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216 217 A IMAGINAGAO 231 2. Imaginacio e invengdo. Nio ha razéio para reduzir téda invencio a uma combinagéo ou sistematizagio de ima- gens, porque existem invengdes puramente légicas ¢ racionais, Os sistemas filoséficos, em particular, sio outros tantos tipos de construgées inteligtveis, que As vézes podem dever muito A jmaginag&o, mas que, como tais, nfo sao de ordem imaginativa. Todavia, é antes as criagdes imaginativas que correntemente se reserva o nome de inveng6es. Estas criagées podem concer- nir quer ao dominio das artes, quer ao das ciéncias, quer ao da vida pratica. A vida artistica é 0 dominio por exceléncia da criag&o ima- ginativa, das sinteses estéticas ou combinagdes de formas, de céres, de sons, etc., em que se desenvolvem a inspiragio e o gé- nio pessoais do artista. A vida cienttfica é, em grande parte, questiio de imaginagao poderosa, ja que se trata de formar hi- péteses, de inventar experimentacées e construir teorias que sio essencialmente obras de imaginagao. Enfim, na vida prdtica, nfo cessa a imaginagio de formar novas sinteses, seja para a antecipag&o do futuro, tal como se quereria fazé-lo ou tal como se deve prevé-lo, seja para a solugéo dos multiplos pro- plemas que a vida cada dia suscita, Os progressos da técnica sao propriamente, em todas as ordens, produtos da imaginagao eriadora. Nesses diversos dominios, a invengio depende menos es- tritamente, e as vézes mesmo absolutamente nfo depende, dos. fatéres l6gicos que regem a invengiio racional. & por isto que ‘a8 mesmas raz0es que nos faziam excluir da associagfio as or- ganizagées puramente racionais (209) levam-nos aqui a reser- ‘yar o nome de invengio as cringdes da imaginacao. § 2. FarOres DA INVENGAO Podem-se distinguir trés ordens de fatéres: os fatéres fi- siolégicos, psicolégicos e sociais. A. Fatéres fisiolégicos 1. O estado cerebral e o temperamento _ a) Papel do eérebro. J& que a invengéio depende da ima- ginagio, claro é que tudo 0 que favorecer a atividade imagina- ‘33 A matematizacio das cidncias fisico-quimicas (J, 190-192) parece afasté-las das vias da imaginagio. Mas, de uma parte, origens do saber positive (observacho, experimentagio, hipsteses) so imensamente devedoras A tmaginagio; e, doutra parte, mesmo em suas formas mateméticas mais elaboradas, a ciéneia usa de uma simbdlica (éter, corrente elétrica, emisslio, ondulagio, etc.) de natureza nitidamente imaginative. 218 282 PSICOLOGIA tiva poder4, do mesmo passo, favorecer a invengdo. Por outra sabemos (188) que ha que considerar o cérebro como o érgio da imaginagio. Isso explica que certas toxinas ou dro- gas (6pio, Alcool, café, ete.), produzam uma superexcitacao ce- rebral que pareceria favorecer as criagées da imaginaco. * Em realidade, néo parece qué a acao dessas drogas tenha efeitos verdadeiramente favordveis sébre a imaginagio. As extrava- gancias das sinteses que provocam, como 0 estado geral de es- gotamento que acarretam, constituem o que hé de mais oposto & criago, que implica dominio das imagens e lucides, critica. ** Dai por que, a0 contr4rio, a higiene cerebral s6 pode é exer- cer influéncia feliz sébre a imaginagio, O uso de excitantes (alcool, café) sem divida é stil em certos casos, com a con- digdo de que seja moderado. Mas nada wale como 0 método e a ordem no trabalho, a alterndncia prudente dos perlodos de es- forgo e de relaze, ¢ a higiene fisica em geral, Sabe-se que os momentos de maior frescor (a manha, os periodos que seguem © repouso) proporcionam uma atividade mais ordenada, me- nos febril, do que o trabalho noturno e os momentos de estafa. # ilusio preferir, As vézes, ésses momentos febris. A superex- citagfio cerebral que néles se manifesta tem papel meramente acidental na criacéo imaginativa, e freqiientemente esteriliza- Jhe as manifestacdes. Todos os cimos sio calmos, diz GOETHE (Uber allen Gipfeln, ist Ruhe). b) © temperamento. As vézes também se pretendeu que o poder criador da imaginagio estava ligado a certos tempera- mentos, mormente ao temperamento nervoso, e que éle se en- contraria mais amitide em doentes do que em individuos equi- 4 © caso de BAUDELAIRE 6 bem conhecido. Sobre o de Edgar Poe, Emile LAUVRIGRE, em dois livros excelentes (L’étrange vie d’Edgar Pod, Paris, 1934; Le genie morbide d’Edger Po8, Paris, 1935), projetou viva luz. “Vimos ésse homem", escreve LAUVRIGRE nesta ultima obra (pig. 319), “pusear, de sua juventude A sua morte, no orguiho e no éxtase [...] a exaltagio suprema de sua pessoa. Do mesmo modo, em seus contos, vemos téda a sua fantasia, serdficas aparigées ¢ quimeras odiosas, procederem dos delirantes exajeros de sua natureza doentia; os médos, originados numa sensibilidade mérbida, exasperavam-se sob a agio do dplo © do Slcool, até as mais herriveis visdes de suplicios, de entermidades ede mortes.. .”. ‘88 Pode, entretanto, ‘acontecer que essas formas mérbidas da imaginacao sirvam, posteriormente, de materiais ao ertista, & 0 que bem mostra LAUVRIERE a propésito de POE (Le génie morbide, pig: "Poe nie ‘escreveu sob a influéneia direta de seus delirios e da embriaguez, mas a trio, aproveltando as lembrangas mais ou menos recentes déstes estados; ‘bem melhor, tudo o que éle escreveu disse modo, posteriormente, multas @ muitas vézes refundiu-o nas suas ditimas edigées, de tal modo que se podem e se devem considerar suas obras como 0 produto lentamente elabora- do de, tapirestes mais ou menos mérbidas, e de uma arte perfeitamente ida”. ee e © 219 s A IMAGINAGAO 233. jibrados, Reconhece-se aqui a teoria (LomBroso) que faz do génio o companheiro da neurose, da histeria ou da loucura. A primeira vista, a experiéncia parece confirmar bastan- te essas observacées. Muitos dos grandes criadores, artistas, ou escritores, padeceram de doengas fisicas ou de psiconeuro- ges mais ou menos graves, e alguns parece que carregam, desde o bergo, um temperamento psicopatico. Tais foram Mozart, Beethoven, Schubert, Chopin, Schumann, Byron, Poe, Baude- laire, Musset, Maupassant, Tolstoi, Rainer-Maria Rilke, Pas- cal, Comte, Nietzsche, Kierkegaard, ete, Entretanto, aqui, igualmente, é preciso precatar-se do facil sofisma: post hoe, ergo propter hoc. Se é verdade que a doenga fisica e¢ certas anomalias psiquicas, congénitas ou adquiridas, freqiientemen- te se encontram nos grandes artistas, nem por isso logo se deve coneluir que 0 génio é produto da doenga ou da neurose. Dever- se-d, antes, pensar, ou que essas enfermidades fisicas ou psiqui- cas resultam do estado de extrema tensdo cerebral e da estafa intectual e fisica provocadas pela atividade artistica ou por ela agravadas, ** ou entio que certos estados mérbidos, fisicos ou psiquicos, criam acidentalmente condigées favordveis a pro- dugéo artistiea. *” 2. Raga e hereditariedade. O recurso @ raga e & here- ditariedade para explicar o poder criador nfo passa de uma forma da explicagao fisiolégica. Apenas leva mais adiante, visto que faz intervirem fatéres piolégicos. a) A raga. Aplicado & espécie humana, o conceito de raga torna-se muito obscuro. O que é certo, em todo caso, & que nao hé raga pwra. Desde seu aparecimento, os homens nao cessaram de se misturar. Tudo o que se pode admitir é a exis- téncia de certos subgrupos bastante homogéneos que represen- tam “ragas estabilizadas” (a “raga” judia, por exemplo), no sentido de que a mistura humana remota a tempos muito anti- gos. Ora, a experiéncia parece mostrar que essas ragas estabi- lizadas sfio as menos aptas A criagio imaginativa; 20 passo que os agrupamentos humanos safdos de misturas recentes, bem como os individuos nascidos de pais provenientes de grupos étnicos diferentes, aparecem como menos perfeitos, menos 86 ftsre caso & freqilentissimo: Mozart, Beethoven, Schubert, Chopin claramente se incluem néle, Augusto COMTE assim explicava também, com bastante razio, ao que parece, certos acidentes um pouco humilhantes de sa vida, 31 Em compensagio, haveria que citar os casos, também numerosos, de grandissimos artistas magnificamente equilibrados, tais, por exemplo dominios mui diferentes), Da Vinci, Bossuet, J, 8, Bach, Goethe, Hugo, Renoir, Fauré.

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