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Junguiana

v.36-1, p.19-26

Reflexões sobre a prática da supervisão na


formação profissional:
uma perspectiva junguiana

Elizabeth Christina Cotta Mello*


Maddi Damião Jr.**

Resumo
Este ensaio pretende apresentar uma reflexão
inicial a propósito da prática da supervisão, seu Palavras-chave
papel na formação profissional e da especificidade Supervisão,
que possui na formação clínica, a partir do horizon- Formação
profissional,
te da teoria junguiana. A supervisão é uma das ativ-
Psicologia
idades básicas de integração entre teoria e prática.
analítica,
Entendemos que a supervisão seja fundamental Psicologia
para a formação de uma analista junguiano e pre- clínica.
cisamos refletir sobre suas especificidades, pois
ela insere um dado que é eminentemente qualita-
tivo na formação e no ensino da psicologia jungui-
ana, seja pela singularidade da compreensão e da
síntese produzida pelo supervisionando, seja pela
referência a um terceiro, à relação terapêutica ou
ao campo de atuação que se encontram presentes
no processo de ensino-aprendizagem na forma
de relato. Por outro lado, há questões que são le-
vantadas quanto à prática do supervisor, como os
critérios de avaliação do supervisionando e a eficá-
cia do processo de supervisão. ■

* Psicóloga, Arte-Educadora e Arteterapeuta. Pós-doutora em Ciências – CBPF - MCT, Doutora em Psicologia - UFRJ, Membro analista da
Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica – RJ.
Email: <elcotta@hotmail.com>
** Doutor em psicologia – UFRJ, Professor adjunto da Universidade Federal Fluminense, Psicólogo; Pós-doutor em Psicologia Médica
– Unicamp, Membro analista da Sociedade. Brasileira de Psicologia Analítica – RJ.
Email: <maddidamian@gmail.com>

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Reflexões sobre a prática da supervisão na formação profissional:


uma perspectiva junguiana

Este trabalho pretende ser uma reflexão inicial seus consultórios, em especial para quem não
sobre a supervisão na perspectiva da teoria jun- participa de instituições de formação e/ou de en-
guiana, sua importância e as características sin- sino como a SBPA e as universidades. Assim, é
gulares que surgem diante da transmissão do co- importante submetermos o nosso trabalho a uma
nhecimento de uma prática que se dá a partir da avaliação e uma transformação contínuas, pois
interação interpessoal. Constitui-se, assim, como acreditamos serem necessárias como formas de
uma tentativa de pensar e dialogar a partir da ex- aprendizagem e atualização da atividade de su-
periência de supervisor, seja como analistas da pervisão. Essa exposição da supervisão muitas
Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, seja vezes somente encontra eco nos supervisionan-
como professores no ensino de graduação. En- dos. Faz-se, para nós, necessária a abertura de
tendemos a supervisão como um dos elementos um espaço onde todos possamos trocar experiên-
fundamentais para a formação do futuro profis- cias e integrá-las, contextualizar a prática e ser-
sional, seja pela obrigatoriedade do estágio para mos confrontados pelo olhar do outro, tema tão
a obtenção do título de psicólogo, por exemplo, caro para a psicologia junguiana, e torná-la mais
ou do futuro clínico, a supervisão não se restringe humana, mais próxima da experiência.
a uma área de atuação apenas, mas é a modali- Como entendemos em uma perspectiva feno-
dade de ensino-aprendizagem vivencial e teórica menológica1, a situação clínica requer tanto in-
que se apoia no trabalho a partir de problemas vestigação científica e estudo teórico, e não deve
postos pela formação do psicólogo. Na prática ser uma atividade desordenada e sem propósito,
clínica, se situa como fundamento para a ativi- precisamos ter ciência dos nossos atos, assim
dade de integração da teoria e prática, seja em como possuir instrumentos adequados de atu-
instituições em geral, na prática privada, como na ação, tanto epistemológicos, quanto técnicos.
saúde mental etc. Porém a nossa perspectiva será Por outro lado, se fundamenta na própria expe-
orientada pela teoria junguiana, dado que somos riência: faz-se necessário integrar a ciência com
analistas formados por instituição reconhecida a habilidade, ou seja, a sensibilidade e a expe-
internacionalmente de formação e professores riência que, ao mesmo tempo em que são frutos
de prática clínica, tanto em cursos de graduação do tempo, são, também, atributos indissociáveis
quanto pós-graduação. Atualmente estamos na da personalidade do terapeuta. A habilidade não
Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica do é competência técnica, mas existencial, ou seja,
Rio de Janeiro (SBPA-RJ) bastante envolvidos com disponibilidade interna e contato com sua pró-
a supervisão de grupos da clínica de atendimen- pria intimidade que é demandado ao terapeuta.
to, bem como da formação, e temos, então, nos Ao discutir as questões da prática da super-
ocupado e “pre-ocupado” com esse tema. visão, deve-se levar em consideração estes dois
O diálogo que se inicia visa a troca de expe- fatores, a supervisão como mecanismo de instru-
riência e estabelecer um processo de reflexão e ção, transmissão de um saber técnico e metodo-
posterior discussão, para não permanecer em lógico (baseado nos fundamentos da psicologia
um solilóquio ou monólogo em que apenas se junguiana, no caso), e como formação, isto é, um
olhe para a prática da supervisão a partir de um espaço para que o futuro terapeuta entre em con-
referencial “solipsista”. Como sabemos, esse é 1
Ver Jaspers (1985), ao se referir à prática da psicopatologia
um risco constante do trabalho de um clínico em clínica fenomenológica.

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tato consigo mesmo, com suas dificuldades, con- Pode-se fazer referência, aqui, a outro aspec-
frontos, expectativas, limitações, singularidades to a ser vivenciado na supervisão como espaço
etc. A partir deste momento, a supervisão será de formação, outro ponto que faz parte do que
o espaço de “cuidar do ato de cuidar”, se apro- se espera de uma terapia junguiana, a atenção
ximando, poder-se-ia dizer, de uma “terapia” da minuciosa sobre o próprio terapeuta, o que pode
prática terapêutica. Esta teria como objetivo pri- ser entendido como uma síntese de tudo que será
meiro fazer com que o futuro terapeuta aprenda exposto: a aceitação e integração das feridas do
a se ver no ato de cuidar, a se sentir confortável próprio terapeuta. É uma imagem bastante familiar
no lugar que ocupa, a estar atento a si e ao clien- dos junguianos a divindade grega Quiron, entidade
te, mas, principalmente, a estar aberto, atento e meio cavalo meio humana, divindade teriomórfica,
receptivo para o que se manifesta. Desta forma, representada pelo Centauro. Quiron, na Grécia An-
ele adquirirá a confiança necessária para aceitar tiga, símbolo da divindade tutelar da medicina,
o outro e a si mesmo, aceitar as suas dificulda- assim como Asclépios, personagem humano, era o
des e saber também calar diante do desconhe- deus da cura, que aprendera as artes de curar devi-
cido que se posta diante de si. Estamos falando do à ferida incurável da qual padecia. Na tentativa
de um espaço maiêutico, em uma perspectiva de se curar aprendeu sobre todos os métodos e te-
socrática, que traz à luz o que está em potência, rapêuticas utilizadas pela medicina, tanto profana
mas ainda não é uma consciência mais ampla, quanto sagrada, com isto, começaram os humanos
já que essa se completa com a ação e trabalho a se aproximarem dele e a solicitarem o seu auxí-
emocional e com as necessárias transformações lio, o qual foi dado. Com estes poucos elementos,
pessoais. Estamos diante de etapas ou dinamis- vislumbramos uma condição necessária a todos
mos da clínica, como Jung aborda em “Prática de os terapeutas, qual seja, aceitar suas feridas, re-
Psicoterapia” (1981) ou também em Von Franz conhecê-las e não as ocultar de si próprios. É o
em “Psicoterapia” (1999) com os quatro modelos tema sobre as características e buscas do que é o
da relação terapêutica e transferência, ou dessa ser um terapeuta ou analista que aqui é colocado,
complexidade de olhares como descreve Jung em e é um tema para trabalhos futuros. A supervisão
“Tipos Psicológicos” (2017a). No livro “Ab-reação, surge como um espaço de formação que deveria
análise dos sonhos e transferência”, Jung (1987) proporcionar este contato com as feridas dos su-
retoma a ideia da necessidade de lidarmos com pervisionandos, sem com que isto faça que ela se
os aspectos intelectuais, emocionais de nossa torne uma terapia de grupo ou individual. E, nesse
complexa atividade e sua arte. O tratamento, em momento, se constitui uma ponte para poder cons-
um momento de “morte simbólica” e desorienta- cientizar a relevância para um terapeuta entrar em
ção da entrada no inconsciente, por exemplo, contato consigo próprio de forma mais profunda,
através da terapia: lembremos que muitos estu-
só é possível através de uma abordagem dantes em nossa área de atendimento clínico não
por seu a vez plástica e simbólica, oriun- a fazem e não há uma regra nas graduações de fu-
da da vivência de conteúdos inconscien- turos terapeutas que, muitas vezes, não tem a cla-
tes. Não deve, portanto, penetrar demais reza sobre essa necessidade. Sabemos que terapia
no campo da abstração intelectual; por envolve várias etapas, e poderíamos dizer estilos,
motivos práticos, convém que permane- e o livro “Prática de psicoterapia” (JUNG, 1981), e
ça no âmbito do mitologema tradicional os neo-junguianos também nos apontam sempre.
que já provou sua natureza abrangente”. O conceito que utilizamos neste artigo é o do pró-
[Como uma] inundação no Nilo que au- prio Jung (1981). A terapia propriamente junguiana
menta a fertilidade do solo (JUNG, 1987, é observada em uma carta de Jung, “O interesse
p. 135, parágrafos 478–479). principal de meu trabalho”. Escreve ele:

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não está relacionado com o tratamento nio pelo poder do supervisor. Isto acarreta uma
das neuroses e, sim, com a abordagem do série de problemas que veremos, mais adiante.
numinoso. Mas o fato é que a abordagem Diante desta atitude, espera-se que o supervisor
do numinoso é a verdadeira terapia e, na mostre os caminhos a serem seguidos assim
medida em que alcançamos as experiên- como o manejo da situação com a qual se lida.
cias numinosas, somos libertados da mal- Por outro lado, esta passividade induz no super-
dição da patologia. A análise junguiana. visor a um excesso de compreensão, qual seja,
Se não for possível estabelecer um rela- a atitude compensatória de colocar-se, de fato,
cionamento com o numinoso, nenhuma no lugar de orientador, e o conhecimento do que
cura é possível. O máximo que podemos se passa com a situação clínica. O excesso de
esperar é uma melhora no ajustamento compreensão surge como forma compensatória
social (JUNG2, 1945, apud VON FRANZ, ao receio do supervisor sair do lugar que ocupa
1999, p. 199). como autoridade e detentor do saber, lugar este
que muitas vezes é colocado pelos supervisio-
Dentro dessa perspectiva, acreditamos que, nandos ou pela própria situação institucional
para os terapeutas, não podemos pensar em que ocupa.
uma adaptação ou ajustamento, ou ainda que Vale lembrar que, mesmo que o supervisio-
o objetivo seja se livrarem dos aspectos mais nando faça críticas e objeções ao trabalho do
neuróticos, mesmo que isso seja uma opção da supervisor, muitas vezes é implícita ou indire-
prática psicoterápica em geral. Estes necessitam ta, isto devido à relação de poder que muitas
encontrar o seu caminho, sua forma de atendi- vezes se estabelece nas instituições, refletindo
mento e ocupar-se de seu processo para atendi- como um mecanismo de controle sobre o futuro
mento de outras pessoas. terapeuta. Este pode não conseguir sair dessa
Vislumbramos dois riscos iniciais aos quais posição hierarquizada, seja devido à postura
todo supervisor se encontra submetido, iden- do supervisor ou à característica da atitude do
tificados neste momento como a cristalização próprio supervisionando. Poderíamos justificar
de um modelo, a fixação em um método único esta atitude como uma dinâmica constelada ne-
cessariamente a partir da relação Puer e Senex,
de olhar para as situações clínicas, assim como
na qual o supervisor se colocaria na posição de
a cristalização em aspectos teóricos não ques-
“velho sábio” dificultando ou impedindo qual-
tionados, isto acarretaria problemas para o en-
quer crítica ao seu trabalho, isto em função da
sino devido à perda da flexibilidade e à rigidez
dinâmica constelada. Assim, nem sempre irá ter
da escuta que não disponibilizaria espaço para
coragem, ou interesse, em se expor ou se colocar
o aluno se fazer ouvido em sua singularidade,
em condições diante do supervisor para poder
assim como para experimentar lidar com a te-
avaliar sua situação com clareza. Atitude tanto
oria como uma ferramenta de forma criativa e
mais intensificada quanto o supervisor não levar
lúdica. Outro risco seria, diante da posição de
em consideração a relatividade de sua posição,
autoridade exercida pelo supervisor, das fanta-
ou seja, a possibilidade de se questionar sobre a
sias que se encontram mobilizadas na relação
possibilidade de se fazer algo que seja nomeado
entre supervisionando e supervisor, produzir-se
como “supervisão”.
uma situação que, apesar de inevitável, pode
Como os seus pares, a situação é distinta,
tornar-se prejudicial para o processo de ensino-
pois, como não há, necessariamente, uma rela-
-aprendizagem, qual seja, a passividade diante
ção hierarquizada, a possibilidade de ser con-
da figura de autoridade e a submissão ao fascí-
frontado e questionado em sua prática e posicio-
2
JUNG, C. G. Carta a P. W. Martin, 20 de agosto de 1945. namento se torna mais corrente. Evita-se discutir

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a prática da supervisão entre os colegas, muitas que o terapeuta iniciante deveria levar seu traba-
vezes, nesse lugar complexo, múltiplo e delica- lho para algum colega mais experiente e discutir
do, alegando-se “idiossincrasias” necessárias à sobre os aspectos de sua atuação, assim como o
arte, então torna-se impossível discutir sobre a processo de cliente.
supervisão a partir de uma perspectiva externa a
do próprio supervisor. Muito mais forte do que suas frágeis pa-
A mobilização das “transferências” e “contra- lavras é a coisa que você é. O paciente é
transferências” são distintas, no caso do super- impregnado pelo que você é – pelo seu ser
visor-supervisionando ou supervisor-supervisor. real – e presta pouca atenção ao que você
Porém, para poder identificarmos a nossa sombra diz. O analista tem problemas não resolvi-
com clareza, é necessário estar no mesmo nível dos porque está vivo – a vida é um proble-
de diálogo que nosso interlocutor, ou estar dispo- ma diário. Se assim não fosse, ele estaria
nível, por exemplo, ouvirmos as queixas de nos- morto. No mais breve prazo, cada um co-
sos estagiários ou supervisionandos em geral. O mete seus tropeços. Se você aceita o seu
diálogo com os pares é movido pela necessidade erro da maneira certa, essa é a maneira
de se tocar continuamente na sombra do super- como a análise se desenvolve. O analista
visor em seus diversos modos de manifestação, deve conhecer seus complexos, visto que
integrando o novo na experiência da supervisão. eles serão abordados durante o trabalho
Sombra aqui é entendida como limites e di- com o paciente. Quando sonho com um
ficuldades, cristalização no poder, parcialidade paciente, isso é usualmente um sinal de
e dificuldade de aceitação do outro, mas, tam- que um dos meus complexos foi atingido
bém, como possibilidade e criatividade. (MCGUIRRE; HULL, 1982, 322–323).
Através de sua integração, a transformação e a
integração do outro vão se tornando possíveis, isto Essa fala de Jung surge em decorrência de
quer dizer que precisamos sair do lugar que ocupa- dois fatores. Primeiro por considerar que a aná-
mos continuamente em nossa prática, para poder lise envolve duas pessoas em sua totalidade.
sermos questionados sobre nossa competência, Toda intervenção, interpretação, ou mesmo o
expor nossos “casos” aos olhares dos outros para estabelecimento de vínculo terapêutico se en-
que nos deparemos conosco e com nossos limites, contram influenciados pela dinâmica psíquica
assim como descubramos novas possibilidades do terapeuta, assim como o terapeuta sofre-
até então ocultas aos nossos olhares. rá “interferência” de seu cliente, em menor ou
Como sabemos, muito pouco se escreve e se maior grau. Segundo, com o objetivo de evitar
discute a respeito deste assunto. Na literatura excessos, isto é, a fim de preservar a singulari-
junguiana há apenas um livro sobre a prática da dade, ou o mistério, que é cada indivíduo, que
supervisão (KUGLER, 1995), coletânea de artigos muitas vezes é esquecida em função do analista
da Journal of Analytical Psychology. Porém, todos na teoria, seu aprisionamento em algum mode-
concordam que seja necessário para a formação lo adquirido, seja por insegurança ou rigidez e,
do futuro analista, seja durante o curso de gra- também, pela necessidade de “acertar”, seja de
duação, seja nas especializações realizadas por fazer o “melhor possível”, outras vezes por uma
ele futuramente. necessidade de afirmação de seu trabalho e de
Jung sempre ressaltou a importância do “con- si próprio diante do olhar de outros, seus cole-
trole de caso” ou da “análise didática” (FOR- gas e o próprio supervisor, corre-se o risco de
DHAM3, ano apud KUGLER, 1995), orientando tentar a todo custo seguir um modelo ou tentar
controlar todas as situações para que não haja
3
FORDHAM, M. New development in analytical psychology.
London: Routledge & Kegan Paul, 1957 p. 41-50. “erros”. Isto é muito comum, principalmente em

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terapeutas iniciantes que veem como critério de duplo diante de uma supervisão, como terapeuta
“falha” a perda do cliente, devendo, assim, a e como supervisor. Inferimos, segundo o expos-
todo custo, preservar o cliente e, por outro lado, to, que, acima de tudo, duas qualidades devem
se sentindo extremamente “magoado” ou frus- estar presentes: a capacidade de relação com
trado, quando do “abandono” do cliente da tera- o outro, eros, ou o afeto catalizador (SILVEIRA,
pia. Um dos motivos mais comuns é considerar 2015), assim como a capacidade do analista ou
tal acontecimento como um “fracasso” pessoal, terapeuta em ser afetado, ou confrontado, conti-
em função das muitas expectativas diante da
nuamente pelo outro. O ensino e aprendizagem
aprendizagem e da prática que se inicia.
destas condições permitirão que o processo de
Podemos sintetizar o que foi aqui apresenta-
formação se dê numa via de mão dupla, na qual
do e considerar que a supervisão envolve uma
supervisor e supervisionando aprendam con-
série de questões, desafios e algumas dificul-
tinuamente com o outro e com o grupo, em um
dades inerentes ao complexo trabalho, tornan-
processo dialógico e dialético em direção à auto-
do-se, assim, importante sua problematização.
Jung (2017b), em “Desenvolvimento da perso- nomia e capacidade de responder às demandas
nalidade”, aponta que o professor e o terapeuta do inconsciente em seu contínuo fluxo criativo. ■
precisariam desenvolver a personalidade e, des-
sa forma, estamos diante desse grande desafio Recebido em: 25/02/2018 Revisão: 17/05/2018

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Abstract

Reflections on the practice of supervision in vocational training:


a junguian perspective
This essay intends to present an initial reflec- ing of Jungian psychology, either because of the
tion on the practice of supervision, its role in the singularity of the comprehension and synthesis
professional training and its specificity in the clin- produced by the supervised person, or because of
ical training, from the standpoint of the Jungian the reference to a third party, the therapeutic rela-
theory. Supervision is one of the basic activities of tionship or field of action, which are present in the
integration between theory and practice. We un- teaching-learning process in the form of story. On
derstand that supervision is fundamental to the the other hand, some issues are raised regarding
formation of a Jungian analyst and we need to re- the practice of the supervisor, including the eval-
flect on its specificities because it inserts data that uation criteria of the supervised person and the
is eminently qualitative in the formation and teach- effectiveness of the supervision process. ■

Keywords: supervision, professional training, analytical psychology, clinical psychology

Resumen

Reflexiones sobre la práctica de la supervisión en la formación profesional:


una perspectiva junguiana
Este ensayo pretende presentar una reflex- vo en la formación y en la enseñanza de la psi-
ión inicial a propósito de la práctica de la super- cología Junguiana, sea por la singularidad de
visión, su papel en la formación profesional y la comprensión y de la síntesis producida por la
especificidad que posee en la formación clínica, supervisión, sea por la referencia a un tercero,
a partir del horizonte de la teoría Junguiana. La la relación terapéutica o el campo de actuación,
supervisión es una de las actividades básicas de que se encuentran presentes en el proceso de
integración entre teoría y práctica. Entendemos enseñanza-aprendizaje en la forma de relato.
que la supervisión es fundamental para la for- Por otro lado hay cuestiones que se plantean en
mación de una analista Junguiano y necesita- cuanto a la práctica del supervisor, una de ellas,
mos reflexionar sobre sus especificidades, pues los criterios de evaluación del supervisor y la efi-
inserta un dato que es eminentemente cualitati- cacia del proceso de supervisión. ■

Palabras clave: supervisión, formación profesional, psicología analítica, psicología clínica

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Referências
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