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acomentem o sujeito. Por outro lado, apesar desta prática isoladamente não ser algo nosso no
registro histórico, debruçamo-nos por buscar ler e escutar o que tal fenômeno pode comportar
em si acerca do sofrimento psíquico. Quando nos referimos à automutilação, está em pauta
pessoas que machucam seu próprio corpo de diversas formas, como cortes, queimaduras, auto
espancamento etc. (ARAÚJO; CHATELARD; CARVALHO; VIANA, 2016).
A automutilação grave inclui atos drásticos como remoção dos olhos, castração e
amputação de membros, que são associados à psicose e intoxicação. Muitos desses casos
possuem significados religiosos ou sexuais e alguns sujeitos relatam que são direcionados por
Deus a se mutilarem como punição por pecados sexuais. Em seu livro Bodies under siege
(sem tradução para o português), Favazza (1987/1996) verificou que esses automutiladores
sentem pouca dor na hora do ato e pouco/nenhum arrependimento posterior. É como se seu
ato de automutilar fosse capaz de, de alguma forma, resolver um conflito interior (ARAÚJO;
CHATELARD; CARVALHO; VIANA, 2016).
Os primeiros casos de automutilação a serem documentados a partir da metade do
século XIX nos Estados Unidos, eram muito severos causados por pacientes psicóticos, que
apresentavam quadros isolados de automutilação extrema – normalmente provocado por
alucinações ou ilusões de fundo religioso (ARAÚJO; CHATELARD; CARVALHO; VIANA,
2016).
Entre a metade e o final do século XIX, também foram registrados vários casos de
pacientes que praticavam automutilação, por sua vez causados por mulheres diagnosticadas
como histéricas. Em muitos casos as pacientes furavam as suas próprias peles com agulhas.
“Uma ‘garota agulha’, foi um caso que ficou conhecido na época, onde uma mulher obteve
217 agulhas extraídas de seu corpo num período de 18 meses. (Strong, 1998, p. 30).
Segundo Turner (2002), o primeiro artigo sobre automutilação publicado na literatura
médica, em 1846, foi um relato de caso de uma viúva bipolar de 48 anos que removeu seus
próprios olhos. Ela cometeu o ato porque sentia que seus olhos a levavam a desejar sujeitos do
sexo masculino e, consequentemente, ao pecado (ARAÚJO; CHATELARD; CARVALHO;
VIANA, 2016).
Para estudar a automutilação na visão psicanalítica é necessário entendermos o
conceito entre limite e somático, conceituado por Freud em 1915 no texto Pulsão e seus
Destinos (confirmar) Esse conceito define que pulsão é uma força originada no interior do
organismo, cujo objetivo é uma satisfação da qual o sujeito não pode escapar. O corpo é
habitado pelas pulsões, sendo um representante psíquico das excitações do sujeito, tendo que,
por isso, produzir um trabalho psíquico para lidar com as excitações que produzidas no
interior do corpo (Bizri, 2015).
Partindo desse princípio, surge uma grande incompreensão acerca da razão de uma
pessoa se automutilar, ema vez que, se contradiz fortemente com a pulsão primária dos seres
humanos, que é a evitação da dor e a obtenção do prazer (princípio do prazer). A
automutilação é uma prática que parece ser inconcebível para a maioria das pessoas, pois
violentar o próprio corpo, e causar uma aparente dor e desprazer, provoca grande desconforto,
principalmente para amigos e familiares do sujeito que pratica o ato (ARAÚJO;
CHATELARD; CARVALHO; VIANA, 2016).
Neste sentido, Freud (1929) em sua obra O Problema Econômico Do Masoquismo,
nos faz questionar o ponto de vista econômico, pois se o aparelho psíquico está orientado pela
obtenção do prazer e pela evitação do desprazer, o sofrimento como objetivo seria
incompreensível. Entretanto, segundo o mesmo autor não se pode simplesmente medir ou
quantificar o prazer e o desprazer apenas pelo aumento ou diminuição de uma quantidade
presente no aparelho. A isso devem ser igualmente incluídas características qualitativas
presentes na relação entre o princípio de prazer e as pulsões de vida e morte, o que é
claramente observável no ato da escarificação corporal (Bizri, 2015)
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sujeitos, utilizado como recurso para aliviar corporalmente um sofrimento intenso não
passível de ser processado psiquicamente (DEMANTOVA, 2017).
A maioria dos estudos sobre essa temática mostra um aumento crescente no número de
adolescentes que se escarificam. Barrault (2005, op. cit.) atesta que 90% dos indivíduos que se
escarificam iniciam essa prática na adolescência, por volta dos 14 anos, com aumento até os
20 anos., Garel (2008, op. cit.), por sua vez, menciona o estudo canadense de Nixon de 2008,
com dados que confirmam o incremento desse tipo de ato em adolescentes: 17% da população
adolescente entrevistada se automutilava, sendo que destes, 80% eram meninas. Nesse estudo,
a conduta automutilatória aparece associada a sintomas de ansiedade, de depressão e de
controle da impulsividade (DEMANTOVA, 2017).
A questão do ato se situa no núcleo da problemática da adolescência, sendo a
convocação do registro do agir uma modalidade de defesa frente à experiência de passividade
ante as transformações corporais e as perdas vivenciadas nessa passagem da infância à vida
adulta. Segundo Barrault (2005, op. cit.), o recurso ao ato na adolescência pode ser entendido
como tentativa de resposta aos paradoxos característicos dessa travessia, vivenciados pelo
sujeito como impasses: entre o mundo infantil e o da idade adulta, entre dependência e
independência, entre os movimentos pulsionais libidinais e agressivos e suas capacidades de
elaboração. Ou também impasse de comunicação com um meio percebido, certas vezes, como
estranho e hostil (DEMANTOVA, 2017).
Objetivos:
GERAL
ESPECÍFICOS
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Referências
MENNINGER, K. (1966). Man against himself. New York, NY: Harcourt Brace Jovanovich
Publishers. (Trabalho original publicado em 1938)
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (2008). Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID-10. Recuperado de http://bit. ly/2fZ7tji.
POMMEREAU, X. (2006) Les violences cutanées auto-infligées à l'adolescence. Enfances &
Psy, 32 (3), p. 58-71
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