ORGANIZADOR
PSICOTERÁPICAS
COMO TRATAR PACIENTES NA VIDA REAL
OCEANO INTEIRO!
912p A prática das intervenções psicoterápicas: como tratar pacientes
na vida real / organizado por Wilson Vieira Melo. -
—Novo Hamburgo : Sinopsys, 2019.
16x23cm; 780p.
ISBN 978-85-9501-118-2
C D U 159.9
PSICOTERAPICAS
COMO TRATAR PACIENTES NA VIDA REAL
2019
© Sinopsys Editora e Sistemas Ltda., 2019
A prática das intervenções psicoterápicas —
Como tratar pacientes na vida real
Wilson Vieira Melo (Org.)
Prefácio 1....................................................................................... 19
Bernard Rangé
Prefácio II............................................................................ 23
Mario Francisco Juruena
Apresentação................................................................................ 27
Wilson Vieira Melo
Parte I
AImportânciadoDiagnósticoemPsicoterapia
O Que é Psicoterapia............................................................... 32
Ricardo Wainer
Entrevista Clínica em Saúde Mental......................................... 51
Jairo Vinícius Pinto, Ives Cavalcante Passos,
Maurício Kunz e Márcia Kauer SanfA nna
Parte II
Estratégias eTécnicas Psicoterápicas
Análise Funcional do Comportamento.................................... 84
Maíra Pereira Toscano, Ana Carolina Macchione
e Jan Luiz Leonardi
xvi Sum ário
III Parte
Intervenções emDiferentes Contextos
21 Intervenções Transdiagnósticas em Psicoterapia...... 610
Kátia Alessandra de Souza Caetano
22 Intervenções em Família com Crianças.................................. 647
Débora C. Fava e Mariana Gonçalves Boeckel
23 Intervenções em Estresse nos Diferentes
Estágios Desenvolvimentais................................................... 674
Marilda Emmanuel Novaes Lipp, Valquíria A. Cintra Tricoli
e Márcia Maria Bignotto
24 Intervenções para Redução de Estresse
Baseada em M in d fuln ess ...................................................... 702
Daniela Sopezki
25 Intervenções na Saúde no Período de Hospitalização............ 728
Marisa Marantes Sanchez, Leopoldo Barbosa e Tania Rudnicki
26 Intervenções com Realidade Virtual e o Uso de
Tecnologia em Saúde Mental................................................. 745
Cristiano Nabuco de Abreu, Maria de Fátima Gaspar Vasques,
Maria Olimpia Jabur Saikali e Juliane Verdi Fiaddad da Fonseca
índice 775
Anexos disponíveis em
www.sinopsyseditora.com.br/interpsform
12
Terapia de Aceitação e Compromisso
Fabian Olaz, Paulo Gomes de Sousa-Filho,
Giovanni Kuckartz Pergtier e Wilson Vieira Melo
Sempre que tentamos lutar contra algo que não temos condições de modifi
car, isso implica em sofrimento. Aceitar a realidade não equivale a aprovar ou
concordar com ela. Também não significa passividade, resignação ou acomo
dação. A aceitação é um processo ativo que significa tomar as coisas como
elas são postas. Do mesmo modo, alguns pensamentos não precisam ser re
estruturados e modificados. Se tivermos um problema, é necessário que nos
perguntemos, antes de tudo, se ele tem solução. Se sim, implementam-se es
tratégias efetivas de resolução de problemas para lidar com ele. Se não há
solução, aceitação é a estratégia mais sábia a se utilizar. Outro ponto signifi
cativo é o comprometimento com nossos valores pessoais. Os valores são
como um farol que guia a nossa existência e orienta nossos comportamentos.
Para trabalhar os valores e o processo de aceitação, nada melhor do que uma
terapia que baseia suas intervenções fundamentais em tais princípios.
W.V.M.
dificulta que o paciente tenha uma vida voltada para o que é impor
tante para ele e para a geração de contextos verbais facilitadores de
uma vida orientada a valores.
A tarefa do terapeuta visa gerar contextos em que o paciente
possa vivenciar emoções, sentimentos e lembranças, alguns deles mui
to dolorosos, sem procurar que a ansiedade ou emoções sejam extin
tas, mas com o propósito de treinar o paciente para uma disposição
flexível e aberta a essas experiências (Luoma, Hayes, & Walser, 2017)
e esclarecer o que é importante em sua vida, possibilitando redirecio
nar sua vida para isso (Sandoz, Wilson, & Dufrene, 2011) com o uso
da relação terapêutica como campo de trabalho.
Assim, o objetivo da A C T é gerar contextos verbais que evo
quem comportamentos baseados numa maior tomada de perspectiva
em relação ao mundo interno, um maior conhecimento dos antece-
“dentes e consequências que influenciam no comportamento (maior
sensibilidade para os contextos e funções), e contextos que evoquem
comportamentos guiados pelas funções motivacionais daquilo que é
mais valioso para a pessoa.
O S T R Ê S P ILA R E S DA F L E X IB IL ID A D E P S IC O L Ó G IC A
Momento presente
Valores
Ação
Comprometida
A plicações e técnicas
Caso clínico
C O N C E IT U A Ç Ã O S E G U N D O O S T R Ê S P ILA R E S
Pilar aberto
(p. ex., culpa), as quais Gabriela tenta “escapar” dirigindo toda sua ener
gia e momentos livres frequentando a biblioteca.
De fato, a crença de que devemos modificar, controlar ou supri
mir pensamentos ou sentimentos que são causadores de dor, sofri
mento ou, de forma geral, contraprodutivos está fortemente enraizada
em nossa cultura. Se queremos viver uma vida produtiva e significati
va, devemos estar motivados ou nos livrar de nossa ansiedade, tristeza
ou quaisquer sentimentos ou pensamentos que nos causem descon
forto (Blackledge, 2015).
Nesse sentido, Hayes e colaboradores (2012) enfatizam que não
há pensamentos, sentimentos ou outras experiências privadas que são
falhas ou “erradas”, e distúrbios psicológicos e angústia não são ineren
temente patológicos em si. Pelo contrário, é a forma como os indivíduos
se relacionam com essas experiências privadas por meio da linguagem e
da cognição que é potencialmente prejudicial. Por exemplo, através da
suposição de que essas experiências devem ser controladas ou suprimi
das para reduzir o sofrimento ou através de uma confiança excessiva nas
crenças, regras, medos e julgamentos na regulação do comportamento.
Em contraste com muitos modelos teóricos que procuram modi
ficar, controlar ou suprimir esses eventos privados, a A C T enfatiza a
aceitação como alternativa para a esquiva experiencial, e esta é cultivada
em terapia para contrariar os esforços do paciente no sentido de evitar
as suas experiências privadas difíceis. Importante frisar, no entanto, que
a aceitação não é enquadrada como sendo um fim em si mesma, mas é
desenvolvida e cultivada para permitir mudanças consistentes em valo
res que ocorrem no mundo externo do indivíduo (Cullen, 2008).
Aceitação, como entendida em ACT, é uma habilidade e, como
qualquer outra habilidade, pode ser aprendida. Contrariamente ao
senso comum e sua ênfase na passividade, caracteriza-se por ser uma
ação ativa e intencional da pessoa no sentido de abraçar pensamentos,
sentimentos e sensações físicas, mesmo, e principalmente, aqueles ge
radores de dor e sofrimento. Hayes e colaboradores (1999, p.77) defi
niram aceitação como “uma tomada ativa de um evento ou situação...
abandono de agendas disfuncionais de mudança [dos sintomas] e um
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 345
Terapeuta (T.): Então Gabriela, você está nesse buraco, cavando aqui,
ali, cada vez maisfundo... e o que está acontecendo?
Gabriela (G.): O buraco estáficando cada vez maior e maisfundo né!
T.: Uhum... e você com mais vontade ainda de sairfora dele... então cava
com mais vontade.
G.: Putz... acho que é isso que tenho feito sem perceber. Fico tentando
variações das mesmas coisas várias vezes e só indo cada vez mais fundo
nesse buracão.
T.: Gabriela, vocêfez o que poderia fazer até agora. Você tinha uma pá e
fez o que sefaz com uma pá... cavou. O que eu gostaria de saber é se você
está disposta a largar essa pá e tentar algo diferente.
Esquiva experiencial
A esquiva experiencial é o oposto da aceitação, a experiência vo
luntária de pensamentos, emoções, sensações corporais, à medida que
surgem, sem esforços para evitar ou controlá-los (Hayes et al., 1996).
E um termo geral que engloba tipos mais específicos de esquiva, como
a esquiva cognitiva (p. ex., distrair da preocupação), esquiva emocio
nal (p. ex., tentar suprimir a tristeza) e esquiva comportamental (p.
ex., evitando situações que induzem excitação fisiológica e acompa
nhadas de sensações interoceptivas).
A esquiva experiencial é uma categoria ampla de regulação emo
cional para experiências percebidas como negativas e inclui a) a falta
A Prática d as Intervenções Psicoterápicas 345
Desesperança criativa
Dentre as diversas formas de se abordar a esquiva experiencial e
aumentar a abertura para o trabalho que se seguirá, destaca-se a deses
perança criativa, que é voltada para o enfraquecimento da esquiva ex
periencial do paciente, evidenciando seu caráter problemático, para
que tanto o terapeuta quanto o paciente tenham espaço para o traba
lho terapêutico. A desesperança criativa é parte do trabalho de aceita
ção. As intervenções que a utilizam podem assumir diversas formas,
mas todas envolvem explorar, com abertura e curiosidade, a agenda
do controle emocional. Procura-se criar uma sensação de desesperança
com relação ao apego a essa agenda ou, em outras palavras, confrontar
essa agenda (Harris, 2009).
Uma breve descrição dos passos para o uso da desesperança
criativa ocorre da seguinte maneira: em um primeiro momento, in
vestiga-se as razões da busca de tratamento e coleta-se informações
com relação às percepções do problema por parte do paciente. Dessa
forma, a postura do paciente com relação a pensamentos, sentimen
tos, sensações, imagens mentais e narrativas pessoais desconfortáveis
346 Terapia de Aceitação e Com prom isso
T.: O que você está me dizendo é que não está conseguindo lidar com as
atividades em que se envolveu e que tem se sentido sobrecarregada e se
afastando de coisas que você gostaria de fazer, como estar em um bom
emprego efinalizar seus estudos.
G.: Sim, é isso.
T.: Gabriela, me conta sobre os pensamentos, sentimentos, emoções, sensa
ções que você tem tentado evitar ou se livrar
G.: Então, fico o dia todo pensando que não estou me dedicando o sufi
ciente para conseguir o que quero. Não consigo parar de pensar que as
pessoas não me respeitam porque acham que sou burra.
T.: Existem sentimentos que aparecem com essespensamentos?
G.: Que desastre que eu sou... me sinto culpada... me sinto abandonada.
T.: [um pouco de silêncio, refletindo sobre o que ouviu] Estou me sen
tindo tocado pelo que você me disse. E muito esforço, muita luta.
G.: Sim, e estou cansada dessa luta.
T.: O que você temfeito para lidar com tudo isso?
T.: Então Gabriela, nós acabamos de criar uma lista das diferentes estra
tégias que você tem tentado para conseguir se livrar desses problemas...
[pausa longa para reflexão]... e, no entanto, aqui está você.
G.: Sim, nada funcionou... nada.
T.: Gabriela, e se o que sua experiência está lhe dizendo aqui for real
mente o caso? E se todas essas tentativas não funcionaram simplesmente
porque nãofuncionam?
G.: [olhos se enchem de lágrimas] Então estou perdida? O que eufaço?
T.: Bem, é isso que vamos trabalhar juntos aqui. ACT, a minha aborda
gem, éjustamente sobre uma forma diferente de lidar com esses sentimen
tos epensamentos dolorosos.
Fusão cognitiva
A fusão cognitiva refere-se ao excesso e a tendência inapropria-
da a agir de acordo com o conteúdo literal dos pensamentos e não
como processo contínuo de pensamento (Hayes et al., 2006). Duran
te este processo, um indivíduo torna-se mais guiado por regras e rela
ções verbais, em oposição a ser guiado por outros aspectos do meio
ambiente no momento presente (Hayes et al., 2006). É a dominação
dos próprios produtos internos (sentimentos, pensamentos, sensações
corporais, imagens mentais) sobre o seu comportamento na ausência
de automonitoramento e regulação. Assim, uma pessoa se torna "fu-
sionada" com um pensamento se acredita que este é uma representa
ção literal do mundo. Isso é particularmente problemático quando
contribui para comportamentos que levam um indivíduo para longe
de seus valores, do que considera significativo em sua vida.
O inverso da fusão é a desfusáo cognitiva, que é o processo de
se tornar conscientes de sentimentos difíceis, permitindo que esses
sentimentos estejam presentes e, eventualmente, abraçando-os e acei-
tando-os, reduzindo assim a esquiva experiencial (Cullen, 2008).
A desfusão cognitiva é o processo de dar um passo para trás e
olhar para a linguagem sem deixar que ela influencie o comportamen
to. Este processo envolve o reconhecimento dos pensamentos e emo
ções como eventos privados (palavras, sons, sensações e imagens) que
estão em um estágio constante de mudança. Uma vez que os pensa
548 Terapia de Aceitação e Com prom isso
T.: Gabriela, uma maneira de notar os pensamentos antes que eles passem
despercebidos é rotulá-los como o que são. Isso também pode serfeito com
sentimentos, emoções, sensações corporais, memórias, narrativas pessoais,
imagens mentais e impulsos. Em vez de dizer ou pensar “ninguém vai me
respeitar”, você pode adicionar uma frase e dizer “Pela minha mente está.
passando a ideia de que ninguém vai me respeitar”. Vamos tentar isso.
Considere uma situação que tenha afetado você ultimamente. Concentre-
se nela e observe o pensamento que ocorre ao mesmo tempo. Encontre um
pensamento particularmente impactante e esmiúce-o até a sua essência,
em poucas palavras. Faça isso por uns 30 segundos
G.: Certo, estou tentando. Estou lembrando de algo que tem me deixado
muito chateada.
T.: Agora, coloque toda sua concentração nesse pensamento e tente acredi
tar nelepor 30 segundos. O que acontece?
G.: Me sinto muito mal. Até me deu vontade de chorar.
T.: Agora, reformule em sua mente no sentido de se concentrar que você
está “tendo” o pensamento. Faça isso por mais 30 segundos. A maneira de
dizer isso em sua mente é “Pela minha mente está passando a ideia de
que...”. Observe o que acontece quando você experimenta o seu pensa
mento dessa maneira. Alguma coisa muda?
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 351
Pilar centrado
Apenas notar
A primeira tarefa neste pilar envolve ancorar o paciente na pers
pectiva de observador dos processos internos e sua variabilidade (“Eu”
como processo). Através de exercícios específicos, fortalecemos este “Eu”
permitindo que o paciente observe os processos internos, descrevendo-
os como eles são: pensamentos, emoções, sentimentos e lembranças
(Hayes, Strosahl, & Wilson, 2012). Com o objetivo de promover a fle
xibilidade psicológica a partir deste processo, usamos práticas contem
plativas de mindfulness, bem como práticas não contemplativas, como o
trabalho focado no que acontece no aqui-e-agora da relação terapêutica
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 555
G.: Não posso parar de mepreocupar, estou muito cansada. Minha men
te não para.
T.: Posso notar o difícil que está sendo Gabriela. Neste momento sua
mente está trabalhando também?
G.: Sim!Muito! Ainda quando tento não pensar, ela trabalha e trabalha.
T.: Ok. O que você acha de aproveitarmos para conhecê-la melhor? Ima
gine que ela é uma televisão, e que você pode ver e escutar os programas.
Está escutando ou observando algo?
G.: Sim, a imagem do meu exame e eu chorando porque reprovei.
T.: Uma imagem muito difícil, né? Algum pensamento?
G.: Sim, que eu não possofalhar. Que eu tenho que estudar mais.
T.: Ok. Temos essepensamento também. E agora, enquanto falamos, per
cebe alguma sensaçãofísica?
G.: Sim, umaforte pressão no peito.
T.: Ok, e se essa sensação tivesse um nome de emoção, qual seria?
G.: Angústia e tristeza, [começa chorar]
G.: O problema é que eu tenho que ser excelente nisto, eu não sei como
seria minha vida se eu não posso ser a melhor.
T.: Compreendo Gabriela. E me lembra neste momento de uma história
que eu li hã algum tempo, você gostaria de escutã-la?
G.: Sim, gostaria
A história do vestido
Numa cidade muito distante vivia uma jovem muito pobre, que
durante muitos anos havia guardado dinheiro com um só objetivo: com
prar o melhor vestido do reino. Transcorridos vários anos, pôde juntar o
valor para poder pagar por ele. Foi para a casa da melhor costureira do
reino, entregou-lhe o dinheiro e esperou uma semana, o tempo que a cos
tureira necessitava para aprontar o sonho da moça. O dia chegou e a jo
vem se dirigiu à casa da costureira. Esta a recebeu com um grande sorriso,
conduzindo a jovem até a sala onde se encontrava seu vestido pronto. Era
melhor do que havia imaginado, belo, perfeito, único!
Exame da dor
Um princípio básico em A C T é o de que onde há dor há valor;
portanto, o exame da dor indica os valores do paciente.
Aniversário de 80 anos
Aquilo que importa para a pessoa é aquilo pelo qual vai se sen
tir realizada por ter feito ao final de uma vida, deixando o seu legado.
Essa técnica envolve solicitar ao paciente que reflita sobre o que ele
deseja ouvir de outras pessoas com relação ao seu legado.
T.: Imagine que é seu aniversário de 80 anos e ali estão todas as pessoas
que lhe são significativas. Em determinado momento, elas são convidadas
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 559
afazer um breve discurso sobre quem foi você e o que você representou em
sua vida. O que você gostaria de ouvir de cada uma delas?
Epitáfio
Segue o mesmo princípio básico de elucidação do que se refere
a viver uma vida valorizada.
T.: O que você gostaria que fosse escrito em seu epitáfio? E se você conti
nuasse vivendo a vida como tem vivido até agora, o que você acha que se
ria escrito?
Varinha mágica
A fim de limpar o peso do fator social na discriminação de valo
res, convém criar um contexto hipotético no qual a aprovação social
seja garantida a despeito da escolha feita pelo paciente.
T.: Imagine que com um simples toque de uma varinha mágica você ti
vesse a aprovação total, absoluta e incondicional de todas as pessoas do
planeta. Não importa o que vocêfizesse - vocêpodería descobrir a cura do
câncer ou ser um serial killer, você seria aceito por todo mundo, e todos
teriam uma visão positiva a seu respeito. Neste cenário, o que vocêfaria
de sua vida?
Pílula mágica
Como os valores são escolhas livres do indivíduo, estes não po
dem ser definidos a partir daquilo que o sujeito não quer. Neste, a téc
nica da “Pílula mágica” auxiliará na identificação de valores que sejam
independentes das experiências internas que o mesmo busca evitar.
T.: Suponha que eu lhe desse uma pílula mágica e a partir de agora ne
nhuma experiência interna indesejada (emoções, lembranças, impulsos,
pensamentos ou sensações físicas) causa qualquer impacto sobre você - de
que maneira sua vida seria diferente?
G .: Eu seria muito mais leve.
360 Terapia de Aceitação e Com prom isso
Loteria
Tendo em vista que os valores representam a pessoa que o indiví
duo quer ser, e não aquilo que ele gostaria de possuir, é interessante abor
dar os valores retirando o fator dinheiro. Para tanto, convém criar um
contexto hipotético onde o dinheiro não seja um fator de preocupação.
T.: Se você ganhasse na bteria de modo que nunca mais precisasse traba
lhar para ganhar dinheiro, o que mudaria em sua vida? O que você co
meçaria a fazer? O que você deixaria defazer?
G.: Eu não estudaria tanto como costumo estudar e sairía mais com os
meus amigos e largaria aquele estágio no grupo de pesquisa que não é o
que eu querofazer, mas que mepaga uma bolsa.
T.: Quem você gostaria de ter ao seu lado para desfrutar dessafortuna?
G.: Minha família, as minhas colegas mais chegadas da faculdade e a
Letícia e a Débora que são minhas amigas de infância.
T.: Como você gostaria de agir em relação a essas pessoas?
G.: Com respeito e companheirismo.
Exemplos a seguir
Muitas vezes, a pessoa que o paciente gostaria de ser pode ser
vislumbrada, pelo menos em parte, nas atitudes e comportamentos
daqueles que ele admira. Desta forma, a técnica de “Exemplos a se
guir” busca identificar tais valores através de modelos.
T.: Quem são aspessoas (oupersonagens) que você admira / que lhe inspiram?
G.: Meu professor de Teorias da Personalidade.
T.: Quais qualidades dele você gostaria de possuir ou desenvolver?
G .: Ao mesmo tempo em que ele sabe muito, ele demonstra ser muito
atencioso com as pessoas, incluindo a família dele.
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 561
T.: Estas qualidades que você admira dizem respeito ao que se passa no
mundo interno dele ou ao modo como ele age?
G.: Ao modo como ele age. Ele não apenas diz que se importa, ele de
monstra isso em atitudes.
Objetivos SMART
Dito de maneira diferente, trabalhar a ação comprometida en
volve a tradução das direções de vida valorizada em passos concretos a
serem praticados no dia a dia, ou seja, transformar valores em metas.
Para tanto, convém conduzir esse processo sob a égide dos objetivos
SM ART (inteligentes). SM ART é um acrônimo em inglês para desig
nar cinco aspectos que devem ser considerados na formulação de ob
jetivos com vistas a maximizar a chance de serem alcançados. Em ou
tras palavras, os objetivos de terapia devem ser, idealmente:
Específicos (Specific): Os objetivos que indicam claramente o que o
paciente deve fazer são os mais eficazes. Por exemplo, “fazer 30 minutos de
esteira na terça, quinta e sábado” é preferível a “tentar me exercitar mais”.
Mensuráveis (Measurableh Objetivos eficazes estabelecem crité
rios bem definidos e observáveis de sucesso. Por exemplo, o alcance
362 Terapia de Aceitação e Com prom isso
C O N S ID E R A Ç Õ E S F IN A IS
R E F E R Ê N C IA S
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