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Os porquês da tirania. Cada vez mais frequente, o despotismo das crianças, que em
geral “se regista com mais frequência no caso dos filhos únicos”, alerta Maria Lavínia
da Franca, psiquiatra e pedopsiquiatra, apanha os pais de surpresa. É que eles não têm a
mais pequena ideia “do processo que levou a este estado das coisas”. Na verdade o dito
processo é gradual e subtil, não lhe faltando razões para que se instale e se desenvolva
perigosamente, como esclarece Maria Lavínia Franca. Tem sobretudo a ver com dois
factores que são já “um clássico” na história da relação parental: a falta de tempo que os
pais têm para estar com os filhos e a culpa enorme que isso lhes traz. Graças a esta
mistura explosiva a criança vê, desde a mais tenra idade, todos os seus desejos e
vontades serem imediatamente atendidos por pais culpados, infinitamente solícitos e
pacientes, que a procuram compensar a todo o custo. O que começa logo desde o
nascimento: “quando o bebé chora os pais acorrem, embalam, levam para a sua cama,
dão o biberon, porque ele não pode chorar cinco minutos”. Quando já é mais crescido, e
os pais chegam a casa depois de um dia esgotante de trabalho, stressados e exaustos,
“evitam automaticamente os conflitos” com ele, autoritário, reivindicativo e prepotente.
Ao sentimento de culpa e ao impulso de compensação junta-se também o desejo de
descansarem, gozando a liberdade do pouco do tempo que ainda lhes resta. Querem pô-
lo rapidamente na cama sem perderem muito tempo a resolver problemas. Desistem,
portanto, de o fazer “no aqui e agora”, cedendo e permitindo que as suas exigências se
cumpram, muitas vezes imediatamente. E assim ela vai crescendo alegremente num
mundo irreal, na ignorância do que é a frustração. Quando chega ao mundo real, em que
“juntamente com as coisas boas, toda a gente tem frustrações”, o embate é violento.
Aprender a frustração. Ensinar os nossos filhos a lidarem com o facto de lhes ser
negadas todas as suas exigências passa por nós, pais, aprendermos, logo na primeira
fase da vida dos bebés, a não aceder aos seus mais ínfimos desejos. “Não sou apologista
de deixar um bebé chorar muito tempo”, diz a pedopsiquiatra, mas apenas alguns
minutos, o suficiente para que “tente consolar-se a si próprio”. E os bebés têm essa
capacidade de se consolarem em doses progressivas, à medida que se vão
desenvolvendo, através das várias etapas de crescimento. “Mas se os pais não lhe
deixam fazer essa experimentação depois é muito mais difícil fazê-lo, porque não sabem
entreter-se a si próprios”. Podendo parecer irrelevante, a verdade é que “pouco a pouco
vão sendo criadas condições para que a criança não assuma a sua frustração”. O que se
agrava pela vida fora, começando pela vida escolar, em que obrigatoriamente terá de a
desenvolver. Terá que se sentar e manter quieto numa secretária, de obedecer á
professora, de fazer trabalho na escola e em casa. Quando em casa tem um significativo
estatuto de poder “a adaptação à primeira classe é muito difícil”. Por outro lado, as
crianças que não sabem distrair-se nem brincar sozinhas, na falta de computadores e
televisão têm tendência a sentirem-se facilmente entediadas e a “pendurarem-se” nos
adultos, exigindo-lhes atenção constante e a resolução de todos os seus problemas. A
criança tirana apodera-se de todo o espaço familiar, decide o tempo livre dos pais, é ela
que comenda as operações sem tolerar oposição.
Destaques:
A criança vê, desde a mais tenra idade, todos os seus desejos e vontades serem
imediatamente atendidos por pais culpados, infinitamente solícitos e pacientes, que a
procuram compensar a todo o custo.