Na palestra sobre Violência, Vigilância e Prisões: um enfoque multidisciplinar, durante
o IV Colóquio de Ética e Filosofia Política da Unicap, que ocorreu às 19h no auditório Dom Helder Câmara, os participantes discorreram sobre seus estudos a partir de perspectiva histórica e jurídica. A parceria do Instituto Humanitas Unicap com o curso de filosofia, trouxe a tona temas importantes como o disciplinamento do corpo, a privatização do sistema carcerário, o controle da violência e ressocialização dos presos. Participaram do evento a professora do curso de Direito, Karina Vasconcelos e o professor do curso de filosofia Tiago Cesar. Karina Vasconcelos, ao dar início a palestra, trouxe uma abordagem teórica falando de autores como Michel Foucault e Massimo Pavarine. Ao discorrer sobre a lógica das prisões ela destacou haver interesses capitalistas relacionados a oferta e demanda de mão de obra. “Tendo como referência o século XIX, quando se precisava de mãos de obra se desencarcerava, quando havia um excesso de mão de obra, aumentava o número de prisões. As pessoas são presas porque há utilidade nas prisões, um adestramento do corpo com o modelo francês Panóptico.”, ressaltou Karina Vasconcelos. Para a professora, no cárcere atual, há um processo hegemônico, um aumento do controle social e uma segregação racial. Na ocasião ela citou a emenda 13 da Constituição dos EUA que aboliu a escravidão, mas criou um sistema de encarceramento privatista e segregador racial. “Antes o estado se preocupava com os conflitos do proletariado e da indústria. Agora o estado se preocupa com o modelo econômico do mercado financeiro. Então o que gera dinheiro para experiência carcerária é a circulação de pessoas que se tornam um número virtuante”, enfatizou Karina Vasconcelos. Na sua fala o professor Tiago Cesar destacou que o Brasil possui a quarta maior população carcerária do mundo com mais de 600 mil presos. Ao comentar sobre sua pesquisa que abordou o encarceramento do século XIX, Tiago contou que a Constituição de 1824 determinava que, naquela época, o preso poderia entrar em contato com a autoridade por meio de petições, requerimento e cartas individuais. “As autoridades respondiam e despachavam os requerimentos, as autoridades abriam algumas exceções às determinações da Norma Penal. Atualmente há um distanciamento entre as autoridades e os presos,” contou.