcular as temperaturas médias das águas onde viviam, chegando a índices
de até 40 °C, tornando a vida, na maior parte da região, impraticável. Em algumas áreas, as temperaturas
terrestres podem ter atingido 60 °C, contribuindo assim, juntamente com as atividades vulcânicas, para uma
grande extinção da vida na época, quando grande parte dos vertebrados terrestres desapareceu. A seleção natural
pode ter favorecido animais menores, que se adaptaram às novas temperaturas.
Meteoritos
Durante o intervalo Cretáceo-Terciário, a Terra sofreu um choque produzido por um corpo extraterrestre com
cerca de 10 km de diâmetro na região de Yucatán, no México, local onde se pode delinear uma estrutura de
impacto denominada cratera de Chicxulub, com cerca de 300 km de diâmetro. O impacto desse corpo seria
bastante semelhante, para o ambiente, ao de um episódio vulcânico em larga escala. Inicialmente a atmosfera seria
invadida por nuvem de pó, que impediria a passagem dos raios solares. Nesse caso específico, a interrupção da
fotossíntese, com a quebra da cadeia alimentar, teria sido a principal causa para o desaparecimento dos grandes
animais continentais, dentre eles os dinossauros e pterossauros, os répteis voadores.
Estudos no Brasil mostram crateras formadas em várias épocas que, entretanto, por suas dimensões
relativamente reduzidas (máxima de 40 km de diâmetro) não poderiam ser responsáveis por grande mortalidade.
Porém, eventos semelhantes certamente ocorreram em outros locais e, posteriormente, foram destruídos pelo
intemperismo. Outras crateras podem ter desaparecido ou mesmo permanecido encobertas por sedimentos no
fundo dos oceanos, área mais provável para receber impactos cósmicos, dada sua extensão no planeta. Atualmente
são conhecidas mais de 120 crateras produzidas por meteoritos em toda a superfície terrestre. No Brasil foram
identificadas várias estruturas em anel com feições de cratera de impacto, em sua maioria com poucos
quilômetros de diâmetro. O Domo do Araguainha tem cerca de 250 milhões de anos, constituindo uma área de 40
km de diâmetro, formada por rochas fraturadas com brechas polimíticas. Nesses eventos massivos, provocados
por meteoritos, a pressão e a temperatura causadas pelas ondas de choque acabam vaporizando a mistura do
meteorito incandescente com as rochas da crosta, facilitando a erosão e acelerando os processos de intemperismo,
ficando além da forma e estrutura, em alguns casos, apenas elementos residuais.
Muitos sugerem que os vulcanismos basálticos registrados se referem sistematicamente aos períodos de
extinções em massa e seriam muito semelhantes àqueles relacionados com um impacto cósmico, como saturação
da atmosfera por poeira e gases, formação de tsunamis, além de concentrações anômalas de metais raros na crosta
terrestre, como platinoides. Adicionalmente, tem-se admitido que um impacto de grande escala, graças à
propagação pela Terra das ondas de choque, poderia provocar também atividades vulcânicas.
Figura 21.17 Distribuição dos continentes no período Jurássico. (Fonte: Paleomap Project, http://scotese.com.)
Figura 21.18 Distribuição dos continentes no período Cretáceo. (Fonte: Paleomap Project, http://scotese.com.)
Uma extinção em massa de grande envergadura provocou o desaparecimento de aproximadamente 50 % das
espécies e 35 % das famílias, incluindo os amonites, belemnites e os dinossauros. As plantas praticamente não
foram afetadas por esse grande evento de extinção, e os mamíferos passaram a ocupar os espaços deixados pelos
répteis.
Para as causas desse acontecimento, conhecido como evento K/Tr, muitas hipóteses são aventadas, tais como
uma drástica troca de temperatura, variação da salinidade e do nível do mar, concentração de oxigênio, radiação
cósmica e impactos de meteoritos, possivelmente atuando em conjunto. Tudo indica que uma catástrofe natural
provocou uma mudança rápida do clima, em consequência da queda de um grande meteorito com dimensões entre
10 e 15 km na península de Yucatán, no México, e afloramentos de basaltos nos lagos de Deccan, na Índia,
também como evidências desses acontecimentos. A concentração de irídio encontrada em estratos do final do
Cretáceo e início do Terciário apontam para as causas desses fenômenos.
Figura 21.19 Escavação de um úmero gigante de saurópode do Cretáceo. Rio Negro, Argentina. (Foto: J. F. Bonaparte.)
O aparecimento do homem
O primeiro ancestral do homem começou a andar sobre duas pernas e tinha um cérebro menor, pouco superior a 600
cc. Mas quem foi ele? Essa é uma pergunta que ainda não pode ser respondida com exatidão, mas já se sabe muito. Há
quatro milhões de anos, no Plioceno, viviam os chimpanzés (que existem até hoje), os quais eram silvícolas e, pelo seu
modo de vida, habitavam as florestas sobre um terreno recoberto de folhas e arbustos; portanto, uma área de difícil
fossilização. É provável que esses chimpanzés comessem frutas e excepcionalmente carne, separassem cupins dos
torrões de terra, quebrassem castanhas e triturassem sementes usando artefatos de pedras lascadas, sem destruí-las.
Provavelmente barreiras geográficas como aquela do rift da África tenham sido a causa da separação de uma parte
dessa espécie que migrou para outras regiões e sofreu uma divergência evolutiva, originando uma linhagem
diferente.
Os inúmeros exemplares de fósseis coletados e estudados por uma legião de pesquisadores nos indicam que o
homem surgiu na África e que muitas espécies hoje consideradas ancestrais do homem foram primas, ou seja,
linhagens distintas de seres com culturas próprias, vivendo lado a lado.
Em várias épocas, desde o seu surgimento, o Homo compartilhou o continente africano com várias espécies
denominadas Australopithecus robustus, Australopithecus boisei (Fig. 21.20) e Australopithecus aethiopicus, que
provavelmente evoluíram de grandes primatas.
O Homo erectus e o Homo habilis, que viveram depois, provavelmente são intermediários na
evolução entre o Australopithecus anteriormente referido e o homem moderno, e também possuíam
cérebro de tamanho intermediário (Fig. 21.21). O Homo erectus e o Homo habilis viveram 1,8 milhão
de anos até 25 mil de anos atrás, e foram contemporâneos dos denominados “arcaicos”, que
antecederam os modernos.
Não sabemos o quanto o Homo erectus era peludo, mas era bípede, tinha cérebro menor, entre 900 cc e 1.100
cc (nós temos cerca de 1.400 cc), queixo recuado e sobrancelha protuberante; provavelmente descobriu o uso do
fogo, mas foi uma espécie diferente da nossa. Os “arcaicos”, que incluem o Homo rudolfensis, foram
contemporâneos do Homo habilis. Este último não tinha a sobrancelha protuberante, parecia-se mais com o
homem moderno e possuía um cérebro avantajado. O aumento da massa cerebral ocorreu após o homem ficar de
pé, sustentam os pesquisadores, pois ele sentiu necessidade de ter as mãos livres para fazer determinados tipos de
trabalhos especializados que o cérebro determinava; esse fato representou um dos maiores saltos na evolução
progressiva da espécie.
O Homo rudolfensis (arcaico), por sua vez, foi contemporâneo do Homo habilis, demonstrando que a evolução
não foi linear, e sim dentro de um modelo, com vários ramos da linhagem humana evoluindo ao mesmo tempo,
cada um com suas próprias adaptações e estilos de vida. Alguns teriam se extinguido, enquanto outros deixaram
descendentes.
O mais antigo registro do que é definido como Homo sapiens conviveu com formas designadas arcaicas,
modernas e os denominados Neandertal pelo menos até 100 mil anos atrás. Os primeiros fósseis encontrados com
o nome de Neandertal foram datados de 130 mil anos, e provavelmente constituíram um ramo do homem de
Neandertal desde 400 mil anos atrás, quando se separaram (Figs. 21.22 e 21.23).
Figura 21.20 Selo postal do Uzbequistão, com a imagem de um Australopithecus (Zinjanthropus boisei).
Estudos dos genomas, comparando o Neandertal com o homem moderno, mostraram que parte daquela genética
hominídea, caracterizada por uma espécie robusta, com cerca de 1,65 m de altura, ainda permanece no Homo sapiens;
sabemos disso graças à decodificação da sequência de mais de 3 bilhões de bases de DNA utilizando amostras de
6 mil ossos de Neandertal originários das cavernas da Croácia e das Astúrias (Figs. 21.24 e 21.25).
O homem de Neandertal surgiu na Europa há cerca de 250 mil anos, e seu nome provém do vale de Neander, na
Alemanha, onde seis restos fósseis foram encontrados pela primeira vez em 1856. As evidências sugerem que esse
homem, em sua cultura, utilizava ferramentas de pedra e possuía adornos produzidos com muita habilidade. Os túmulos
mostram que ele enterrava seus mortos por meio de um tipo de ritual, por isso são encontrados tantos esqueletos. Usava
o fogo, que era vital para a sua sobrevivência durante o clima frio do período em que vivia. Sabemos que se extinguiu
há cerca de 30 mil anos, e uma das causas mais prováveis é que ele tenha sido sobrepujado em sua cultura pelo mais
adaptado, o nosso Homo sapiens, conhecido naquela região da Europa como o “homem de Cro-Magnon”, assim
denominado por ter sido encontrado pela primeira vez em Dordogne, na França.
Figura 21.23 Homem de Neandertal, esqueleto completo. (Foto: João Vianna. Reproduzido do Museu de História Natural de
Nova York.)
O homem de Cro-Magnon (Homo sapiens) começou sua jornada da África para a Europa há aproximadamente
100 mil anos, e diversas evidências em cavernas com idade de cerca de 40 mil anos indicam que sua cultura
avançou muito rapidamente e que acabou substituindo seus contemporâneos menos adaptados (Fig. 21.26).
Por volta de 1,8 milhão de anos atrás, como demonstram os fósseis, iniciaram-se as migrações da África.
Outra jornada ocorreu em direção à Ásia entre 800 e 400 mil anos.
Há 100 mil anos o Homo sapiens começou a se espalhar inicialmente pela própria África, seguindo para a Ásia e a
Europa, e por volta de 14 mil anos atrás chegou do Nordeste da Ásia através do que, na época, era o Estreito de Bering,
colonizando a América do Norte. A colonização da América do Sul pelo istmo do Panamá veio logo depois.
No final da última glaciação, há cerca de 10 mil anos, encontramos registros do berço da civilização humana na
Mesopotâmia, nas planícies dos Rios Tigres e Eufrates (Iraque), nas margens do Nilo, Egito e também na China.
Eram os humanos inicialmente caçadores, coletores – inclusive pescadores, nômades. Antes de se tornarem
agricultores provavelmente foram os responsáveis pela aniquilação de diversas espécies de aves e mamíferos.
Figura 21.24 O aparecimento do Homo sapiens.
Figura 21.25 Casal de Neandertal. (Foto: João Vianna. Reprodução do Museu de História Natural de Nova York.)
Figura 21.26 Reconstituição do Homem de Neandertal a partir de um crânio fóssil. (Foto: Carol Popp. Museu de História
Natural de Nova York.)
Holoceno e Antropoceno
O Holoceno teve início há 10.700 anos, após as evidências da última glaciação, e perdura até os tempos de hoje.
Há 10.000 anos o Homo sapiens já vem interferindo no meio ambiente por vezes de modo catastrófico como, por
exemplo, com as práticas agrícolas que acabaram por aumentar a salinidade na região dos rios Tigre e Eufrates e
aquelas que fizeram desaparecer o mar de Aral, na tentativa falha de criar um grande projeto de irrigação.
Estudos sugerem que já temos evidências suficientes de que as mudanças ambientais deram início a um novo
intervalo de tempo geológico, notadamente a partir de 1950, cujo “marco estratigráfico” foi o aparecimento de
alumínio, concreto, plástico, partículas de carbono e outros materiais nos sedimentos, além da concentração de
gás carbônico na atmosfera, da elevação de temperaturas e do nível dos oceanos.
A humanidade, segundo Nicholas Wade, após trilhar diversos caminhos em sua jornada a partir da África
evoluiu dentro de sua própria espécie por meio de variantes genéticas associadas a fatores culturais. Essa evolução
progressiva apareceu nas diferentes civilizações com sutis características próprias e marcantes, como nos povos
da Europa e do Extremo Oriente. Inicialmente todos os povos eram tribais, entretanto, direcionados pelos genes,
se dispersaram, tomaram outros caminhos, encontrando novos sistemas sociais que influenciaram nas gêneses das
populações. As pesquisas do autor mencionadas sobre o genoma humano concluíram que a evolução biológica
agiu e age em momentos recentes da história, levando a um esfacelamento tribal e à criação de pelo menos cinco
distintos povos: os caucasianos da Europa, subcontinente indiano e Oriente Médio, os africanos do Sul do Saara,
os asiáticos orientais, os índios americanos e os aborígenes australianos. Essas populações se disseminaram de
forma independente e seguiram diferentes caminhos evolutivos. Escrevendo sem espaço para o racismo, o autor
explora um novo e interessante território para esta área do conhecimento, mostrando diferenças evolutivas entre
populações humanas em curto espaço de tempo.
Nesse mesmo espaço de “tempo geológico” Paul Crutzen recentemente chamou a atenção para as mudanças
que essa mesma humanidade provocou no planeta, avaliando o impacto ambiental destruidor que diversas
atividades vêm provocando, e chamou esse tempo de Antropoceno, que significa época da dominação humana,
mas visto como uma força geofísica destruidora sobre o ecossistema.
O homem vem produzindo transformações (boas e ruins) no planeta com a mesma força e resultado dos
fenômenos naturais que ocorreram e continuam a ocorrer em toda a história da Terra: ação dos ventos, dos rios,
dos oceanos e também dos agentes chamados de internos, como terremotos (tsunamis), vulcanismo e outros. As
movimentações de rochas são produzidas por enormes escavações de túneis, estradas, vales e minas em busca de
minérios etc.
Se observarmos com atenção apenas uma das gigantescas aeronaves que sobrevoam diariamente o planeta,
veremos que ela foi construída inteiramente com materiais extraídos da crosta terrestre, como o alumínio e outros
metais nobres, o cobre utilizado na fiação, o vidro de cristais de rocha e os derivados do petróleo que constituem
praticamente o restante da aeronave, e ainda podemos incluir a quantidade imensa de combustível.
Figura 21.28 Segundo a NASA, já são mais de 370.000 fragmentos de lixo e equipamentos orbitando a Terra que
impossibilitarão no futuro o lançamento de novas aeronaves espaciais. (Foto: NASA.)
Os testes com bombas atômicas, os explosivos empregados para remoção de rochas ou em guerras, a
queima de carvão, petróleo e gás somados aos esgotos e às montanhas de lixo são exemplos dos graves
problemas ambientais. Como resultado, estamos mudando o clima da Terra, a química dos oceanos, os
habitats terrestres e aquáticos, a qualidade do ar e da água, extinguindo espécies, reduzindo a
biodiversidade. O progresso humano não pode resultar em regresso ambiental. Estamos diante de um
novo e perigoso período de tempo que exige nova postura baseada em consciência ética e de convívio,
obrigando a mudanças no modo de como se produz e no que é ou não necessário se consumir.
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